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DIREITO DE FAMILIA - UNICAP PRIMEIRO GQ

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Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
1 
 
INTRODUÇÃO AO DIREITO DE FAMILIA 
 
Perguntas relacionado ao que parece ser família. 
1. Qual a concepção de família? 
2. Qual conhecimento que você tem de família do passado? 
3. Com base nisso, o que mudou? 
4. Como você distingue os propósitos existenciais do matrimônio? 
5. Como se definiria liberdade para o direito e se essa liberdade se distingue da 
liberdade em outros ramos? 
6. Qual a distinção do sistema common law do civil law? 
- O conceito de relação entre os membros da família é a AFETIVIDADE, pois esse sentimento 
se constitui independentemente de serem as pessoas ligadas por vinculo de sangue ou não. 
- A família passou a ser um instrumento que desenvolve os seus membros. Há membros 
dependentes, tais como as crianças, são relações existenciais. 
- Responsabilidade = Afetividade e/ou Biológico. 
- Antigamente existia desigualdade no casal, o homem era o patrono da casa, detentor dos bens 
e provedor da casa. Famílias eram constituídas através de concordância de duas famílias em 
oferecer seus filhos. Havia hierarquia. 
- O matrimônio era exclusivamente da igreja, era a religião quem legitimava o casamento. Apenas 
em 1861 surgiu um pequeno sinal que demonstrou progresso em direção à desvinculação entre 
Igreja Católica e o Estado: o Decreto n.º 1.144/1861 passou a autorizar o casamento entre 
nubentes de outras seitas. 
- Hoje o matrimônio é legitimado pelo Estado, diante de leis, contudo, a igreja ainda pode celebrar 
a união, desde que seja levado a registo e siga as formalidades da lei. 
- O casamento blindava o homem casado de ter a ele ligado os filhos fora do casamento, não 
legitimando nem a busca por reconhecimento de paternidade. 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
2 
 
→ A VIRADA DE COPÉRNICO, Edson Fachin 
O Ministro Fachin situa-se na liderança de diversas gerações de estudiosos que, por distintos 
matrizes e correntes de pensamento, propõem o deslocamento da centralidade 
hermenêutica do direito civil (do patrimônio) para a pessoa humana e a promoção 
de sua dignidade. Designado como personalismo ou despatrimonialização das relações 
privadas, identifica-se aí movimento teórico que, fiel à solidariedade social e à 
igualdade substancial, dedica-se a revisitar as categorias tradicionais (patrimoniais 
e individualistas) do direito civil, enaltecendo a função promocional dos valores 
existenciais subjacentes à ordem pública constitucionalmente estabelecida. 
 
- - - - - - - - - 
→ SURGE A IDEIA DE REPERSONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL E DAS CONCEPÇÕES 
FAMILIARES 
A família, ao converter-se em espaço de realização da afetividade humana e da dignidade 
de cada um de seus membros, marca o deslocamento da função econômica-política-religiosa-
procracional para essa nova função. Essas linhas de tendência enquadram-se no fenômeno 
jurídico-social denominado repersonalização das relações civis, que valoriza o interesse da 
pessoa humana mais do que suas relações patrimoniais. O advento do Código Civil de 
2002 não pôs cobro ao descompasso da legislação, pois várias de suas normas estão 
fundadas nos paradigmas passados e em desarmonia com os princípios constitucionais 
referidos. 
→ Deslocamento da função econômica/política/religiosa da família para a função de realização da 
afetividade. 
 
Maria Berenice Dias esclarece que 
“[...] o novo modelo da família funda-se sobre os pilares da repersonalização da 
afetividade, da pluralidade e do eudemonismo, impingindo nova roupagem axiológica ao 
direito de família. Agora, a tônica reside no indivíduo e não mais nos bens ou coisas 
que guarnecem a relação familiar. A família instituição foi substituída pela 
família-instrumento, ou seja, ela existe e contribui tanto para o desenvolvimento 
da personalidade de seus integrantes, como para o crescimento e formação da 
própria sociedade, justificando, com isso, a sua proteção pelo estado”. 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
3 
 
Ensina Luiz Edson Fachin que: 
“Eis o que sustentamos: opera-se, pois, em relação ao Direito dogmático tradicional, uma 
inversão do alvo de preocupações do ordenamento jurídico, fazendo com que o 
Direito tenha como fim último a proteção da pessoa, como instrumento para seu pleno 
desenvolvimento. Nossa tese, pois, é a de que a Constituição Federal de 1988 impôs 
ao Direito Civil o abandono da postura patrimonialista herdada do século XIX, em 
especial do Código Napoleônico, migrando para uma concepção em que se 
privilegiam a subjetividade, o desenvolvimento humano e a dignidade da pessoa 
concretamente considerada, em suas relações interpessoais. É por isso que cabe 
enfatizar a concepção plural de família presente na Constituição, apta a orientar a melhor 
exegese do novo Código Civil brasileiro” 
A família contemporânea rompe os limites impostos por qualquer moldura solidificada pela 
codificação, seja ela oitocentista ou atual. A ela não cabem mais normas que reflitam valores 
arcaicos, com aplicabilidade ou preocupação incoerentes com o sistema 
constitucionalmente assegurado. Impõe-se a leitura dos dispositivos atinentes ao Direito 
Civil em um viés de personalidade, na busca da superação da ética patrimonialista que 
marcou o espírito do legislador do Código de 1916 e o legislador atual, na esteira do 
Novo Código Civil. É preciso que se compreenda, neste novo viés constitucionalizado do Direito 
de Família, o papel dos Direitos Fundamentais enquanto garantidores desta tutela aos indivíduos 
nas suas relações afetivas. 
A concepção jurídica de família há de ter a flexibilidade suficiente para renovar-se em harmonia 
com as transformações sociais — tendo em vista o importante papel que desenvolve para a 
realização de seus membros —, configurando-se enquanto espaço de “abrigo 
“sentimental e afetivo. É o passo à frente a ser dado para que as mudanças nas relações 
familiares, tendo por fundamento o elemento afetivo entre os seus membros, sejam levadas a 
efeito, descortinando a concepção eudemonista da família no século XXI. (A REPERSONALIZAÇÃO 
DAS RELAÇÕES FAMILIARES. Rodrigo Wasem Galiao). 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
4 
 
CASAMENTO - INTRODUÇÃO 
 
→ CONSTITUIÇÃO 1934 – ART. 144. 
 
Art 144 - A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção 
especial do Estado. 
Parágrafo único - A lei civil determinará os casos de desquite e de anulação de 
casamento, havendo sempre recurso ex officio, com efeito suspensivo. 
 
- Desquite (são pessoas que não estão quites com a sociedade) são pessoas marginalizadas, que 
viviam num limbo social. 
O adultério e o abandono do lar conjugal eram graves violações ao ambiente matrimonial. Quanto 
ao adultério, porém, havia uma grade permissividade social com relação ao homem. Mulher que 
traia e era pega no ato, dava permissão ao homem de matá-la, a traição era excludente de 
culpabilidade. 
- Anulação de casamento: Significa o reconhecimento de um vício que anula o casamento, desfaz 
por completo uma união e devolve o estado civil de solteiro para ambos, o que é bem 
diferente do divórcio e da separação. 
A primeira grande modificação dessa estrutura foi dada pela Lei de Divórcio (EC 09/2010 – LEI 
6.515/77). O DIVÓRCIO que finda o casamento foi a primeira grande mudança no casamento. 
- - - - - - - - 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
5 
 
Evolução histórica dos institutos da separação e do divórcio no direito brasileiro e a Emenda 
Constitucional n.º 66/2010EDUARDO PEREIRA DE ARAUJO. http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,evolucao-historica-dos-institutos-
da-separacao-e-do-divorcio-no-direito-brasileiro-e-a-emenda-constitucional-n,29383.html 
Em 13 de julho de 2010 foi promulgada a Emenda Constitucional n.º 66, que modificou o §6º do 
art. 226 da Constituição Federal, eliminando de uma vez por todas o requisito da separação judicial 
e os pressupostos temporais para a obtenção do divórcio. 
Além de promover muito mais celeridade para os consortes, haja vista que o divórcio direto pode 
ser intentado a qualquer tempo, o novo regramento propõe a redução do intervencionismo 
estatal no casamento, em prol da autonomia da vontade das partes, facilitando a sua 
dissolução. 
Ao longo dos anos o legislador promoveu uma amenização paulatina dos rigores das normas que 
disciplinavam tanto a separação como o divórcio, em virtude da inegável existência de um clamor 
social nesse sentido. 
A evolução do direito brasileiro, o divórcio e a separação sofreram diversas mudanças. Das mais 
polêmicas às mais simples, todas as reformas legislativas no que diz respeito à dissolução da 
sociedade ou do vínculo matrimonial apontaram no sentido da retirada de obstáculos para a sua 
obtenção. 
A evolução, regulamentação e instituição do divórcio e da separação, sejam judiciais ou 
administrativos, se deram de maneira tão lenta quanto polêmica, notadamente porque o tema 
sempre esteve intimamente ligado com a religião e seus dogmas. Por conseguinte, 
qualquer inovação relativa à extinção do casamento vinha acompanhada de discussões 
fervorosas e eram obtidas de forma bastante penosa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
6 
 
Império 
Inicialmente, vale ressaltar que o casamento tal qual como fora introduzido no Brasil do tempo do 
Império era regido pelas normas da Igreja Católica, haja vista que o catolicismo era a religião 
oficial da nossa metrópole, qual seja, Portugal. Sendo assim, aplicavam-se as disposições 
estabelecidas no Concílio de Trento, realizado entre 1545 e 1553. Com relação ao matrimônio, 
o maior dogma instituído referia-se à sua indissolubilidade. 
Monarquia 
Séculos se passaram e, mesmo com o advento da monarquia, o que torna o Brasil independente 
de Portugal, nada muda com relação à autoridade da normatização eclesiástica com relação ao 
matrimônio. Apenas em 1861 surgiu um pequeno sinal que demonstrou progresso em 
direção à desvinculação entre Igreja Católica e o Estado: o Decreto n.º 1.144 passou a 
autorizar o casamento entre nubentes de outras seitas. 
República 
Não obstante o advento desse ínfimo passo, durante muitos anos o casamento continuou a ser 
regido pelas leis eclesiásticas, não havendo qualquer interferência do Estado no instituto. 
Decreto 119-A/1890 – Casamento perde o caráter confessional 
“Somente com a República, mercê da laicização do Estado através do Decreto 119-A, de 
07.01.1890, veio o instituto a perder o caráter confessional. 
Decreto 181/1890 – Casamento civil e divórcio (separação de corpos) 
Nesse momento, surgiram as condições favoráveis para a implantação, com o Decreto 181/1890, 
do casamento civil no Brasil, em que pese ainda continuasse a existir o casamento religioso. Mas, 
ante a resistência, a nova lei limitou-se à implantação do casamento civil. 
Com o surgimento do referido diploma, também passou a existir a separação de corpos, 
denominada de divórcio. 
As causas que a justificavam esse divórcio (=separação de corpos) eram as mesmas que 
depois foram utilizadas para autorizar o desquite no Código de Beviláqua (a seguir). 
• Além do adultério, admitia-se como causa para a separação de corpos a tentativa de morte, a 
sevícia ou injúria grave, o abandono voluntário do domicílio conjugal por dois anos contínuos e o 
mútuo consentimento dos cônjuges que fossem casados há mais de dois anos. 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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Código Civil de 1916 – Desquite 
Com o advento do Código Civil de 1916, surge no direito brasileiro o instituto do desquite, que era, 
nas palavras de Pontes de Miranda, “a separação sem quebra do vínculo”. Percebe-se, por 
conseguinte, que a modificação efetuada pelo Código Beviláqua foi apenas terminológica. O 
novo instituto introduzido nada mais era do que o divórcio (= separação de corpos) regido 
pelo pelo Decreto n. 181/1890, mas com outra nomenclatura. 
→ O Decreto n. 181/1890, que instituiu entre nós o casamento civil, ainda utilizava a expressão 
divórcio, embora não o admitisse com o efeito de romper o vínculo conjugal. De forma que o Código 
Civil, fora modificações menores, nada inovou ao direito anterior, a não ser o nome do instituto. 
O desquite põe termo à vida em comum, separa os cônjuges, restitui-lhes a liberdade, 
permite-lhes dirigir-se, como entenderem, na vida, sem que dependa um do outro, no que 
quer que seja; mas conserva íntegro o vínculo do matrimônio. 
Dessa forma, junto à morte de um dos cônjuges e a nulidade ou anulação do casamento, o desquite 
se estabeleceu como mais uma causa do fim da sociedade conjugal. 
• O Código de Beviláqua elencou os motivos que poderiam dar ensejo a uma ação de desquite. São 
eles o adultério, a tentativa de morte, a sevícia ou injúria grave e o abandono voluntário do lar 
conjugal por dois anos contínuos. 
Constituição Federal de 1934 – Retrocesso: indissolubilidade do casamento 
Frente ao crescimento do movimento divorcista, que aos poucos vinha ganhando força 
principalmente entre os congressistas, o legislador constitucional se antecipou a uma possível 
regulamentação infraconstitucional da separação e do divórcio e inseriu a 
indissolubilidade do casamento na Constituição de 1934, o que conferiu status constitucional 
a esse preceito. O art. 144 da então Constituição era claro: “Art 144 - A família, constituída pelo 
casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do Estado”. 
Constituições Federais de 1937, 1946 e 1967 – Manutenção do retrocesso 
Não obstante o número de defensores da dissolubilidade do vínculo matrimonial estivesse crescendo 
em progressões geométricas, as Constituições de 1937, 1946 e 1967 mantiveram-se fiéis à 
indissolubilidade, frustrando as expectativas de boa parte da sociedade e não permitindo a 
regulamentação de um fato que já vinha ocorrendo na prática, qual seja, a formação de 
novas famílias pelos ex-cônjuges desquitados. 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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Emenda Constitucional 09/77 – Eliminação definitiva da indissolubilidade e da 
perpetuidade do vínculo matrimonial no desquite 
Conquanto tenha havido a constitucionalização da indissolubilidade do matrimônio, a luta dos 
divorcistas não se deu por terminada. Após anos de intensos debates, em meados de 1977 houve a 
promulgação da Emenda Constitucional n.º 9, que alterou o §1º do art. 175 da Constituição de 1967. 
A partir de então, o Brasil eliminava de uma vez por todas o caráter indissolúvel do casamento e a 
perpetuidade do vínculo matrimonial mesmo após o desquite. 
O §1º do art. 175 da Constituição de 1967 passou a vigorar com uma nova redação, que afirmava 
que “o casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde que 
haja prévia separação judicial por mais de três anos". 
Lei 6.515/77 – Lei do Divórcio 
Após esse marco normativo, não demorou muito para que, em 26 de dezembro de 1977, fosse 
promulgada a Lei 6.515/77. Conhecida como Lei do Divórcio, esse diploma revogou os arts. 315 
a 328 do Código Civil de 1916, inserindo o divórcio definitivamente no ordenamento jurídico 
brasileiro. Além disso, passou a chamar de separação judicial o que até então era conhecido 
como desquite. 
O art. 2º da Lei do Divórcio foi claro ao elencar a separação judicial e o divórciocomo causas 
terminativas da sociedade conjugal: 
 
“Art 2º - A Sociedade Conjugal termina: 
I - pela morte de um dos cônjuges; 
Il - pela nulidade ou anulação do casamento; 
III - pela separação judicial; 
IV - pelo divórcio. 
Parágrafo único - O casamento válido somente se dissolve pela morte de um dos cônjuges 
ou pelo divórcio”. 
“Art 24. O divórcio põe termo ao casamento e aos efeitos civis do matrimônio religioso”. 
O art. 24 da Lei 6.515/77 também não deixou dúvidas acerca de sua intenção, ou seja, 
conferir ao divórcio o condão de romper definitivamente o vínculo conjugal entre os 
cônjuges, possibilitando a contração de novas núpcias, na medida em que se eliminava o 
impedimento legal. 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
9 
 
Conforme já mencionado, o escopo da separação judicial, inaugurada pela Lei 6.515/77, era o 
mesmo do desquite regulamentado Código Civil de 1916. Tanto que o art. 3º da Lei do Divórcio 
praticamente repetia a ideia do art. 322 do Código Beviláqua. Interessante comparar os dois 
dispositivos: 
Art. 322, Código Civil de 1916: “a sentença do desquite autoriza a separação dos cônjuges, 
e põe termo ao regime matrimonial dos bens, como se o casamento fosse dissolvido”. 
Art. 3º, Lei 6.515/77: “a separação judicial põe termo aos deveres de coabitação, fidelidade 
recíproca e ao regime matrimonial de bens, como se o casamento fosse dissolvido”. 
Assim como a ação de desquite, que poderia ser intentada na forma amigável ou litigiosa, o 
mesmo ocorreu com a separação judicial. 
Constituição Federal de 1988 – Divórcio 
Divórcio-conversão: separação judicial + 1 ano 
Divórcio-direto: separação de fato + 2 anos 
Após a Lei do Divórcio, uma nova, porém pequena modificação nos institutos do divórcio e da 
separação só veio ocorrer com a Constituição de 1988. Além de manter o caráter dissolúvel do 
vínculo conjugal como preceito constitucional, a Carta Magna trouxe de forma expressa os casos em 
que esse vínculo pode ser dissolvido (art. 226, §6º). 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por 
mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de 
dois anos. 
Ao analisar o impacto que a Constituição Federal de 1988 causou no ordenamento jurídico então 
vigente, Carlos Roberto Gonçalves assevera: “A Constituição de 1988 modificou, no entanto, esse 
panorama, reduzindo o prazo da separação de fato para um ano, no divórcio-conversão, e criando 
uma modalidade permanente e ordinária de divórcio direto, desde que comprovada a separação de 
fato por mais de dois anos”. 
Lei 7.841/89 – Alterações na Lei de Divórcio 
Já em 1989 houve a edição da Lei 7.841, que teve como escopo amoldar a Lei do Divórcio aos novos 
ditames encravados no ordenamento jurídico pela então recente Constituição de 1988. 
“A Lei 7.841 cuidou de adaptar a Lei 6.515/77, quanto ao tempo exigido para o divórcio-
conversão e para o divórcio-direto, mas igualmente revogou o art. 38 da Lei do Divórcio, 
eliminando a restrição à possibilidade de divórcios sucessivos”. 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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Lei 8.408/92 – Alterações na Lei de Divórcio 
A Lei 8.408/92 veio, tardiamente, atualizar, de acordo com a nova Constituição, alguns dispositivos 
da Lei 6.515/77 que foram esquecidos pela Lei 7.841/89. Foram eles o §1º do art. 5º e todo o art. 
25 da Lei do Divórcio. 
No §1º do art. 5º foi inserido apenas um novo lapso temporal como pressuposto para a propositura 
da ação de separação judicial com base na ruptura da vida conjugal. A exigência de cinco anos da 
Lei 6.515/77 foi substituída pelo exíguo prazo de um ano de ruptura da vida em comum. 
Código Civil de 2002 
Com a entrada em vigor, no ano de 2002, do novo Código Civil, o disciplinamento da separação e 
do divórcio teve seu devido lugar dentro do diploma. Sendo assim, as disposições contidas na 
Lei do Divórcio referentes ao direito material foram revogadas, restando em vigor as 
normas de direito processual e as que não foram mencionadas no Código Civil. 
Repetindo o art. 2º da Lei do Divórcio, o atual Código Civil dispõe em seu art. 1.571 as causas que 
implicam o fim da sociedade conjugal. Dentre elas estão a separação judicial e o divórcio. 
A maior novidade, porém, está no §1º do dispositivo, onde o legislador, ao elencar o divórcio e a 
morte de um dos cônjuges como motivos ensejadores da extinção do casamento, inclui nesse rol a 
morte presumida de um dos consortes. Veja-se o referido artigo: 
“Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: 
I – Pela morte de um dos cônjuges; 
II – Pela nulidade ou anulação do casamento; 
III – Pela separação judicial; 
IV – Pelo divórcio. 
§1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, 
aplicando-se a presunção estabelecida nesse Código quanto ao ausente”. 
Como na Lei do Divórcio, permaneceu no novo Código Civil a separação por mútuo consentimento e 
a separação litigiosa, bem como o divórcio conversão e o direto. 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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Lei 11.441/07 – Separação e Divórcio consensuais (administrativos) 
O último disciplinamento referente à separação e ao divórcio tinha ocorrido em 2007, com a entrada 
em vigor da Lei 11.441/07. Nessa oportunidade, foram inseridas no direito brasileiro as 
espécies administrativas dos institutos. O art. 3º da lei inseriu no Código de Processo Civil o 
art. 1.124-A. Eis o teor do dispositivo: 
“Art. 1.124-A. A separação consensual e o divórcio consensual, não havendo filhos 
menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, 
poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições relativas à 
descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo 
quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado 
quando se deu o casamento. 
§ 1o A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para o registro 
civil e o registro de imóveis. 
§ 2o O tabelião somente lavrará a escritura se os contratantes estiverem assistidos por 
advogado comum ou advogados de cada um deles, cuja qualificação e assinatura constarão 
do ato notarial. 
§ 3o A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se declararem pobres 
sob as penas da lei”. 
Neste diapasão, para que os consortes pudessem se valer da separação ou do divórcio 
administrativos exigia-se que não tivessem nenhum filho menor ou incapaz; que dispusessem 
sobre partilha de bens comuns, pensão alimentar e manutenção ou não do nome de casado; que 
estivessem assistidos por advogado; e que fossem respeitados os prazos legais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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Emenda Constitucional n. 66/10 
A Emenda Constitucional n.º 66, promulgada em 13 de julho de 2010, modificou o §6º do art. 
226 da Constituição Federal. O antigo dispositivo asseverava que o casamento podia ser dissolvido 
pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou 
comprovada separação de fato por mais de dois anos. 
Indispensável colacionarmos in totum o novo §6º do art. 226 da Constituição Federal, a fim de 
verificarmos sua atual redação: 
“Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
(...) 
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”. 
Dessa forma, como consequência lógica, a alteração legislativa possuiu o escopo de 
eliminar de uma vez por todas não só o requisito da separação judicial, como também os 
pressupostos temporais para a obtenção do divórcio. 
Tal reforma, como ficou claro no presente trabalho,foi fruto de um movimento legislativo que há 
anos vem reduzindo o intervencionismo estatal da vida privada dos cônjuges, notadamente no que 
se refere à dissolução do matrimônio, sempre buscando promover alterações que implicam na 
facilitação de sua obtenção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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Pontos colocados: 
- De 1977 até 1989 (quando adveio a Lei 7.841/89, modificando a Lei 6.515/77 – Lei de divórcio), 
havia restrição quanto a possibilidade de divórcios sucessivos. Naquela época, só podia se 
divorciar 1x, pois “o erro de casar só pode ser cometido uma vez”. 
- Com o advento do Código Civil de 1916, surge no direito brasileiro o instituto do desquite, essa 
modificação foi apenas terminológica, pois nada mais era do que o divórcio regido pelo Decreto 
n. 181/1890. Lembre-se que esse decreto instituiu o casamento civil e a figura do divórcio que 
rompia a sociedade conjugal, mas não dissolvia o vínculo do casamento. Portanto, o desquite 
nada mais era do que esse divórcio, mas com outra nomenclatura. 
- Em 1977 houve a promulgação da Emenda Constitucional n.º 9, o Brasil eliminava de uma vez 
por todas o caráter indissolúvel do casamento e a perpetuidade do vínculo matrimonial mesmo 
após o desquite. O §1º do art. 175 da Constituição de 1967 passou a vigorar com uma nova 
redação, que afirmava que “o casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em 
lei, desde que haja prévia separação judicial por mais de três anos". Surge a Lei de divórcio 
em (Lei 6.515/77) inserindo o divórcio definitivamente no ordenamento jurídico brasileiro, além 
de passar a chamar de separação judicial o que até então era conhecido como desquite. 
 
Em suma: 
1. Antes de 1977 existia apenas o desquite, era o SISTEMA UNITÁRIO (“parcial” – fim da 
sociedade conjugal, mas não do vínculo matrimonial). 
2. A partir de 1977, surgiu o SISTEMA BINÁRIO, que contava com separação judicial (que, igual 
ao desquite, era “parcial” – fim da sociedade conjugal, mas não do vínculo matrimonial) e com o 
divórcio (“total” - fim da sociedade conjugal e também do vínculo matrimonial). 
3. A partir de 1988, houve uma mudança grande no conceito de família (união estável, união 
homoafetiva). Surge a EC 66/2010, que altera o art. 226, § 6º da CF, tirando todos os prazos 
e a extinguindo separação judicial, deixando de forma civil mais privada, isso na relação 
matrimonial. Ainda assim, o Estado tem poder de intervir e retirar os filhos dos pais, fazendo um 
movimento inverso na relação parental. 
- Doutrina majoritária – Calcou a separação judicial 
- Doutrina minoritária - Ainda acredita que haja na letra da lei a possibilidade na separação judicial. 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
14 
 
OBS: DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL x DISSOLUÇÃO VÍNCULO MATRIMONIAL. 
(http://phmp.com.br/artigos/diferenca-entre-separacao-e-divorcio/) 
“A sociedade conjugal e o vínculo matrimonial são inconfundíveis, pois a sociedade conjugal, de forma 
simples, significa o convívio, os deveres entre os cônjuges, já o vínculo matrimonial seria o casamento 
válido propriamente dito, sendo o vínculo matrimonial um instituto maior que a sociedade conjugal. Discorre 
sobre isso Maria Helena DINIZ (2008): 
“O casamento é, sem dúvida, um instituto mais amplo que a sociedade conjugal, por regular a vida 
dos consortes, suas relações e suas relações e suas obrigações recíprocas, tanto morais quanto as 
materiais, e seus deveres para com a família e a prole. A sociedade conjugal, embora contida no 
matrimônio, é um instituto jurídico menor do que o casamento, regendo apenas o regime 
matrimonial de bens dos cônjuges, os frutos civis do trabalho ou indústria de ambos os consortes 
ou de cada um deles. Daí não se pode confundir o vínculo matrimonial com sociedade.” 
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
(((IMPORTANTE))) 
Questão controversa que decorreu do advento da Emenda n.º 66/2010 se refere à permanência ou 
à extinção do instituto da separação no ordenamento jurídico brasileiro. 
Os defensores da extinção da separação argumentam que ela se prestava tão somente à 
preparação do divórcio sendo que por isso o instituto perdeu sua serventia. Assim, parte da doutrina 
enxergava a separação como uma mera etapa preliminar ao divórcio, deixando de atribuir àquele 
instituto importantes finalidades. 
Corrente diversa defende que o instituto da separação deve ser observado à luz dos princípios 
constitucionais de proteção à família vigentes, sendo que a modificação ocorrida por meio da Emenda 
n.º 66/2010 aduziu tão somente a inexigência de separação prévia, seja ela judicial, extrajudicial 
ou de fato, para a dissolução do vínculo matrimonial. Defendem que, o simples fato de um 
instituto jurídico não mais se encontrar expressamente previsto no texto constitucional 
não significa sua inexistência no mundo jurídico. Para eles, o instituto continua perfeitamente 
válido para aqueles que desejam romper a sociedade conjugal sem a dissolução imediata do vínculo 
matrimonial, se mostrando necessário para que os cônjuges possam melhor refletir quanto à 
conveniência da dissolução ou manutenção do matrimônio. Dessa forma, a separação se revelaria 
como um importante instrumento para a especial proteção que o Estado dá à família, e 
admitir a extinção da entidade familiar sem possibilidade de reconciliação contrariaria verdadeira 
norma principiológica, pois retira do cidadão a possibilidade jurídica da reconciliação e do 
restabelecimento do casamento, devendo este recorrer ao instituto mais gravoso, que é o divórcio. 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
15 
 
Paulo Lobo defende a extinção do instituto da separação judicial: 
 
Artigo - Divórcio: Alteração constitucional e suas consequências - Por Paulo Lôbo 
 
RESUMO: Investigação das consequências jurídicas da aprovação em 2009 da proposta de emenda 
constitucional, que altera os requisitos para o divórcio no Brasil. Sustenta-se a extinção da 
separação judicial e a revogação das normas infraconstitucionais que a regulam, por total 
incompatibilidade com a dissolução do casamento pelo divórcio, única via tutelada pela 
nova redação do § 6º do art. 226 da Constituição. Esclarece-se como pode ser promovido o 
divórcio, abstraído de causas subjetivas, principalmente da culpa, ou mesmo objetivas. 
 
1. A ALTERAÇÃO CONSTITUCIONAL 
 
A "PEC do Divórcio" (nº 413-C), aprovada pelo Congresso Nacional em 2009, protagoniza a mais 
simples e intensa regulamentação constitucional da dissolução do casamento por decisão 
livre dos cônjuges. Fecha o ciclo iniciado em 1977 com a Lei do Divórcio. O parágrafo 6º do art. 
226 da Constituição passa a vigorar com a seguinte redação: "§ 6º O casamento civil pode ser 
dissolvido pelo divórcio". 
 
Comparemos com a redação originária de 1988:"§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo 
divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou 
comprovada separação de fato por mais de dois anos". 
 
Ou com a redação da Constituição de 1967-69, introduzida em 1977 em relação ao art. 175: "§ 1º 
O casamento somente poderá ser dissolvido, nos casos expressos em lei, desde que haja prévia 
separação judicial por mais de três anos". 
 
Assim, temos a seguinte evolução: 
 
a) em 1977, a separação judicial era requisito necessário e prévio para o pedido de divórcio, que 
tinha de aguardar a consumação do prazo de três anos daquela; não havia, portanto, divórcio direto; 
 
b) em 1988, a separação judicial deixou de ser requisito para o divórcio, passando a ser facultativa, 
tendo duas finalidades: 1. ser convertida em divórcio, após um ano da decisão da separaçãojudicial 
(ou da separação de corpos), o que a tornava em requisito por decisão dos cônjuges; 2. permitir a 
reconciliação dos separados, antes do divórcio por conversão; o divórcio direto, por sua vez, 
dependia de requisito temporal (dois anos) da separação de fato; 
 
c) em 2009, com a "PEC do Divórcio", a separação judicial deixou de ser contemplada na 
Constituição, inclusive na modalidade de requisito voluntário para conversão ao divórcio; 
desapareceu, igualmente, o requisito temporal para o divórcio, que passou a ser exclusivamente 
direto, tanto por mútuo consentimento dos cônjuges, quanto litigioso. 
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Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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2. UM POUCO DA HISTÓRIA DA "PEC DO DIVÓRCIO" 
 
A "PEC do Divórcio" resultou de proposta elaborada por grupo de juristas, sob patrocínio da Diretoria 
Nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família-IBDFAM. A redação proposta era a seguinte: 
"§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio consensual ou litigioso, na forma da lei" 
 
Em boa hora, a Câmara dos Deputados, durante a votação nos dois turnos em plenário, suprimiu as 
expressões sublinhadas. Por certo, o texto resultante ficou mais adequado ao espírito da proposta, 
particularmente no que concerne à remissão à lei infraconstitucional. A norma passou a ter 
eficácia imediata e direta - e não contida -, sem os riscos de limitações que poderiam advir 
de lei ordinária, inclusive com a reintrodução dos requisitos subjetivos (culpa) ou até 
mesmo de prévia separação judicial, o que configuraria verdadeira fraude à Constituição. 
 
É ser imprescindível recordar o cerne da justificativa que fundamentou a decisão do 
legislador constituinte, contida na proposta de emenda constitucional: 
 
"Não mais se justifica a sobrevivência da separação judicial, em que se converteu o antigo desquite. 
Criou-se, desde 1977, com o advento da legislação do divórcio, uma duplicidade artificial entre 
dissolução da sociedade conjugal e dissolução do casamento, como solução de compromisso entre 
divorcistas e antidivorcistas, o que não mais se sustenta. Impõe-se a unificação no divórcio de todas 
as hipóteses de separação dos cônjuges, sejam litigiosos ou consensuais. A submissão a dois 
processos judiciais (separação judicial e divórcio por conversão) resulta em acréscimos 
de despesas para o casal, além de prolongar sofrimentos evitáveis. 
 
Por outro lado, essa providência salutar, de acordo com valores da sociedade brasileira atual, 
evitará que a intimidade e a vida privada dos cônjuges e de suas famílias sejam revelados 
e trazidos ao espaço público dos tribunais, com todo o caudal de constrangimentos que 
provocam, contribuindo para o agravamento de suas crises e dificultando o entendimento 
necessário para a melhor solução dos problemas decorrentes da separação". 
 
Extraem-se daí duas significativas finalidades: 
 
I - A extinção da separação judicial; 
II - A extinção das causas subjetivas (culpa) e até mesmo de causas objetivas (tempo). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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3. EXTINÇÃO DA SEPARAÇÃO JUDICIAL 
 
É possível argumentar-se que a separação judicial permaneceria enquanto não revogados os artigos 
que dela tratam no Código Civil, porque a nova redação do § 6º do art. 226 da Constituição não a 
teria excluído expressamente. Mas esse entendimento somente poderia prosperar se 
arrancasse apenas da interpretação literal, desprezando-se as exigências de interpretação 
histórica, sistemática e teleológica da norma. 
 
Como se demonstrou, a inserção constitucional da separação judicial evoluiu da consideração como 
requisito prévio ao divórcio até sua total desconsideração. Em outras palavras, a Constituição deixou 
de tutelar a separação judicial. 
 
A consequência da extinção da separação judicial é que concomitantemente desapareceu a 
dissolução da sociedade conjugal que era a única possível, sem dissolução do vínculo conjugal, até 
1977. 
 
Com o advento do divórcio, a partir dessa data e até 2009, a dissolução da sociedade conjugal 
passou a conviver com a dissolução do vínculo conjugal, porque ambas recebiam tutela 
constitucional explícita. 
 
Portanto, não sobrevive qualquer norma infraconstitucional que trate da dissolução da sociedade 
conjugal isoladamente, por absoluta incompatibilidade com a Constituição, de acordo com a redação 
atribuída pela PEC do Divórcio. A nova redação do § 6º do artigo 226 da Constituição apenas admite 
a dissolução do vínculo conjugal. 
 
No que respeita à interpretação sistemática, não se pode estender o que a norma 
restringiu. Nem se pode interpretar e aplicar a norma desligando-a de seu contexto normativo. 
Tampouco, podem prevalecer normas do Código Civil ou de outro diploma infraconstitucional, que 
regulamentavam o que previsto de modo expresso na Constituição e que esta excluiu 
posteriormente. Inverte-se a hierarquia normativa, quando se pretende que o Código Civil 
valha mais que a Constituição e que esta não tenha força revocatória suficiente. 
 
No direito brasileiro, há grande consenso doutrinário e jurisprudencial acerca da força normativa 
própria da Constituição. Sejam as normas constitucionais regras ou princípios não dependem 
de normas infraconstitucionais para estas prescreverem o que aquelas já prescreveram. 
O § 6º do art. 226 da Constituição qualifica-se como norma-regra, pois seu suporte fático 
é precisamente determinado: o casamento pode ser dissolvido pelo divórcio, sem qualquer 
requisito prévio, por exclusivo ato de vontade dos cônjuges. 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
18 
 
No plano da interpretação teleológica, indaga-se quais os fins sociais da nova norma 
constitucional. Responde-se: permitir sem empeço e sem intervenção estatal na intimidade 
dos cônjuges, que estes possam exercer com liberdade seu direito de desconstituir a 
sociedade conjugal, a qualquer tempo e sem precisar declinar os motivos. 
Consequentemente, quais os fins sociais da suposta sobrevivência da separação judicial, 
considerando que não mais poderia ser convertida em divórcio? Ou ainda, que interesse 
juridicamente relevante subsistiria em buscar-se um caminho que não pode levar à dissolução do 
casamento, pois o divórcio é o único modo que passa a ser previsto na Constituição? O resultado da 
sobrevivência da separação judicial é de palmar inocuidade, além de aberto confronto com os valores 
que a Constituição passou a exprimir, expurgando os resíduos de quantum despótico: liberdade e 
autonomia sem interferência estatal. 
 
Ainda que se admitisse a sobrevivência da sociedade conjugal, a nova redação da norma 
constitucional permite que os cônjuges alcancem suas finalidades, com muito mais vantagem. Por 
outro lado, entre duas interpretações possíveis, não poderia prevalecer a que consultasse apenas o 
interesse individual do cônjuge que desejasse instrumentalizar a separação para o fim de punir o 
outro, comprometendo a boa administração da justiça e a paz social. É da tradição de nosso direito 
o que estabelece o art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil: na aplicação da lei, o juiz atenderá 
aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. O uso da justiça para punir o 
outro cônjuge não atende aos fins sociais nem ao bem comum, que devem iluminar a decisão judicial 
sobre os únicos pontos em litígio, quando os cônjuges sobre eles não transigem: a guarda e a 
proteção dos filhos menores, os alimentos que sejam devidos, a continuidade ou não do nome de 
casado e a partilha dos bens comuns. 
 
4. EXTINÇÃO DAS CAUSAS SUBJETIVAS E OBJETIVAS 
 
A nova redação da norma constitucional tem a virtude de pôr cobro à exigência de comprovaçãoda 
culpa do outro cônjuge e de tempo mínimo. 
 
O divórcio, em que se convertia a separação judicial litigiosa, contaminava-se dos 
ressentimentos decorrentes da imputação de culpa ao outro cônjuge, o que comprometia 
inevitavelmente o relacionamento pós-conjugal, em detrimento sobretudo da formação 
dos filhos comuns. O princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, incorporado ao 
ordenamento jurídico brasileiro, como "absoluta prioridade", dificilmente consegue ser observado, 
quando a arena da disputa é alimentada pelas acusações recíprocas, que o regime de imputação de 
culpa propicia. 
 
O divórcio sem culpa já tinha sido contemplado na redação originária do § 6º do art. 226, ainda que 
dependente do requisito temporal. A nova redação vai além, quando exclui a conversão da separação 
judicial, deixando para trás a judicialização das histórias pungentes dos desencontros sentimentais. 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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O direito deixa para a história da família brasileira essa experiência decepcionante de alimentação 
dos conflitos, além das soluções degradantes proporcionadas pelo requisito da culpa. Os direitos 
legítimos eram aviltados em razão da culpa do cônjuge pela separação: os filhos tinham limitado o 
direito à convivência com os pais considerados culpados; o poder familiar era reduzido em razão da 
culpa; os alimentos eram suprimidos ao culpado, ainda que deles necessitasse para sobreviver; a 
partilha dos bens comuns era condicionada à culpa ou inocência. 
 
O Código Civil de 2002 reduziu bastante esses efeitos, mas não conseguiu suprimi-los de todo: o 
culpado perde o direito ao sobrenome do outro (art. 1.578); os alimentos serão apenas o necessário 
à subsistência para o culpado (art. 1.694); o direito sucessório é afetado se o cônjuge sobrevivente 
for culpado da separação de fato (art. 1.830). 
 
Frise-se que o direito brasileiro atual está a demonstrar que a culpa na separação conjugal 
gradativamente perdeu as consequências jurídicas que provocava: a guarda dos filhos não 
pode mais ser negada ao culpado pela separação, pois o melhor interesse deles é quem 
dita a escolha judicial; a partilha dos bens independe da culpa de qualquer dos cônjuges; 
os alimentos devidos aos filhos não são calculados em razão da culpa de seus pais e até 
mesmo o cônjuge culpado tem direito a alimentos "indispensáveis à subsistência"; a 
dissolução da união estável independe de culpa do companheiro. 
 
A culpa permanecerá em seu âmbito próprio: o das hipóteses de anulabilidade do 
casamento, tais como os vícios de vontade aplicáveis ao casamento, a saber, a coação e o 
erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge. A existência de culpa de um dos cônjuges 
pela anulação do casamento leva à perda das vantagens havidas do cônjuge inocente e ao 
cumprimento das promessas feitas no pacto antenupcial (art. 1.564 do Código Civil). 
 
Também são extintas as causas objetivas, ou seja, aquelas que independem da vontade ou da culpa 
dos cônjuges. Para a separação judicial havia duas causas objetivas: a) a ruptura da vida em comum 
há mais de um ano; b) a doença mental de um dos cônjuges, deflagrada após o casamento. Para o 
divórcio direto, havia apenas uma: a separação de fato por mais de dois anos. Todas desapareceram. 
Não há mais qualquer causa, justificativa ou prazo para o divórcio. 
 
Se houve erro sobre a pessoa do outro cônjuge, revelado após o casamento e utilizado como 
motivação do pedido, a hipótese é de anulação do casamento e não do divórcio. Portanto, não há 
espaço no pedido de divórcio para qualquer explicitação de causa subjetiva ou objetiva; 
simplesmente, os cônjuges resolvem se divorciar, guardando para si suas razões. E podem fazê-lo 
logo após o casamento, sem aguardar qualquer prazo. Essa circunstância levará certamente ao 
desuso a anulação do casamento, permanecendo apenas as hipóteses de nulidade, pois estas 
independem da vontade dos cônjuges. A anulação era utilizada logo após o casamento, 
principalmente porque não dependia de prazo de separação de fato, que eram requisitos da 
separação judicial e do divórcio direto. 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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A união homoafetiva (termo criado por Maria Berenice Dias) tem entendimento consolidado pelo 
STF, no sentido de não ser tratada nem como casamento e nem como união estável, contudo, 
tem a mesma força de lei que a união estável. 
IBDFAM - Supremo reconhece união homoafetiva (06/05/2011) 
Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgarem as Ação Direta de Inconstitucionalidade 
(ADI) 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, reconheceram 
a união estável para casais do mesmo sexo. 
O relator das ações, ministro Ayres Britto, votou no sentido de dar interpretação conforme a 
Constituição Federal para excluir qualquer significado do artigo 1.723, do Código Civil, que 
impeça o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. 
Argumentou que o artigo 3º, inciso IV, da CF veda qualquer discriminação em virtude de 
sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou discriminado em 
função de sua preferência sexual. "O sexo das pessoas, salvo disposição contrária, não se 
presta para desigualação jurídica", observou o ministro, para concluir que qualquer depreciação 
da união estável homoafetiva colide, portanto, com o inciso IV do artigo 3º da CF. 
 
[...] 
Com a decisão, os homossexuais passaram a ter alguns direitos que por muito tempo eram 
exclusivos dos heterossexuais, tais como: direito de comunhão parcial de bens; direito a pensão 
alimentícia no caso de separação; direito a pensão do INSS em caso da morte do parceiro; direito 
de colocar o companheiro como dependente em Planos de Saúde; direito a mencionar o parceiro 
como dependente ao declarar o Imposto de Renda; direito a adotar crianças, não dando, agora, 
preferência apenas a casais heterossexuais; etc. 
Conforme o posicionamento de Paulo Lobo, presidente do Instituto Brasileiro de Direito da Família 
(CORREIO DA BAHIA, 2011), “o Supremo Tribunal Federal fez o que o Congresso Nacional não fez. 
A união entre pessoas do mesmo sexo se equipara à união estável heterossexual, com todos os 
direitos e proteções legais garantidos”. Lobo lembra ser inquestionável a decisão da suprema corte, 
de modo que todos os tribunais e juízes, mesmo não concordando, terão que observá-la ao analisar 
o caso concreto. 
Ele destacou que esta decisão do STF tem um efeito vinculado, ou seja, vale tanto para o Poder 
Judiciário quanto para a administração pública em geral. “Ninguém mais pode questionar essa 
decisão. Mesmo que os tribunais ou os juízes não concordem, eles têm que observar a decisão do 
STF”, frisou Lobo. 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
21 
 
É interessante destacar, ainda, que o STF igualou a união estável homossexual à heterossexual, 
mas não ao casamento. No entanto, a nossa Carta Magna, em seu Art. 226, estabelece que a lei 
deve facilitar a conversão de uniões estáveis em casamento. Para fortificar ainda mais a decisão do 
STF e o Art. 226 da Constituição, no dia 14 de maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça 
(CNJ), por 14 votos a favor e 1 contra, aprovou uma resolução obrigando todos os cartórios 
brasileiros a realizarem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Contudo, no Brasil 
não é estabelecido em lei, de forma taxativa, o casamento homoafetivo. 
É perfeitamente possível, com base na resolução do CNJ, a aplicação do § 3° do art. 226 da Lei 
Maior, bem como o artigo 1.726 do Código Civil, podendo os companheiros, de comumacordo e a 
qualquer tempo, requerer a conversão da união estável em casamento, através de pedido dirigido 
ao juiz e assento no Registro Civil. 
 
 [...] 
Tendo em vista a demanda pela asseguração dos direitos dos homossexuais, cabe aos magistrados, 
advogados e doutrinadores, o entendimento desse fenômeno como parte do meio social para a 
utilização dos princípios e métodos adequados à defesa dos interesses dessas pessoas. 
Qualquer posição em sentido contrário, além de deformar a realidade, deforma o próprio direito, ao 
negar a ele seu caráter naturalmente transformador, na proteção das minorias. E é justamente a 
proteção dos direitos subjetivos das minorias, que se funda o Estado de direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
22 
 
Função contramajoritária e reconhecimento da união homoafetiva: um debate 
(Justificando – carta capital – Paulo Iotti, 10/09/2017) 
- Introdução 
Com a histórica decisão do Supremo Tribunal Federal, a união duradoura, pública e contínua entre 
pessoas do mesmo gênero (união homoafetiva) foi reconhecida como entidade familiar, em 
“Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e consequências da união estável 
heteroafetiva” (ADPF 132 e da ADI 4277). 
Por ter sido decisão em controle concentrado de constitucionalidade, à qual a Constituição impõe 
efeito vinculante e eficácia erga omnes, ou seja, “força de lei”, por se tratar de decisão de obrigatório 
cumprimento (vinculante) no país inteiro (erga omnes), juízes e Tribunais ficaram obrigados a 
respeitá-la. Por isso, não houve mais debates sobre a possibilidade jurídica da união estável 
homoafetiva, no Judiciário, desde então. E, como uma das “consequências da união estável 
heteroafetiva” é a possibilidade de conversão em casamento civil, este passou a ser 
reconhecido, inicialmente mediante conversão de prévia união estável, e, posteriormente, 
de forma direta (cf. STJ, REsp 1.183.378/RS, e CNJ, Resolução 175/2013). 
Em razão disso, muitas e muitos acreditam que o tema está, definitivamente, decidido. 
Mas, infelizmente, não está, ante notórias tentativas de parte do Congresso Nacional, para 
aprovação de lei que restrinja o conceito de família conjugal apenas à união entre homem 
e mulher, como tenta fazer o texto do PL 6.583/2013, conhecido como “Estatuto da 
Família”. 
Uma família totalitária, já que quer ser reconhecida em prejuízo de outras – este projeto é 
uma clara reação ao “Estatuto das Famílias” (no plural), atualmente em trâmite no Senado 
Federal (PLS 470/2013), que visa reconhecer diversas modalidades familiares e não uma única. 
Enfim, o ponto é que, se aprovado, referido “Estatuto da Família” (ou similar) fará com que o tema 
retome ao Judiciário e, fatalmente, retornará ao Supremo Tribunal Federal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
23 
 
PARA ALÉM DO ARCO-ÍRIS: A FAMÍLIA CONSTITUCIONAL E A UNIÃO HOMOSSEXUAL 
(Paulo Ramon da Silva Solla) 
1. A INTERPRETAÇÃO EXCLUDENTE E O NÚMERO CLAUSUS. 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
 
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher 
como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 
 
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e 
seus descendentes. 
Não é pacífico na doutrina sobre o §3º do artigo 226 da Carta Política constituir número clausus ou 
apertus. Para alguns, como o ilustre mestre baiano Orlando Gomes (2001, p. 3-30), há ali uma 
cláusula excludente, referindo apenas à união estável entre o homem e a mulher, bem como 
a família monoparental como entidades familiares. Para outros, principalmente entre os membros 
da doutrina atual como Paulo Lobo e Maria Berenice Dias (2006, p. 40-45) há ali repertório apenas 
ilustrativo de tais entidades, sendo então um dispositivo de inclusão. 
O texto constitucional se faz em sua interpretação por um todo, devendo serem encarados 
e ponderados os princípios existentes, quando conflitantes, visando a busca da máxima 
realização de cada um deles [...]. A interpretação do texto constitucional não se faz por um 
dispositivo isolado, mas levando em conta todos os vetores de racionalidade que emanam deste 
mesmo. Para, com isso, chegar-se à realização de um direito legítimo, que se faz clamar pela 
sociedade e se expressa no texto constitucional. Interpretar não é construir verdades universais, 
estáticas e incontestáveis como parecem entender os defensores da cláusula de excludência. A 
atividade do intérprete é a de perceber o sentido que hora se apresenta. [...] 
Como bem mostra Paulo Luiz Netto Lôbo, “a exclusão não está na constituição, mas na 
interpretação” (LÔBO, 2002, p. 50). Sendo a família que goza de especial proteção do Estado e, 
mais ainda, sendo a affectio sua força propulsora, percebemos que esta é o gênero do qual advém 
várias espécies, que não fazem desmerecer-lhe a tutela da juridicidade. Há de se ver que no texto 
constitucional não há mais a cláusula “constituída pelo casamento”, que não foi por nenhuma outra 
substituída. [...] 
Sabemos que o casamento é o ato solene que regula a união entre duas pessoas. Mas não significa 
que seja ele a única e preferencial forma de constituição do vínculo afetivo. De fato, sua solenidade 
isenta aos consortes da necessidade de comprovação da relação e tem seus aspectos normativos 
patrimoniais mais amplamente regulados. Daí que se deva facilitar, ou seja, não criar óbices à 
conversão da união estável em casamento. 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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Novamente é de Paulo Lôbo a lição: 
“A regra do §4º do art. 226 integra-se à cláusula geral de inclusão, sendo este o sentido do termo 
“também” nela contido. “também” tem o significado de igualmente, da mesma forma, outrossim, de 
inclusão de fato sem exclusão de outros. Se dois forem os sentidos possíveis (inclusão ou exclusão), 
deve ser prestigiado o que melhor responda à realização da dignidade da pessoa humana, sem 
desconsideração das entidades familiares não explicitadas no texto” (LÔBO, 2002, p. 53) 
Assim, concluímos que, de fato, não há nota de exclusão no parágrafo terceiro do artigo 226 e que 
as prescrições do §4º visam somente dar maior formalidade, preenchendo de forma mais precisa o 
critério de ostensibilidade na constituição da família, que é o seu reconhecimento público como tal. 
 
As novas famílias. Censo do IBGE reconhece a pluralidade da família brasileira e confirma cenário 
apontado pelo IBDFAM desde seu surgimento. (24/10/2012). 
O censo 2010, divulgado na última semana pelo IBGE, revela o que já se sabia: a família brasileira 
é plural e vem se transformando continuamente. Confirmando esse cenário, o IBGE aponta que, 
entre 2000 e 2010, ganha espaços as famílias recompostas, houve um aumento das uniões 
consensuais, das famílias lideradas por mulheres e do divórcio que quase dobrou em dez anos. Pela 
primeira vez, o IBGE pesquisou casais do mesmo sexo. 
O diretor do IBDFAM nordeste, Paulo Lobo, aponta que essas pesquisas revelaram e revelam o 
que já se sabia, mas que se encontrava na penumbra da ilegalidade ou desconsideração 
do direito. “A constituição de 1988 abriu as comportas, permitindo a inclusão das demais 
entidades familiares, represadas pela exclusividade que o direito atribuía à família 
matrimonial. A pluralidade familiar, de lá para cá, cresceu e o direito ainda tem muita tarefa de 
adaptação pela frente”, aponta. 
Mosaico familiar 
Paulo Lôbo explica que a simplificação do divórcio e a superação da separação judicial (o 
antigo desquite) asseguraram a liberdadedas pessoas em constituírem novas famílias, 
com respaldo legal, principalmente por novo casamento ou união estável. 
Para o presidente do IBDFAM, ao se extinguir o instituto da separação, o Estado evita 
longos processos judiciais onde se buscava quem era o culpado pelo fim do casamento. 
“Simplificar a dissolução do casamento não significa de maneira alguma incentivar 
separações, ao contrário, significa apenas que a responsabilidade pelos vínculos conjugais 
diz respeito tão somente ao casal e que eles devem ter liberdade para manter ou não tal 
vinculo”, explica. 
[...] 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
25 
 
- Outro ponto da aula: NOVO ESTATUTO DA FAMILIA 
Manifesto do IBDFAM contra a PL 6.583/2013 
 
1) O Projeto de Lei 6583/2013, denominado Estatuto da Família, que está em tramitação na Câmara 
Federal, restringe o conceito de família para aquela constituída por homem e mulher ou relação 
monoparental - quando apenas um dos pais arca com criação do (s) filho (s) - e descendentes; 
 
2) Em nossa sociedade existem outros tipos de família como aquelas constituídas por avós e netos, 
tios e sobrinhos, filhos adotivos e pessoas do mesmo sexo que também conquistaram o direito à 
tutela do Poder Público; 
 
3) Em uma decisão histórica, o Supremo Tribunal Federal garantiu que a união entre pessoas do 
mesmo sexo está inserida no rol dos direitos fundamentais do indivíduo, sendo uma manifestação 
do princípio da dignidade da pessoa humana. Ao desconsiderar essa decisão do Tribunal 
Constitucional, o projeto fere a Constituição Federal; 
 
4) A família é o núcleo social básico constituído de laços consanguíneos e socioafetivos e tem 
assegurada proteção prioritária do Estado em todas as suas formas de expressão; 
 
Neste sentido, conclamamos aos senhores e senhoras parlamentares que rejeitem o PL 6583/2013, 
visto que é discriminatório, violador da dignidade humana e, portanto, inconstitucional, sendo 
também contrário aos compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro junto ao 
Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos. Conclamamos também a toda a sociedade 
brasileira para que se levante em defesa de todas as famílias, considerando que família é amor, é 
afeto e que, por isso, merece ser reconhecida pelo Estado. 
 
 
Alternativa: o Estatuto das Famílias 
Enquanto o Estatuto da Família é discutido na Câmara, tramita em paralelo no Senado o Projeto de Lei 
470/2013. De iniciativa da senadora Lídice da Mata, o projeto pretende criar o Estatuto das Famílias – e o 
uso do plural faz toda a diferença nesse caso. Em análise desde 2013 na Comissão de Direitos Humanos do 
Senado, esse projeto reconhece a relação homoafetiva como entidade familiar, assim como outros arranjos 
familiares, como famílias fora do casamento, de casamentos anteriores e aquelas formadas por enteados, 
padrasto ou madrasta. Portanto, esse projeto contradiz o Estatuto da Família. A ideia, segundo a senadora, 
é criar uma cultura de paternidade responsável, responsabilizando aqueles que mantêm famílias paralelas. 
Além disso, o reconhecimento de arranjos homoafetivos garantiria a elas um amparo legal ainda pouco 
estruturado atualmente. 
 
 
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Pós debate: Art. 226 ao 230 Constituição Federal 1988. 
• Direitos Fundamentais – Dignidade e Solidariedade Familiar. 
 
• Direitos Gerais – Igualdade; Liberdade; Afetividade; Convivência paternal; Melhor interesse; 
Responsabilidade Familiar. 
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
 
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração. 
 
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. 
 
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a 
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 
 
→ Princípio da Solidariedade Familiar 
 
→ Solidariedade Familiar: É quando a preocupação é maior com a pessoa do que com o patrimônio 
ou instituição. Em se tratando de criança e adolescente, os familiares, a sociedade ou o Estado 
podem intervir para condicionar o melhor exercício das obrigações parentais. 
 
Nos § 1, § 2 e § 3, a lei aplica à família a questão da formação da família, primeiramente como 
sendo base especial de proteção do Estado, sendo sua formação por celebração de casamento, 
no caso do religioso a celebração tem efeito civil, com base na lei. 
 
O §3º fala sobre a união estável entre homem e mulher como forma de entidade familiar, sendo 
a ela facilitada a conversão em casamento, dando impressão de hierarquia (primeiro 
casamento depois união estável), NO CASAMENTO O ESTADO TEM O REGISTRO DO 
MATRIMÔNIO, DIFERENTE DA UNIÃO ESTÁVEL. 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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→ O § 3º promoveu o concubinato a um nível de entidade familiar: união estável. 
 
► DO CONCUBINATO À UNIÃO ESTÁVEL 
 
Todas as Constituições anteriores à Constituição de 1988, excetuando-se a de 1967, 
definiam a Família como aquela constituída pelo casamento civil e que este era 
indissolúvel, estando sob a proteção estatal. Neste sentido, sob esta égide, surgiu dois 
polos distintos: à priori uma família legítima, baseada no casamento civil e estritamente 
dentro dos amparos legais; e de outro lado a família ilegítima, criada às margens legais 
e não tendo as mesmas prerrogativas da primeira. 
 
O concubinato sempre foi associado a uma ideia de imoralidade, libertinagem, uma visão 
marginalizada, colada em posição inferior ao casamento. Resta evidente que o antigo 
Código Civil, norteado por uma sociedade moralista e puritana, não tinha como 
escopo a proteção do núcleo familiar, mas simplesmente evitar os escândalos 
provocados dentro daquela sociedade, toda vez que uma amante requeria seus 
direitos após anos de convivência ou um filho “bastardo” postulava ser reconhecido. 
 
A Família somente merecia receber tal “título” se adviesse de um casamento 
válido, isto é, dentro dos preceitos da lei, sendo assim legitimada social e 
juridicamente. Contrariamente, aquela relação que se desse fora destes preceitos 
não detinha proteção do Estado e sequer era considerada como uma família. 
 
No direito brasileiro, a união estável era vista como concubinato. Tal denominação 
anterior à Constituição Federal de 88 refere-se ao fato da união entre o homem e a mulher, 
sem casamento, os quais eram conhecidos como aqueles que "viviam como se casados 
fossem", mas com algumas restrições a esse modo de convivência. Por exemplo, 
proibindo doações ou benefícios testamentários, inclusão da concubina como beneficiária 
de contrato de seguro de vida e ademais restrições. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Maria Helena Diniz traz definição de concubinato: "O concubinato pode ser: puro ou 
impuro. Será puro se se apresentar como uma união duradoura, sem casamento civil, 
entre homem e mulher livres e desimpedidos, isto é, não comprometidos por deveres 
matrimoniais ou por outra ligação concubinária. Assim, vivem em concubinato puro: 
solteiros, viúvos e separados judicialmente. 
 
Ter-se-á concubinato impuro se um dos amantes ou ambos estão comprometidos ou 
impedidos legalmente de se casar. Apresenta-se como: a) adulterino, se se fundar no 
estado de cônjuge de um ou de ambos os concubinos, p. ex., se o homem casado mantém, 
ao lado da família legítima, outra ilegítima; e b) incestuoso, se houver parentesco próximo 
entre amantes". 
 
Hoje a expressão"concubinato" apenas é utilizada para designar o 
relacionamento amoroso envolvendo pessoas casadas que infringem o dever de 
fidelidade (adulterino), pois com a Constituição de 1988 passou a ser 
reconhecido o concubinato puro como UNIÃO ESTÁVEL. 
 
Configura-se o concubinato, segundo o Código Civil de 2002, em seu art. 1.727: 
 
"As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem 
concubinato". 
 
E na Constituição Federal no artigo 226, §3º reconheceu a distinção entre concubinato 
puro que passou a chamar união estável e concubinato impuro, e ainda, a união estável 
passou a ser entidade familiar; ou seja, da clandestinidade para tolerância e da 
tolerância para efeitos jurídicos, mas concubinato até hoje é sociedade de fato e 
não é entidade familiar. 
 
EM SUMA: 
 
a) Concubinato Puro: Pessoas solteiras e desimpedidas para contrair casamento. 
 
Com a evolução do Código e Constituição, o que era denominado Concubinato puro passa 
a ser União Estável, a partir da CR/88. 
 
b) Concubinato Impuro: Dava-se pela relação eventual de pessoas impedidas de se casar. 
 
Hoje, é previsto no art. 1.727 como simplesmente “concubinato”, referindo-se 
relacionamento amoroso envolvendo pessoas casadas que infringem o dever de fidelidade 
(adulterino) 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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→ PONTO: O art. 226 §3 estabeleceu uma hierarquia entre União estável e Casamento? 
 
Para Paulo Lobo, 
 
“A interpretação dominante do art. 226 da Constituição, entre os civilistas, é no sentido de tutelar apenas 
os três tipos de entidades familiares, explicitamente previstos, configurando numerus clausus. 
 
Os que entendem que a Constituição não admite outros tipos além dos previstos controvertem acerca da 
hierarquização entre eles, resultando duas teses antagônicas: 
 
Tese I – Há primazia do casamento, concebido como o modelo de família, o que afasta a igualdade entre os 
tipos, devendo os demais (união estável e entidade monoparental) receberem tutela jurídica limitada; 
 
O principal argumento da tese I, da desigualdade, reside no enunciado final do § 3o do art. 226, relativo à 
união estável: “devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. A interpretação literal e estrita enxerga 
regra de primazia do casamento, pois seria inútil, se de igualdade se cuidasse. 
 
Tese II – Há igualdade entre os três tipos, não havendo primazia do casamento, pois a Constituição assegura 
liberdade de escolha das relações existenciais e afetivas que previu, com idêntica dignidade. 
 
O isolamento de expressões contidas em determinada norma constitucional, para extrair o significado, não 
é a operação hermenêutica mais indicada. Impõe-se a harmonização da regra com o conjunto de princípios 
e regras em que ela se insere. 
 
Com efeito, a norma do § 3º do artigo 226 da Constituição não contém determinação de 
qualquer espécie. Não impõe requisito para que se considere existente união estável ou que subordine sua 
validade ou eficácia à conversão em casamento. 
 
Configura muito mais comando ao legislador infraconstitucional para que remova os obstáculos 
e dificuldades para os companheiros que desejem casar-se, se quiserem, a exemplo da dispensa da 
solenidade de celebração. Em face dos companheiros, apresenta-se como norma de indução. Contudo, para 
os que desejarem permanecer em união estável, a tutela constitucional é completa, segundo o princípio de 
igualdade que se conferiu a todas as entidades familiares. Não pode o legislador infraconstitucional 
estabelecer dificuldades ou requisitos onerosos para ser concebida a união estável, pois facilitar uma 
situação não significa dificultar outra. 
 
A tese II, da igualdade dos tipos de entidades, consulta melhor o conjunto das disposições 
constitucionais. Além do princípio da igualdade das entidades, como decorrência natural 
do pluralismo reconhecido pela Constituição, há de se ter presente o princípio da liberdade de escolha, 
como concretização do macro princípio da dignidade da pessoa. Consulta a dignidade da pessoa humana a 
liberdade de escolher e constituir a entidade familiar que melhor corresponda à sua realização existencial. 
Não pode o legislador definir qual a melhor e mais adequada. ” 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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→ Reflexão: Haveria interesse do Estado em colocar tal hierarquia entre C e UE, tendo em vista 
que sem registro (como é o caso da UE), não tem como o Estado controlar. A estatística é frágil. 
Esse interesse do Estado, esse controle, é um resquício inadequado, ainda, de intervenção. 
 
Outra ideia é a de que, a segunda parte do §3 trata-se de uma facilitação procedimental e não 
de hierarquia. Essa leitura pretende que a única hierarquia entre C e UE seria histórica, pois traz 
a ideia de que a formalidade traz maior segurança jurídica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Art. 226. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por 
qualquer dos pais e seus descendentes. 
 
Quanto ao §4º trata da família como comunidade formada por qualquer dos pais e seus 
descendentes, fica aberta a possibilidade de outras formas de família, ex: dois irmãos sem pais, 
que não é união estável e nem casamento. O parágrafo não estabelece classe de descendentes, 
deixando a expressão ampla. 
 
A “família monoparental” não pode restar como sendo a única interpretação válida desse 
parágrafo. A interpretação é de RELAÇÃO PARENTAL, podendo referir-se a irmão-irmão, por 
exemplo. A relação parental independe de relação conjugal. 
 
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo 
homem e pela mulher. 
 
Quanto ao §5º há igualdade entre homens e mulheres na relação conjugal para os direitos e seus 
deveres. Essa igualdade merece a (((REFLEXÃO))) entre IGUALDADE FORMAL x IGUALDADE 
MATERIAL. 
 
A igualdade formal, igualdade perante a lei ou igualdade jurídica, consiste no tratamento 
equânime conferido pela lei aos indivíduos, visando subordinar todos ao crivo da legislação, 
independentemente de raça, cor, sexo, credo ou etnia. Essa igualdade é insuficiente, na medida 
em que desconsidera as peculiaridades dos indivíduos e grupos sociais menos favorecidos, não 
garantindo a estes as mesmas oportunidades em relação aos demais. 
 
O advento do Estado Social, o Estado adquire uma feição intervencionista com o fito de proteger 
os grupos menos favorecidos, efetivando os seus direitos fundamentais. Nesse momento, surge 
a concepção de igualdade material/substancial, que não se limita apenas ao plano jurídico-formal, 
mas busca uma atuação estatal positiva, tem por finalidade igualar os indivíduos, que 
essencialmente são desiguais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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→ Paulo Lobo pontua que até a expressão ADOTIVO é discriminatória. 
 
Como leciona Paulo Lôbo, no Brasil, a filiação é conceito único, não se admitindo 
adjetivações ou discriminações. Desde a constituição de 1988 não há mais filiação legítima, 
ilegítima, natural, adotiva ou adulterina. 
 
Art. 227, § 6º. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os 
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à 
filiação. 
 
Flávio Tartuce ensina que não se pode mais utilizar expressões como filho adulterino, filho 
incestuoso, filho espúrio ou filho bastardo, admitindo-se, para fins didáticos, a expressão filho 
havido forado casamento, pois todos os filhos são iguais, repercutindo tanto no campo 
patrimonial quanto no pessoal. 
 
Vale acrescentar ao ensinamento doutrinário, a propósito, a proibição de utilizar até mesmo 
expressões que não seriam, em princípio, discriminatórias, mas que poderiam desaguar numa 
distinção injustificável, como a adjetivação “adotivo” após a palavra filho. Assim, o 
Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe o fornecimento de certidão sobre a sentença de 
adoção inscrita no registro civil mediante mandado para a constituição do vínculo filial. Seguindo 
o mesmo norte, a Lei n. 8.560/92, atendendo à exigência de isonomia constitucionalmente 
imposta, proibiu a inserção, no registro de nascimento, de qualquer referência à natureza da 
filiação, bem como determinou que as certidões não contenham indícios de a concepção haver 
sido de corrente de relação extraconjugal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. 
 
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade 
responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado 
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada 
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 
 
Quanto ao §7º, a questão da paternidade responsável está na consequência do ato, tanto para a 
mulher que resolve ser mãe sozinha, quanto a possibilidade do aborto, nesses casos existe uma 
problemática que pondera a liberdade. 
 
- Planejamento familiar: Liberdade. Verifica-se quando, por exemplo, não há controle estatal para 
o número de filhos. A política adotada no Brasil para o controle do planejamento familiar é 
“neutra”, pois o entendimento do Constituinte é de que este controle pertence única e 
exclusivamente à família, sem a necessidade de qualquer interferência Estatal. Assim, cada 
família tem o poder de escolher os meios, métodos e técnicas para controlar a natalidade e regular 
a fecundidade, sem qualquer interferência estatal. 
 
→ (((REFLEXÃO))): Mas posso ter filho do jeito que eu quiser? Como escolher a cor dos olhos? 
 
Não! A dignidade é o limite dessa liberdade. 
 
O conceito de paternidade responsável está voltado à responsabilidade e obrigação dos pais 
em prover a assistência material, intelectual, moral, e afetiva aos filhos. Mais que isto, garantir 
que a dignidade do menor vulnerável sujeito ao poder familiar seja preservada. Por isso, o 
legislador ao dispor acerca do planejamento familiar, ressalvou que a livre escolha do casal deve 
respeitar o princípio da dignidade da pessoa, ao lado da paternidade responsável. Afinal, inexiste 
paternidade responsável quando não há o respeito ao princípio da dignidade humana da criança 
e do adolescente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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→ (((PONTO))): A CF estabelece que o planejamento familiar é LIVRE DECISÃO DO CASAL, 
enquanto a Lei 9.263/96, que regula o § 7º do art. 226 da CF, que trata do planejamento familiar, 
estabelece como sendo um conjunto de ações pela MULHER, pelo HOMEM ou pelo CASAL. 
 
Lei 9.263/96 
 
Art. 1º O planejamento familiar é direito de todo cidadão, observado o disposto nesta Lei. 
 
Art. 2º Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação da 
fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem 
ou pelo casal. 
 
Art. 3º O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de ações de atenção à mulher, ao homem ou ao 
casal, dentro de uma visão de atendimento global e integral à saúde. 
 
- - - - - - - - 
 
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, 
criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 
 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente 
e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, 
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
 
O artigo 227 trata de uma RESPONSABILIDADE TRINÁRIA: Família, sociedade e Estado devem 
assegurar à criança e adolescente tais direitos. 
 
Paulo Lobo fala em SOLIDARIEDADE FAMILIAR, que “deve entender-se como solidariedade 
recíproca dos cônjuges e companheiros, principalmente quanto à assistência moral e material. A 
solidariedade em relação aos filhos responde à exigência da pessoa de ser cuidada até atingir a 
idade adulta, isto é, de ser mantida, instruída e educada para sua plena formação social. 
- - - - - 
 
 
 
 
 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
35 
 
CASAMENTO - Noções aprofundadas 
 
• Natureza jurídica 
 
► Teoria Contratualista – A teoria contratualista não nega a institucionalista, mostrando 
a necessidade do contrato para a existência do casamento, nessa teoria o casamento 
é um negócio jurídico; 
{Para os adeptos da teoria contratualista, o casamento é um negócio jurídico que depende da 
livre manifestação de vontade das partes para sua realização, de modo a produzir seus 
efeitos patrimoniais regulados pelo regime de bens, assim, o matrimônio seria um 
“contrato” a ser apreciado diante do plano da existência, validade e eficácia.} 
 
► Teoria Institucionalista – O Estado é quem vai estabelecer todos os parâmetros para a 
elaboração do casamento, bem como a sua manutenção e continuação, ainda assim 
precisa da manifestação da vontade das partes. Tratando o casamento como uma 
instituição social; 
{Identifica o casamento como uma instituição, pois o mesmo é regido por normas de ordem 
pública, que define de forma pormenorizada seus efeitos jurídicos, impondo deveres e 
estabelecendo os direitos dos cônjuges, não podendo ser mitigados pela livre vontade 
das partes. Outrossim, não poderia se subsumir à condição de um contrato pois o casamento 
não regula apenas efeitos patrimoniais, mas, também, acarreta efeitos pessoais que não são 
objetos de um contrato.} 
 
► Teoria Eclética – A teoria eclética determina que ambas as duas teorias se precisam, 
elas se complementam. 
{Diante do impasse, surge uma terceira corrente que o concebe como um ato complexo de 
natureza mista, híbrida ou eclética, pois reconhece no mesmo a coexistência de características 
contratuais com as institucionais. Para esta terceira corrente, a autonomia da vontade das 
partes se resume apenas à liberdade de escolher o parceiro, o regime de bens e a 
permanência ou não da relação familiar. Por seu turno, efeitos pessoais como alteração 
do estado civil, surgimento dos vínculos de parentesco, alteração do nome, deveres de 
fidelidade e coabitação, entre outros, retiram do casamento sua essência contratualista, já que 
efeitos pessoais não podem ser regulados por contrato. Assim, esta terceira corrente 
sustenta que o casamento é um contrato na sua formação, mas no seu curso é uma instituição, 
de modo que toma uma feição mista, híbrida e eclética que mescla, de forma mais ponderada, 
as duas correntes anteriores.} 
Juliana Aguiar Leal – 2018.1 – Unicap 
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o Pressupostos de existência: 
A inobservância desses pressupostos acarreta a inexistência jurídica, o ato fica 
privado de qualquer eficácia. Na lei, não está expresso como “pressuposto de 
existência”. 
 
O que significa ser um casamento inexistente? Significa

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