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FACVLDADE MAURÍCIO DE NASSAU CAMPUS FORTALEZA - BENFICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA PROF. FELIPE MOTA MARTINS HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO FORTALEZA 2018 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 4 1.1 Higiene e Segurança do Trabalho no Brasil ............................................................................. 9 2 ACIDENTES DE TRABALHO ............................................................................................ 11 2.1.1 Doenças profissionais e do trabalho ............................................................................. 11 2.1.2 Classificação dos acidentes de trabalho ....................................................................... 12 2.1.3 Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) ............................................................ 14 2.1.4 Causas do acidente de trabalho .................................................................................... 15 3 RISCOS AMBIENTAIS ................................................................................................... 16 3.1 Riscos físicos .................................................................................................................... 16 3.1.1 Ruído ............................................................................................................................ 16 3.1.1.1 Efeitos no organismo humano .................................................................................. 18 3.1.2 Vibrações ...................................................................................................................... 19 3.1.3 Temperaturas extremas ................................................................................................ 19 3.1.4 Radiações ionizantes e não-ionizantes ......................................................................... 20 3.1.5 Pressões anormais ........................................................................................................ 21 3.1.6 Umidade ....................................................................................................................... 21 3.2 Riscos químicos ............................................................................................................... 22 3.2.1 Avaliação de riscos químicos ................................................................................... 22 3.3 Riscos biológicos.............................................................................................................. 24 3.3.1 Classificação dos ricos biológicos ............................................................................ 24 3.4 Riscos ergonômicos.......................................................................................................... 25 3.5 Riscos de acidentes (mecânicos) ...................................................................................... 26 3.6 Mapa de riscos .................................................................................................................. 27 4 MEDIDAS DE PROTEÇÃO ............................................................................................ 29 5 LEGISLAÇÃO .................................................................................................................. 31 5.1 NR 1 – Disposições gerais ............................................................................................... 31 5.2 NR 2 – Inspeção prévia .................................................................................................... 32 5.3 NR 3 – Embargo ou Interdição ........................................................................................ 32 5.4 NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança do Trabalho ................... 32 5.5 NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes ..................................................... 33 5.6 NR 6 – Equipamento de Proteção Indivudal – EPI .......................................................... 35 5.7 NR 7 – Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional - PCMSO ......................... 37 5.8 NR 8 – Edificações ........................................................................................................... 38 5.10 NR 10 – Segurança em instalações e serviços em eletricidade ........................................ 39 5.11 NR 11 – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais ................. 39 5.12 NR 12 – Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos ..................................... 39 5.13 NR 13 – Caldeiras, vasos e pressão e tubulações ............................................................. 39 5.14 NR 14 - Fornos ................................................................................................................. 40 5.15 NR 15 – Atividades e operações insalubres ..................................................................... 40 5.16 NR 16 – Atividades e operações perigosas ...................................................................... 40 5.17 NR 17 – Ergonomia.......................................................................................................... 41 5.18 NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção .................. 41 5.19 NR 19 – Explosivos.......................................................................................................... 42 5.20 NR 20 – Segurança e saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis....................... 43 5.21 NR 21 – Trabalho a céu aberto ......................................................................................... 43 5.22 NR 22 – Segurança e saúde ocupacional na mineração ................................................... 43 5.23 NR 23 – Proteção contra incêndios .................................................................................. 43 5.24 NR 24 – Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho ................................. 44 5.25 NR 25 – Resíduos industriais ........................................................................................... 44 5.26 NR 26 – Sinalização de segurança ................................................................................... 44 5.27 NR 27 – Registro profissional do técnico de segurança do trabalho ................................ 44 5.28 NR 28 – Fiscalização e penalidades ................................................................................. 44 5.29 NR 29 - Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário ............ 45 5.30 NR 30 – Segurança e saúde no trabalho aquaviário ......................................................... 45 5.31 NR 31 – Segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura ................................................................................................................... 45 5.32 NR 32 – Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde ........................................ 45 5.33 NR 33 Segurança e saúde nos trabalhos em espaços confinados ..................................... 45 5.34 NR 34 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção naval ........ 46 5.35 NR 35 – Trabalho em altura ............................................................................................. 46 5.36 NR 36 – Segurança e saúde no trabalho em empresas de abate e processamento de carnes e derivados ................................................................................................................................... 46 6SEGURANÇA .................................................................................................................. 47 6.1 Segurança dos Processos .................................................................................................. 48 6.1.1 Acidente de Flixborough (1974) .............................................................................. 49 6.1.2 Acidente de Three Mile Island (1979) ..................................................................... 50 6.1.3 Acidente de Bhopal (1984)....................................................................................... 52 6.1.4 Normas sobre segurança de processos ..................................................................... 54 6.2 Riscos de explosões e incêndios ............................................................................................. 54 6.2.1 O fogo .............................................................................................................................. 55 6.2.2 Combustão ....................................................................................................................... 56 6.2.3 Incêndios ......................................................................................................................... 58 7 GESTÃO ............................................................................................................................... 71 7.1 Gestão de riscos ...................................................................................................................... 71 7.1.1 Nautreza dos riscos empresariais .................................................................................... 71 7.1.2 Normas sobre gerenciamento de riscos ........................................................................... 73 7.1.3 Metodologia do gerenciamento de riscos ........................................................................ 74 7.2 Gestão de emergências ........................................................................................................... 76 7.2.1 Plano de emergência interno ........................................................................................... 76 7.2.2 Plano de emergência externo ........................................................................................... 80 7.3 Métodos de análise de riscos .................................................................................................. 81 7.3.2 Análise de Operabilidade de Perigos (HAZOP) Veritas (2006) ..................................... 81 7.3.3 Análise Preliminar de Perigos (APP) Veritas (2006) ...................................................... 82 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 86 4 1 INTRODUÇÃO Segundo Harari (2015), os homo sapiens viveram seus primeiros 2,5 milhões de anos como nômades, alimentando-se da coleta de plantas e da caça de animais selvagens. Neste ambiente, não havia noção de relações de trabalho, até porque a ideia de trabalho em si também não existia. No entanto, há cerca de 10 mil anos, alguns coletores perceberam que onde jogavam as sementes dos frutos consumidos nasciam árvores que geravam novos frutos, e assim descobriram a ideia chave para o desenvolvimento da agricultura. A partir de então, a espécie humana passa a se dedicar ao plantio e, logo em seguida, também à domesticação de animais. Como a garantia de produção de alimento acabou com a necessidade de mudarem-se em busca de comida, os seres humanos abandonaram a vida nômade para viver em locais com abundância de água, necessária para suprir as plantações, tornando-se sedentários. “A transição para a agricultura começou por volta de 9500-8500 a.C. no interior montanhoso do sudeste da Turquia, no oeste do Irã e no Levante. Começou devagar em uma área geográfica restrita. Trigo e bodes foram domesticados por volta de 9000 a.C.; ervilhas e lentilhas, em torno de 8000 a.C.; oliveiras, cerca de 5000 a.C.; cavalos, por volta de 4000 a.C.; e videiras, em 3500 a.C. Alguns animais e sementes, como camelos e castanhas-de-caju, foram domesticados ainda mais tarde, mas em 3500 a.C. a principal onda de domesticação havia chegado ao fim. Mesmo hoje, com toda a nossa tecnologia avançada, mais de 90% das calorias que alimentam a humanidade vêm do punhado de plantas que nossos ancestrais domesticaram entre 9500 e 3500 a.C. – trigo, arroz, milho, batata, painço e cevada.” (HARARI, 2015) À mudança do nomadismo para o sedentarismo através do desenvolvimento da agricultura dá-se o nome de Revolução Agrícola e um dos principais cereais responsáveis por essa revolução foi o trigo, que passou a ser produzido em escala e tornou-se a base da alimentação humana. No entanto, de acordo com Harari (2015), não foi o homem que domesticou o trigo, mas o trigo que domesticou o homem. “O trigo fez isso manipulando o Homo sapiens a seu bel-prazer. Esse primata vivia uma vida confortável como caçador-coletor até por volta de 10 mil anos atrás, quando começou a dedicar cada vez mais esforços ao cultivo do trigo. Em poucos milênios, os humanos em muitas partes do mundo estavam fazendo não muito mais do que cuidar de plantas de trigo do amanhecer ao entardecer. Não foi fácil. O trigo demandou muito deles. O trigo não gostava de rochas nem pedregulhos, e por isso os sapiens deram duro para limpar os campos. O trigo não gostava de dividir espaço, água e nutrientes com outras 5 plantas, e assim homens e mulheres trabalharam longas jornadas sob o sol abrasador eliminando ervas daninhas. O trigo ficava doente, e por isso os sapiens tinham de ficar de olho em vermes e pragas. O trigo era atacado por coelhos e nuvens de gafanhotos, então os agricultores construíram cercas e passaram a vigiar os campos. O trigo tinha sede, então os humanos cavaram canais de irrigação ou passaram a carregar baldes pesados de poços para regá-lo. Os sapiens até mesmo passaram a coletar fezes de animais para nutrir o solo em que ele crescia. O corpo do Homo sapiens não havia evoluído para tais tarefas. Estava adaptado para subir em macieiras e correr atrás de gazelas, não para remover rochas e carregar baldes de água. A coluna, os joelhos, o pescoço e os arcos plantares dos humanos pagaram o preço. Estudos de esqueletos antigos indicam que a transição para a agricultura causou uma série de males, como deslocamento de disco, artrite e hérnia. Além disso, as novas tarefas agrícolas demandavam tanto tempo que as pessoas eram forçadas a se instalar permanentemente ao lado de seus campos de trigo. Isso mudou por completo seu estilo de vida. Nós não domesticamos o trigo; o trigo nos domesticou. A palavra “domesticar” vem do latim domus, que significa “casa”. Quem é que estava vivendo em uma casa? Não o trigo. Os sapiens.” (HARARI, 2015) Foi então no início das atividades agrícolas que surgiu a noção de trabalho, embora este fosse essencialmente de cunho coletivista, pois nos primeiros agrupamentos agrícolas a produção era dividida de forma igualitária entre os agricultores. Com a maior disponibilidade de alimento, a população cresceu de forma exponencial e assim surgiram as primeiras aldeias, vilas e cidades. Em algumas regiões, a população cresceu ao ponto de saturar a produção de alimentos, pois as terras disponíveis não tinham capacidade de produzir comida para todos os habitantes da região. Começaram então as primeiras disputas por terras para cultivo, levando agrupamentos de humanos a atacarem uns aos outros. Surgiram assim também os primeiros prisioneiros de guerra, que logo se transformariamnos primeiros escravos, criando novas relações de trabalho. Ao tornar-se escravo o indivíduo é, de alguma forma, privado de sua liberdade, passando a ser considerado uma mercadoria. Assim, as relações de trabalho passaram a ser fundamentadas sob o direito de posse, onde a um indivíduo é permitido possuir outro e tratá-lo como bem. Através das negociações de escravos, povos da antiguidade prosperaram e foram capazes de edificar verdadeiras maravilhas da engenharia, que continuam de pé até os tempos modernos. Mas não só de construções faraônicas viviam essas civilizações e seus escravos, cujos principais ofícios eram a produção de alimentos e a realização de serviços pesados, como trabalho em minas e em edificações. As civilizações escravistas logo tornaram-se viciadas nessa prática e o trabalho forçado passou a ser a base da economia de povos como mesopotâmios, gregos, romanos, 6 persas, egípcios, dentre outros. Na Grécia, os escravos mais fortes eram reservados aos trabalhos pesados, enquanto os mais frágeis eram destinados às tarefas domésticas. É dessa época que remonta o primeiro relato de preocupação com as condições de trabalho. No século IV a.C. o médico grego Hipócrates descreveu o quadro clínico de intoxicação por chumbo, doença conhecida como saturnismo. Em Roma, a população de escravos chegou a 30% do total de habitantes, e além de trabalhos pesados e serviços domésticos era possível encontrar escravos exercendo cargos até na administração pública. A economia romana era de tal forma dependente de seus escravos que o exército teve de empenhar-se cada vez mais na conquista de novos territórios, dessa vez não para obter terras para cultivo, mas escravos. Durante esse período o médico romano Plínio, O Velho estudou as condições de trabalho dos escravos e descreveu em seu livro Naturalis Historia (pulbicado em 73 d.C. em 37 volumes) as iniciativas próprias de proteção praticadas pelos escravos que trabalhavam em minas e utilizavam bexigas de carneiro como máscaras para pó. Este é o relato mais antigo de um Equipamento de Proteção Individual. Problemas com escravos revoltosos eram comuns na transição entre a República e o Império Romano. As revoltas ficaram conhecidas como Guerras Servis, mas não obtiveram êxito na derrubada do sistema escravista. Em 73. a.C Spártaco chegou a liderar 100 mil escravos em uma revolta violentamente reprimida pelos governantes e que culminou com a crucificação de mais de 6mil escravos. Por volta do século III d.C., no entanto, mesmo com a aquisição de novas terras devido à política expansionista do império, a oferta de mão de obra escrava começou a diminuir e os latifundiários tiveram de encontrar novas formas de trabalhar a terra. Tiveram então a ideia de distribuir pequenos lotes de suas propriedades para que os escravos produzissem por conta própria, pagando uma espécie de “aluguel” da terra em grãos e animais produzidos. Conforme crescia, ficava cada vez mais difícil manter a segurança das fronteiras, constantemente atacadas por povos bárbaros, o que levou à queda do Império Romano. Os habitantes das cidades refugiaram-se em propriedades rurais de antigos nobres romanos, trabalhando em suas terras em troca de proteção contra os invasores e alimento para seu sustento. Foi nesse período que mais uma vez as relações de trabalho se alteraram, surgindo o que hoje chamamos de feudalismo. Nesse novo sistema houve pouca mudança 7 na vida dos trabalhadores que de escravos passaram a servos dos senhores de terras. A única vantagem era não serem mais tratados como propriedade, embora agora estivessem ligados aos senhores de terra (senhores feudais) e presos às terras em que viviam. As relações de trabalho não sofreram grandes alterações durante o restante da Idade Média e início da Idade Moderna (1453 à 1789), período em que foram realizados muitos estudos sobre a saúde dos trabalhadores. Em 1556, Georgi Agricolae realiza os primeiros registros de doenças atribuídas especificamente a um determinado ofício e os publica em seu livro De Re Metallica, que relata os problemas encontrados na mineração e fundição de ouro e prata. Um fato curioso da obra de Agricolae é o relato de que as mulheres chegavam a casar-se inúmeras vezes devido à alta taxa de mortalidade entre os mineiros. Em 1700, o médico italiano Bernardino Ramazzini, considerado o pai da Medicina do Trabalho, publica o livro De Morbis Artificum Diatriba (As doenças dos trabalhadores), descrevendo mais de 50 doenças do trabalho e introduzindo ao prontuário médico a pergunta: “Qual sua ocupação”. O sistema feudal não apresentava mobilidade social, ocasionando a fuga de alguns servos, o que, juntamente com o desenvolvimento de uma estrutura mercantil arcaica, favoreceram o nascimento e desenvolvimento do sistema capitalista. Após alguns séculos ganhando força, o capitalismo passou a ser o principal sistema socioeconômico dos países europeus a partir do século XVI. Com o capitalismo surgiram novas relações de trabalho, que deixou de ser servil e passou a ser assalariado, embora as condições de vida dos camponeses não tenha melhorado, pois os salários que recebiam muitas vezes os fazia desejar ainda serem servos dos senhores feudais: ao menos o sustento estava garantido. Além do trabalho no campo, muitos ofícios prosperaram, tais como a manufatura e o comércio de produtos artesanais. Mas no século XVII a Revolução Industrial (1760 à 1940) que teve lugar na Inglaterra mudou esse cenário ao substituir a manufatura pela maquinofatura, onde o produto é fabricado com o auxílio de máquinas. Os trabalhadores passaram então a ser operadores de máquinas e mais uma vez suas condições de trabalho não só não melhoraram, como podem ser consideradas as piores dentre todos os períodos da história. Segundo Dezordi (2008), as jornadas de trabalho iam de 14 a 16 horas por dia, seis dias por semana, e, embora tivessem a mesma jornada de trabalho que os homens adultos, mulheres e crianças recebiam salários menores. 8 A maior parte das fábricas inglesas era do setor têxtil, que consumia muita lã. Para obter mais áreas de pastagem os nobres invadiram territórios utilizados por camponeses para suas atividades agrícolas e pastoris (DEZORDI, 2008). Os camponeses, sem poder tirar seu sustento da terra, migram para as cidades, passando a integrar a mão de obra das fábricas. Com a crescente oferta de mão de obra, os salários baixam e há superlotação nas acomodações próximas aos bairros fabris, diminuindo a qualidade de vida e aumentando o risco de doenças da população. Os locais de trabalho também eram sujos, com pouca iluminação, ventilação e sem nenhuma preocupação ergonômica. Os trabalhadores da Revolução Industrial também não tinham nenhum tipo de seguridade social como previdência (pública ou privada), tendo que trabalhar até os últimos dias de suas vidas. As péssimas condições geraram insatisfação nos trabalhadores que começaram a se manifestar por melhores condições, forçando o Parlamento Britânico a criar o Factory Act (Lei das Fábricas), em 1833. Essa lei estabeleceu a inspeção das fábricas, determinou idade mínima de 9 anos, proibiu o trabalho noturno de menores de 18 anos e determinou um regime de trabalho de no máximo 12 horas por dia e 69 horas por semana. A indústria viria a ter ainda mais destaque no final do século XIX e começo do século XX, sendo impulsionada principalmente pelo setor armamentista que abasteceu a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Mais leis de proteção ao trabalhador foram criadas na Inglaterra e as práticas de segurança começaram a ser difundidas pelo restante da Europa e pela América do Norte.Com o fim da Primeira Guerra Mundial, como parte do tratado de Versalhes, foi criada em 1919 a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Este órgão é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (convenções e recomendações) e possui uma estrutura tripartite, sendo composto por representantes das empresas, dos trabalhadores e dos governos dos países membros. O Brasil é um dos membros fundadores da OIT e participa da Conferência Internacional do Trabalho desde sua primeira edição, quando foram definidas as jornadas máximas diárias de 8h e semanais de 48h, a idade mínima de 14 anos para trabalho na indústria e a proteção à maternidade, dentre outras diretrizes que ainda norteiam as normas do trabalho modernas. 9 1.1 Higiene e Segurança do Trabalho no Brasil Em 1903 foi assinado pelos governos do Brasil e da Bolívia o Tratado de Petrópolis, onde o Brasil se comprometia a construir uma estrada de ferro para facilitar o escoamento da produção de borracha dos dois países e em troca recebia o território que hoje compõe o estado brasileiro do Acre. Durante a execução das obras, muitos operários adoeceram e até mesmo chegaram a óbito devido às péssimas condições de trabalho e às doenças tropicais. Segundo Ferreira e Peixoto (2012), a situação levou o médico brasileiro Oswaldo Cruz à obra, onde realizou estudos e trabalhos sobre doenças infeciosas relacionadas ao trabalho, como a malária e o amarelão. Este é o primeiro relato de uma iniciativa em segurança do trabalho no Brasil. Em 1912, durante o 4º Congresso Operário Brasileiro, constituiu-se a Confederação Brasileira do Trabalho (CBT), a qual teve como finalidade promover um programa de reivindicações operárias, tais como: jornada de trabalho de oito horas, semana de seis dias, construção de casas para operários, indenização para acidentes de trabalho, limitação da jornada de trabalho para mulheres e crianças (menores de quatorze anos), contratos coletivos (na época, individuais), obrigatoriedade de pagamento de seguro para os casos de doenças e velhice, estabelecimento de um salário mínimo, reforma de tributos públicos e exigência de instrução primária. (...) Em 1918, o presidente do Brasil Wenceslau Braz Gomes cria, através do Decreto nº 3.550, o Departamento Nacional do Trabalho, com o intuito de regulamentar a organização do trabalho. Em 1919, com o Decreto Legislativo nº 3.724, foi instituída a reparação em caso de doença contraída pelo exercício do trabalho. O Decreto é conhecido como a primeira lei sobre acidentes de trabalho. (FERREIRA e PEIXOTO, 2012) O DL nº 3.724 discorria sobre os acidentes de trabalho, definia a forma de declaração do acidente e dava diretrizes sobre as ações judiciais e indenizações. Nesta lei foi adotada a teoria do risco profissional adotada pelo político francês Felix Faure em 1883 e que se baseava no principio de que assim como o empresário deve suportar os encargos e riscos oriundos do processo produtivo, deve também suportar a depreciação da saúde daqueles que participaram desse processo (os trabalhadores). Em 1923, o presidente do Brasil Arthur Bernardes cria o Conselho Nacional do Trabalho, pelo Decreto n° 16.027. Em 1923, cria-se a Inspetoria de Higiene Industrial e Profissional junto ao Departamento Nacional de Saúde, no Ministério da Justiça e Negócios Interiores. No ano de 1930, o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio é criado via Decreto n° 19.433, assinado pelo presidente Getúlio Vargas. O Ministério 10 assumia as questões de saúde ocupacional e era coordenado pelo Ministro Lindolfo Leopoldo Boeckel Collor, empossado na ocasião. Em 1934, com o Decreto Legislativo nº 24.637, é criada a Inspetoria de Higiene e Segurança do Trabalho, ampliando-se assim, o conceito de doença profissional. Tal decreto é considerado a segunda lei de acidentes do trabalho. (...) Em 1943, no Brasil, com o Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio, entra em vigor a “Consolidação das Leis do Trabalho” (CLT), com capítulo referente à Higiene e Segurança do Trabalho. Em 1944 é incluída a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) na Legislação Brasileira pelo Decreto nº 7.036/44, conhecido como “Lei de Acidentes de Trabalho de 1944”. (FERREIRA e PEIXOTO, 2012) O DL 7.036/74 foi a terceira lei sobre acidentes do trabalho do Brasil e introduziu os conceitos de acidente in inteire, ou de trajeto, aperfeiçoou a assistência médica, farmacêutica e hospitalar ao acidentado e definiu o limite máximo de 24h para comunicar um acidente de trabalho, dentre outros. Apesar de a comunicação de acidente ser obrigatória havia a lacuna do prazo, definido então a partir dessa data. Em 1953, a Portaria nº 155 regulamenta as ações da CIPA. (...) Em 1966, através da Lei nº 5.161, é criada no Brasil a Fundação Centro Nacional de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), com o objetivo de realizar estudos, análises e pesquisas relativas à higiene e à medicina ocupacional. Atualmente, é denominada de Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho (alterado no ano de 1978). (FERREIRA e PEIXOTO, 2012) A FUNDACENTRO tem por objetivo realizar estudos e pesquisas das condições dos ambientes de trabalho, divulgando os resultados obtidos e capacitando pessoas para melhoria do ambiente de trabalho. O material instrucional desenvolvido pelo órgão é reconhecido internacionalmente e garante à FUNDACENTRO parceiros em diversos países do mundo, para quem também desenvolve projetos de sistemas de gestão ambiental. Em 1977, no Brasil, a Lei nº 6.514 altera o Capítulo V da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), agora relativo à segurança e medicina do trabalho. No ano de 1978, no Brasil, através da Portaria nº 3.214 de 08/06/1978, aprovou as Normas Regulamentadoras (NR) do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à segurança e medicina do trabalho. Nesse mesmo ano, foram aprovadas outras 28 (vinte e oito) NR, as quais sofreram várias alterações ao longo dos anos. (FERREIRA e PEIXOTO, 2012) As décadas de 80 e 90 viram o Brasil organizar os sistemas de representatividade de cada classe participante do processo de segurança no trabalho (trabalhadores, empresários e governo), culminando com a criação da Comissão Tripartite 11 Partidária Permanente em 2002 aumentando o compromisso dos setores (empregadores e trabalhadores, especialmente) na adoção de medidas efetivas para a necessária melhoria das condições e dos ambientes de trabalho e a consequente diminuição dos índices destes acidentes. 2 ACIDENTES DE TRABALHO O Plano de Benefícios da Previdência Social, em vigor através da lei Nº8213, de 24 de julho de 1991, dispõe, em seu artigo 19, sobre o acidente do trabalho: Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho (...), provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Desta forma, o resultado direto do acidente do trabalho é uma lesão corporal ou perturbação funcional que acarreta em dano à capacidade do trabalhador. LESÃO CORPORAL pode ser entendida como qualquer dano à anatomia do trabalhador, sejam eles graves (fraturas, hematomas, amputações, etc.) com consequências duradouras e muitas vezes permanentes, ou de característica menos intensa, não deixando marcas ou sequelas após tratamento adequado. Já a PERTURBAÇÃO FUNCIONAL é entendidacomo sendo o prejuízo ao funcionamento de qualquer órgão ou sentido do trabalhador. Exemplos: problemas respiratórios causados por ventilação inadequada e presença de agentes químicos em pó, lesões por esforço repetitivo, perda de audição, olfato ou sensibilidade da pele, etc. 2.1.1 Doenças profissionais e do trabalho Ainda segundo a lei Nº8213: Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; 12 II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. § 1º Não são consideradas como doença do trabalho: a) a doença degenerativa; b) a inerente a grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. Entende-se por DOENÇA PROFISSIONAL aquela adquirida pelo trabalhador que está exposto a um determinado agente de risco ambiental QUE É COMUM a todos os trabalhadores que exercem a mesma atividade. Exemplo: operadores de telemarketing que estão propensos a adquirir uma Lesão por Esforço Repetitivo (LER) devido à natureza de sua atividade. Já a DOENÇA DO TRABALHO é aquela adquirida pelo trabalhador que está exposto a um agente ambiental NÃO comum aos demais trabalhadores que exercem aquela atividade. Exemplo: um bancário que trabalha em um ambiente com elevado nível de ruído (digamos ao lado, ou mesmo dentro, de uma obra) ocasionando considerável perda auditiva. Este caso enquadra-se como doença do trabalho pois o risco devido ao ruído excessivo não é comum à profissão de bancário, mas um risco específico que este profissional em particular, trabalhando no local em que trabalha, está submetido. 2.1.2 Classificação dos acidentes de trabalho A lei Nº 8213 classifica os acidentes de trabalho nos quatro grupos listados a seguir: Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; 13 b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de- obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. § 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho. § 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às conseqüências do anterior. Os itens de I a III discorrem sobre o ACIDENTE TÍPICO, que ocorre dentro do ambiente de trabalho. Já o item IV trata sobre ACIDENTE DE TRAJETO que se caracteriza quando o funcionário sofre um acidente fora do espaço físico da empresa, mas naquele momento se encontra em serviço, seja se locomovendo de casa ao trabalho ou do trabalho para casa, seja trabalhando no trânsito (taxista, caminhoneiro, motoboy, etc.). É possível ainda classificar os acidentes de acordo com sua gravidade em: FATAL quando ocasiona a morte do trabalhador. (MTE, 2010) GRAVE quando provoca amputações ou esmagamentos, perda de visão, lesão ou doença que leve a perda permanente de funções orgânicas, fraturas que necessitem de intervenção cirúrgica ou que tenham elevado risco de causar incapacidade permanente, queimaduras que atinjam toda a face ou mais de 30% da superfície corporal ou outros 14 agravos que resultem em incapacidade para atividades habituais por mais de 30 dias. (MTE, 2010) MODERADO quando causa agravos à saúde que não se enquadrem nas classificações anteriores e que a pessoa afetada fique incapaz de executar seu trabalho normal durante o período três a trinta dias. (MTE, 2010) LEVE quando as lesões ou doenças incapacitam o trabalhador por até três dias. 2.1.3 Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) Os acidentes do trabalho devem ser comunicados à previdência social conforme artigos 22 e 23 da lei Nº 8213: Art. 22. A empresa ou o empregador doméstico deverão comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário de contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência Social. § 1º Da comunicação a que se refere este artigo receberão cópia fiel o acidentado ou seus dependentes, bem como o sindicato a que corresponda a sua categoria. § 2º Na falta de comunicação por parte da empresa, podem formalizá-la o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública, não prevalecendo nestes casos o prazo previsto neste artigo. § 3º A comunicação a que se refere o § 2º não exime a empresa de responsabilidade pela falta do cumprimento do disposto neste artigo. § 4º Os sindicatos e entidades representativas de classe poderão acompanhar a cobrança, pela Previdência Social, das multas previstas neste artigo. § 5o A multa de que trata este artigo não se aplica na hipótese do caput do art. 21-A. Art. 23. Considera-se como dia do acidente, no caso de doença profissional ou do trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade habitual, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia em que for realizado o diagnóstico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro. 15 2.1.4 Causas do acidente de trabalho A norma brasileira NBR 14280/2001 (Cadastro de acidentedo trabalho – Procedimento e classificação) fixa critérios para registro, comunicação, estatística, investigação e análise de acidentes de trabalho, suas causas e consequências, aplicando-se a quaisquer atividades laborativas. O artigo 2.8 da referida NBR trata das causas do acidente de trabalho, definindo como causas: 2.8.1 fator pessoal de insegurança (fator pessoal): Causa relativa ao comportamento humano, que pode levar à ocorrência do acidente ou à prática do ato inseguro. (...) 2.8.2 ato inseguro: Ação ou omissão que, contrariando preceito de segurança, pode causar ou favorecer a ocorrência de acidente. 2.8.3 condição ambiente de insegurança (condição ambiente): Condição do meio que causou o acidente ou contribuiu para a sua ocorrência. NOTAS 1 O adjetivo ambiente inclui, aqui, tudo o que se refere ao meio, desde a atmosfera do local de trabalho até as instalações, equipamentos, substâncias utilizadas e métodos de trabalho empregados. Assim, o acidente causado por ATO INSEGURO é decorrente de uma ação humana que negligencia um procedimento de segurança, levando ao acidente. Nesta situação, mesmo que todas as medidas de proteção cabíveis tenham sido tomadas, o trabalhador, por algum motivo, ignora uma ou mais destas medidas, se submetendo aos riscos ambientais. Já o acidente causado por uma CONDIÇÃO INSEGURA é decorrente de um ambiente onde o trabalhador está exposto a riscos. Esta condição pode ser causada por uma máquina defeituosa, partes elétricas não isoladas, ventilação e iluminação deficiente, má organização do ambiente de trabalho, etc. 16 3 RISCOS AMBIENTAIS Os riscos ambientais são fatores, elementos ou substâncias presentes no ambiente de trabalho que podem ser a causa de um acidente de trabalho. A Norma Regulamentadora Nº 05 do Ministério do Trabalho e Emprego considera como riscos ambientais: 9.1.5 Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. Além dos riscos físicos, químicos e biológicos, também são considerados como riscos ambientais os riscos ergonômicos e os riscos mecânicos, ou de acidentes. 3.1 Riscos físicos A NR 09 define considera agentes físicos as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, temperaturas extremas, radiações ionizantes e não ionizantes, pressões anormais e umidade. Antes de discorrer sobre os riscos é importante estar familiarizado com o conceito de Limite de Tolerância. De acordo com a NR 15: 15.1.5 Entende-se por "Limite de Tolerância", para os fins desta Norma, a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral. Ou seja, de acordo com o regime de trabalho estabelecido pela CLT, limite de tolerância pode ser entendido como a máxima intensidade de um risco a que um trabalhador pode estar exposto durante 8h por dia, 44h por semana. 3.1.1 Ruído Os mais diversos ambientes, sejam eles de lazer ou de trabalho, estão repletos de sons que podem se manifestar de forma ordenada através da fala, do canto ou de um 17 instrumento musical. Mas esses sons podem também estar presentes no ambiente de forma caótica, constituindo o que se chama de ruído. Exposição prolongada a altos níveis de ruído podem ocasionar uma série de problemas no organismo humano, de forma que a permanência de um indivíduo é limitada de acordo com a Tabela 1. Tabela 1 – Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente Fonte: NR 15, Ministério do Trabalho e Emprego. Segundo o Anexo 1º da NR 15: 1. Entende-se por Ruído Contínuo ou Intermitente, para os fins de aplicação de Limites de Tolerância, o ruído que não seja ruído de impacto. 2. Os níveis de ruído contínuo ou intermitente devem ser medidos em decibéis (dB) com instrumento de nível de pressão sonora (...). As leituras devem ser feitas próximas ao ouvido do trabalhador. (...) 5. Não é permitida exposição a níveis de ruído acima de 115 dB(A) para indivíduos que não estejam adequadamente protegidos. 6. Se durante a jornada de trabalho ocorrerem dois ou mais períodos de exposição a ruído de diferentes níveis, devem ser considerados os seus efeitos combinados, de forma que, se a soma das seguintes frações: 18 exceder a unidade, a exposição estará acima do limite de tolerância. Na equação acima, Cn indica o tempo total que o trabalhador fica exposto a um nível de ruído específico, e Tn indica a máxima exposição diária permissível a este nível, segundo o Quadro deste Anexo. 7. As atividades ou operações que exponham os trabalhadores a níveis de ruído, contínuo ou intermitente, superiores a 115 dB(A), sem proteção adequada, oferecerão risco grave e iminente. O Anexo 2 da NR 15 define ruído de impacto como: “aquele que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a 1 (um) segundo, a intervalos superiores a 1 (um) segundo”. Os níveis de impacto deverão ser avaliados em decibéis (dB), com medidor de nível de pressão sonora operando no circuito linear e circuito de resposta para impacto e a tolerância será de 130 dB (linear). Exemplos de ruídos de impacto são: o barulho ocasionado pelo martelar de prego, pisar forte com o solado do sapato no piso, máquinas bate-estaca, etc. 3.1.1.1 Efeitos no organismo humano Segundo Carmo (1999), O ruído afeta o organismo humano de várias maneiras, causa prejuízos não só ao funcionamento do sistema auditivo como o comprometimento da atividade física, fisiológica e mental do indivíduo a ele exposto. Uma das principais doenças causadas por este agente físico é a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), que é causada pelo acúmulo de exposições de ruído, repetidas constantemente, por um período de muitos anos. A exposição crônica ao ruído produz no ser humano uma deterioração auditiva lentamente progressiva. Quanto aos demais efeitos não relacionados ao sistema auditivo, Carmo (1999) afirma que: Além dos Sintomas Auditivos, o ruído exerce ação geral sobre várias funções orgânicas, apresentando reações distintas, com características comuns, mas com diferentes significados, como: Reações de alarme, que consistem em resposta rápida de curta duração sob a ação de um ruído repentino. Essa atitude reflexa se manifesta através do ato de fechar os olhos, há aumento da freqüência cardíaca e respiratória, aumento da pressão arterial e secreção salivar, dilatação pupilar, contração brusca da musculatura e aumento 19 da secreção dos hormônios e Reações neurovegetativas, em que a ação geral do ruído exerce uma resposta lenta com variações durante a estimulação auditiva, influenciando e promovendo transtornos considerados como verdadeiras doenças de adaptação de instabilidade do sistema neurovegetativo; como por exemplo, o aumento do tônus muscular, hiperreflexia, redução do peristaltismo intestinal, distúrbios digestivos,angústia, inquietação, variações na dinâmica circulatória e aumento da amplitude respiratória. 3.1.2 Vibrações Segundo Dreher (2004), vibração é o resultado das trepidações provocadas por diversos tipos de máquinas e equipamentos motorizados, operados nas várias atividades profissionais. As vibrações podem ser divididas em dois grupos, dependendo de sua área de atuação no corpo do trabalhador. As Vibrações de Mãos e Braços (VMB) afetam os membros superiores, podendo causar perda da sensibilidade tátil, problemas nas articulações, problemas na circulação periférica e deslocamento de nervos. Já as Vibrações de Corpo Inteiro (VMI) são transmitidas ao corpo pelo operador de equipamentos, que pode estar de pé, sentado ou deitado. É o caso dos motoristas de caminhão, operadores de grandes maquinas, pilotos de avião, etc. Tem como efeitos pequenas alterações no organismo em geral, lesões na coluna, nos rins e cansaço visual. (DREHER, 2004) 3.1.3 Temperaturas extremas O ideal é que os ambientes de trabalho operem dentro dos limites do conforto térmico do ser humano. Conforto térmico pode ser entendido como uma condição da mente que expressa a satisfação com o ambiente térmico e é influenciado por diversos fatores, tais como atividade desempenhada, temperatura, velocidade, umidade do ar e as roupas utilizadas. Os dois principais fatores que levam a estes problemas são a exposição ao Calor e ao Frio excessivos. A Tabela 2 apresenta os principais problemas causados por variações extremas de temperaturas. 20 Tabela 2 – Efeito das temperaturas extremas no organismo humano Fonte: Elaborado pelo autor. 3.1.4 Radiações ionizantes e não-ionizantes Radiação é o nome que se dá ao processo de transferência de energia por ondas eletromagnéticas. Dependendo da quantidade de energia que a onda carrega ela sofre uma alteração em seu comprimento. A Figura 1 apresenta o comprimento de onda das radiações visíveis (localizadas entre 4 x 10-7 e 8x10-7, bem como um espectro mais amplo, contemplando as faixas do ultravioleta, infravermelho e outras mais distantes. Figura 1 – Comprimentos de onda das radiações Fonte: Grupo de Ensino de Física da Universidade Federal de Santa Maria. 21 Algumas dessas ondas possuem energia suficiente para quebrar uma ligação de uma molécula ou átomo, liberando um elétron e formando um íon. A estas radiações dá-se o nome de RADIAÇÕES IONIZANTES e são exemplos: os Raios X e os Raios Gama. Estas radiações podem afetar diretamente o organismo humano produzindo queimaduras e diversos tipos de câncer. Outras ondas, no entanto, não possuem energia suficiente para formar íons, mas continuam apresentando um risco à saúde do trabalhador. As RADIAÇÕES NÃO- IONIZANTES podem causar no organismo humano perturbações visuais (conjuntivite, cataratas, etc.), queimaduras de pele, envelhecimento precoce e câncer. Exemplos de radiações não-ionizantes são as radiações infravermelha e ultravioleta. 3.1.5 Pressões anormais São consideradas pressões anormais todas aquelas que não estiverem de acordo com a pressão atmosférica do local em que as atividades serão realizadas. As baixas pressões são encontradas em elevadas altitudes e podem causar problemas respiratórios e cansaço excessivo. As pressões acima de 1 atm podem ser encontradas em trabalhos submersos, tubulações de ar comprimido, caixões pneumáticos, dentre outros. Variações de pressão alteram o volume dos gases presentes no sangue, bem como sua solubilidade. Por este motivo, variações bruscas de pressão podem levar ao rompimento dos tímpanos e à liberação de nitrogênio nos tecidos e vasos sanguíneos, podendo levar inclusive à morte. 3.1.6 Umidade Trabalhos em locais alagados ou com elevado nível de umidade podem acarretar doenças do aparelho respiratório, quedas, doenças de pele, doenças circulatórias, entre outras. Para o controle da exposição do trabalhador à umidade podem ser tomadas medidas de proteção coletiva (como o estudo de modificações no processo do trabalho, colocação de estrados de madeira, ralos para escoamento) e medidas de proteção individual (como o fornecimento do EPI - luvas de borracha, botas, avental para trabalhadores em galvanoplastia, cozinha, limpeza etc). 22 3.2 Riscos químicos Segundo a NR 09, consideram-se agentes químicos: 9.1.5.2 (...) as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão. POEIRAS são pequenas partículas sólidas dispersas no ar, podendo ser ou não visíveis ao olho humano. Exemplo: trabalhos com remoção de areia, britagem, detonação de rochas, demolição, etc. FUMOS são uma mistura complexa de gases, com partículas em suspensão, produzida por condensação de vapores oriundos de uma substância sólida em combustão ou bastante aquecida. Exemplo: fumos metálicos originados do processo de soldagem. NÉVOAS são pequenas partículas de líquido dispersas no ar, oriundas da ruptura de um líquido. Exemplo: dispersão de agrotóxicos na forma de névoa em plantações, utilização de jatos spray para pintura. NEBLINAS são pequenas partículas de líquido dispersas no ar, oriundas da condensação de vapores de substâncias que em condições normais de temperatura e pressão se encontram no estado líquido. GASES são substâncias cujo estado, em condições normais de temperatura e pressão, é gasoso, ou sólidos e líquidos que se transformam em gás quando aquecidos. Exemplo: gás de cozinha, gases inertes utilizados em soldagem, etc. VAPORES são a fase gasosa de um material líquido em condições normais de temperatura e pressão. Exemplos: vapores de água utilizados nos processos industriais. 3.2.1 Avaliação de riscos químicos A avaliação do ar permite que se conheçam as concentrações dos agentes químicos presentes no ambiente. O Serviço Social da Indústria (SESI) indica que esta avaliação deve ser feita por amostragem e as coletas podem ser de curta duração (“instantâneas”) ou continuamente extraídas do ambiente. 23 Para realizar a coleta são utilizados equipamentos específicos para cada tipo de agente disperso. Os aparelhos de leitura direta fornecem, imediatamente, no próprio local de trabalho que está sendo analisado, a concentração do contaminante. Segundo o SESI: Os mais utilizados e conhecidos são os indicadores colorimétricos, ou tubos detetores colorimétricos. São dispositivos de leitura direta que utilizam métodos químicos e fornecem a concentração existente no ambiente pela alteração da cor, ocorrida devido a uma reação química. Consistem fundamentalmente em se passar uma quantidade conhecida de ar por meio de um reagente, o qual sofrerá alteração de cor, caso a substância contaminante esteja presente. A concentração do contaminante é então determinada: • pela comparação da intensidade e extensão da alteração de cor resultante, com escalas padronizadas, que podem estar tanto gravadas no próprio tubo como impressas na carta informativa que o acompanha; • por comparação da cor obtida com cores-padrão. Para se fazer passar o ar por meio do reagente são utilizadas bombas aspiradoras, lembrando que, quando se utiliza uma bomba aspiradora de determinado fabricante, deve-se utilizar os tubos indicadores da mesma marca, caso contrário poderemos obter concentrações com erros.A Figura 2 apresenta uma medição por amostragem com tubo detector colorimétrico. Figura 2 – Avaliação ambiental Fonte: SESI, 2007 24 Para medir a concentração de vapores orgânicos (benzeno, tolueno, xileno, tricloroetileno, acetona, etc.) é utilizada a coleta do ar em tubos de carvão ativado para posterior análise em laboratório. 3.3 Riscos biológicos Segundo a NR 32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde): 32.2.1 Para fins de aplicação desta NR, considera-se Risco Biológico a probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos. 32.2.1.1 Consideram-se Agentes Biológicos os microrganismos, geneticamente modificados ou não; as culturas de células; os parasitas; as toxinas e os príons. A exposição a estes riscos pode se dar de duas formas: Exposição com INTENÇÃO DELIBERADA ocorre quando o trabalhador se submete ao agente biológico com consciência de sua periculosidade. Geralmente profissionais da área laboratorial ou que trabalham com pesquisa de determinados agentes estão sujeitos a uma exposição com intenção deliberada. A vantagem da exposição deliberada é que o agente é conhecido, bem como a forma de contaminação e seus possíveis efeitos no organismo, o que facilita a elaboração de um plano de segurança mais eficaz, focado no agente trabalhado. Exposição com INTENÇÃO NÃO DELIBERADA ocorre quando o meio de trabalho está susceptível à presença de agentes não conhecidos. Profissões como médico plantonista, enfermeiro, agentes sanitários, catadores de lixo, dentre outros, são executadas em ambientes sem muito controle, de forma que os agentes biológicos são os mais diversos e possíveis. 3.3.1 Classificação dos ricos biológicos Quando se trabalha com riscos biológicos é preciso ter sempre em mente que estes agentes possuem potencial para infectar não somente o trabalhador, mas qualquer pessoa que venha a ter contato com o indivíduo infectado. Desta forma, o risco de propagação à coletividade, bem como os tratamentos conhecidos para cada tipo de agente biológico devem ser levados em consideração na definição do risco de uma instalação. A Tabela 3 apresenta as classes de risco biológico. 25 Tabela 3 – Resumo das características de cada classe de risco Fonte: Google Imagens. Lembrando que quando há mais de um agente de risco no ambiente, deverão ser adotadas medidas preventivas para a classe de risco mais elevada. Exemplo: um laboratório de pesquisa que cultiva bactérias de classe de risco 1 e vírus de classe de risco 3 deve adequar suas instalações para trabalhar com a classe de risco 3. 3.4 Riscos ergonômicos A NR 17, publicada primeiramente em 08 de junho de 1978 discorre sobre a Ergonomia, indicando também que os riscos ergonômicos devem estar presentes no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais da NR 09. Sobre as condições do ambiente de trabalho que causam problemas ergonômicos, a NR 17 afirma que: 17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. 17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora. Ergonomia é uma palavra que vem do grego “ergon” que significa “trabalho” e “nomos” que significa “leis ou normas”. Assim, ergonomia é um conjunto de medidas ou normas aplicadas ao espaço de trabalho visando melhorar as condições do trabalhador. Os principais riscos ergonômicos são: – Esforço físico intenso. – Levantamento e transporte manual de peso. 26 – Controle rígido de produtividade. – Imposição de ritmos excessivos. – Trabalho em turno noturno. – Jornadas de trabalho prolongadas. – Monotonia e repetitividade. – Outras situações causadoras de stress físico e/ou psíquico. 3.5 Riscos de acidentes (mecânicos) Segundo Dreher, 2004: São chamadas de agentes mecânicos as condições de insegurança que podem existir nos locais de trabalho, capazes de provocar lesões a integridade física do trabalhador. Em algumas literaturas são encontrados também como “riscos de acidentes”. Arranjo físico inadequado, máquinas e equipamentos sem proteção, iluminação inadequada, probabilidade de incêndio ou explosão, armazenamento inadequado, animais peçonhentos e outras situações de risco que poderão contribuir para ocorrência de acidentes. ARRANJO FÍSICO INADEQUADO: Má distribuição de maquinários, equipamentos e mobiliário no ambiente de trabalho. Exemplos: prédios com área insuficiente, localização imprópria de máquinas e equipamentos, má arrumação e limpeza, sinalização incorreta ou inexistente, pisos fracos e/ou irregulares, etc. MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS SEM PROTEÇÃO: Partes expostas de equipamentos, principalmente as rotativas e as de condução de eletricidade podem ocasionar sérios problemas ao trabalhador. Exemplos: trabalho com torno mecânico sem proteção adequada, fiação de motores elétricos expostos, correias e elementos de transmissão sem grade de proteção, etc. ILUMINAÇÃO INADEQUADA: Caso a quantidade de luz no ambiente seja muito baixa, a locomoção é prejudicada podendo causar acidentes, além de obrigar o trabalhador a forçar sua visão para realizar suas atividades. Já uma iluminação em demasia também é prejudicial, podendo causar dores de cabeça e cansaço físico, além de stress. PROBABILIDADE DE INCÊNDIO OU EXPLOSÃO proveniente do armazenamento inadequado de inflamáveis e/ou gases, manipulação e transporte inadequado de produtos inflamáveis e perigosos, sobrecarga em rede elétrica, falta de sinalização e equipamento de combate, etc. 27 ANIMAIS PEÇONHENTOS são todos os animais que produzem veneno e possuem algum mecanismo que lhes permite inocular o veneno nas vítimas. São animais peçonhentos comumente encontrados em território brasileiro: serpentes, escorpiões, aranhas, abelhas, formigas, vespas, águas-vivas, caravelas e algumas espécies de peixes, dentre outros. 3.6 Mapa de riscos A NR 05, que trata da instituição e da regulamentação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) prevê como uma das atribuições da CIPA a elaboração do Mapa de Riscos. Este mapa é uma representação gráfica dos riscos ambientais identificados no ambiente de trabalho e para fins de diferenciação e fácil identificação do público, durante sua construção são atribuídas cores para cada grupo de riscos. O quadro da Figura 3 apresenta os grupos, associados a suas cores e a exemplos de riscos pertencentes a cada grupo. Figura 3 – Quadro de riscos ambientais Fonte: Google Imagens. Na simbologia do mapa são utilizados círculos de tamanhos diferentes para indicar a gravidade do risco, conforme apresentado na Figura 4: 28 Figura 4 – Simbologia para diferentes graus de risco Fonte: Produzido pelo autor. Dentro de cada círculo deve estar inserido o número de trabalhadores locado naquele ambiente. Quando houverem mais de um risco no mesmo ambiente, estes podem ser agrupados no mesmo círculo, desde que possuam o mesmo grau de risco. A Figura 5 apresenta um exemplo de mapa de risco de um centro obstétrico. Figura 5 – Exemplo de mapa de risco Fonte: Goolge Imagens. 29 4 MEDIDAS DE PROTEÇÃOUma vez identificados os riscos e elaborado um mapa especificando sua localização e intensidade, deve-se tomar medidas de proteção contra estes riscos. A NR 12 indica que: 12.4 São consideradas medidas de proteção, a ser adotadas nessa ordem de prioridade: a) medidas de proteção coletiva; b) medidas administrativas ou de organização do trabalho; e c) medidas de proteção individual. MEDIDAS DE PROTEÇÃO COLETIVA. Segundo Dreher, 2004: Como proteção coletiva entendemos as medidas de ordem geral executadas no ambiente de trabalho, nas máquinas e nos equipamentos, assim como medidas orientativas quanto ao comportamento dos trabalhadores para evitar atos inseguros e medidas preventivas de Medicina do trabalho. São exemplos os sistema de ventilação, as proteção de máquinas, os andaimes, os abafadores, enclausuradores de ruídos, de vibrações, as proteções contra quedas e contra incêndio, normas e regulamentos, colocar borracha entre peças de metal que se chocam, sinalizações, substituição de produtos químicos por outras substâncias menos tóxicas, etc. (...) A grande vantagem da proteção coletiva é que de uma maneira geral, sua eficiência independe do comportamento humano. O acidente só poderá ocorrer por falha eventual na proteção. MEDIDAS ADMNISTRATIVAS ou de organização do trabalho são diretrizes e normas internas da empresa que visam diminuir o fator humano no acidente de trabalho. São exemplos de medidas administrativas segundo o Ministério da Saúde: (...) A mecanização de tarefas de modo a tornar o trabalho físico mais leve e confortável; o incremento da participação dos trabalhadores, nos processos de decisão, garantindo-lhes a autonomia para organizar o trabalho, diminuindo as pressões de tempo e de produtividade, entre outras. MEDIDAS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL são previstas na NR 06, que discorre sobre os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Segundo a NR 06: 30 6.1 Para os fins de aplicação desta Norma Regulamentadora - NR, considera-se Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. A norma também estabelece diretrizes para a utilização dos EPIs, atribuindo função de fornecimento e fiscalização do uso adequado do equipamento ao empregador. Para ser considerado um EPI, o equipamento deve ser submetido a testes de eficácia e, se aprovado, receber o Certificado de Aprovação (CA), um documento registrado pelo Ministério do Trabalho e Emprego que garante sua qualidade e funcionalidade. São exemplos de EPIs: Luvas, máscara para gás, botas, óculos de proteção, dentre outros, como mostrado na Figura 6. Figura 6 – Equipamentos de Proteção Individual Fonte: Google Imagens. 31 5 LEGISLAÇÃO O Ministério do Trabalho e Emprego, através da PORTARIA Nº 3.214, DE 08 DE JUNHO DE 1978, aprova as Normas Regulamentadoras, de acordo com o Capítulo V da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Estas normas são de observância obrigatória pelas empresas públicas e privadas e pelos órgãos públicos que possuam empregados regidos pela CLT. Foram criadas inicialmente 28 NRs, mas conforme a necessidade surgiu, novas normas foram sendo elaboradas, até a mais recente, criada no ano de 2013, totalizando 36 Normas Regulamentadoras. 5.1 NR 1 – Disposições gerais Institui a Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho (SSST) e a Delegacia Regional do Trabalho (DRT), além de definir as atribuições do empregador e do empregado. 1.7 Cabe ao empregador: a) cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho; b) elaborar ordens de serviço sobre segurança e saúde no trabalho, dando ciência aos empregados por comunicados, cartazes ou meios eletrônicos. c) informar aos trabalhadores: I. os riscos profissionais que possam originar-se nos locais de trabalho; II. os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela empresa; III. os resultados dos exames médicos e de exames complementares de diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores forem submetidos; IV. os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de trabalho. d) permitir que representantes dos trabalhadores acompanhem a fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho; e) determinar procedimentos que devem ser adotados em caso de acidente ou doença relacionada ao trabalho. 1.8 Cabe ao empregado: 32 a) cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e saúde do trabalho, inclusive as ordens de serviço expedidas pelo empregador; b) usar o EPI fornecido pelo empregador; c) submeter-se aos exames médicos previstos nas Normas Regulamentadoras - NR; d) colaborar com a empresa na aplicação das Normas Regulamentadoras – NR. (Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, 1978) 5.2 NR 2 – Inspeção prévia Estabelece que “Todo estabelecimento novo, antes de iniciar suas atividades, deverá solicitar aprovação de suas instalações ao órgão regional do MTb” e indica a forma como deve ser feita tal solicitação. 5.3 NR 3 – Embargo ou Interdição Segundo texto transcrito da NR 03: 3.1 Embargo e interdição são medidas de urgência, adotadas a partir da constatação de situação de trabalho que caracterize risco grave e iminente ao trabalhador. (...) 3.2 A interdição implica a paralisação total ou parcial do estabelecimento, setor de serviço, máquina ou equipamento. 3.3 O embargo implica a paralisação total ou parcial da obra. (...) 3.4 Durante a vigência da interdição ou do embargo, podem ser desenvolvidas atividades necessárias à correção da situação de grave e iminente risco, desde que adotadas medidas de proteção adequadas dos trabalhadores envolvidos. 3.5 Durante a paralisação decorrente da imposição de interdição ou embargo, os empregados devem receber os salários como se estivessem em efetivo exercício. (Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, 1978) 5.4 NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança do Trabalho Estabelece a criação dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), bem como suas atribuições e indica diretrizes para seu correto dimensionamento: 33 4.1 As empresas privadas e públicas, os órgãos públicos da administração direta e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, manterão, obrigatoriamente, Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, com a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. O quadro retirado do anexo da NR 04 e apresentado na Tabela 4, auxilia no dimensionamento do SESMT. Tabela 4 – Dimensionamento do SESMT Fonte: NR 04, Ministério do Trabalho e Emprego. 5.5 NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes Estabelece parâmetros para a constituição da CIPA, definindo que: 5.2 Devem constituir CIPA, por estabelecimento,e mantê-la em regular funcionamento as empresas privadas, públicas, sociedades de economia mista, órgãos da administração direta e indireta, instituições beneficentes, associações recreativas, cooperativas, bem como outras instituições que admitam trabalhadores como empregados. (...) 5.5 As empresas instaladas em centro comercial ou industrial estabelecerão, através de membros de CIPA ou designados, mecanismos de integração com objetivo de promover o desenvolvimento de ações de prevenção de acidentes e 34 doenças decorrentes do ambiente e instalações de uso coletivo, podendo contar com a participação da administração do mesmo. O dimensionamento da CIPA é feito utilizando o Quadro I da NR 05, apresentado na Tabela 5. Os grupos são definidos de acordo com a atividade da empresa, sendo que a listagem das atividades associadas a seu respectivo grupo consta no Quadro II da NR 05 para consulta. Tabela 5 – Dimensionamento da CIPA Fonte: NR 05, Ministério do Trabalho e Emprego. Quanto à organização: 5.6 A CIPA será composta de representantes do empregador e dos empregados, de acordo com o dimensionamento previsto no Quadro I desta NR, ressalvadas as alterações disciplinadas em atos normativos para setores econômicos específicos. 5.6.1 Os representantes dos empregadores, titulares e suplentes, serão por eles designados. 5.6.2 Os representantes dos empregados, titulares e suplentes, serão eleitos em escrutínio secreto, do qual participem, independentemente de filiação sindical, exclusivamente os empregados interessados. (...) 5.6.4 Quando o estabelecimento não se enquadrar no Quadro I, a empresa designará um responsável pelo cumprimento dos objetivos desta NR, podendo ser adotados mecanismos de participação dos empregados, através de negociação coletiva. 35 5.7 O mandato dos membros eleitos da CIPA terá a duração de um ano, permitida uma reeleição. 5.8 É vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa do empregado eleito para cargo de direção de Comissões Internas de Prevenção de Acidentes desde o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato. (...) 5.15 A CIPA não poderá ter seu número de representantes reduzido, bem como não poderá ser desativada pelo empregador, antes do término do mandato de seus membros, ainda que haja redução do número de empregados da empresa, exceto no caso de encerramento das atividades do estabelecimento. Quanto às atribuições, estão previstas na norma, entre outras: a) identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de riscos, com a participação do maior número de trabalhadores, com assessoria do SESMT, onde houver; b) elaborar plano de trabalho que possibilite a ação preventiva na solução de problemas de segurança e saúde no trabalho; c) participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação nos locais de trabalho; (...) f) divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no trabalho; h) requerer ao SESMT, quando houver, ou ao empregador, a paralisação de máquina ou setor onde considere haver risco grave e iminente à segurança e saúde dos trabalhadores; i) colaborar no desenvolvimento e implementação do PCMSO e PPRA e de outros programas relacionados à segurança e saúde no trabalho; n) requisitar à empresa as cópias das CAT emitidas; 5.6 NR 6 – Equipamento de Proteção Indivudal – EPI Estabelece o conceito de EPI e estipula a utilização somente de equipamentos que possuam certificado de aprovação (CA): 6.1 Para os fins de aplicação desta Norma Regulamentadora - NR, considera-se Equipamento de Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. 36 6.2 O equipamento de proteção individual, de fabricação nacional ou importado, só poderá ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação - CA, expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego. Quanto às atribuições, a NR 06 afirma que: 6.3 A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento, nas seguintes circunstâncias: a) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho; b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e, c) para atender a situações de emergência. 6.6.1 Cabe ao empregador quanto ao EPI: a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade; b) exigir seu uso; c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho; d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação; e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado; f) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica; e, g) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada. h) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser adotados livros, fichas ou sistema eletrônico. 6.7.1 Cabe ao empregado quanto ao EPI: a) usar, utilizando-o apenas para a finalidade a que se destina; b) responsabilizar-se pela guarda e conservação; c) comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso; e, d) cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado. O Anexo I da norma traz uma lista com os equipamentos de proteção individual que devem ser utilizados em cada atividade, agrupados de acordo com a parte do corpo que irão proteger em: A - EPI PARA PROTEÇÃO DA CABEÇA (capacete, capuz ou balaclava) 37 B - EPI PARA PROTEÇÃO DOS OLHOS E FACE (óculos, protetor facial, máscara de solda) C - EPI PARA PROTEÇÃO AUDITIVA (protetor auditivo) D - EPI PARA PROTEÇÃO RESPIRATÓRIA (respiradores) E - EPI PARA PROTEÇÃO DO TRONCO (vestimentas) F - EPI PARA PROTEÇÃO DOS MEMBROS SUPERIORES (luva, creme protetor, manga, braçadeira, dedeira) G - EPI PARA PROTEÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES (calçado, meia, perneira, calça) H - EPI PARA PROTEÇÃO DO CORPO INTEIRO (macacão, vestimenta de corpo inteiro) I - EPI PARA PROTEÇÃO CONTRA QUEDAS COM DIFERENÇA DE NÍVEL (cinturão de segurança com talabarte ou trava-queda) 5.7 NR 7 – Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional - PCMSO 7.1.1 Esta Norma Regulamentadora - NR estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO, com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores. (...) 7.3.1 Compete ao empregador: a) garantir a elaboração e efetiva implementação do PCMSO, bem como zelar pela sua eficácia; b) custear sem ônus para o empregado todos os procedimentos relacionados ao PCMSO; c) indicar, dentre os médicos dos Serviços Especializados