Prévia do material em texto
Carla Pinto Abril, 2018 Hereditariedade extranuclear Hereditariedade extranuclear – A mitocôndria v Organelos celulares semi-autónomos v Presume-se que possam ter origem em bactérias que invadiram as células nucleadas v Organelo celular responsável pela respiração aeróbica celular: contêm a cadeia de transporte de electrões que transfere eletrões para o oxigénio molecular (fosforilação oxidativa) v A mitocôndria está presente em grande quantidade nas células do sistema nervoso, do coração, ou em células que apresentam maior gasto de energia v O seu número varia entre as células, sendo proporcional à atividade metabólica de cada uma, oscila entre cem a mil ou até dez mil por célula. Carla Pinto v Estão presentes no citoplasma das células eucariotas. Geralmente, são estruturas cilíndricas com aproximadamente 0,5 µm de diâmetro e vários µm de comprimento v Apresenta duas membranas fosfolipídicas, uma externa lisa e outra interna que se dobra formando vilosidades - cristas mitocondriais v A região limitada pela membrana interna é conhecida como matriz mitocondrial, onde existem proteínas, ribossomas e DNA mitocondrial, de forma circular Carla Pinto Hereditariedade extranuclear – A mitocôndria A mitocôndria e a divisão celular Antes que a célula se divida, todos os seus componentes são duplicados, incluindo as mitocôndrias. A reprodução das mitocôndrias ocorre por fissão binária, onde acontece um aumento de tamanho do organelo pré- existente para a fissão Carla Pinto DNA mitocondrial DNA mitocondrial (cromossoma mitocondrial) Uma mitocôndria contém várias moléculas de DNA (2-10) Célula Mitocôndria DNA mitocondrial Mitocôndria Carla Pinto Genoma mitocondrial - características O genoma mitocondrial tem 16 569 bp: • 44% GC • Dupla cadeia circular • As duas cadeias são muito diferentes na sua sequência • Cadeia pesada = Heavy Chain (H): Rica em Guaninas • Cadeia leve = Light Chain (L): Rica em Citosinas Codifica apenas 37 genes: • 2 = rRNAs (H) • 22 = tRNAs (14 H, 8 L) • 13 = polipéptidos, todos componentes da cadeia respiratória/ fosforilação oxidativa (12 H, 1 L) Carla Pinto v O genoma mitocondrial é polipóide § Cada célula pode conter 100 mitocôndrias com várias cópias do mtDNA § Em condições normais um indivíduo tem apenas um tipo de molécula de mtDNA: HOMOPLASMIA § Indivíduos com doenças podem apresentar misturas de mtDNA normal e mutado: HETEROPLASMIA § O fenótipo clínico entre os indivíduos da mesma família pode variar devido à heteroplasmia • Existe um nível mínimo aceite pela célula (não aparece doença) • Uma mãe heteroplásmica pode transmitir quantidades diferentes de mtDNA mutado à sua descêndencia – teoria do “gargalo de garrafa” Carla Pinto Genoma mitocondrial - características Carla Pinto Genoma mitocondrial - Teoria do “gargalo de garrafa” Carla Pinto v O genoma mitocondrial tem altas taxas de mutação (~10x nDNA) § Não possuem sistemas de reparação § Não possuem histonas § O genoma está fisicamente associado à membrana mitocondrial interna, logo está em grande proximidade com radicais livres de oxigénio (mutagénicos) § Como não tem intrões, qualquer alteração irá provavelmente afetar as regiões codificantes v As mutações podem ser esporádicas ou herdadas via materna v As mutações podem ser detetadas para confirmar uma doença mitocondrial § A natureza da amostra é importante (preferem-se células musculares a sangue periférico) Carla Pinto Genoma mitocondrial - Mutações HEREDITARIEDADE DO DNA MITOCONDRIAL v os genes do DNA mitocondrial são herdados por via materna e apresentam uma taxa elevada de mutação. v os genes do DNA mitocondrial não sofrem crossing-over, reparação e não têm intrões nem histonas. v situações de homoplasmia com DNA mitocondrial mutante podem resultar em morte durante o desenvolvimento embrionário v muitas doenças relacionadas com o DNA mitocondrial surgem de situações de heteroplasmia e por isso manifestam-se na idade adulta Carla Pinto HEREDITARIEDADE DO DNA MITOCONDRIAL v os níveis de heteroplasmia de uma mutação podem ser alterados pelo efeito do “gargalo de garrafa” (descendência pode ter maior ou menor quantidade de mtDNA mutado, podendo ter um fenótipo mais ou menos agressivo que a sua progenitora) v mutações no DNA mitocondrial causam distúrbios na fisiologia dos tecidos que necessitam muita energia (SNC, coração, músculo esquelético, rins, fígado...) Carla Pinto HEREDITARIEDADE MITOCONDRIAL- doenças mitocondriais Exemplos v Mutações missense em genes mtDNA codificadores de proteínas: Ø Neuropatia óptica hereditária de Leber § Perda de visão por morte do nervo ótico (a partir dos 30 anos) § Padrão de herança mitocondrial relativamente uniforme v Mutações missense em genes mtDNA codificadores de tRNA: Ø Síndrome de Epilepsia Mioclónica com Fibras Vermelhas Rotas (MERRF) § Epilepsia, demência, ataxia (movimentos musculares descoordenados) e miopatia § Tem uma expressão muito variável (heteroplásmica) v Duplicações e deleções de genes do mtDNA: Ø Doença de Kearns-Sayre § Fraqueza muscular, dano cerebelar e falência cardíaca Carla Pinto HEREDITARIEDADE MITOCONDRIAL Carla Pinto I II III IV v Heteroplasmia: padrão de herança heterogéneo: § Síndrome de Epilepsia Mioclónica com Fibras Vermelhas Rotas (MERRF) § Encefalopatia mitocondrial e episódios do tipo derrame (MELAS) Carla Pinto v Homoplasmia: padrão de herança relativamente uniforme: § Neuropatia óptica hereditária de Leber Pedigree de transmissão de uma doença mitocondrial associada a heteroplasmia: • Ausência de transmissão paterna. • Transmissão materna para filhas e filhos • A presença de heteroplasmia leva ao aparecimento de mulheres não afectadas que transmitem a doença. HEREDITARIEDADE MITOCONDRIAL Carla Pinto Carla Pinto Hereditariedade Poligénica e multifatorial Carla Pinto Abril, 2018 v Certas características e/ou doenças são causadas por um efeito combinado de múltiplos genes – poligénica. v Quando os fatores ambientais também influenciam a expressividade dessa característaca/doença – multifatorial. v Muitas características quantitativas (que se podem medir de uma forma numérica, como a pressão sanguínea, altura, peso..., são multifatorais. v Como são causadas por efeitos cumulativos de vários genes e interação como o meio ambiente, têm tendência a seguir uma distribuição normal (em forma de sino) na população. Hereditariedade Poligénica e multifatorial Carla Pinto Exemplo: altura Se fosse determinado por apenas um locus Se fosse determinado por apenas dois loci Vários genes e interação com o meio ambiente Carla Pinto Carla Pinto Exemplo: altura Característica multifatorial com distribuição normal na população Carla Pinto Exemplo: cor da pele Modelo do Limiar de expressão v Muitas doenças multifatoriais não apresentam uma distribuição normal do fenótipo (em forma de sino) na população. Em vez disso, ou estão presentes ou ausentes - As pessoas que estão no extremo baixo da distribuição têm menor probabilidade de desenvolver a doença - Os que estão no outro extremo têm uma maior probabilidade de desenvolver a doença. - Para estas doenças também existe a expressividade de sim ou não. - Para tal existe um limite que tem que serultrapassado para que a doença se manifeste. Abaixo do limite não existe doença, acima existe. Carla Pinto Padrões de transmissão e riscos de recorrência v Os riscos podem ser facilmente calculados para doenças monogénicas: - 50% para doenças autossómicas dominantes com penetrância completa - 25% para doenças autossómicas recessivas... v Esse cálculo para doenças multifatorais é muito mais complexo, devido: - O número de genes envolvido na maioria dos casos não é conhecido - A constituição alélica precisa dos pais não é conhecida - A contribuição dos factores ambientais pode ser muito variável. v Para a maioria das doenças multifatorais têm riscos empíricos estimados (baseados em dados de observação) Carla Pinto Estimar riscos de doenças multifatoriais Exemplo: Nos EUA defeitos nos tubos neurais foram observados em 2 a 3% dos irmãos de probandos com esta condição. Assim, pais que têm um filho com esta condição têm 2-3% de probabilidades de voltar a ter um filho com a mesma característica. v Ao contrário das doenças monogénicas, o risco de doenças multifatoriais pode mudar substancialmente entre populações. v Muitas vezes é difícil distinguir doenças poligénicas ou multifatoriais de doenças monogénicas que apresentam variabilidade de penetrância e/ou expressão. v A recolha do maior número de dados, incluindo história familiar é fundamental para essa distinção Carla Pinto Doença multifatorial - O risco de recorrência é superior se existir mais do que um indivíduo afetado na família - Se a expressão da doença no probando é severa, o risco de recorrência aumenta - O risco aumenta se o probando é do sexo com menor risco - O risco diminui drasticamente para indivíduos da família mais afastados - O risco depende da prevalência da doença numa dada população Carla Pinto Genética vs Ambiente - Membros da mesma família têm em comum genes e factores ambientais. - Muitos membros da mesma família têm características semelhantes, como pressão sanguínea, peso... O que é o reflexo da partilha de genes e fatores ambientais. - Durante anos se tentou descobrir a importância destes dois fatores, e sabe-se que a sua influência não é mutuamente exclusiva. Algumas características são influenciadas apenas por genes, outras apenas pelo meio ambiente, mas a maioria é influenciada por ambos. - Doenças em que a hereditariedade tem pouca influência (Ca do pulmão), podem ser prevenidas por mudanças de estilo de vida (evitar o tabaco). Em doenças em que a componente hereditária é grande (Ca mama), a avaliação da história familiar deve ser enfatizada. - Como se estima essas contribuições? Carla Pinto Estudos de gémeos Gémeos Monozigóticos (GM) – tem origem quando um embrião se separa em dois embriões geneticamente idênticos. São “clones naturais”. A sua aparência é extremamente similar. Qualquer diferença entre eles deverá ser ambiental. Gémeos Dizigóticos (GD) – Resultam de uma ovulação dupla seguida de fertilização de cada óvulo por dois espermatozoides distintos. Não são mais parecidos entre si do que outro irmão. A influência do ambiente é semelhante aos GM, mas o seu genótipo é diferente. O Estudo de gémeos é muito usado para inferir se uma dada característica é genética ou não analisando as concordâncias entre os dois grupos. Assim características determinadas apenas pelo genótipo deve ser sempre concordante entre GM e poderá não ser em GD Carla Pinto Carla Pinto Estudos de gémeos Estudos de adoção • Estudo de características em crianças adotadas também é usado para avaliar riscos em doenças multifatoriais. • Crianças de pais com uma determinada doença que são adotadas por pais sem a doença são seguidas para avaliar se a desenvolvem. • Muitas vezes estas crianças desenvolvem essas doenças com uma maior prevalência do que crianças da população em geral, sendo indicativo que essa doença poderá ter uma grande componente genética, pois as crianças não estão sujeitas ao mesmos fatores ambientais que os seus progenitores naturais. Carla Pinto Estudos de adoção v Deve-se ter algumas precauções: • O ambiente pre-natal pode ter efeitos a longo prazo • Algumas crianças são adotadas depois de terem já alguma idade, e entretanto estiveram sob o efeito dos fatores ambientais dos seus progenitores naturais • As agências de adoção muitas vezes tentam encontrar famílias de acolhimento semelhantes às naturais em termos de atributos e muitas vezes estatuto socio-económico. Carla Pinto Doenças comuns multifatoriais v Más formações congénitas - Aproximadamente 2% das crianças nascem com más formações congénitas, a maioria das quais é considerada de etiologia multifactorial - Muitas são relativamente fáceis de resolver (lábio leporino, fenda palatina, estenose pilórica), outras (defeitos no tubo neural) têm consequências gravosas - Para muitas destas doenças já se identificaram genes responsáveis pelo fenótipo, mas a maioria ainda está por se descobrir - O mesmo se passa para os fatores ambientais: Ex. talidomida (sedativo usado nos 1960s), ácido retinóico. Carla Pinto Doenças comuns multifatoriais v Doenças multifatorias na população adulta - Até à data muito pouco se sabe sobre os genes responsáveis pela maioria das doenças comuns nos adultos. No entanto com a evolução técnica dos métodos de análise isto está a mudar... - Exemplos: • Doenças cardiovasculares • Hipertensão • Cancro • Diabetes • Obesidade • Doença de Alzheimer • Alcoolismo • Doenças psiquiátricas Carla Pinto Carla Pinto Carla Pinto Carla Pinto