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DESGASTES AO MEIO AMBIENTE ATRAVÉS DOS TEMPOS EM TRAMANDAÍ, IMBÉ E CAPÃO DA CANOA – RIO GRANDE DO SUL Antônio Carlos Rodrigues Ferreira, Frederico Oikawa, Jenifer de Moraes Bernardina, Mauro Henrique Pereira Hespanhol Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI História (HID0536) – Seminário da Prática II 20/11/2017 RESUMO O meio ambiente é derivado do latim ambiens/ambientis, com o sentido de envolver algo ou alguma, sendo essa alguma coisa todos nós. Algo de suma importância para o desenvolvimento de todas as espécies: Seres vivos, não- vivos, matérias mortas, fauna, flora, tudo que nos rodeia, que nos permite respirar e ter uma vida plena; nos proporciona viver e sobreviver. O estudo sobre os desgastes ambientais a partir das cidades de Tramandaí, Imbé e Capão da Canoa proporciona uma visão clara de como tudo começou nos municípios desde sua criação, de como evoluiu e o que contribuiu para o crescimento, tendo como ferramenta o contexto histórico da região. O estudo se mostra de suma importância, visto que é mais do que urgente cuidarmos de nosso lar e mostrarmos as novas gerações como se pode fazer isso, tendo que lidar com as raízes humanas de ser guiado pelo egoísmo. INTRODUÇÃO Meio ambiente é um assunto em alta no momento. Principalmente pela preocupação em sustentabilidade e pelas energias não-renováveis estarem em risco de findar, os motivos de pesquisas estão voltados para essa pauta. No litoral norte do Rio Grande do Sul, mais precisamente Capão da Canoa, Imbé e Tramandaí, vemos uma grande preocupação a partir disso, principalmente por tratar-se de área de planície costeira, com o oceano, rio, dunas com vegetação e fauna nativos e alguns até mesmo com risco de extinção. Em vista disso, esse estudo vem com a intenção de explicar alguns acontecimentos que vêm marcando a cidade, sua estrutura e forma de utilização da natureza. Sabemos que existem leis que rodeiam a região, e por isso é interessante estar a par para que possamos auxiliar o bom funcionamento das leis já implantadas. Aborda como a natureza serão tratados, em alguns momentos de forma nostálgica, para que o leitor entenda a profundidade e importância do assunto. 1. CONCEITO DE MEIO AMBIENTE, RECURSOS NATURAIS E SUSTENTABILIDADE Por meio ambiente se entende o ambiente natural e o artificial, isto é, o ambiente físico e biológico originais e que foi alterado, destruído e construído pelos humanos, como áreas urbanas, industriais e rurais. Esses elementos condicionam existência dos seres vivos, 2 podendo-se dizer, portanto, que o meio ambiente não é apenas o espaço onde seres vivos existem ou podem existir, mas a própria condição de existência de vida na Terra. Os principais problemas ambientais são ocasionados pelo uso de recursos ambientais para produção de bens e serviços, despejos de materiais e energia que não são aproveitados no meio ambiente. Logo, grande parte dos problemas ambientais são decorrentes da ação do homem na natureza e têm como marco histórico a revolução industrial, onde a produção em larga escala possibilitou uma utilização desenfreada dos recursos naturais. Como consequência, a maior parte dos problemas ambientais que são originados pelas organizações têm relação com os materiais industriais que dão suporte às suas necessidades. Basicamente os recursos naturais podem ser classificados em três tipos: - Renováveis: não se esgotam e podem ser constantemente utilizados pelo homens, tendo como exemplo a energia solar e eólica; - Potencialmente renováveis: existe o risco de esgotamento deste tipo de recurso, alterando-se de acordo com o uso, tendo como exemplo flora, solo, água, fauna, ar, e afins. - Não renováveis: levam muito tempo para se renovarem (milhões de anos) ou nunca se renovam, como, por exemplo, o petróleo, carvão mineral e gás natural. Já a sustentabilidade pode ser considerada um fim, ou seja, onde a sociedade ou uma organização pretende chegar. Já o desenvolvimento sustentável é o meio para chegar a este fim, ou seja, como fazer para chegar á sustentabilidade é necessário que seja realizado o desenvolvimento sustentável. Segundo o Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (relatório de Brundtland) de 1983, desenvolvimento sustentável é “o processo de desenvolvimento que permite ás gerações atuais satisfazerem as suas necessidades sem colocar em perigo a satisfação das necessidades das gerações futuras” (ONU 1998 ). O desenvolvimento sustentável é um processo de modificação no qual o uso de recursos, a destinação dos investimentos a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão harmonizadas e abordam o potencial presente e futuro , visando atender as necessidades e anseios humanos. ( ONU 1998). No Brasil, o termo desenvolvimento sustentável ganhou força àpartir dos anos 80. O desenvolvimento sustentável tem como objetivo o estabelecimento de um vínculo saudável entre desenvolvimento econômico , social e preservação dos recursos naturais , ou seja, o desenvolvimento sustentável busca equilibrar o desenvolvimento econômico, meio ambiente e questões sociais. 3 2. HOMEM E A NATUREZA – UMA IMPORTANTE RELAÇÃO Conforme o dicionário Aurélio, ambiente nada mais é do que o “Conjunto das condições biológicas, físicas e químicas nas quais os seres vivos se desenvolvem”. Em vista disso e do histórico humano desde as sociedades ágrafas, é correto afirmar que é a partir deste que provemos as condições básicas de vida, tanto as que, relativamente, não necessitam de nosso real esforço, como respiratórias, e as que demandam de nosso trabalho, como alimentação. Neste tópico, é possível dizer que a relação homem-ambiente é bastante antiga e perdura até hoje com grande importância. As sociedades primárias utilizavam a caça aos animais dos seus arredores para sua alimentação e das suas famílias, como bem sabemos, e na sociedade litorânea não se difere. Desde as primeiras expedições para conhecer a chamada “Terra de Ninguém” Saint Hillaire descreve uma paisagem que demonstra a já forma de economia da cidade Tramandaiense e Imbé, que percencia a esta: Chegamos até o Rio Tramandaí, mas como fosse muito tarde, somente amanhã atravessaremos. Achamos, à margem desse rio, uma espécie de choupana, coberta de caniços, onde se amontoam umas doze pessoas, e junto a qual existe um pequeno galpão que serve de abrigo a canoa; [...] (SAINT-HILAIRE, 1987[1820], p. 17) As condições eram extremamente favoráveis ao povo da região para manter-se economicamente bem durante todo ano. Primeiramente, porque há um rio que interliga lagoa e mar, o que faz com que o produto da pesca seja abundante. E secundariamente, por os peixes terem suas épocas corretas, existia um deslocamento sazonais para a pesca na região, que formou assim o primeiro e principal deslocamento em grupo para estes fins. Tendo tanta procura e demanda, a pesca se firmou na região sendo o principal meio de lucro e comércio. Depois de estudos mais minunciosos, foi descoberto a forma de organização dos pescadores, visto que o sistema teve de mudar, pois o que antes era apenas o modo de sustento, agora era meio de lucro. Conforme relatos históricos ditos pela escritora Leda Saraiva (1986, p. 58) sobre a forma que a atividade pesqueira de dava em Tramandai/Imbé: “Patiram os grupos de pescaria, liderados por um capataz. O produto da pesca era repartido entre os membros do grupo. Como a pesca era abundante – colocadas as redes da lagoa e em forma de arrastâo cercavam o cardume, aprisionando-o inteiro -, o resultado da venda desse produto supria as necessidades decada família.” Esse momento de altíssima procura, leva a pesca não só como uma fonte de alimento, mas sim o principio economico das cidades. Os peixes eram fonte de trocas com os produtos que chegavam de caravana da capital Porto Alegre, sendo estes principalmente frutas e verduras, fazendo o capital girar e ascender a cidade. Além de manter seus homens empregados, o mercado pesqueiro traziam funções às mulheres e crianças, visto que emquanto os homens pescavam as mulheres preparavam os peixes e seus filhos aprendiam a função junto aos homens. Em outro 4 ponto, a pesca atingia a parte social e religiosa das comunidades, as festividades da igreja central motivadas pela temporada da tainha, reunia todos os pescadores da região para arrecada fundos nos leilões. Porém, é importante salientar que no real início, não há quaisquer relatos de que os pescadores viviam na região, visto que Saint-Hillaire, em suas passagens pelo local, não via nenhum grupo hospedado por lá. O que se acredita, portanto, é que os tais pescadores sazonais eram quem tiravam proveito da pescaria para a exportação. É somente a partir dos relatos da escritora Saraiva que temos conhecimento da sociedade Tramandaiense envolvida na atividade local e assim fazendo com que o espaço prosperasse. Já em Capão da Canoa, a relação do homem com o meio ambiente tem caráter efêmero, uma vez que a análise de documentos e pesquisas do território citado revelam a habitação temporária de diversos povos na região. Outrossim, que reforça a teoria, seriam as diversas evidências arqueológicas e antropológicas encontradas nos sítios arqueológicos da região, sendo estes de variadas tribos indígenas, bem como artefatos ocidentais originários dos imigrantes europeus. Podemos observar no trecho referindo-se as origens pré-históricas de Capão da Canoa: O resultado de várias ocupações humanas, de tradições e culturas variadas, fez com que o vasto território do Litoral Norte sofresse uma acumulação de cultura material utilizada por esses povos. As pesquisas asqueológicas registradas no IPHAN (Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional), somam 33 sítios arqueológicos nos municípios do litoral norte. (Neetzow; Cruz; Hoffmann, 2004, p.37) Dentre os sítios arqueológicos, devemos citar os morros de sambaquis, onde fica evidenciado a ocupação sazonal dos índios no litoral. Um pouco abaixo de sua base foram encontradas cerâmicas de origem Taquara, enquanto que mais ao topo, cerâmica de origem Tupi- Guarani. No período da chegada dos europeus no sul do país a cultura Taquara já não era mais presente. Isto demonstra que a utilização dos morros de sambaquis não era uma tradição exclusiva de uma cultura indígena, sendo esses também utilizados como ponto de referência. Posteriormente, no final do século passado, muito desse material se perdeu pela ação direta do homem, contudo, ainda hoje restam sambaquis em áreas de preservação no Litoral norte. O conceito de ocupação fixa de um território foi trazido pelo europeu. Os homens nativos da região sul do país, assim como a grande maioria dos povos de todo o território nacional, não tinham entendimento territorial como os europeus. A terra e seus recursos eram de uso comum, e suas relações sociais se estendiam até tribos mais próximas. Conceitos como comércio e transporte pouco fazia sentido para os nativos. O extremo sul do país foi um caso exclusivo na ocupação portuguesa, pois enquanto que no Note havia prosperidade na cultura do açúcar no Sul havia incertezas. A região, conhecida como “Terra de Ninguém”, foi tardiamente ocupada e controlada, 5 antes disso o território e seus recursos foram vastamente explorados po diversos grupos, como afirma Santos: Desde o descobrimento até a instalação de uma Comandância Militar, o Rio Grande foi uma “terra de ninguém”, ocupada aleatoriamente por índios, missionários, aventureiros portugueses e espanhóis e bandeirantes paulistas. Um denominador comum veio com a expedição de Silva Pais, que trouxe o ordenamento institucional da vida portuguesa: a formação dos primeiros povoados; a organização do comércio, o presídio, articulando-se assim uma vida regular para o território. (Santos, 2005. P.22) Foram com as cartas escritas pelo Mestre-de-Campo, André Ribeiro Coutinho, em sua expedição ao sul que podemos perceber a real ocupação com povoamento da região. Ele também faz uma contraposição a forma como o território era conhecido ao descrever como “Terra de Muitos” e descreve o quão amplo são seus recursos: [...] porque aqui há muita carne, muito peixe, muito pato, muita marreca, muito maçarico real, muita perdiz, muito jacum, muito laticínio, muito ananás, muita courama, muita madeira, muito barro, muito bálsamo, muita serra, muito lago e muito pântano; no verão, muita calma, muita mosca, muita motuca, muito mosquito muita polilha (traça), muita pulga; no inverno, muita chuva, muito vento, muito frio, muito trovão e, com todo o tempo, muito trabalho, muita faxina, muito excelente ar, muita boa água, muita esperança, muita saúde para servir Vossa Mercê, pode produzir muita balancia (melancia), muita abóbora, muito legume, muita hortaliça [...] (Cézar, 1981, p. 110-111). Foi a partir de 1732 que a terra passou a ser propriedade, com a concessão de sesmarias pelo Conde de Sarzedas, Governador de São Paulo na época. Estas terras eram rapidamente vendidas, e posteriormente ocupadas por famílias vindas de Laguna. Tempos depois foram os imigrantes europeus que se fixaram no Sul, começando pelos açorianos em 1752, depois por dois grupos de famílias alemãs em 1826, e ao final do século XIX os italianos. A intenção do país ao atrair imigrantes era ampliar a agricultura junto a exploração da terra. As primeiras famílias açorianas exploraram a terra com pequenos engenhos de cana-de-açúcar e pecuária, mais tarde outras culturas de plantio foram surgindo. Foi a partir do início do século XX que a região passou a ser conhecida também como área para turismo, por haver muitos arroios e mar extenso. Nos primórdios do século XX, já eram conhecidas e frequentadas as praias de Cidreira, Tramandaí e Torres. A distância dos hotéis até a praia de Tramandaí era de mais de 1km. Como a praia ficava longe, os hóspedes eram transportados em carretas cobertas com palha e fechadas, devido a areia dos cômoros ali existentes. (Santos, 2005, p.58). Esses relatos demonstram as primeiras preocupações dos moradores locais quanto a recepção de turistas. A região de Capão da Canoa não era um grande centro comercial para pesca, como acontecia às margens do rio Tramandaí, mas ainda assim existia uma forte relação comercial com a colônia e a capital, principalmente no início do século XX com o desenvolvimento econômico que acontecia no sul do país. Os acessos a região foram pouco a pouco melhorados, havendo alguns trechos lacustres e outros verroviários. As rodovias só foram construídas depois da década de 70, facilitando o acesso as cidades litorâneas. 6 3. INDÚSTRIA X MATÉRIA-PRIMA: O USO – MUITAS VEZES – DESENFREADO. Porém, é de conhecimento mútuo de que as coisas nem sempre foram belas e formosas. Assim como existiram povos que utilizavam da natureza para consumo, muitos fizeram uso desenfreado para usufruto próprio, e um primeiro indício disso foi a Primeira Grande Revolução Industrial.A revolução industrial teve inicio na Inglaterra do século XVIII, uma séria de fatores levaram a sociedade a ter essa transformação que é tida como marco histórico. O crescimento da burguesia, desenvolvimento de áreas urbanas, fezcom que a produção em massa ganhasse força, deixando para trás o modo de produção agrícola e manual , máquinas passaram a gerar produtos.Com a quantidade de produtos que passaram a ser produzidos, foi possível baratear a produção e melhorar a qualidade de vida da população. A tecnologia adquirida, primeiro com a máquina a vapor, e posteriormente por outros meios, espalhou-se pela europa e depois para os Estados Unidos e o mundo. A produção de produtos em grande quantidade, mudou a vida e trouxe um certo conforto para a população mundial, mas também depois de alguns anos, trouxeram em contra partida , problemas ao meio ambiente, pelo uso desenfreado de recursos naturais e também pela poluição produzida pelas fabricas, as quais não tinham nenhum tipo de preocupação com a utilização desses recursos. As indústrias contemporâneas tem grande parcela nos problemas apresentados , pois recursos naturais podem escassear com o passar dos anos. A busca desenfreada pelo lucro e pelo desenvolvimento de novos produtos, cada vez mais descartáveis, já é tido como uma preocupação constante , principalmente nos países desenvolvidos, onde ainda a consciência ambiental é vista como mera formalidade de acordos, mas sem nenhuma funcionalidade visível. 3.1 IMPACTOS AMBIENTAIS PROVENIENTES DA AÇÃO DO HOMEM Com o maquinário evoluido e as formas de extração de recursos de expandindo, as ganância tomou conta e a natureza ficou de lado. E isso também no litoral norte. Um exemplo disso foi o que ocorreu em 2012, onde houve um rompimento nos canos petróleo que atingiu não só o mar, mas toda a população do local. Segundo matéria do jornal Zero Hora, desde 1988, o oceano que banha a planície costeira foi atingido com mais de 10 toneladas de óleo diesel e quase 2 milhões de litros de petróleo. Segundo informações do jornal, os dados são: “Em 2014, em julho, outro vazamento de óleo foi noticiado. Foram cerca de 25 barris de petróleo, que acabaram dissipados com o movimento do mar e não chegaram a atingir a praia. Em janeiro de 2012, houve um vazamento de óleo em uma monoboia da Transpetro, em Tramandaí, que chegou a afetar a população da orla. Moradores e veranistas relataram forte cheiro de petróleo, e ondas carregadas de óleo foram avistadas na beira. O incidente derramou mais de um milhão de litros da substância. Em 2000, manchas de petróleo foram 7 vistas à beira-mar entre Tramandaí e Cidreira. Naquela oportunidade, 18 mil litros de óleo poluíram o mar. Os casos, porém, começaram muito antes dos anos 2000. Em junho de 1979, 18 toneladas de óleo diesel vazaram em Rio Grande, no Sul. As toneladas estavam em porões de um navio que naufragou no local. No ano de 1981, em julho, a contaminação por óleo atingiu a extensão de mais de 40 qulimetros ao longo do litoral. No mesmo ano, em setembro, houve vazamento de 15 toneladas de petróleo no mar em Tramandaí. O vazamento de nafta, derivado do petróleo, também assustou veranistas. Foi em janeiro de 1988, em Tramandaí. Dois anos depois, em 1990, houve vazamento de milhares de litros de diesel em Rio Grande. Ocorreu um acidente em um tanque da Refinaria Ipiranga. Em 1991, pesquisadores acharam no litoral provas de derrame de petróleo que, à época, a Petrobras negou.” (Zero Hora, 2014). Seria hipócrita da parte de qualquer pessoa esquecer a grande importância que o petróleo tem para a economia das cidades, pelo combustível, por se tratar de matéria-prima e até mesmo podemos citar os royalties que são repassados para a região citada pelo uso do local, porém é imprencindível não esquecer os impactos que isso pode causar no ambiente aquático e terreste. Um vazamento pode acontecer e não é algo difícil. Os derramamentos de petróleo em torno de plataformas são comuns, especialmente no fundo do mar, onde a perfuração pode estimular o escoamento de metais pesados com consequente poluição ambiental. Algumas entidades não governamentais e ambientalistas acreditam que a perfuração de petróleo perturba e compromete a vida marinha. Além disso, sendo a exploração feita em grande escala, os impactos podem ser ainda mais aterrorizantes, podendo levar à mudanças ecológicas resultantes de um derramamento com mudanças físicas e químicas no habitat, no crescimento fisiológico e comportamento de organismos individuais ou espécies e destruição ou modificação de comunidades inteiras de organismos através de efeitos combinados de toxicidade e sufocamento. E o que aconteceu nos mares além de não ser um fato isolado, foi um grande acidente geográfico. O último noticiado, em 2014, foi uma enorme mancha sob o mar e quanto maior a quantidade, pior fica para os animais da região. Conforme bem explicado pela doutora em engenharia ambiental Patrícia Vieira dos Santos, os animais aéreos também sofrem com a situação: “Como exemplo do efeito drástico da contaminação com óleo pode ser citado os pássaros. Basta pequena quantidade de óleo para causar a sua mortalidade, pois o óleo irá cobrir as suas penas, fazendo com que se torne impossível o seu voo. O óleo também destrói sua impermeabilização natural e isolamento, deixando-os vulneráveis à hipotermia ou superaquecimento.” (SANTOS, 2012, p. 159). IMAGEM 1 – ANIMAL DEBILITADO PELA CONTAMINAÇÃO NAS ÁGUAS DO OCEANO 8 Disponível em: https://gedaufmg.wordpress.com/2012/04/07/principio-da-separacao/ E tendo acesso aos grãos de areia da costa, as espécies da fauna e da flora que se utilizam da área terrestre sofrem às consequências. Tartarugas marinhas que vão para a área para se reproduzir e colocar seus ovos podem ter seus produtos danificados pelo óleo e, quando chegam nascer, podem ter dificuldade de se locomover ao mar pela oleosidade da travessia. IMAGEM 2 – ANIMAL IMPOSSIBILITADO DE IR ATÉ O MAR PELA OLEOSIDADE DO TRAJETO / ANIMAL BANHADO DE ÓLEO E ENVENENADO PELA AÇÃO Disponível em: https://mraclassroom.com/2013/08/20/man-made-disaster-look-learn Outro evento de degradação ambiental que devemos levar em conta e que põe em risco não somente a fauna mas todos os seres da região é as explorações das dunas. Tendo como função proteger a região de ataques marítimos em épocas de grande agitação e também preservação das espécies da fauna e flora da região que se instalam po ali, as dunas acabaram por serem vistas por profissionais da área da construção como uma forma de lucro, além de muitas vezes perderem seu espaço para grandes calçadas como desculpa de atrair turismo ao local. Não é correto negar que tanto a construção cívil quanto o turismo são importantes para o crescimento das cidades estudo, mas não se pode deixar de lado o que pode acontecer caso essse recurso natural se cesse e nós fiquemos sem sua proteção e funções primárias. Sobre a ação do homem em relação às dunas em Capão da Canoa,JARDIM (2010, p. 51): “A presença do calçadão e da estrutura do Baronda (unidade comercial) representa enormes desequilíbrios no sistema praia-duna, pois as dunas foram praticamente extintas nesse setor e, portanto, expõem as estruturas construídas e a praia à erosão marinha sem que haja estoque de sedimentos disponível para o sistema.” Uma praia sem dunas é uma região suscetível ao esbravejamento marítimo. Como citado, existem regiões que não mais possuem a proteção das dunas com a desculpa de avanço territorial. Grandes calçadas são feitas para que mais e mais veranistas possam usufruir da área de veraneio e do oceano que nos banha. Nas dunas, existem diversidades de animais e plantas, tendo como o exemplo o tuco-tuco, que é uma espécie em extinção, que contribuem para a estabilização da areia e mantém o ecossistema funcionando de maneira ordenada. Com o desaparecimento das dunas, que é 9 ocasionada a partir de açõesdesenfreadas do ser humano, as tantas espécies que residem ali não terão mais o seu habitat, os levando à extinção. Isso é algo a ser levado em conta, visto que o custo- benefício dessa forma de crescimento não parece viável à maioria dos estudiosos em meio ambiente, como o biólogo Pedro Terra Leite, que explica: “É um sistema que deve ser preservado porque garante a proteção dos ecossistemas mais adiante. Ele garante a proteção nesses eventos de enxurrada. Recentemente nós tivemos um evento de enchente, que se a duna não estivesse aqui, nós teríamos muitos problemas nas casas das pessoas que desrespeitam a natureza.” (LEITE, 2017, RBS TV). E sobre esse tipo de ação de degradação da natureza, a lei brasileira é bem clara. A RESOLUÇÃO número 341, de 25 de setembro 2003 diz a respeito do assunto: “(…) não comprometer os atributos naturais essenciais da área, notadamente a paisagem, o equilíbrio hídrico e geológico, e a biodiversidade; IV - promover benefícios socioeconômicos diretos às populações locais além de não causar impactos negativos às mesmas; V - obter anuência prévia da União ou do Município, quando couber; VI - garantir o livre acesso à praia e aos corpos d'água; VII - haver oitiva prévia das populações humanas potencialmente afetadas em Audiência Pública; e VIII - ter preferencialmente acessos (pavimentos, passeios) com revestimentos que permitam a infiltração das águas pluviais.” 4. TECNOLOGIA – CONTRA OU A FAVOR DA NATUREZA? Mas, por outro lado, é importante salientar a ação do homem em prol da natureza. Há, na região em pauta, uma grande área de energia limpa renovável: o parque eólico, que possibilita 650 mil pessoas terem energia por ano que, juntamente com a estrutura de Osório, forma o maior distribuidor de energia eólica da América Latina. IMAGEM 3 – PARQUES EÓLICOS DE OSÓRIO/TRAMANDAÍ Disponível em: http://www.opetroleo.com.br/veja-quantos-empregos-a-energia-eolica-vai-gerar-nos-proximos-tres- anos/ 10 Segundo o site do município de Osório, “o parque é composto de 75 torres com 98 metros de altura, atingindo com as pás dos aerogeradores 135 metros de altura”, possuindo para si, dessa forma, uma vasto campo. Nesse campo, é possível ver que as turbinas dividem espaço com o gado, o que faz um aproveitamento maior do local, e a poluição sonora não é algo que desagrada aos moradores da região, visto ser menor que o nível indicado às pessoas. E segundo PACCA (2013, P. 101) os benefícios não param por aí: “Entre os principais benefícios socioeconômicos trazidos pelas energias renováveis podem ser citados: a inovação tecnológica e o desenvolvimento industrial; a geração distribuída e a universalização do acesso à energia; o desenvolvimento regional e local, especialmente em zonas rurais; e a criação de empregos’’. PCN – MEIO AMBIENTE: APLICABILIDADE EM SALA DE AULA Também nesse quesito de formas de ajuda ao nosso lar, os projetos de conscientização são extremamente importantes, visto que fazem com que a camada mais jovem entenda os riscos ao planeta e a si próprio que o mau uso da natureza trás. Nas cidades citadas, existem diversos projetos nesse sentido. É como bem diz o ministério da educação na PCN (2016, P. 03) sobre o meio ambiente: “Os alunos podem ter nota 10 nas provas, mas, ainda assim, jogar lixo na rua, pescar peixes- fêmeas prontas para reproduzir, atear fogo no mato indiscriminadamente, ou realizar outro tipo de ação danosa, seja por não perceberem a extensão dessas ações ou por não se sentirem responsáveis pelo mundo em que vivem.” Na cidade de Imbé, um projeto que grande abrangência é o Projeto Patrulheiro Ambiental no município, que abrange cerca de 100 crianças do CAPEB (Centro de Atendimento Pedagógico da Educação Básica). Nele, as crianças são incentivadas a entender a importância do Rio Tramandaí, do oceano, dos animais e plantas que se manifestam ali, sendo defensores destes. E assim, após entender o que a preservação envolve, são levados à beira da praia para que ensinem à outros sobre tudo que aprenderam. Já na cidade de Tramandaí, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Erineo Rapaki tem feito hortas para entender de onde vem os alimentos que consomem, bem como a importância de ter um ambiente sempre limpo para que a plantação tenha sucesso. Lá, os alunos aprendem a construção de canteiros, técnicas e épocas de plantio, conservação e preparação do solo, compostagem e maneiras de preparar as hortaliças que serão colhidas para consumo mais tarde na alimentação escolar. Todos os projetos que são feitos, não só nas cidades-problema, mas em qualquer outra, são amparadas pela constituição federativa do Brasil. Todos os professores têm a seu favor a PCN do meio ambiente que, em suma, visa constituir cidadãos conscientes de seus atos, para que a futura geração de adultos esteja mais preparada para tratar bem a sua grande e bela casa. 11 Um bom exemplo de projeto para se implantar em uma escola de ensino fundamental, é o projeto das lixeiras coloridas. Nesse projeto, primariamente explica-se como é importante a coleta seletiva para que cada tipo de lixo seja descartado de forma correta. Após, insere-se em um grande pátio lixo proveniente de todos os setores (plásticos, vidro de uma forma segura, papel, isopor, resíduos de alimentos previamente embalados, pilhas e afins), prepara-se caixas de papelação previamente pintadas das cores das latas de lixo seletivo (Azul: papel e papelão; Vermelho: plástico; Verde: vidro; Amarelo: metal; Laranja: resíduos perigosos; Roxo: resíduos radioativos; Marrom: resíduos orgânicos; Cinza: resíduos não recicláveis, misturados ou contaminados) e separa-se a sala de aula em grupos, para que eles consigam colocar os lixos em seus locais corretos. Esse tipo de projeto divertido é importante para que as crianças, de forma alusiva, entendam como descartar o lixo de forma correta e a importância desse ato. CONCLUSÃO O meio em que vivemos vem sendo destruido pela ação do homem todos os dias e isso não é novidade. No nosso litoral já houveram notícias de diversos casos de roubo de areia das dunas, apropriação indevida dos locais de preservação, poluição em altíssima escala do rio e do oceano que nos cercam. Felizmente, também se há notícia de diversos projetos de proteção à planície costeira, aos animais e a flora que lá habitam, e esforços de cidadãos conscientes para que a falta de consciência ambiental não perdure. No presente trabalho foram mostradas, históricamente, como se iniciou os processos de uso do meio ambiente por meio da pesca, da exportação, que se tornou meio de vida e sustento às sociedades nativas. Mostrou-se também as ações do homem que muitas vezes não são nada amigáveis à nosso lar, mas que se pode transformar o conhecimento tecnológico em sustentável. O que se deixa em mensagem é que façamos o possível para que a nossa geração, mas principalmente a próxima geração de adultos que virá, se torne consciente de seus atos e de como eles podem e vão influenciar no que convive ao seu redor, e fazer com que cada uma de nossas ações seja pensando no bem da nossa bela casa. REFERÊNCIAS ALVEZ, Lauro. Vazamentos de Oléo vêm sendo rotina no litoral gaúcho. Zero Hora. Porto Alegre, 2012. Acidentes. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2016/04/vazamentos- de-petroleo-vem-sendo-rotina-no-litoral-gaucho-5756418.html. Acesso em: 18/11/2017. CEZAR, Guilhermino. Primeiros cronistas do Rio Grande do Sul – 1605 – 1801. Porto Alegre: UFRGS, 1981. COTRIM, Décio. Agricultura familiar: Pesquisa, Formação e desenvolvimento. 1 ed. Pelotas, 2017. 12 Décio Souza Cotrim. Agroecologia, sustentabilidade e os pescadores artesanais: O caso de Tramandaí (RS). 198p. Dissertação.UFRGS. Porto Alegre, 2008. 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