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Resumo: Alimentos Funcionais (Capítulo 1 – Livro: Nutrição Funcional de Manuela Dolinsky, p.01-33) Alimentos funcionais por definição, são: alimentos naturais ou processados que contém compostos bioativos conhecidos ou não, em quantidades não tóxicas e que fornecem benefício para a saúde na prevenção e tratamento de doenças crônicas, comprovado clinicamente e documentado. Ou seja, eles são apresentados em forma de alimentos convencionais e consumidos na dieta usual, porém, esses apresentam propriedades benéficas à saúde além da sua composição, principalmente na prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis (como hipertensão, diabetes, câncer, osteoporose e etc). Os alimentos funcionais podem ser classificados de dois modos: quanto a fonte (origem animal ou origem vegetal) ou quanto aos benefícios que oferecem (envolvendo cinco áreas do organismo: sistema gastrintestinal; sistema cardiovascular; metabolismo de substratos; crescimento, desenvolvimento e diferenciação celular; comportamento das funções fisiológicas e como antioxidantes. Alimentos funcionais são diferentes de nutraceuticos, pois os nutraceuticos são vendidos na forma de barra, cápsulas, pós e entre outros. Diferente dos alimentos funcionais, existe os nutraceuticos, que são alimentos ou parte de um alimento que abrangem desde os nutrientes isolados, os suplementos dietéticos na forma de cápsula e as dietas até os produtos beneficamente projetados, produtos herbais e alimentos processados (como cereais, sopas e bebidas) que proporcionam benefícios médicos e de saúde, incluindo a prevenção e tratamento de doenças. São classificados como: fibras dietéticas, ácidos graxos poli-insaturados, proteínas, peptídeos, aminoácidos ou cetoácidos, minerais, vitaminas antioxidantes e outros antioxidantes (glutationa, selênio). Alimentos funcionais são diferentes de alimentos fortificados com vitaminas e minerais, pois os funcionais oferecem benefício fisiológico, além do nutricional. Nos Estados Unidos, os suplementos dietéticos são considerados alimentos funcionais, já que segundo a legislação desse país, um alimento funcional pode ser definido como qualquer alimento ou ingrediente que traga algum benefício a saúde além da função nutricional básica. Já em outros países, como no Japão e na União Europeia, os alimentos para fins dietéticos especiais podem ser alimentos funcionais desde que sejam apresentados sob a forma de um alimento convencional e não apresente alegação de prevenção ou tratamento de uma doença particular, podendo ser utilizado em lactentes, gestantes e idosos, em pessoas com necessidade de controle de peso, em pessoas com hipersensibilidade a determinado componentes dos alimentos e etc. Existe uma grande diferença entre alimento-medicamento e alimentos para fins dietéticos especiais, pois o primeiro inclui-se em uma categoria mais estreita de alimentos, usados por pessoas com doenças ou condições particulares que apresentam requerimento nutricional (além de ser administrado inteiramente sob a supervisão de um médico). Como os alimentos-medicamentos necessitam de supervisão médica, não podem ser incluídos na categoria de alimentos funcionais. Classes de compostos funcionais e nutracêuticos: Probióticos, Prebióticos e Simbióticos: A função principal desses três elementos é de manter um equilíbrio apropriado na microbiota intestinal. Os Probióticos são microrganismos vivos, administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios a saúde do hospedeiro, podendo resultar no aumento da resistência contra patógenos. A utilização de cultura probiótica estimula a multiplicação de bactérias benéficas, reforçando os mecanismos naturais de defesa do hospedeiro. Porém, o efeito de uma bactéria é específico para cada cepa. Os iogurtes e leites fermentados são os alimentos mais comuns a serem suplementados com probióticos. Os Prebióticos são componentes alimentares não digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro, por estimularem seletivamente a proliferação ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon. Eles podem inibir a multiplicação de patógenos. Esses componentes atuam mais frequentemente no intestino grosso, embora possam ter efeitos também no intestino delgado. A função principal dos prebioticos é a de mudar a atividade e a composição da microbiota intestinal, sendo o principal substrato de crescimento de microrganismos dos intestinos. Para ser prebioticos, o componente deve ser: de origem vegetal, formar parte de um conjunto heterogêneo de moléculas complexas, não ser degradada por enzimas digestivas, ser parcialmente fermentada por uma colônia de bactérias, ser osmoticamente ativa. Os Simbióticos são produtos em que um probiótico e um prebiótico são combinados. Os efeitos simbióticos podem ser direcionados ao trato gastrointestinal, os intestinos delgado e grosso. Os prebioticos podem aumentar o risco teórico de uma diarreia em alguns casos (por ter efeito osmótico) e de ser pouco tolerado por pacientes com síndrome do intestino irritável. Os probióticos, por outro lado, não apresentam esse inconveniente e são efetivos na prevenção e no alivio de diversos episódios clínicos envolvendo diarreia. Fibras Dietéticas: As fibras da dieta podem ser classificadas e definidas de acordo com o papel que ela cumpre nos vegetais: polissacarídeos estruturais (relacionados a estrutura da parede celular) e polissacarídeos não-estruturais. Também podem ser classificadas em fibras solúveis e insolúveis. As fibras solúveis são as pectinas e hemicelulose. Elas tendem a formar géis em contato com a água, aumentando a viscosidade dos alimentos parcialmente digeridos no estomago. As fibras insolúveis são a lignina, a celulose e algumas hemiceluloses. Elas permanecem intactas através de todo o trato gastrintestinal e tem função principal de incrementar o bolo fecal e estimular a motilidade intestinal. Frutanos: Os frutanos são a inulina e a oligofrutose. Eles são fibras solúveis e fermentáveis, as quais não são digeríveis, na parte superior do trato gastrintestinal, pela amilase e pelas enzimas hidrolíticas. Eles não são absorvidos, penetram no intestino grosso e fornecem substrato para as bactérias intestinais. Inulina: A inulina pode ser encontrada em vegetais como as raízes de chicória. A inulina apresenta as menos propriedades das fibras solúveis, tais como a habilidade de reduzir os lipídios circulantes e estabilizar a glicose sanguínea. Além disso, a inulina é um agente prebiótico, influenciando positivamente a composição microbiana do trato gastrointestinal. A inulina é muito utilizada na indústria pois tem a capacidade de substituir o açúcar e a gordura sem fornecer grandes quantidades de calorias. Beta-glucanas: São polissacarídeos que fazem parte da fração solúvel da fibra alimentar e estão presentes nos cereais (principalmente a cevada e aveia). Elas diminuem a taxa de colesterol plasmático, principalmente em indivíduos hipercolesterolêmicos e atenuam a resposta glicêmica e insulínica pós-prandial, o que possibilita sua utilização no controle ou retardo do aparecimento de doenças crônicas. Frutooligossacarídeos: São oligossacarídeos de ocorrência natural, principalmente em produtos de origem vegetal. São chamados açucares não-convencionais e tem tido impacto na indústria do açúcar em razão de suas excelentes características funcionais em alimentos, além de seus aspectos fisiológicos e físicos. A sua ingestão pode estar associada a flatulência, e isto se torna mais flagrante em indivíduos que possuem intolerância a lactose. Isso esta relacionada com a dose de FOS consumida, isto é, quanto menos FOS, menor os sintomas. Porém, ingeridos em doses de 12,5g/dia por 3 dias produz efeito significativo na redução da contagem de anaeróbios totais nas fezes, alteração de ph, atividade de nitroredutases, bem como a redução nas concentrações de bile ácida e esterol neutro. Os FOS podem ser usados na formulação de sorvetes e sobremesas lácteas que levem no rótulo “açúcar reduzido”,“sem adição de açúcar”, “calorias reduzidas” “produto sem açúcar” e etc. Alimentos sulfurados e nitrogenados: São compostos orgânicos usados na proteção contra a carcinogênese e mutagênese, sento ativadores de enzimas na detoxificação do fígado. São encontrados em alimentos como: repolho, brócolis, rabanete, palmito e alcaparra. Glicosinolatos: Os glicosinolatos formam um grande grupo de glicosídeos sulfurados. Eles podem ser produzidos ou perdidos pelas hortaliças durante o armazenamento. A inativação enzimática pelo calor os preserva. Indóis: estimulam a produção de enzimas que inibem a atividade do estrógeno. Reduzem o risco de canceres dependentes do estrógeno, como o câncer de mama e de útero. Presentes em: brócolis, couve-flor, mostarda e repolho. Isotiocianatos: Inibem o metabolismo e o ataque ao DNA de várias nitrosaminas. Presentes em couve-de-bruxelas, couve-flor, nabo e repolho. Sulforafanos: Tem ação bactericida conta a causadora de úlcera e câncer de estomago. Presente nos brócolis. Antioxidantes: A oxidação no organismo ocorre em razão da ação dos radicais livres do organismo. Podem ser endógenos ou exógenos. As fontes endógenas originam-se de processo biológico que normalmente ocorrem no organismo (como a redução de flavinas e tiois). As fontes exógenas geradores de radicais livres incluem tabaco, poluição do ar, solventes orgânicos, anestésicos, pesticidas e radiações. Os antioxidantes são importantes na renovação das membranas celulares, na resposta inflamatória e no combate a microrganismos. Porém quando em excesso, podem atacar o DNA das células, provocando mutações. Carotenoides: Estão presentes em alimentos com pigmentação amarela, laranja ou vermelha (como: tomate, abóbora, pimentão, laranja, pêssego e etc). Dentre os carotenoides, o betacaroteno, o licopeno e as xaneofilas possuem papel de destaque. Entre os carotenoides, o betacaroteno é o mais abundante em alimentos e o que apresenta maior atividade de vitamina A. A vitamina A pré-formada é encontrada apenas em alimentos de origem animal. Uma deficiência prolongada pode produzir alterações na pele, cegueira noturna, ulcerações na córnea que podem levar a cegueira e etc. Por outro lado, a vitamina A é excesso é toxica, podendo causar malformação congênita se ingerida em excesso durante a gravidez. O Licopeno é um pigmento vermelho que ocorre naturalmente apenas em tecidos de hortaliças (tomates e seus produtos, goiaba, melancia, mamão e pitanga) e algas. É considerado o antioxidante mais eficiente dentro todos os carotenoides, com o dobro de atividade do betacaroteno. Se encontra em maiores quantidades nas cascas dos alimentos, aumentando durante o amadurecimento. Ácido ascórbico (Vitamina C): É o micronutriente mais associado a frutas e hortaliças. A vitamina C é necessária a prevenção do escorbuto e a manutenção da saúde da pele, gengivas e vasos sanguíneos. Também tem função de participar na formação do colágeno, absorção de ferro inorgânico, redução do nível de colesterol, inibição da formação de nitrosaminas e fortalecimento do sistema imunológico. A vitamina C é um antioxidante que reduz o risco de aterosclerose, doenças cardiovasculares e algumas formas de câncer. Está presente na acerola, frutas cítricas, goiaba, morangos, brócolis, couve-flor, espinafre, pimenta, pimentão, repolho e etc. Vitamina E: É a principal vitamina antioxidante transportada na corrente sanguínea pela fase lipídica das partículas lipoprotéicas. A vitamina E protege os lipídios de peroxidação. Além disso, a ingestão dessa vitamina em quantidades acima do recomendado pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares, melhorar a condição imune e modular condições degenerativas importantes associadas com o envelhecimento. Essa vitamina é encontrada na natureza de forma: alfa, beta, gama e delta-tocoferol. Sendo o delta-tocoferol a forma antioxidante amplamente distribuída no tecido e no plasma. Se encontra principalmente nos lipídios. Selênio: O organismo necessita do selênio em quantidades mínimas, ou seja, ele é um mineral essencial. Porém, em altas doses ele se torna tóxico. Deficiência de selênio pode gerar catarata, distrofia muscular, depressão, necrose do fígado e etc. O selênio oferece proteção contra doenças crônicas associadas ao envelhecimento e está presente em alimentos como o brócolis, couve, aipo, pepino, cebola, alho e rabanete. Polifenóis: São os antioxidantes mais abundantes da dieta. Participam dos processos metabólicos responsáveis pela cor, adstringência e aroma dos alimentos. Os compostos fenólicos são classificados em: flavonoides (berinjela, morango), flavinoides (batata, repolho branco), ácidos fenólicos, cumarinas, taninos e lignina. Porém, alguns autores classificam como: fenóis simples, fenóis compostos e flavonoide. Todos os polifenóis possuem propriedades anticarcinogenitas, antinflamatorias e antialérgicas. Isoflavonas: São uma subclasse dos flavonoides. As isoflavonas são encontradas em legumes, principalmente nos grãos de soja. Não houve indicação de risco a saúde por causa do consumo de soja ou isoflavonas da soja como parte regular da dieta. Estudos sugeriram efeitos protetores desses compostos contra varias doenças crônicas. As isoflavonas são conhecidas como fitoestrógenos por apresentar estrutura e atividade semelhante ao estrógeno humano, podendo proteger o organismo contra doenças do coração e possivelmente contra câncer de mama. Fitosteróis: São componentes essenciais as membranas das células e podem ser produzidos por plantas. Além disso, os fitoesteróis são compostos esteróis oriundos dos óleos vegetais e apresentam grande similaridade estrutural com o colesterol. Os estanóis são os esteróis saturados e podem ser extraídos dos alimentos ou produzidos artificialmente por meio de hidrogenação, sendo menos abundantes nos alimentos in natura do que os esteróis. Os mais abundantes nos produtos in natura são o sitosterol, o campesterol e o estigmasterol, que podem ocorrer tanto na forma cristalina quanto esterificada a ácidos graxos livres, ácidos fenólicos ou açucares. Os alimentos que são mais ricos em fitoesterois e fitostanois são: a soja, frutos oleaginosos e óleos vegetais em geral (principalmente a canola, arroz e girassol). Poucos estudos foram publicados quanto ao efeito dos fitosteróis naturalmente presentes nos alimentos. Ácidos graxos poli-insaturados: Os principais ácidos graxos da família ômega-3 são: o alfa-linolênico, o eicosapentaenoico e o docosa-hexaenóico. Os ácidos graxos da família ômega-6 mais importantes são o linoleico e o araquidônico. A ingestão regular de ômega-3 na dieta exerce um efeito favorável sobre os níveis de triglicerídeos, pressão sanguínea, mecanismo de coagulação e ritmo cardíaco, para a prevenção de câncer de mama, próstata e colón. Os ácidos graxos ômega-3 são também indispensáveis para os recém-nascidos. O ácido linoleico, presente no óleo de girassol e pertencente ao grupo dos ácidos graxos ômega-6 é transformado pelo organismo humano no ácido araquidônico e em outros ácidos graxos poli-insaturados. O ômega-6 tem papel de: participar da estrutura de membranas celulares, influenciando a viscosidade sanguínea, a permeabilidade dos vasos e ação antiagregadora, a pressão arterial e etc. Os ácidos graxos poli-insaturados, destacando os omegas-3 e 6 são encontrados em peixes de água fria (salmão, atum, sardinha, bacalhau), óleos vegetais, sementes de linhaça, nozes e alguns tipos de vegetais. O ômega-3 deve ser consumido numa proporção equilibrada com o ômega-6, a recomendação sugere uma proporção 5:1 de ômega-6 para ômega-3. Algas: Esses microrganismos tradicionalmente são classificados quanto aos tipos de pigmentos, a natureza química dos produtos de reserva e aos constituintes da parede celular. As algas são principalmente encontradas no meio marinho, em água doce e no solo. Os cultivos de microalgas são realizados visando a produção de biomassa tanto para uso na elaboração de alimentos quanto para a obtenção de compostosnaturais com alto valor no mercado mundial. Dentre os inúmeros compostos extraídos ou com potencial de exploração comercial, podem ser relacionados ácidos graxos poli-insaturados, carotenoides, ficobilinas, polissacarídeos, vitaminas e etc. O mercado de alimentos funcionais, utiliza as microalgas em massas, pães, iogurtes, bebidas, petiscos, doces e etc. Tanto como suplemento nutricional, quanto como corantes naturais. Portanto, pode-se concluir que os alimentos funcionais vieram como uma estratégia para melhorar o estilo de vida humano, visando uma ação benéfica na saúde, já que a expectativa de vida da população está crescente e os custos médico-hospitalares também, devido a diversos fatores, como à grande incidência de redes fast-foods.