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FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 1 Aula 2 – OS ENFOQUES E AS ERAS DA QUALIDADE I) AS ERAS DA QUALIDADE As eras da qualidade mostram a evolução da qualidade ao longo da evolução industrial. Na literatura, existem duas definições para a evolução da qualidade. A primeira a ser comentada é de David Garvin. Garvin é professor da Universidade de Harvard, uma das mais conceituadas escolas na área de administração e de muita influência em assuntos da qualidade. Garvin classifica a evolução da qualidade em 4 eras, quais sejam: 1) Inspeção, 2) Controle Estatístico da Qualidade, 3) Garantia da Qualidade e 4) Gestão da Qualidade. As principais características de cada uma dessas eras estão resumidas na tabela abaixo: Características básicas Interesse principal Visão da qualidade Ênfase Métodos Papel do profissional da qualidade Responsável pela qualidade Inspeção Verificação Um problema a ser resolvido Uniformidade do produto Medição Inspeção, classificação, contagem, avaliação e reparo Depto de inspeção Controle Estatístico de Processo Controle Um problema a ser resolvido Uniformidade do produto com menos inspeção Ferramentas e técnicas estatísticas Solução de problemas e uso de métodos estatísticos Depto de fabricação e engenharia Garantia da Qualidade Coordenação Prevenção Toda a cadeia de fabricação, desde o projeto até a entrega, com participação de todos os grupos funcionais. Programas e sistemas Planejamento, medição da qualidade e desenvolvim/ de sistemas. Todos os deptos, alta direção. Gestão da Qualidade Impacto estratégico Vantagem competitiva em relação à concorrência Necessidade de mercado e do cliente Planejam/ estratégico, objetivos da organização e Estabelecim/ metas, educação e treinamento, desenvolvim/ de programas. Liderança da alta direção, participação de todos. A figura abaixo mostra cronologicamente a evolução da qualidade, de acordo com os fatos mais marcantes da história do mundo. FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 2 20001990198019701960195019401930 Final séc. XVIII ERA DA INSPEÇÃO Surgimento da inspeção como atividade formal. Taylor especifica a inspeção como uma das atividades formais da fábrica. GESTÃO DA QUALIDADE 1986 – TQM 1987 – ISO 9000 OUTROS SISTEMAS ISO 14000 – Ambiental SA 8000 responsabilidade social ISO 18000 - Segurança no Trabalho ISO 31000 gestao de riscos QUALIDADE ASSEGURADA Custos da qualidade (1951) Controle da qualidade total (1952) Confiabilidade (1957) Programa zero defeitos (1962) CONTROLE ESTATÍSTICO DA QUALIDADE Inspeção por amostragem Métodos de controle nas operações Abordagem corretiva Abordagem preventiva II GUERRA MUNDIAL Crises petróleo Guerra comercial Figura 1 - Evolução da qualidade Globalização Uma outra linha de pensamento surgiu através do TQM japonês, definido através do livro “TQM – as 4 revoluções da qualidade” (Shiba, 1997). Shiba é professor de administração de negócios na Universidade de Tsukuba (Japão) e professor do MIT. De acordo com esse livro, os conceitos da qualidade evoluíram de acordo com as seguintes fases: Adequação ao padrão: avalia se um produto produzido da forma descrita nas especificações está adequado ao padrão estabelecido. Em outras palavras, a adequação ao padrão define a qualidade como aquele produto que faz aquilo que os projetistas pretendem que ele faça. A visão da produção da qualidade é focada apenas nos padrões internos da empresa, não havendo preocupação com as necessidades do cliente (market-out). Adequação ao uso: é um meio de garantir a satisfação das necessidades do mercado (ou cliente), e isso é conseguido mediante avaliação das necessidades por meio de pesquisas de mercado. A qualidade dos produtos ainda é conseguida por meio de inspeções. Adequação ao custo: significa alta qualidade e baixo custo. Isto é conseguido adicionando-se aos conceitos da fase anterior, a aplicações de técnicas e metodologias para reduzir os custos de refugos e retrabalhos ao longo do processo produtivo. Adequação à necessidade latente: significa satisfazer as necessidades dos clientes, antes que os mesmos estejam conscientes delas. Se uma empresa conseguir descobrir a necessidade latente do mercado, ela pode ter o monopólio por um pequeno período de tempo e a empresa pode pedir um preço mais alto, o qual pode ser bastante lucrativo. FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 3 II) OS ENFOQUES DA QUALIDADE Os enfoques da qualidade procuram definir as diversas visões existentes sobre a qualidade. De acordo com a compreensão da qualidade nos diversos enfoques, é possível aplicá-la de uma forma mais efetiva e obter melhores resultados durante as diversas aplicações do sistema de gestão da qualidade. Conforme veremos, os enfoques dão a definição da qualidade de acordo com as diversas utilizações do termo “qualidade”. Os enfoques podem ser classificados em: a) O ENFOQUE TRANSCENDENTAL De acordo com a visão transcendental, qualidade é sinônimo de “excelência nata”. Ela é absoluta e universalmente reconhecível, um elemento de padrões rígidos e alto desempenho. Contudo, os proponentes desta abordagem dizem que a qualidade não pode ser precisamente definida, pois ela é uma propriedade simples e não analisável que aprendemos a reconhecer somente através da experiência. Esta definição se assemelha com a discussão de Platão sobre a beleza. No Simpósio, ele diz que a beleza é uma das “formas platônicas”, e dessa forma, um termo que não pode ser definido. Como outros termos que os filósofos consideram como “logicamente primitivos”, a beleza (e talvez a qualidade) pode ser entendida somente após a comparação de um objeto frente a uma sucessão de outros que apresentam tais características. b) ENFOQUE BASEADO NO PRODUTO As definições baseadas no produto são bem diferentes, enxergam a qualidade como uma variável precisa e mensurável. De acordo com essa visão, as diferenças na qualidade refletem-se nas características possuídas por um produto. Por exemplo, um sorvete de boa qualidade tem um alto teor de gordura do leite, da mesma forma que um crochê delicado apresenta um grande número de nós por centímetro quadrado. Este enfoque leva a uma dimensão vertical ou hierarquizada da qualidade, para que as mercadorias possam ser classificadas segundo as características em questão que possuem. As definições de qualidade baseadas no produto apareceram primeiramente na literatura de Economia, onde foram rapidamente incorporadas aos modelos teóricos. Na verdade, no início da pesquisa econômica da qualidade procurava-se apenas a questão da durabilidade, simplesmente porque ela era facilmente localizada nessa estrutura. Como os bens duráveis apresentam um conjunto de serviços ao longo do tempo, uma durabilidade maior implica em um conjunto maior de serviços devido a um uso maior do bem. Dessa forma, as diferenças de qualidade podem ser tratadas como diferenças de quantidade, simplificando consideravelmente os cálculos matemáticos. Existem dois corolários óbvios para este enfoque. Primeiro, uma qualidade melhor só pode ser obtida a altos custos, porque a qualidade reflete as características que um produto contém, e como as características são elementos valoráveis na produção, as mercadorias ou bens com qualidade superior serãomais caros. Segundo, a qualidade é entendida como uma característica inerente aos produtos, ao invés de ser algo a eles incorporado, pois como a qualidade reflete a presença ou a ausência de atributos mensuráveis do produto, ela pode ser avaliada objetivamente, e não apenas em preferências. FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 4 c) ENFOQUE BASEADO NO USUÁRIO As definições baseadas no usuário partem da premissa oposta de que a qualidade está nos “olhos do observador”. Supõe-se que os consumidores individuais tenham desejos ou necessidades diferentes, e os bens que melhor satisfazem suas preferências são aqueles por eles considerados como tendo uma alta qualidade. Esta é uma visão pessoal e ideosincrática de qualidade, e é altamente subjetiva. Na literatura de marketing, isso levou à noção de “pontos ideais”: precisas combinações de atributos do produto que dão a maior satisfação a um consumidor específico; na literatura de Economia, a visão de que as diferenças de qualidade são percebidas através de alterações na curva de demanda de produto; e na literatura de Gerência de Produções ao conceito de “adequação ao uso”. Cada um desses conceitos, contudo, enfrenta dois problemas. O primeiro é prático – como agregar amplas e variáveis preferências individuais para que elas conduzam a definições significativas de qualidade no enfoque de mercado. O segundo é mais fundamental – como distinguir os atributos do produto que implicam em qualidade daqueles que simplesmente maximizam a satisfação do consumidor. O problema de agregação é normalmente resolvido supondo-se que os produtos de alta qualidade são aqueles que melhor atendam as necessidades da maioria dos consumidores. É necessário um consenso, onde virtualmente todos os usuários concordem com a existência de certos atributos do produto. Infelizmente este enfoque ignora os diferentes pesos que os indivíduos normalmente atribuem às características de qualidade, e a dificuldade de se usar um procedimento estatístico não viciado para agregar preferências tão amplas e variáveis. Na sua maior parte, estes problemas foram ignorados pelos teóricos. Os economistas, por exemplo, tem modelos específicos onde a curva de demanda do mercado reage a mudanças na qualidade sem explicar como essa curva, que representa a somatória de preferências individuais, foi derivada em primeiro lugar. Um problema básico do enfoque baseado no usuário é a equação da qualidade com a satisfação máxima. Embora as duas sejam relacionadas, elas não são de forma alguma idênticas. Um produto que maximiza a satisfação é certamente preferível a um que atenda poucas necessidades, mas ele é necessariamente o melhor? A equivalência implícita frequentemente não prevalece na prática. Um consumidor pode apreciar uma determinada marca devido ao seu sabor ou características incomuns, mesmo que haja outra marca de qualidade superior. Numa ultima abordagem, as características objetivas do produto também estão sendo consideradas. Contudo, mesmo características perfeitamente objetivas estão abertas a várias interpretações. Hoje em dia, a durabilidade é considerada como um elemento importante da qualidade. Geralmente preferem-se os produtos mais duráveis àqueles que se desgastam rapidamente. Mas isto não foi sempre verdade: até o fim do século 19, os bens duráveis só eram comprados pelos pobres, pois os indivíduos abastados podiam adquirir produtos delicados que exigiam trocas e reparos freqüentes. O resultado foi uma associação de durabilidade com qualidade inferior, uma idéia que só foi alterada com a produção em massa de itens requintados provocada pela Revolução Industrial. d) ENFOQUE BASEADO NA FABRICAÇÃO (OU PRODUÇÃO) As definições de qualidade baseadas no usuário incorporam elementos subjetivos, pois estão arraigadas a preferências dos consumidores – os determinantes da demanda. Em contrapartida, as definições baseadas na fabricação abordam o outro FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 5 lado da equação, e estão principalmente ligadas às técnicas de engenharia e fabricação. Virtualmente todas essas definições identificam a qualidade como “conformidade com as especificações”. Uma vez que um projeto ou especificação foi estabelecido, qualquer desvio significa uma redução na qualidade. Iguala-se excelência com o atendimento de especificações, e com o “fazer certo da primeira vez”. Nesses termos, um automóvel Mercedes bem construído é um carro de alta qualidade, da mesma forma que um Fiat Uno Mille bem construído. Embora esse enfoque reconheça o interesse do consumidor pela qualidade – um produto que se afasta das especificações sugere má fabricação e não confiabilidade, dando menos satisfação do que se fosse corretamente feito – sua abordagem inicial é interna. A qualidade é definida de uma forma que simplifica o trabalho da engenharia e do controle da produção. No lado de projetos, isso levou a uma ênfase na engenharia da confiabilidade (Taguchi), e no lado da fabricação, uma enfase no controle estatístico de qualidade (cartas de controle – CEP). Essas técnicas foram desenvolvidas para eliminar desvios logo no início de sua ocorrência: a primeira, analisando os componentes básicos de um produto identificando possíveis tipos de falhas, e propondo projetos alternativos para aumentar a confiabilidade; a última, empregando técnicas estatísticas para descobrir quando um processo de produção está passando dos limites aceitáveis. Cada uma dessas técnicas está voltada para o mesmo fim: a redução de custos. De acordo com o enfoque baseado na fabricação, as melhorias da qualidade (que são equivalentes às reduções no número de desvios) levam a custos menores, pois prevenir a ocorrência de defeitos é interpretada como sendo mais barata que o seu retrabalho. Portanto, as empresas estão com um desempenho subótimo: pois se aumentarem apenas seus gastos com prevenção e inspeção – testando os protótipos com mais cuidado ou eliminando um grande numero de componentes defeituosos antes que formem unidades totalmente montadas – verão que os gastos com o retrabalho, sucateamento e garantia diminuirão segundo uma taxa muito maior. e) O ENFOQUE BASEADO NO VALOR As definições baseadas no valor levam esta idéia um passo à frente. Elas definem a qualidade em termos de custos e preços. De acordo com esse enfoque, um produto de qualidade é aquele que apresenta um desempenho e uma conformidade a um preço e custos aceitáveis. Dessa forma, um tênis de corrida custando U$ 500,00, não importando quão bem feito ele é, não pode ser um produto de qualidade, pois terá poucos compradores. Uma pesquisa realizada sobre as percepções do consumidor sobre a qualidade em vinte e oito categorias de produto sugere a abordagem baseada no valor prevalecendo cada vez mais. Embora os ingredientes e matérias-primas sejam vistos como indicadores-chave da qualidade em categorias como alimentos, vestuário, produtos de higiene pessoal e de beleza – refletindo um enfoque baseado no produto – a conclusão final do estudo foi que “cada vez mais a qualidade está capaz de ser percebida e discutida através de uma relação com o preço”. A dificuldade de se empregar esta abordagem está na união de dois conceitos correlatos, mas distintos. A qualidade, que é uma medida de excelência, está sendo comparada com o valor, que é uma medida de mérito. O resultado é um elemento híbrido – “excelência adquirível” – que não possui limites bem definidos e é difícil de ser aplicada na prática. FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 6 AS IMPLICAÇÕES DAS MULTIPLAS DEFINIÇÕES A maioria das definições de qualidadeexistentes cai numa das categorias listadas anteriormente. A coexistência desses enfoques diferentes tem implicações importantes. Em primeiro lugar, ajuda a explicar as idéias conflitantes defendidas pelos membros dos departamentos de marketing e produção. Normalmente o pessoal de marketing usa o enfoque baseado no produto ou no usuário; pois para eles, melhor qualidade significa melhor desempenho, características aprimoradas, e outras melhorias que aumentam o custo. Como eles encaram o consumidor como juiz da qualidade, eles dão muito menos importância ao que acontece na fábrica, e muito mais ao que se passa no ambiente externo. O pessoal da produção tem uma visão diferente. Para eles, a qualidade significa conformidade com as especificações e ênfase em “fazer certo da primeira vez”. A produção associa a qualidade ruim com altos níveis de retrabalho e sucateamento; normalmente, o pessoal de produção espera que as melhorias na qualidade resultem em redução de custos. AS NECESSIDADES DE DIFERENTES DEFINIÇÕES Apesar do potencial de conflito, as empresas precisam cultivar tais perspectivas diferentes, pois elas são essenciais para a introdução bem sucedida de produtos de alta qualidade. Confiar em apenas uma definição de qualidade é uma freqüente fonte de problemas. Por exemplo, um fabricante japonês de papel descobriu recentemente que suas bobinas de papel jornal não satisfaziam os seus clientes, mesmo quando atendiam os requisitos da JIS (Japanese Industrial Standart). A conformidade era excelente, demonstrando um enfoque de qualidade baseado na produção, mas a aceitação por parte dos clientes era ruim. Outras bobinas desse tipo de papel, contudo, não geravam reclamações mesmo quando não atendiam às normas. Uma empresa americana líder no mercado de aparelhos de ar condicionado enfrentava um problema inverso. Seus produtos eram bem recebidos pelos consumidores, e muito bem classificados no Consumer Reports. Contudo, os custos de rejeição, sucateamento e qualidade eram altos, que se incorria em grandes perdas. Enquanto o projeto do produto atendia às necessidades dos consumidores, a dificuldade em se produzir com uma boa conformidade gerava um custo de fabricação muito alto. Estes exemplos sugerem a necessidade de se alterar o enfoque dado à qualidade quando os produtos saem do projeto para o mercado. As características que conotam a qualidade devem ser inicialmente identificadas através de uma pesquisa de mercado (abordagem da qualidade baseada no usuário); essas características devem, então, ser traduzidas em atributos identificáveis de produto (uma abordagem da qualidade baseada no produto); e o processo produtivo pode então ser organizado, assegurando que os produtos estão seguindo precisamente essas especificações (uma abordagem baseada no produto). Um processo que ignore essas etapas não resultará em produto de qualidade. Todos estes três pontos são necessários e devem ser conscientemente desenvolvidos. III) AS OITO DIMENSÕES DA QUALIDADE FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 7 Pode-se identificar oito dimensões para formar uma estrutura para se pensar sobre os elementos básicos da qualidade de um produto: 1) Desempenho 2) Características 3) Confiabilidade 4) Conformidade 5) Durabilidade 6) Assistência Técnica (Serviceability) 7) Estética 8) Qualidade observada (ou percebida) Cada uma é independente e distinta da outra. Um produto pode ser bem classificado em uma ou mais dimensões, ao mesmo tempo que está mal classificada em outras. 1. DESEMPENHO Em primeiro lugar na lista está o desempenho, que se refere às características operacionais primarias de um produto. Em um automóvel, tais características seria a aceleração, maneabilidade, velocidade de cruzeiro e conforto. Esta dimensão de qualidade combina elementos das abordagens baseadas no produto e no usuário. Estão envolvidos os atributos mensuráveis do produto, e as marcas podem ser objetivamente classificadas segundo pelo menos uma dimensão de desempenho. A conexão entre desempenho e qualidade, contudo, é mais ambígua. Se as diferenças de desempenho são entendidas como diferenças de qualidade, normalmente depende-se de preferências individuais. Os usuários tem um grande conjunto de interesses e necessidades; cada um é capaz de associar a qualidade com um alto desempenho na sua área de interesse imediato. A semântica também afeta a conexão entre desempenho e qualidade. Entre as palavras que descrevem o desempenho do produto existem termos que são frequentemente associados com a qualidade, bem com aqueles que falham em mostrar essa associação. Por exemplo, uma lâmpada de 100W dá mais luminosidade (desempenho) do que uma de 60W, embora poucos consumidores considerem essa diferença como uma medida de qualidade. Os produtos apenas pertencem a classes diferentes de desempenho. Contudo, o silêncio e o conforto de uma automóvel são tidos como um reflexo direto da sua qualidade. Dessa forma, o silencio é uma dimensão de desempenho que é rapidamente traduzida em qualidade, enquanto que a luminosidade de uma lâmpada não o é. Essas diferenças parecem refletir as convenções de linguagem, da mesma forma como fazem com preferências pessoais. 2. CARACTERÍSTICAS A mesma abordagem pode ser dada às características do produto, uma segunda dimensão da qualidade. Essas características são os acessórios do produto, ou seja, são os itens secundários que suplementam o funcionamento básico do produto. Os exemplos podem ser: bebidas grátis a bordo de aviões ou ciclos de lavagem especiais em uma lavadora de roupas. Em muitos casos, a linha que separa os elementos primários do produto (desempenho) dos secundários (características) é difícil de ser traçada. Da mesma forma que o desempenho do produto, as características envolvem atributos objetivos e mensuráveis; sua tradução em diferenças de qualidade é igualmente afetada pelas preferências individuais. A FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 8 distinção entre as duas é basicamente a centralidade do grau de importância do usuário. 3. CONFIABILIDADE A confiabilidade é a terceira dimensão da qualidade. Ela mostra a probabilidade de um produto falhar em um determinado espaço de tempo. Ente as medidas mais comuns de confiabilidade tem-se: o tempo médio entre falhas (TMEF ou em inglês, MTBF), o tempo médio para o reparo (TMPR ou em inglês, MTTR). Como essas medidas exigem que o produto esteja em uso por algum tempo, elas são mais relevantes aos bens duráveis do que para os produtos consumidos instantaneamente. Os fabricantes japoneses dão grande atenção a essa dimensão de qualidade, e a usaram para ganhar uma fatia do mercado automobilístico, eletrônico e de semicondutores. 4. CONFORMIDADE Uma dimensão da qualidade associada é a conformidade, que é o grau de igualdade entre o projeto e características operacionais de um produto com os padrões pré- estabelecidos. Estão envolvidos elementos externos e internos. Na fábrica mede-se a conformidade normalmente através da incidência de defeitos, ou seja, a proporção de peças que não atendem às especificações de projeto e precisam ser retrabalhadas, reparadas ou simplesmente sucateadas. É difícil obter dados sobre a conformidade no ambiente externo, e frequentemente usam-se estimativas através de ferramentas estatísticas. Duas medidas comuns são as incidências de solicitações de assistência técnica para um determinado produto e a freqüência de reparos em garantia dos produtos. Essas medidas, embora sugestivas, não retratam outros desvios do padrão, como erros nas instruções de uso ou construção com padrões inferiores, que não provocam consertos. Tanto a confiabilidadecomo a conformidade está intimamente ligada ao enfoque da qualidade baseado na produção. Melhorias nessas medidas são normalmente vistas como ganhos na qualidade, pois defeitos e falhas de campo são tidos como indesejáveis por todos os consumidores. Dessa forma, elas são medidas de qualidade relativamente objetivas, e menos sujeitas a refletir preferências individuais, do que classificações baseadas no desempenho ou nas características. 5. DURABILIDADE A durabilidade, uma medida da vida do produto, possui dimensões econômicas e técnica. Tecnicamente, a durabilidade pode ser definida como o quanto um produto pode ser usado antes de se deteriorar fisicamente. Uma lâmpada incandescente é um exemplo perfeito, após muitas horas de uso, o filamento queima e ela deve ser trocada. O reparo é impossível. Os economistas usam esses produtos extensivamente na modelagem da produção e consumo de bens de capital. A durabilidade fica mais difícil de se interpretar quando ;e possível o conserto. Aí o conserto assumirá uma dimensão adicional, pois a vida do produto variará com a mudança das condições econômicas. A durabilidade passa a ser a quantidade de uso que um produto oferece antes de quebrar, e a troca é considerada mais vantajosa do que o conserto contínuo. Os consumidores tem uma série de alternativas: cada vez que o produto falha, devem analisar o custo estimado, tanto em unidades monetárias e em inconveniência pessoal, de futuros consertos versus o investimento e as despesas operacionais de um modelo mais novo e confiável. Nestas circunstâncias, a vida do produto é determinada pelos gastos com reparos, FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 9 avaliações pessoais de tempo e inconveniências, prejuízos devido à paralizações, preços relativos, e outras variáveis econômicas, muito mais em função delas do que pela qualidade dos componentes e matérias-primas. Esta abordagem da qualidade tem duas implicações importantes. A primeira sugere que a durabilidade e a confiabilidade estão intimamente ligadas. Um produto que frequentemente apresenta falhas está mais sujeita a ser sucateado antecipadamente do que um que é mais confiável, os gastos com consertos serão maiores, e a aquisição de um novo modelo será muito mais favorável. Em segundo lugar, este enfoque sugere que os números ligados à durabilidade sejam interpretados com cuidado. Um argumento na vida do produto não é necessariamente devido a melhorias técnicas ou ao uso de materiais mais duráveis; o ambiente econômico, associado pode simplesmente ter mudado. 6. ASSISTÊNCIA TÉCNICA Uma sexta dimensão da qualidade é a assistência técnica (serviceability), ou ainda a rapidez, cortesia e competência do reparo. Os consumidores não estão apenas preocupados com a quebra do produto, mas também com o tempo gasto até a restituição do produto reparado, com a precisão dos serviços, a natureza das falhas e a freqüência em que a assistência técnica não consegue resolver os problemas. Algumas dessas variáveis podem ser medidas objetivamente; outras retratam padrões pessoais diferentes do que seja um serviço aceitável. Um grande número de empresas começou a enfatizar essa dimensão de qualidade. A promessa da Caterpillar Tractor de entregar peças de reposição em qualquer parte do mundo em 48 horas mostra que até os fabricantes tradicionais acreditam na validade desse enfoque. 7. ESTÉTICA As duas dimensões da qualidade a seguir são as mais subjetivas. Tanto a estética quanto a qualidade observada estão intimamente ligadas ao enfoque baseado no usuário. A estética, ou seja, a interpretação do produto pelos cinco sentidos do ser humano – é formado por julgamentos pessoais e reflexões de preferências pessoais. Na verdade, o conceito de “pontos ideais”, do marketing – aquelas combinações de características de produto que melhor se enquadrem nas preferências de um determinado consumidor foi originalmente desenvolvido para retratar esta dimensão da qualidade. 8. QUALIDADE PERCEBIDA As percepções de qualidade podem ser tão subjetivas quanto as avaliações de estética. Como os consumidores nem sempre possuem informações completas sobre os atributos de um produto, eles frequentemente utilizam medidas indiretas quando comparam marcas. Nessas circunstâncias, os produtos serão avaliados mais em função de suas imagens, publicidade ou marcas, do que em função de suas características objetivas. Essas forças chegam até a afetar julgamentos acadêmicos. Quando se pediu que os professores universitários dos EUA classificassem os departamentos de suas áreas de ensino segundo suas qualidades, as classificações foram parcialmente baseadas em medidas subjetivas como o numero de artigos publicados nas principais revistas especializadas pelos membros do departamento. Tanto a reputação – a força histórica do departamento – quanto à filiação – a qualidade da universidade a qual um departamento estava ligado – eram igualmente importantes na explicação das classificações. FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 10 Juntas, as oito dimensões da qualidade cobrem um vasto conjunto de conceitos. Várias das dimensões envolvem atributos mensuráveis do produto. Algumas são objetivas e não são influenciadas pelo elemento tempo, ao passo que outras são modificadas pelas várias tendências (modas). Algumas são características inerentes dos produtos, enquanto que outras são características associadas. A diversidade desses conceitos ajuda a explicar as diferenças entre as cinco abordagens tradicionais da qualidade. Cada uma das abordagens esta implicitamente voltada para uma dimensão de qualidade diferente: a abordagem baseada no produto preocupa-se com o desempenho, características e durabilidade; a abordagem baseada no usuário está voltada para a estética e para a qualidade observada; e o enfoque baseado na produção busca a conformidade e a confiabilidade. São inevitáveis os conflitos entre os cinco enfoques, pois cada um define a qualidade a partir de uma visão diferente. Uma vez que o conceito seja entendido e cada dimensão seja considerada separadamente, ficará claro o porque dos conflitos. A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DAS DIMENSÕES DA QUALIDADE A aceitação das oito dimensões também é importante na visão estratégica a ser adotada pela empresa. Uma empresa que decide competir baseada na qualidade pode fazê-lo de várias formas: não é necessário (e nem é possível) seguir as 8 dimensões simultaneamente. Pode-se adotar uma estratégia de segmentação, com algumas dimensões necessitando de atenção especial. Por exemplo, os fabricantes japoneses tradicionalmente entravam no mercado americano enfatizando a confiabilidade e a conformidade de seus produtos, enquanto que relegavam a um segundo plano as outras dimensões de qualidade. O acabamento e construção (montagem) superiores e as baixas taxas de consertos dos carros japoneses são bem conhecidos. Este exemplo sugere que as empresas podem adotar um posicionamento relativamente simples em relação à qualidade. Na verdade, elas não tem outra opção se os competidores já estabeleceram sólidas reputações de excelência. Nessas circunstâncias, os novos concorrentes poderão apenas assegurar uma posição defensiva, se voltarem suas ações para uma dimensão da qualidade ainda não explorada. Essa colocação aplica-se muito bem à industria de pianos. Durante muitos anos, a firma Steinway & Sons foi a líder em qualidade; seus instrumentos eram conhecidos pela sua sonoridade uniforme (a uniformidade dos sons e o timbre de cada uma das 88 notas do teclado), suavidade dos registros (a harmonia dos tons no seu espectro de notas), duração dos tons, sua vida útil e seu acabamento impecável. Cada piano era feitoartesanalmente, sendo únicos seu som e estilo. Apesar dessas vantagens, a Steinway foi surpreendida pela Yamaha, uma firma japonesa que desenvolveu uma sólida reputação de qualidade num curto espaço de tempo. Isso foi obtido dando ênfase a confiabilidade e conformidade, duas dimensões de qualidade que não eram prioritariamente consideradas pela Steiway, que se preocupava com a arte e a unicidade. Na verdade, um dos maiores pontos de suporte às vendas da Yamaha, é que todos os pianos tem o mesmo som. As duas companhias tem altos lucros, apesar dos enfoques diferentes de qualidade. Este exemplo mostra a importância da escolha adequada do enfoque de qualidade. A escolha de uma posição defensiva, contudo, é apenas um primeiro passo. Devem ser atendidos requisitos operacionais, pois cada dimensão da qualidade impõe suas próprias exigências às companhias. Um alto desempenho requer uma atenção FACULDADE ANHANGUERA DE JUNDIAÍ Disciplina: GESTÃO DA QUALIDADE Prof. Wilson Roberto Meneguelo Pág. 11 especial ao se projetar alem de uma equipe de projetos muito boa; uma durabilidade superior exige o uso de componentes mais duráveis e uma cooperação muito grande entre departamentos de engenharia e compras; já a conformidade superior requer atenção às especificações escritas e precisão na montagem; e, uma ótima assistência técnica requer um sólido departamento de serviços ao consumidor e representantes de campo ativos. Em cada caso, uma função diferente assume o papel principal, sendo necessárias diferentes tarefas para se alcançar o sucesso. As implicações gerenciais desta análise parecem obvias; após selecionar as dimensões de qualidade nas quais a empresa decide competir, ela deve estruturar sua organização e procedimentos para atender os fins desejados. Caso contrário, dar-se á importância aos departamentos errados, ou serão cumpridas as missões erradas. A desagregação do conceito de qualidade permite às empresas apontar esses requerimentos operacionais tão cuidadosamente como se fossem mercados ainda inexplorados. Questões: 1) Quais são as principais características das eras da qualidade definidas por Garvin? 2) De acordo com Shiba, quais são as principais características das eras da qualidade? 3) Tomando como exemplo uma calculadora eletrônica, defina como seria interpretada os 5 enfoques da qualidade (transcendental, baseada no valor, no usuário, na fabricação e no produto). 4) Qual a utilidade de se conhecer os 5 enfoques da qualidade para o engenheiro de produção? 5) Tomando como exemplo um tênis de corrida, desses dotados de sistema de amortecimento. Defina quais seriam as 8 dimensões da qualidade. Cite exemplos para cada uma das 8 dimensões da qualidade. 6) Qual a importância de se conhecer as 8 dimensões da qualidade? Cite um exemplo de aplicação desse conhecimento. Bibliografia GARVIN, David; O que realmente significa qualidade? Harvard University. CARVALHO, M.M.de. Gestão da qualidade: teoria e casos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
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