Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 AULA 02 DAS PESSOAS JURÍDICAS ��� Itens específicos previstos no último edital da ESAF para o AFRFB e que serão abordados nesta aula →→→ Pessoa Jurídica: Pessoa Jurídica: conceito, classificação, começo e fim de sua existência legal, domicílio e desconsideração. Subitens →→→ Das Pessoas Jurídicas. Conceito. Classificação: Pessoa Jurídica de Direito Público e de Direito Privado. Personalidade Jurídica. Início da Personificação e Término de sua existência legal. Registro e Representação. Domicílio. Responsabilidade. Grupos não personificados. Abuso e Desconsideração da Personalidade Jurídica. ��� Legislação a ser consultada →→→ Código Civil: arts. 40 a 69 (Pessoas Jurídicas). Ler também os dispositivos referentes ao domicílio da Pessoa Jurídica (em especial o art. 75, CC). ÍNDICE Conceito de Pessoa Jurídica . ........................................................... 02 Natureza Jurídica . ........................................................................... 03 Pressupostos de Existência . ............................................................ 03 Representação . ............................................................................... 03 Classificação Geral . ......................................................................... 05 Pessoa Jurídica de Direito Público . .................................................. 06 Pessoa Jurídica de Direito Privado . ................................................. 12 Início da Existência Legal . .............................................................. 20 Registro . ......................................................................................... 21 Domicílio ......................................................................................... 22 Responsabilidade ............................................................................ 22 Extinção .......................................................................................... 25 Grupos Despersonalizados . ............................................................. 26 Desconsideração da Personalidade Jurídica . ................................... 27 RESUMO DA AULA ............................................................................ 32 Bibliografia Básica ........................................................................... 34 EXERCÍCIOS COMENTADOS . ............................................................ 35 DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 INTRODUÇÃO O homem, desde seus primórdios, sempre teve necessidade de se agrupar para garantir a subsistência e atingir fins comuns. A necessidade de circulação de riquezas como fator de desenvolvimento, fez com que se estabelecessem nas sociedades grupos de atuação conjunta na busca de objetivos semelhantes. E o Direito, ante a necessidade crescente de agilidade nas negociações, não ignorou estas unidades coletivas. Portanto, a pessoa jurídica é fruto desta evolução histórica-social. CONCEITO De forma técnica pessoa jurídica pode ser definida como a união de pessoas naturais ou de patrimônios, com o objetivo de atingir determinadas finalidades, sendo reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações. Assim, como sujeito de relações jurídicas, possui personalidade jurídica individual e própria, distinta da personalidade dos membros que a compõe. Observação. A doutrina usa outras expressões para se referir às pessoas jurídicas, tais como: pessoa moral, intelectual, coletiva, abstrata, fictícia, “ente de existência ideal”, etc.. Na realidade tais expressões não foram adotadas pelo nosso ordenamento jurídico, mas sim por leis de outros países, sendo “importadas” pela nossa doutrina. Mas os examinadores aproveitam e pedem essa a terminologia nas provas. Não é raro cair a seguinte indagação em um concurso: “quais as características da pessoa moral?” À primeira vista pode-se pensar que pessoa moral é sinônimo de pessoa física (pois somente uma pessoa física é que teria, digamos, ‘moral’). No entanto, o correto é dizer que pessoa moral (expressão adotada pela França) é sinônimo de pessoa jurídica. Portanto, prestem atenção quanto aos sinônimos usados nas questões pelos examinadores, pois podem “derrubar” um excelente candidato, que conhece a matéria, mas desconhecia a expressão. As pessoas jurídicas têm direito à personalidade (identificação, liberdade para contratar, boa reputação, etc.), aos direitos reais (pode ser proprietária, usufrutuária, etc.), aos direitos industriais (art. 5°, inciso XXIX da CF/88), aos direitos obrigacionais (podendo comprar, vender, alugar ou contratar de uma forma geral) e até mesmo aos direitos sucessórios (podem adquirir bens causa mortis, ou seja, por testamento). É interessante acrescentar que os dispositivos relativos aos direitos da personalidade da pessoa natural (arts. 11 a 21, CC) também podem ser aplicados em relação à pessoa jurídica, no que couber, por força do art. 52, CC. E é por isso que uma pessoa jurídica tem direito ao nome, à marca, à imagem, à propriedade, ao segredo, etc. Segundo a doutrina ela tem honra objetiva, pois tem patrimônio, reputação, bom nome, etc. Assim, no campo do Direito Civil, a pessoa jurídica pode ser vítima e sofrer danos morais, tendo, inclusive, direito de acionar o Poder Judiciário para exigir reparação desses danos. Trata-se da Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 33 NATUREZA JURÍDICA Diversas teorias tentam identificar a natureza da personalidade da pessoa jurídica. Uma corrente doutrinária nega a sua existência (negativista). Mas a corrente afirmativista é a majoritária. E esta se divide basicamente em dois grupos, sendo que cada um deles possui uma vasta subdivisão: a) Teorias da Ficção (a pessoa jurídica é apenas uma criação artificial da lei ou da doutrina); b) Teorias da Realidade (realidade orgânica ou objetiva, realidade jurídica, realidade técnica, etc.). Como nosso curso é objetivo, visando concursos públicos, vamos deixar de lado a análise dessas inúmeras teorias sobre natureza da pessoa jurídica e nos ater somente ao que tem prevalecido nos concursos públicos. Direto ao Ponto: de todas as teorias, a que melhor se adapta ao nosso ordenamento jurídico, sendo adotada pelos mais renomados doutrinadores e que tem caído em concursos (e é isso o que nos interessa), é a Teoria da Realidade Técnica, onde a pessoa jurídica existe de fato (e não como uma mera abstração). O próprio Estado reconhece a existência de grupos de pessoas que se unem na busca de determinados fins, entendendo ser necessária a existência de personalidade jurídica própria, distinta da dos membros que a compõe. Assim, a personalidade jurídica é um atributo que a ordem jurídica estatal outorga aos entes coletivos. PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DA PESSOA JURÍDICA A) Vontade humana criadora. Trata-se da affectio societatis, ou seja, intenção específica dos sócios em constituir uma entidade com personalidade distinta da de seus membros. B) Obediência aos requisitos impostos pela lei para sua formação. As pessoas jurídicas somente existem porque a lei assim o permite. Portanto, ela necessita se submeter aos requisitos impostos pela própria lei, entre eles, como veremos adiante, a elaboração dos atos constitutivos e seu respectivo registro. C) Licitude de sua finalidade, ou seja, deve ter objeto lícito abrangendo em seu conceito: a moralidade dos atos e os objetivos perseguidos.REPRESENTAÇÃO Por não poder atuar por si mesma, a pessoa jurídica deve ser representada por uma pessoa física ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Pelo art. 47, CC, todos os atos negociais exercidos pelo representante, dentro dos limites de seus poderes estabelecidos no estatuto social, obrigam a pessoa jurídica, que deverá cumpri-los. Mas se o representante extrapolar estes poderes, responderá pessoalmente pelo excesso, ou seja, a sociedade fica isenta de responsabilidade perante terceiros (exceto se foi beneficiada com a prática do ato, quando então passará a ter responsabilidade na proporção do benefício DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 44 auferido). A doutrina chama isso de teoria ultra vires societatis (além do conteúdo da sociedade), caracterizada pelo abuso de poder do administrador, ocasionando violação do objeto social lícito para o qual foi constituída a empresa. 1. Pessoas jurídicas de direito público interno são representa- das (art. 12, I e II do Código de Processo Civil): a) União, Estados, Distrito Federal e Territórios: por seus Procuradores. b) Municípios: por seu Prefeito ou Procurador. 2. Demais pessoas jurídicas (art. 12, VI, CPC): em regra é a pessoa indicada em seu ato constitutivo. Na omissão, a representação será exercida por seus diretores. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva (gerência colegiada), as decisões serão tomadas pela maioria dos votos, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso (art. 48, CC). Se houver vacância geral na administração o Juiz deverá nomear um administrador provisório (art. 49, CC). Como no mundo dos negócios é praticamente impossível o administrador de uma grande empresa estar presente a todos os eventos, pode-se outorgar mandato, que é uma espécie de contrato. Ou seja, transfere-se parte dos poderes para que uma terceira pessoa (mandatário) pratique atos em nome da pessoa jurídica (mandante). ���Não confundir ��� Mandatário X Preposto Segundo o art. 653, CC, “opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses”. Já o preposto é uma figura que encontramos no Direito do Trabalho. Trata-se de um empregado da empresa, que preferencialmente exerce cargo de gerente ou outro de confiança e que tenha conhecimento dos fatos constantes da reclamatória trabalhista, com capacidade para defender ou esclarecer os temas e devidamente autorizado (carta de preposição) a representá-la junto à Justiça do Trabalho. Prazos para Anulação As questões de concurso costumam pedir duas espécies de prazo de anulação neste tópico. a) Anulação das decisões dos administradores. Art. 48, parágrafo único: decai em três anos o direito de anular as decisões tomadas por maioria de votos em administração coletiva, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude. b) Anulação da constituição da pessoa jurídica. Art. 45, parágrafo único: decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 55 CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS PESSOAS JURÍDICAS A) Quanto à Nacionalidade Elas podem ser consideradas como nacionais ou estrangeiras, tendo em vista sua articulação e subordinação à ordem jurídica que lhe conferiu personalidade, sem se ater, em regra, à nacionalidade dos membros que a compõe e à origem do controle financeiro. Sociedade Nacional é a organizada conforme a lei brasileira e tem no País a sede de sua administração (arts. 1.126 a 1.133, CC). A Sociedade Estrangeira não poderá funcionar no País sem autorização do Poder Executivo e ficará sujeita aos Tribunais brasileiros quanto aos atos aqui praticados (arts. 1.134 a 1.141, CC). B) Quanto à Estrutura Interna 1) Universitas Personarum nelas, o mais importante é o conjunto de pessoas, que apenas coletivamente goza de certos direitos e os exerce por meio de uma vontade única. O objetivo é o bem-estar de seus membros. Ex.: as sociedades (de uma forma geral) e as associações. 2) Universitas Bonorum nelas, o mais importante é o patrimônio personalizado destinado a um determinado fim e que lhe dá unidade. O objetivo é o bem-estar da sociedade. Ex.: fundações. O patrimônio e as finalidades (objeto) das fundações são seus elementos essenciais. C) Quanto às Funções e Capacidade Podem ser divididas em pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado (art. 40, CC). Este é o item mais importante, pois é o que tem maior incidência em concursos. Daremos agora uma visão geral e panorâmica sobre o tema. A seguir vamos analisar cada uma das espécies e subespécies, de forma minuciosa. I. DIREITO PÚBLICO A) Interno (art. 41, CC) 1) Administração Direta: União, Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios. 2) Administração Indireta: autarquias, associações e demais entidades criadas por lei (são as fundações públicas de direito público). B) Externo (art. 42, CC): Estados estrangeiros e demais pessoas regidas pelo direito internacional público. II. DIREITO PRIVADO (art. 44, CC) A) Universitas Personarum 1) Sociedades: a) Simples. b) Empresária. 2) Associações, partidos políticos e organizações religiosas. 3) Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 66 B) Universitas bonorum 1) Fundações particulares (segundo a doutrina também as fundações públicas de direito privado). I. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PUBLICO O Estado é a pessoa jurídica de direito público por excelência. Todo Estado independente é formado por três elementos essenciais: a) povo; b) território; e c) governo soberano. Costuma-se dizer que o Estado é o povo, em dado território, politicamente organizado, segundo sua livre e soberana vontade. I.1) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO EXTERNO Segundo o art. 42, CC, são pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros (outros países soberanos, como o Uruguai, Canadá, Dinamarca, etc.) e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público, ou seja, as uniões aduaneiras com o objetivo de facilitar o comércio exterior (ex.: Mercosul) e os organismos internacionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas), OEA (Organização dos Estados Americanos), FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - Food and Agriculture Organization), etc. Certa vez vi cair em um concurso: A Santa Sé é: ...? Ora, a Santa Sé é considerada como um País autônomo. É o Estado do Vaticano, a cúpula governativa da Igreja Católica. Portanto, a resposta considerada como correta foi: “pessoa jurídica de direito público externo”. I.2) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO INTERNO São aquelas cuja atuação se restringe aos interesses e limites territoriais do Estado. É a nossa nação, politicamente organizada, nos moldes previstos na Constituição Federal de 1988. A) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO INTERNO DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA OU CENTRALIZADA (art. 41, I, II e III, CC) São elas: União, Estados-membros, Distrito Federal, Territórios e os Municípios legalmente constituídos. Costuma-se dizer que o Brasil é detentor de soberania, ou seja, não deve obediência jurídica a nenhum outro Estado. É juridicamente ilimitada no plano internoe somente encontra limites na soberania de outro País. Já as demais entidades dentro do Brasil são detentoras de autonomias. A autonomia dos entes da federação brasileira está devidamente delimitada pelo Direito. Esta autonomia, na verdade, é o exercício do poder do Estado com a observância dos parâmetros jurídicos estabelecidos em uma norma de hierarquia superior (em outras palavras: a própria Constituição Federal). DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 77 A União designa a nação brasileira, nas suas relações com os Estados- membros que a compõe e com os cidadãos que se encontram em seu território. Observação. República Federativa do Brasil e União são termos usados para significar os mesmos entes; há uma identidade entre eles. No entanto a doutrina costuma afirmar que a expressão República Federativa do Brasil é usada no plano externo, para identificar o Brasil perante os outros países. Neste caso seria uma pessoa jurídica de direito público externo (ou internacional). Já a expressão União é usada no plano interno (pessoa jurídica de direito público interno). No Direito Constitucional aprendemos que na Federação há um laço de unidade entre as diversas coletividades federadas, de modo a mostrá-las, em suas relações internacionais, como um Estado Único. Lembrem-se de que entre os entes da Federação (ex: a União e os Estados- membros) não há hierarquia, mas sim uma coordenação harmônica de poderes distribuídos pela Constituição. Há assim um só Estado soberano/federal (a União) e Estados-membros/federados, sendo que ambos são titulares do poder para produzir o Direito (ou seja, possuem competência legislativa). Os Estados federados (Estados-membros) possuem autonomia administrativa, competência e autoridade legislativa, executiva e judiciária sobre os negócios locais. Os Municípios legalmente constituídos também se encaixam nesta classificação, pois foram assegurados pela Constituição Federal; eles têm interesses e economia próprios. Também há previsão expressa em relação ao Distrito Federal. Mas em relação a ele a natureza jurídica é controvertida. Alguns dizem que ele é um município anômalo; outros que é uma autarquia territorial; outros que é uma circunscrição territorial assemelhada aos territórios. Finalmente outros afirmam que é “mais do que um município e menos que um Estado”. Possui previsão expressa no art. 32, CF/88. Vejamos: a) o Distrito Federal rege-se por uma Lei Orgânica (típica de Municípios) e não por uma Constituição Estadual (típica dos Estados-membros); b) o Poder Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa (mistura de Câmara de Vereadores – Poder Legislativo Municipal e Assembleia Legislativa – Poder Legislativo Estadual) composta por Deputados Distritais eleitos, acumulando as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios; c) o Chefe do Poder Executivo é um Governador (típico dos Estados) Distrital e não um Prefeito (típico dos Municípios); d) é proibida a sua divisão em municípios. Há uma grande crítica em relação ao texto do art. 18, §1o, CF/88, pois ele afirma que Brasília é a Capital Federal, quando se devia ter mantido a nossa tradição e correção técnica afirmando que “o Distrito Federal é a capital da União”. Na realidade Brasília é o nome de uma das Regiões Administrativas do Distrito Federal (RA-I). Ela é um núcleo urbano, uma cidade que serve de centro político à União, mas não pode ser considerada como um Município, juridicamente falando. Esta região, em termos urbanos, compreende as “Asas” Sul e Norte e a área central do chamado “Plano Piloto”. No entanto a Lei DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 88 Orgânica do Distrito Federal não menciona os limites de Brasília. Já as demais aglomerações urbanas situadas fora do Plano Piloto pertencem a outras Regiões Administrativas. Embora o Decreto n° 19.040/98 tenha proibido a expressão, ainda se costuma usar o termo cidade-satélite (ex.: Gama, Taguatinga, Brazlândia, Sobradinho, Planaltina, Ceilândia, Guará, etc.). Chamo atenção para os Territórios. Como sabemos, já não existem mais os Territórios no Brasil. Mas apesar de não mais existirem há previsão expressa na Constituição Federal, possibilitando a criação de eventual novo Território, por meio de Lei Complementar (arts. 18, §2° e 48, inciso VI, CF/88). Para o Direito Civil ele será considerado como sendo uma pessoa jurídica de direito público interno, pois há previsão expressa no art. 41, inciso I I , CC. Alguns autores classificam os territórios como “autarquias territoriais” dando a entender que seriam pessoas jurídicas de direito público interno de administração indireta (há uma grande discussão sobre este tema, mas diversos civilistas preferem classificá-los como de administração direta). Podemos dizer que o Brasil, nos termos da Constituição Federal de 1988, possui: a) Forma de Governo: republicano (eletividade e temporariedade dos mandatos do Chefe do Poder Executivo). b) Forma de Estado: federal (descentralização política: em um mesmo território há diferentes entidades políticas autônomas – União, Estados, Distrito Federal, Municípios). c) Sistema de Governo: presidencialista (Presidente da República é o único Chefe do Poder Executivo, acumulando as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo, cumprindo mandato por prazo determinado, não dependendo da confiança do Poder Legislativo para a investidura e o exercício do cargo). ���CONCLUSÃO: O Brasil é uma República Federativa, com sistema Presidencialista. Além disso (doutrina), possui como Regime de Governo o Estado Democrático e de Direito. B) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO INTERNO DE ADMINISTRAÇÃO INDIRETA OU DESCENTRALIZADA (art. 41, IV e V, CC) São órgãos descentralizados, criados por lei, com personalidade jurídica própria para o exercício de atividade de interesse público. São eles: a) Autarquias. b) Associações Públicas (Lei n° 11.107/05). c) Demais entidades de caráter público criadas por lei. Vejamos cada um destes itens: AUTARQUIAS São pessoas jurídicas de direito público, que desempenham atividade administrativa típica, com capacidade de auto-administração nos limites estabelecidos em lei. Embora ligadas ao Estado, elas desfrutam de certa autonomia, possuindo patrimônio e orçamento próprio, mas sob o DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 99 controle do Executivo que o aprova por Decreto e depois o remete ao controle do Legislativo. As autarquias não têm capacidade política (isto é, não podem legislar e criar o próprio Direito, devendo obedecer a legislação administrativa à qual estão submissas), porém podem baixar instruções normativas (que não são consideradas leis em sentido estrito). Elas são criadas por lei específica (iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo), com personalidade jurídica de direito público; integram a administração indireta, possuindo atribuições estatais destinadas à realização de obras e serviços públicos, de cunho social, geralmente ligadas a área da saúde, educação, etc. (excluem-se, portanto as de natureza econômica ou industrial). Portanto elas devem atuar em setores que exigem especialização por parte do Estado, com organização própria, administração mais ágil e pessoal especializado. Seus bens são considerados públicos. A autarquia nasce com a vigência da lei que a instituiu, não havendo necessidade de registro. Da mesma forma, sua extinção também deve ser feita por meio de lei específica (princípio da simetria das formas jurídicas). Seus atos são consideradoscomo administrativos. Como possui personalidade jurídica própria, ela se desliga do ente criador. Portanto, se alguém quiser discutir judicialmente a revisão de sua aposentadoria, deve ingressar com ação judicial não contra a União (entidade criadora), mas contra o próprio INSS como entidade autônoma e com patrimônio próprio. Ex.: INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), CVM (Comissão de Valores Mobiliários), CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Imprensa Oficial do Estado, etc. ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS O art. 241, CF/88 autorizou a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios a realizarem mediante lei os chamados consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargo, serviços, pessoal e bem bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos. A Lei n° 11.107/05 regulou os consórcios públicos, cumprindo o disposto na Constituição sendo uma nova forma de se prestar um serviço público. Essa lei optou por atribuir personalidade jurídica aos consórcios públicos, dando-lhes a forma de uma associação, podendo ser de pessoa jurídica de direito público (associação pública) ou de direito privado. Quando o consórcio público for pessoa jurídica de direito privado, assumirá a forma de “associação civil”, sendo que aquisição da personalidade ocorre com a inscrição dos atos constitutivos no registro civil das pessoas jurídicas. Mesmo assim, estes consórcios estão sujeitos às normas de direito público no que diz respeito à realização de licitação, celebração de contratos, prestação de contas, admissão de pessoal, etc. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1100 Quando criado com personalidade de direito público, o consórcio público se apresenta como uma associação pública. O consórcio público será constituído por contrato, cuja celebração dependerá de prévia subscrição de protocolo de intenções. As questões de prova em concurso têm entendido que as associações públicas são uma espécie de autarquia (e não uma nova espécie de entidade da administração indireta). FUNDAÇÕES PÚBLICAS Fundação, de uma forma geral, é uma instituição do direito privado. Sua criação resulta da iniciativa de uma pessoa (física ou jurídica), que destina um acervo de bens particulares (que adquirem personalidade jurídica) para a realização de finalidades sociais, sem natureza lucrativa (educacional, assistencial, etc.). Compreende sempre: patrimônio e finalidade. Ultimamente o Poder Público também tem instituído fundações para a execução de algumas atividades de interesse coletivo, sem finalidade lucrativa (assistência social, saúde, educação, pesquisa científica, cultura, proteção ao meio ambiente, etc.). Elas integram a administração pública indireta no nosso sistema jurídico, pois uma pessoa política faz a dotação patrimonial e destina recursos orçamentários para a manutenção da entidade. No entanto, como suas atividades não são exclusivas do Poder Público costuma-se dizer que elas exercem atividades atípicas do Poder Público. As fundações públicas se assemelham às fundações particulares, mas se diferenciam nos seguintes aspectos: enquanto a fundação privada é criada a partir de um ato (inter vivos ou causa mortis) de um particular e com patrimônio deste, a fundação pública é criada mediante uma lei específica, a partir de um patrimônio público. Ex.: FUNASA (Fundação Nacional da Saúde), FUNARTE (Fundação Nacional das Artes), FUNAI (Fundação Nacional do Índio), FBN (Fundação Biblioteca Nacional), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), FUB (Fundação Universidade de Brasília), etc. Se observarmos o art. 41, CC, que arrola as pessoas jurídicas de direito público, vamos concluir que ele não menciona a “fundação”, como sendo uma de suas espécies. No entanto, segundo a doutrina, as fundações públicas estariam implícitas na expressão “demais entidades de caráter público criadas por lei”. E Constituição Federal de 1988, em especial após a Emenda Constitucional n° 19/98 (art. 37, XIX), reforçou esta posição. Observação 01. Sobre este tema, os civilistas são bem objetivos: fundação pública é uma pessoa jurídica de direito público interno (apesar de não haver previsão expressa neste sentido). Ponto! Porém... para os administrativistas a coisa não é tão simples (vou falar sobre isso de forma superficial, pois isso não interessa tanto ao Direito Civil). Para o Direito Administrativo a posição mais aceita é que existem duas espécies de fundações públicas: a) Fundações públicas com personalidade jurídica de direito público: criadas diretamente pela edição de uma lei específica (Poder DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1111 Legislativo). Elas adquirem a personalidade jurídica com a vigência da lei instituidora. Na realidade elas são espécies do gênero autarquias (são também chamadas de fundações autárquicas ou autarquias fundacionais), sujeitando-se ao regime jurídico do direito público (idêntico ao das autarquias), com todas as suas prerrogativas e restrições. Segundo a doutrina somente estas pertenceriam ao direito público. b) Fundações públicas com personalidade jurídica de direito privado: há uma autorização dada em lei para criação da entidade; após isso o Poder Executivo elabora os atos constitutivos da fundação e a seguir deve providenciar a inscrição no registro competente. Somente após esse registro ela adquire a personalidade. Possuem um caráter híbrido; parte regulada pelo direito privado e parte pelo direito público. Segundo a doutrina elas pertencem ao direito privado (seus bens não são públicos, não estão sujeitas ao regime de precatórios, etc.). Seja a espécie que for as fundações públicas não estão sujeitas ao disposto no art. 66, CC, segundo o qual o Ministério Público estadual velará pelas fundações onde estiverem situadas. O verbo “velar” tem um sentido jurídico atribuindo ao Ministério Público uma função de “curador” das fundações. Mas isso somente se aplica às fundações genuinamente particulares. É certo que as fundações públicas sofrem um controle, mas este é o mesmo que é exercido sobre todas as entidades da administração indireta. Observação 02. Segundo a doutrina (principalmente ligada ao Direito Administrativo), todos os temas que falamos acima são espécies de autarquias. Explico! Há quem sustente que autarquia representa um gênero, sendo dividida em: a) autarquias comuns ou ordinárias: são aquelas a que nos referimos mais acima como item autônomo. b) autarquias sob regime especial: são aquelas em que a lei instituidora prevê determinados instrumentos aptos a lhes conferir maior grau de autonomia perante o Poder Público do que as autarquias comuns. Os exemplos clássicos são o BACEN (Banco Central do Brasil) e a USP (Universidade de São Paulo). Nestas espécies também estariam incluídas as agências reguladoras, entidades que possuem alto grau de especialização técnica, incumbidas de normatizar e fiscalizar a prestação de certos serviços de grande interesse público. Ex.: ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), etc. Fala-se, também em “agências executivas”. Estas, no entanto, não são uma espécie de entidade, mas sim uma qualificação que pode serconferida pelo poder público às autarquias em geral ou às fundações públicas que com ele celebrem contrato de gestão (art. 37, §8°, CF/88; ver também o art. 51 da Lei n ° 9.649/98). Ou seja, se uma autarquia cumpre determinadas metas estabelecidas em um contrato, o Poder Público a qualifica como agência executiva. Com isso amplia-se a sua autonomia gerencial, orçamentária e DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1122 financeira (sem prejuízo, é evidente, do controle a que se sujeitam todas as entidades da administração indireta). c) autarquias fundacionais (há quem as chame de fundações autárquicas): são as fundações públicas com personalidade de direito público a que nos referimos acima. Na realidade o regime jurídico a que se sujeitam estas fundações e as autarquias comuns é idêntico. A diferença é simplesmente conceitual: define-se as autarquias como um serviço público personificado, em regra típico do Estado e estas fundações como um patrimônio personalizado destinado a finalidade específica de interesse social. d) associações públicas: são os consórcios públicos que falamos acima. Observação 03. Há ainda quem acrescente outras duas espécies: a) autarquias territoriais: são os territórios federais, responsáveis pela execução dos serviços públicos em determinadas áreas geográficas; b) autarquias corporativas (ou profissionais): exercem o poder de polícia sobre determinadas profissões. Ex.: Conselho Federal de Medicina (CFM). No entanto, de acordo com o STF, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não é autarquia corporativa e muito menos pertence à Administração Pública. DIFERENÇAS BÁSICAS: AUTARQUIA X FUNDAÇÃO PÚBLICA AUTARQUIAS FUNDAÇÕES Atribuições Atividades típicas (exclusivas) ou atípicas da Administração. Atividades atípicas da Administração. Regime Jurídico Apenas Direito Público. Direito Público ou Privado. Dotação Patrimonial Exclusivamente público. Exclusivamente público ou publico e privado Espécies Comuns, especiais, fundacionais, associações públicas (além das territoriais e corporativas). Fundações de Direito Público (autárquicas) e de Direito Privado. II. PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO A pessoa jurídica de direito privado é instituída por iniciativa dos particulares em geral. A doutrina costuma usar a expressão “Corporação” para designar o gênero, tendo como divisão (art. 44, CC): associações (a doutrina engloba neste item os sindicatos, pois eles têm natureza de associação civil), sociedades, fundações, organizações religiosas, partidos políticos e as empresas individuais de responsabilidade limitada. Vejamos. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1133 1. FUNDAÇÕES PARTICULARES A doutrina costuma usar a seguinte expressão: fundações são universalidades de bens (resultam da afetação de um patrimônio e não da união de indivíduos), personificados, em atenção ao fim que lhes dá unidade. Portanto, dois são seus elementos fundamentais: a) patrimônio; b) finalidade (que é imutável e não pode visar lucro). Fundação é o complexo de bens livres colocados por uma pessoa física ou jurídica, a serviço de um fim lícito e especial, com alcance social pretendido por seu instituidor, e em atenção ao disposto em seu estatuto. Uma pessoa (natural ou jurídica) separa parte de seu patrimônio, criando a fundação para atingir objetivo não econômico. A partir de sua criação, o patrimônio da fundação não pertence mais ao patrimônio da pessoa que a criou, uma vez que passa a ter personalidade própria. Ex.: a Fundação Roberto Marinho não pode ser confundida com a Rede Globo de Televisão. O próprio instituidor poderá administrar a fundação (forma direta) ou encarregar outrem para este fim (forma fiduciária). De acordo com o art. 62, parágrafo único do CC terão sempre fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. Outros exemplos: Fundação São Paulo (mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Fundação Ayrton Senna, etc. São criadas a partir de uma escritura pública (ato inter vivos) ou de um testamento (causa mortis). Portanto elas não podem ser criadas por instrumento particular ou privado. Para a sua criação pressupõem-se: • Dotação de bens livres: o instituidor destina determinados bens que comporá o patrimônio da fundação, que deve ser apto a produzir rendas ou serviços que possibilitem alcançar os objetivos visados, sob pena de frustrá-los. • Elaboração de estatutos com base em seus objetivos. Eles devem ser submetidos à apreciação do Ministério Público estadual que os fiscalizará. O próprio MP pode elaborar os estatutos, caso o mesmo não seja feito por quem de direito. Em regra o seu objetivo é imutável. No entanto é possível a reforma dos estatutos, desde que: seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; não contrarie ou desvirtue o seu fim; seja aprovada pelo órgão do Ministério Público (caso este a denegue, poderá o Juiz supri-la, a requerimento do interessado). Se não houver unanimidade da alteração do estatuto, de haver a impugnação pela minoria vencida no prazo decadencial de 10 dias (art. 68, CC). • Especificação dos fins: como vimos, eles devem ser sempre religiosos, morais, culturais ou de assistência. A exemplo da associação, se gerar receita, esta deve ser revertida para ela mesma. • Previsão do modo de administrá-la: embora seja interessante que a fundação preveja o modo pelo qual ela deva ser administrada, este item não é essencial para sua existência. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1144 Nascimento As fundações surgem com o registro de seus atos constitutivos no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Características • Seus bens, em regra, são inalienáveis (não podem ser vendidos ou doados) e impenhoráveis (não pode recair penhora). Para uma eventual venda de seus bens é necessário ingressar com uma ação judicial, onde é consultado o Ministério Público. Posteriormente o Juiz decide, determinando se é ou não caso de venda desses bens. Como regra o produto da venda deve ser aplicado na própria fundação. • O fundador é obrigado a transferir para a fundação a propriedade sobre os bens dotados; se não o fizer, os bens serão registrados em nome dela por ordem judicial. • Não há sócios. • Os estatutos são suas leis básicas. • Os administradores devem prestar contas ao Ministério Público. Observação. As chamadas organizações não governamentais (ONGS), pertencentes ao chamado terceiro setor, juridicamente organizam-se no Brasil como fundações ou associações. Parte da doutrina tem defendido o uso da terminologia “organizações da sociedade civil” para designar tais instituições. Supervisão das Fundações As fundações privadas são supervisionadas pelo Ministério Público do Estado onde estiverem situadas (art. 66, CC), através da curadoria das fundações, que deve zelar pela sua constituição e funcionamento. Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público estadual (art. 66, §2°, CC). A doutrina entende que não há esta fiscalização do Ministério Público em relação às fundações públicas. ��� Atenção ��� O art. 66, §1°, CC prevê que se a fundação funcionar no Distrito Federal caberá o encargo ao Ministério Público Federal. No entanto este dispositivo foi objeto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, sendo que o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade deste parágrafo, posto que se a fundaçãofuncionar no DF, a competência para fiscalização é do Ministério Público do Distrito Federal e Territorial (MPDFT). Ressalva-se, no entanto, segundo a decisão do STF, a atribuição do Ministério Público federal para velar pelas fundações federais de direito público (ADIN n° 2.794-8). Término Não há um prazo determinado para o funcionamento de uma fundação. No entanto, nada impede que o próprio instituidor estabeleça um prazo para esse funcionamento. Por outro lado as fundações serão extintas se (art. 69, CC): a) tornarem-se ilícitas (o Ministério Público pode ingressar com ação DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1155 visando sua extinção), impossíveis ou inúteis as suas finalidades; b) vencido o prazo de sua existência. Uma vez extinta a fundação, o destino do seu patrimônio será o previsto nos estatutos. Caso os estatutos sejam omissos, seu patrimônio será destinado, por determinação judicial, a outras fundações com finalidades semelhantes. 2. PARTIDOS POLÍTICOS Os partidos políticos são entidades integradas por pessoas com ideias comuns (pelo menos em tese...), tendo por finalidade conquistar o poder para a consecução de um programa. São associações civis que visam assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. De acordo com o art. 17, §2°, CF/88 e a Lei n° 10.825/03, os partidos políticos, embora tenham um caráter público, passaram a ser considerados como pessoas jurídicas de direito privado, tendo natureza de associação civil. Os estatutos devem ser registrados no cartório competente do Registro Civil de Pessoas Jurídicas da Capital Federal e no Tribunal Superior Eleitoral (Lei n° 9.096/95). 3. ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito privado, formadas pela união de indivíduos com o propósito de culto a determinada força (ou forças) sobrenatural, por meio de doutrina e ritual próprios, envolvendo preceitos éticos. Atualmente a Lei n° 10.825/03 (que alterou o Código Civil) deixou bem claro que elas são pessoas jurídicas de direito privado, tendo também natureza de associação civil. É vedado ao poder público negar-lhe o reconhecimento ou registro de seus atos constitutivos necessários a seu funcionamento. Enunciado 142 da III Jornada de Direito Civil do STJ: “Os partidos políticos, os sindicatos e as associações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se-lhes o Código Civil”. 4. ASSOCIAÇÕES As associações são caracterizadas pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos (comunhão de esforços para um fim comum). Pode até gerar receita (“lucro”). No entanto este não será dividido entre os associados; deve ser revertido em benefício da própria associação. O órgão máximo da associação não é o diretor-presidente, mas a Assembleia Geral. Sua competência e atribuições encontra-se estabelecido no art. 59, CC. O membro da associação é o associado. Ele possui um vínculo direto com a finalidade da associação, não possuindo qualquer vínculo com os demais associados; não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocas (art. 53 e seu parágrafo único, CC), de forma diferente das sociedades, onde há este vínculo. No entanto é possível a existência de uma categoria de associados com vantagens especiais (art. 55, CC). Salvo DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1166 autorização estatutária, é vedada a transmissibilidade da qualidade de associado (art. 56, CC). É admissível a exclusão de um associado se houver justa nos termos do estatuto, após o trâmite de um procedimento administrativo que assegure o contraditório e a ampla defesa, bem como recurso (art. 57, CC); trata-se do “devido processo legal privado”: eficácia horizontal dos direitos fundamentais. O ato constitutivo da associação é o seu estatuto que deve conter os requisitos do art. 54, CC. O fato de uma associação possuir determinado patrimônio e realizar negócios para aumentar esse patrimônio não a desnatura, pois não irá proporcionar lucro aos associados. Portanto, elas não estão impedidas de gerar renda para manter suas atividades. A convocação dos órgãos deliberativos deve ser feita na forma do estatuto, garantindo-se a 1/5 dos associados o direito de promovê-la. As associações podem ser civis, religiosas, pias (de caridade), morais, educacionais, científicas ou literárias, políticas, esportivas, recreativas e até de utilidade pública. O art. 5° da CF/88 (incisos XVII a XXI), ao dispor sobre as associações, estabelece que: a) é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; b) a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; c) as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; d) ninguém poderá ser compelido a associar-se ou permanecer associado; e, e) as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente. O estatuto da associação deve ser registrado no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Com ele passa a ter aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações, possuindo capacidade patrimonial e adquirindo vida própria, que não se confunde com a de seus membros. A associação pode ser de pessoas físicas ou de pessoas jurídicas (ex.: ABIA →→→ Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, etc.). 5. SOCIEDADES Sociedade é espécie de corporação dotada de personalidade jurídica própria e instituída por meio de um contrato social (que é o seu ato constitutivo), com o objetivo de exercer atividade econômica e partilhar lucros. Ela está prevista em outro tópico do Código Civil, dentro do Livro II da Parte Especial (Do Direito de Empresa), a partir do art. 981. Já vimos que o atual Código Civil deixou bem claro que a finalidade lucrativa é o que distingue uma associação de uma sociedade. Tanto isso é verdadeiro, que o art. 1.008 estabelece que é nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas. As sociedades podem ser divididas em: A) Sociedades Empresárias (o que anteriormente chamávamos de sociedades comerciais) são as que visam finalidade lucrativa (lucro repartido entre os sócios), mediante exercício de atividade mercantil (ex.: compra e DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1177 venda mercantil). Segundo o art. 982, CC, “salvo exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (Registro Público de Empresas Mercantis); e simples as demais. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa”. Vamos reforçar esse ponto: a sociedade anônima é sempre empresária e a cooperativa é sempre sociedade simples, por força de lei. Requisitos da sociedade empresária Material: toda sociedade empresária realiza uma atividade econômica organizada (atividade empresarial), nos termos do art. 966: Considera- se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literáriaou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Formal: registro na Junta Comercial (Registro Público de Empresa). B) Sociedades Simples (o que anteriormente chamávamos de sociedades civis) também visa fim econômico (lucro), mediante exercício de atividade não mercantil. Em regra são constituídas por profissionais de uma mesma área, ou por prestadores de serviços técnicos. Ex.: um escritório de advocacia, uma sociedade imobiliária, uma clínica dentária, etc. Seus atos constitutivos devem ser inscritos no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (RCPJ). Observação. Diferenças. Atualmente vêm-se utilizando as expressões: organização e atividade (ao invés de objeto) para distinguir a sociedade empresária da simples. Ou seja, a classificação se dá em função do exercício da atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços. Havendo a organização dos fatores de produção (capital, mão de obra, tecnologia e insumos) se considera caracterizada a empresa e o empresário será quem a exerce. Sociedade empresária é aquela que conjuga os requisitos do art. 982, CC. Além disso, há uma impessoalidade, pois seus sócios atuam como meros articuladores de fatores de produção (capital, trabalho, tecnologia e matéria prima), a exemplo de um banco ou de uma revendedora de veículos. O seu registro é feito na Junta Comercial e sujeitam-se à legislação falimentar. Sociedade simples tem como característica principal a pessoalidade: os seus sócios não são meros articuladores de fatores de produção, uma vez que eles prestam e supervisionam direta e pessoalmente a atividade desenvolvida. Em geral, são sociedades prestadoras de serviços, a exemplo da sociedade de advogados ou de médicos. O seu registro é feito, em geral, no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (CRPJ). Uma banca de advocacia, por maior que seja, sob o DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1188 aspecto material é uma sociedade simples, até porque seu registro continua sendo feito no RCPJ e na OAB (e não na Junta Comercial). É possível a sociedade entre cônjuges? Estabelece o art. 977, CC que faculta-se aos cônjuges contratar sociedades, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou do da separação obrigatória. ��� Atenção ��� A empresa pública e a sociedade de economia mista, apesar de fazerem parte da administração indireta e terem capital público, são dotadas de personalidade jurídica de direito privado. São regidas pelas normas empresariais e trabalhistas (art. 173, CF/88), mas com as cautelas do direito público (ex.: sujeitam-se ao controle do Estado →→→ administrativo, financeiro e jurisdicional). Podem perseguir fins não lucrativos, como também atividades lucrativas (produção e comercialização de bens ou prestação de serviços de natureza econômica). As empresas públicas e as sociedades de economia mista fazem parte da administração indireta do Estado, mas isso não quer dizer que sejam pessoas jurídicas de direito público. Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista Embora não seja matéria específica de Direito Civil (sequer estão previstas no Código Civil) penso que é interessante mencioná-las, nem que seja de forma superficial. Ambas são integrantes da administração pública indireta. No entanto o Decreto-lei n° 200/67 as descreve como pessoas jurídicas de direito privado, criadas pelo Estado como instrumento de sua atuação no domínio econômico. Ou seja, são os chamados “braços do Estado- empresário”. A criação de ambas depende de lei específica. Após isso o Poder Público elabora os atos constitutivos e depois providencia o seu registro. É com o registro que ela adquire a personalidade jurídica. Empresas Públicas. Pessoas jurídicas de direito privado, integrantes da administração indireta, instituídas pelo Poder Público, mediante autorização de lei específica a se constituir com capital próprio e exclusivamente público, para exploração de atividade econômica ou prestação de serviços públicos ou coordenadora de obras públicas, podendo se revestir de qualquer das formas de organização empresarial (Ltda., S/A, etc.). Ex.: Empresa Brasileira de Correios de Telégrafos (EBTC), Caixa Econômica Federal (CEF), Casa da Moeda, Serviço de Processamento de Dados (SERPRO), EMURB, etc. Sociedade de Economia Mista. São pessoas jurídicas integrantes da administração indireta, mas também de direito privado, instituídas pelo Poder Público mediante autorização legal, constituídas com patrimônio público e particular, destinadas à exploração de atividades econômicas ou serviços de interesse coletivo, sendo que sua forma é sempre a de uma Sociedade Anônima. Embora haja a conjugação de capital público e privado, as ações com direito a voto (controle acionário) devem pertencer em sua maioria ao Poder Público. Ex.: Banco do Brasil, Petrobrás, etc. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1199 6. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA A Lei n° 12.441/2011 inseriu no rol das pessoas jurídicas, também a empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). Até então nosso ordenamento não permitia a formação de uma empresa com apenas um sócio, a não ser em casos excepcionais. O empresário individual era considerado como pessoa natural (e não jurídica). Seu patrimônio pessoal confundia-se com o utilizado no próprio empreendimento, o que era considerado como uma temeridade, pois no caso de execução por dívidas geradas pela empresa, os bens pessoais do empresário seriam vendidos para cobrir o passivo da empresa. A nova lei corrigiu esta distorção. No que se refere à organização, a EIRELI é constituída por uma única pessoa como titular da integralidade do capital social, sendo que o valor deste não pode ser inferior a 100 vezes o maior salário mínimo vigente no País. Assim, estabelecem-se limites para esta opção de pessoa jurídica, deixando de fora os empresários de menor porte. Quanto ao nome empresarial, que identifica o empreendedor nas realizações empresariais e contratuais, ele poderá adotar o próprio nome ou sua abreviação, bem como um nome distinto da pessoa natural. No entanto o nome adotado deverá conter como sinal distintivo a expressão “EIRELI” após a firma ou denominação adotada. Exemplos: José João EIRELI; ou J.J. EIRELI, ou J.J. Comercial EIRELI; ou ainda Alfa Comercial EIRELI. A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade, o que a diferencia das demais sociedades, uma vez que nestas os sócios podem ter outro empreendimento sem qualquer problema. Esta espécie de empresa também pode resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração. Assim, se uma sociedade limitada deixar de possuir pluralidade de sócios, ela poderá ser transformada em uma EIRELI. Anteriormente esta situação implicava numa verdadeira corrida contra o tempo do sócio remanescente, pois ele era obrigado a procurar um novo sócio no prazo de 180 dias (sob pena de ver sua sociedade extinta caso permanecesse na condição de apenas um sócio). Aplicam-se à EIRELI, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas, inclusive a desconsideração da personalidade jurídica, que falaremos mais adiante. A V Jornada de Direito Civil do STJ aprovou Enunciado n° 469 explicando a natureza jurídica da EIRELI: "A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) não é sociedade, mas novoente jurídico personificado". Portanto, ela é uma pessoa jurídica constituída por apenas uma pessoa, tendo natureza especial, bem como tratamento específico no novo art. 980-A, CC. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2200 DISTINÇÕES Associação X Sociedade Semelhanças: conjunto de pessoas, que apenas coletivamente goza de certos direitos e os exerce por meio de uma vontade única. Distinções: Associação →→→ não há fim lucrativo (ou de dividir resultados, embora tenha patrimônio), formado por contribuição de seus membros para a obtenção de fins culturais, esportivos, religiosos, etc. Sociedade →→→ visa fim econômico ou lucrativo, que deve ser repartido entre os sócios. Associação X Fundação Semelhanças: em ambas há a união de várias pessoas, com acervo de bens, não havendo finalidade lucrativa. Distinções: Associação →→→ a) patrimônio é constituído pelos associados, sendo um meio para atingir os seus objetivos (instrumental); b) finalidades são próprias (dos associados), podendo ser alteradas; c) deliberações livres. Fundação →→→ a) patrimônio provém do instituidor, sendo seu elemento essencial (juntamente com o objetivo, a finalidade da fundação), já o elemento “pessoa” fica num segundo plano; b) finalidades são alheias (do instituidor) e imutáveis; c) deliberações delimitadas pelo instituidor e fiscalizadas pelo Ministério Público. Conclusão: os objetivos da associação são alcançados pelo esforço das pessoas (associados); já o das fundações é alcançado pelo uso de seu patrimônio. INÍCIO DA EXISTÊNCIA LEGAL DA PESSOA JURÍDICA Enquanto a pessoa natural surge com um fato biológico (o nascimento com vida...), a pessoa jurídica tem seu início, em regra, com um ato jurídico ou uma norma. No entanto há diferenças entre elas quanto a forma de constituição: 1) Pessoas Jurídicas de Direito Público →→→ sua existência se dá em razão da lei e do ato administrativo, bem como de fatos históricos, previsão constitucional, tratados internacionais, etc. São regidas pelo Direito Público. Um País surge quando afirma sua existência em face dos outros. Os Estados- membros têm o reconhecimento de sua existência quando instituídos na própria Constituição Federal deste País. Já os Municípios, peculiaridade de nosso regime federativo, também têm sua autonomia assegurada pela Constituição, tendo seu início no provimento que os criou (são regidas pelas Constituições estaduais e pelas Leis Orgânicas). As autarquias e demais pessoas jurídicas de direito público são criadas e organizadas por leis, que estabelecem todas as condições para o exercício de seus direitos e obrigações. Assim elas nascem com a própria lei. 2) Pessoas Jurídicas de Direito Privado →→→ o fato que lhes dá origem é a vontade humana convergente (affectio societatis). Sua criação possui duas fases: a elaboração dos atos constitutivos e o seu respectivo registro. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2211 Fase 1: Elaboração dos Atos Constitutivos A pessoa jurídica se constitui, por escrito, por ato jurídico unilateral inter vivos ou causa mortis em relação às fundações e por ato jurídico bilateral ou plurilateral em relação às sociedades e as associações. Regra: a) Fundações →→→ escritura pública ou testamento; b) Associações (sem fim lucrativo) →→→ Estatuto. b) Sociedades simples ou empresárias (com finalidade lucrativa) →→→ Contrato Social. Fase 02: Registro do Ato Constitutivo Para que a pessoa jurídica exista legalmente, é necessário inscrever os contratos, estatutos ou compromissos no seu registro peculiar. Antes do registro é chamada de “sociedade de fato”. Regra: a) Sociedades Empresárias →→→ Registro Público de Empresas Mercantis (Junta Comercial); b) Demais pessoas jurídicas →→→ Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Quaisquer alterações supervenientes nestas instituições devem ser averbadas no mesmo registro. Obs.: algumas entidades ainda necessitam da fase 03: Autorização prévia autorização do governo para existir e funcionar (ex.: instituições financeiras: bancos, estabelecimentos de seguro, administradoras de consórcios, universidades, sociedades estrangeiras, bolsa de valores, casas lotéricas, etc. Confiram o art. 21, inciso XII, CF/88). REGISTRO Como vimos, somente com o registro a pessoa jurídica adquire a personalidade. Tal registro se dá no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (art. 1.150, CC). No entanto uma sociedade empresária deve ser registrada no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins (Lei n° 8.934/94), sendo competente para tais atos as Juntas Comerciais. Segundo o art. 46, CC o registro deve conter os seguintes elementos: a) a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social (quando houver); b) o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores e dos diretores; c) forma de administração e representação ativa e passiva, judicial e extrajudicial; d) possibilidade e modo de reforma do estatuto social; e) previsão da responsabilidade subsidiária dos sócios pelas obrigações sociais; f) condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio. Uma pessoa jurídica começa a existir no momento em que é efetuado o seu registro, passando a ter aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações, obtendo capacidade patrimonial, adquirindo vida própria e autônoma, não se confundindo com a personalidade de seus membros. Vejamos o que dispõe o art. 45, CC: “Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo”. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2222 ��� Atenção ��� • Personalidade da pessoa natural: nascimento com vida. O registro possui apenas efeito declaratório, pois quando ele é feito, a condição de pessoa já havia sido adquirida. O registro apenas declara uma situação pré-existente: o nascimento com vida. • Personalidade da pessoa jurídica: registro. O registro neste caso possui efeito constitutivo; é com ele a pessoa jurídica “nasce” ou se constitui juridicamente. • Observação importante para concursos: digamos que uma sociedade funcionou durante cinco anos sem ser registrada. Após este prazo, resolveram registrá-la. Pergunta-se: o registro retroage desde o início das atividades da sociedade ou somente a partir do registro? Resposta: os efeitos do registro da pessoa jurídica são sempre para o futuro (efeito ex nunc); não se pode retroagir, legitimando o passado. DOMICÍLIO DAS PESSOAS JURÍDICAS A pessoa jurídica também tem domicílio (art. 75, CC), que é a sua sede jurídica, onde os credores podem demandar o cumprimento das obrigações. Vejamos as situações legais: • União →→→ Distrito Federal. • Estados e Territórios →→→ suas respectivas Capitais. • Municípios →→→ o lugar onde funciona a Administração Municipal (a sede municipal). • Demais Pessoas Jurídicas →→→ Regra: o lugar onde elegerem domicílio especial nos seus estatutos ou atos constitutivos. Na omissão é o local onde funcionam as respectivas diretorias e administrações. Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados. Admite-se, portanto, a pluralidade domiciliar da pessoa jurídica, desde que tenha estabelecimentos em lugares diferentes (ex.: filiais, agências, escritórios de representação,etc. – art. 75, §1°, CC). Finalmente estabelece o art. 75, §2°, CC que se “a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, ha- verse-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder”. RESPONSABILIDADE CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS A responsabilidade civil a pessoa jurídica pode ser de natureza contratu- al ou extracontratual. No âmbito da responsabilidade contratual as pessoas jurídicas são responsáveis por seus atos. Ou seja, elas respondem pelos danos decorrentes de suas condutas. Se assumiram determinada obrigação, se assinaram determinado contrato, devem cumpri-lo da forma como foi DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2233 estipulado. Se a obrigação ajustada não for cumprida o devedor responde por perdas e danos (além dos juros, correção monetária e honorários advocatícios). É o que determina a regra geral do art. 389, CC. Portanto, na responsabilidade assumida por meio de uma obrigação contratual, as pessoas jurídicas devem responder com seus bens por esse inadimplemento (não cumprimento) contratual. Já no campo da responsabilidade extracontratual (ou aquiliana) vigora a regra geral do neminem laedere (ou seja, a ninguém se deve lesar). Reprime-se a prática dos atos ilícitos em geral, impondo a obrigação de reparação de eventuais danos. Ela tem fundamento nos arts. 186 e 187 combinados com o art. 927, CC. Mas há uma leve nuance entre a responsabilidade das pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado. Vejamos: A) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. Neste caso existem duas formas de responsabilidade: 1) Por ato próprio neste caso a responsabilidade é direta e subjetiva. Isto porque a pessoa jurídica responde pelos atos de seus órgãos (os diretores e os administradores estão apenas cumprindo as determinações das suas assembleias). 2) Por ato de terceiro neste caso a responsabilidade é indireta e objetiva. Determina o Código Civil que as pessoas jurídicas de direito privado são civilmente responsáveis pelos atos danosos praticados por seus empregados, serviçais ou prepostos (representantes) no exercício do trabalho que lhes competir ou em razão dele (art. 932, III, CC). Por tal motivo trata-se de responsabilidade indireta. Ou seja, a pessoa jurídica irá responder por uma conduta praticada por terceiro (seu empregado), mas que, em razão de um vínculo com a pessoa jurídica, gera a responsabilidade desta. Acrescenta o art. 933, CC que esta responsabilidade independe de culpa. Portanto a mesma é considerada como sendo do tipo objetiva. Observem que neste caso a pessoa jurídica nada fez de irregular; quem agiu de forma errônea foi o empregado. Mas mesmo assim ela responde por este ato. Este tipo de responsabilidade também é solidária, pois a vítima pode reclamar os danos tanto da pessoa jurídica, como do agente causador do prejuízo. Ex.: O motorista de caminhão de uma empresa, embriagado, atropela e mata um pedestre; a família da vítima pode ingressar com ação judicial de responsabilidade civil somente contra a empresa, somente contra o motorista, ou contra ambos, posto que tanto a empresa, como o motorista são responsáveis solidários. Se preferir ingressar com a ação somente contra a empresa, esta terá o direito de regresso contra o empregado. B) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO A partir de 1946 a responsabilidade passou a ser prevista na própria Constituição da República, principalmente em virtude da criação dos chamados direitos individuais de segunda geração. Com base no princípio da igualdade de todos perante a lei (todos têm encargos equitativamente distribuídos), não DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2244 seria justo que, para benefício de toda uma coletividade, somente uma pessoa sofresse os ônus. Inicia-se, então a chamada Teoria da Responsabilidade Objetiva do Estado. A pessoa lesada apenas deve provar que houve uma conduta por parte do Estado, que ela sofreu um dano e que houve um nexo de causalidade entre a conduta e o dano. Vigora atualmente a Teoria do Risco Administrativo. Nela o Estado responde objetivamente, porém não em qualquer hipótese. Permite-se que a responsabilidade do Estado seja afastada em situações onde consiga provar a culpa exclusiva da vítima (no caso de culpa concorrente apenas se atenua sua responsabilidade, diminuindo o valor da indenização), o caso fortuito ou a força maior, a ausência de nexo causal, etc. Atualmente no Brasil as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos (concessionárias e permissionárias) têm responsabilidade civil: • pelos danos que seus agentes (sentido amplo), nessas qualidades, causarem a terceiros (art. 37, §6º, CF/88 e art. 43, CC). Trata-se de responsabilidade de ressarcimento de danos, do tipo objetiva, isto é, a responsabilidade existe independentemente de culpa do funcionário. Há que se provar a conduta (positiva ou negativa), a lesão (dano patrimonial ou moral) e o nexo causal (a lesão foi causada pela conduta). Não se analisa eventual culpa. Provados aqueles elementos (conduta, dano e nexo), o Estado deve indenizar. Lembrando que quando se fala “culpa”, devemos entender seu sentido amplo, abrangendo tanto a culpa em sentido estrito (o agente praticou uma conduta, mas não teve a intenção da ocorrência de um resultado específico, porém este acabou acontecendo por imprudência, negligência ou imperícia do agente) como o dolo (o agente teve a intenção de praticar a conduta, desejando ou assumindo o risco pelos resultados advindos de sua conduta). Também não se indaga da licitude ou ilicitude da conduta administrativa. Ou seja, às vezes, mesmo agindo licitamente o Estado pode ser obrigado a indenizar um particular. Ex.: quando o Estado realiza uma obra que em tese irá beneficiar a muitas pessoas, pode causar prejuízo a uma pessoa em especial. A obra realizada é lícita. Mas se causar prejuízo a um particular (ex.: seu imóvel foi desvalorizado com a obra), ele deve ser indenizado. Os mesmos dispositivos citados (art. 37, §6°, CF/88 e art. 43, CC) autorizam ao Poder Público o chamado direito de regresso contra o causador do dano, se houver culpa ou dolo de sua parte. Assim, o Estado responde de forma objetiva (ou seja, independentemente de culpa). Mas se o Estado for condenado e ficar provada a culpa ou o dolo do funcionário, o Estado poderá acionar regressivamente o seu agente. Logo, a responsabilidade do funcionário é do tipo subjetiva, pois deve estar comprovada a sua culpa em sentido amplo (que abrange o dolo ou a culpa em sentido estrito) no evento. • por atos de terceiros e por fenômenos da natureza. Neste caso, a responsabilidade é somente subjetiva. Ou seja, deve-se provar a culpa da Administração (ex.: casos de enchentes ou depredações por movimentos populares, já previstos pela administração). Trata-se de uma exceção à regra DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2255 de que o Estado responde sempre de forma objetiva. Como vimos, nem sempre, pois há casos em que pode responder de forma subjetiva. Observações 01) Uma parcela da doutrina entende que na hipótese de uma conduta omissiva por parte do Estado, a sua responsabilidade dependeria de demonstração de culpa da sua parte. Seria então mais um caso de responsabilidade subjetiva do Estado. Lembrando que mesmo neste caso, havendo culpa concorrente da vítima, a indenização será reduzida. 02)A pessoa jurídica também pode ser penalmente responsável, na hipótese de crimes ambientais (art. 225, §3°, CF/88 e art. 3° da Lei n ° 9.605/98). EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA A existência da pessoa jurídica (em relação às sociedades e às associações) termina: • Forma convencional: dissolução deliberada de seus membros (extinção convencional), por unanimidade e mediante distrato. Distrato é a rescisão de um contrato. Pode ser amigável ou judicial. É ressalvado o direito de terceiros e da minoria. Assim, se a minoria desejar a continuidade da sociedade, impossível será sua dissolução amigável (haverá então uma sentença judicial), a menos que o contrato contenha cláusula que preveja a extinção por maioria simples. No entanto, se a minoria tentar extinguir a pessoa jurídica, não conseguirá. • Morte de seus membros (extinção natural). • Quando a lei assim determinar. • Decurso do prazo, se constituída por prazo determinado. • Dissolução por decisão judicial: procedimento falimentar (em regra para as sociedades empresárias) ou liquidação (em regra para sociedade simples). • Administrativa: decorre da cassação da autorização de funcionamento, específica para algumas entidades (ex.: instituições financeiras que dependem de autorização do Banco Central). ���É importante notar que a extinção da pessoa jurídica não se opera de modo instantâneo. Qualquer que seja o fator extintivo tem-se o fim da entidade. Porém, se houver bens em seu patrimônio e dívidas a resgatar, ela continuará em fase de liquidação. Assim, mesmo dissolvida uma pessoa jurídica, ela ainda pode subsistir, mantendo a personalidade para fins de liquidação (pagamento das dívidas e partilha do remanescente entre os sócios). Somente após o encerramento da liquidação é que se promove o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica no respectivo registro (art. 51, CC), dando-se baixa nos atos constitutivos. DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2266 Destino do patrimônio na dissolução Tratando-se de uma sociedade (finalidade lucrativa), cada sócio terá direito ao seu quinhão; o remanescente do patrimônio social será partilhado entre os sócios ou seus herdeiros. Tratando-se de uma associação (sem finalidade lucrativa), seus bens serão destinados: conforme o previsto nos estatutos; se não houver previsão, serão destinados a estabelecimento municipal, estadual ou federal que possua finalidades semelhantes aos seus. GRUPOS DESPERSONALIZADOS Como vimos, as sociedades, as associações, as fundações, etc., possuem personalidade jurídica. Mas nem todo grupo que objetiva um determinado fim é dotado de personalidade jurídica. Os grupos despersonalizados (ou com personificação anômala) constituem um conjunto de direitos e obrigações, de pessoas e bens, sem personalidade jurídica, que geralmente se formam independentemente da vontade de seus membros. No entanto, apesar de não terem personalidade, possuem capacidade processual isto é, capacidade para postular em juízo (ou seja, ser autor ou réu em uma ação judicial). Citamos como principais exemplos: • Sociedades em Comum (sociedades de fato ou irregulares) são sociedades empresárias que não estão juridicamente constituídas, não possuindo, portanto, personalidade jurídica. Para alguns doutrinadores, sociedades de fato e sociedade irregulares são a mesma coisa. Outros, contudo, as distinguem: as sociedades de fato não possuem ato constitutivo (estatuto ou contrato social), enquanto que as sociedades irregulares possuem os atos constitutivos, porém os mesmos não foram registrados. Elas não podem requerer falência de outras empresas e nem requerer a sua recuperação judicial. Além disso, não possuem responsabilidade própria. Na realidade, há responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios pelas obrigações da sociedade. Isto porque nelas os credores da sociedade são credores dos sócios, não havendo autonomia da pessoa jurídica. Estão previstas nos arts. 986 a 990, CC. • Massa Falida decretando-se a falência de uma sociedade, a pessoa perde o direito à administração e à disposição do patrimônio, sendo que os as coisas e os direitos são arrecadados; a reunião desses bens recebe o nome de massa falida. O administrador judicial da falência a representa ativa e passivamente (ou seja, pode ser autor ou réu de uma ação judicial). Lembrando que a expressão “administrador judicial” foi inserida em nosso ordenamento pela Lei n° 11.101/2005 (que regula a recuperação judicial e extrajudicial, bem como a falência do empresário e da sociedade empresária), em substituição à expressão “síndico da massa falida” usada pela antiga Lei de Falências (Decreto-Lei n° 7.661/45) e que ainda costuma cair nas provas. • Espólio é o conjunto de direitos e obrigações ou uma simples massa patrimonial deixada pelo de cujus; é a herança, propriamente dita. O DIREITO CIVIL: AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL PROFESSOR LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2277 inventariante prestará compromisso legal e irá representar ativa e passivamente, em juízo ou fora dele os interesses do espólio. • Herança Jacente e Vacante é o conjunto de bens deixados pelo falecido, enquanto não entregue a um sucessor devidamente habilitado. Ocorre a herança jacente se, não havendo testamento, o de cujus não deixar herdeiros, ou deixando, eles renunciam, ficando sob a guarda e administração de um curador nomeado pelo Juiz. Aguarda-se... ninguém apareceu... Os bens da herança jacente são então declarados vacantes. Decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do Estado (em sentido amplo). ��� Condomínio Especial (condomínio em edificações) trata-se de uma questão controvertida. Ainda há autores que o consideram como ente despersonalizado. No concurso como eu faço? Penso que seguindo a tendência do Direito devemos considerá-lo como tendo personalidade jurídica. Inicialmente porque hoje em dia um condomínio é obrigado a ter CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas). Além disso, no condomínio também há uma affectio societatis (lembram-se desta expressão falada no início deste ponto?), havendo aptidão à titularidade de direitos e deveres, podendo adquirir imóveis, materiais para construção, conservação e administração do edifício em seu nome. Finalmente devemos acrescentar que o Enunciado n° 90, alterado pelo 246 da I e III Jornadas de Direito Civil do STJ, realizadas pelo Conselho da Justiça Federal, orienta que: “Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício nas relações jurídicas”. Lembrando que cabe a representação do condomínio (ativa e passiva) ao síndico ou administrador (que pode ser uma pessoa física ou jurídica). DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Como vimos, a pessoa jurídica é um sujeito de direitos e obrigações, tendo existência independente dos membros que a compõem (princípio da autonomia da pessoa jurídica). Como costumo dizer: pessoa jurídica é uma coisa... pessoas físicas que integram a pessoa jurídica é outra coisa. Há uma separação patrimonial entre os bens da pessoa jurídica e os bens dos sócios e administradores. Partindo desta ideia, a pessoa jurídica somente responde pelos débitos dentro dos limites do capital social, ficando a salvo o patrimônio individual dos sócios que a compõe. Devido a essa exclusão de responsabilidade dos sócios, que vigorava de forma plena em nosso Direito, a pessoa jurídica, por vezes, se desviava de seus princípios e finalidades, cometendo abusos, fraudes e desonestidades (evidente que se trata de uma minoria; não vamos aqui generalizar), provocando uma reação na doutrina e na jurisprudência. Em alguns casos a pessoa
Compartilhar