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Universidade do Grande Rio Prof. José de Souza Herdy Disciplina: Saúde da Mulher III Profº Almir Ferreira. Aula de Assistência de Enfermagem à mulher parturiente * Conteúdos da aula: Conceitos: Trabalho de Parto: Processo pelo qual o feto é expelido a partir de contrações uterinas regulares e progressivas que permitem as modificações do colo a fim de dar passagem ao feto ( estas modificações são a dilatação, centralização e o apagamento do colo como descritas na parte sobre Motor). Parturiente: mulher que está em trabalho de parto ou no momento de dar à luz. Parto eutócico ou distócico: Eutócico é o parto sem complicações e o parto distócico é caracterizado por complicações que podem se relacionar com o feto, o útero ou bacia materna. 2) Diagnóstico de trabalho de parto: Deve ser observado sinais e sintomas que associados caracterizam o trabalho de parto: Segundo o Ministério da Saúde (2001) o diagnóstico é feito a partir das seguintes condições: presença de contrações uterinas a intervalos regulares e de aumento progressivo quanto à freqüência e intensidade (não diminuindo com repouso ou medicamentos). O padrão contrátil é de 1 contração a cada 3-5 minutos com duração de 20 e 40 segundos, além da dilatação, centralização e o apagamento progressivos do colo. Para Montenegro e Rezende (2008) a dilatação nas primíparas é de 2 cm e nas multíparas de 3 cm, com formação da bolsa d’água e perda do tampão mucoso* ( Sinal de Schrooder + ) Quadro diferencial do TP verdadeiro e do TP falso: � Verdadeiro: Contrações regulares; Intervalos decrescentes; Duração e intensidade com aumento gradativo; Dilatação, centralização e apagamento progressivo; Descida da apresentação progressiva; Dor tipo lombalgia e em BV; Na sedação contrações não cessam. Falso: Irregulares; Irregulares; Irregulares; Sem alterações; Sem alteração; Apenas no abdome; As contrações cessam. � Elementos ou Fatores do Parto: 3.A) Objeto ou passageiro- É o feto (Este apresenta relações com o útero e a pelve materna que são: atitude, apresentação, situação e posição). Estas relações útero-fetais (também chamada estática fetal) são importantes ao enfermeiro para este saber a condição do feto, a fim de avaliar se o parto será mais demorado ou não ou mesmo detectar uma impossibilidade do parto ser por via vaginal. Apresentação: É a região do corpo do feto que se coloca voltado para a bacia materna. Pode ser cefálica (a mais freqüente), pélvica (completa ou incompleta), córmica (de ombros) e podálica (alguns autores a consideram como uma variação da pélvica incompleta); Situação: Denomina-se como a relação entre os eixos materno e fetal. Pode ser Longitudinal (ocorre nas apresentações cefálica e pélvica), transversa e oblíqua; Atitude ou hábito fetal: É a relação das partes fetais ente si. Pode ser fletida ou defletida; Posição: Coloca-se à esquerda (mais freqüente, dita como 1ª posição) ou à direita ( 2ª posição ). Na realidade avalia-se o dorso fetal com o lado esquerdo ou direito da mãe. OBS: Conceitos destas relações materno-fetais: vide texto de terminologias. A cabeça fetal geralmente é a que passa em primeiro lugar na maioria dos partos, tem possibilidade de ajustar-se às dimensões da pelve materna ao qual é denominado fenômeno plástico do trabalho de parto. Os ossos da cabeça fetal portanto têm capacidade de moldagem ou acavalgamento. 3.B) Trajeto –caracteriza-se pela bacia ou pelve materna, ou seja, forma o canal de parto por onde o feto deverá progredir. É dividido em trajeto duro (considerado a pelve óssea- bacia obstétrica) e trajeto mole (considerado a estrutura muscular da pelve). O trajeto duro ou bacia obstétrica tem limites precisos: estreito superior (acima- entrada da bacia e estreito inferior (abaixo –saída da bacia). Entre estes dois limites encontra-se o estreito médio. O Estreito superior é delimitado pelo osso sacro posteriormente (porção superior denominada promontório) e anteriormente pela margem superior do osso pube até a sínfise púbica. O estreito médio tem como principal referência as espinhas ciáticas ou isquiáticas. O estreito inferior parte da ponta do cóccix posteriormente e vai até a face interna das tuberosidades isquiáticas (para melhor compreensão vide atlas de anatomia). OBS: Durante o trabalho de parto a apresentação fetal passa ao longo dos estreitos. O profissional de saúde que acompanha este trabalho de parto pode avaliar esta progressão através do toque vaginal onde vai perceber a altura da apresentação pelos denominados planos da bacia. Os planos podem ser: Plano de Hodge: I (estreito superior), II (entre a borda inferior da sínfise até a segunda vértebra sacra), III (espinhas ciáticas), IV (ponta do cóccix); Plano de De Lee: os mesmos de Hodge, sendo que tem como ponto 0 as espinhas ciáticas (estreito médio). Acima delas o feto estará a -1, -2,-3, -4, -5 cm, ou seja, mais próximo da entrada da pelve, e abaixo o feto estará a +1, +2, +3,+4, +5 cm, ou seja, mais próximo da saída, do nascimento. O trajeto mole, constituído pelo chamado diafragma pélvico e urogenital, pode ser dividido em períneo anterior (envolvendo a vulva e a saída vaginal) e períneo posterior (envolvendo o anûs). Trajeto mole: 1 – Períneo anterior superficial: Transverso superficial do períneo, Bubo cavernoso ( constrictor da vagina ), Isquiocavernoso. 2 – Períneo anterior profundo: Transverso profundo do períneo, Esfíncter externo da uretra. 3 – Períneo posterior: Esfíncter externo do ânus. 4 – Diafragma ou assoalho pélvico: Elevador do ânus, Músculo coccígeo, Obturador interno e Piriforme. Os trajetos duro e mole compõem o canal de parto por onde o feto passa. 3.C) Motor- É o útero em atividade. A contratilidade uterina tem como objetivo durante o trabalho de parto e parto: dilatar, apagar, centralização do colo do útero e expulsar o feto. Depois da expulsão fetal o útero precisa contrair-se para desprender a placenta e após a saída da placenta a contratilidade uterina permite inibir o sangramento no pós-parto. As contrações uterinas são avaliadas em freqüência, duração e intensidade. A isto denominamos dinâmica uterina. O trabalho de parto se caracteriza por contrações que tenham uma frequência ao menos de 1-2 contrações em 10 minutos e com uma intensidade oscilando entre 20-40 mmHg (esta intensidade em mmHg é medida por equipamento- o tocógrafo). O trabalho de parto inicial tem contração com duração mínima de 20 segundos. Ao longo do trabalho de parto as contrações vão evoluindo progressivamente, aumentando sua freqüência, duração e intensidade. De 1-2 contrações no início, ao final do trabalho de parto pode ter a freqüência de 5 a 6 contrações a cada 1 minutos, com duração de 60 segundos. As contrações iniciam-se no fundo uterino (cornos uterinos) e se propagam de forma descendente até o segmento inferior do útero. Ao atingir a porção inferior começa a relaxar. As contrações também são mais intensas nas porções superiores do útero que nas inferiores. Caldeyro-Barcia e Alvarez (1950) denominaram as características das contrações de “Tríplice gradiente descendente”. A contração uterina durante o trabalho de parto centraliza o colo uterino, encurta o corpo uterino e exerce tração no segmento inferior do útero e no colo (cérvice) que vai abrindo (dilatação) e afinando ou diminuindo sua espessura (apagamento). O acompanhamento das contrações pode ser feito clinicamente (palpação abdominal- mão espalmada sobre o fundo do útero registrando o número de contrações percebidas, a duração, intensidade) e eletronicamente (tocógrafo). Períodos Clínicos do Trabalho de Parto (Fenômenos Maternos): 3.1-1º Período clínico de Dilatacão: Este período inclui os processos de centralização, dilatação cervical (abertura do colo) e apagamento cervical decorrentes das contrações uterinas (em freqüência, duração e intensidade).Este período divide-se em duas fases: a fase latente e a fase ativa (Friedman, 1978). Durante este período clínico o feto progride pela pelve materna ao longo do canal de parto impulsionado pelas contrações uterinas. 3.2- 2º Período clínico de Expulsão: Inicia com a completa dilatação cervical e culmina com a expulsão fetal. 3.3- 3º Período clínico de Secundamento, decedura, dequitação ou delivramento: Compreende o desprendimento, descida e expulsão da placenta. Este pode ocorrer por dois mecanismos: o primeiro com desprendimento central e saída pela face fetal, chamado de Baudelocque-Schultze e o segundo com desprendimento marginal e saída pela face materna, chamado de Baudelocque-Duncan. 3.4- 4º Período de Greenberg: É a primeira hora depois do parto, descrita por Greenberg em 1946, envolve os processos de hemostasia no pós-parto com etapas bem definidas: miotamponamento, trombotamponamento, indiferença miouterina e contração uterina fixa. Mecanismo do Trabalho de Parto ou fenômenos mecânicos (Fenômenos Fetais): São movimentos espirais adotados pelo feto e que se processam em continuidade, inicia-se com a passagem do feto pelo estreito superior da bacia (insinuação, acomodação ou encaixamento), continua com o avanço até o estreito inferior (descida), faz uma rotação ântero-posterior (rotação interna), exteriorização da apresentação (desprendimento do 1º segmentoda ), rotação externa (da apresentação) e desprendimento do 2º segmento. 5) Assistência de Enfermagem de acordo com os Períodos clínicos do T.P.: Assistência de Enfermagem no 1º Período Clínico (Dilatação): Avaliar cartão de pré-natal, Oferecer dieta líquida Manter higiene rigorosa, Controlar e registrar sinal vital de hora em hora, Observar ruptura de membranas, Registrar dinâmica uterina, Oferecer apoio emocional, Proporcionar ambiente agradável, Orientar respiração, Orientar posição, Administrar oxigenoterapia, se necessário, Orientar chá – de – canela, Realizar amnioscópia, Realizar cardiotocografia, Avaliar apresentação, Estimular a presença do acompanhante, Orientar sobre a tríade ( tensão, medo e dor ), Estimular deambulação. Observar e registrar vômitos/náuseas, Registrar eliminações, Orientar repouso ( avaliar dorso fetal ), Acesso venoso em membro superior de acordo com a posição fetal, Orientar sobre trabalho de parto e parto, Orientar tecnologias de cuidado, Orientar atividade sexual. Assistência no 2º Período clínico do T.P (Expulsão): Encaminhar a cliente à SP (poderá ser deambulando) ou preparar cama PPP; Permitir posicionamento desejado da cliente ou posicioná-la, se em mesa de parto; Oferecer apoio e avaliar/ monitorizar cliente; Orientar a cliente quanto aos puxos dirigidos, Avaliar provisão da SP, fazer registros, hora do parto; Estimular respiração controlada, Preservar o bem estar fetal, Proteger o períneo, Prevenir complicações, Avaliar a presença de circular de cordão, Prestar cuidados imediatos, Coletar sangue do cordão. Assistência no 3º Período Clínico (Secundamento): Avaliar clinicamente a cliente (nível de consciência, SV, sinais de hemorragia); Colher sangue do cordão/ coleta de célula- tronco adulta; Avaliar aspecto e face de desprendimento da placenta; Avaliar formação do Globo de segurança de Pinard após saída da placenta; Incentivar AM ainda na SP, de acordo com o Apgar do RN e as condições maternas Assistência de Enfermagem no 4º Período (Greenberg): Reconfortar, higienizar e transferir a cliente da mesa de parto ou se em cama PPP, somente os dois primeiros cuidados; Monitorizar SV; Avaliar mamas e mamada, se ocorreu; mucosas; Globo de segurança de Pinard, presença de distensão vesical, condições do períneo, loquiação, edema de MMII; Promover conforto e repouso; permitir a permanência do RN com a cliente *Questões para estudo (extraído de BARROS, 2006) : 1- Qual é o papel desempenhado por cada um dos fatores estudados- o feto, trajeto e motor para o acontecimento de um parto por via vaginal? 2-Como devem ser a apresentação e atitude fetais para que possa ocorrer um parto eutócico? 3- Quais são as funções de contração nos diferentes períodos clínicos? 4- Como devem ser avaliadas as contrações durante o trabalho de parto e parto, o que observar? 5-Qual a importância do decúbito lateral no trabalho de parto? *Questões de raciocínio clínico: A) Ao assumir o plantão no pré-parto, você se depara com uma parturiente de vinte anos, primigesta, com gestação a termo, bolsa íntegra, dinâmica uterina de quatro contrações em 10 minutos de intensidade média. Ao toque vaginal, verifica-se uma dilatação cervical de 6 cm e apresentação cefálica com occipital voltado à direita transversa, no plano zero de De Lee. Você deve avaliar a progressão do trabalho de parto. Quais os parâmetros necessários para esta avaliação? Considerando os tempos mecânicos do parto, quais as etapas já percorridas pelo feto e quais ainda serão percorridas até o nascimento? B) Uma mulher chega com sua filha de 13 anos com queixa de dor no abdome e é atendida na clínica cirúrgica que faz o diagnóstico de gravidez. A menina se nega a passar na avaliação obstétrica , pois jura que não está grávida. Após muita conversa, você consegue auscultar os BCF e percebe que ela está com muitas contrações. Qual será sua abordagem em relação à gestante e sua mãe? * Referência Bibliográfica: NEME, Bussâmara. Obstetrícia básica. São Paulo: Sarvier, 1995. BRASIL. Urgências e emergências maternas: Guia para diagnóstico e conduta em situação de risco de morte materna. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. _____. Assistência à gestação de alto risco: Manual técnico. Brasília: Ministério da Saúde, 2000 _____. Parto, aborto e puerpério. Assistência Humanizada. Brasília: Ministério da Saúde, 2001 FREITAS, Fernando et all. Rotinas em Obstetrícia. Porto Alegre: Artmed, 2002. BARROS. Sonia Maria Oliveira (org). Enfermagem no ciclo gravídico-puerperal.São Paulo: Manole, 2006. CURSO DE ENFERMAGEM
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