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1 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade CITOLOGIA CLÍNICA 20/02/2017 AposƟla de Citologia Ginecológica A apostila da disciplina de Citologia Clínica do Curso de Farmácia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Santo Ângelo, compreende a ementa da disciplina, que contempla o estudo do diagnóstico citopatológico, relacionando a sua importância com a clínica; Métodos de análise em citologia clínica; Técnicas de coleta, fixação e coloração de amostras biológicas; Citologia do aparelho genital feminino; Liberação de laudos citológicos. 2 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Citologia Clínica A (3cr) Ementa Citologia cérvico-vaginal, espermograma, citologia de líquidos corporais Objetivo Geral Descrever o diagnóstico citológico normal, inflamatório, infeccioso e neoplásico Programa Preparo, coloração, montagem, leitura dos esfregaços e laudos citológicos Citologia do aparelho genital feminino, aparelho genital masculino e componentes celulares benignos de cavidades serosas Citopatologia cérvico-vaginal: citologia do epitélio escamoso estratificado e do epitélio colunar; classificações do diagnóstico citológico; alterações celulares benignas reativas; alterações celulares degenerativas; reparo ou regeneração; alterações celulares associadas com atrofia; hiperplasia de células basais e de células de reserva; metaplasia escamosa; critérios citomorfológicos de malignidade. Espermograma: colheita e preparação do sêmen; análise física; análise morfológica; análise microscópica quantitativa; análise microscópica qualitativa Citologia de líquidos corporais: composição bioquímica, citologia das células presentes Bibliografia básica STRASINGER, S. K. Uroanálise & fluidos biológicos. 3.ed. São Paulo: Premier, 2000. GOMPEL, C., KOSS, L.G. Citologia ginecológica e suas bases anatomoclínicas. Ed. Manole Ltda, São Paulo, 1997. KURMAN, R.J., SOLOMON, D. O Sistema Bethesda para o Relato de Diagnóstico Citológico Cervicovaginal. Ed Revinter; Rio de Janeiro, 2001. 3 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade INTRODUÇÃO À CITOPATOLOGIA Estudo citológico, finalidade, preparo, coloração, montagem, leitura dos esfregaços cervicovaginais dos esfregaços e laudos citológicos Exame citopatológico Preparação de células em lâmina de microscopia, coradas pela coloração de Papanicolaou e, exploração microscópica dessas células de forma individualizada. Figura 1: Representação de uma lâmina de microscopia com um esfregaço de citologia corada; células epiteliais escamosas; células epiteliais glandulares e representação de um microscópio óptico. Finalidade do exame citológico Diagnóstico precoce de doenças, especialmente o câncer e as alterações celulares do tipo reativas, degenerativas, regenerativas, inflamatórias e neoplásicas. Figura 2: Esfregaço citológico com células epiteliais com atipias. Princípio do método citológico O estudo compreende memorizar células e tecidos normais e depois, as alterações morfológicas encontradas em distúrbios hormonais, nas infecções e nos estágios pré-malignos e no câncer. 4 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura3: Células epiteliais normais; células epiteliais apresentando atipias de baixo grau; células epiteliais apresentando atipias de baixo grau. Padrão ouro do diagnóstico Resultado citológico negativo, não significa que o tecido seja normal. Resultado positivo, significa que células anormais apareceram, porém este resultado não prova que exista um câncer, sendo necessário realizar o exame de COLPOSCOPIA e confirmar pela HISTOPATOLOGIA. O diagnóstico histopatológico é o padrão ouro. Figura 4: Citologia, colposcopia e histologia (de cima para baixo); normal, lesão de baixo grau, lesão de alto grau e carcinoma de células escamosas (da esquerda para direita). Colheita do material Colo de útero – a colheita de material citológico cervico-vaginal é realizado com espátula de Ayre e escova citológica endocervical. Figura 5: Representação do útero e colo do útero com epitélio normal e atípico. Representação da coleta de material citológico cervico-vaginal. 5 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Preparo do material citológico O material deve ser distribuído na lâmina de extremidade fosca, previamente limpa, e identificada. A identificação deve ser realizada no momento da colheita, na extremidade fosca da lâmina com lápis (o grafite resiste as etapas de fixação e coloração). O material deve ser espalhado sobre a lâmina de modo regular, com boa espessura. Fixação do material O objetivo da fixação é preservar o estado morfológico e manter as características citomorfológicas e os elementos citoquímicos das células e deve ser imediata. Fixadores Álcool etílico em solução de 70 a 90%, álcool isopropílico em solução de 70 a 90%, álcool isopropílico e polietileno glicol (Carbowax), forma uma película de proteção, pode ser em gotas (4 gotas sobre o esfregaço) ou atomizador. Coloração de Papanicolaou Colorações foram desenvolvidas para visualizar componentes das células e dos tecidos baseadas no princípio ácido-base. A hematoxilina é uma base, cora componentes ácidos da célula em uma cor azulada – núcleo (DNA e RNA); a eosina é um ácido que cora componentes básicos da célula em róseo – citoplasma. A coloração de Papanicolaou é universalmente utilizada em citologia genital. 6 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Coloração e montagem da lâmina Técnica de coloração de Papanicolaou 1 a 3) Álcool etílico em ≠ diluições 1 minuto 4) Água destilada (hidratar) 1 minuto 5) Hematoxilina de Harris (nuclear) 1-3 minutos 6) Água corrente 5 minutos 7) Água destilada 1 minuto 8) Álcool etílico a 70% (desidratar) Imergir 9) Álcool etílico a 90% Imergir 10) Álcool etílico absoluto Imergir 11) Orange G (citoplasma) 2 minutos 12) Álcool etílico absoluto Imergir 13) Álcool etílico absoluto Imergir 14) EA – 36 (citoplasma) 1 minuto 15) Álcool etílico a 95% Imergir 16 e 17) Álcool etílico absoluto Imergir 18) Xilol (desidratar e clarificar), dentro de uma capela 1 minuto Montar com bálsamo sintético entre lâmina e lamínula 24X40 Leitura dos esfregaços A leitura da lâmina deve seguir regras bem estabelecidas. A observação ou varredura da lâmina deve ser sistemática e os campos sucessivos serão parcialmente revistos para não perder nenhuma área. A varredura deve ser realizada com aumento pequeno com ocular de 10x e objetiva de 10x (100x). As células ou zonas atípicas são submetidas ao exame minucioso com objetiva de maior aumento (40x). 7 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Leitura dos esfregaços Tipos de varredura (screening) Horizontal Vertical 3o tipo é usado em revisão de lâminas previamente negativas (re-screening), pelo menos 30 campos por 1 a 2 min Figura 6: Representação dos tipos de varredura. 8 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade CLASSIFICAÇÕES CITOLÓGICAS 1940-2001 Evolução das Classificações para Laudos Citológicos Papanicolaou, 1940 Reagan, 1953 Richart, 1967 Sistema Bethesda, 1988, revisada em 1991 Sistema Bethesda, 2001 Consenso da Sociedade Britânica de Citologia Nomenclatura brasileira para laudos cervicais, MS Classificação de Bethesda, 2001 Papanicolaou,em 1940, utilizou um sistema de cinco grupos, para estabelecer uma comunicação clara e precisa entre o citologista e o clínico. Classe I Ausência de células atípicas ou anormais Classe II Citologia atípica, mas sem evidência de malignidade Classe III Citologia sugestiva, mas não conclusiva de malignidade Classe IV Citologia fortemente sugestiva de malignidade Classe V Citologia conclusiva para malignidade Quadro 1: Classificação de Papanicolaou. 9 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Reagan, em 1953, se preocupou com aspectos histológicos e introduziu o termo “displasia”, para atipias celulares menos evidentes que as de carcinoma “in situ”. Displasia leve Classe III de Papanicolaou Displasia moderada Displasia acentuada Carcinoma “in situ” Classe IV de Papanicolaou Quadro 2: Classificação de Papanicolaou modificada com novos conceitos introduzidos por Reagan. Richart, em 1967, Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) – alerta para o potencial invasivo dessas lesões, displasia acentuada e Ca ‘in situ’ não eram reproduzíveis. Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau 1 (NIC 1) Displasia leve (Classe III de Papanicolaou) Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau 2 (NIC 2) Displasia moderada (Classe III de Papanicolaou) Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau 3 (NIC 3) Displasia acentuada (Classe III) Carcinoma “in situ” (Classe IV) Quadro 3: Classificação de Papanicolaou, modificada com novos conceitos introduzidos por Richart. Richart, em 1991, modificou essa classificação. NIC de baixo grau (NIC I) Displasia leve (Classe III de Papanicolaou) NIC de alto grau (NIC II e III) Displasia moderada (Classe III de Papanicolaou) Displasia acentuada (Classe III de Papanicolaou) Carcinoma “in situ” (Classe IV de Papanicolaou) Quadro 4: Classificação de Papanicolaou, modificada com novos conceitos introduzidos por Richart. 10 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Sistema Bethesda para relato Citológico Cervical Bethesda – 1988 Incorporação da amostra adequada - Sem critérios Bethesda – 1991 Revisão Adequação da amostra Satisfatória para avaliação Avaliação satisfatória mas limitado (explicar) Bethesda – 2001 Revisão Negativo para lesão Intraepitelial ou malignidade Anormalidades em células epiteliais Bethesda – 2014 Revisão Negativo para lesão Intraepitelial ou malignidade Outros (ver interpretação resultado (células endometriais em mulheres com idade ≥ 45 anos) Anormalidades em células epiteliais Quadro 5: Classificações de Bethesda. Classificação de Bethesda, 2014 Adequação da amostra Satisfatório para avaliação Descrever presença ou ausência de componentes da zona de transformação e outros indicadores de qualidade, inflamação, sangue obscurecendo parcialmente, etc. Insatisfatória para avaliação Amostra rejeitada/não processada Amostra processada e examinada, mas insatisfatória para avaliação de anormalidades epiteliais porque (especificar razões – sangue obscurecendo totalmente, componente epitelial escasso) 11 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Classificação de Bethesda – 2014 NEGATIVO PARA MALIGNIDADE OU LESÃO INTRAEPITELIAL Achados Não-Neoplásicos Variações celulares não-neoplásicas o Metaplasia escamosa o Mudanças celulares o Metaplasia tubária o Atrofia o Mudanças associadas a gravidez Mudanças celulares reativas associadas com: o Inflamação o Cervicite folicular o Radiação o Dispositivo intrauterino Organismos o Trichomonas vaginalis o Fungos morfologicamente consistentes com Candida spp. o Desvio na flora sugestivo de vaginose bacteriana o Bactérias morfologicamente consistentes com Actinomyces spp. o Mudanças celulares consistentes com o vírus do herpes simples o Mudanças celulares consistentes com o citomegalovírus ANORMALIDADES EM CÉLULAS EPITELIAIS Células escamosas o Células escamosas atípicas o De significado indeterminado (ASC-US) 12 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade o Não exclui HSIL (ASC-H) o Lesão Intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL), compreende: HPV / Displasia Leve / NIC 1. o Lesão Intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL), compreendo: Displasia Moderada e Acentuada, Carcinoma “in situ” / NIC 2 e NIC 3. o Carcinoma de células escamosas Células glandulares o Atípicas o Células endocervicais (NOS) o Células endometriais (NOS) o Células glandulares (NOS) o Atípicas o Células endocervicais, favor neoplasia o Células glandulares, favor neoplasia o Adenocarcinoma endocervical “in situ” o Adenocarcinoma o Endocervical o Endometrial o Extrauterino o Não especificado 13 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade ADEQUAÇÃO DA AMOSTRA - CELULARIDADE Adequação da amostra Boa Celularidade Uma lâmina precisa ser coberta com uma celularidade de 10.000 células em 20 campos 10 campos da lâmina precisariam ser cobertos para uma celularidade de 10.000 células Quadro 6: Adequação da amostra – boa celularidade. Quadro 7: Adequação da amostra – representações de boa celularidade. Quadro 8: Adequação da amostra – representação de pobre celularidade. 14 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Nomenclatura brasileira para laudos cervicais (MS) – Formulário SUS 15 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade 16 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade DIAGNÓSTICO DESCRITIVO Dentro dos limites da normalidade, no material examinado Alterações celulares benignas Atipias celulares Alterações celulares benignas Inflamação Reparação Metaplasia escamosa imatura Atrofia com inflamação Radiação Outras (especificar) Microbiologia Lactobacillus sp Bacilos supracitoplasmáticos (sugestivos de Gardnerella/Mobiluncus) Outros bacilos Cocos Candida sp Trichomonas vaginalis Sugestivo de Chlamydia sp Actinomyces sp Efeito citopático compatível com vírus do grupo Herpes Outros (especificar) Atipias celulares Células atípicas de significado indeterminado Escamosas Possivelmente não-neoplásicas Não se pode afastar lesão intraepitelial de alto grau 17 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Glandulares Possivelmente não-neoplásicas Não se pode afastar lesão intraepitelial de alto grau De origem indefinida Possivelmente não-neoplásicas Não se pode afastar lesão intraepitelial de alto grau Em células escamosas Lesão intraepitelial de baixo grau (compreendendo efeito citopático pelo HPV e neoplasia intraepitelial cervical grau I) Lesão intraepitelial de alto grau (compreendendo neoplasias intraepiteliais cervicais graus II e III) Lesão intraepitelial de alto grau, não podendo excluir microinvasão Carcinoma epidermóide invasor Em células glandulares Adenocarcinoma in situ Adenocarcinoma invasor Cervical Endometrial Sem outras especificações Outras neoplasias malignas Presença de células endometriais (na pós-menopausa ou acima de 40 anos, fora do período menstrual) 18 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade CITOLOGIA, HISTOLOGIA, FISIOLOGIA, ANATOMIA DO APARELHO GENITAL FEMININO E CONSTITUINTES DO ESFREGAÇO CERVICAL NORMAL CITOLOGIA Estuda a morfologia e funções das células e dos componentes celulares,“cito” – cytos (latim = cavidade) – célula. Organelas Celulares Citoesqueleto Membrana plasmática Mitocôndrias Retículo Endoplasmático Aparelho de Golgi Lisossomos e peroxissomos Centríolos Ribossomos Inclusões Citoplasmáticas Figura 7: Representação da célula eucarionte com as organelas. HISTOLOGIA Estudo da estrutura microscópica dos tecidos, órgãos e sistemas, “histos” (grego – tecido), “tissu” (francês – tecido). História - Bichat (1771-1802) estudou e classificou os tecidos, sem microscópio, em + de 600 corpos 21 tipos de tecidos e órgãos. Mais tarde, com microscópio 4 tecidos fundamentais. Quatro tecidos fundamentais Tecido epitelial, Tecido conjuntivo, Tecido muscular e Tecido nervoso Grupos de células similares quanto à estrutura, função e origem embrionária, mantidas juntas por quantidade variada de material intercelular. 19 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Tecido Epitelial Cobre o corpo por fora e reveste os órgãos por dentro. Células poliédricas, pouca substância extracelular, firmemente unidas umas às outras por complexos juncionais, formando camadas contínuas. Apoiado em tecido conjuntivo ligado pela membrana basal (sintetizada pelas células epiteliais). Não possui vasos sanguíneos, sendo nutrido por difusão através do tecido conjuntivo. Duas formas: epitélios que cobrem todo o corpo externamente e revestem o corpo internamente; glândulas que se originam das células epiteliais. Classificação dos epitélios Forma da célula Pavimentosas Cúbicas Cilíndricas Número de camadas Simples Estratificada Quadro 9: Classificação do tecido epitelial conforme a forma da célula e número de camadas. Tecido epitelial simples cilíndrico Figura 8: Tecido epitelial cilíndrico simples e representação esquemática do tecido cilíndrico simples. 20 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Epitélio pavimentoso estratificado queratinizado Figura 9: Tecido epitelial pavimentosos estratificado não queratinizado (mucosa) e representação esquemática das células do tecido epitelial pavimentosos estratificado não queratinizado. Células epiteliais do epitélio pavimentoso estratificado Figura 10: Tecido epitelial pavimentosos estratificado queratinizado (pele) e representação esquemática das células do tecido epitelial pavimentosos estratificado queratinizado. 21 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Diferenciação celular – Tecido epitelial O processo de diferenciação ou maturação celular é o estágio de especialização que atinge um ponto final de função e estrutura estabilizadas. Superficial Intermediária Parabasal Basal Figura 11: Histologia mostrando diferenciação das células do tecido epitelial pavimentosos estratificado não queratinizado (mucosa) e representação esquemática das células do tecido epitelial pavimentosos estratificado não queratinizado. Desdiferenciação A diferenciação retrógrada (desdiferenciação) ocorre quando uma célula segue uma direção oposta da maturação celular normal e retorna à sua forma embrionária. Figura 12: Histologia mostrando várias camadas das células do tecido epitelial pavimentosos estratificado não queratinizado (mucosa) sem diferenciação e representação esquemática. 22 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade FISIOLOGIA A célula epitelial é provida de receptores hormonais (estrogênio e progesterona) que controlam a sua maturação e diferenciação Figura 13: Representação de uma célula epitelial com receptores de estrogênio e progesterona e células epiteliais apresentando diferenciação celular. Ciclo menstrual Figura 14: Representação esquemática das fases do ciclo menstrual. 23 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade ANATOMIA Aparelho genital feminino Figura 15: Representação esquemática do aparelho genital feminino. Vulva Lábios maiores, Lábios menores, Clitóris, Glândulas (sebáceas, Bartolin) Revestimento de Tecido epitelial escamoso estratificado queratinizado Figura 16: Representação esquemática da vulva; histologia do tecido epitelial que reveste a vulva e citologia da vulva. 24 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Vagina Canal que liga o colo do útero à vulva, está à frente do reto e atrás da bexiga Revestida por Tecido epitelial escamoso estratificado não queratinizado Figura 17: Representação esquemática da vagina; histologia do tecido epitelial pavimentoso estratificado não queratinizado (mucosa) que reveste a vagina e citologia com células epiteliais. Útero Forma de cone cujo vértice é inferior, parte superior é o corpo e a inferior é o colo Revestido por: Epitélio cilíndrico simples ciliado e não ciliado, formando glândulas tubulares retas com células cilíndricas altas Figura 18: Representação esquemática do útero e colo do útero; histologia do tecido epitelial pavimentoso cilíndrico simples que reveste o colo do útero e citologia com células epiteliais. 25 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura 19: Representação esquemática do aparelho genital feminino; representação esquemática da histologia do tecido epitelial pavimentoso estratificado não queratinizado (mucosa) e do tecido epitelial cilíndrico simples que revestem o colo do útero na ectocérvice e endocérvice e citologia com células epiteliais escamosas e glandulares. CONSTITUINTES DO ESFREGAÇO CERVICAL NORMAL CÉLULAS DO EPITÉLIO ESCAMOSO Células da camada basal Camada única de células germinativas, sofrem mitose e mantém a renovação do epitélio. Células pequenas, redondas e basófilas. Núcleo volumoso (grande) central e hipercromático. Aparecem no esfregaço citológico em casos de diminuição hormonal brusca que leva a descamação intensa (pós parto) ou em casos de atrofia. Figura 20: Citologia com agrupamento de células epiteliais escamosas basais e esquema das células. Imagem comparativa: Pequenas bolas com bolas menores, ou latas de tinta azul 26 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Células da camada parabasal Várias camadas de células. Células maiores, arredondadas, possuem mais citoplasma que as células basais, bordas bem definidas, citoplasma cianófilo. Núcleo central discretamente hipercromático. Aparece no esfregaço de pós parto, atrófico e na infância. Figura 21: Citologia apresentando células epiteliais escamosas parabasais e imagem comparativa: ovos, onde a gema é o núcleo Células da camada intermediária Várias camadas, a espessura varia de acordo com a fase do ciclo. Células com forma poligonal, citoplasma abundante, delicado e cianófilo claro. Núcleo redondo, claro e central. Possui alto teor de glicogênio. Os lactobacilos que compõem a flora vaginal metabolizam o glicogênio a ácido láctico, mantendo o pH ácido vaginal. Figura 22: Citologia apresentando células epiteliais escamosas intermediárias e imagem comparativa: almofadas com botões. 15 a 30 m 27 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Células da camada superficial Várias camadas de células, a espessura varia de acordo com a fase do ciclo. Células bem diferenciadas, poligonais, achatadascianófilas ou eosinófilas apresentando citoplasma queratinazado que reflete o padrão citológico da atividade estrogênica. Descamam facilmente. Apresentam núcleos picnóticos que são núcleos puntiformes, hipercromáticos, opacos, homogênios os quais não se pode visualizar estrutura em seu interior. Figura 23: Citologia apresentando células epiteliais escamosas superficiais eosinófilas e cianófilas e imagem comparativa: uma folha de papel com um pingo de tinta preta ou um grão de feijão CORRELAÇÃO DA HISTOLOGIA E CITOLOGIA Figura 24: Histologia do tecido epitelial pavimentoso estratificado não queratinizado e citologia apresentando células epiteliais escamosas da camada basal, intermediária e superficial e esquema das células. 28 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade CÉLULAS DO EPITÉLIO COLUNAR DA ENDOCÉRVICE Células colunares, cilíndricas ou glandulares Uma camada de células produtoras de muco e células ciliadas. Células altas, alongada ou arredondada, conforme o plano pelo qual é vista. Citoplasma basófilo, delicado e vacuolizado. Núcleo redondo ou oval, grande, volumoso, basal. Disposição em favo de mel quando vista de cima e paliçada quando vista da face lateral com altura de 20 a 30 m e diâmetro de 8 a 10 m. Figura 25: Desenho esquemático do tecido epitelial glandular simples em paliçada e em favo de mel; imagem comparativa: cerca (paliçada) ou favo de mel. Figura 26: Citologia apresentando agrupamento de células glandulares endocervicais mostrando formação em favo de mel e paliçada na borda do agrupamento e desenho esquemático. 29 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade CÉLULAS DO EPITÉLIO COLUNAR DO ENDOMÉTRIO Células colunares, cilíndricas ou glandulares Descamam durante a menstruação e podem ser observadas até o 10º dia do ciclo menstrual. Células endometriais são pequenas. Descamam em agrupamentos densos, tridimensionais. Possuem tamanha menor que as endocervicais. Células do estroma endometrial (tecido conjuntivo) também podem aparecer. Figura 27: Citologia apresentando agrupamento de células glandulares endometriais mostrando formação em favo de mel; citologia apresentando agrupamento de células glandulares endometriais (exodus). Outras células Leucócitos polimorfonucleares neutrófilos são componente usual nos esfregaços cervicais em pequeno número. Variam conforme a fase do ciclo menstrual. Escassos na ovulação e mais numerosos na fase progestacional. Quando presentes em grandes quantidades, estão associados a processos inflamatórios. Hemácias podem aparecer poucas. Em grande número quando o esfregaço é colhido no período menstrual. Podem estar associadas com ulcerações ou trauma durante a coleta. Histiócitos (monócitos) são frequentes em esfregaços cervicais. Apresentam formas variadas, podem ser pequenos, do tamanho de uma célula endometrial ou maiores, gigantes e multinucleados em esfregaços de pós-menopausa. 30 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Linfócitos células redondas, são bem menos frequentes nos esfregaços cervicais. São observados em grandes quantidades em infecções crônicas, como em cervicite folicular. Muco é secretado pelas células endocervicais, sendo observado em esfregaços cervicais, dependendo da fase do ciclo menstrual. Sem significado clínico. Espermatozoides podem ser observados, porém nunca relatados. Sem significado clínico. METAPLASIA ESCAMOSA É uma alteração reversível onde ocorre uma mudança de um tipo de célula adulta e madura em outro tipo celular adulto. Um processo em que um tipo de epitélio se transforma em outro tipo epitelial. Representa uma substituição adaptativa das células que são sensíveis ao estresse por tipos celulares melhor preparados para suportar o ambiente adverso. O tecido metaplásico é mais resistente às agressões Figura 28: Representação esquemática do processo de metaplasia. 31 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Mecanismo da Metaplasia Reprogramação das células pluripotentes (células de reserva) ou de células mesenquimais indiferenciadas presentes no tecido conjuntivo. Se as influências que predispõem à metaplasia persistirem pode ocorrer uma transformação maligna, conforme exemplos abaixo: Metaplasia epitelial colunar para escamosa no trato respiratório Metaplasia epitelial escamoso para colunar no trato digestório, como na esofagite de Barret, na qual o epitélio esofágico é substituído por células colunares. Metaplasia epitelial colunar para escamosa no colo do útero (SGF) Como acontece a metaplasia Figura 29: Desenho esquemático apresentando a junção escamo-colunar em processo de metaplasia. 32 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Ectopia Ectopia na zona de transformação Ectopia com metaplasia na zona de transformação E = Epitélio escamoso, C = Epitélio cilíndrico; M = Metaplasia pavimentosa em mucosa endocervical Figura 30: Representação esquemática do colo do útero apresentando ectopia (eversão) do colo e metaplasia. Critérios citológicos Aparecem em agregados soltos ou isoladas. Mostram processos citoplasmáticos proeminentes. Células metaplásicas imaturas são pequenas e semelhantes às células basais e parabasais. Células metaplásicas maduras são grandes poligonais de tamanho e forma similar às células intermediárias e superficiais. Figura 31: Citologia apresentando células metaplásicas com projeções citoplasmáticas. 33 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Variações celulares não-neoplásicas Metaplasia escamosa: Células apresentando margens celulares proeminentes Figura 32: Citologia apresentando células metaplásicas com projeções citoplasmáticas e desenho esquemático de uma célula metaplásica com projeções citoplasmáticas proeminentes. 34 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Mudanças celulares queratóticas: Paraceratose e hiperceratose Figura 33: Citologia apresentando células epiteliais totalmente queratinizadas e anucleadas; citologia apresentando algumas células de paraceratose. Metaplasia tubária: Apresenta células colunares ciliadas Figura 34: Citologia apresentando células epiteliais cilíndricas ciliadas. Atrofia Células parabasais degeneradas eosinofílicas com núcleos degenerados. Autólise do núcleo, resultando núcleos desnudos. Exsudato inflamatório com granulações basofílicas. Material amorfo basofílico Figura 35: Citologia apresentando esfregaço atrófico com células epiteliais profundas apresentando degeneração nuclear, fundo grumoso. 35 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Mudanças associadas a gravidez: Célula intermediária navicular, na gravidez, devido ao alto teor de glicogênio Figura 36: Citologia apresentando células epiteliais intermediárias naviculares. Mudanças celulares reativas associadas com: Inflamação Critérios Citológicos Núcleo Aumento nuclear Hipercromatismo Binucleação ou multinucleação Degeneração nuclear Nucléolos únicos ou múltiplos Halos perinucleares, sem espessamento periférico Citoplasma Metacromasia,policromasia (anfofilia) Vacuolização Fagocitose Degeneração citoplasmática Citoplasma com bordas apagadas Outras células – Leucócitos Neutrófilos Histiócitos Linfócitos Núcleo Aumento nuclear Células escamosas apresentando 1 ½ a 2 vezes o tamanho do núcleo de uma célula intermediária normal Calibrar o olho com as outras células intermediárias normais do esfregaço Células glandulares endocervicais podem apresentar grande aumento nuclear (núcleos volumosos) e nucléolos 36 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura 37: Citologia apresentando células epiteliais com núcleos aumentados de tamanho. Hipercromatismo - cromatina fortemente corada, mas uniforme Binucleação ou multinucleação - Célula apresentando dois ou três núcleos Figura 38: Citologia apresentando células epiteliais com núcleos hipercromático; citologia apresentado célula com binucleação. Degeneração nuclear Cariorrexe Dissolução da cromatina Dispersão da cromatina Perda dos limites nucleares Picnose Retração nuclear Redução do volume nuclear Condensação do DNA Núcleo hipercromático Cariólise Dissolução da cromatina pela DNAse Núcleo sem coloração ou pouco corado Nucléolos únicos ou múltiplos, proeminentes 37 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Citoplasma Citoplasma com metacromasia, policromasia (anfofilia). Vacuolização e degeneração citoplasmática. Fagocitose, Halos perinucleares, sem espessamento periférico. Citoplasma com bordas apagadas. Figura 39: Citologia apresentando células epiteliais metacromasia; citologia apresentando célula com vacuolização e degeneração citoplasmática. Figura 40: Citologia apresentando célula epitelial com um fagossomo; citologia apresentando célula epitelial com bordas citoplasmáticas apagadas. Outras Células Leucócitos Neutrófilos são vistos nos esfregaços cervicais e não são indicativos de infecção. Mas, quando eles estão presentes, em quantidade aumentada indicam um processo infeccioso. Na fase aguda da infecção - Exsudato leucocitário, apresentando neutrófilos e histiócitos (macrófagos – monócitos). Exsudato inflamatório denso, pode impedir uma análise citológica. Monócitos Histiócitos Pequenos: após a fase menstrual (êxodo) NORMAL. Fora dessa fase INFLAMAÇÃO CRÔNICA . Grandes: com núcleo excêntrico, forma oval, redonda ou em feijão. Após menopausa e após radioterapia Linfócitos Na fase crônica, ocorre infiltração localizada ou difusa de linfócitos formando folículos linfoides 38 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Alterações de reparo Reparo Erosão ou Úlcera Um trauma ou infecção aguda pode levar a uma perda da descontinuidade do epitélio ulcera ou erosão Figura 41: Desenho esquemático de um tecido mostrando erosão. Representação esquemática simplificada da reparação Proliferação das células basais ou de células de reserva na periferia da lesão Células cobrem a superfície como um lençol. Reconstituição do epitélio por proliferação e diferenciação celular Critérios Citológicos: Fundo da lâmina normalmente limpo; Células e núcleos orientados na mesma direção, refletem crescimento celular rápido, aspecto de lençol; Aumento do tamanho nuclear, nucléolos proeminentes. Ausência de células isoladas com alterações nucleares Figura: Fonte: Figura 42: Citologia apresentando agrupamento de células epiteliais de um reparo. 39 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Mudanças celulares reativas associadas com: Inflamação - Cervicite folicular Linfócitos e seus precursores com padrão de cromatina grosseira, nucléolos proeminentes, mimetiza carcinoma de células escamosas pouco diferenciado. Infecção crônica - Chlamydia trachomatis (Doença inflamatória pélvica - DIP) Figura 43: Citologia apresentando processo inflamatório, mostrando linfócitos em grande quantidade. Radiação Critérios Tamanho celular normalmente aumentado. Células em forma bizarra. Núcleos aumentados com degenerações. Binucleação ou multinucleação comum. Nucléolos proeminentes único ou múltiplos. Reação reparatória pode ser observada. Vacuolização do citoplasma. Figura 44: Citologia apresentando efeito da radioterapia em células epitelais. 40 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Dispositivo intrauterino Células podem descamar em agrupamentos ou isoladas. Agrupamentos podem imitar as células de adenocarcinoma. – cautela na presença de um DIU. Em caso de dúvida, considere repetir a amostragem após a remoção do DIU Figura 45: Citologia apresentando agrupamento glandular com mudanças reativas associadas ao DIU. Trichomonas vaginalis Protozoário, unicelular, flagelado, forma de pera (oval ou redondo), 15 a 30 m de tamanho. Núcleo pálido, vesicular e localização excêntrica. Citoplasma eosinófilo ou cinófilo, com granulações que podem ser observadas, flagelo não visível. Aderem nas superfícies das mucosas e causam lesões no trato genital masculino e feminino. Não invadem os tecidos do hospedeiro. Causam tricomoníase, uma infecção de transmissão sexual. Corrimento de cor amarelada ou esverdeada, causando coceira e dor no ato sexual. Podem causar infecções nas trompas e ovários, levando a esterilidade ou pode ser assintomática. 41 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Características do esfregaço citológico Fundo apresenta exsudato leucocitário Células escamosas policromáticas Leve aumento nuclear com hipercromasia Binucleação, multinucleação, cariopicnose e halo perinuclear Outras alterações celulares reativas Figura 46: Citologia apresentando processo inflamatório, mostrando diversas estruturas piriformes, núcleo pálido, vesicular, cianofíceas, algumas com granulações, e flagelo não visível. Ao lado uma representação esquemática do protozoário. Fungos morfologicamente consistentes com Candida spp. Fungos com blastoconídeos, pseudo-hifas e hifas verdadeiras ramificadas e septadas, eosinofílicas a marrom-acinzentada. Várias espécies, dentre as mais frequentes: Candida albicans e Candida glabrata. Candidíase: Certos fatores que contribuem para o aparecimento da candidíase: gravidez, diabetes, obesidade, higiene pessoal, medicamentos (antibióticos) Figura 47: Citologia apresentando mostrando organismos fúngicos morfologicamente compatíveis com Candida spp. ao lado uma representação de hifa com septação e blastoconídeos. 42 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Desvio na flora sugestivo de vaginose bacteriana Características do esfregaço citológico Fundo do esfregaço com cocobacilos em evidência. Células escamosas individuais cobertas por uma camada de cocobacilos que obscurece a membrana celular e o citoplasma formando as “clue cells” ou células alvo. Gardnerella vaginalis e/ou Mobiluncus sp A predominância de cocobacilos representa uma mudança da flora vaginal de Lactobacilos para um processo polimicrobiano, envolvendo vários tipos de bactérias anaeróbicas, incluindo, mas não limitando-se à Gardnerella vaginalis. Bastonete curto, Gram negativo ou Gram variável, citologia com células alvo ou Clue cell. Figura 48: Citologiaapresentando processo inflamatório por desvio na flora sugestivo de vaginose bacteriana, observe as células alvo ou clue cellls. Ecossistema vaginal: A flora vaginal é um ecossistema dinâmico constituído de várias espécies de Lactobacillus, e outras bactérias produtoras de ácido lático. A composição da flora vaginal não é constante, sofrendo variações em resposta a fatores exógenos e endógenos. Tais fatores incluem as diferentes fases do ciclo menstrual, gestação, uso de contraceptivos, frequência de intercurso sexual, uso de duchas ou produtos desodorantes, utilização de antibióticos ou outras medicações com propriedades imunossupressivas. Lactobacillus spp. - Bastonete Gram positivo, imóvel e não capsulado; constitui o maior componente da flora vaginal; pH < 4,5 Figura 49: Citologia apresentando flora de lactobacilos. 43 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Bactérias morfologicamente consistentes com Actinomyces spp. São bactérias anaeróbicas (Gram positivas), habitantes normais da boca e do intestino. Causam doença quando barreiras da mucosa são rompidas por trauma mecânico. Resposta inflamatória aguda, dor pélvica. Encontrado em aproximadamente 7% das mulheres usuárias de DIU. Critérios citológicos Grupos entrelaçados de organismos filamentosos (borrão). Grupos em “cotton boll” (bola de algodão). Usualmente ramificados Figura 50: Citologia apresentando organismos filamentosos (borrão), morfologicamente consistentes com Actinomyces spp. Alterações celulares consistentes com o vírus do herpes simples Vírus grandes, encapsulados, com dupla fita de DNA, conhecidas mais de 100 espécies, 6 causam doenças no homem. HSV-1 e HSV-2 são geneticamente semelhantes e causam um padrão semelhante de infecção primária e recorrente. Infectam a pele e as mucosas orofaríngea (HSV-1) e genital (HSV-2). Causam lesões vesiculares com ulceração e evidente reparo epitelial, provocando dor, queimação e bolhas dolorosas, pequenas feridas. Critérios citológicos Fundo apresenta exsudato leucocitário. Células grandes, multinucleadas, com núcleos moldados. Núcleos com aspecto de vidro fosco com fina membrana nuclear, cromatina marginalizada. Inclusões intranucleares eosinofílicas, densas 44 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura 51: Citologia apresentando célula epiteliais grandes, multinucleadas, com núcleos moldados, aspecto de vidro fosco com efeito citopático consistente com o vírus do herpes simples. Mudanças celulares consistentes com o citomegalovírus Critérios citomorfológicas As células com núcleos grandes e proeminentes, inclusão intranuclear vermelho consistentes com a infecção pelo citomegalovírus (CMV) Figura 52: Citologia apresentando célula epiteliais com efeito citopático consistente com o vírus citomegalovírus. 45 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Papilomavírus humano (HPV), verrugas e câncer do colo do útero Pequenos vírus, epiteliotrópico, sem envelope, cadeia dupla de DNA, infectam epitélios da mucosa e pele em vertebrados superiores e induzem a proliferação celular. Mais de100 tipos de HPV foram identificados, sendo que metade deles infectam o trato genital. Muitos tipos de HPV foram encontrados em câncer cervical, enquanto outros são encontrados raramente ou não em todos. Classificados de HPVs de “baixo risco” e “alto risco”, de acordo com sua capacidade de transformação da célula. Figura 53: Figura esquemática do Papilomavírus, apresentando seu capsídeo e molécula do DNA; representação da cadeia de DNA com os genes E (early) e L (late). Papilomavírus humano (HPV) Baixo risco (6, 11, 42, 43, 44, 45, 51, 52, 74 ...) Causam tumores benignos como verrugas comuns e verrugas anogenitais (condilomas) Alto risco (16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58 ...) Associado ao câncer da cérvice, vulva, ânus e pênis Mais de 40 tipos de HPVs infectam o trato anogenital 46 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura 54: Representação esquemática do útero e da cérvice uterina e seus epitélios; representação esquemática linear dos dois epitélios, na junção epitelial do epitélio da cérvice uterina – Junção escamo colunar. Figura 55: Representação esquemática linear mostrando uma fissura no epitélio escamosos e junção escamo-colunar por onde o vírus HPV pode ter acesso a célula da camada basal. 47 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura 56: Representação esquemática de uma célula epitelial escamosa da camada basal, mostrando o HPV penetrando na célula e a molécula de DNA do vírus, circular (epissomal) no núcleo. Figura 57: Representação esquemática do tecido epitelial mostrando o HPV, no núcleo, desde a célula da camada basal, na forma epissomal, até a célula superficial. Núcleo 48 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Que doenças podem ser causadas pelo HPV, se o DNA não se integra ao genoma celular? Lesões benignas Figura 58: Desenho esquemático de verrugas vulgares na pele da planta do pé; foto de verrugas vulgares na pele do rosto; foto de verrugas vulgares na pele na mão. HPV de baixo risco (6, 11, ...) Figura 59: Fotos de verrugas vulgares na pele da região genital e anal; histologia de verruga vulgar na pele. HPV de baixo risco (6, 11, ...) 49 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura 60: Representação esquemática do núcleo de uma célula epitelial escamosa da camada basal, mostrando a molécula do DNA do HPV; a seta vermelha mostra onde normalmente ocorre a quebra da molécula circular do DNA que se lineariza. Figura 61: Representação esquemática do núcleo de uma célula epitelial escamosa da camada basal, mostrando a molécula do DNA do HPV linearizada se integrando no DNA da célula hospedeira. 50 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura 62: Representação esquemática do tecido epitelial mostrando o DNA do HPV integrado ao DNA da célula hospedeira, ocorrendo transformação na célula. O HPV infecta as células da camada basal, em decorrência de abrasão ou microlesões da pele e mucosa no colo do útero, na junção escamocolunar ou epitélio de transição, onde as células proliferativas estão mais expostas. Lesões causadas pelo HPV, quando o DNA está integrado ao DNA da célula Figura 63: Representação esquemática do útero normal; colo do útero e citologia com lesão precursora; colo do útero e citologia com câncer. HPV de alto risco (16, 18, ...) 51 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Como se faz o diagnóstico precoce do câncer do colo do útero Exame clínico – verrugas, lesões planas, história clínica Exame citológico de células esfoliadas (Papanicolaou) Exame de colposcopia Exame anatomopatológico Exames complementares Teste moleculares que detectam o DNA do HPV Captura híbrida Reação em cadeia da polimerase (PCR)52 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Células escamosas Células escamosas atípicas De significado indeterminado (ASC-US - Atypical Squamous Cells of Undetermined Significance) Não exclui HSIL (ASC-H - Atypical Squamous Cells - cannot exclude HSIL) Células Escamosas Atípicas de Significado Indeterminado (ASC- US) “Anormalidades celulares mais evidentes do que aquelas atribuídas às alterações reativas, mas que, quantitativamente ou qualitativamente, não asseguram o diagnóstico definitivo de lesão intra-epitelial escamosa (SIL)”. Características citológicas Diferenciação escamosa Aumento da área do núcleo em relação ao citoplasma. Núcleo 2 ½ a 3 X maior do que o núcleo de uma célula intermediária normal ou 1 ½ a 2 X a área do núcleo de uma célula metaplásica normal. Variação no tamanho e forma nuclear e eventual binucleação. Leve hipercromatismo, mas a cromatina mantém distribuição uniforme sem granulações Figura 64: Citologia apresentando células epiteliais escamosas normais e células epiteliais escamosas com alterações celulares compatíveis com ASC-US. Critérios citológicos Células com aparência MADURA do citoplasma apresentando núcleos atípicos. Células com alguns, mas não todos fatores, que sugerem efeitos citopáticos do HPV, lembram coilócitos. Hiperceratose, células escamosas poligonais maduras anucleadas (pode ser contaminação). Paraceratose atípica, células sozinhas ou em agrupamentos tridimensionais com alongamentos, núcleo aumentado, binucleação, e hipercromatismo. 53 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Células Escamosas Atípicas – não exclui Lesão de Alto Grau ASC-H Ocasionalmente, essas alterações morfológicas tornam-se tão acentuadas que as lesões intra-epiteliais escamosas de alto grau (HSIL) ou carcinoma de células escamosas não podem ser excluídas – representam 10% dos ASC. Critérios citológicos: Células escamosas pequenas. Células escamosas de metaplasia imatura atípica, 1 ½ a 2 X a área do núcleo de uma célula metaplásica normal. Altas proporções núcleo/citoplasma. Reparo atípico: Células escamosas associadas com atrofia. Células metaplásicas imaturas atípicas. As células ficam juntas, parece que se acomodam umas às outras formando um paralelepípedo. Núcleos tamanhos ≠. Podem apresentar halo. Figura 65: Citologia apresentando células epiteliais metaplásicas normais e células epiteliais escamosas com alterações celulares compatíveis com ASC-H. Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL) Envolvem alterações celulares associadas com os efeitos citopático do HPV, displasia leve e neoplasia intraepitelial cervical 1 Figura 66: Esquema da diferenciação terminal do tecido epitelial apresentando efeito citopático da infecção pelo HPV; histologia de uma lesão intraepitelial cervical de baixo grau; seta indicando a diferenciação em dois terços superiores do epitélio. 54 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Histologia Hiperplasia da camada basal que ocupa 30% da altura do epitélio. Sobre essa camada, as células se diferenciam e mostram anisonucleose e citoplasma com vacuolização (Coilocitose). Pode ser observado distúrbios de queratinização, paraceratose. Citologia Células isoladas ou agrupadas com contornos celulares nítidos. Anormalidades nucleares em células intermediárias e superficiais. Aumento nuclear de pelo menos 3X a área do núcleo de uma célula intermediária normal. Binucleação e multinucleação. Membrana nuclear lisa com leves irregularidades. Célula mostrando cavidade perinuclear opticamente clara e densa borda citoplasmática – coilócito. Paraceratose e ceratose. Figura 65: Citologias apresentando células epiteliais escamosas intermediárias com núcleo atípico e coilócitos; desenho esquemático de uma célula com coilócito. Figura 66: Microscopia eletrônica do núcleo de célula epitelial com lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL) apresentando partículas virais no interior do núcleo. 55 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Lesão intraepitelial escamosa de alto grau – HSIL Figura 67: Esquema da diferenciação terminal do tecido epitelial apresentando efeito citopático da infecção pelo HPV; histologia de uma lesão intraepitelial cervical de alto grau (NIC 2); seta mostrando a diferenciação no terço superior do epitélio. NIC 2 - Epitélio com indiferenciação em uma espessura de 70%, conserva a diferenciação no terço superior, as células mostram as alterações que acompanham à infecção do Papilomavírus Humano. Figura 68: Esquema não mostra diferenciação do tecido epitelial; histologia de uma lesão intraepitelial cervical de alto grau (NIC 3); seta representando que não há diferenciação do tecido epitelial. NIC 3 - Toda a espessura do epitélio cervical mostra células neoplásicas, com células imaturas, alterações e polimorfismo nuclear. Não há nenhuma maturação superficial, mas a membrana basal está preservada Citologia Aumento nuclear é o mesmo do LSIL, mas as células são menores e menos maduras. Membrana nuclear irregular. Hipercromatismo, cromatina com grânulos finos ou grossos, com distribuição uniforme. Nucléolos raramente presentes, quando aparecer dá para sugerir invasão. Fundo limpo. Arranjos em grupos coesos, fileiras ou em correntes. 56 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura 69: Citologias apresentando células epiteliais escamosas com alterações compatíveis com HSIL Carcinoma de células escamosas Figura 70: Esquema mostrando invasão do tecido conjuntivo; histologia de carcinoma de células escamosas. Toda a espessura do epitélio cervical mostra células neoplásicas, com células imaturas, alterações e polimorfismo nuclear. Não há nenhuma maturação superficial, E AS CÉLULAS NEOPLÁSICAS ROMPEM A MEMBRANA BASAL E INVADEM O TECIDO CONJUNTIVO SUBJACENTE Citologia Células menores que as de HSIL, com características de HSIL. Acentuada variação no tamanho e forma celular. Células em forma caudadas. Células em forma fusiformes. Formações em pérolas córneas. Descamação em células isoladas ou agrupadas. Células em agregados sinciciais com bordas celulares mal definidas. Células escamosas com citoplasma denso orangeofílico – queratinizadas. 57 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura 71: Citologias apresentando células de carcinoma de células escamosas. Núcleos Coloração em tinta de nanquim MALIGNO Anisocariose Cromatina grosseira granular, cromatina irregular Membrana nuclear ultrapassando a membrana celular Nucléolos visíveis (macronucléolos proeminentes) Mitoses atípicas. Diátese tumoral, fundo sujo com aspecto proteináceo, como nuvem - restos de produtos de degradação celular 58 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Células glandulares Atípicas Células endocervicais (Sem outra especificação - NOS) Células endometriais (NOS) Células glandulares (NOS) Células Glandulares Atípicas Células mostrando diferenciação endocervical ou endometrial com atipia nuclear que excedam a alterações reativas ou reparatórias, mas que carecem de características inequívocas de adenocarcinoma “in situ” ou invasivo. Critérios citológicos Células glandularesendocervicais com núcleos aumentados e levemente irregulares Citoplasma vacuolizado e denso Modificações que excedem as mudanças reativas, mas sutis que impedem o diagnóstico de displasia glandular Critérios citológicos Células ocorrem em camadas, blocos ou rosetas. Sobreposição nuclear. Variação no tamanho e forma nuclear. Leve a moderada hipercromasia. Nucléolos Figura 72: Citologias apresentando agrupamento celular glandular com aumento nuclear, arranjo irregular do agrupamento. 59 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Adenocarcinoma endocervical “in situ” Carcinoma de células do epitélio simples cilíndrico no canal endocervical Citologia Aumento nuclear, hipercromasia, estratificação (várias camadas) e atividade mitótica, sem invadir a membrana basal Características dos agrupamentos: roseta, pseudoestratificação, sobreposição e perda da polaridade Figura 73: Citologia apresentando agrupamento celular glandular com aumento nuclear e hipercromatismo, arranjo do agrupamento em forma de roseta. Adenocarcinoma endocervical Citologia Apresenta todas as características do adenocarcinoma “in situ”. Agrupamentos ou agregados tridimensionais de células. Núcleos aumentados, pleomórficos, afastados para periferia, cromatina com distribuição irregular. Macronucléolos. Diátese tumoral, mostra características de invasão. Lesões precursoras do câncer do colo uterino. Figura 74: Citologia apresentando agrupamento celular glandular com hipercromatismo nuclear, núcleos em forma de charuto, arranjo do agrupamento em forma de roseta. 60 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Figura 75: Representação esquemática da histologia desde normal até carcinoma. 61 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Espermograma Exame de Espermograma, Espermiograma, Espermatograma, Espermocitograma, Espermocinetograma Objetivos: Estudar e acompanhar a infertilidade; Monitorar cirurgia; Pesquisar; Participar em medicina legal Conceito É a avaliação físico-química, qualitativa, quantitativa e morfológica do esperma. Deve ser sempre analisada, pelo menos, duas amostras de sêmen com coletas obtidas com um intervalo mínimo de duas semanas, devido à enorme variabilidade que existe na emissão seminal e, caso haja diferença maior que 20% entre qualquer parâmetro, será necessária uma nova amostra. Consiste de uma revisão morfofuncional do sistema genital masculino Sistema Genital Masculino Testículos - Túbulos seminíferos: órgãos ovais, dois, diâmetro 4 a 5cm e largura 2cm. Envolvidos por cápsula de tecido conjuntivo denso → túnica albugínea Ductos genitais Situados no interior dos testículos e ductos situados fora dos testículos Glândulas anexas Vesículas seminais, Próstata e Glândulas Bulbouretrais Pênis Pênis Corpos cavernosos do pênis Glande Prepúcio Lóbulos testiculares Uretra Bexiga Próstata Ampola Vesícula seminal Ducto ejaculador Ducto deferente Ductos eferentes Corpos cavernosos da uretra Túnica vaginal Rede testicular Túbulos retos Epidídimo Albugínea Bulbo uretral 62 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Função Gametogênese (espermatozóides) Esteroidogênese (testosterona) Desenvolvimento Cavidade abdominal, no final do período fetal (8o mês) descem para o saco escrotal (peritônio → túnica vaginal → cavidade serosa recobre porção antero- lateral) Porção posterior → vasos, nervos Túbulos Seminíferos Enovelados, comprimento 40 a 70cm, diâmetro 150 a 280 µm Epitélio estratificado complexo - Células Germinativas e Células de Sertoli - suporte físico e nutrição do epitélio germinativo Tecido intersticial - Células de Leydig - sintetizam TESTOSTERONA, sob ação do LH Espermatogênese e Espermiogênese 63 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Transporte do espermatozóide cerca de 200 a 600 milhões de espermatozóides são depositados no colo do útero, atravessam o canal cervical, o útero e as trompas. Somente 200 espermatozóides alcançam o sítio de fertilização. Local de fertilização a sede usual de fertilização é a ampola da trompa uterina. Capacitação e Maturação dos espermatozoides Espermatozóides recém ejaculados não são capazes de fecundar o ovócito período de condicionamento que dura cerca de 7 horas, num processo chamado de capacitação no útero ou na trompa uterina, são removidas as capas de glicoproteínas e proteínas seminíferas da superfície do acrossoma. As enzimas do acrossoma entram em contato com a membrana celular: Sistema Genital Masculino Ductos genitais Situados no interior dos testículos Situados fora dos testículos Glândulas anexas Vesículas seminais Próstata Glândulas Bulbouretrais Pênis Vesículas Seminais e Secreção Dois órgãos, alongadas e contorcidas de 5 cm de comprimento; constituída por um tubo único (3 a 4mm de diâmetro, 10 a 15 cm de comprimento), dobrado sobre si mesmo; Secreção amarelada, ligeiramente alcalina, viscosa e rica em frutose 46 a 80% do volume final Frutose Fatores de coagulação Tromboplastina Prostaglandinas Lactoferrina Proteínas antigênicas Imunoglobulinas Inibidores das proteínas Potássio Próstata e Secreção prostática A maior das glândula acessórias, circunda a porção inicial da uretra; Forma e tamanho de uma castanha, pesa cerca de 20g; Secreção prostática: rica em cálcio, zinco, magnésio e ácido cítrico, fosfatase ácida e alcalina ... 13 a 23% do volume seminal 64 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Fatores de liquefação Espermolisinas Trobolisina Cálcio, zinco, magnésio e ácido cítrico Fosfatase ácida e alcalina Inusitol Ativador de plasminogênio Albumina Inibidores de tripsina Espermograma Avaliação das glândulas seminais, da fertilidade e monitoramento pós-vasectomia Além das avaliações físico-químicas, microscópicas e morfológicas dos espermatozóides, podem ser realizadas também avaliações imunológicas, bioquímicas e hormonais Espermograma Biossegurança Vacina contra Hepatite B Uso obrigatório de luvas descartáveis Lavagem das mãos com sabão neutro Havendo contaminação externa do frasco, utilizar desinfetante (hipoclorito) Descarte do material utilizado Métodos para análise 1a Etapa: Procedimentos pré-analíticos 2a Etapa: Procedimentos analíticos 3a Etapa: Procedimentos pós-analíticos Procedimentos pré-analíticos: Preparo do paciente e coleta do sêmen Preparo do paciente para a coleta do sêmen “Informações que devem ser fornecidas ao paciente de forma clara, a fim de se obter um material que garanta a confiabilidade dos parâmetros analisados”. Os procedimentos de coleta e análise do sêmen devem ser adequados e padronizados Abstinência sexual O período de abstinência deverá ser de 2 a 5 dias, mas deve-se levar em conta a atividade sexual do paciente, o ideal cinco dias - 1 a 3 dias, mínimo dois e máximo sete dias Deve-se registrar o período de abstinência, data e hora da coleta, período de intervalo entre a coleta e o exame, medicamentos usados. Coleta do sêmen Deve ser realizada no laboratório por automasturbação 65 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Se não for realizada no laboratório, a amostra deveráser enviada no máximo em 30min após o recolhimento Horário da coleta – é importante estabelecer um horário e informar ao paciente Jejum não é obrigatório (12 horas), exceto se solicitado a dosagem de frutose, níveis elevados de glicose podem interferir na dosagem Condições da sala de coleta Silenciosa Orientações ao paciente O paciente deverá ser orientado para evitar perda de material Não utilizar preservativos de látex durante a coleta (presença de substâncias espermaticidas) Não utilizar métodos alternativos para obtenção do sêmen Por exemplo, relação sexual interrompida devido a contaminação de células, bactérias, alteração pH Proteção do material contra altas e baixas temperaturas Menos de 20o C e mais de 40o C Frascos para amostra A amostra deverá ser coletada em frascos esterilizado, de vidro ou plástico (sem espermaticida), de boca larga, fornecido pelo laboratório; Fechar imediatamente o frasco após a coleta, para evitar alcalinização; No momento do exame devem ser registrados Nome do paciente: ____________________ Idade: __________ Filhos:____ Idade do(s) filho(s): __________ Período de abstinência: _________ dias Data: ___________ Hora de coleta: _______ Uso de medicamentos: _________________ Motivo do exame: _____________________ 66 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade SÊMEN As 1as porções são ricas em: Espermatozóides Fluidos das glândulas bulbouretrais e do epidídimo As porções finais são ricas em secreções: Vesículas seminais, coágulo Próstata, liquefação COAGULAÇÃO Tempo de duração da coagulação 1a Fase: Liquefação inicial 2a Fase: Coagulação 3a Fase: Liquefação secundária COAGULAÇÃO 1a Fase: Inicial liquefeita, (virtual) de duração extremamente curta em casos normais Logo após a ejaculação, o sêmen se transforma em gel pelo contato com uma superfície estranha - frasco (“in vitro”), colo de útero (“in vivo”) Esse mecanismo protege os espermatozóides do gasto de energia e ação deletéria do pH vaginal 2a Fase: Coagulação, período de 5 a 30 minutos Os gametas ficam presos nas malhas do coágulo, processo parecido com a coagulação plasmática (sêmen não tem fibrinogênio) 3a Fase: Liquefação secundária, definitiva - após a liquefação, os demais parâmetros, devem ser analisados imediatamente A liquefação normal de 30 a 60 minutos A liquefação parcial ou ausente é considerada uma importante causa de infertilidade Determinação do tempo de coagulação Método: análise virtual – observa-se a dissolução do coágulo Valores de referência: 5’ a 30’ após a coleta COAGULAÇÃO Ausência de coagulação ou liquefação primária Falta completa ou parcial de fatores de coagulação (vesícula seminal) Persistência de um estado líquido ou semi-líquido do sêmen Altera a mobilidade dos espermatozóides COAGULAÇÃO Ausência de liquefação secundária. Persistência de coágulos ou uma alta viscosidade (próstata) Baixa concentração de fibrinolisina 67 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade O esperma apresenta alta viscosidade, podendo causar imobilização completa ou parcial dos espermatozóides CONSISTÊNCIA / VISCOSIDADE Representa a consistência do sêmen. Com uma pipeta de 5ml, deixar o esperma cair em gotas pela ação da gravidade Técnica: Consistência / Viscosidade Com uma pipeta de 0,1 mL com 11 cm de coluna de esperma, gotejar 3 gotas cronometrando. Entre 4,8 a 5,2 segundos: normal > que 5,2 segundos: viscosidade elevada < que 4,8 segundos: baixa viscosidade Referências Normal gotas discretas se desprendem da pipeta Aumentada gotas se alongam, formando filetes de mais de 2cm (deficiência de produção de espermolisinas pela próstata) Diminuída quando o líquido escorre da pipeta (deficiência vesicular com baixa produção de fatores da coagulação) VOLUME O volume está diretamente dependente da freqüência de coitos Valores normais: 2,0 a 5,0 ml Valores menores que 1,0 ml (hipospermia) são insuficientes para análise, devendo ser solicitada nova coleta, observando o novo período de abstinência Hipospermia: <1ml Falta de abstinência Insuficiência vesicular ou prostática Hiperespermia: > 5ml Abstinência prolongada Tumores benignos ou malignos da próstata ou vesícula Aspermia: ausência de ejaculado Agenesia de glândulas vesiculares Ejaculação retrógrada Anormalidades da uretra que provocam insuficiência das válvulas urinárias Alterações do controle neurológico da ejaculação ASPECTO Observação subjetivo do analista 68 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Aspecto Homogêneo Normal Espesso e gelatinoso Após a liquefação, pode apresentar-se mais fluido e opalescente Aspecto Heterogêneo Agregados proteináceos Períodos abstinência sexual ↑ Testosterona ↓ Processos inflamatórios Certos medicamentos COR Cor normal Branco opaco a cinza claro Cores anormais Amarela intensa Leucospermia Vermelhas Hemospermia ODOR É considerado "sui generis“ e deve-se a presença de três aminas: esperminas, espermidina e putrescina O odor é resultado da oxidação dessas aminas A ausência desse odor pode sugerir infecção pH Potenciômetro, tiras indicadoras, graduadas em décimos de unidade, entre 6,0 e 9,0 Valores normais: 7,2 a 8,0 Em contato com o ar o pH tende a elevar-se a valores de 8,8 a 9,0 Manter o frasco fechado Este teste dever ser realizado no prazo máximo de 1 hora após a coleta pH pH – medido logo após a ejaculação pH básico > 8,0 Indica deficiência de secreção prostática pH ácido < 7,2 Indica insuficiência da secreção vesicular 69 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Análise morfológica Análise morfológica dos espermatozoides 70 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Espermatozoides alterados Alterações de cabeça Alterações de peça intermediária Alterações de cauda Alterações de cabeça Defeitos na forma e tamanho da cabeça, incluindo as cabeças grandes, pequenas, “tapering”, piriformes, amorfas, vacuoladas, cabeças duplas ou qualquer combinação entre essas alterações 71 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade 72 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Alterações de peça intermediária Defeitos do pescoço e peça intermediária incluindo falta de cauda, cauda não inserida ou “pendente”, peça intermediária distendida, irregular, pendente ou anormalmente fina ou qualquer combinação entre essas alterações 73 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Alterações de cauda Defeitos da cauda, incluindo caudas curtas, múltiplas, dobradas, quebradas, irregulares, espiraladas, caudas com gotículas terminais, ou qualquer combinação entre essas alterações Células germinativas A identificação das células germinativas imaturas pode ser feita através de colorações como Leishman, Giemsa, Papanicolaou etc. 74 Apostila de Citologia ClínicaProf. Vera Regina Medeiros Andrade Análise qualitativa e quantitativa não automatizada Avaliação da motilidade e vitalidade Preparo para análise seminal Em uma lâmina, colocar 10 µl de sêmen e cobrir com uma lamínula de 22x22mm Repousar por alguns minutos Examinar em 10X e 40X Verificar o número de espermatozóides por campo Aglutinação A sua presença pode sugerir causa imunológica de infertilidade Deve ser analisada em 10 campos A sua presença deve ser relatada, e o tipo de aglutinação registrado Cabeça-cabeça Cauda-cauda Peça intermediária – peça intermediária Mista (vários tipos presentes) Motilidade Dever ser classificada nas seguintes categorias: Motilidade progressiva e rápida Motilidade progressiva lenta Motilidade não progressiva Sem movimento A avaliação da motilidade dever ser feita imediatamente após a liquefação, 2h e 6h após a primeira avaliação Células Epiteliais não de linhagem seminal Células redondas: Espermatogênese e células inflamatórias 75 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Movimento Progressivo Direcional Percentual de frequência 100% e 90%: Não existe 80%: Pouco frequente 70%: Frequente 60%: Muito frequente 50%: Muito frequente 40%: Pouco frequente 30%: Pouco frequente 20%: Raro 10%: Raro Movimento Progressivo Pouco Direcional (lento) Percentual de frequência 60%: Raro 50%: Frequente 40%: Muito frequente 30%: Muito frequente 20%: Frequente 10%: Raro Movimento Progressivo Não Direcional (lento) Percentual de frequência 40%: Pouco frequente 30%: Frequente 20%: Muito frequente 10%: Muito frequente 76 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Vitalidade Reflete a proporção de espermatozoides que estão "vivos“ na amostra, o método de escolha é a técnica de coloração Eosina / Nigrosina Baseia-se na “integridade funcional da membrana plasmática viva”, que não permite a passagem do corante, enquanto a membrana das células mortas permite a passagem do corante Espermatozoides vivos – não corados Espermatozoides mortos – corados Reagentes Eosina amarela ou amarelada (Merck) – solução salina a 3%, estocar em temperatura ambiente Nigrosina hidrossolúvel (Merck) – solução a 8% em salina Pesar 8 gramas de nigrosina, tornando-a pó fino em um gral Adicionar 10 ml de etanol a 95o Levar a estufa de 100 oC até evaporação do etanol Adicionar salina lentamente, mexendo a nigrosina até completa dissolução, completa volume em 100 ml, estocar a temperatura ambiente e filtrar periodicamente Técnica Colocar uma gota de sêmen bem homogeneizado sobre uma lâmina de microscopia Adicionar 2 gotas de solução de Eosina a 3% e misturar imediatamente Adicionar rapidamente 3 a 4 gotas de suspensão de Nigrosina a 8% e misturar imediatamente Preparar 4 esfregaços bem grossos com a mistura acima, secando-os rapidamente (secador de cabelo) Observar ao microscópio, com objetiva de imersão, contar 100 gametas (vivos e mortos) Valores de referência Acima de 70% de vivos Necrospermia – acima de 30% de mortos Contagem de espermatozoides É realizada, após a liquefação total do sêmen, em câmara de contagem. Apesar das câmaras de Horwell e de Makler serem específicas para a contagem de espermatozoides, a câmara de Neubauer (hemocitômetro) ainda é largamente utilizada. 77 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Câmara de Neubauer É uma lâmina de vidro espessa, com uma depressão central de contagem, adaptada ao microscópio de campo claro e ao de contraste de fases É formada por 9 quadrados de 1 mm2 de área total de 9 mm2 A depressão central é de 0.1 mm até a superfície A área marcada (L) corresponde a 1 mm2 O volume compreendido entre a superfície e a lamínula é de 0.1 mm3, ou 0.1 µL total de 0,9 mm3 Técnica Diluir o esperma de 1/40, depois de liquefeito e homogeinizado, em solução salina a 0,9% com 5% de formaldeido Exemplo: 0,1ml de esperma + 3,9ml de solução diluente Após homogeinizar bem, colocar na câmara e aguardar 5 minutos em ambiente úmido, para sedimentação dos gametas Contar com objetiva de 40X os 5 quadrantes e multiplicar por 80.000 Com concentração alta, contar o quadrante central e multiplicar por 400.000 Outros elementos Leucócitos, hemácias, células fagocitárias, células germinativas imaturas, células de Sertoli, células epiteliais não germinativas e resíduos celulares anucleados não diferenciados 78 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Análise de pouco valor clínico, porém o de alguns deles (leucócitos) ajuda no diagnóstico Bactérias no sêmen é um achado comum pode estar relacionada com infecções do trato genito-urinário Obs: A contagem de leucócitos e hemácias devem ser realizados na Câmara de Neubauer, considerados valores normais até 1.000 mm3 Técnicas analíticas complementares (opcionais) Detecção de anticorpos anti-espermatozóides Imunobeads, teste de aglutinação macroscópica (MAR Teste) e outros A presença destes anticorpos sugere infertilidade Marcadores bioquímicos: fosfatase ácida e ácido cítrico (marcadores da próstata) frutose e prostaglandinas (vesículas seminais) Cultura seminal Interferentes: Medicamentos O relato do uso de medicamentos é importante na execução do exame Podem provocar aumento, ou diminuição das contagens e da motilidade dos espermatozóides ácido valpróico, cetoconazol, cimetidina, fluconazol, ramitidina, anfepramona, decanoato de testosterona, fenitoína, haloperidol, sulfassalazina, reserpina, trimetopina, cafeína e outros. Drogas de abuso como, por exemplo: álcool, tabaco,maconha, cocaína e outras Preservativos de látex Temperaturas extremas de conservação da amostra (ideal entre 20 e 40ºC) 79 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade CITOPATOLOGIA DE DERRAMES EM CAVIDADES CORPÓREAS O mesotélio recobre: pleura; peritônio e pericárdio Composto por duas membranas serosas: parietal e visceral. O espaço entre os folhetos apresenta-se quase virtual, lubrificação. Líquidos serosos Constituição Filtrado do plasma, formado na camada parietal e absorvido na camada visceral da pleura; peritônio e pericárdio Função principal Lubrificação, permite o deslizamento das membranas Patologia Derrames – efusões (cúmulo de líquido) Trauma, infecção ou neoplasias Derrames de membranas serosas Transudatos A saída de fluído para a cavidade excede a capacidade de reabsorção Exudatos A saída de fluído para a cavidade excede a capacidade de reabsorção, causada muitas vezes por processos inflamatórios decorrentes de infecção ou por neoplasia 80 Apostila de Citologia Clínica Prof. Vera Regina Medeiros Andrade Transudatos Causas mais comuns Cirrose, insuficiência cardíaca, embolismo pulmonar, outros Diminuição da pressão osmótica das proteínas do plasma Aumento da pressão hidrostática venosa/arterial Retenção de sódio e água Densidade < 1.015; Proteínas < 3.0 g/dl Teste de Rivalta Negativo (presença de material proteináceo, com 2 a 3 gotas de ácido acético) paucicelular (- de 1.000 células/l) Exudatos Ocorre por inflamação (infecção) ou neoplasias Aumento da permeabilidade capilar ocasionada por bactérias, substâncias tóxicas, agentes químicos e físicos, etc. Densidade > 1.015; Proteínas > 3.0 g/dl Teste de Rivalta Positivo, hipercelularidade (+ de 1.000 células/l) Derrame pleural
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