Buscar

aula 03 e 04 PINE

Prévia do material em texto

Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Caracterizar as mudanças na esfera da produção e do trabalho que marcam o paradigma flexível;
2. analisar as mudanças políticas vividas pelos estados após a crise: o neoliberalismo;
3. caracterizar a Reforma do Estado e a constituição do Terceiro Setor;
4. caracterizar as reformas nas políticas sociais implementadas pelos governos neoliberais nos anos 80 e 90;
5. identificar os principais elementos do novo paradigma tecnológico: o toytismo;
6. analisar os impactos sobre o conteúdo do trabalho, sobre a divisão do trabalho e sobre a qualificação dos trabalhadores causados pela mudança na base técnica e pela organização do processo de trabalho próprias do paradigma flexível;
7. analisar a polarização das qualificações e a segmentação ocorrida na classe trabalhadora como consequências das mudanças introduzidas na produção e organização do trabalho no paradigma flexível;
8. analisar as transformações ocorridas nas relações de trabalho e no mercado de trabalho e seus impactos para os trabalhadores.
Caro aluno, antes de iniciar a aula conheça um pouco mais sobre as transformações no mundo do trabalho.     
Os neoliberais acusam o Estado de Bem-estar de ser antieconômico, (porque provoca crise fiscal), antiprodutivo (porque desestimula o trabalho e o investimento), ineficaz (porque favorece o monopólio estatal e a tutela dos interesses particulares) e ineficiente (porque elimina as formas tradicionais - - família e comunidade – de proteção social).
Considerado pelos neoliberais como o vilão da crise, o Bem-estar Social foi colocado em questão e, por isso, são realizados cortes nas políticas sociais. As políticas sociais no neoliberalismo já não são mais para todos como no Bem-estar Social. São políticas só para os mais carentes.
Visando reduzir os gastos sociais, as políticas sociais neoliberais passam a ter um caráter mais pontual, assistencialista e compensatório. Só alguns se beneficiam dessas políticas. O Estado não “gasta” mais com todos. A lógica não é mais a universalidade, a igualdade, mas sim a equidade: “dar mais a quem tem menos”. Esta corresponde a uma estratégia para a manutenção da ordem social desigual.
A globalização econômica, que se caracteriza por uma maior aceleração, concentração e mobilidade do capital, vem, a partir dos anos 70, impondo uma nova ordem nas relações econômicas entre as nações. Esse processo, denominado por muitos de mundialização, a um só tempo dinamiza a economia, internacionalizando mercados e serviços financeiros, e provoca novos arranjos estruturais, aprofundando as contradições sociais e políticas.
Convive-se com uma nova organização social da produção que exige formas distintas de cooperação capitalista, marcadas pela necessidade de articulação e integração de empresas. Essa nova ordem determina também que as empresas busquem estratégias de elevação da competitividade, mediante a utilização intensiva de tecnologia e inovações nos processos de gestão do trabalho. A produção passa por um processo de reestruturação que traz imensas consequências para o mundo do trabalho. De fato, o novo paradigma conta com um novo modelo tecnológico, a especialização flexível, do qual o toyotismo é o formato mais emblemático. Esse novo modelo está fundado em novas bases tecnológicas e produtivas e é promotor de mudanças no âmbito da divisão do trabalho, dos conteúdos do trabalho e da qualificação dos trabalhadores.
Por sua vez, essas transformações produtivas são responsáveis (ao lado das políticas econômicas neoliberais) pela redução do emprego assalariado que marca os anos 90. Assim, o processo de reestruturação produtiva trouxe também profundas mudanças para o mercado de trabalho, que passa a incorporar dimensões novas, como a informalização das camadas médias, além de acentuar traços que nele já estavam presentes, como as atividades informais e a flexibilização do trabalho. Assiste-se então à adoção de terceirizações e de subcontratações, à contração do emprego, à expansão do mercado informal, à desregulamentação dos contratos de trabalho, à precarização das condições de trabalho, à eliminação de postos de trabalho, ao desemprego estrutural e crônico, enfim, à exclusão social
Essas transformações de ordem econômica correspondem a mudanças no plano estatal. Rompem-se as barreiras que antes regulamentavam e protegiam as economias nacionais. Os estados redefinem suas funções e seu espectro de atuação. Ocorre a reforma do aparelho estatal, o estabelecimento de relações de um novo tipo entre o Estado e a sociedade civil e a realização de mudanças na condução das políticas sociais (MONTAÑO, 2002). As mudanças no papel e funções do Estado, que busca agora articular um crescimento econômico não includente com menor compromisso com a produção e distribuição de benefícios sociais, levam à adoção de novas estratégias de desenvolvimento de políticas sociais, como forma de garantir a continuidade do processo de acumulação e, ao mesmo tempo, evitar que o acirramento da desigualdade social possa se transformar em conflito político incontornável. A privatização, a focalização e a descentralização das políticas são implementadas como tentativa de resolução dessa problemática, marcando de modo distintivo a totalidade das políticas sociais da maioria dos países ocidentais.
Este é o contexto que iremos aprofundar nesta aula: os processos de reestruturação econômica e de reforma política que ocorrem a partir anos 70 visando à retomada do patamar de acumulação capitalista que havia sido posto em questão com a crise do regime de acumulação fordista. Vamos assim tratar da ascensão do novo regime de acumulação: o paradigma flexível (que envolve uma nova base técnica e tecnológica) e seu respectivo modo de regulação: o Estado Neoliberal ou Mínimo.
O Estado Neoliberal
Os anos 80 e 90 são marcados por mudanças no âmbito estatal que correspondem a adaptações e alterações na configuração e nas políticas sociais desenvolvidas pelos Estados de Bem-estar que se consolidaram nos países centrais no pós-guerra. Como vimos na aula passada, o pensamento neoliberal se tornou hegemônico e saiu vitorioso com a eleição dos governos conservadores, trazendo a necessidade de romper com as antigas estratégias de condução das políticas econômicas e sociais.
Essa ruptura é interpretada por alguns autores como Laurell (1995) como relativa à necessidade de adequar o Estado às exigências impostas pela tentativa de adoção de um novo regime de acumulação e desencadear uma nova etapa de expansão capitalista, atrelada a um novo ciclo de concentração de capital. Tratava-se de criar as condições políticas para a realização deste projeto, mediante a fragilização das organizações reivindicatórias da classe trabalhadora.
Os neoliberais defendem a reconstituição do mercado, da competição e do individualismo, como argumentos básicos para as mudanças realizadas tanto no âmbito da política econômica, quanto nas políticas sociais. Propõem a eliminação da intervenção do Estado na economia, seja no que diz respeito ao planejamento mais sistemático, seja no que concerne à sua atuação enquanto produtor direto, através da desregulamentação das atividades econômicas e da privatização. Advogam o Estado Mínimo e a realização de cortes nas políticas sociais, como forma de desativar os mecanismos de negociação e os direitos adquiridos pelos trabalhadores (LAURELL, 1995).
Considerado pelos neoliberais como o vilão da crise, o bem-estar social foi colocado em questão. Como vimos, os neoliberais entendiam que a crise era fruto da atuação do Estado de Bem-estar Social. Viam o Bem-estar como o grande culpado, pois:
ele intervinha na economia, regulando preços e interferindo na lógica natural dos mercados (para os neoliberais o mercado deveria ser deixado “livre”, sem intervenção, já que a sua livre atuação garantiria o equilíbrio econômico. Na visão dos neoliberais, o estabelecimento de regras políticas, como a do salário mínimo, causavam distorções nos sistemas de preços, impedindoque estes atingissem seu ponto de equilíbrio mediante a lei da oferta e da procura. O desemprego era considerado desejável pelos neoliberais. A ausência de proteção estatal era também fundamental, pois estimulava a competitividade entre as organizações, considerada vital para o crescimento econômico.);
ele apoiava os sindicatos (para os neoliberais o Estado estaria acobertando os sindicatos, incentivando o corporativismo, mantendo certos grupos sob seu domínio);
ele realizava gastos sociais em demasia (para os neoliberais, as políticas sociais acabavam por ampliar a dívida pública e eram medidas paternalistas, já que não estimulavam a busca pelo crescimento da renda dos indivíduos. De acordo com os neoliberais, para que houvesse estímulo por uma vida melhor, era necessário que houvesse desigualdade social, que cada um fosse deixado “livre” para tentar melhorar de vida segundo seus talentos e capacidades). Os neoliberais acreditavam que o Estado deveria intervir minimamente na vida das pessoas, deixando de implementar os serviços sociais públicos como saúde, educação, habitação, previdência etc. Acreditavam que essas necessidades sociais deviam ser resolvidas no âmbito das famílias e comunidades, sem interferência do Estado. O objetivo era estimular a competição e o individualismo. Assim, esses serviços sociais deviam ser oferecidos pelo setor privado. Não foi mesmo o que ocorreu? No Brasil, depois dos anos 90, cresceram os serviços privados como: seguro saúde, previdência privada, expansão do ensino (sobretudo o superior) privado etc.
Em síntese é possível afirmar que o neoliberalismo propõe a eliminação da intervenção do Estado na economia e a realização de cortes nas políticas sociais, como forma de desativar os mecanismos de negociação e os direitos adquiridos, necessários ao incremento da competição e individualismo. Acreditam que a esfera do bem-estar social deve permanecer no âmbito privado da família, da comunidade e dos serviços privados, com intervenção estatal minimizada e atuando apenas na dimensão do alívio da pobreza ou dos serviços pouco interessantes para o setor privado. Na maioria dos países de capitalismo avançado, são então implementadas reformas estatais orientadas pelos argumentos neoliberais em defesa da liberdade individual e do mercado, determinando maior responsabilização individual e por parte da sociedade civil pelo atendimento às demandas sociais.
Assim, os sistemas de proteção social do Estado de bem-estar foram duramente criticados pelos neoliberais que rompem com os benefícios concedidos à classe trabalhadora, por meio de corte nas políticas sociais (saúde, habitação, educação etc) e de corte ao apoio aos sindicatos. Desta forma, os novos Estados Neoliberais ou Mínimos que se constituíram passam a desmontar as estruturas criadas pelo Estado de Bem-estar Social.
Numa perspectiva de cortes nos gastos sociais, o Estado acaba por só atuar nos serviços sociais destinados à camada mais empobrecida da população, de modo a “apagar os incêndios” sociais da miséria e da fome. As políticas sociais no neoliberalismo já não são mais para todos como no Bem-estar Social. São políticas só para os mais carentes. Visando reduzir os gastos sociais, as políticas sociais neoliberais passam a ter um caráter mais pontual, assistencialista e compensatório.
Aí é que surgem: o restaurante popular, o bolsa-família, o cheque-cidadão etc. Só alguns se beneficiam dessas políticas. Não são mais implementadas políticas para todos, universais, de qualidade, como no Estado de Bem-estar Social. O Estado não “gasta” mais com todos. A lógica não é mais a universalidade, a igualdade, mas sim a da equidade: “dar mais a quem tem menos”. Essa corresponde a uma estratégia para a manutenção da ordem social desigual.
As Políticas Sociais Neoliberais
Draibe (1993) distingue dois momentos na condução dos governos neoliberais após a década de 70 que se refletem em ênfases distintas da definição das políticas sociais. Clique em cada tópico para conhecer estes momentos.
O Novo Paradigma Tecnológico
No plano econômico, após os anos 70, o processo produtivo passa a incorporar cada vez mais os avanços da tecnologia como a microeletrônica, a informática, as telecomunicações, as energias renováveis e os novos materiais. Entre as principais tendências que esse novo padrão industrial apresenta é possível destacar, em primeiro lugar, o desenvolvimento da tecnologia digital de base microeletrônica e o progresso técnico que o próprio complexo eletrônico passou a gerar. O complexo eletrônico proporciona expansão e confere vantagens competitivas às indústrias, em virtude de seu potencial inovador.
Novas técnicas e novas formas de organizar os trabalhadores nas empresas são implementadas. Uma nova forma, um novo paradigma produtivo então começa a surgir: a produção flexível. Esse novo paradigma industrial convive com o questionamento dos princípios fordistas de produção, o abandono de equipamentos rígidos, voltados para a produção de produtos padronizados, e vê crescer a adoção de sistemas integrados de automação flexível.
Características do Novo Paradigma Tecnológico
A introdução da automação e a substituição da eletromecânica pela eletrônica revoluciona e flexibiliza os antigos processos industriais fordistas. São introduzidas então muitas mudanças na estrutura produtiva, que podem ser sintetizadas pelas seguintes características da produção flexível:
maior integração entre as etapas do processo produtivo, o que assegura um aumento de produtividade, pois, com as inovações tecnológicas, ocorre a elevação dos tempos de utilização da maquinaria e dos equipamentos, como também ocorre uma otimização do fluxo de materiais, reduzindo a porosidade (tempos mortos) do processo e trabalho. Essa integração também se dá entre as empresas. Esse processo de integração vem direcionando a formação de formas multindustriais, cooperativas, que têm como objetivo integrar financiamento, fornecimento e produção sob o comando da grande empresa oligopolista. Formam-se então grandes empresas concentradas, multindustriais, com grandes braços financeiros e que operam em escala internacional (DELUIZ, 1995).
a flexibilidade das máquinas e equipamentos envolve as dimensões técnicas que garantem uma variação de processo e produto que permite à produção se adaptar (maior número de lotes de produtos manufaturados diversificados) às exigências de mercados menores e mais segmentados. Assim, ocorre a possibilidade de produzir novos tipos de produtos, diversificados e mais sofisticados, atendendo à demanda de diferentes tipos de consumidores. A flexibilidade se realiza também no âmbito da organização do trabalho produtivo, o que inclui: a) a flexibilidade dos funcionários (que agora não assumem mais um posto de trabalho fixo, mas podem ser alocados em diferentes tarefas e funções) e b) a flexibilidade de práticas de emprego - relativa à adoção de contratos de trabalho mais flexíveis – o que engloba: a flexibilidade de salários (em função do desempenho da empresa), a flexibilidade numérica (quando se ajusta o número de trabalhadores ao nível da produção mediante a demissão e o contrato de trabalho temporário ou autônomo), a flexibilidade de horário, entre outras práticas (DELUIZ, 1995).
uma descentralização, que ocorre em dois níveis: a) no interior da mesma unidade produtiva, viabilizando a separação de tarefas ou grupos de tarefas que se tornam relativamente independentes, e b) na subdivisão da indústria em várias outras de menor porte, interligadas por modernas redes de comunicação. Parte das atividades executadas no interior de uma única empresa também são frequentemente terceirizadas, ampliando a gama de serviços demandada pela indústria e favorecendo a redução da força de trabalho industrial diretamente vinculada às grandes empresas. A descentralização traz impactos também sobre a força de trabalho, na medida em que as empresas subcontratadas acabam por gerar empregos diferenciados no que diz respeito aos salários, estabilidade,com contratos irregulares, gerando a precarização de grandes contingentes de mão de obra.
a possibilidade de criação e desenvolvimento de novos produtos, fazendo com que a inovação seja a marca da produção flexível, com a adoção de novos processos de planejamento e de pesquisa de produtos e mercados.
Em contraposição à organização do trabalho taylorista-fordista, a transformação da fábrica num organismo complexo, capaz de inovar e de atuar num mercado cada vez mais competitivo e segmentado, faz com que sejam adotadas novas formas de organização do trabalho.
As relações hierárquicas e trabalhistas são reestruturadas e novas técnicas de gestão da força de trabalho passam a ser incorporadas. O trabalhador é chamado a participar e tomar decisões relativas ao controle e qualidade dos produtos, passando a responsabilizar-se pela introdução de aperfeiçoamentos e correções no processo de produção. Nessa perspectiva, diluem-se as fronteiras entre os papéis desempenhados pela gerência, pela supervisão e pelas funções operacionais. Diluem-se os contornos entre concepção e execução do processo de trabalho. (DELUIZ, 1995).
A nova base técnica, assim, provoca um impacto nos processos de produção, determinando o surgimento um novo paradigma produtivo, o paradigma da produção flexível, fundado na automação e na informatização.
A revolução tecnológica propicia a consolidação de uma nova forma de organização da produção e permite que as empresas elevem seus níveis de competitividade. Assim, é pela utilização intensiva de tecnologia e pelas inovações nos processos de gestão do trabalho que as empresas buscam se tornar mais competitivas e se manter no mercado. A cada inovação nos produtos viabilizada por essas mudanças, as empresas ganham melhor posição no mercado e ampliam seus lucros.
Essas transformações ocorridas na esfera produtiva não se consolidaram de forma homogênea em todos os países ou setores, constituindo mais uma tendência do que uma prática uniforme. O fordismo persiste. O fato é que hoje, o fordismo e o taylorismo convivem e se mesclam com outros processos produtivos que se caracterizam pela emergência de novos processos de trabalho, pela flexibilização da produção, por novos padrões de produtividade, novas formas de adequação à lógica do mercado. A eles estão associados novos padrões de gestão da força de trabalho e de desconcentração industrial.
O Toyotismo
Entre todas as experiências da produção flexível, destacou-se no cenário mundial o toyotismo, nascido no Japão, na fábrica de automóveis Toyota. O toyotismo revelou-se o modelo que operou uma revolução técnica mais radical e que causou mais impacto, uma vez que alguns de seus pontos básicos têm penetrado em escala mundial, mesclando-se ou mesmo substituindo o padrão fordista dominante.
A Natureza Capitalista da Produção Flexível
As mudanças operadas pelo toyotismo no âmbito da divisão técnica do trabalho, relativas à diluição dos contornos entre concepção e execução, não significam uma forma de organizar a produção voltada para os interesses dos trabalhadores. No toyotismo os homens trabalham em equipe, sem a linha de montagem, sem trabalho parcelado. Os trabalhadores devem introduzir melhorias no produto, inovar, solucionar problemas, operando com várias máquinas, programando e decidindo como fazer. São, portanto, operários que pensam e fazem, diferentemente dos trabalhadores desqualificados do fordismo. (DUARTE, 2008). Os trabalhadores agora pensam, tomam decisões, mas isso não significa a superação do capitalismo ou a consolidação de um processo de trabalho comprometido com os interesses de emancipação dos trabalhadores. Sob o toyotismo, os interesses do capital continuam prevalecendo.
Parte-se da noção de que o toyotismo deve ser entendido como um processo de trabalho essencialmente capitalista e que as mudanças por ele operadas no âmbito da divisão técnica do trabalho, (relativas à diluição dos contornos entre concepção e execução), devem ser compreendidas dentro do quadro do processo de valorização do capital. A transformação operada pelo toyotismo “só é possível porque se realiza no universo estrito e rigorosamente concebido do sistema produtor de mercadorias, do processo de criação e valorização do capital” (ANTUNES, 1995, p.33).
O Toyotismo
Reafirmar a natureza capitalista do toyotismo é a posição adotada nesta disciplina. Entretanto, não existe consenso sobre isso na literatura. Nesta disciplina coloca-se em discussão as teses como as de Coriat (1994) que veem no sistema Toyota a presença de práticas mais democráticas de trabalho ou o sinal do surgimento de uma sociedade de novo tipo, pós-capitalista ou pós-industrial. Coriat (1994) analisa positivamente o toyotismo, já que o entende como um modelo que introduz a democracia nas relações de trabalho. Defende a ocidentalização e a incorporação do modelo sob uma variante social-democrata.
Os Impactos do Paradigma Flexível nas Qualificações dos Trabalhadores
A mudança qualitativa na base técnica e organizativa do processo de trabalho acarreta impactos não apenas sobre a divisão do trabalho, mas também sobre: o conteúdo do trabalho e a qualificação dos trabalhadores.
A análise a respeito do impacto que o paradigma flexível traz para as qualificações dos trabalhadores tem sido realizada por vários autores com diferentes enfoques e abordagens. Num retrospecto das análises a respeito das consequências das atuais transformações que ocorrem no mundo do trabalho sobre a dinâmica da qualificação/desqualificação humana, é possível destacar duas visões.
Inicialmente predomina a tese da requalificação dos operadores (SOUZA; SANTANA; DELUIZ, 1999). A ideia era que o novo paradigma trazia como consequência uma maior qualificação dos trabalhadores, antes desqualificados no fordismo.
Vários autores colocaram a tese da requalificação em questão.
Antunes (1995) defende a tese da polarização das qualificações. Afirma que o avanço científico e tecnológico introduz mudanças no processo de trabalho que se traduzem no peso crescente da dimensão mais qualificada do trabalho, pela intelectualização do trabalho social. Defende a existência de uma polarização no que se refere à qualificação dos trabalhadores. Afirma que se convive por um lado com uma dimensão mais qualificada do trabalho (pela intelectualização do trabalho social), e por outro, com a desqualificação de inúmeros setores operários, seja pela desespecialização dos trabalhadores multifuncionais do toyotismo, seja pela informalização e precarização das relações de trabalho.
Assim, em determinados setores, se constrói, no centro da produção, um novo tipo de profissional com novos atributos. Dele se exige mais educação geral, mais formação profissional. Um trabalhador capaz de:
Ao lado desse grupo, isto é, ao lado da intelectualização de uma parcela da classe trabalhadora, o autor identifica, na periferia da produção, a presença de inúmeros setores operários desqualificados. Constata a presença dos operários desespecializados do fordismo, dos operários parciais, temporários, subcontratados, terceirizados, dos trabalhadores da economia informal, dos desempregados.
Verifica-se, então, uma segmentação na classe trabalhadora do seguinte tipo:
no centro do processo produtivo encontra-se um grupo de trabalhadores, em processo de retração em escala mundial, mas que permanece em tempo integral dentro das fábrica, com maior segurança no trabalho e mais inserido na empresa. (...) esse segmento é mais adaptável, flexível e geograficamente móvel. (...) A periferia da força de trabalho compreende dois subgrupos diferenciados: o primeiro consiste em empregados em tempo integral com habilidades facilmente disponíveis no mercado de trabalho, como pessoal do setor financeiro, secretárias, pessoal das áreas de trabalho rotineiro e de trabalho manual menos especializado. Este subgrupo tende a se caracterizar por uma alta rotatividade no trabalho. O segundo subgrupo situado na periferia oferece uma flexibilidade numéricaainda maior e inclui empregados em tempo parcial, empregados casuais, pessoal com contrato por tempo determinado, temporários, subcontratação e treinados com subsídio público, tendo ainda menos segurança no emprego que o primeiro grupo periférico. (...) ao mesmo tempo em que se visualiza uma tendência para a qualificação do trabalho, desenvolve-se também intensamente um nítido processo de desqualificação dos trabalhadores, que acaba configurando um processo contraditório que superqualifica em alguns ramos produtivos e desqualifica em outros. (ANTUNES, 1995, p.53/54).
As Mudanças nas Relações de Trabalho e no Mercado de Trabalho
A introdução de um novo paradigma industrial e tecnológico não foi o único efeito da reestruturação mundial do capitalismo ocorrido nos últimos anos. Concomitantemente, e como parte do mesmo movimento, podem ser observadas profundas transformações nas relações de trabalho e no conjunto do mundo do trabalho. Transformações que operam uma fratura nos termos em que estava constituída a relação capital/trabalho do pós-guerra. Se este período do pós-guerra se caracterizou pelo avanço das conquistas trabalhistas (salário mínimo, fundo de garantia, férias, 13º salário, entre outras), agora, com a ofensiva do capital reestruturado sob predominância financeira, assiste-se a um novo alinhamento de forças, no qual o trabalho perde muito de seu poder e representação. (PINHEIRO, 1999)
As conquistas dos trabalhadores obtidas no contexto do Estado do Bem-estar e as políticas de pleno emprego e de crescimento econômico vividas no pós-guerra estão sendo questionadas, e a antiga relação salarial consolidada nessa época está se desestruturando, fragmentando o mundo do trabalho e rompendo com as formas de segurança do trabalho conquistadas nos anos dourados.
Essas mudanças dizem respeito não apenas à criação de novas e restritas relações de trabalho, mas também e, sobretudo, à expansão da exclusão econômica e social. Elas trazem para o cenário atual uma realidade impensável nos chamados anos de ouro, pois provocam: a redução do emprego, a ampliação do desemprego, a intensificação do trabalho, o surgimento de novas formas de trabalho, as mudanças na forma e no conteúdo das contratações e a redução do poder dos sindicatos.
A nova realidade do mundo do trabalho coloca em cheque a crença de que o mercado é eficiente e capaz de, em seu processo de expansão, absorver um número crescente de indivíduos, que irão viver sob os mesmos princípios de organização do mundo do trabalho: com salários e empregos assegurados para a grande maioria. Assim, a atualidade coloca em questão a capacidade de o sistema capitalista garantir condições de trabalho e vida digna para a maioria da população, bem como a sua capacidade de promover o progresso e de se desenvolver de forma abrangente e homogênea. (PINHEIRO, 1999)
Refletindo Sobre a Atuação do Pedagogo A Partir do Atual Contexto do Mundo do Trabalho
Ao concluir esta aula, é necessário refletir sobre o papel do pedagogo neste novo cenário político, econômico e social.
Você já compreendeu que, para atuar nas instituições, é fundamental entender como funciona o mundo do trabalho e suas exigências para os profissionais da atualidade. Que, sem essa compreensão, é impossível educar de modo crítico e comprometido com os interesses dos trabalhadores.
Como formar pessoas nas instituições, sem saber como funciona o mundo do trabalho e o que as organizações esperam delas?
Se não compreendemos o que ocorre, podemos nos tornar inocentes úteis ao sistema, sem visão crítica e sem capacidade de educar para a transformação social, ou mesmo prejudicando quem pretendemos ajudar. A seguir, você verá cinco exemplos para refletir e compreender melhor esta situação.
Para Refletir...
Se você for contratado(a) por uma empresa fordista para capacitar funcionários, será que estará atuando a favor da transformação social se educar só para o exercício da tarefa, se apenas treinar o trabalhador para "apertar parafusos"? De fato é exatamente isso que a empresa espera que você faça: que treine o operário para que ele realize as tarefas exigidas no seu posto de trabalho com eficiência. Que ele faça isso bem e rápido.
Mas será que isso é bom para o trabalhador? É esse tipo de treinamento que vai ajudá-lo a crescer como trabalhador e como cidadão? Se você for um pedagogo consciente e esclarecido, você poderá propor um outro tipo de treinamento mais abrangente, propostas de educação mais amplas, que envolvam inclusive o aumento de escolaridade do trabalhador...
E se você for contratado(a) por uma ONG para atuar em educação profissional com crianças e jovens? Como você vai atuar se não compreender o sentido político do trabalho no Terceiro Setor? Se não compreender que o Estado neoliberal se ausentou da execução das políticas públicas, deixando alguns serviços sociais a cargo da sociedade civil? Se não entender que essas políticas são, na maioria dos casos, assistencialistas? Se você não tiver uma visão crítica, acabará trabalhando na ONG aprofundando as diferenças sociais. Sem exercer seu papel transformador.
Como afirmam Deluiz, Gonzáles e Pinheiro (2003, p.40), as ONGs que atuam nas políticas de educação profissional, apesar de terem como missão: “buscar alternativas para a melhoria da qualidade de vida e oportunidades sociais para segmentos da sociedade em desvantagem social, muitas vezes sua prática educacional é assistencialista e contribui para a manutenção das desigualdades sociais”. Isso porque oferecem aos jovens “uma formação atrelada à lógica do mercado, sem a perspectiva de ampliação da escolaridade básica e de reflexão sobre o mundo do trabalho e sobre a sociedade capitalista”. Ao contrário dessa visão, os processos de transformação social dependem de que as populações tradicionalmente excluídas do conhecimento e do exercício da cidadania possam ter uma formação técnica e política, capaz de viabilizar uma efetiva participação na sociedade.
INTRODUÇÃO
Na aula anterior, você viu como a realidade do desenvolvimento das economias capitalistas dos anos dourados foi alterada pela crise que se iniciou nos anos 70.  O esgotamento do bem-sucedido período fordista de acumulação capitalista determinou a crise que inaugurou uma nova fase do capitalismo e provocou profundas transformações em todas as esferas da vida social. A globalização e o domínio do capital financeiro passam a predominar no mundo após os anos 70. 
Nos anos que se seguiram à crise, a ascensão do neoliberalismo promove mudanças no âmbito estatal. Ocorre a reforma do Estado e uma redefinição das relações do Estado com a sociedade civil. Os neoliberais defendem a reconstituição do mercado, da competição e do individualismo, como argumentos básicos para as mudanças realizadas tanto no âmbito da política econômica, quanto nas políticas sociais. Propõem a eliminação da intervenção do Estado na economia, seja no que diz respeito ao planejamento mais sistemático, seja no que concerne à sua atuação enquanto produtor direto, através da desregulamentação das atividades econômicas e da privatização.
Aula 4
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Analisar criticamente os diferentes conceitos de organização;
2. caracterizar as organizações modernas e hipermodernas;
3. identificar as mediações realizadas pelas organizações modernas no paradigma fordista;
4. identificar as mediações realizadas pelas organizações hipermodernas no paradigma flexível.
Introdução
Na aula 1, você aprendeu sobre o profissional de pedagogia e sua atuação. Nas aulas 2 e 3, você aprendeu sobre o contexto do mundo do trabalho que condiciona a prática educativa deste profissional nos diferentes espaços sociais. O foco desta aula é o lócus da atuação desse profissional: a organização.
Os conceitos de organização tradicionalmente adotados têm um conteúdo descritivo, pouco esclarecido acerca das funções sociais assumidas pelas organizações na sociedade capitalista. Em uma perspectiva crítica, pode-se afirmar que um sistema econômicoproduz e se reproduz através das organizações. Estas são, portanto, “conjuntos práticos voltados para a produção e para a reprodução de determinadas relações sociais necessárias à manutenção e expansão do sistema econômico vigente.” (MOTTA, 1992, p. 39)
Para Marx, modo de produção é a maneira que cada formação social se organiza para garantir a produção das suas necessidades materiais. Ele é dado pela articulação entre as forças produtivas e as relações sociais de produção. Essa articulação corresponde à infraestrutura, à base material da vida social.
Para que o modo de produção capitalista se constitua é necessária a presença de capital e trabalho, que ao se relacionarem, estabelecem relações de produção que operam uma separação entre os proprietários dos meios de produção (os capitalistas ou burgueses) e os não proprietários destes meios: os trabalhadores. (MARX, 1983). Estes últimos, como não têm as condições objetivas de realizar um trabalho, já que não têm os meios e os instrumentos para produzirem, são obrigados a vender sua força de trabalho (isto é, sua capacidade de trabalho) para os capitalistas em troca de um salário. A classe trabalhadora ficou despossuída dos meios para sobreviver. Não tem a posse dos meios de produção. Sabe, porém realizar o trabalho. Assim, vende sua capacidade de trabalhar para a classe proprietária, que compra essa força de trabalho como uma mercadoria (MARX, ENGELS, 1980).
Esta realidade faz com que o capitalismo seja um modo de produção conflitante e contraditório, com a disputa e a luta entre estas duas classes fundamentais. Para que a classe proprietária sobreviva, ela precisa explorar a classe trabalhadora através da extração da mais-valia . A classe trabalhadora, por sua vez, para que possa viver com mais dignidade, busca ampliar seus salários, o que acaba por ferir os interesses de lucro da burguesia.
Assim, a superestrutura envolve o conjunto da sociedade política e da sociedade civil (englobando a escola, a mídia, a família etc.) e busca assegurar, pela força e pelo consenso (difusão da ideologia), a manutenção da ordem capitalista, isto é, a reprodução das relações de produção. O Estado vai se organizando para dar conta da manutenção dessa ordem, seja pela difusão da ideologia, seja pelo uso da violência (PIOTTE, 1975).
A estrutura produtiva, a base material da sociedade, forma com a superestrutura uma totalidade, que Gramsci chamou de bloco histórico. (PORTELLI, 1985). A superestrutura é constituída pelo conjunto das relações jurídico-políticas e pelas formas de consciência a elas relacionadas. É condicionada pelas relações de produção e as reproduz. As contradições da base material estão presentes na totalidade do bloco histórico. É no plano da superestrutura que os homens tomam (ou não) consciência das relações de poder econômico e lutam pela sua transformação.
É a difusão da ideologia, isto é, de uma visão de mundo que atende aos interesses de dominação capitalista, que "naturaliza" as desigualdades e os modos de ser e atuar na sociedade capitalista, garantindo a adesão de todos ao projeto do capital, à ordem instituída. Este consenso em torno da ordem capitalista, que é assegurado pela difusão da ideologia, foi denominado por Gramsci de hegemonia burguesa. Gramsci percebe que, no capitalismo avançado, a classe proprietária, para fundamentar sua dominação, precisa conquistar o consenso ativo e organizado dos diferentes sujeitos sociais (COUTINHO, 1981). O processo de transformação social depende da ação política dos homens, e passa pela construção de um conhecimento capaz de revelar o que a ideologia esconde: as relações de dominação capitalista. Um conhecimento capaz de tirar o véu com o qual a ideologia encobre o real. Desenvolver um espírito crítico significa, então, questionar essa ideologia, essas ideias dominantes, visando à transformação dessa ordem social injusta e excludente.
Com base nessas premissas, é possível pensar nas funções sociais desempenhadas pelas organizações, no papel que elas cumprem na manutenção das relações de produção capitalistas e no papel que elas realizam no que diz respeito à transmissão da ideologia. Como afirma Motta (1992, p. 47), a “análise de qualquer instituição que não passe pelo nível ideológico é sempre incompleta, porque se limita ao imediatamente visível, quando geralmente o importante está naquilo que permanece oculto”. É exatamente isso que faremos ao longo desta aula: iremos compreender as organizações em uma perspectiva crítica, privilegiando em nosso estudo o desvendamento da ideologia, isto é, destacando os aspectos organizacionais que normalmente permanecem ocultos nas análises tradicionais.
As Organizações no Contexto dos Paradigmas Fordista e Toyotista
Conceitos e classificações das organizações em uma perspectiva não crítica
São várias as formas de conceituar, classificar e analisar a evolução das organizações que se constituem na sociedade capitalista. É possível, entretanto, indicar pelo menos dois grandes modos de compreender as organizações contemporâneas. Mas antes de conhecê-los, compreenda uma pouco mais sobre as organizações clicando no ícone abaixo.  
A origem da Teoria Contingencial está relacionada a pesquisas feitas para verificar quais os modelos de estruturas organizacionais mais eficazes em determinados tipos de indústrias. De acordo com Chiavenato (1992), entre as pesquisas realizadas, destaca-se a de Burns e Stalker, que visava conhecer a relação entre as práticas administrativas e o ambiente externo de vinte indústrias inglesas. Como resultado, classificaram as empresas em dois tipos.
Organizações Mecanísticas
Organizações Orgânicas
A origem da Teoria Contingencial está relacionada a pesquisas feitas para verificar quais os modelos de estruturas organizacionais mais eficazes em determinados tipos de indústrias. De acordo com Chiavenato (1992), entre as pesquisas realizadas, destaca-se a de Burns e Stalker, que visava conhecer a relação entre as práticas administrativas e o ambiente externo de vinte indústrias inglesas. Como resultado, classificaram as empresas em dois tipos. 
O primeiro tipo, as organizações mecanísticas, possuíam as seguintes características:
De acordo com Chiavenato (1992, p. 14), a organização mecanística:
Funciona como um sistema mecânico, fechado e introspectivo, determinístico e racional, voltado para si mesmo e ignorando totalmente o que ocorre no ambiente externo que o envolve. Neste sentido, funciona como uma máquina de acordo com um esquema fixo e rígido, sem qualquer flexibilidade para mudança e inovação.
O segundo tipo de organização identificado pela pesquisa foi denominado de orgânica e se caracterizava por:
De acordo com Chiavenato (1992, p. 14), a organização mecanística:
Funciona como um sistema mecânico, fechado e introspectivo, determinístico e racional, voltado para si mesmo e ignorando totalmente o que ocorre no ambiente externo que o envolve. Neste sentido, funciona como uma máquina de acordo com um esquema fixo e rígido, sem qualquer flexibilidade para mudança e inovação.
De acordo com Chiavenato (1992), Burns e Stalker concluem que o sistema mecanístico era mais apropriado para condições ambientais estáveis, enquanto que o sistema orgânico se relacionava a condições ambientais de mudança. Nesse sentido, haveria uma seleção natural, uma vez que as organizações mecanísticas, submetidas a condições ambientais de mudança, não sobreviveriam. Concluem então que o ambiente externo é que determina a estrutura e o comportamento das empresas.
O resultado das pesquisas de Burns e Stalker revelou que a estrutura de uma organização e o seu funcionamento são dependentes da sua relação com o ambiente externo. Assim, diferentes ambientes exigiriam diferentes relações organizacionais, havendo um modelo próprio para cada situação. O formato organizacional seria contingencial em relação ao ambiente que rodeia a organização.
Conceito de Organização em uma Perspectiva Crítica
Os estudos organizacionais têm avançado na compreensãoda complexidade das organizações e do seu papel na economia. Considerada nos primórdios da teoria das organizações como sistemas fechados, formados essencialmente por aspectos formais e tendo como objetivo o lucro, as organizações são encaradas na atualidade como sistemas complexos formados por múltiplas dimensões: econômica, técnica, humana, social, psíquica, cognitiva, política e cultural. 
As abordagens prescritivas e normativas desenvolvidas pela teoria das organizações têm sido questionadas. A visão funcionalista “dominante em grande parte dos estudos organizacionais, caracterizada por uma visão sistêmica, sincrônica, teleológica, integradora e não conflituosa da organização” tem sido bastante criticada (SERVA e ANDION, 2006, p.14).
Assim, em antagonismo ao pensamento dominante, à essa compreensão funcionalista, o pensamento crítico desenvolveu uma outra compreensão, que questiona o modo tradicional de conceber as organizações como um conjunto de dados, objetivos e procedimentos dos quais se busca conhecer as ligações. A vertente crítica questiona a lógica tradicional que entende as atuais mudanças organizacionais (relativas à diluição dos contornos da divisão do trabalho e à adoção de menores níveis de hierarquia) como processos naturais, decorrentes da evolução e da tentativa de sobrevivência das organizações em cenários mais instáveis.
É possível mesmo afirmar que, no fim dos anos 60, ocorre um aumento do interesse pela análise crítica das organizações, movimento que se amplia nas décadas seguintes, inaugurando novas perspectivas para a análise organizacional. A partir de então:
o debate com as ciências sociais se aprofunda, trazendo para o campo da teoria das organizações a discussão de temáticas não tratadas anteriormente, tais como as relações de poder dentro e fora das organizações, as questões ligadas à ideologia e à análise dos sistemas simbólicos. Vários autores passam a contestar a formação tecnicista dada aos administradores e a visão limitada do indivíduo e da própria organização que predominava nas teorias funcionalistas, propondo outras abordagens e lançando novas linhas de estudos no universo organizacional (SERVA e ANDION, 2006, p.14.)
Entre os autores da vertente crítica destacam-se os franceses Pagès, Boneti, Gaujelac e Descendre, que realizaram no final dos anos 70 uma pesquisa para analisar como ocorrem os fenômenos de poder nas organizações, visando elaborar um quadro teórico que permitisse uma melhor compreensão do fenômeno. Essa pesquisa foi efetuada, principalmente, numa filial europeia de uma grande empresa multinacional americana.
Esses autores não veem as organizações como um sistema, seja ele aberto ou fechado ao meio ambiente. Não as veem como um “dado”, mas como um conjunto dinâmico de respostas a contradições, como um conjunto de mediações que só pode ser entendido por referência às contradições que distinguem a sociedade capitalista em cada momento histórico. De acordo com o pensamento crítico, as organizações são vistas, então, como um produto das contradições existentes na sociedade, instâncias sustentadas e produzidas por essas contradições.  (PAGÉS; BONETI; GAUJELAC; DESCENDRE, 1987).
Alguns autores, por exemplo, passam a discutir as questões relacionadas ao poder no interior das organizações. Esse foi o caso de Handy que, em 1978, estudou as fontes, os métodos e as implicações do poder nas organizações. Benson, também na década de 70, toma por base a concepção dialética, e defende a noção de organização como uma totalidade, remetendo aos elos entre as organizações e a sociedade. Benson analisa a “infraestrutura” organizacional, que é composta pelos aspectos da ação, das ideologias e das relações de poder, que permeiam a realidade interna e externa da organização. Já Mintzberg, nos anos 90, tenta construir uma teoria do poder que leva em conta a realidade organizacional contemporânea. A partir de estudos empíricos, esse autor propõe um modelo de análise do poder nas organizações no nível micro (interno) e no nível macro (externo). (SERVA e ANDION, 2006, p. 16.)
A organização se interpõe entre as contradições de classe, buscando evitar ou atenuar os conflitos, absorvendo-os e integrando-os no sistema social do qual ela mesma é produto. 
A organização atua prevenindo-se contra os conflitos entre os interesses de trabalhadores e de consumidores e as finalidades da organização. As mediações exercidas pelas organizações, assim, correspondem a processos através dos quais elas impedem o surgimento dos conflitos internos entre os trabalhadores, evitando que eles se transformem em conflitos coletivos, criando um sistema coerente, orientado para a subordinação, para o enquadramento do indivíduo no seio de uma ordem global econômica, política e ideológica.
A organização atua de forma contraditória, pois, ao mesmo tempo em que ela precisa desenvolver as forças produtivas, isto é, um sistema de produção moderno com trabalhadores cooperadores e capazes, ela precisa garantir o controle e a subordinação das forças produtivas desses trabalhadores aos objetivos da empresa e do sistema capitalista. 
Entretanto, quanto mais a empresa desenvolve as forças produtivas, mais os trabalhadores se tornam capazes de lutar e se organizar contra a própria empresa e contra a dominação social e, por conseguinte, as empresas precisam desenvolver meios mais eficazes de controle e contenção. As organizações respondem, então, a esta dupla necessidade de desenvolvimento e de controle do sistema produtivo.
As organizações Modernas
Ao analisar a história das organizações do capitalismo contemporâneo, Pagés; Boneti; Gaujelac; Descendre (1987) mostram as diferenças entre dois tipos de organizações: as modernas e hipermodernas e revelam como, em cada um dos casos, são exercidas as mediações no interior das organizações. Explicitam como essas mediações, que na verdade correspondem a um processo multiforme, se estendem aos domínios:
 A empresa moderna não se limita a tratar os conflitos, mas se antecipa a eles, buscando oferecer vantagens aos funcionários. Apresenta-se assim como a empresa que desenvolve políticas positivas de bem-estar dos trabalhadores, de satisfação dos clientes, não revelando que, na verdade, o que ela está buscando é evitar os conflitos que impedem que a organização cumpra com a sua finalidade.
A empresa moderna é a empresa da solicitude, ao mesmo tempo que é a do segredo e da manipulação. As providências não são tomadas com o objetivo de evitar os conflitos, mas de proporcionar o bem-estar dos trabalhadores, o sucesso da empresa, a satisfação dos clientes, a boa reputação da empresa na coletividade, todos critérios positivos, de modo que no limite só transpareçam as políticas de empresa, que tiram sua legitimidade de tais critérios e não mais o conflito ao qual elas respondem antecipadamente. Este é negado, abolido e apagado da linguagem da organização. [...] Ora, todas essas políticas positivas da empresa, políticas de pessoal, políticas financeiras, comerciais, podem e devem [...] ser interpretadas como respostas antecipadas aos conflitos. Elas visam reger a conduta dos trabalhadores, dos clientes e de todos os grupos sociais com os quais a empresa tem relações, de maneira a evitar que estes se agrupem e entrem em conflito com as finalidades da organização. (PAGÉS; BONETI; GAUJELAC; DESCENDRE, 1987, p. 34.)
As organizações modernas não possuem um sistema de mediações muito desenvolvido. Assim:
Do ponto de vista econômico, estas empresas ainda não se desvencilharam dos laços de família e das relações de clientela clássicas. Não podem, portanto, oferecer vantagens econômicas significativas aos trabalhadores.
Do ponto de vista político, as organizações modernas desenvolvem um sistema decisório centralizado, centrado na figura do chefe, que exerce um papel autoritário. De fato, os chefes atuam como os soberanos locais da empresa e como os intérpretes das regras da organização, tradutores que são da linguagem organizacional.
As organizações modernas não se apresentamtambém como sendo um espaço de produção ideológica, uma vez que não há, em face de desqualificação dos trabalhadores, necessidade de forjar amplos mecanismos de controle interno na empresa. “Nesta empresa se trabalha simplesmente para ganhar a vida”. Entretanto, estas organizações buscam apoio nos aparelhos ideológicos da sociedade global: a família, a escola, a religião. A empresa conta com essas instâncias para conformar as mentes e os corpos dos trabalhadores.
Na perspectiva psicológica, as mediações exercidas pelas organizações modernas se fazem pela intermediação da figura do chefe, considerado o grande educador do trabalhador. É o chefe a pessoa privilegiada, objeto da identificação, da projeção e introjeção dos trabalhadores. É ele a quem o trabalhador ama e detesta, é com ele que os trabalhadores mantêm relações de submissão e revolta. As relações psicológicas se concentram na figura dos chefes, pessoas mais próximas. A organização é vista pelos funcionários como uma abstração, como uma figura distante com a qual não está comprometido. Nessas organizações do tipo paternalista, a dominação psicológica e o controle são exercidos efetivamente pelo chefe.
As Organizações Hipermodernas
Essas transformações no perfil dos trabalhadores modificam profundamente as condições de luta social, uma vez que essa maior qualificação traz para os trabalhadores a possibilidade de questionamento dos fundamentos da dominação, de desvendamento das finalidades das organizações capitalistas e dos mecanismos por elas utilizados para docilização e cooptação dos trabalhadores.
Após a crise dos anos 70, com o processo de reestruturação produtiva, marcado pela intelectualização das tarefas e pela crescente incorporação da tecnologia em todos os níveis de produção, passa-se a exigir dos trabalhadores maior escolaridade, capacidade de compreender os princípios de suas ações (e não apenas de executá-las), iniciativa, capacidade de inovar, de trabalhar em equipe e de se adaptar a mudanças.
Para que esse tipo de trabalhador mais qualificado possa manter sua adesão ao projeto capitalista e se comprometer com as finalidades da organização, certamente passa a ser necessário que as empresas desenvolvam novas estratégias e mediações, pois agora é mais difícil controlar os trabalhadores. Nessa perspectiva, as organizações hipermodernas sofisticam e complexificam as mediações exercidas, de modo a manter os trabalhadores sob sua orientação.
Assim, em primeiro lugar, as organizações hipermodernas desenvolvem mediações econômicas mais amplas, oferecendo salários mais elevados, possibilidades de ascensão na carreira e educação permanente, de modo que os trabalhadores aceitem o trabalho excessivo, os objetivos de lucro da empresa e a própria dominação capitalista.
A mediação econômica surge quando a organização promove o confronto com os privilégios oferecidos como compensação pelas exigências feitas a seus empregados, que funciona como uma forma de viabilizar suas ações de exploração e dominação em contrapartida às vantagens e benefícios oferecidos às pessoas (POMBEIRO, 2006)
Desenvolvem também, no que diz respeito às mediações políticas, um sistema decisório, de autonomia controlada, impessoal e distante, sobre o qual os trabalhadores não têm domínio. Um sistema que garante, a um só tempo, o respeito às diretrizes centrais da empresa e a iniciativa individual. As organizações substituem as ordens e interdições por regras e princípios interiorizados, mais sutis e sofisticados, que os trabalhadores passam a internalizar de modo não autoritário e a reproduzir sem muita reflexão.
(...) o processo de mediação política se dá quando os valores, as crenças, as normas, as regras, a forma de comportamento e, principalmente, os controles visíveis (sutis e/ou disfarçados) determinam não apenas a forma como as pessoas têm que agir, mas seu sucesso e a sua permanência (ou não) na organização (POMBEIRO, 2006).
As principais transformações que se processam nas organizações dizem respeito à questão ideológica. Em função da maior qualificação dos trabalhadores, a empresa não pode mais contar apenas com as instâncias produtoras de ideologia externas à instituição. A organização hipermoderna passa a produzir ela mesma uma ideologia conformista. Ela passa a produzir, de modo autônomo, uma ideologia, uma religião da empresa, um credo ao qual todos os trabalhadores devem fazer sua profissão de fé, do qual devem compartilhar e aderir. (Vale ressaltar, que a empresa hipermoderna ainda investe nos aparelhos ideológicos da sociedade global. Por meio do Estado, procura mesmo marcar sua influência, principalmente em escolas e universidades, que passam a colocar sob sua orientação. Entretanto, tal procedimento se revela insuficiente para lidar com trabalhadores mais escolarizados e, portanto, com maiores chances de desenvolver a capacidade de crítica).
Como tem necessidade de justificar suas práticas muito mais que antes junto a seus trabalhadores, a seus clientes, ao público, é necessário enquadrar mais estreitamente sua produção ideológica, que é vital para seu funcionamento. Ela ambiciona e em grande parte consegue tornar-se um lugar de produção de conceitos e valores (PAGÉS; BONETI; GAUJELAC; DESCENDRE, 1987, p.36).
Os empregados são permanentemente submetidos a uma evangelização representada pelos manuais, pelo treinamento, pelas regras que lhe são impostas, pela entrevista de avaliação através da qual fornecem ao empregado os parâmetros e as diretrizes de comportamento reconhecidos pela organização, os quais ela espera que as pessoas cumpram com devoção.[...] os empregados referenciam a ideologia vigente como um conjunto de valores a serem seguidos, como um ícone a ser perseguido; caso contrário, as pessoas ficam com um sentimento de culpa que pode levá-las a serem alijadas da organização por não merecerem mais a confiança desta. A dominação da organização sobre os indivíduos se consolida de tal forma que, cada vez mais, o espaço de liberdade das pessoas se estreita. A fé na organização é praticamente uma religião cultuada e referenciada todos os dias (POMBEIRO, 2006).
A dominação psicológica da organização sobre seus trabalhadores também passa a ser exercida de modo bastante diferenciado. A dominação se exerce a nível inconsciente. A organização passa a funcionar como uma máquina de prazer e de angústia ao mesmo tempo. Angústia, porque a empresa se apresenta ao trabalhador com seus controles onipresentes, com exigências elevadas e muitas vezes inatingíveis para ele. Por outro lado, a organização oferece muitos prazeres: o prazer de conquistar e dominar clientes e colegas, de se superar e se autodeterminar. O trabalhador tende a assumir a organização, sua ideologia, suas regras e as reproduz de modo mais suave do que se fosse submetido a restrições e a um controle autoritário. “Ele vive a organização como uma droga da qual não pode se separar” (PAGÉS; BONETI; GAUJELAC; DESCENDRE, 1987, p.36).
O trabalhador desenvolve uma dependência psicológica da organização. Uma dependência despersonalizada, uma vez que não é encarnada na figura da chefia, mas tem como foco a própria estrutura organizacional. O trabalhador não se identifica com pessoas, mas com a empresa.
[...] o processo de medição psicológica se dá mediante a ligação das pessoas não só por laços materiais e morais, mas também por laços psicológicos. Pagés et al chegam a tipificar a organização como uma droga, onde as pessoas que nela trabalham são seus escravos, já que estão por ela impregnados, num ambiente ambíguo, entre o prazer e a angústia. O prazer de ter acesso e usufruir os privilégios oferecidos, em contrapartida às exigências feitas pela empresa. Essa ambiguidade é ampliada porque a organização apresenta-se, ao mesmo tempo, extremamente ameaçadora e gratificante, podendo transformar a relação com o empregado numa relação afetiva, para camuflar o poder e o domínio exercido.[...] A dualidade entre prazer e angústia, aparentemente contraditória, é sem dúvida uma das questões maisnítidas nas organizações, uma vez que se traduz, por um lado, no prazer da realização profissional - pelo recebimento de dinheiro que possibilita realizar outros prazeres pessoais - por outro, na angústia das pessoas, manifestada pelo controle exercido pela organização sobre seus empregados e pelo isolamento a que o indivíduo é submetido à medida que ascende na hierarquia da empresa, tendo em vista que tem que exercer uma dominação sobre os empregados que estão sob sua responsabilidade. A organização proporciona o necessário prazer ao indivíduo para que este exerça o seu poder em favor dela. Ao mesmo tempo, causa no indivíduo a permanente angústia de ter que atingir os objetivos pretendidos por ela; caso contrário, perderá suas "vantagens", quando é caracterizado uma das questões mais conflituosas. Seja para o indivíduo consciente do seu papel de dominado pela empresa, pois o coloca num constante conflito com ela; seja para aquele que não tem essa consciência e é submetido a um processo alienante, dominado com facilidade pela organização. Em ambos os casos, o domínio da empresa é consolidado.
O educador do homem da organização não são as pessoas com as quais ele se relaciona, seus chefes, os formadores da empresa, é a própria organização, suas regras, seus princípios, suas oportunidades, suas ameaças, que estruturam sua vida, o fazem tremer, esperar e gozar, e das quais os chefes não passam de servidores e intérpretes, eles próprios submetidos como todos à divindade.
O homem da organização liberta-se assim da tutela estrita e mesquinha do chefe, do educador, dos tiranos locais da empresa clássica, que ama, admira, detesta, com os quais é obrigado a se identificar para aprender a viver, para cair sob uma tutela muito mais obscura, ameaçadora e insidiosa de uma entidade impessoal que penetra na sua vida e na sua alma, de ponta a ponta (PAGÉS; BONETI; GAUJELAC; DESCENDRE, 1987, p. 37).
A organização hipermoderna não constitui um sistema paternal, mas um sistema maternal. A empresa é a grande mãe, a fonte de prazer e sobrevivência dos trabalhadores. É dela que o trabalhador depende. Para sobreviver, precisa se sentir aceito, fazer parte da empresa, estar a ela integrado, a ela pertencer. Fora da organização, o trabalhador deixa de existir. Depende da aceitação da empresa para construir sua identidade. E para ser aceito como parte da empresa, ele precisa aderir às suas regras, à sua filosofia, incorporá-las como suas.
A organização hipermoderna identifica as fraquezas e/ou ambições dos indivíduos e, consequentemente, o poder de "premiar" e/ou "punir" os empregados. Por dispor desse conhecimento, a empresa consegue ofertar a seus empregados o que os satisfaz, o que pode ser não necessariamente uma vantagem financeira, mas, por exemplo, o cartão de algum clube, que identifique seu portador como uma pessoa diferenciada. [...] A ambição de ser reconhecido como um empregado mais qualificado que os demais, de ter sucesso profissional, de ter o poder de dominar outras pessoas é utilizada de forma deliberada pela organização para estabelecer uma efetiva dominação sobre seu corpo de empregados, independentemente do nível hierárquico (POMBEIRO, 2006).
Nas organizações hipermodernas todas essas mediações econômicas, políticas, ideológicas e psicológicas se reforçam mutuamente. Cada um dos meios de dominação é elemento dos demais. Dessa forma, os salários amenizam as dúvidas e os questionamentos dos trabalhadores, e fazem suportar os conflitos relativos à dominação psicológica da empresa. A adesão à ideologia da empresa favorece a aceitação e alavanca os ganhos salariais.
Assim, o poder econômico da organização reforça seu poder ideológico. A ideologia da empresa é tanto mais aceita quanto se inscreve nas práticas econômicas, principalmente nas políticas de pessoal. A adesão ideológica e psicológica, por sua vez, reforça o poder econômico, fortalece a credibilidade das políticas implementadas. O domínio do sistema provém de sua globalidade e coerência, cuja lógica visa assegurar o controle central da organização sobre seus membros.
Por fim, é possível afirmar que o estudo de Pagès et al chama atenção para uma importante questão:
Compreender o modo como as organizações operam para manter a dominação capitalista é fundamental para os que atuam no interior destes espaços. Entender as funções sociais que as organizações exercem na sociedade capitalista, desvendar os mistérios que a ideologia encobre, é de grande importância para o educador que busca atuar em uma perspectiva de transformação social. É imprescindível para o pedagogo que assume uma postura crítica e que afirma constantemente seu compromisso com a democratização das relações e dos espaços sociais.
Nesta aula, você:
Aprendeu a conceituar organização, a partir de duas importantes matrizes teóricas: a que é tributária das teorias da administração tradicionais e a marxista. Aprendeu ainda que, de acordo com o pensamento crítico, as organizações cumprem uma importante função: a prevenção dos conflitos;
pôde perceber como, de acordo com o pensamento crítico, as organizações são vistas como um produto das contradições existentes na sociedade, como espaços determinados por essas contradições. Como as organizações buscam evitar os conflitos sociais, por meio de mediações, isto é, através de processos através dos quais elas impedem o surgimento dos conflitos internos entre os trabalhadores, contribuindo para o enquadramento destes e para uma aceitação passiva do sistema capitalista e da ordem social;
entendeu que, para isso, as organizações oferecem vantagens aos indivíduos. Vantagens que integram os indivíduos às organizações, fazendo com que eles aceitem as restrições e até mesmo os objetivos de exploração e dominação da empresa. Vantagens e privilégios que atuam como uma forma de ocultar os reais interesses de dominação da empresa e do sistema;
pôde também constatar que quanto mais os trabalhadores se qualificam, mais eles têm capacidade de se opor aos objetivos das empresas e da dominação capitalista. Assim, viu como, no interior do paradigma flexível, as organizações foram ampliando as vantagens oferecidas aos trabalhadores, como uma forma cada vez mais sofisticada de cooptação e controle, visando reforçar a dependência dos trabalhadores e destituir seu poder de organização e luta social.

Continue navegando