Buscar

VÍDEOS DIÁTICOS INCLUSÃO DE SURDOS, Lucia Almeida, Leandro Assis, Ruth Braz, Geisa Nascimento

Prévia do material em texto

XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 1 
____________________________________________________________________________________________________ 
 20 a 25 de janeiro de 2013 
VÍDEOS DIDÁTICOS: INSTRUMENTO DE ENSINO NA PERSPECTIVA 
DA INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS EM AULAS DE FÍSICA DO 
ENSINO MÉDIO 
 
Lucia da Cruz de Almeida1, Leandro Santos de Assis2, Ruth Maria Mariani 
Braz3, Geisa Maria Souza Nascimento4 
 
1 UFF/Departamento de Física/lucia@if.uff.br 
2 UFF/Curso de Engenharia Elétrica/leassis34@gmail.com 
3 SEE-RJ/Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho/ruthmariani@yahoo.com.br 
4 UFF/Curso de Graduação em Física/ geisahupe@gmail.com 
Resumo 
Neste trabalho são apresentados os principais aspectos da construção de uma 
proposta voltada para a formação de professores de Física aptos a proposição e realização 
de um ensino coerente com a perspectiva da inclusão de alunos surdos ou com baixa 
audição em aulas de Física do Ensino Médio. O ponto de partida para a construção da 
proposta foi a consolidação de parceria entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o 
Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (IEPIC) –, por meio da Sala de Recursos 
Multifuncionais (SRM) da segunda instituição. Subjacente à familiarização de licenciados em 
Física em práticas educativas com alunos surdos, buscávamos, além da identificação dos 
obstáculos e possibilidades para um ensino de física inclusivo, produzir vídeos didáticos 
com legendas na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) em colaboração com estudantes 
surdos. As atividades de ensino ocorreram na SRM do IEPIC durante o ano letivo de 2010 e 
primeiro semestre de 2011 e contaram com a participação de cerca de 20 alunos de 
diferentes anos do Ensino Médio e dos últimos anos do Fundamental. O uso de 
experimentos e recursos multimídia se mostrou adequado a um processo de ensino que 
pressupõe a efetiva participação dos alunos no processo de aprendizagem. A familiarização 
dos licenciandos em Física com a LIBRAS se apresentou como um fator importante nas 
interações professor-alunos e, consequentemente, na construção do conhecimento pelos 
alunos surdos, permitindo a produção de cinco vídeos didáticos sobre diferentes temas de 
Física, dentre os quais: dilatação térmica, queda dos corpos, propagação do calor – 
condução térmica e condutores elétricos. Foi possível concluir que a inclusão de alunos 
surdos em aulas de Física das classes comuns do ensino regular é viável, contudo, está 
condicionada a mudanças na prática docente. Essas mudanças poderão contribuir para um 
ensino qualitativamente melhor para todos os alunos. 
Palavras-chave: Educação inclusiva, Ensino de física, Surdez. 
Introdução 
A atual política educacional, ao direcionar a educação formal de sujeitos com 
necessidades educacionais especiais (NEE) para as classes comuns do ensino 
regular, no sentido de garantir a todos uma educação de qualidade, introduziu novos 
desafios para o contexto escolar e, consequentemente, para a ação docente nos 
diferentes níveis educacionais. 
A educação na perspectiva da inclusão pressupõe a transformação do 
sistema educacional, de forma a encontrar meios de alcançar níveis que não 
estavam sendo contemplados: presença, participação e aquisição de 
conhecimentos. Desse modo, a presença do aluno com NEE nas classes comuns do 
XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 2 
____________________________________________________________________________________________________ 
 20 a 25 de janeiro de 2013 
ensino regular contempla apenas o primeiro nível. Para que ocorra a inclusão deve 
ser dada ao aluno a oportunidade de participar, aprender e desenvolver suas 
potencialidades (AINSCOW, s/d). 
O número crescente de matrículas de alunos com NEE na rede regular de 
ensino, como pode ser observado no Gráfico 1, transparece apenas o primeiro nível 
– a presença. 
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
800.000
2007 2008 2009 2010 2011
Total Classes Especiais/Escolas Exclusivas Classes comuns/Alunos incluídos
 
Gráfico 1: Evolução das matrículas relativas à Educação Especial no período 2007 – 2011 
(INEP, 2012). 
 
Para que os outros níveis sejam alcançados, não basta transformar a 
educação especial em modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de 
ensino. Entendemos que se faz necessária uma mudança na percepção sobre 
escola, a fim de transformá-la em inclusiva, no sentido de se caracterizar como um 
espaço coletivo: 
onde se celebra a diversidade, encarando-a como uma riqueza e não como algo a 
evitar, em que as complementaridades das características de cada um permitem 
avançar, em vez de serem vistas como ameaçadoras, como um perigo que põe em 
risco a nossa própria integridade, apenas porque ela é culturalmente diversa da do 
outro, que temos como parceiro social (CÉSAR1, 2003 apud SANCHES e 
TEODORO, 2007, p.70). 
Desse modo, a heterogeneidade ao invés de um problema passa a ser 
encarada como sendo um desafio à criatividade e ao profissionalismo dos 
profissionais (SANCHES e TEODORO, 2006, p.72). 
No que se refere ao profissionalismo, há a defesa pela construção de outra 
profissionalidade para os docentes: 
uma formação que tenha como foco uma atuação docente que considere a 
diversidade, o Múltiplo, como fator de enriquecimento das relações humanas, em que 
o trabalho educacional atinja a todos que dele necessitam, sem o deslocar dessa 
responsabilidade para especialistas, que têm também um importante papel, mas cuja 
atuação não pode ser confundida com a função educativa e nem substituí-la (SIEMS, 
2010, p. 37). 
 
1 César, M.. A escola inclusiva enquanto espaço-tempo de diálogo de todos para todos. In: RODRIGUES, 
David (org.), Perspectivas sobre a inclusão. Da educação à sociedade. Porto: Porto Editora, 2003. 
XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 3 
____________________________________________________________________________________________________ 
 20 a 25 de janeiro de 2013 
Nos Cursos de Licenciatura são grandes os desafios que se apresentam 
para o alcance da formação defendida pela autora, já que no discurso e na prática 
dos docentes formadores ainda preponderam os modelos de escolas exclusivas e 
de integração de alunos que não imponham mudanças significativas ao contexto da 
escola regular. Contudo, nossa experiência na formação de professores tem 
mostrado que quando amplas reformulações curriculares não se apresentam como 
viáveis, serão os resultados de iniciativas, mesmo que inicialmente pontuais, nos 
âmbitos curriculares e extracurriculares, daqueles formadores que acreditam no 
modelo de inclusão, que poderão se traduzir em argumentos balizadores para a 
construção de estruturas curriculares que permitam ao futuro professor desenvolver 
práticas educativas pautadas no respeito e na valorização da diversidade. 
Esse trabalho se configura como resultado de uma iniciativa, que teve seu 
início como atividade extracurricular, por meio de projetos de extensão e de iniciação 
à docência articulados à formação inicial de professores de Física e que tem servido 
para promover mudanças mais efetivas na estrutura curricular do Curso de 
Licenciatura em Física da UFF. 
No quadro das NEE, optamos por focar nossas ações nas deficiências 
sensoriais. Dois fatores influenciaram essa escolha: maior demanda de alunos com 
NEE visuais e auditivas nas classes comuns de Ensino Médio quando comparada a 
outras deficiências; escassez de recursos didáticos que favoreçam um ensino de 
Física na perspectiva da inclusão de deficientes sensoriais. 
Assim, objetivamos com esse trabalho apresentar os principais aspectos 
relativos à produção de recursos didáticos voltados para a inclusãode alunos surdos 
ou com baixa audição em aulas de Física do Ensino Médio, tanto no que se refere 
aos materiais produzidos quanto aos aspectos metodológicos que balizaram a 
produção. 
2 Tendências atuais para o ensino de Física 
Resultados decorrentes da pesquisa em ensino de Física apontam para 
aspectos consensuais relativos aos processos de ensino e de aprendizagem. Um 
ensino centrado na oralidade e escrita do professor, no qual predomina a 
memorização e manipulação de fórmulas desconexas com a realidade do aluno, tem 
sido criticado e caracterizado como inadequado para a formação de sujeitos que 
saibam fazer uso do conhecimento científico para além da prática escolar. 
Uma breve retrospectiva no ensino de Física no Brasil demonstra que ainda 
há a necessidade de mudanças radicais no Ensino Médio, se revelando como 
perspectiva, mudanças na formação docente, a fim de que na sala de aula: a Física 
não transpareça dogmática; o ensino tenha como base os pressupostos 
construtivistas e se volte para o desenvolvimento da cidadania; os modelos, as 
situações reais, os elementos próximos, práticos e vivenciais do aluno sejam 
enfatizados como partida para o desenvolvimento da abstração; os conteúdos sejam 
atualizados com a inserção da Física Contemporânea (MOREIRA, 2000, p.98). 
Diversos são os enfoques e ênfases propostos para que essas mudanças 
ocorram, dentre os quais: física do cotidiano; história e filosofia da ciência; 
abordagem experimental com recursos de baixo custo; ciência, tecnologia, 
sociedade e ambiente; recursos computacionais e outras tecnologias. Contudo, 
também parece ser consenso que não deva existir exclusividade ou predomínio de 
um desses enfoques ou ênfases. 
XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 4 
____________________________________________________________________________________________________ 
 20 a 25 de janeiro de 2013 
Na nossa percepção um enfoque metodológico pode complementar o outro 
e, sendo assim, a exploração de diferentes recursos didáticos se mostra 
enriquecedora no sentido de atender às diferenças entre os alunos. O importante na 
escolha das metodologias e dos recursos didáticos é a contribuição que podem 
oferecer, no sentido de propiciarem, na sala de aula, um contexto adequado a um 
ensino que, ao se contrapor à passividade e isolamento dos alunos, favoreça a 
construção de saberes, a cooperação e o sucesso de todos. 
Souza et al (2007, p. 135) alertam que a falta da audição não prejudica 
intelectualmente o surdo, entretanto, sua aprendizagem é dificultada em ambientes 
onde as estratégias em sua grande maioria se voltam para os ouvintes. Sendo 
assim, a inclusão de alunos com NEE auditivas em aulas de Física do Ensino Médio 
impõe ao professor, particularmente para aqueles que utilizam apenas aulas 
expositivas como opção metodológica, um repensar sobre o fazer docente. Esse 
repensar deve abarcar desde a disposição das carteiras na sala de aula até as 
opções metodológicas, estratégias e recursos didáticos. 
Em relação à disposição física das carteiras, autores (CRUZ e DIAS2, 2009; 
SMITH3, 2008 apud ALVES, 2012, p.39) alertam que a colocação em fila impede a 
participação do aluno surdo já que dificulta a percepção dos diálogos, levando-o a 
não compreender o que está acontecendo. 
Em termos de recursos didáticos, os experimentos e aqueles que se 
baseiam na exploração de elementos visuais (vídeos, animações, simulações etc) se 
apresentam como relevantes no processo de aprendizagem dos alunos surdos. 
Entretanto, como a língua de sinais é fundamental para a evolução conceitual dos 
alunos com NEE auditivas o uso de vídeos é indicado com cautela. 
Na nossa percepção a inclusão de alunos surdos em aulas de Física das 
classes comuns do ensino regular, muito mais do que inovação, exige, por parte do 
professor, um olhar reflexivo sobre as abordagens metodológicas e recursos 
didáticos existentes. Cozendey, Costa e Pessanha (2011, p.631) ressaltam que o 
uso de meios adequados possibilita o acompanhamento das aulas e a 
aprendizagem dos conceitos por todos os alunos e, assim, a oferta de recursos 
didáticos que favoreçam as formas de comunicação dos surdos é importante. 
Essa constatação nos fez debruçar na elaboração de uma proposta didático-
metodológica que, além de viabilizar a ampliação do conhecimento científico de um 
grupo de alunos (surdos, com baixa audição e ouvintes), pudesse contribuir para a 
ampliação de recursos didáticos compatíveis com a perspectiva da educação 
inclusiva em aulas de Física. 
3 Construção da proposta 
Cabe a Universidade o papel de formadora de professores para o Ensino 
Médio, entretanto, a formação por ela oferecida pressupõe vivência dos licenciandos 
nas escolas de Educação Básica, de modo a se familiarizarem com questões que lá 
se encontram. A partir dessas vivências, os licenciandos, à luz dos referenciais 
teóricos, poderão refletir e construir seu futuro fazer docente. Assim, consideramos 
 
2 CRUZ, J. I. G.; DIAS, T. R. S. Trajetória escolar do surdo no ensino superior: condições e 
possibilidades. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v.15, n.1, p.65-80, jan.-abr. 2009. 
3 SMITH D., D. Introdução a Educação Especial Editora. Porto Alegre: Artmed, 5 ed., 2008. 
XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 5 
____________________________________________________________________________________________________ 
 20 a 25 de janeiro de 2013 
que a formação de um professor na perspectiva da educação inclusiva exige um 
conhecimento in lócus sobre a realidade que pretende atuar profissionalmente. 
Desse modo, o primeiro e principal parâmetro que norteou a elaboração da 
proposta didático-metodológica foi a busca por uma parceria Universidade-Escola 
que viabilizasse a familiarização de licenciandos em Física com a educação de 
surdos no contexto da escola regular. A parceria se estabeleceu por meio da SRM 
do IEPIC, escola pública da rede estadual do Rio de Janeiro. 
Na constituição da parceria, os professores e licenciandos em Física da 
UFF, além da familiaridade com os processos de ensino e aprendizagem com 
alunos surdos, tinham o anseio de que a aproximação entre a UFF e a SRM do 
IEPIC propiciasse condições para a produção de vídeos – material didático, cujo 
uso, como já mencionado, é visto com cautela. Já a equipe do IEPIC via na 
aproximação uma possibilidade de enriquecimento cultural dos alunos 
frequentadores da SRM em assuntos relativos à Física. A fim de atender os anseios 
das duas partes foi delineado um planejamento, no qual ficou estabelecido como 
resultado final a produção de vídeos didáticos sobre temas de Física, com legendas 
na língua de sinais. Essa produção pressupunha a participação de alunos surdos da 
SRM como “intérpretes” na filmagem das legendas. Contudo, uma das dificuldades 
que se apresenta na abordagem dos conteúdos de Física para alunos surdos é a 
falta ou insuficiência de vocabulário específico na LIBRAS para expressar os 
conceitos físicos (HIDALGO, 2010, p.48). 
Assim, a partir da constituição de uma equipe multidisciplinar – professor 
universitário, licenciandos em Física, professor especialista em educação de surdos 
(Coordenador da SRM da Escola) e intérpretes em LIBRAS, foram traçadas etapas 
metodológicas que pudessem, por um lado, viabilizar a ampliação da cultura dos 
alunos frequentadores da SRM em Física e, por outro, propiciar a criação de sinais 
pelos alunos para expressar conceitos e situações físicas a serem utilizados na 
produção dos vídeos. Dentre essas etapas se destacam: elaboração de 
planejamento de ensino, com o uso de recursos didáticos diversificados 
(experimentos, projeções multimídia – textos curtos, imagens e animações 
computacionais); realização de atividadede ensino com a colaboração de 
intérpretes da SRM; apresentação de vídeo sem áudio e sem legendas; consulta aos 
alunos sobre o interesse de colaborar na produção das legendas em LIBRAS; 
composição do grupo de alunos surdos, participantes da atividade de ensino, para o 
papel de intérpretes na produção do vídeo; reunião entre membros da equipe 
multidisciplinar e alunos intérpretes para discussão de um roteiro de vídeo 
previamente estabelecido e produção das legendas na língua de sinais, incluindo a 
criação de sinais; filmagem das legendas; edição final do vídeo com a inserção de 
áudio e legendas em LIBRAS; apresentação da versão final do vídeo para os alunos 
da SRM; divulgação do vídeo na Internet. 
As propostas de ensino foram planejadas e implementadas nas perspectivas 
de uma abordagem construtivista e de uma exploração fenomenológica dos 
conteúdos, em que a explicitação de concepções dos alunos sobre os temas 
tratados foram tomadas com o ponto de partida para o processo de evolução 
conceitual. Além disso, o incentivo às interações entre alunos e recursos didáticos, 
aluno-aluno e alunos-professor também se constituiu em estratégia didática em prol 
de uma efetiva participação dos alunos no processo de aprendizagem. Nas 
XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 6 
____________________________________________________________________________________________________ 
 20 a 25 de janeiro de 2013 
atividades de ensino, os licenciandos assumiram o papel de mediador e organizador 
dos conhecimentos que iam sendo construídos pelos alunos. 
4 Atividades de ensino e produção das legendas em LIBRAS dos 
vídeos 
As atividades de ensino foram realizadas na SRM do IEPIC, no decorrer do 
ano letivo de 2010 e primeiro semestre de 2011, no contra turno da matrícula dos 
estudantes e contaram com a participação de cerca de 20 alunos (surdos, baixa 
audição e ouvintes) do Ensino Médio e dos anos finais do Ensino Fundamental. 
Os licenciandos, assessorados pelos intérpretes, conduziram as atividades 
de ensino que contemplaram os seguintes assuntos, previamente acordados entre 
as equipes da UFF e da SRM do IEPIC: queda dos corpos; dilatação térmica dos 
sólidos; dilatação e contração térmicas do ar; condução térmica; condutores 
elétricos. 
As reuniões para a discussão dos roteiros dos vídeos foram realizadas em 
momentos posteriores (7 a 10 dias) aos das atividades de ensino. Essas reuniões 
foram frutíferas na criação, pelos alunos surdos assessorados pelo intérprete, de 
novos sinais para grandezas e conceitos físicos. Dentre os sinais, o criado para 
identificar Galileu foi o que demandou mais tempo, já que os alunos-intérpretes 
sentiram a necessidade de conhecer melhor sua obra e contribuições para o 
desenvolvimento da Ciência, antes da criação do sinal. Isto exigiu a busca por 
materiais e forma adequados ao acesso desse conhecimento pelos alunos. 
5 Conclusão: aspectos relevantes decorrentes das atividades de ensino 
No que se refere à equipe da UFF, as atividades de ensino permitiram, por 
meio de um processo de reflexão-ação-reflexão melhor compreensão sobre os 
obstáculos e as possibilidades de um ensino de Física de qualidade que contemple 
as especificidades dos alunos surdos no contexto da escola regular. 
Foi possível constatar que na efetivação de um processo de ensino 
adequado a todos os alunos, o professor assume um papel de destaque, já que o 
seu fazer docente é o principal condicionante à consolidação de uma educação 
inclusiva. Contudo, a plenitude da inclusão esbarra em outros aspectos que não 
dependem apenas da vontade do professor. Por exemplo, apesar da confirmação 
sobre a importância dos recursos experimentais e de multimídia no processo de 
aprendizagem dos alunos surdos, no IEPIC os recursos experimentais para o ensino 
de Física, além de reduzidos ou quase inexistentes, não se configuram como 
ferramentas auxiliares nos processos de ensino das classes comuns. Por sua vez, 
apesar de estar aparelhado com recursos computacionais (computadores, projetor 
multimídia etc), o seu uso no contexto da sala de aula não é facilitado ao professor 
por diversos motivos, dentre os quais, acesso aos recursos, infraestrutura (rede 
elétrica, luminosidade do ambiente, tela para projeção etc). Desse modo, a 
utilização, tanto dos recursos experimentais quanto dos de multimídia, fica 
comprometida e, como consequência, não se incorpora às práticas docentes. 
A atuação do intérprete e o conhecimento do professor na língua de sinais 
são fundamentais na consolidação de um processo de ensino que tem como um de 
seus alicerces as interações sociais entre os sujeitos da sala de aula. Apesar da 
necessidade de intermediação do intérprete, o processo de ensino e, 
consequentemente de aprendizagem dos alunos surdos, é facilitado se o professor 
sabe fazer uso da LIBRAS. Esta competência permite que o professor, num 
XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 7 
____________________________________________________________________________________________________ 
 20 a 25 de janeiro de 2013 
ambiente de diversidade, busque, em relação à aprendizagem dos conteúdos 
escolares, patamares de igualdade. Ainda sobre a temática da LIBRAS nos 
processos de ensino e aprendizagem, ressaltamos que o domínio da língua de 
sinais por alunos ouvintes participantes das atividades de ensino na SRM do IEPIC 
ampliou sobremaneira os diálogos e a construção do conhecimento por todos os 
alunos. 
Ao término das atividades de ensino, mesmo sem recorrermos a 
instrumentos formais de avaliação de aprendizagem, percebemos uma evolução 
conceitual significativa por parte de todos os alunos, fato este que ratifica a 
percepção, já mencionada, de Cozendey, Costa e Pessanha (2011), sobre a 
importância do uso de recursos didáticos que favoreçam as formas de comunicação 
dos surdos. 
 O envolvimento dos alunos surdos na produção das legendas em LIBRAS 
contribuiu para a elevação da autoestima daqueles que atuaram diretamente na 
criação dos sinais e/ou na filmagem como intérpretes das legendas. A cada 
atividade de ensino, com a subsequente criação e filmagem das legendas para os 
vídeos, cresceu o número de alunos motivados no processo de produção. 
Na escassez de recursos voltados para a inclusão de alunos surdos em 
aulas de Física, a produção dos vídeos com legenda em LIBRAS se apresentou 
como uma iniciativa, cujos resultados não ficaram restritos aos alunos 
frequentadores da SRM do IEPIC e demais sujeitos envolvidos no processo. Os 
cinco vídeos produzidos, além da divulgação na Internet4, que gera a ampliação de 
acesso aos interessados no ensino de Física para alunos com NEE auditivas, têm 
servido de material de apoio na formação inicial e continuada de professores, tanto 
em atividades curriculares como extracurriculares. Além disso, o processo de 
produção dos vídeos, incluindo as atividades de ensino, se mostrou adequado na 
ampliação de vocabulário específico na LIBRAS para expressar os conceitos físicos, 
cuja escassez, com já apontada por outros autores (Hidalgo, 2010) tem se 
apresentado com um dos obstáculos à inclusão de alunos surdos em aulas de Física 
do Ensino Médio. 
Há muito a ser feito para que a matrícula de alunos com NEE auditivas nas 
escolas regulares ultrapasse a mera presença nas classes comuns, ou seja, um 
ensino pautado nos pressupostos da inclusão exige um esforço coletivo, no qual a 
Universidade, por meio dos seus Cursos de Formação inicial e continuada não pode 
se furtar de assumir seu papel como um dos agentes de mudança. Nesse sentido, a 
parceria Universidade-Escola, envolvendo professores (Ensino Superior e Educação 
Básica) de áreas de conhecimentos específicos, professores especialistas em 
Educação Especial, licenciandos e alunos com NEE desponta com uma 
possibilidadede efetivação da almejada educação inclusiva. 
Em relação ao ensino de Física, a inclusão de alunos surdos exige o 
desenvolvimento da criatividade do professor, no sentido de saber fazer, a partir de 
um novo olhar sobre os recursos existentes, as adequações e/ou adaptações 
necessárias para torná-los instrumentos de mudança e, consequentemente, de 
inclusão dos NEE auditivos no contexto da sala de aula do ensino regular. 
 
4 Disponíveis no site Divulgação de Propostas para o Ensino de Física, a partir do link 
<http://www.ensinodefisica.net/7_videos/molduras/index_videos.htm>. 
XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 8 
____________________________________________________________________________________________________ 
 20 a 25 de janeiro de 2013 
Referências 
AINSCOW, Mel. Processo de Inclusão é um processo de aprendizado 
(entrevista). Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/ees_a.php?t=002>. 
Acesso em: 28 mar. 2012. 
ALVES, Fábio de Souza. Ensino de Física para pessoas surdas: o 
processo educacional do surdo no ensino médio e suas relações no ambiente 
escolar. Bauru, 175 p., 2012. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual 
Paulista Júlio Mesquita Filho. Disponível em: 
<http://www2.fc.unesp.br/BibliotecaVirtual/DetalhaDocumentoAction.do?idDocument
o=44>. Acesso em: 20 mai. 2012. 
COZENDEY, Sabrina Gomes; COSTA, Maria da Piedade Resende da; 
PESSANHA, Márlon Caetano Ramos. Uma proposta diferenciada para ensinar leis 
de Newton em turmas inclusivas. In: VII Encontro da Associação Brasileira de 
Pesquisadores em Educação Especial, Londrina, 2011. Disponível em: 
<http://www.uel.br/eventos/congressomultidisciplinar/pages/anais/2011/processo_inc
lusivo/058-2011.pdf>. Acesso em: 12 outubro 2012. 
HIDALGO, Paulo Henrique. LIBRAS: dificuldades acarretadas pela falta 
de sinais específicos para o ensino de física. Dourados, 78 p., 2010. Monografia 
(Licenciatura em Física). – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Disponível 
em: <http://fisica.uems.br/curso/tcc/tcc.php?id=2>. Acesso em: 15 mai. 2012. 
INEP. Censo da educação básica: 2011 – resumo técnico. – Brasília: 
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2012. 
Disponível em: 
<http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/resumos_tecnicos/res
umo_tecnico_censo_educacao_basica_2011.pdf>. Acesso em: 08 mai. 2012. 
MOREIRA, Marco Antonio. Ensino de Física no Brasil: retrospectiva e 
perspectivas. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v.22, n. 1, p. 94-
99, 2000. Disponível em: <http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/v22_94.pdf>. Acesso 
em: 12 mai. 2012. 
SANCHES, Isabel; TEODORO, António. Da integração à inclusão escolar: 
cruzando perspectivas e conceitos. Revista Lusofona de Educação, Lisboa, v.8, 
n.8, p. 63-83, 2006. Disponível em: 
<http://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/article/view/691/583>. Acesso em: 
02 abr. 2012. 
SIEMS, Maria Edith Romano. Educação especial em tempos de educação 
inclusiva: identidade docente em questão. São Carlos: Pedro & João Editores, 
2010. 
SOUZA, Salete de et al. Uma proposta de ensino de física para alunos 
surdos centrada na experiência visual. In: ENCONTRO ESTADUAL DE ENSINO DE 
FÍSICA – RS, 2007. Porto Alegre. Atas .... Porto Alegre: UFRGS – Instituto de 
Física, 2007, p.127-139. Disponível em: 
<http://ufpel.academia.edu/TatianaLebedeff/Papers/384966/UMA_PROPOSTA_DE_
ENSINO_DE_FISICA_PARA_ALUNOS_SURDOS_CENTRADA_NA_EXPERIENCIA
_VISUA>. Acesso em: 30 mai. 2012.

Continue navegando

Outros materiais