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XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 1 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 VÍDEOS DIDÁTICOS: INSTRUMENTO DE ENSINO NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO DE ALUNOS SURDOS EM AULAS DE FÍSICA DO ENSINO MÉDIO Lucia da Cruz de Almeida1, Leandro Santos de Assis2, Ruth Maria Mariani Braz3, Geisa Maria Souza Nascimento4 1 UFF/Departamento de Física/lucia@if.uff.br 2 UFF/Curso de Engenharia Elétrica/leassis34@gmail.com 3 SEE-RJ/Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho/ruthmariani@yahoo.com.br 4 UFF/Curso de Graduação em Física/ geisahupe@gmail.com Resumo Neste trabalho são apresentados os principais aspectos da construção de uma proposta voltada para a formação de professores de Física aptos a proposição e realização de um ensino coerente com a perspectiva da inclusão de alunos surdos ou com baixa audição em aulas de Física do Ensino Médio. O ponto de partida para a construção da proposta foi a consolidação de parceria entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (IEPIC) –, por meio da Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) da segunda instituição. Subjacente à familiarização de licenciados em Física em práticas educativas com alunos surdos, buscávamos, além da identificação dos obstáculos e possibilidades para um ensino de física inclusivo, produzir vídeos didáticos com legendas na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) em colaboração com estudantes surdos. As atividades de ensino ocorreram na SRM do IEPIC durante o ano letivo de 2010 e primeiro semestre de 2011 e contaram com a participação de cerca de 20 alunos de diferentes anos do Ensino Médio e dos últimos anos do Fundamental. O uso de experimentos e recursos multimídia se mostrou adequado a um processo de ensino que pressupõe a efetiva participação dos alunos no processo de aprendizagem. A familiarização dos licenciandos em Física com a LIBRAS se apresentou como um fator importante nas interações professor-alunos e, consequentemente, na construção do conhecimento pelos alunos surdos, permitindo a produção de cinco vídeos didáticos sobre diferentes temas de Física, dentre os quais: dilatação térmica, queda dos corpos, propagação do calor – condução térmica e condutores elétricos. Foi possível concluir que a inclusão de alunos surdos em aulas de Física das classes comuns do ensino regular é viável, contudo, está condicionada a mudanças na prática docente. Essas mudanças poderão contribuir para um ensino qualitativamente melhor para todos os alunos. Palavras-chave: Educação inclusiva, Ensino de física, Surdez. Introdução A atual política educacional, ao direcionar a educação formal de sujeitos com necessidades educacionais especiais (NEE) para as classes comuns do ensino regular, no sentido de garantir a todos uma educação de qualidade, introduziu novos desafios para o contexto escolar e, consequentemente, para a ação docente nos diferentes níveis educacionais. A educação na perspectiva da inclusão pressupõe a transformação do sistema educacional, de forma a encontrar meios de alcançar níveis que não estavam sendo contemplados: presença, participação e aquisição de conhecimentos. Desse modo, a presença do aluno com NEE nas classes comuns do XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 2 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 ensino regular contempla apenas o primeiro nível. Para que ocorra a inclusão deve ser dada ao aluno a oportunidade de participar, aprender e desenvolver suas potencialidades (AINSCOW, s/d). O número crescente de matrículas de alunos com NEE na rede regular de ensino, como pode ser observado no Gráfico 1, transparece apenas o primeiro nível – a presença. 0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000 800.000 2007 2008 2009 2010 2011 Total Classes Especiais/Escolas Exclusivas Classes comuns/Alunos incluídos Gráfico 1: Evolução das matrículas relativas à Educação Especial no período 2007 – 2011 (INEP, 2012). Para que os outros níveis sejam alcançados, não basta transformar a educação especial em modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino. Entendemos que se faz necessária uma mudança na percepção sobre escola, a fim de transformá-la em inclusiva, no sentido de se caracterizar como um espaço coletivo: onde se celebra a diversidade, encarando-a como uma riqueza e não como algo a evitar, em que as complementaridades das características de cada um permitem avançar, em vez de serem vistas como ameaçadoras, como um perigo que põe em risco a nossa própria integridade, apenas porque ela é culturalmente diversa da do outro, que temos como parceiro social (CÉSAR1, 2003 apud SANCHES e TEODORO, 2007, p.70). Desse modo, a heterogeneidade ao invés de um problema passa a ser encarada como sendo um desafio à criatividade e ao profissionalismo dos profissionais (SANCHES e TEODORO, 2006, p.72). No que se refere ao profissionalismo, há a defesa pela construção de outra profissionalidade para os docentes: uma formação que tenha como foco uma atuação docente que considere a diversidade, o Múltiplo, como fator de enriquecimento das relações humanas, em que o trabalho educacional atinja a todos que dele necessitam, sem o deslocar dessa responsabilidade para especialistas, que têm também um importante papel, mas cuja atuação não pode ser confundida com a função educativa e nem substituí-la (SIEMS, 2010, p. 37). 1 César, M.. A escola inclusiva enquanto espaço-tempo de diálogo de todos para todos. In: RODRIGUES, David (org.), Perspectivas sobre a inclusão. Da educação à sociedade. Porto: Porto Editora, 2003. XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 3 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 Nos Cursos de Licenciatura são grandes os desafios que se apresentam para o alcance da formação defendida pela autora, já que no discurso e na prática dos docentes formadores ainda preponderam os modelos de escolas exclusivas e de integração de alunos que não imponham mudanças significativas ao contexto da escola regular. Contudo, nossa experiência na formação de professores tem mostrado que quando amplas reformulações curriculares não se apresentam como viáveis, serão os resultados de iniciativas, mesmo que inicialmente pontuais, nos âmbitos curriculares e extracurriculares, daqueles formadores que acreditam no modelo de inclusão, que poderão se traduzir em argumentos balizadores para a construção de estruturas curriculares que permitam ao futuro professor desenvolver práticas educativas pautadas no respeito e na valorização da diversidade. Esse trabalho se configura como resultado de uma iniciativa, que teve seu início como atividade extracurricular, por meio de projetos de extensão e de iniciação à docência articulados à formação inicial de professores de Física e que tem servido para promover mudanças mais efetivas na estrutura curricular do Curso de Licenciatura em Física da UFF. No quadro das NEE, optamos por focar nossas ações nas deficiências sensoriais. Dois fatores influenciaram essa escolha: maior demanda de alunos com NEE visuais e auditivas nas classes comuns de Ensino Médio quando comparada a outras deficiências; escassez de recursos didáticos que favoreçam um ensino de Física na perspectiva da inclusão de deficientes sensoriais. Assim, objetivamos com esse trabalho apresentar os principais aspectos relativos à produção de recursos didáticos voltados para a inclusãode alunos surdos ou com baixa audição em aulas de Física do Ensino Médio, tanto no que se refere aos materiais produzidos quanto aos aspectos metodológicos que balizaram a produção. 2 Tendências atuais para o ensino de Física Resultados decorrentes da pesquisa em ensino de Física apontam para aspectos consensuais relativos aos processos de ensino e de aprendizagem. Um ensino centrado na oralidade e escrita do professor, no qual predomina a memorização e manipulação de fórmulas desconexas com a realidade do aluno, tem sido criticado e caracterizado como inadequado para a formação de sujeitos que saibam fazer uso do conhecimento científico para além da prática escolar. Uma breve retrospectiva no ensino de Física no Brasil demonstra que ainda há a necessidade de mudanças radicais no Ensino Médio, se revelando como perspectiva, mudanças na formação docente, a fim de que na sala de aula: a Física não transpareça dogmática; o ensino tenha como base os pressupostos construtivistas e se volte para o desenvolvimento da cidadania; os modelos, as situações reais, os elementos próximos, práticos e vivenciais do aluno sejam enfatizados como partida para o desenvolvimento da abstração; os conteúdos sejam atualizados com a inserção da Física Contemporânea (MOREIRA, 2000, p.98). Diversos são os enfoques e ênfases propostos para que essas mudanças ocorram, dentre os quais: física do cotidiano; história e filosofia da ciência; abordagem experimental com recursos de baixo custo; ciência, tecnologia, sociedade e ambiente; recursos computacionais e outras tecnologias. Contudo, também parece ser consenso que não deva existir exclusividade ou predomínio de um desses enfoques ou ênfases. XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 4 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 Na nossa percepção um enfoque metodológico pode complementar o outro e, sendo assim, a exploração de diferentes recursos didáticos se mostra enriquecedora no sentido de atender às diferenças entre os alunos. O importante na escolha das metodologias e dos recursos didáticos é a contribuição que podem oferecer, no sentido de propiciarem, na sala de aula, um contexto adequado a um ensino que, ao se contrapor à passividade e isolamento dos alunos, favoreça a construção de saberes, a cooperação e o sucesso de todos. Souza et al (2007, p. 135) alertam que a falta da audição não prejudica intelectualmente o surdo, entretanto, sua aprendizagem é dificultada em ambientes onde as estratégias em sua grande maioria se voltam para os ouvintes. Sendo assim, a inclusão de alunos com NEE auditivas em aulas de Física do Ensino Médio impõe ao professor, particularmente para aqueles que utilizam apenas aulas expositivas como opção metodológica, um repensar sobre o fazer docente. Esse repensar deve abarcar desde a disposição das carteiras na sala de aula até as opções metodológicas, estratégias e recursos didáticos. Em relação à disposição física das carteiras, autores (CRUZ e DIAS2, 2009; SMITH3, 2008 apud ALVES, 2012, p.39) alertam que a colocação em fila impede a participação do aluno surdo já que dificulta a percepção dos diálogos, levando-o a não compreender o que está acontecendo. Em termos de recursos didáticos, os experimentos e aqueles que se baseiam na exploração de elementos visuais (vídeos, animações, simulações etc) se apresentam como relevantes no processo de aprendizagem dos alunos surdos. Entretanto, como a língua de sinais é fundamental para a evolução conceitual dos alunos com NEE auditivas o uso de vídeos é indicado com cautela. Na nossa percepção a inclusão de alunos surdos em aulas de Física das classes comuns do ensino regular, muito mais do que inovação, exige, por parte do professor, um olhar reflexivo sobre as abordagens metodológicas e recursos didáticos existentes. Cozendey, Costa e Pessanha (2011, p.631) ressaltam que o uso de meios adequados possibilita o acompanhamento das aulas e a aprendizagem dos conceitos por todos os alunos e, assim, a oferta de recursos didáticos que favoreçam as formas de comunicação dos surdos é importante. Essa constatação nos fez debruçar na elaboração de uma proposta didático- metodológica que, além de viabilizar a ampliação do conhecimento científico de um grupo de alunos (surdos, com baixa audição e ouvintes), pudesse contribuir para a ampliação de recursos didáticos compatíveis com a perspectiva da educação inclusiva em aulas de Física. 3 Construção da proposta Cabe a Universidade o papel de formadora de professores para o Ensino Médio, entretanto, a formação por ela oferecida pressupõe vivência dos licenciandos nas escolas de Educação Básica, de modo a se familiarizarem com questões que lá se encontram. A partir dessas vivências, os licenciandos, à luz dos referenciais teóricos, poderão refletir e construir seu futuro fazer docente. Assim, consideramos 2 CRUZ, J. I. G.; DIAS, T. R. S. Trajetória escolar do surdo no ensino superior: condições e possibilidades. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v.15, n.1, p.65-80, jan.-abr. 2009. 3 SMITH D., D. Introdução a Educação Especial Editora. Porto Alegre: Artmed, 5 ed., 2008. XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 5 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 que a formação de um professor na perspectiva da educação inclusiva exige um conhecimento in lócus sobre a realidade que pretende atuar profissionalmente. Desse modo, o primeiro e principal parâmetro que norteou a elaboração da proposta didático-metodológica foi a busca por uma parceria Universidade-Escola que viabilizasse a familiarização de licenciandos em Física com a educação de surdos no contexto da escola regular. A parceria se estabeleceu por meio da SRM do IEPIC, escola pública da rede estadual do Rio de Janeiro. Na constituição da parceria, os professores e licenciandos em Física da UFF, além da familiaridade com os processos de ensino e aprendizagem com alunos surdos, tinham o anseio de que a aproximação entre a UFF e a SRM do IEPIC propiciasse condições para a produção de vídeos – material didático, cujo uso, como já mencionado, é visto com cautela. Já a equipe do IEPIC via na aproximação uma possibilidade de enriquecimento cultural dos alunos frequentadores da SRM em assuntos relativos à Física. A fim de atender os anseios das duas partes foi delineado um planejamento, no qual ficou estabelecido como resultado final a produção de vídeos didáticos sobre temas de Física, com legendas na língua de sinais. Essa produção pressupunha a participação de alunos surdos da SRM como “intérpretes” na filmagem das legendas. Contudo, uma das dificuldades que se apresenta na abordagem dos conteúdos de Física para alunos surdos é a falta ou insuficiência de vocabulário específico na LIBRAS para expressar os conceitos físicos (HIDALGO, 2010, p.48). Assim, a partir da constituição de uma equipe multidisciplinar – professor universitário, licenciandos em Física, professor especialista em educação de surdos (Coordenador da SRM da Escola) e intérpretes em LIBRAS, foram traçadas etapas metodológicas que pudessem, por um lado, viabilizar a ampliação da cultura dos alunos frequentadores da SRM em Física e, por outro, propiciar a criação de sinais pelos alunos para expressar conceitos e situações físicas a serem utilizados na produção dos vídeos. Dentre essas etapas se destacam: elaboração de planejamento de ensino, com o uso de recursos didáticos diversificados (experimentos, projeções multimídia – textos curtos, imagens e animações computacionais); realização de atividadede ensino com a colaboração de intérpretes da SRM; apresentação de vídeo sem áudio e sem legendas; consulta aos alunos sobre o interesse de colaborar na produção das legendas em LIBRAS; composição do grupo de alunos surdos, participantes da atividade de ensino, para o papel de intérpretes na produção do vídeo; reunião entre membros da equipe multidisciplinar e alunos intérpretes para discussão de um roteiro de vídeo previamente estabelecido e produção das legendas na língua de sinais, incluindo a criação de sinais; filmagem das legendas; edição final do vídeo com a inserção de áudio e legendas em LIBRAS; apresentação da versão final do vídeo para os alunos da SRM; divulgação do vídeo na Internet. As propostas de ensino foram planejadas e implementadas nas perspectivas de uma abordagem construtivista e de uma exploração fenomenológica dos conteúdos, em que a explicitação de concepções dos alunos sobre os temas tratados foram tomadas com o ponto de partida para o processo de evolução conceitual. Além disso, o incentivo às interações entre alunos e recursos didáticos, aluno-aluno e alunos-professor também se constituiu em estratégia didática em prol de uma efetiva participação dos alunos no processo de aprendizagem. Nas XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 6 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 atividades de ensino, os licenciandos assumiram o papel de mediador e organizador dos conhecimentos que iam sendo construídos pelos alunos. 4 Atividades de ensino e produção das legendas em LIBRAS dos vídeos As atividades de ensino foram realizadas na SRM do IEPIC, no decorrer do ano letivo de 2010 e primeiro semestre de 2011, no contra turno da matrícula dos estudantes e contaram com a participação de cerca de 20 alunos (surdos, baixa audição e ouvintes) do Ensino Médio e dos anos finais do Ensino Fundamental. Os licenciandos, assessorados pelos intérpretes, conduziram as atividades de ensino que contemplaram os seguintes assuntos, previamente acordados entre as equipes da UFF e da SRM do IEPIC: queda dos corpos; dilatação térmica dos sólidos; dilatação e contração térmicas do ar; condução térmica; condutores elétricos. As reuniões para a discussão dos roteiros dos vídeos foram realizadas em momentos posteriores (7 a 10 dias) aos das atividades de ensino. Essas reuniões foram frutíferas na criação, pelos alunos surdos assessorados pelo intérprete, de novos sinais para grandezas e conceitos físicos. Dentre os sinais, o criado para identificar Galileu foi o que demandou mais tempo, já que os alunos-intérpretes sentiram a necessidade de conhecer melhor sua obra e contribuições para o desenvolvimento da Ciência, antes da criação do sinal. Isto exigiu a busca por materiais e forma adequados ao acesso desse conhecimento pelos alunos. 5 Conclusão: aspectos relevantes decorrentes das atividades de ensino No que se refere à equipe da UFF, as atividades de ensino permitiram, por meio de um processo de reflexão-ação-reflexão melhor compreensão sobre os obstáculos e as possibilidades de um ensino de Física de qualidade que contemple as especificidades dos alunos surdos no contexto da escola regular. Foi possível constatar que na efetivação de um processo de ensino adequado a todos os alunos, o professor assume um papel de destaque, já que o seu fazer docente é o principal condicionante à consolidação de uma educação inclusiva. Contudo, a plenitude da inclusão esbarra em outros aspectos que não dependem apenas da vontade do professor. Por exemplo, apesar da confirmação sobre a importância dos recursos experimentais e de multimídia no processo de aprendizagem dos alunos surdos, no IEPIC os recursos experimentais para o ensino de Física, além de reduzidos ou quase inexistentes, não se configuram como ferramentas auxiliares nos processos de ensino das classes comuns. Por sua vez, apesar de estar aparelhado com recursos computacionais (computadores, projetor multimídia etc), o seu uso no contexto da sala de aula não é facilitado ao professor por diversos motivos, dentre os quais, acesso aos recursos, infraestrutura (rede elétrica, luminosidade do ambiente, tela para projeção etc). Desse modo, a utilização, tanto dos recursos experimentais quanto dos de multimídia, fica comprometida e, como consequência, não se incorpora às práticas docentes. A atuação do intérprete e o conhecimento do professor na língua de sinais são fundamentais na consolidação de um processo de ensino que tem como um de seus alicerces as interações sociais entre os sujeitos da sala de aula. Apesar da necessidade de intermediação do intérprete, o processo de ensino e, consequentemente de aprendizagem dos alunos surdos, é facilitado se o professor sabe fazer uso da LIBRAS. Esta competência permite que o professor, num XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 7 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 ambiente de diversidade, busque, em relação à aprendizagem dos conteúdos escolares, patamares de igualdade. Ainda sobre a temática da LIBRAS nos processos de ensino e aprendizagem, ressaltamos que o domínio da língua de sinais por alunos ouvintes participantes das atividades de ensino na SRM do IEPIC ampliou sobremaneira os diálogos e a construção do conhecimento por todos os alunos. Ao término das atividades de ensino, mesmo sem recorrermos a instrumentos formais de avaliação de aprendizagem, percebemos uma evolução conceitual significativa por parte de todos os alunos, fato este que ratifica a percepção, já mencionada, de Cozendey, Costa e Pessanha (2011), sobre a importância do uso de recursos didáticos que favoreçam as formas de comunicação dos surdos. O envolvimento dos alunos surdos na produção das legendas em LIBRAS contribuiu para a elevação da autoestima daqueles que atuaram diretamente na criação dos sinais e/ou na filmagem como intérpretes das legendas. A cada atividade de ensino, com a subsequente criação e filmagem das legendas para os vídeos, cresceu o número de alunos motivados no processo de produção. Na escassez de recursos voltados para a inclusão de alunos surdos em aulas de Física, a produção dos vídeos com legenda em LIBRAS se apresentou como uma iniciativa, cujos resultados não ficaram restritos aos alunos frequentadores da SRM do IEPIC e demais sujeitos envolvidos no processo. Os cinco vídeos produzidos, além da divulgação na Internet4, que gera a ampliação de acesso aos interessados no ensino de Física para alunos com NEE auditivas, têm servido de material de apoio na formação inicial e continuada de professores, tanto em atividades curriculares como extracurriculares. Além disso, o processo de produção dos vídeos, incluindo as atividades de ensino, se mostrou adequado na ampliação de vocabulário específico na LIBRAS para expressar os conceitos físicos, cuja escassez, com já apontada por outros autores (Hidalgo, 2010) tem se apresentado com um dos obstáculos à inclusão de alunos surdos em aulas de Física do Ensino Médio. Há muito a ser feito para que a matrícula de alunos com NEE auditivas nas escolas regulares ultrapasse a mera presença nas classes comuns, ou seja, um ensino pautado nos pressupostos da inclusão exige um esforço coletivo, no qual a Universidade, por meio dos seus Cursos de Formação inicial e continuada não pode se furtar de assumir seu papel como um dos agentes de mudança. Nesse sentido, a parceria Universidade-Escola, envolvendo professores (Ensino Superior e Educação Básica) de áreas de conhecimentos específicos, professores especialistas em Educação Especial, licenciandos e alunos com NEE desponta com uma possibilidadede efetivação da almejada educação inclusiva. Em relação ao ensino de Física, a inclusão de alunos surdos exige o desenvolvimento da criatividade do professor, no sentido de saber fazer, a partir de um novo olhar sobre os recursos existentes, as adequações e/ou adaptações necessárias para torná-los instrumentos de mudança e, consequentemente, de inclusão dos NEE auditivos no contexto da sala de aula do ensino regular. 4 Disponíveis no site Divulgação de Propostas para o Ensino de Física, a partir do link <http://www.ensinodefisica.net/7_videos/molduras/index_videos.htm>. XX Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2013 – São Paulo, SP 8 ____________________________________________________________________________________________________ 20 a 25 de janeiro de 2013 Referências AINSCOW, Mel. Processo de Inclusão é um processo de aprendizado (entrevista). Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/ees_a.php?t=002>. Acesso em: 28 mar. 2012. ALVES, Fábio de Souza. Ensino de Física para pessoas surdas: o processo educacional do surdo no ensino médio e suas relações no ambiente escolar. Bauru, 175 p., 2012. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho. Disponível em: <http://www2.fc.unesp.br/BibliotecaVirtual/DetalhaDocumentoAction.do?idDocument o=44>. Acesso em: 20 mai. 2012. COZENDEY, Sabrina Gomes; COSTA, Maria da Piedade Resende da; PESSANHA, Márlon Caetano Ramos. Uma proposta diferenciada para ensinar leis de Newton em turmas inclusivas. 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