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piaget 100 anos

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Piaget: 100 anos* 
Luci Banks-Leite**
 
 
As inúmeras comemorações em torno do centenário de 
nascimento de Piaget organizadas, sob diferentes formas, no 
Brasil e em outros países marcaram o ano de 1996 e deram 
origem a publicações importantes em torno da obra do ilustre 
mestre genebrino. 
O livro, organizado por B. Freitag, surge com o intuito de 
lembrar essa data e procura oferecer ao leitor brasileiro (ou 
melhor, do Mercosul - dois textos surgem em espanhol) uma 
coletânea de trabalhos recentes e originais escritos por autores 
brasileiros e estrangeiros que têm em comum referências às 
diferentes facetas da obra do pesquisador. Esse trabalho se 
quer inter ou multidisciplinar e aborda assuntos que se 
inserem em áreas variadas. A partir de uma análise dos 
artigos, 11 no total, observa-se alguns eixos temáticos em 
torno dos quais o livro se estrutura, a saber: 
l questões de filosofia e epistemologia tratadas por Th. 
Kesselring (Berna/Suíça) e Z. Ramozzi-Chiarottino 
(USP/São Paulo). 
l temas relativos ao que se pode denominar genericamente 
de "afetividade"; nesse sentido, o trabalho de B. Freitag 
(Universidade de Brasília) apresenta uma contribuição a 
respeito do estudo dos sonhos e o de G. Venturi 
(USP/São Paulo) trata de questões de desenvolvimento 
moral e mais especificamente de moral sexual. 
l trabalhos que abordam assuntos relacionados à 
aprendizagem e/ ou à pedagogia; é o caso do texto de T. 
Nunes (Universidade de Londres) sobre a aprendizagem 
da matemática, o de E. Grossi (Brasília) sobre questões 
relativas à pedagogia e de L. Oliveira Lima (Rio de 
Janeiro) que discute o construtivismo em educação. 
l textos que analisam a recepção da obra de Piaget em 
diferentes épocas e países: S. Parrat-Dayan 
(Genebra/Suíça) contribui com um trabalho sobre a 
leitura dos primeiros trabalhos de Piaget pelos 
pedagogos nos anos 20-30 em países europeus, 
sobretudo na Suíça e na França; M. Caruso & G. 
Fairstein (Buenos Aires) nos falam dos acontecimentos 
relativos à acolhida de Piaget na pedagogia argentina na 
década de 70; M.S. Vasconcelos (Unesp/Assis) retraça 
um amplo panorama relativo à introdução do 
pensamento de Piaget no Brasil na década de 1930 e 
assinala alguns desdobramentos do pensamento 
piagetiano em épocas recentes e, por último, E. Veras 
Soares (Universidade de Brasília) efetua uma análise 
sociológica de duas propostas pedagógicas 
desenvolvidas no Brasil que se reclamam da teoria 
piagetiana. 
Nesta breve resenha, serão focalizados, sobretudo, os textos 
concernentes aos dois últimos temas por serem os que 
envolvem a discussão de questões pedagógicas e 
educacionais, assinalando um ou outro trabalho referente aos 
dois primeiros eixos temáticos. 
Não poderíamos deixar de comentar o trabalho de T. 
Kesselring, Jean Piaget: entre ciência e filosofia, por tratar, 
de forma interessante e séria, um tema importante e pouco 
estudado, qual seja, a relação entre ciência e filosofia na obra 
de Piaget. Kesselring assinala, na introdução do texto, que "o 
que torna Piaget filosoficamente interessante não é sua relação 
com a filosofia, mas sim a maneira pela qual fez ciência" (p. 
17). O autor lembra a influência que o pensamento de Bergson 
e de Arnold Reymond tiveram sobre o jovem Piaget, bem 
como "afinidades e coincidências" entre certas concepções de 
Kant, Aristóteles e Hegel e os trabalhos piagetianos. 
Considerando-se as fortes marcas da filosofia nesses 
trabalhos, duas questões merecem ser discutidas: de um lado, 
as razões da relação polêmica que Piaget entreteve com a 
filosofia, como bem atestam alguns de seus textos e, 
sobretudo, o livro Sagesse et illusions de la philosophie 
(1968), e de outro, a fraca receptividade do pensamento 
piagetiano entre os filósofos; de fato, com raras exceções, 
Piaget ou foi ignorado ou mal interpretado e mesmo distorcido 
pelos filósofos de seu tempo. A análise dessas questões leva 
Kesselring a assinalar a importância do trabalho de Piaget no 
tratamento de questões atuais que permeiam o domínio 
filosófico e que acabam por incidir em outros campos do 
saber. 
Em relação à "afetividade", o texto de B. Freitag, "Sonhos: da 
teoria clássica à pesquisa contemporânea", retraça, em um 
primeiro momento, as idéias de Freud e Piaget a respeito dos 
sonhos - os "clássicos" que neste século dedicaram trabalhos a 
esse tema - para confrontá-las aos estudos contemporâneos. 
Em relação a Piaget ressalta as principais concepções que 
crianças e adolescentes possuem a respeito dos sonhos bem 
como os comentários críticos que esse autor teceu sobre a 
teoria freudiana, sobretudo no que diz respeito à memória. Na 
segunda parte do trabalho, a autora apresenta alguns 
resultados de trabalhos recentes sobre o sono e o sonho no 
campo da neurologia e, para concluir, assinala os limites dessa 
abordagem. De fato, ao finalizarmos a leitura do texto, 
permanece uma nítida impressão de que as idéias defendidas 
pelos dois autores "clássicos" são de longe muito mais 
interessantes e profícuas do que os dados "objetivos" 
fornecidos pela "moderna" ciência. 
Sobre os temas relativos à aprendizagem e pedagogia, o texto 
"A aprendizagem da matemática e a socialização da 
inteligência", de Terezinha Nunes - pesquisadora que há 
muitos anos trabalha na área de psicologia cognitiva -, acentua 
que "se a matemática é uma prática cultural, aprender 
matemática é um processo de socialização" (p. 47). Ainda que 
partindo de idéias básicas da teoria psicogenética, a autora 
afirma que a aprendizagem de conceitos matemáticos está 
relacionada à socialização dos significados; para explicar a 
transformação dos significados do cotidiano em conceitos 
matemáticos recorre ao conceito introduzido Karmiloff-Smith 
de "redescrição representacional", mas lembrando que 
"embora a redescrição seja um termo cognitivo, os processos 
que levam à redescrição (..) são de natureza social" (p. 54). O 
artigo é bem documentado e útil não apenas aos pesquisadores 
da área de ensino-aprendizagem de matemática, mas a todos 
os estudiosos que refletem sobre as lacunas e/ou limites da 
perspectiva piagetiana e que buscam, em trabalhos de 
pesquisadores contemporâneos, caminhos para certos 
impasses teóricos. 
Os outros dois trabalhos apresentados sobre o tema carecem, 
infelizmente, do mesmo rigor, pois apresentam imprecisões de 
ordem conceitual e/ou informações incorretas que 
comprometem o entendimento de aspectos importantes da 
obra do pensador genebrino. Vamos nos deter apenas no de 
Grossi, "Piaget em sala de aula, uma meta ainda longínqua", 
que traz um equívoco, logo no início, ao afirmar que "a 
palavra 'aprendizagem', nos escritos do Centro de 
Epistemologia Genética, pelo menos em título de obra, 
apareceu claramente pela primeira vez no livro de Inhelder, 
Sinclair e Bovet, Apprentissage et structures de la 
connaissance (1974)" (p. 124). Ora, primeiramente, o livro 
citado no qual Piaget aparece apenas como prefaciador não foi 
resultado de pesquisas do referido Centro, mas sim fruto de 
longos anos de trabalho das autoras no seio da Universidade 
de Genebra, na qual atuaram como professoras e 
pesquisadoras; e, aspecto mais importante, na década de 1950, 
inúmeras pesquisas sobre aprendizagem, desenvolvidas no 
Centro de Epistemologia, foram publicadas por Piaget1 em 
colaboração com vários estudiosos do tema: P. Gréco, A. 
Morf, L. Apostel, Vinh Bang e outros. Foram, aliás, esses 
trabalhos que deram origem a uma linha de pesquisa 
conduzida, a partir de então, por B. Inhelder que procurou 
focalizar mais aspectos psicológicos do que os propriamente 
epistemológicos dessa questão. No texto de Grossi, o que 
segue é um tratamento de difícil compreensão envolvendo 
idéias conceituais introduzidas pela autora, como por exemplo 
nível sociopsicogenético (ao que parecebaseado em Wallon, 
mas sem clara explicitação do que venha a ser), campo 
operatório, teoremas em ação, isso tudo entremeado de 
comentários relativos ao trabalho pedagógico - trabalho esse, 
sem dúvida, de grande interesse e relevância - empreendido 
junto ao Geempa, em Porto Alegre, e à rede de escolas 
públicas do Distrito Federal. Ao terminarmos a leitura do 
mesmo, podemos concordar com o título desse capítulo 
"Piaget em sala de aula, uma meta ainda longínqua". 
No que diz respeito à recepção dos trabalhos de Piaget, Parrat- 
Dayan assinala em La recepción de la obra piagetiana de los 
años 1920-30 por los pedagogos o interesse pela leitura dos 
primeiros trabalhos piagetianos no meio pedagógico. Com 
efeito, as pesquisas de Piaget a respeito do pensamento 
infantil surgem em um momento que é marcado pela "audácia 
pedagógica" e por uma nítida preocupação em se "observar a 
criança que se quer educar" (pp. 154-155). Através da análise 
de inúmeras resenhas críticas publicadas pelos pedagogos da 
época, a autora focaliza um ponto fundamental de interesse e 
alvo de controvérsias, qual seja, o estudo da mentalidade 
infantil; ao estudar as características da lógica da criança, sua 
maneira de apreender o mundo, Piaget a distingue e a 
diferencia do adulto, o que era uma novidade naquele 
momento. E é justamente ao apresentar elementos que visam 
mudar as concepções existentes sobre o pensamento infantil 
que Piaget recebe aplausos e incentivos de alguns que 
aguardam novas pesquisas sobre esse tema - é o caso, por 
exemplo, de Claparède e Ferrière2 - e críticas de outros. Esse 
texto nos lembra também que esse "primeiro" Piaget 
enfatizava a importância do intercâmbio interindividual no 
desenvolvimento cognitivo e que os problemas estudados 
então por ele - passagem do pensamento infantil ao adulto, o 
papel da linguagem e do fator social no desenvolvimento etc. - 
permanecem atuais. 
Na mesma temática, o texto de Vasconcelos, "Raízes e 
caminhos do pensamento piagetiano no Brasil", nos fornece 
um bom contraponto com o anterior, ao dar margem a 
múltiplas reflexões sobre as peculiaridades da, digamos, 
"recepção" das idéias de Piaget no Brasil. O autor lembra que 
"com o Movimento da Escola Nova se abriu espaço para a 
propagação de suas idéias" (p. 195) em nosso meio já no final 
da década de 1920, o que nos leva a pensar que Piaget foi lido 
pelos pedagogos da Europa e do Brasil que tinham 
preocupações básicas comuns: a crítica à escola tradicional, a 
busca de novos métodos pedagógicos e questionamentos sobre 
a própria concepção de "educação". Entretanto, há diferenças 
fundamentais a serem apontadas: uma se refere ao fato de que 
os trabalhos de Piaget tiveram um grande impacto não apenas 
no meio pedagógico europeu, mas também entre os psicólogos 
da época, tanto franceses - Wallon, Delacroix, Luquet, Piéron - 
como os de língua inglesa, dos dois lados do Atlântico - 
Isaacs, Peterson, Stone entre outros;3. Fato mais interessante 
ainda, é que a "leitura" efetuada pelos pedagogos os 
diferenciam de forma considerável: enquanto no meio europeu 
se discutia a contribuição de Piaget ao estudo da mentalidade 
infantil, a repercussão dos trabalhos de Piaget no Brasil se deu 
na esfera dos métodos de ensino. Graças ao trabalho de 
Vasconcelos, aprendemos que o primeiro texto de Piaget a ser 
traduzido no Brasil, em 1936, foi "Remarques psychologiques 
sur le travail par équipes" (1935), publicado em um periódico 
do Ensino do Estado de São Paulo, na época dirigido por 
Lourenço Filho e que, a partir desse trabalho, uma estratégia 
desenvolvida pelos defensores da Escola Ativa foi justamente 
a dos trabalhos em equipe, entendendo-se este como um mero 
procedimento técnico-didático. Nota-se, portanto, que Piaget 
aparece no Brasil como um pesquisador que contribuirá para 
um trabalho pedagógico "moderno" em contraposição ao 
"tradicional" e, ao que parece, acreditava-se na possibilidade 
de transpor diretamente os resultados das pesquisas realizadas 
no domínio da psicologia para a área educacional. Os 
desdobramentos de uma tal atitude se fazem sentir até os 
nossos dias em que surgem tentativas de "aplicação" do 
construtivismo e/ou de pesquisas realizadas nesse enfoque à 
sala de aula.4 
Em síntese, "Piaget:100 anos" é um livro irregular no que diz 
respeito ao valor das diferentes contribuições apresentadas, 
mas, apesar disso, ou talvez por isso mesmo, pleno de 
interesse. Concordamos com Freitag que na apresentação dos 
textos assinala que essa coletânea "tem tudo para gerar 
interesses e debates" (p. 13), pois consiste em uma boa 
ilustração de como "a teoria e a metodologia de Piaget se 
prestam a múltiplas apropriações e distorções" (p. 15). 
Resta ainda a assinalar os "anexos" que trazem boa 
bibliografia de trabalhos de Piaget existentes no Brasil, assim 
como de alguns grupos e algumas instituições voltados para o 
trabalho de pesquisa na perspectiva piagetiana. Do ponto de 
vista técnico cabe mencionar com relação às referências 
bibliográficas de alguns trabalhos, a estranha ausência de 
autores mencionados no corpo do texto, lacuna que deverá ser 
corrigida em edições vindouras. 
 
Notas 
1. Trata-se dos bem conhecidos volumes dos Études 
d'Epistémologie Génétique, a saber, Apprentissage et 
connaissance (VII), Logique, apprentissage et probabilité 
(VIII), L'apprrentissage des structures logiques (IX ) e La 
logique des apprentissages, (X ), todos publicados em Paris 
pela PUF em 1959. 
2. Esse ilustre pedagogo fundou, em 1899, o Bureau 
International des Écoles Nouvelles em Genebra, que em 1925 
se transformou no Bureau International de l'Éducation, 
organismo dirigido por Piaget de 1929 a 1967. 
3. Uma análise detalhada dessa questão se encontra em Parrat-
Dayan, S.: "Le texte et ses voix:Piaget lu par ses pairs dans le 
milieu psychologique des années 1920-30". Archives de 
Psychologie, 61, 1993, pp. 127-152. 
4. Cf. nosso trabalho "Sobre uma certa interpretação do 
construtivismo: Repercussões na área escolar e pedagógica", 
apresentado na Mesa-Redonda "Escola, Psicologia e 
Modernidade", XXVI Congresso Interamericano de 
Psicologia, São Paulo, julho 1997.
 
 
* Resenha do livro de Barbara Freitag (org.). São Paulo, 
Cortez, 1997, 263p. 
** Professora da Faculdade de Educação/Unicamp.

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