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PATOLOGIA EMBOLIA - Êmbolo é toda massa que é transportada pelo sg para outro local diferente do ponto de origem e a consequência primária da embolização sistêmica é a necrose sistêmica (infarto); - A maioria deriva de um trombo desalojado (tromboembolismo). TROMBOEMBOLISMO PULMONAR - Em 95% dos casos, os êmbolos venosos originam-se de trombos nas veias profundas da perna, próximos à fossa poplítea; - Os trombos venosos profundos (TVPs) são transportados através de canais maiores, atravessando o lado direito do coração antes de irem para o pulmão; - A embolia pulmonar pode obstruir a principal artéria pulmonar ou alojar-se na bifurcação das aa. pulmonares D e E (êmbolo em sela), bem como ir para o interior das arteríolas menores; - Um paciente que teve um êmbolo pulmonar está em grande risco de ter mais trombos; - Na embolia paradoxal, tem-se a passagem do trombo de uma veia sistêmica para uma artéria sistêmica sem passar pelo pulmão, e acontece quando há defeitos do septo interatrial ou forame oval aberto, podendo causar um AVC uma vez que estiver na circulação aberta; - O pulmão funciona como um grande “filtro” de coágulos que transitam; - A maioria dos êmbolos pulmonares são silenciosos clinicamente, se submetendo posteriormente à organização e incorporando-se à parede vascular. A embolia para pequenos ramos pulmonares nas arteríolas causa infarto; - A ruptura de capilares que se tornaram anóxicos podem causar hemorragia pulmonar; - Um êmbolo grande que bloqueia uma grande artéria pulmonar pode causar morte súbita; - No caso de uma ICC do lado esquerdo e redução da perfusão da artéria bronquial pode levar a infarto pulmonar; - Múltiplos êmbolos podem causar hipertensão pulmonar e insuficiência ventricular direita (cor pulmonale). TROMBOEMBOLISMO SISTÊMICO - A maioria (80%) surgem dos trombos murais intracardíacos, sendo 2/3 associados a infartos ventriculares esquerdos e 1/3 ao átrio esquerdo dilatado; - Os outros 20% originam-se de aneurismas aórticos, trombos sobrejacentes, placas ateroscleróticas ulceradas, vegetações valvulares fragmentadas ou sistema venoso (êmbolos paradoxais); - Êmbolos venosos se alojam no pulmão e os êmbolos arteriais podem se deslocar para qualquer parte, e os locais de repouso final depende do ponto de origem e das taxas de fluxo sg, mas muitas vezes se alojam nas artérias terminais e causam infarto; - Locais de embolização arteriolar: extremidades inferiores (75%) e sistema nervoso central (10%) As consequências da embolização dependem do calibre do vaso ocluído, do suprimento colateral e da vulnerabilidade do tecido afetado à anóxia. EMBOLIA GORDUROSA - lesão por esmagamento de tecido mole ou ruptura de sinusóides vasculares medulares (fratura de osso longo) libera na circulação glóbulos de gordura; - Embolia de gordura sintomática: insuficiência pulmonar, erupção cutânea neurológica, anemia, trombocitopenia e erupção petequial difusa; os sinais aparecem 1-3 dias após a lesão, com início súbito de taquipneia, dispneia, taquicardia, irritabilidade e agitação, progredindo para delírio ou coma; - Patogenia: obstrução mecânica e lesão bioquímica os microêmbolos de gordura ocluem a microvasculatura pulmonar e cerebral, tanto diretamente como por início súbito de agregação plaquetária (exacerbado pela liberação de ácido graxo dos glóbulos de gordura e causando lesão endotelial tóxica local); A ativação plaquetária e o recrutamento de granulócitos completam o ataque vascular. EMBOLIA DO LÍQUIDO AMNIÓTICO - causa mais comum de morte materna no mundo; - Início: dispneia aguda súbita, cianose e choque hipotensivo, seguido por convulsões e coma Se sobreviver à crise inicial, a paciente desenvolve edema pulmonar com coagulação intravascular disseminada secundária à liberação de substâncias trombogênicas provenientes do líquido amniótico - Causa de base: entrada do líquido amniótico e seus conteúdos na circulação materna via lacerações da membrana placentárias e/ou ruptura da v. uterina EMBOLIA AÉREA - Bolhas de gás na circulação causam lesão isquêmica distal, ocluindo o fluxo; - Doença da descompressão: causada por alterações súbitas na pressão atmosférica (mergulhadores) Quando o ar é respirado a alta pressão, maiores quantidades de gás se dissolvem no sg e tecidos; Se o mergulhador ascender de forma rápida, o nitrogênio se expande nos tecidos, e bolhas da solução causam êmbolos gasosos e isquemia tecidual; Princípio da água com gás; Tratada colocando-se o paciente em uma câmara de alta pressão, para forçar o gás a voltar à solução; A descompressão lenta permite a gradual reabsorção do gás e a exalação, sem a formação de bolhas obstrutivas. - Formação de bolhas nas extremidades articulares é responsável pela “curvatura”; - Bolhas gasosas nos vasos pulmonares causam edema, hemorragias e atelectasia focal ou enfisema, levando à angústia respiratória (sufocações) - Doença dos caixões: mais crônica, na qual êmbolos gasosos recorrentes ou persistentes nos ossos levam à necrose isquêmica multifocal, sendo afetado fêmur, tíbia e úmero; INFARTO - Área de necrose isquêmica causada por obstrução do suprimento vascular para o tecido afetado; - Infarto pulmonar é comum, o infarto intestinal é fatal e a necrose isquêmica das extremidades (gangrena) causa morbidade nos diabéticos; - Trombose/embolia arterial é subjacente à grande maioria dos infartos; - Causas menos comuns: vasoespasmo, expansão de ateroma secundário à hemorragia e compressão extrínseca de um vaso (tumor, aneurisma ou edema); torção de vaso, ruptura vascular traumática e compressão em saco de hérnia; - Resultado mais comum da trombose venosa: congestão Os infartos causados por trombose venosa normalmente ocorrem apenas em órgãos com uma única veia eferente (p. ex. testículo ou ovário). MORFOLOGIA - Os infartos são classificados com base na cor (quantidade de hemorragia) e presença ou ausência de infecção microbiana, sendo vermelhos (hemorrágicos), brancos (anêmicos), sépticos ou brandos. 1 – INFARTOS VERMELHOS: ocorrem em cinco situações: Com as oclusões venosas (torção ovariana); Em tecidos frouxos (p. ex. pulmão) onde o sangue se acumula em zonas infartadas; Em tecidos com circulações duplas (pulmão e intestino delgado), com perfusão parcial inadequada do suprimento arterial colateral; Em tecidos previamente congestionados, como consequência de um fluxo lento de saída venosa; Quando o fluxo é reestabelecido logo após infarto (p. ex. pós-angioplastia de obstrução arterial). 2 – INFARTOS BRANCOS: ocorrem com as oclusões arteriais em órgãos sólidos (coração, baço e rim) e onde a densidade tecidual limita o escoamento do sangue; - Tendem a ser cuneiformes, com o vaso ocluído no ápice e a periferia do órgão formando a base; - Quando a base da superfície é serosa, há um exsudato fibrinoso, tendo margens irregulares; - As margens dos infartos agudos são hemorrágicas e indistintas, e com o tempo, se tornam definidas por uma margem estreita de hiperemia atribuída à inflamação; - Os infartos resultantes de oclusões arteriais em órgãos sem circulação dupla se tornam pálidos e bem definidos com o tempo; - Os infartos hemorrágicos são a regra no pulmão e em outros órgãos esponjosos; - As hemácias extravasadas em infartos hemorrágicos são fagocitadas pelos macrófagos, e o ferro heme é convertido em hemossinderina intracelular, deixando um resíduo firme e amarronzado; - Achado histológico associado a infartos: necrose coagulativa isquêmica (exceto cérebro, que causa necrose liquefativa); 3 – INFARTOS SÉPTICOS: ocorrem quando vegetações infectadas da valva cardíaca embolizam-se ou quando micróbios semeiam o tecido necrótico, e o infarto se converte em abcesso, com resposta inflamatória. FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO DO INFARTO - A variação dos resultados da oclusão vascular é influenciada pela anatomia do suprimento vascular, pelo tempo de desenvolvimento da lesão, pela vulnerabilidade intrínseca do tecido afetado e pelo conteúdo de oxigêniono sangue. a) Anatomia do suprimento vascular: se o órgão tiver circulação dupla (pulmão, fígado, extremidades), dificilmente sofre infarto, a não ser que ambas as vias estiverem obstruídas; já o rim e o baço sofrem, porque possuem uma circulação terminal. b) Velocidade da oclusão: se for lento, dá mais tempo para o desenvolvimento de suprimentos sanguíneos colaterais (p. ex. placa aterosclerótica aumenta o fluxo na circulação colateral, podendo impedir o infarto); c) Vulnerabilidade tecidual à isquemia: neurônios (3-4min), céls miocárdicas (morrem após 20-30min de isquemia); d) Hipoxemia: aumenta a probabilidade e extensão do infarto, independente da causa. CHOQUE - Definição: hipoperfusão sistêmica dos tecidos; - Pode ser causado por diminuição do DC ou do volume sg; - Consequências: comprometimento da perfusão e hipóxia celular; - Inicialmente, é reversível; se prolongado, leva a uma lesão irreversível e fatal; - Pode ser de três tipos: Choque cardiogênico: baixo DC decorrente da falha da bomba miocárdica, podendo ser causado por infarto, arritmias ventriculares, tamponamento cardíaco (compressão extrínseca) ou por obstrução de saída (p. ex. embolia pulmonar); Choque hipovolêmico: baixo DC decorrente de perda de volume sg ou plasmático (p. ex. hemorragia, queimadura); Choque séptico: vasodilatação arterial e acúmulo de sg venoso por resposta à infecção microbiana Choque neurogênico: perda de tônus vascular associada à anestesia ou lesão da medula; Choque anafilático: vasodilatação sistêmica e aumento da permeabilidade vascular por reação de hipersensibilidade mediada por IgE. PATOGENIA DO CHOQUE SÉPTICO - A dilatação arterial e venosa sistêmicas leva à hipoperfusão tecidual, mesmo sem alteração do DC - Diminuição do tônus vascular – pela ativação celular endotelial disseminada – estado hipercoagulável (coagulação intravascular disseminada); - Perturbações do metabolismo que suprimem diretamente as funções celular e tecidual; - Efeito final: hipoperfusão e disfunção de múltiplos órgãos; - As respostas inflamatórias interagem de maneira complexa para produzir o choque; Exceção: síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) com ausência de qualquer infecção aparente, tendo como causas trauma ou queimaduras, pancreatite e isquemia difusa. - Fatores contribuintes para fisiopatologia do choque séptico: a) Mediadores inflamatórios: células do sistema imune inato expressam receptores tipo Toll que reconhecem um hospedeiro contendo padrões moleculares associados a patógeno (PAMPs); A ativação dos receptores de reconhecimento do patógeno por PAMPs deflagra as respostas imunes inatas que estimulam a sepse; Com a ativação, as células produzem TNF e IL-1 além de mediadores do tipo citocina; EROs e mediadores lipídicos, como prostaglandinas e fator de ativação plaquetária (PAF) também são elaborados, ativando as células endoteliais e resultando na expressão de moléculas de adesão, um fenótipo pró-coagulante e ondas secundárias de produção de citocina; Cascata complemento também é ativada pela plasmina e pelo micróbio, resultando na produção de C3a e C5a (anafilotoxinas, fragmentos quimiotáxicos e opsoninas), contribuindo para o estado inflamatório. b) Ativação e lesão das células endoteliais: causa trombose, permeabilidade vascular aumentada e vasodilatação. - Os efeitos que promovem deposição sistêmica de trombos ricos em fibrina, exacerbando a hipoperfusão, são: Desarranjo na coagulação produz coagulação intravascular disseminada em metade dos pacientes; As citocinas pró-inflamatórias aumentam o fator de produção tecidual e deprimem a fibrinólise; Produção de fatores anticoagulantes endoteliais diminui; Diminuição do fluxo sg dentro dos pequenos vasos, causando estase e diminuindo os fatores de coagulação; - O estado pró-inflamatório associado a sepse leva ao extravasamento vascular disseminado e ao edema tecidual, com redução de liberação de nutrientes e de remoção de resíduos; - A expressão de mediadores inflamatórios vasoativos, juntamente com a produção de NO, leva ao relaxamento da m. lisa vascular hipotensão e redução da perfusão. Anormalidades metabólicas: os pctes sépticos mostram resistência à insulina e hiperglicemia; citocinas e hormônios induzidos por estresse (glucagon, glicocorticoide p. ex.) impulsionam a gliconeogênese, suprimindo a liberação de insulina (citocinas); a hiperglicemia reduz a atividade bacteriana suprimindo os neutrófilos e aumentando a adesão de moléculas endoteliais; Inicialmente, a sepse está associada ao aumento súbito da produção de glicocorticoide, e logo depois seguida por insuficiência suprarrenal e déficit de glicocorticoide; esse efeito tem origem na depressão da capacidade da glândula suprarrenal ou na necrose decorrente da coagulação intravascular disseminada (Síndrome de Waterhouse-Friderichsen); Supressão imune: estado hiperinflamatório pode levar à imunossupressão, ao produzir mecanismos antiinflamatórios e apoptose disseminada de linfócitos no baço e linfonodos; Disfunção de órgão: hipotensão sistêmica, aumento da permeabilidade, edema tecidual e trombose diminuem O2 e nutrientes, contribuindo para disfunção do órgão, como redução do DC; o aumento da permeabilidade vascular e a lesão endotelial na circulação pulmonar levam à SARA. - Padrão de cuidados: tratamento com antibióticos, terapia com insulina para hiperglicemia, fluidos e doses de corticosteroides para correção da insuficiência suprarrenal; - Superantígenos: causa síndrome do choque tóxico; são ativadores policlonais dos linfócitos T, liberando altos níveis de citocinas, resultando em manifestações que vão desde rash cutâneo difuso até vasodilatação, hipotensão e morte. ESTÁGIOS DO CHOQUE - O choque tende a evoluir em três estágios gerais: 1 – Estágio não progressivo inicial, sendo ativados mecanismos compensatórios reflexos e é mantida a perfusão; Vários mecanismos neuro-humorais ajudam a manter o DC e a pressão sg, como reflexos barorreceptores, catecolaminas e hormônio antidiurético, ativação do eixo RAA e estimulação simpática; Efeito final: taquicardia, vasoconstrição periférica e conservação do fluido renal; A vasoconstrição cutânea causa o resfriamento e palidez característicos de choque (se for séptico, a pele pode estar eritematosa e quente); Os vasos coronarianos mantêm-se normais, logo, o sg é desviado para longe da pele para órgãos vitais. 2 – Estágio progressivo caracterizado por hipoperfusão e desarranjo metabólico (acidose); Se a causa base ainda não foi corrigida, evolui para progressivo, caracterizando-se por hipóxia; Excessiva produção de ácido lático pela troca de respiração (aeróbia em anaeróbia), levando a acidose metabólica (diminui pH e atenua resposta vasomotora); Dilatação das arteríolas e sg acumulado na microcirculação, piorando o DC e levando a lesão anóxica. 3 – Estágio irreversível no qual a lesão é tão grave que mesmo corrigindo os defeitos hemodinâmicos, é tarde. Lesão celular disseminada pelo extravasamento de enzima dos lisossomos; Piora da função miocárdica pelo aumento de NO; Intestino permite sua flora entrar na circulação, causando choque bacterêmico; Progressão para falência renal e posterior óbito. MORFOLOGIA - Efeitos celulares e teciduais do choque são os mesmos da lesão hipóxica, e são causados por hipoperfusão + trombose microvascular; - São mais envolvidos cérebro, coração, rins, suprarrenais e TGI; - Forma-se trombos de fibrina nos glomérulos renais; - Depleção lipídica celular cortical suprarrenal (síntese esteroidal); - Pulmões: resistentes à lesão hipóxica no choque hipovolêmico após hemorragia, sepse ou trauma pode precipitar o dano alveolar difuso, levando ao pulmão em choque; - Se o pcte sobreviver, os tecidos afetados são recuperados totalmente, exceto neurônios e miócitos cardíacos. CURSO CLÍNICO: hipotensão, pulso fraco e rápido, taquipneia e pele cianótica e pegajosa (hipovolêmico e cardiogênico) e pele quente e avermelhada (séptico); Principalameaça: evento iniciador subjacente (IAM, hemorragia, infecção bact..) Se os pctes sobreviverem ao período inicial, a piora da função renalleva à oligúria progressiva, acidose e desequilíbrios eletrolíticos; Prognóstico varia de acordo com a origem do choque e duração.