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Tratamento e Disposição de Resíduos Sólidos 1- Resíduos Sólidos 1.1 Introdução Hoje a questão de resíduos sólidos no Brasil é alarmante: dados do IBGE demonstram que a maior parte de nossos municípios não dispõe seus resíduos de forma adequada; eles são deixados em lixões sem nenhum controle ambiental. Dos 5.507 municípios brasileiros, 63,6% utilizam lixões a céu aberto, 18,4% aterros controlados e 13,8% destinam seus resíduos para aterros sanitários. Dessa forma, percebe-se a necessidade da inserção urgente de práticas e instrumentos que viabilizem a mudança do cenário atual de meio ambiente e cultura social. Aqui levantamos a reflexão sobre o desafio da humanidade atualmente: a menor produção de resíduos. Que tal conhecermos um pouco das definições de resíduos para que possamos mudar nossas práticas e assim colaborar com o nosso meio ambiente e melhorar nossa própria qualidade de vida? Vamos nessa? 1.2 Aspectos fundamentais, planejamento e norma Em geral, encontram-se diferentes definições para o conceito de resíduos. Estas variações envolvem aspectos mais focados na construção textual e um maior grau de detalhamento normativo do que na base do conceito em si. Vejamos: A Norma ABNT número 10.004, de setembro de 1987 (reforçada na 12.305/2010), define resíduos sólidos como: Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varridão. Ficam incluídos nessa definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas economicamente viáveis em face à melhor tecnologia disponível. Seguem outros conceitos de resíduos: São os restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis. Normalmente apresentam-se sob estado sólido, semissólido ou semilíquido (IPT/CEMPRE, 1995). Todo e qualquer resíduo resultante das atividades diárias do homem na sociedade. Estes resíduos são, basicamente, sobras de alimentos, papéis, papelões, plásticos, trapos, couros, madeiras, latas, vidros, lamas, gases, vapores, poeiras, sabões, detergentes e outras substâncias descartadas de forma consciente (PROSAB, 1999). Ainda do ponto de vista normativo, podemos citar a Diretiva Europeia 156/91/CE, que apresenta a seguinte definição: É qualquer substância ou objeto do qual se desfaça seu possuidor ou que tenha a obrigação de se desfazer em virtude das disposições nacionais vigentes. Em todo o caso, tem a definição de resíduo todos aqueles que figurem na lista europeia de resíduos (LER) aprovada pelas instituições comunitárias. Como se percebe, essas são definições amplas, porém, são elas que têm apoiado o estabelecimento de políticas de resíduos desenvolvidas por diversos países ao longo dos últimos anos. No contexto em que se estabelece uma crescente preocupação para a regulamentação, a gestão de resíduos está diretamente ligada à estreita relação que existe entre o crescimento econômico e a produção de resíduos. Isso ocorre principalmente quando esse crescimento está no desenvolvimento industrial e no resultante crescimento das cidades e, infelizmente, inversamente proporcional à melhoria da qualidade de educação nos países em desenvolvimento (que cada vez mais, torna-se pior: superficial, cheia de modismos e condicionada por interesses de poucos). Num primeiro momento, as políticas de resíduos preocupavam-se basicamente com a disposição final dos resíduos em aterros sanitários, visando minimizar sua carga contaminante. O pressuposto que regulava essa ação de gestão baseava-se na percepção de que o ambiente possuía uma capacidade ilimitada de receber os “subprodutos” da ação de produção e consumo da sociedade. Porém, o aumento dos níveis de qualidade de vida, associado com o crescimento demográfico da população, acabou por determinar também uma produção de resíduos mais elevada, tanto em qualidade como em quantidade, acrescentando novos problemas de espaço e de formas de tratamento das contaminações tóxicas e bioacumulativas dos resíduos. Os tipos de resíduos produzidos pela atividade humana são muitos. Fica até difícil de mensurarmos de forma precisa, mas de maneira geral, podemos falar em uma classificação consensual de autores como: - Resíduos sólidos urbanos a) Não perigosos; b) Perigosos; - Resíduos industriais a) Resíduos similares aos urbanos; b) Inertes; c) Perigosos. Existem outras classificações possíveis que observam critérios de riscos potenciais de contaminação do meio ambiente e quanto a sua natureza e origem. No Brasil, a classificação de resíduos quanto aos riscos potenciais de contaminação do meio ambiente atende à normativa NBR 10.004/2004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, atendendo às seguintes definições: Tipo de resíduo Definições Resíduos classe I - Perigosos São aqueles resíduos que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto- contagiosas, apresentarem: - Risco à saúde pública, provocando mortalidade ou incidência de doenças ou acentuando seus índices; - Riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada. Propriedades que conferem periculosidade: a) Inflamabilidade; b) Corrosividade; c) Reatividade; d) Toxicidade; e) Patogenicidade. Resíduos classe II – Não perigosos Também tratados como resíduos classe II A – não inertes. São os resíduos que, por suas características, não se enquadram nas classificações de resíduos classe I perigosos ou classe II B – inertes. Esses resíduos podem apresentar propriedades como solubilidade em água, biodegradabilidade e combustibilidade. Resíduos classe III – Não perigosos Também tratados como resíduos classe II B – inertes. Quaisquer resíduos que, quando amostrados de forma representativa, segundo a NBR 10.007, e submetidos a um contato dinâmico e estatístico com água destilada ou deionizada, a temperatura ambiente, conforme a NBR 10.006, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. Tabela 01: definições de resíduos segundo a NBR 10.004/ 2004 (reforçada pela 12.305/2010). Quanto a natureza ou origem, podemos agrupar os diversos tipos de resíduos em cinco classes: - Resíduos domésticos ou residenciais; - Comerciais; - Públicos; - Domiciliares especiais: a) Entulho de obras; b) Pilhas e baterias; c) Lâmpadas fluorescentes; d) Pneus. - Resíduos de fontes especiais: a) Industriais; b) Radioativos; c) Resíduos de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários; d) Agrícolas; e) Resíduos de serviços de saúde. I – Resíduos sólidos urbanos Numa visão geral, os resíduos sólidos urbanos podem ser perigosos ou não perigosos, que para muitos autores são os gerados nos espaços urbanizados como consequência das atividades de consumo (habitações, hotelaria, hospitais, escritórios, comércio em geral, transportes etc.). a) Resíduos não perigosos Os resíduos não perigosos no meio urbano são os gerados pelas residências, pelo comércio em geral, pelos escritórios ou outras atividades de serviço, além daqueles que não tenham a classificação de perigosos e que, por sua natureza ou composição, podem ser similares aos não perigosos. Uma possível classificação dos resíduos não perigosos urbanos é a divisão em resíduos orgânicos einorgânicos: Orgânicos Inorgânicos Matéria orgânica fermentável (resíduos de alimentação) Vidros Papel Latas de metal Papelão Alumínio Plásticos Outros metais Têxteis Pó Borracha Cinzas Couro Resíduos de jardim ou poda Madeira Outros produtos orgânicos Tabela 02: composição típica de uma amostra de RSU doméstico (adaptado de Tchobanoglous, Theisen e Vigil, 1996, apud Funiber, 2009). Consideram-se também resíduos urbanos não perigosos: - Os procedentes da limpeza de vias públicas, zonas verdes e recreativas (praia, parques); - Os móveis e aparelhos abandonados; - Os resíduos e entulhos procedentes de obras menores de construção e reforma habitacional. b) Resíduos perigosos A EPA (Environmental Protection Agency), agência de proteção ambiental americana, define os resíduos perigosos em geral como1: • Aqueles resíduos ou combinação de resíduos que apresentam um determinado perigo, seja ele atual ou potencial para a saúde humana ou para outros organismos vivos, devido a algum dos quatro motivos genéricos apresentados a seguir: 1 No Brasil, a definição de resíduos perigosos atende à Norma NBR 10.004/2004. • Não degradabilidade e persistência no lugar de despejo; • Possibilidade de efeitos nocivos por acumulação; • Possibilidade de produzir transformações biológicas, que aumentem seus efeitos prejudiciais; • Conteúdo elevado em componentes tóxicos. Atenção: essa tipologia de resíduos exige um tratamento específico ou acompanhamento periódico, dadas suas características tóxicas ou perigosas. Alguns exemplos no âmbito urbano desse tipo de resíduos são: - Resíduos de tintas; - Resíduos de solventes; - Pesticidas; - Pilhas e baterias; - Lâmpadas fluorescentes; - Medicamentos; - Óleos; - Aerossóis; - Embalagens de produtos químicos; - Produtos químicos de fotografia, entre outros. II – Resíduos industriais São resíduos muito variados que apresentam características diversificadas, pois dependem do tipo de produto manufaturado pelas indústrias. Adota-se a NBR 10.004 da ABNT para classificar os resíduos industriais: classe I (perigosos), classe II (não inertes) e classe III (inertes). No ambiente industrial, os resíduos gerados em seus processos administrativos internos podem ser classificados como resíduos não perigosos, e por essa razão de similaridade, podem ser geridos como tal. a) Similares aos urbanos São os resíduos procedentes das atividades administrativas, de alimentação e outras fontes similares aos resíduos urbanos. b) Inertes São definidos como resíduos inertes aqueles que, por suas características intrínsecas, não oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente, e que, quando amostrados de forma representativa, segundo a norma NBR 10.007, e submetidos a um contato estático ou dinâmico com água destilada ou deionizada, a temperatura ambiente, conforme teste de solubilização segundo a norma NBR 10.006, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água, conforme listagem número 8 (Anexo H da NBR 10.004), excetuando-se os padrões de aspecto, cor, turbidez e sabor (IBAM, 2001). Esses tipos de resíduos são gerados nas atividades de construção de edificações, demolições e escavações, sempre que não produzam alterações graves no ambiente. c) Perigosos Os resíduos perigosos são aqueles que, em função de suas características intrínsecas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade, apresentam riscos à saúde pública através do aumento da mortalidade ou da morbidade, ou ainda provocam efeitos adversos ao meio ambiente quando manuseados ou dispostos de forma inadequada. 1.3 Coleta, transporte e serviços A preservação da saúde pública e bem-estar da população é responsabilidade das administrações municipais, englobando uma série de atividades chamadas de limpeza pública ou também limpeza urbana. Quanto maior qualidade houver neste tipo de serviço, melhor a imagem da política regional. Conforme a Lei do Saneamento Básico (Lei nº 11.445 do Ministério das Cidades), temos como atividades de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: coleta, transporte, transbordo, tratamento e disposição final dos resíduos provenientes dos domicílios, varrição e afins em vias e logradouros públicos. Coletar: recolher o resíduo acondicionado e transportá-lo adequadamente para o tratamento e/ou disposição final, para evitar problemas de saúde. A classificação é dada pela ABNT/NBR/13463/2005 da seguinte forma: a) Regular: resíduos domiciliares, de feiras, praias e calçadões, de varredura e de saúde (para pequenas quantidades; em caso de grandes geradores, a coleta deve ser realizada por empresas particulares), é a mais preocupante devido aos grandes gastos e da relação direta com a população; b) Especial: animais mortos abandonados; c) Seletiva; d) Particular: resíduos industriais, comerciais, de condomínios. A coleta é feita sempre nos mesmos dias e ocorre normalmente em dias alternados. Somente será feita diariamente onde a produção de resíduos for muito alta, como em locais de comércio e locais onde não há espaço para o armazenamento para mais de um dia (favelas e comunidades carentes). Em locais com baixa densidade demográfica, a coleta é feita duas vezes por semana, de modo a poder coletar em locais diferentes. Quanto aos horários, serão variados, conforme a estratégia da administração pública, mas devem levar em conta uma série de fatores como trânsito, encargos trabalhistas, barulho, maior possibilidade de fiscalização, entre outros. Acondicionamento: a forma como os resíduos devem estar no local da geração para que a coleta seja feita é extremamente importante para que haja eficácia no processo. Esta atividade é de responsabilidade do gerador. O acondicionamento é importante pois evita acidentes, proliferação de vetores, poluição visual e olfativa, faz a separação de diferentes tipos de resíduos e facilita a coleta. Deve ser feito em tipo de recipiente apropriado, que depende das características do resíduo, da quantidade e da frequência da coleta. No Brasil, utilizamos latas, caixotes e sacos plásticos. Quando há coleta manual, o peso máximo de 30 quilos deve ser respeitado (já incluindo o próprio recipiente, que deve ser seguro para evitar acidentes), tem de estar fechado e acondicionado de forma a permitir seu deslocamento. Conforme costumes da cultura brasileira, há uma projeção média ideal de resíduos/dia, que seria de 0,7 kg de resíduos por habitante. A média de habitantes por residência é de cinco pessoas, gerando um peso específico médio de 3,5 quilos. Se a coleta é realizada em dias alternados, como é o caso da maioria dos municípios, teríamos que ter 7 kg de resíduos, mas não é bem desta forma que ocorre. O IBGE não divulga publicamente os dados há anos, mas há algumas informações disponíveis, como a que segue: Figura 01: lixo per capita no Brasil. Fonte: Abril Online (disponível em: <http://info.abril.com.br/noticias/tecnologias- verdes/fotonoticias/quanto-lixo-os-brasileiros-geram-por-dia-em-cada-estado.shtml>, de 01/06/2013; acesso em: 03 mar. 2016). Os tipos de veículos coletores variam conforme, principalmente, a capacidade de carga, da natureza, do acondicionamento desses resíduos e do acesso ao ponto de coleta. Num geral, temos: a) Caminhão com caçamba simples (conhecido como Prefeitura): usado para menores cargas (ordem de 10m3), pois é flexível para outros tipos de serviços também. Neste caso, há a necessidade de levantar os recipientes a uma altura aproximada de 1,70 m acima do solo (o que exige esforçodo trabalhador) e também de haver uma pessoa no interior da caçamba para acomodar os resíduos. b) Coletor tipo compactador: está disponível em diferentes volumes e capacidade de carga, com altura de carregamento entre 1,0m e 1,2m do solo. Entretanto, tem uma manutenção cara e complicada e exige vias de circulação com larguras e alturas mínimas de 4,0m livres. É importante sabermos que a velocidade com que se efetua a coleta depende da guarnição (equipe coletora) e é um fator decisivo para o dimensionamento da frota. A quantidade de trabalhadores varia em função de cada região (quantidade de resíduos, topografia da região, acondicionamento, clima etc.). O uso de equipamentos de segurança e uniformes é imprescindível. A NBR12980/1993 coloca que o equipamento mínimo é: -Luva de raspa de couro (para proteção contra materiais cortantes); - Calçado com solado antiderrapante, tipo tênis; - Colete refletor para coleta noturna; - Camisa de brim ou camiseta, nas cores: amarela, laranja ou vermelha (para fácil identificação pela população); - Calça comprida de brim; - Boné de brim, tipo jóquei; - Capa de chuva, tipo morcego. No caso de resíduos especiais, como os de serviços de saúde, a coleta deve ser exclusiva, em intervalos não superiores a 24 horas, realizada por veículos brancos, carroceria fechada, sem compactação (ou no máximo com baixa compactação), calha para retenção de líquidos, basculamento e identificados com simbologia adequada e identificação (nome do município, da empresa coletora com endereço e telefone, especificação dos resíduos transportados e número do veículo). Vamos refletir: o tratamento dado, até então, para a gestão de resíduos esteve focado em medidas corretivas (realizadas ao fim do processo de produção de resíduos com a utilização de técnicas e métodos específicos de tratamento de resíduos). Isto já não responde à situação atual de produção de resíduos. Podemos avaliar até aqui que há uma lacuna muito grande entre o que é apresentado em norma e o que é observado na realidade. É necessária uma mudança de paradigma na concepção da gestão de resíduos: o que a sociedade pode fazer para não gerar resíduos? 2 – Processamento e reutilização do lixo 2.1 – Introdução Como vimos nas nossas aulas, a tarefa de coletar, tratar e assegurar a correta destinação dos resíduos é da rede pública, mas devido a vários fatores, principalmente à inexistência de uma política brasileira eficiente na área de resíduos sólidos, as coisas ficam um tanto desequilibradas, tornando quase todo o sistema ineficiente. Lembrando que, dentre esse desequilíbrio colocado aqui, temos como exemplos orçamentos inadequados, deficiência de capacitação técnica desde a coleta até a gestão, entre outros. Portanto, o processamento de resíduos sólidos e/ou sua reutilização (da forma que seja) acaba dependendo de forma direta dos processos que o antecedem e estão voltados principalmente para a redução de seu volume, seu potencial de poluição ambiental ou ainda seu potencial de agressão à saúde humana. 2.2 Processamento do lixo O lixo é um problema muito crítico no Brasil, pois apesar de termos extensas áreas, temos poucas destinadas ao processamento/ tratamento e disposição do lixo, que é produzido em quantidade crescente. O processo chamado de processamento nada mais é do que transformar o lixo “bruto” coletado em quantidades menores ou em material que possa ser reaproveitado e/ou gerar energia. A tendência atual é que a terminologia “processamento” deixe de existir, pois muitos autores o consideram já um tratamento, tanto que, em termos de referências bibliográfica atuais, não são mais encontrados como sendo conceitos diferentes. Existem muitos tipos de processamentos mecânicos, químicos (também chamados de térmicos) e biológicos do lixo, mas infelizmente no Brasil pouquíssimos são usados e não há incentivo para o desenvolvimento e/ou melhoria dos processos. Há países pioneiros nesse quesito, como os europeus Alemanha, Holanda, Bélgica, Áustria, Suíça e Suécia; estes convertem mais de 50% de seu lixo em matéria-prima para indústria, adubos e energia. Em especial na Suíça, mais de 50% do processamento do lixo gera energia, segundo o comissário europeu para o Meio Ambiente, Janez Potocnik (fonte: <http://www.dw.com/pt/tratamento-de- lixo-na-alemanha-est%C3%A1-entre-os-mais-eficientes-da-europa/a-15905514>; acesso em: 3 mar. 2016). De uma forma geral e bem abrangente, podemos dizer que: a) Processamento/ tratamento mecânico - Está relacionado à separação, geralmente uma fase de triagem mecânica automática, que remove elementos recicláveis de uma variedade de resíduos. Temos fábricas próprias para essa atividade que utilizam ímãs industriais, separadores de materiais não ferrosos, peneiramento, separação gravimétrica (por densidade do material) e até a separação manual (chamada de catação). Aqui também ocorre a lavagem do material que será enviado para a reciclagem. Temos que ter cuidado, pois locais de processamento mecânico são muito semelhantes a locais de recuperação de materiais, quando não estão no mesmo espaço (instalações de recuperação de materiais - IRM). Esta é uma fase preparatória para o processamento/ tratamento biológico. b) Processamento/ tratamento biológico - Destina-se aos compostos orgânicos do lixo (incluindo plásticos, papéis, restos de alimentos etc.). Pode ser de, de uma forma geral, de duas formas: I – Disgestão anaeróbica: decompõe os componentes de forma a deixá-los como matéria-prima do biogás e adubo. É um conjunto de processos em que os microrganismos transformam a matéria orgânica do lixo biodegradável em outra matéria, numa situação de ausência de oxigênio. II – Compostagem: é um processo que utiliza microrganismos aeróbicos presentes nos próprios resíduos para auxiliar na decomposição da matéria orgânica do lixo, transformando-a em adubo orgânico (composto orgânico mais simples), em condições ideais de temperatura, umidade, quantidade de oxigênio etc. Muitos autores consideram que é uma forma de reciclagem do lixo orgânico. c) Processamento/ tratamento térmico: é um método que aproveita o calor gerado da decomposição e queima dos compostos orgânicos do lixo para a geração de energia. A principal técnica utilizada aqui é a incineração, feita normalmente em usinas de reaproveitamento energético (URE). 2.3 Reciclagem Temos perante nós três alternativas de nos livramos de materiais indesejados (lixo): reutilizar, reciclar ou descartar. Segundo Vesilind e Morgan (2011), na reutilização, um indivíduo usa os produtos novamente para a mesma finalidade ou os coloca para um segundo uso, frequentemente criativo. Um exemplo disso é comprar leite ou refrigerante em embalagens de vidro e devolver os vasilhames à loja para que o distribuidor de leite ou refrigerante os limpe e coloque neles produtos frescos. No último caso, empregar sacolas de compra de papel e plástico para o descarte de lixo é um uso secundário para elas. Criar um comedouro para pássaros a partir de um vasilhame plástico de bebidas é um uso secundário. Vários são os exemplos, pois a reutilização amplia a vida do produto original e, assim, reduz os resíduos. A reciclagem é considerada atualmente um método (acima de tudo) de recuperação energética. Ela é o resultado de um conjunto de atividades relacionadas aos materiais que estão no lixo ou que se tornariam lixo, de serem coletados separados e processados para sua utilização como matéria-prima de outros materiais. Nesse sentido, é importante saber que cada tipo de resíduo exige um procedimento próprio para a reciclagem, na qual se faz necessária a triagem ou coleta seletiva (que, em termos de resíduos sólidos urbanos,é realizada de acordo com sua composição). Para termos uma ideia do cenário brasileiro na coleta seletiva, dados da ABRELPE disponibilizados em 2013 (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) demonstram que aproximadamente 62% dos municípios brasileiros apresentaram alguma iniciativa. Salientamos no entanto que, embora esse número pareça expressivo, estão relacionados a convênios com cooperativas de catadores ou entregas voluntárias, o que não abrange todo o território do município, o que pode nos sugerir que basta ter um único ponto de coleta seletiva para entrar nesse censo. Em contraponto, já temos dados negativos em relação à disposição dos resíduos coletados seletivamente, pois 41% foram dispostos inadequadamente, num geral encaminhados para lixões, o que representa um aumento de quase 10% em relação aos dados de 2012 (ABRELPE, 2013). Dentro do conceito de recuperação energética, há algumas formas de reciclagem, segundo a cartilha de limpeza urbana disponibilizada pelo Governo Federal (disponível em: <http://www.resol.com.br/cartilha/tratamento_reciclagem.php>, acesso em 3 mar. 2016): a) Máximo índice de recuperação: materiais que podem ser reutilizados sem novo tratamento (somente lavagem e eventual esterilização), como é o caso de garrafas de bebidas; b) Médio índice de recuperação: materiais que precisam de tratamento industrial para que seja reutilizado, como os metais e plásticos; c) Baixo índice de recuperação: materiais que são utilizados como matéria-prima para gerar calor, numa incineração. O conceito de reciclagem atualmente tende a ser expandido, pois se trata também de um processo de reciclagem de energia liberada na queima dos materiais, com o objetivo de produção de energia elétrica e vapor, que podem ser convertidos em frio (o chamado processo de cogeração). Segundo Funiber (2009), com a reciclagem pretende-se solucionar dois problemas ao mesmo tempo: por um lado, desfazer-se dos resíduos sem ocupar espaço no aterro e, por outro lado, aproveitar o que se pode recuperar. Esse procedimento é considerado um princípio de mudança de postura para posições mais razoáveis sobre o uso dos recursos naturais e o aumento do custo das matérias-primas. Neste contexto, tal sistema de tratamento dos resíduos vem imposto pelo novo conceito de gestão dos resíduos, que pretende alcançar os seguintes objetivos: - Economia de energia; - Economia de recursos naturais; - Redução do volume de resíduos a serem eliminados; - Proteção do meio ambiente. Os materiais coletados para a reciclagem podem ser reprocessados de duas formas, segundo Miller Junior (2007): a) Reciclagem primária (ou em circuito fechado) - Ocorre quando o resíduo é transformado em novos produtos do mesmo tipo — jornais usados em jornais novos e latas de alumínio em novas latas de alumínio, por exemplo; b) Reciclagem secundária, também chamada de downcycling - Os materiais residuais são convertidos em produtos diferentes. Por exemplo: pneus usados podem ser fragmentados e transformados em revestimento emborrachado; jornais podem ser reprocessados para o isolamento da celulose. Ainda segundo o autor, e de acordo com os cientistas, há dois tipos de resíduos que podem ser classificados: Enquanto o resíduo pré-consumo ou interno é gerado em um processo de fabricação e reciclado em vez de ser descartado, o resíduo pós-consumo ou externo é gerado pelo consumo dos produtos. Existem cerca de 25 vezes mais resíduos pré-consumo do que pós-consumo. É importante reciclar ambos os tipos. Mas vamos pensar em alguns pontos: 1) O item realmente será reciclado? Por vezes, os resíduos separados coletados para reciclagem são misturados com outros resíduos e enviados para aterros sanitários ou incineradores, o que pode acontecer quando os preços de matérias-primas recicladas caem muito; 2) Os produtos reciclados serão comprados? A partir do momento que entendemos os principais conceitos de reciclagem, nos perguntamos: por que reciclar? O texto a seguir, de Genebaldo Freire Dias (2004), pode nos ajudar a responder essa questão: A cada tonelada de papel reciclado: - 17 árvores são preservadas; - 26 mil litros de água são economizados; - 27 kg de poluição do ar não são produzidos; - Há redução do lixo; - A reciclagem poupa energia elétrica. Por exemplo: a reciclagem de uma garrafa de vidro economiza energia elétrica suficiente para manter acesa uma lâmpada de 100 watt por três horas. Um terço do lixo urbano é formado por embalagens. Uma lata de lixo permanece por 200 anos sem se decompor e voltar a fazer parte da Terra. O isopor é lixo permanente, pois além de ser feito com produtos que destroem a camada de ozônio, permanece no ambiente por mais de 500 anos. Nos EUA, consomem-se 2,5 milhões de garrafas plásticas por hora. O consumismo insustentável dos países ricos poderá aumentar de quatro ou cinco vezes o volume do lixo produzido até 2025. A partir dessas explicações, seguem os motivos por que reciclar: - Uma árvore com 15 anos de idade é abatida para produzir apenas 700 sacos de papel, que são consumidos rapidamente em um supermercado e cada americano consome sete árvores por ano na forma de papel-madeira; - Se os EUA reciclassem os seus jornais de domingo, salvariam 500 árvores por semana (mais do que o consumo de toda a América do Sul). As nações mais ricas respondem pela quase totalidade do consumo de recursos naturais da Terra (cerca de 80%). Observe as proporções de consumo entre bebês de diferentes países: o que um bebê americano consome de fraudas descartáveis corresponde a dois bebês suecos, 13 brasileiros, 35 indianos e 280 haitianos. Então quando se fala em crescimento populacional e se despeja a culpa sobre os países pobres, podemos notar que a questão não é bem assim. O que precisamos é buscar e almejar um novo estilo de vida. Para finalizar o assunto, se há tantas possibilidades de processamento de resíduos e a reciclagem é uma técnica excelente em relação à conservação ambiental, por que não fazemos isso ainda de modo significativo no Brasil? Por que não há investimentos? 3 – Plano de Gestão de Resíduos 3.1 – Introdução Como vimos, os resíduos eram considerados o material para o qual se podia encontrar uma única solução de tratamento: a disposição final. Hoje, já temos um cenário diferenciado, em que os resíduos são separados por seus componentes, cada um destes necessitando de tipos diversos de coleta seletiva, transporte, tratamento e até mesmo a destinação mais adequada. Ao começarmos a falar de gestão, num sentido de critérios mais adequados conforme a PNRS, não deve existir mais somente um fluxo único de resíduos. Devemos considerar os resíduos em um ciclo completo, desde seu processo de produção até sua disposição final, trabalhando com fluxos distintos de tratamento que, partindo de componentes diferenciados, utilizam procedimentos e tipos específicos de tratamento, segundo a característica de cada caso. Segundo alguns autores, entre eles Funiber (2010), o processo de gestão, que antes possuía uma frente única de atuação, hoje se delineia como um sistema de gestão integrada, que prevê diferentes possibilidades de tratamento e disposição em função dos diversos fluxos que o processo de gestão possa definir. Que tal discutirmos um pouco mais sobre esse processo de gestão e gerenciamento de resíduos? 3.2 – Prioridades Como lidar com os resíduos? Esta é uma pergunta que gera grandes desafios perante tudo o que produzimos de lixo: temos a opção de gerenciar a quantidade de resíduos pré-consumo e pós- consumo ou deixarmos de gerá-los, ou seja, reduzir a quantidade de resíduos pela não geração. Para aprofundarmosessa discussão, vamos ao texto de Miller Junior (2007): O gerenciamento de resíduos é uma abordagem ligada à alta produção de resíduos, que considera a produção de dejetos inevitável para o crescimento econômico. Esse processo procura gerenciar os resíduos advindos do crescimento econômico, a fim de diminuir o dano ambiental, principalmente misturando e com freqüência compactando os resíduos para, em seguida, queimá-los, enterrá-los ou enviá-los para outro estado ou país. Esse método mescla os resíduos e os transfere de uma parte do meio ambiente para outra. A redução de resíduos, por sua vez, é uma abordagem ligada à baixa produção de resíduos, que reconhece não haver uma forma de descartá-los. Ela simula o comportamento da natureza ao considerar os resíduos sólidos recursos potenciais, que deveriam ser reaproveitados, reciclados ou compostados. Neste caso, deveríamos ver as latas e caminhões de lixo como contêineres de recursos. Primeira medida Segunda medida Última medida Prevenção de resíduos e poluição primária Prevenção de resíduos e poluição secundária Gerenciamento de resíduos - Alterar os processos industriais para eliminar a utilização de substâncias químicas nocivas - Reaproveitar produtos - Tratar os resíduos para reduzir a toxicidade - Comprar produtos diferentes - Reparar produtos - Incinerar os resíduos - Utilizar menos produtos nocivos - Reciclar - Depositar os resíduos em aterros - Reduzir a embalagem e materiais nos produtos - Compostar Lançar os dejetos no meio ambiente para que sejam dispersos ou diluídos - Fabricar produtos que durem mais e sejam recicláveis reaproveitáveis e fáceis de reparar - Comprar produtos reutilizáveis e recicláveis Tabela 01: soluções - prioridades sugeridas para gerenciar a utilização de materiais e resíduos sólidos. Até o momento, essas prioridades não estão sendo seguidas nos Estados Unidos nem na maioria dos outros países. Em vez disso, a maior parte dos esforços é dedicada ao gerenciamento de resíduos (queimá-los ou enterrá-los). Fonte: Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, apud Miller Junior (2007). A tabela 01 relaciona formas de se reduzir a produção de resíduos. Essa solução é preferencial porque enfrenta o problema da produção de resíduos na linha de frente — antes que os resíduos sejam produzidos — em vez de na retaguarda — depois de produzidos. Também economiza matéria e recursos energéticos, reduz a poluição (incluindo as emissões de gases que causam o efeito estufa), ajuda a preservar a biodiversidade e economiza dinheiro. Atualmente, as prioridades para o tratamento dos resíduos sólidos na maioria dos países desenvolvidos são o oposto das sugeridas por proeminentes cientistas e mostradas na tabela 01. Não precisa ser assim. Alguns cientistas e economistas estimam que de 60% a 80% dos resíduos sólidos produzidos podem ser eliminados reduzindo-se a produção de resíduos, reaproveitando e reciclando os materiais (inclusive por compostagem) e reprojetando as instalações e processos de fabricação para que produzam menos resíduos. 3.3 – O Gerenciamento como instrumento político A partir da análise deste texto, podemos nos aprofundar mais. Como nosso interesse principal no contexto de nossa disciplina é o meio urbano, então vamos nos atentar a isso. Segundo Tenório e Espinosa (2009), o gerenciamento de resíduos sólidos urbanos é entendido como um conjunto de ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento que uma administração municipal desenvolve, com base em critérios sanitários, ambientais e econômicos para coletar, tratar e dispor o lixo de seu município. Também temos que ter ciência, nesse contexto, da denominação do manejo, que é o conjunto de atividades envolvidas com os resíduos sólidos, sob o aspecto operacional, envolvendo sua coleta, transporte, acondicionamento, tratamento e disposição final. Então como diferenciar manejo de gerenciamento de resíduos? Vejamos: O gerenciamento abrange o manejo e também todos os aspectos relacionados ao planejamento, à fiscalização e à regulamentação. Dessa forma, vemos que o gerenciamento é muito mais abrangente que o manejo de resíduos. Assim, poderíamos nos atrever a dizer que o gerenciamento é o instrumento ideal para se ter uma qualidade melhor de vida e cumprimento da PNRS. É fundamental analisarmos estratégias para a gestão integrada dos resíduos, para que possamos continuar a ter uma qualidade de vida real, mesmo com a superpopulação do mundo. Como já comentamos, a solução para a gestão de resíduos deve passar por uma gestão integrada e eficaz com uma mudança de comportamento baseada na prevenção, quer dizer, a minimização dos resíduos e correto reaproveitamento dos materiais. Dessa maneira, será possível reduzir a quantidade de resíduos que atualmente se destinam aos aterros e outras formas de disposição final que quando não possuem tratamento adequado podem gerar graves problemas ambientais. Temos uma série de propostas que discutem a política de tratamento de resíduos, mas de forma sucinta, vamos analisar a proposta de Funiber (2009), que a coloca nas seguintes fases: - Redução na origem ou minimização: entende-se como diminuição do volume ou da periculosidades dos subprodutos a partir da realização de práticas adequadas que promovam a modificação de processos — uso de tecnologias limpas, equipamentos mais eficientes, substituição de matérias-primas ou modificação da composição dos produtos. - Reutilização: processo da minimização da geração de resíduos, visando recuperar os materiais para reintroduzi-los nos processos produtivos e de consumo, em vez de destinar estas substâncias ao ciclo de tratamento dos resíduos. Normalmente, podem ser reutilizados no mesmo processo produtivo em que se originaram e podem ser realizados pelos próprios geradores de resíduos; - Reciclagem: conjunto de processos que se realizam, por tratamentos diversos, para a recuperação de materiais a partir de resíduos procedentes de diversas origens — que de outra maneira se converteriam definitivamente em despejos de disposição final —, com retorno deste material para sua reutilização. A reciclagem requer uma maior e mais complexa estrutura organizativa, econômica e tecnológica do que a reutilização. A reciclagem inclui a compostagem e a biodigestão, mas não a incineração sem a recuperação energética; - Recuperação energética (valorização): extração de substâncias ou recursos valiosos contidos em subprodutos do processo produtivo. Normalmente se realiza mediante um tratamento prévio importante e se utiliza posteriormente com outra finalidade do que a original. Compreende a valorização dos resíduos mediante sua combustão controlada e seu despejo em aterros sanitários. Observação importante: a redução, a reutilização, a reciclagem e a recuperação constituem a conhecida “Lei dos quatro Rs”. 3.4 – Cenário brasileiro na gestão integrada de resíduos No Brasil, embora já tenhamos uma Política Nacional de Resíduos Sólidos desde 2010 (12.305/2010), ainda não há uma consciência generalizada de sua existência e real necessidade de cumprimento, no que tange a ter suas estratégias, mesmo que apoiada em leis, ainda não seguidas. Uma questão a ser ressaltada é que, em âmbito estadual, já temos no Brasil a prática de algumas Leis Estaduais de Resíduos Sólidos aprovadas desde 2005. Essa estratégia ocorre em oito estados brasileiros: Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A Bahia atua em relação aos resíduos sólidos com base na lei ambiental estadual. Em 14 estados, o processo de criação da lei encontra-se em andamento e está em discussão: AC, AL, ES, PA, PB,PI, RJ, RN, RR, SE, SP, TO. Nos seis restantes não iniciaram a discussão: AM, DF, MA, MG e RO. Do ponto de vista conceitual, muitos autores apontam instrumentos essenciais para a gestão integrada de resíduos sólidos e seus processos tecnológicos, econômicos, comunicativos, sociais e ambientais envolvidos: a) Aplicação de linhas de tratamento (tecnologias limpas), que priorizem a redução e a valorização de resíduos sólidos; b) Correto financiamento do serviço, garantindo a economia e a viabilidade do serviço público prestado; c) Ações de comunicação e educação ambiental com envolvimento dos diferentes protagonistas sociais; d) Ações de inclusão social de emprego; e) Observação de aspectos sanitários e dos riscos à saúde humana. Para o sucesso dessa gestão integrada, é necessária uma participação efetiva de todos os atores do processo de forma direta e indireta. São eles: • A população municipal; • Os catadores ou recicladores; • Os poderes executivo e legislativo municipais; • Prestadores de serviços e as indústrias — tanto de reciclagem quanto as que produzem parte do que a população irá transformar em resíduo (as embalagens, por exemplo). Observando todo esse complexo contexto, vemos que um modelo de gestão integrada deve associar a redução de resíduos em sua fonte geradora com políticas de promoção social e ambiental nos espaços municipais. 3.5 - Para concluir o assunto Vemos que, para desenvolver ações de gestão dos resíduos sólidos, é fundamental utilizar os instrumentos legais existentes que disciplinam esta área. Com este conjunto de normas e legislações é possível realizar, em nível municipal, ações que promovam sistemas de gestão integrada de resíduos sólidos (Funiber, 2009). É importante reforçar que o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), que discute e elabora regulamentos específicos sobre questões atinentes ao meio ambiente, também regulamenta a gestão de resíduos sólidos urbanos. Entre essas regulamentações, destacam-se os aspectos sobre o licenciamento ambiental no tratamento e na disposição final dos resíduos sólidos urbanos, o manejo de pilhas e baterias, de pneus, de entulhos da construção civil. Procure saber se sua cidade possui política de gestão de resíduos sólidos municipais (urbanos, industriais e rurais). Busque esta informação junto à prefeitura e nas associações comerciais e industriais de seu município. Conhecer a prática deste processo em sua cidade lhe ajudará a compreender melhor a nossa aula. 4 – Técnicas de tratamento e disposição final 4.1 – Introdução Um quilo e oitocentos gramas de lixo por dia não parece muito, até essa quantidade ser multiplicada pelo número total de pessoas. Repentinamente, aqui no Brasil, 363 milhões de quilos de lixo por dia ganha sua real dimensão — um imenso monte de detritos (população de 202 milhões, segundo o IBGE/ 2014). O que deve ser feito com esses resíduos sólidos de nossa sociedade “efluente”? A busca por uma resposta representa um monstruoso desafio aos profissionais do meio ambiente e da engenharia. Vamos refletir sobre algumas ponderações. Há uma forma pela qual podemos afetar a quantidade e o conteúdo da vazão de resíduos sólidos: selecionar cuidadosamente os materiais e produtos que utilizamos e, portanto, temos que jogar fora. Segundo Vesilind e Morgan (2011), existe muito a ser dito sobre ser seletivo em relação ao tipo de embalagens aceito para diversos produtos. Por exemplo: embalagens de isopor e plástico das cadeias de fast food têm pouca utilidade. Um pedaço de papel funciona igualmente bem, como muitas cadeias descobriram assim que seus clientes começaram a reclamar (e, em alguns casos, aprovaram decretos locais proibindo tais embalagens). Rejeitar sacolas inúteis nas lojas quando uma sacola não é necessária não é falta de educação. Todos nós podemos fazer pequenas coisas que causam um grande impacto na quantidade e na composição da vazão de resíduos sólidos. Após essa reflexão, vamos aos nossos conceitos desta aula. 4.2 - Formas de disposição final de resíduos no Brasil e no mundo É muito difícil abordarmos rapidamente todas as técnicas de tratamento de resíduos, uma vez que a cada dia novas tecnologias surgem e são implementadas. Desta forma, vamos aqui falar sobre os processos mais usuais de tratamento e disposição de resíduos sólidos no Brasil. Algumas técnicas de tratamento dos resíduos são muito antigas, como é o caso da compostagem, que transforma os resíduos orgânicos em adubo, assim como é o caso da reciclagem (como vimos na aula 2) e também como os lixões, mas os mais importantes hoje para um plano de gestão de resíduos são os aterros e a incineração. De uma forma muito rápida, até porque são muito conhecidos por nós, podemos dizer que os lixões ainda são os métodos mais utilizados no Brasil. Neles, os resíduos são jogados sem separação (ou seja, misturados), com acondicionamento precário (despejado a céu aberto), na presença de pessoas e animais e em terrenos que podem ser dentro das cidades. Vamos agora nos aprofundar na incineração e nos aterros: 4.2.1 - Incineração Este é um processo, em primeiro lugar, de valorização energética, que segue a legislação vigente e, a partir da combustão controlada, transforma a fração combustível dos resíduos sólidos em materiais inertes e gases. Muitos são os motivos que culminaram no surgimento da incineração: a) Legislações mais severas; b) Áreas pequenas para a instalação de usinas incineradoras; c) Localização em núcleos populacionais, já que se desenvolve em condições de segurança sanitária; d) Grande aumento da produção de resíduos, o que gera dificuldade em se dispor em aterros; e) Possibilidade de ser utilizado para qualquer tipo de resíduo, bastando ter um determinado poder calorífico. No Brasil, essa forma de tratamento ainda não é muito utilizada, principalmente, pelo alto custo que envolve a implantação de uma usina incineradora. Também, as condições geográficas e econômicas do país favorecem a preferência pela disposição dos resíduos em aterros sanitários, pois existem ainda áreas disponíveis e, além disso, este sistema é mais barato (Funiber, 2009). Segundo o autor, a incineração não é um sistema de eliminação completa, já que os restos, cinzas e gases finais exigem medidas complementares de tratamento, porém, possuem numerosas vantagens frente ao despejo. As mais importantes são a redução, em peso e volume, do lixo e a eliminação de praticamente toda a matéria degradável de uma maneira higiênica e controlada. Essa redução depende, basicamente, da composição dos resíduos e pode-se dizer que, em termos gerais, a redução de volume oscila entre 80 e 90% e a redução em peso em torno de 75 a 89%. Outras vantagens são a economia de transporte e a possibilidade de utilizar o calor desprendido pelo lixo. A diminuição dos custos de transporte deve-se à redução da distância entre os pontos de coleta e de localização das incineradoras, situadas, geralmente, em volta de núcleos populacionais. As maiores desvantagens são os elevados custos dispendidos na instalação de uma usina incineradora, os custos operacionais e os possíveis problemas de contaminação atmosférica. No mundo, os resíduos sólidos urbanos são queimados em mais de mil gigantescos incineradores de produção de energia, que fervem a água a fim de produzir vapor para aquecer água ou ambientes, ou para produzir eletricidade. O Japão e a Suíça queimam mais da metade de seus resíduos sólidos urbanos em incineradores, contra 16% nos Estados Unidos e cerca de 8% no Canadá. Desde 1985, mais de 280 novos projetos de incineradores foram adiados ou cancelados nos Estados Unidos em função dos altos custos, dapreocupação com a poluição do ar e da forte oposição dos cidadãos (Miller Junior, 2007). Figura 01: processo de disposição final por incineração (disponível em: <http://www.intensiv- filter.com/fileadmin/user_upload/fc_entsorgung2.jpg>, acesso em: 04 mar. 2016). 4.2.2 - Aterro sanitário É um processo utilizado para a disposição de resíduos sólidos no solo que, fundamentados em critérios de engenharia e normas operacionais específicas, permite a confinação segura em termos de controle de poluição ambiental e proteção à saúde pública (ABNT, 2014). Os aterros sanitários são obras de engenharia realizadas dentro de padrões que levam em conta o prévio planejamento de utilização da área onde serão dispostos os resíduos sólidos da região. Os resíduos são colocados em camadas de pouca espessura e compactados para diminuir seu volume. Assim, realiza-se uma cobertura diária com material adequado para minimizar os riscos de contaminação ambiental e favorecer a transformação biológica dos materiais fermentáveis. Normalmente, utiliza-se como material de recobrimento uma camada de terra para prevenir a proliferação de insetos e roedores, o vôo de lixos, os perigos de incêndio, os maus odores e o mau aspecto do aterro (Funiber, 2009). Segundo o autor, o uso de aterro sanitário se converte em uma obra de engenharia, fazendo-se necessário um correto planejamento e projeto preliminar, assim como uma supervisão competente durante as etapas de execução e operação do aterro. Figura 02: aterro sanitário. Vantagens Desvantagens - Ausência de queimadas a céu aberto - Ruído e tráfego - Pouco odor - Poeira - Baixa poluição da água subterrânea se assentados da forma correta - Poluição do ar por gases tóxicos e compostos orgânicos voláteis - Baixos custos operacionais - Liberam gases que causam o efeito estufa (metano e CO2), a menos que sejam coletados - Comportam grandes quantidades de resíduos - Contaminação da água subterrânea - Área aterrada pode ser utilizada para outro fim - Lenta decomposição dos resíduos - Em muitas áreas, não existe escassez de espaço para os aterros - Desestimulam a reciclagem e diminuição dos resíduos - Podem ser construídos rapidamente - Podem vazar em algum momento e contaminar a água subterrânea Tabela 01: vantagens e desvantagens em utilizar os aterros sanitários para despejar os resíduos sólidos (fonte: Miller Junior, 2007). 4.2.3 - Aterro sanitário controlado Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (1985) – NBR 8.849/1985, aterro sanitário controlado (ou aterro controlado) é: Uma técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à sua segurança, reduzindo os impactos ambientais. Esse método utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os com uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho. Observação: esse não é um método considerado eficiente, pois, apesar dos resíduos sólidos estarem dispostos em uma área bem definida, similar ao sistema de um aterro sanitário, ainda assim gera poluição localizada, já que este tipo de sistema é, geralmente, empregado na tentativa de remediação de depósitos a céu aberto (lixões) já existentes. É um método preferível aos depósitos a céu aberto (lixões), e sua implantação deve seguir avaliações e critérios técnicos, sendo uma solução intermediária para a disposição dos resíduos sólidos municipais (IPT/CEMPRE, 1995 apud Funiber, 2009). 4.2.4 - Compostagem A compostagem é “a decomposição biológica e estabilização de um substrato orgânico, em condições que permitam o desenvolvimento de temperaturas na fase termófila como resultado do processo biológico aeróbio exotérmico, visando produzir um produto final estável, livre de patogênicos e sementes, podendo ser aplicado beneficamente no solo” (Elias, 2005 apud Funiber, 2009). Outra definição de compostagem é fornecida por Soliva (2000, apud Funiber 2009): É uma técnica (biológica, aeróbica e controlada) de estabilização e tratamento dos resíduos orgânicos biodegradáveis, direcionada prioritariamente aos sólidos e semissólidos; destrói, por temperatura, germes e parasitos, vetores de enfermidades e sementes de ervas daninhas. Produz um produto (composto) que é um fator de estabilidade e fertilidade dos solos. Consequentemente, a compostagem pode ser considerada como um tipo particular de reciclagem que transforma uma determinada matéria-prima em um produto que pode ter determinados usos e, portanto, um interesse comercial. O processo de compostagem é um método simples que copia a natureza para reciclar alguns dos resíduos orgânicos biodegradáveis que produzimos. O material orgânico produzido pela compostagem pode ser adicionado ao solo para fornecer nutrientes para as plantas, frear a erosão do solo, reter a água e melhorar o rendimento das plantações (Miller Junior, 2007). Tais resíduos podem ser coletados e compostados em instalações comunitárias centralizadas, como acontece em vários países da União Europeia. O material compostado resultante pode ser empregado como fertilizante orgânico, cobertura para o solo ou para aterro. Também pode ser utilizado para ajudar a restaurar o solo erodido nas encostas e ao longo das estradas, áreas pastoreadas em excesso e terras de plantio erodidas, ainda conforme o mesmo autor. Para ser bem-sucedido, um programa de compostagem de larga escala deve ser alocado com cuidado e os odores devem ser controlados, pois as pessoas não querem viver perto de uma gigantesca pilha de lixo ou fábrica de compostagem (Miller Junior, 2007). Você mesmo pode fazer compostagem coletando os resíduos orgânicos em um contêiner próprio para jardim. Figura 03: compostagem (disponível em: <http://meioambienteturma3302.pbworks.com/f/Lixo1-compostagem.jpg>; acesso em: 4 mar. 2016). Estudo de caso: Fazendo a transição para uma sociedade que produz menos resíduos (Miller Junior, 2007) De acordo com o físico Albert Einstein, “uma pessoa inteligente soluciona um problema; uma pessoa sábia o evita”. Para prevenir a poluição e reduzir os resíduos, muitos cientistas ambientais nos alertam a compreender e praticar quatro princípios-chave: - Tudo está conectado; - Não existe “descarte” para os resíduos que produzimos; - A diluição nem sempre é a solução para a poluição; - A melhor e mais barata forma de lidar com resíduos e poluição é produzir menos poluentes e reaproveitar e reciclar a maior parte dos materiais que utilizamos. Boa notícia: existe um crescente interesse na utilização da produtividade dos recursos, da prevenção da poluição, dos sistemas ecoindustriais e dos negócios voltados ao fluxo de serviço. Além disso, pelo menos 24 países possuem programas de ecorrótulos, que certificam que certo produto ou serviço atende a padrões ambientais específicos. Tais mudanças começam lentamente, mas podem acelerar à medida que suas vantagens econômicas, ecológicas e de saúde se tornem mais aparentes para investidores, grandes empresários, políticos eleitos e cidadãos. 5 - Para concluir a disciplina Considerando tudo o que vimos até agora, podemos dizer que o futuro dos resíduos deverá centrar-se em três linhas básicas de atuação, que são: 1ª: Prevenção - Fomentar a minimização da produção de resíduos como instrumento básico de prevenção; - Evitar, na medida do possível, que sejam gerados resíduos desnecessários através do uso de tecnologias limpas, que reduzam ao máximo possível sua produção; - Promover a produção de produtos limpos que produzam o mínimo impacto possível sobre o meio ambiente. Promulgar o desenvolvimento de produtos de longa duração;- Desenvolver ações de educação ambiental que promovam o aumento da informação sobre o tema dos resíduos sólidos estimulando a participação da sociedade civil e dos empresários na redução da produção e do consumo de produtos não recicláveis. 2ª: Recuperação - Submetem-se os resíduos gerados a um processo de valorização, com o objetivo de introduzi-los novamente no ciclo produtivo. Para isto, se fomentará a coleta seletiva, a reutilização, a reciclagem e a recuperação de matérias-primas ou energia; - Para conseguir essa linha de trabalho, é necessário promover o desenvolvimento das técnicas de reutilização e reciclagem, otimizar estes processos, reduzir os custos externos destes trabalhos e, por último, dar saída aos produtos reutilizados e reciclados; - Por outro lado, também faz-se necessário desenvolver um trabalho continuado de educação ambiental e envolvimento comunitário que estimule a participação da sociedade tanto para a separação adequada dos resíduos sólidos produzidos como também para sua reciclagem. 3ª: Disposição final segura - Uma vez executados todos os processos de tratamento dos resíduos, os que não puderem ser aproveitados deverão ser dispostos sem risco para o meio.; - Esses tratamentos deverão reduzir ao máximo o impacto que possam criar sobre o meio ambiente. Todos esses processos deverão estar regulados rigorosamente pela legislação, com a finalidade de proteger o meio ambiente e determinar a responsabilidade civil pelos danos que ocasionarem. No Brasil, temos que ter ações urgentes para minimizar a situação caótica que vivemos em relação aos locais de disposição de resíduos. Isto é declarado pelo Panorama dos Resíduos Sólidos, que detém dados importantes no quesito da magnitude do problema, de sua influência nos impactos ambientais, à saúde das pessoas e ao desenvolvimento econômico do país. Temos um abismo entre tanta riqueza e fartura no mundo, por um lado, e miséria, degradação ambiental e ausência de parâmetros mínimos de educação e cidadania, de outro lado. Claro que isso gera um enorme desequilíbrio no modelo econômico vigente. Desta forma, temos a ideia do desenvolvimento sustentável como uma corda a nos segurar, no sentido de sua proposta ser a conciliação do desenvolvimento econômico, melhoria de qualidade de vida e conservação ambiental. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRELPE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. São Paulo, 2013. PHILIPPI JR, Arlindo; ROMÉRO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet (editores). Curso de Gestão Ambiental. Barueri, SP: Manole, 2004. Genebaldo Freire Dias. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. Ed. São Paulo: Gaia, 2004. JACOBI, Pedro. Gestão compartilhada de resíduos sólidos. São Paulo: Anablume, 2006. LIMA, Luiz Mário Queiroz. Lixo: tratamento e biorremediação. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Hemus, 2004. MATTOS, Neide Simões de; GRANATO, Suzana Facchini. Lixo: problema nosso de cada dia - cidadania, reciclagem e uso sustentável. São Paulo: Saraiva, 2005. MILLER JR., G.T.,. Ciência Ambiental. 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