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OFICINA LITERÁRIA AULA 02 – O ESPAÇO DAS REPRESENTAÇÕES 1a Questão Carta XIII ¿ Ao Rei D. João IV ¿ 4 de abril de 1654 "(...) Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se foram seus escravos, e os traz quase todos ocupados em seus interesses, principalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V.M. os grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem. Primeiramente nenhum destes índios vai senão violentado e por força, e o trabalho é excessivo, e em que todos os anos morrem muitos, por ser venenosíssimo o vapor do tabaco: o rigor com que são tratados é mais que de escravos; os nomes que lhes chamam e que eles muito sentem, feiíssimos; o comer é quase nenhum; a paga tão limitada que não satisfaz a menor parte do tempo nem do trabalho; e como os tabacos se lavram sempre em terras fortes e novas, e muito distante das aldeias, estão os índios ausentes de suas mulheres, e ordinariamente eles e elas em mau estado, e os filhos sem quem os sustente, porque não têm os pais tempo para fazer suas roças, com que as aldeias estão sempre em grandíssima fome e miséria. Também assim ausentes e divididos não podem os índios ser doutrinados, e vivem sem conhecimento da fé, nem ouvem missa nem a têm para a ouvir, nem se confessam pela Quaresma, nem recebem nenhum outro sacramento, ainda na morte; e assim morrem e se vão ao Inferno, sem haver quem tenha cuidado de seus corpos nem de suas almas, sendo juntamente causa estas crueldades de que muitos índios já cristãos se ausentam de suas povoações, e se vão para a gentilidade, e de que os gentios do sertão não queiram vir para nós, temendo-se do trabalho a que os obrigam, a que eles de nenhum modo são costumados, e assim se vêm a perder as conversões e os já convertidos; e os que governam são os primeiros que se perdem, e os segundos serão os que os consentem; e isto é o que cá se faz hoje e o que se fez até agora.¿ Padre Antonio Vieira. Carta XIII. 1949 A partir desse fragmento, podemos perceber que Padre Antonio Vieira: Assume a noção de que o índio é um ser inferior Baseia-se na realidade para isolar-se dela Baseia-se na realidade que vive e tece um discurso de denúncia Assume uma postura abstrata, afastando o texto da realidade Transforma a realidade que o cerca, para compor uma imagem literária 2a Questão Podemos definir catharsis como: a escrita baseada na versificação a composição baseada em rima alternadas a libertação promovida pela criação artística a narrativa no presente a imitação da realidade no ambiente literário 3a Questão A mimese é um conceito filosófico que busca explicar o processo por meio do qual as artes se realizam. A mimese literária se dá por meio das palavras e nem sempre foi concebida de modo positivo. Platão e Aristóteles, por exemplo, divergiam, pois para Platão, a mimese era: Uma forma de representar as essências., portanto, uma forma de conhecimento Uma forma de representar as aparências, portanto, uma forma de conhecimento. Uma forma de distanciamento da verdade por se tratar de uma cópia da cópia. Necessária à construção da República ideal. Uma forma de comunicação entre a verdade contida no mundo das ideias e as aparências do mundo sensível. 4a Questão A literatura, quando finge o particular, atinge a universalidade. A afirmativa é: É correta, pois essa particularização nos leva ao reconhecimento de dados semelhantes na realidade. Parcialmente correta, pois é valida para algumas obras literárias e sua relação com a realidade. É incorreta, pois não ocorre esse processo de particularização na obra literária. É correta, apesar do autor não promover a particularização dos fatos nas obras literária. Não há fingimento da realidade na literatura. A obra literária é a realidade. 5a Questão Leia o poema abaixo, intitulado "Poema tirado de uma notícia de jornal", do poeta Manuel Bandeira e depois escolha a opção correta. "João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. / Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro / Bebeu / Cantou / Dançou / Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado." O poema não tem nenhuma relação com a realidade. O poema limita-se a oferecer ao leitor uma forma de entretenimento lúdico. O personagem João Gostoso é o alterego do autor, levando a vida que ele gostaria de levar. O poema dissimula as verdadeiras condições de existência do povo, idealizando-as. O poema traz para o universo lírico e para a reflexão do leitor aspectos do real concreto. 6a Questão Considere o fragmento a seguir em relação ao conceito de mimese e escolha a alternativa correta. "A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social. O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades factuais. Os fatos que manipula não têm comparação com os da realidade concreta." (COUTINHO, A. Notas de teoria literária. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.) o texto literário mantem uma relação de dependência com relação à realidade por ele retratada. a rigor, a mimese não deve ser entendida como mera cópia ou imitação da realidade, uma vez que no texto literário a realidade encontra-se transformada, recriada pelo artista. o conceito de mimese implica invariavelmente a imitação exata da realidade. cabe ao leitor depreender o reflexo da realidade concreta que constitui o texto literário. com relação à representação da realidade, não há nenhuma diferença entre textos literários e não literários: ambos são fiéis ao real, o texto literário sendo apenas bem escrito e melhor elaborado. 7a Questão Leia o poema Meninos Carvoeiros de Manuel Bandeira, abaixo transcrito, e depois escolha a opção correta. "Os meninos carvoeiros / Passam a caminho da cidade. / - Eh, carvoero! / E vão tocando os animais com um relho enorme. / Os burros são magrinhos e velhos. / Cada um leva seis sacos de carvão de lenha. / A aniagem é toda remendada. / Os carvões caem. / (Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.) / - Eh, carvoero! / Só mesmo estas crianças raquíticas / Vão bem com estes burrinhos descadeirados. / A madrugada ingênua parece feita para eles... / Pequenina, ingênua miséria! / Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis! / -Eh, carvoero! / Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado, / Encarapitados nas alimárias, / Apostando corrida, / Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados." A literatura deve tratar exclusivamente do que é belo; a realidade tem para ela interesse meramente secundário. O texto literário expressa metaforicamente as intenções do autor ao escrevê-lo. A literatura é uma arte inconsequente, desprovida de qualquer pretensão de tratar de questões sérias ou socialmente relevantes.A autonomia da literatura implica sua incapacidade para representar a realidade. A natureza estética da literatura, não apenas não a impede de abordar os problemas da realidade, mas na verdade lhe permite abordá-los de forma mais contundente e eloquente. 8a Questão A mimese para Aristóteles, filósofo grego discípulo de Platão, era: A representação das essências, uma forma de conhecimento, por meio do qual o real se revelava. Imitação das aparências, por meio da qual a essência se distanciava. A representação dos estados da alma. Algo perigoso que induzia ao engano e à confusão por meio da representação das aparências. Um simulacro que afastava o homem das verdades. 1a Questão A mimesis acontece quando somente quando o autor anuncia a sua ocorrência a literatura ignora o real e despreza-o o texto é poético somente o herói apresenta as suas características um determinado elemento social se revela no texto. 2a Questão Aristóteles contesta a condenação moral da arte mimética empreendida por Platão na República, apresentando uma concepção inteiramente nova da catarse proporcionada pelas obras de arte ao público, segundo a qual: apelando fortemente para os afetos e as emoções, a catarse ensina o homem a sentir a vida. a catarse aprisiona os homens às paixões, impossibilitando a sua libertação. a catarse deforma a capacidade racional do homem, ao incutir-lhe o gosto pelas paixões. a catarse ata os homens às paixões, aprofundando sua alienação. a catarse liberta os homens das paixões, permintindo-lhes compreendê-las e dominá-las. 3a Questão Leia o verso extraído de uma canção do repertório popular. "A tua saudade corta como aço de navaia... O coração fica aflito Bate uma, a outra faia... E os óio se enche d'água Que até a vista se atrapaia, ai, ai..." Fragmento de Cutelinho, canção folclórica. As palavra "navaia", "óio" e "atrapaia" revelam: Que o autor tem um baixo grau de escolaridade, e tem orgulho disso A fusão da linguagem literária com a linguagem científica. Incentivo ao iletramento e à falta de patriotismo, pelo total descaso com a língua materna A vontade do autor de se fazer popular por meio do uso de uma linguagem rebuscada A representação literal da fala do indivíduo comum.revelando a riqueza de representações do real de que a Literatura dispõe. No caso, revelada na letra da música 4a Questão A mimese e a catarse na literatura: são excludentes: quando há mimese não pode haver catarse e vice-versa. dependem da interpretação do texto. são independentes, não possuem inter-relação alguma. estão interligadas, pois o efeito da catarse advém de uma boa mimese. são dispensáveis, pois nem toda obra literária as incluem. 5a Questão Numa narrativa, percebermos as personagens se relacionando umas com as outras, bem como suas características físicas e psicológicas e relações de amizade e antagonismo. Percebemos também: Somente a dimensão econômica da realidade a qual o autor pertencia. A dimensão social e econômica da realidade à qual o autor pertencia. Uma perspectiva alheia e anterior à sociedade que o autor desenvolve. Somente a dimensão social da realidade escolhida pelo leitor. Somente a moda que deriva da obervação e imitação da realidade. 6a Questão Podemos dizer que ao imitar a realidade em suas obras literárias o autor sempre exerce um processo revelador porque: No processo de imitação, o autor revela a realidade e a transforma em bem cultural A construção literária é um processo a imitação é um processo que anula a realidade, já que se afasta totelmente dela Esconde o que pode desgostar o leitor. Renega a realidade que o cerca, anulando-a. 7a Questão A literatura, assim como a língua, constitui um modo de expressão cultural de um grupo, de uma comunidade, de uma nação. Podemos definir o que é cultura de vários modos, exceto: Como algo comum a todos os seres humanos de todos os tempos e lugares, daí a multiplicidade cultural existente. Como um complexo de normas, símbolos, mitos e imagens absorvidos pelo homem. Como um conjunto de modos de pensar, sentir e fazer de uma comunidade. Como um elemento agregador que confere identidade a um grupo. Como algo reduzido a algumas comunidades, pois nem todas produzem modos de pensar e de se expressar. 8a Questão A partir do fragmento abaixo, extraído da Poética de Aristóteles, podemos afirmar que: "Como o poeta é um imitador, assim como o pintor ou qualquer artista que modele imagens, ele tem sempre que adotar uma dessas três maneiras de imitar: ele deve representar as coisas ou exatamente como elas foram ou são na realidade; ou então como elas parecem, ou se diz serem; ou ainda como elas deveriam ser." (Aristóteles, Poética, 1460 b 7.) Aristóteles distinguiu três diferentes modalidades ou possibilidades para a mimese ser realizada, de acordo com a proposta da obra ou a intenção visada pelo autor. Aristóteles defendeu a mimese como pura expressão da imaginação e da fantasia, resultando portanto na ficção. Aristóteles posicionou-se contra a mimese e criticou as artes miméticas, defendendo as artes inspiradas pelas musas. Ao contrário de Platão, Aristóteles defendeu a mimese como a cópia fiel da realidade concreta. Tal como Platão, Aristóteles considerou a mimese como referida ao mundo sensível ou das sombras e formas enganosas. 1a Questão É possível dizer que existe uma relação viável entre literatura e cultura? Não, pois a literatura afasta-se da noção de cultura, pois a visão do autor é particular Sim, pois a matéria literária é a cultura, sendo essa o fator determinante para a existência daquela Não, pois a literatura não tem nenhuma relação com a perspectiva cultural Sim, apesar do conceito de literatura anular o conceito de cultura Não, pois não podemos avaliar essa questão tendo a literatura como parte do problema 2a Questão No caso da literatura, qual o material que preserva a visão que o autor propõe da realidade - mimeses? O contexto histórico, com suas estratificações sociais e conflitos A imaginação, alheia à realidade O livro, suas letras e pontuação As ilustrações dos livros com suas cores e traços As previsões sobre a realidade e suas conseqüências no dia a dia das pessoas 3a Questão Machado de Assis confirmou-se como acurado crítico do caráter humano, extraída da sua capacidade de dialogar com a realidade. Na poesia O casamento do diabo, um dos raros momentos em que o autor escreve em verso, ele faz uma crítica a um dos seus alvos favoritos ¿ a mulher. Leia o poema com atenção e responda à questão proposta. O casamento do diabo Satan teve um dia a idéa De casar. Que original: Queria mulher não feia Virgem corpo, alma leal. Toma um conselho de amigo Não te cases, Belzebú; Que a mulher, como ser humano, É mais fina do que tu. Cortou unhas, cortou rabo, Cortou as pontas, depois Sahio o nosso diabo, Como o heroe dos heroes. Toma um conselho de amigo Não te cases, Belzebú; Que a mulher, como ser humano, É mais fina do que tu. Casar era a sua dita; Correo por terra e por mar, Encontrou mulher bonita E tratou de a sequestrar Toma um conselho de amigo Não te cases, Belzebú; Quea mulher, como ser humano, É mais fina do que tu. Elle quis, ella queria Poseram mão sobre mão, E na melhor harmonia Verificou-se a união. Toma um conselho de amigo Não te cases, Belzebú; Que a mulher, como ser humano, É mais fina do que tu. Passou-se um anno, e ao diabo Não se cresceram por fim, Nem as unhas, nem o rabo... Mas as pontas, essas sim... Toma um conselho de amigo Não te cases, Belzebú; Que a mulher, como ser humano, É mais fina do que tu. Machado de Assis Nesse caso, a crítica à figura feminina reside nas entrelinhas da: Quinta estrofe, marcada pela presença do vocábulo mulher Primeira estrofe, marcada pela presença do vocábulo mulher Sétima, marcada pela presença dos pronomes Elle e Ella Terceira estrofe, marcada pela presença do verbo cortar No refrão, quando o poeta alerta para o fato de que a mulher é mais fina que o demônio 4a Questão Em relação à obra literária, podemos afirmar que: Ela funciona como o espelho da sociedade, fornecendo dados para a sua análise e compreensão Ela funciona com um espelho parcial da sociedade, pois é incapaz de dar conta da sua representação Ela é refratária à sociedade, já que o permanece à margem da mesma Ela é não refratária à sociedade, mesmo que o permaneça à margem da mesma Ela não funciona como o espelho da sociedade, fornecendo dados imprecisos para a sua análise e compreensão 5a Questão Leia o trecho do poema que se segue: Autopsicografia "O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. Assinale a alternativa que sintetize a atitude do autor nas duas estrofes extraídas do poema Autopsicografia de Fernando Pessoa: Identifica o processo de criação literária com o da redação de uma reportagem Expõe a mola mestra do processo de criação literária no que diz respeito à questão da objetividade Aponta que o texto literário não permite o trabalho com a subjetividade, por não ser o espaço ideal para tal Isola autor e leitor em prol de uma obra independente de ambos Revela a relação que existe entre ficção e realidade no processo criativo do autor e o seu efeito no leito 6a Questão A Literatura e a vida real se confundem na medida em que fatos do dia a dia são reconhecíveis nas linhas dos romances e versos de poemas. Conflitos e tensões que atingem as pessoas são os mesmos que, através dos tempos, fazem parte da construção literária. O que foi dito, basicamente tem a ver com o conceito de: mimeses catharsis observação pontuação adjetivação 7a Questão Da relação de Machado de Assis com a realidade que o cercava resultou um fino espírito crítico, cuja acidez incide sobre a figura humana e a sociedade como um todo. O casamento do diabo Satan teve um dia a idéa De casar. Que original: Queria mulher não feia Virgem corpo, alma leal. Toma um conselho de amigo Não te cases, Belzebú; Que a mulher, como ser humano, É mais fina do que tu. Cortou unhas, cortou rabo, Cortou as pontas, depois Sahio o nosso diabo, Como o heroe dos heroes. Toma um conselho de amigo Não te cases, Belzebú; Que a mulher, como ser humano, É mais fina do que tu. Casar era a sua dita; Correo por terra e por mar, Encontrou mulher bonita E tratou de a sequestrar Toma um conselho de amigo Não te cases, Belzebú; Que a mulher, como ser humano, É mais fina do que tu. Elle quis, ella queria Poseram mão sobre mão, E na melhor harmonia Verificou-se a união. Toma um conselho de amigo Não te cases, Belzebú; Que a mulher, como ser humano, É mais fina do que tu. Passou-se um anno, e ao diabo Não se cresceram por fim, Nem as unhas, nem o rabo... Mas as pontas, essas sim... Toma um conselho de amigo Não te cases, Belzebú; Que a mulher, como ser humano, É mais fina do que tu. Machado de Assis Em O casamento do diabo, um dos raros momentos em que o autor escreve em verso, Machado dialoga com a realidade sob a forma de: desconfiança repulsa elogio desprezo ironia 8a Questão A mimese é um processo pelo qual a literatura e as artes se realizam. Na literatura, a mimese se realiza por meio das palavras que dão forma a personagens, a ações e a todas as demais realidades ficcionais. Na literatura, a mimese deve ser entendida como a capacidade de: Restringir-se a imitar o mundo real de modo fiel, respeitando-o tal como ele é. Copiar uma realidade sem elaboração formal do autor. Elaborar um texto coerente com o real. Representar qualquer universo ficcional imaginado pelo autor por meio de formas verbais. Representar sempre de modo idêntico as várias realidades ficcionais.
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