Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
94 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III Unidade III 7 CONTROLE TÉRMICO DURANTE O EXERCÍCIO Agora vamos tratar dos processos relacionados ao controle da temperatura corporal. Anteriormente, estudamos que essa é uma função desempenhada pelo nosso sistema autônomo, dentre tantas outras que lhe cabem. Mas aqui compreenderemos as particularidades do controle térmico nas situações específicas de um exercício. Embora nosso organismo consiga controlar com bastante eficiência as variações na temperatura corporal em situações normais, os mecanismos de termorregulação encontram dificuldades em situações de esforços realizados em condições extremas de calor ou frio. Desse modo, analisaremos porque isso acontece, quais os riscos para nosso organismo ao não conseguir controlar as variações na temperatura e o que podemos fazer para evitá‑los. Primeiramente, precisamos entender como nosso corpo mantém a temperatura dentro dos limites ideias para seu funcionamento em condições normais. Observação Termorregulação é a capacidade de manutenção da temperatura corporal dentro de certos limites, mesmo quando a temperatura do ambiente é diferente. 7.1 Mecanismos de regulação da temperatura Você já sabe que o controle da temperatura corporal é uma função do sistema nervoso autônomo. Para sermos mais precisos, o hipotálamo é a estrutura neural responsável por essa tarefa. Cabe a ele manter nossa temperatura interna em torno de 36,1 ºC a 37,8 ºC. Para desempenhar essa função, o hipotálamo põe em funcionamento mecanismos de perda e de ganho de calor que se contrabalanceiam a fim de manter as variações de temperatura dentro de limites bem estreitos. Nosso organismo adquire calor por fontes internas e externas. As externas são a exposição direta ao sol, a radiação indireta dos raios solares e a temperatura do ambiente. As internas são o metabolismo celular e a atividade muscular. Dentre as fontes de calor, embora as condições do ambiente possam afetar nossa temperatura corporal, é o metabolismo celular o principal produtor de calor em nosso corpo. 95 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA Por outro lado, perdemos calor por intermédio de quatro mecanismos: a radiação, a condução, a convecção e a evaporação. A eficiência desses mecanismos em controlar a elevação da nossa temperatura corporal difere em repouso e durante o esforço, como veremos mais adiante. Antes de continuarmos, note que iremos apresentar esses mecanismos separadamente, no entanto, esteja ciente que eles atuam em conjunto na manutenção da nossa temperatura. Perda de calor Radiação Condução Convecção Evaporação Equilíbrio Ganho de calor Calor do ambiente (radiação, condução) Produção corporal 41 40 39 3837 Variação normal Temperatura (ºC) Tem peraturaTe m pe ra tu ra 3 6 35 34 33 Figura 34 – Mecanismos para controle da temperatura corporal 7.1.1 Radiação É um mecanismo em que a transferência de calor acontece através da emissão de raios infravermelhos. Essa forma de transferência não exige contato entre os corpos que trocam calor. Um exemplo desse mecanismo ocorre quando entramos na cozinha e, ao passar perto do fogão, percebemos que o forno está ligado, sem precisar encostar nele. Nosso organismo usa esse mecanismo para transferir calor para o ambiente. Para isso, o calor que é produzido no interior dos tecidos precisa se aproximar da superfície corporal, o que pode acontecer de duas maneiras: se propagando pelos tecidos adjacentes ou através do sangue. A transferência por radiação é responsável por cerca de 60% da perda de calor de nosso organismo quando não estamos nos exercitando. 7.1.2 Condução Esse mecanismo exige que haja contato entre os corpos para que a transferência de calor aconteça. Por exemplo, quando encostamos em um objeto quente, o calor dele é transferido para região do corpo em contato com ele. Essa transferência de calor pode ser muito rápida e de grande magnitude, o que provocaria uma queimadura na região de contato, se o objeto estiver com uma temperatura muito alta em relação à do corpo. No entanto, em situações mais comuns, há ocorrência de transferência de calor por condução sem que isso seja danoso para o organismo. O que pode ser observado quando o corpo transfere calor para a roupa que vestimos, pois está em contato com nossa pele. Da mesma maneira, o 96 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III calor dos tecidos corporais se propaga entre tecidos adjacentes. Como a temperatura interna é maior que a temperatura na superfície da pele, a direção da transferência do calor se dá no sentido dos tecidos mais profundos para os mais superficiais. 7.1.3 Convecção No mecanismo de convecção a transferência de calor se dá por intermédio do movimento de um fluido, normalmente água ou ar, de forma que o calor de um corpo/objeto é transferido para as moléculas de ar ou de água (fluido). A taxa de transferência de calor (o quanto de calor é transferido num determinado tempo) por esse mecanismo depende da velocidade de movimentação do fluido e da sua temperatura. Ou seja, quanto mais frio estiver o ar ou a água, e quanto maior sua velocidade quando passam pelo corpo/objeto, maior será a transferência de calor, ou seja, maior será o resfriamento que o objeto vai sofrer. É por esse mecanismo que resfriamos nosso corpo quando tomamos banho ou nadamos. Também é por intermédio dele que nos resfriamos quando ligamos um ventilador num dia quente de verão. 7.1.4 Evaporação O mecanismo de evaporação é responsável por cerca de 20% a 25% do calor dissipado pelo nosso organismo quando estamos em repouso. No entanto, passa a ser a principal maneira pela qual nosso corpo perde calor durante o exercício, chegando a ser responsável por cerca de 80% do calor produzido nessa situação. 800 1 2 3 4 5 6 Produção de energia Produção de calor Perda total de calor Perda de calor por evaporação Perda de calor por convecção e radiação Perda de calor por evaporação pelos pulmões Taxa de trabalho do exercício kc al . hr 1 600 400 200 700 500 300 100 0 30 90 150 21060 120 180 240 Figura 35 – Contribuição dos diferentes mecanismos de controle térmico durante o exercício 97 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA Em nosso organismo, a evaporação ocorre em duas situações distintas. A primeira delas, sem que tenhamos consciência. Esse evento é chamado de perda hídrica insensível, que se dá quando um líquido corporal entra em contato com o ambiente externo, como nos pulmões, na mucosa (revestimento da boca) e na pele. A perda hídrica insensível é um mecanismo de perda de calor constante, por isso quando o corpo precisa aumentar a perda de calor ele não é útil (vide figura anterior, linha 6). Nessa circunstância, a segunda forma de evaporação é mais eficiente, pois ela ocorre por meio do suor presente na superfície da pele, que tem suas moléculas de água transferidas para o ar. É interessante observar que o mecanismo de evaporação se mostra eficiente para controlar a elevação da temperatura corporal quando somos expostos a exercícios intensos – taxa de trabalho (vide figura anterior, linha 4). Também cabe salientar que a taxa de transpiração é igualmente elevada conforme aumenta a intensidade do esforço. Isso nos sugere que o volume de suor transpirado émuito relevante para o funcionamento do mecanismo de evaporação. Contudo, é importante destacar que suar não é suficiente para resfriar o corpo, é necessário que o suor na superfície da pele evapore para que a perda de calor seja significativa. Ou seja, se nosso organismo aumentar a taxa de transpiração, mas o suor não evaporar, o corpo não será suficientemente resfriado. Vamos a um exemplo de quando isso pode acontecer. Você deve conhecer ou ter visto alguém que se exercita usando um saco plástico sob a camisa alegando que faz isso com o intuito de “suar para emagrecer”. Caso sim, deve ter reparado que a pessoa que comete esse “desatino” transpira muito, chegando a ficar encharcada. No final do exercício, ela fica contente, porque está mais leve do que quando começou. Mas isso é puro engano! Primeiro, porque o fato dela estar mais leve não quer dizer que tenha emagrecido, mas sim que perdeu muito líquido pela transpiração! Para piorar o quadro, durante o exercício a temperatura corporal dela se elevou, mas o organismo não conseguiu baixá‑la, porque o plástico impedia a evaporação do suor. Por essa razão, o organismo continuava a aumentar a taxa de transpiração, o que explica a pessoa sair encharcada após essa situação. Ou seja, o que o indivíduo conseguiu – na melhor das hipóteses – foi se desidratar durante o exercício, isto é, nem emagreceu nem controlou a elevação da temperatura corporal, o que pode ser muito perigoso para o organismo. Mais adiante vamos tratar sobre outra situação que pode dificultar o resfriamento do corpo durante um exercício a partir do mecanismo de evaporação. Antes de prosseguirmos, gostaria de chamar a atenção para o fato de que estudamos os mecanismos de radiação, condução e convecção como mecanismos que nosso organismo utiliza para diminuir a temperatura corporal. No entanto, eles também podem ser responsáveis pelo aumento de calor em nosso corpo. Por exemplo, a exposição direta ou indireta ao sol eleva nossa temperatura por meio da radiação solar. O uso de um cobertor térmico a eleva devido ao mecanismo de condução, enquanto um banho quente ou o contato com o ar quente do ambiente num dia de calor podem contribuir para aumentá‑la pelo mecanismo de convecção. Se ficou um pouco confuso, poderá ser esclarecedor se pensarmos na radiação, convecção e condução como mecanismos de transferência de calor. Também é preciso relembrar que o calor é transferido entre 98 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III dois corpos/objetos ou entre um corpo/objeto e o ambiente, no sentido do corpo/objeto que tem maior quantidade de calor para aquele que tem menor quantidade. Nesse sentido, se encostamos em alguém, quem irá aquecer quem? Como observado, isso dependerá de qual organismo (corpo) está mais aquecido. Então, ao se tomar um banho, se a água estiver mais quente que o corpo, essa ação elevará a temperatura do corpo, que é o que fazemos no frio, por exemplo. Porém, se desejamos o efeito contrário, tomamos um banho com água em temperatura baixa e assim resfriamos o corpo em um dia de calor. Outro detalhe oportuno de se destacar antes de concluirmos esse tópico é que a transferência de calor entre os corpos é mais eficiente quanto maior for a diferença de temperatura existente entre eles. Isso afeta de maneira particular a perda de calor por condução e convecção. Dito de maneira mais clara, quanto mais próximas as temperaturas do nosso corpo e do ambiente, menores serão as perdas de temperatura por condução e convecção. Dito isso, já conhecemos um pouco a respeito dos mecanismos usados pelo nosso organismo para controlar a temperatura corporal, no próximo tópico iremos analisar como eles são ativados. 7.2 Hipotálamo: nosso termostato corporal O controle da temperatura corporal tem como área central o hipotálamo. Para tornar mais fácil a compreensão sobre como essa parte do cérebro atua no controle térmico, podemos dizer que ela funciona de maneira semelhante ao termostato de um aparelho de ar condicionado doméstico, que ativa o aparelho para produzir calor ou frio, com base na comparação entre a temperatura programada pelo dono do aparelho e aquela que o aparelho transfere ao ambiente. No caso do nosso organismo, a temperatura de referência usada pelo hipotálamo gira em torno de 37 ºC (podendo variar, como já dissemos, entre 36 ºC e 37,8 ºC, entre indivíduos). Nosso “termostato corporal” – o hipotálamo – é muito sensível a alterações na temperatura e é capaz de perceber variações de apenas 0,01 ºC. Mesmo frente a desvios tão pequenos quanto este em relação à temperatura ideal, o hipotálamo aciona os mecanismos para produção de calor ou resfriamento do corpo, os quais acabamos de conhecer na seção anterior. Os ajustes promovidos pelo hipotálamo usam como base as informações que chegam a ele aferidas por termorreceptores periféricos (instalados na pele, nas vísceras e na medula espinhal) e centrais (localizados no próprio hipotálamo). Essas informações são enviadas simultaneamente ao córtex cerebral e ao centro de controle da temperatura no hipotálamo. Conforme o destino dessa informação, o controle da temperatura será efetuado de diferentes maneiras. A informação que chega ao córtex nos possibilita ter consciência da diferença entre nossa temperatura atual e a programada no hipotálamo. É graças a essa comparação que deciframos a sensação de calor ou de frio. E é com base nessa informação que podemos, de maneira voluntária e consciente, tomar atitudes para amenizar essas sensações como, por exemplo, colocar uma blusa e fechar a janela, quando sentimos frio, ou ligar o ventilador e tomar um banho gelado, quando sentimos calor. 99 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA Por outro lado, a informação enviada pelos termorreceptores periféricos e centrais ao hipotálamo é integrada e utilizada por ele para ativar os mecanismos reflexos que regulam o aquecimento ou o resfriamento do nosso corpo, concretizando assim o controle involuntário da temperatura. Esses ajustes na temperatura, efetuados pelo hipotálamo, acontecem pela ação de quatro efetores: as glândulas sudoríparas, a musculatura lisa que envolve as arteríolas, os músculos esqueléticos e as glândulas endócrinas. Vamos tratar de cada um desses agentes de maneira separada, mas é importante destacar que eles atuam de maneira conjunta para produzir aumentos ou diminuições na temperatura corporal. 7.2.1 Glândulas sudoríparas As glândulas sudoríparas são ativadas pelo hipotálamo quando há a necessidade de resfriar o corpo. Quanto maior a temperatura corporal, maior a taxa de produção de suor. O calor dos tecidos envolvendo as glândulas sudoríparas é transferido para o suor que está em seu interior. Quando o suor se movimenta pelo ducto da glândula sudorípara para atingir a superfície da pele, o calor é transferido por condução. Em seguida, o suor é evaporado da superfície corporal e o corpo é resfriado. 7.2.2 Musculatura lisa das arteríolas Quando nossa temperatura corporal se eleva, o hipotálamo promove o relaxamento da musculatura lisa que envolve as arteríolas que ficam na proximidade da pele. Como consequência, ocorre a vasodilatação que possibilita maior fluxo de sangue através desses vasos. Como eles estão próximos à pele, esse fluxo aumentado facilita a transferência do calor do sangue para a superfície da pele. Em seguida, o calor na pele é dissipado para o ambiente por radiação. Inversamente, quando nossa temperatura corporal está abaixo do normal, o hipotálamo promove o aumento do tônus da musculatura lisa das arteríolas, o que induz a vasoconstrição periférica. Esse efeito reduz o fluxo sanguíneopara a superfície corporal e assim há uma contenção da perda de calor para o ambiente. 7.2.3 Músculo esquelético O músculo esquelético é ativado quando precisamos produzir calor. Isso pode ser feito de maneira voluntária (intencional) ou involuntária (reflexa). Por exemplo, em um dia frio, muitas vezes procuramos realizar um exercício para elevar a temperatura corporal e aumentar nosso conforto térmico. No entanto, talvez seja mais comum nos darmos conta dos tremores quando sentimos frio. Eles são ciclos breves de contrações e relaxamento dos músculos, induzidos pelo hipotálamo com o intuito de produzir calor. Quando um músculo se contrai, parte da energia liberada na degradação da ATP é utilizada para satisfazer a exigência do mecanismo da contração muscular, mas outra parte (cerca de 30%) é dissipada na forma de energia térmica. É esse calor dissipado que eleva nossa temperatura corporal. Como você se lembra de ter estudado anteriormente, quanto maior a intensidade do esforço realizado em um exercício, maior a quantidade de energia necessária e, portanto, maior será a quantidade de ATP degradada para satisfazer essa demanda. Consequentemente, quando 100 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III mais intenso for um exercício, maior será a produção de calor, logo, mais se exigirá dos mecanismos de controle da temperatura. A figura seguinte ilustra com exatidão o processo que acabamos de mencionar. Repare que, independentemente de o exercício ser realizado com os braços ou as pernas, quanto maior o grau de esforço, maior é a elevação da temperatura interna. Um detalhe implícito nesse gráfico é que se atinge maiores elevações na temperatura corporal quando o exercício é realizado com as pernas. A razão disso é que nos membros inferiores se concentra mais massa muscular, então o grau de esforço máximo produzido por exercícios envolvendo as pernas será superior. 39.0 38.5 Te m pe ra tu ra re ta l ( ºC ) VO2 (litros/min) 37.5 1.50.5 1.0 2.0 3.0 4.00 2.5 3.5 38.0 Braços Pernas 37.0 Figura 36 – Efeito da intensidade do esforço e do volume da massa muscular na produção de calor 7.2.4 Glândulas endócrinas Nosso organismo exige um gasto energético mínimo para manter o funcionamento adequado das funções orgânicas. Esse gasto é chamado de metabolismo basal. Nele estão incluídas reações complexas de catabolismo e de anabolismo de proteínas. O catabolismo produz calor pela quebra das ligações peptídicas entre os aminoácidos e o anabolismo também o produz pela sua necessidade de produção de ATP para realizar a ligação peptídica. Nosso organismo não consegue converter toda a energia de uma molécula para outra, de forma que parte da energia liberada nesses processos é convertida em energia térmica. Ou seja, o metabolismo basal inclui reações complexas que produzem calor, portanto, quando o metabolismo basal é aumentado, também é elevada a produção de calor. A tiroxina (T4), produzida pela glândula tireoide, assim como as catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), produzidas pela glândula suprarrenal, são hormônios que atuam aumentando o metabolismo celular. No caso da tiroxina, o aumento da atividade das células pode ser de 100%. As catecolaminas, por sua vez, mimetizam a atividade do sistema nervoso simpático e, desse modo, podem afetar a taxa metabólica em praticamente todas as células do organismo. 101 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA A figura a seguir sintetiza como o hipotálamo integra as informações provenientes dos termorreceptores espalhados pelo nosso corpo e as utiliza para induzir a produção de calor ou o resfriamento corporal, respectivamente. Termorreceptores centrais Centro regulador de temperatura Viscerais (profundos) EfetoresPele Efeitos do calor Vasos ‑ Vasodilatação Glândulas sudoríparas ‑ Transpiração Comportamento ‑ Despir‑se Efeitos do frio Vasos ‑ Vasoconstrição Músculos ‑ Calafrios Tireoide ‑ Metabolismo Adrenais ‑ Metabolismo Comportamento ‑ Agasalhar‑se Percepção térmica Hipotálamo Termorreceptores Córtex Figura 37 – Componentes do sistema de termorregulação Lembrete O hipotálamo é a estrutura neural responsável pela homeostase da temperatura corporal. 8 EXERCÍCIOS SOB ALTAS TEMPERATURAS E DISTÚRBIOS INDUZIDOS PELO CALOR Enquanto em condições normais de repouso ou de atividade leve, o controle da temperatura corporal é mantido com bastante eficiência pelo hipotálamo, durante a prática de exercício há um aumento da exigência sobre os mecanismos de termorregulação. Essa exigência pode representar um desafio muito grande se o exercício for realizado em ambiente quente, dado que ao calor metabólico, produzido pelas contrações musculares e pelo fígado, somam‑se as fontes de calor externo que têm como origem primária o sol. A figura a seguir ilustra um exemplo dessa situação. Note que além da produção de calor pelos músculos, o corpo ainda recebe uma carga extra de calor proveniente da temperatura do ar, da radiação térmica do solo e da radiação solar direta e indireta (refletida no solo). Obviamente que, 102 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III sob essas condições desfavoráveis de estresse térmico, o desempenho é negativamente afetado, mesmo em um sujeito bem treinado, visto que ocorre uma sobrecarga dos mecanismos de controle da temperatura corporal. Os efeitos negativos no desempenho observados nessas condições podem ser atribuídos ao aumento do uso do carboidrato como fonte de energia e a consequente instalação precoce de fadiga, bem como a perda elevada de líquido corporal pela transpiração, o que compromete a contratilidade muscular e leva à sobrecarga cardiovascular. Radiação Convecção∆T Convecção Movimento do ar (ondas de convecção) Umidade relativa do ar Sol Condução • Centro para o sangue • Sangue para a pele Evaporação Transpiração ∆Pv Radiação Radiação Solo Temperatura do ar Temperatura central Temperatura cultânea Figura 38 – Cargas de calor durante exercício em ambiente quente 8.1 Riscos à saúde durante exercício realizado no calor O calor ambiental produz uma diminuição do gradiente térmico entre o ambiente e a superfície do corpo, bem como entre este e os tecidos corporais mais profundos. Dessa forma, há uma diminuição na eficiência da perda de calor pelos mecanismos de condução, convecção e radiação, e a transferência de calor pela evaporação, que já é o mecanismo mais importante durante o exercício e passa a ser ainda mais exigido. 103 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA 600 500 400 300 200 100 0 ‑100 0 5 15 25 3510 20 Temperatura ambiente ºC 30 40 4 2 3 1 Produção de energia Produção de calor Perda de calor por evaporação Perda de calor por convecção e radiação kc al . hr 1 Figura 39 – Efeito da temperatura ambiente na eficiência dos mecanismos de controle térmico Quando o exercício é realizado em temperaturas superiores a 30 ºC, a radiação, a convecção e a condução deixam de ser mecanismos de perda de calor e passam a adicionar calor ao organismo, além daquele produzido pelo exercício. Obviamente, exercitar‑se em ambientes ainda mais quentes será mais crítico. No entanto, isso não quer dizer que apenas a temperatura do ambiente seja um fator complicador do controle térmico.Por exemplo, se nos exercitamos em um dia cuja temperatura é de 24 ºC, mas sem vento, o estresse térmico produzido é maior do que se praticamos na mesma temperatura, mas com brisa. O que pode ser bastante preocupante é a combinação de condições ambientais e a prática de exercícios num ambiente quente com umidade do ar elevada. Nessas condições, a temperatura corporal se eleva em decorrência do exercício e da temperatura ambiente. Porém, o mecanismo de evaporação não funciona adequadamente, porque o suor não evapora, já que o ar é muito úmido. Nessa circunstância, o organismo apresenta uma elevada taxa de sudorese, mas o resfriamento corporal não acontece. Se o exercício for prolongado, essa situação pode colocar em risco não apenas o desempenho do atleta, mas também sua saúde e até sua vida! Saiba mais Para mais informações sobre saúde e desempenho durante a prática de exercícios, leia: PLOWMAN, S. A.; SMITH, D. L. Fisiologia do exercício para saúde, aptidão e desempenho. Traduzido por Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. 104 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III 8.2 Distúrbios relacionados ao calor A prática de exercício em um ambiente quente pode afetar o desempenho como acabamos de observar. No entanto, esse é um dos menores problemas que a prática de exercícios nessa condição pode causar. Dependendo da interação entre exercício, temperatura ambiente, umidade e velocidade do ar e quantidade de radiação térmica, o indivíduo pode se colocar em uma situação de risco. A exposição ao ambiente quente combinada com a incapacidade de dissipar o calor metabólico produzido pelo exercício pode levar a três distúrbios relacionados ao calor: cãibras; exaustão; e intermação. 8.2.1 Cãibras As cãibras induzidas pelo calor são os distúrbios menos graves entre os três. Elas acometem os músculos mais solicitados durante o exercício. Sua causa exata ainda não é totalmente conhecida, mas está provavelmente relacionada com as elevadas perdas de minerais e com a desidratação, as quais acompanham a alta taxa de transpiração observada no exercício realizado no ambiente quente e úmido. 8.2.2 Exaustão A exaustão pelo calor acomete em maior medida as pessoas mal condicionadas e que não estão bem adaptadas às condições de temperatura e clima. A exaustão induzida pelo calor é tipicamente acompanhada por sintomas como a fadiga intensa, dificuldade respiratória, tontura, vômitos, desmaios, pele fria e úmida, ou quente e seca, hipotensão, pulso rápido e fraco. Ela é provocada pela incapacidade do sistema cardiovascular de suprir adequadamente as necessidades do organismo. Durante o exercício no calor, os músculos e a pele “competem” por uma parte do volume sanguíneo total. A exaustão pelo calor ocorre quando essas demandas simultâneas não são satisfeitas. Ela tem como causa a diminuição do volume sanguíneo que, por sua vez, decorre da perda excessiva de líquidos e de minerais pelo suor. Na exaustão induzida pelo calor os mecanismos de controle térmico estão funcionando, mas eles não conseguem dissipar o calor suficientemente rápido, pois não há um volume sanguíneo considerável que permita sua distribuição adequada para a pele. É comum que pessoas que desmaiam pelo estresse em virtude do calor apresentem sinais de exaustão, no entanto apresentam temperatura interna inferior a 39 ºC. O tratamento dessas vítimas envolve colocá‑las num ambiente mais frio, com os pés elevados para facilitar o retorno venoso. Caso a pessoa esteja acordada e consciente, deve‑se oferecê‑la água com sal, enquanto se providencia encaminhamento médico. A pessoa na condição de exaustão induzida pelo calor que não é socorrida pode ter sua condição agravada, evoluindo a uma intermação. 105 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA 8.2.3 Intermação A intermação é o mais grave dos distúrbios induzidos pelo calor, podendo chegar a ser fatal. Portanto, ao sinal de evolução para essa condição, é fundamental que se procure cuidado médico imediatamente. Os sinais observados numa pessoa em intermação são os seguintes: • aumento da temperatura corporal interna acima de 40 ºC; • interrupção da transpiração; • pele quente e seca; • pulso e respiração acelerados; • pressão arterial elevada; • vômitos; • diarreia; • confusão mental; • convulsão; • inconsciência; e • coma. Se a intermação não for tratada rapidamente, a pessoa pode entrar em coma e vir a morrer em pouco tempo. Diante dos sinais de intermação, deve‑se providenciar socorro médico imediato. No entanto, é fundamental não deixar a pessoa desacompanhada! Deve‑se priorizar o socorro à pessoa, tomando medidas para baixar o mais rápido possível sua temperatura. Para isso, pode‑se submetê‑la a um banho bem frio ou até imergi‑la numa banheira com gelo. Se isso não for possível, será útil envolvê‑la num lençol úmido e apontar um ventilador na direção dela. A intermação pode acontecer mesmo que o exercício não seja realizado num ambiente de condições extremas. Por exemplo, elevações da temperatura interna (retal) acima de 40,5 ºC já foram observadas em maratonistas que competiam em ambiente de 21,1 ºCe umidade relativa de 30% (baixa). Da mesma forma, em eventos esportivos mais curtos, de apenas 15 minutos, como uma corrida de 5 km, já foram registrados casos de elevação da temperatura corporal acima de 41 ºC. O risco de desenvolver a intermação é elevado quando o indivíduo se exercita num ambiente quente e úmido por tempo prolongado, como é possível observar na figura seguinte. Esse risco aumentado está relacionado com a incapacidade de o organismo resfriar o corpo através da evaporação do suor, já 106 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III que no ambiente úmido o suor não evapora. Adicionalmente, no ambiente quente a carga de calor sobre o corpo se intensifica. Observação Febre, insolação e intermação são eventos em que a temperatura corporal é elevada acima dos níveis normais. Muitos dos sintomas desses eventos são semelhantes, contudo suas causas são distintas. 15 10 5 39 38 37 15 30 45 Repouso Tempo de exercício (min) Te m pe ra tu ra c en tr al (º C) Ta xa d e su do re se (m l . m in ‑1 ) Ambiente quente/úmido Ambiente frio Figura 40 – Efeito da temperatura ambiente e da umidade do ar na taxa de transpiração e na temperatura corporal durante o exercício prolongado 8.3 Prevenção dos distúrbios térmicos A ocorrência dos distúrbios relacionados ao calor pode ser evitada com medidas muito simples como o cuidado com a hidratação, a escolha de vestimenta adequada e a aclimatação. 8.3.1 Hidratação A preocupação com a hidratação é uma das medidas que podemos tomar para atenuar os riscos dos males produzidos pelo calor, a qual é bastante eficiente. No entanto, não basta que ofereçamos água para o indivíduo apenas quando ele reclamar de sede ou quando sentir vontade. Primeiro, porque 107 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA quando sentimos sede podemos já estar desidratados e, segundo, porque quando se deixa por conta do indivíduo o cuidado com a hidratação, há uma tendência que este ingira menos água do que quando lhe é oferecido. As estratégias de hidratação não devem se restringir à ingestão de água durante a prática do exercício ou competição, mas devem começarantes, permanecer ao longo e após a prática. Dessa forma, a atenção com a hidratação e com a alimentação balanceada deve ser iniciada já nas 24 horas precedentes à prova ou ao treino. Duas horas antes do exercício, o sujeito deve consumir cerca de 500 ml de água. O consumo de líquido durante a prova também deve ser programado. É importante que a ingestão não seja em grande volume para evitar o desconforto gástrico. É mais adequado que a cada 15 a 20 minutos sejam consumidos em torno de 100 a 200 ml de água, com concentração de carboidratos de, no máximo, 6%. Preferivelmente, o líquido dever ser oferecido em temperatura em torno de 15 ºC, para acelerar sua absorção. Ao término da prova ou treino, aconselha‑se realizar a reposição hídrica. Para isso, é apropriado o consumo de água em quantidade equivalente a 1,5 vezes o peso corporal perdido durante o exercício, em dose fracionada. De preferência, a solução consumida deverá ter uma composição de sódio de aproximadamente 0,5 a 0,7 g/L. 8.3.2 Vestimenta Em um primeiro momento, a escolha de vestimenta adequada talvez pareça – entre as três estratégias – a de menor importância à prevenção dos distúrbios de calor causados pelo exercício. Isso porque o mercado de materiais esportivos evoluiu muito nas últimas décadas e atualmente oferece muitas opções de roupas apropriadas para a prática de esportes em diferentes condições climáticas. Para nos exercitarmos em ambientes quentes, devemos usar roupas leves, que cubram pequenas extensões da nossa superfície corporal e que ao mesmo tempo não impeçam a dissipação do calor, facilitando a evaporação do suor. Apesar de isso ser amplamente conhecido nos dias atuais, mesmo por indivíduos leigos, ainda acontece de algumas vezes nos depararmos com algum desavisado que continua acreditando que suar é importante para emagrecer, e para isso se exercitam de agasalho mesmo em um dia quente de verão. Se você está entre as pessoas que pensam assim, ou se tem algum amigo que faz isso, explique a ele que isso não funciona para esses propósitos. Na verdade, isso pode atrapalhar seu emagrecimento, porque se uma pessoa se desidrata, o tempo e a intensidade que ela conseguirá manter ao longo do exercício serão menores, o que diminuirá o gasto energético e comprometerá seu emagrecimento. Se isso não for suficiente para convencer o praticante, explique sobre os distúrbios que esse costume pode causar ao organismo e o risco a que ele está se expondo. 108 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III 8.3.3 Aclimatação A aclimatação é uma estratégia relativamente simples, que pode ser muito útil para prevenir ou atenuar os distúrbios induzidos pelo calor. O termo aclimatação se refere a uma série de ajustes fisiológicos que acontecem para que organismo suporte melhor determinadas condições de temperatura e clima. Esses ajustes envolvem modificações na secreção de hormônios ligados ao controle do metabolismo, aumento no volume sanguíneo e na eficiência dos mecanismos de controle da temperatura. Tais alterações podem acontecer num prazo aproximado de dez dias, bastando para isso que o sujeito seja exposto às condições de temperatura e clima progressivamente mais estressantes. Um modo de promover a aclimatação ao calor é programando os treinos para horários mais quentes ao longo do dia. Inicialmente, esses treinos não precisam ser prolongados, já que os ajustes fisiológicos favoráveis à aclimatação começam a ser manifestados com exposições breves de apenas 10 a 15 minutos diários. Também deve‑se tomar cuidado para que essa exposição, a um ambiente termicamente mais estressante, seja feita de forma gradativa. Por exemplo, se o sujeito costuma treinar em horários cuja temperatura é mais amena, como pela manhã, progressivamente deve‑se programar a prática de exercícios mais tarde, em horários próximos ao meio‑dia. Se habitualmente o atleta treina no final da tarde, deve‑se seguir o procedimento contrário, realizando as sessões mais cedo, aproximando‑as gradativamente a horários antes das 12 horas. Os efeitos benéficos da aclimatação são principalmente evidenciados numa menor sobrecarga cardiovascular e tem maior impacto no desempenho quanto mais prolongado for o esforço. Note na figura seguinte que indivíduos aclimatados sofrem menor elevação da temperatura corporal para a mesma intensidade relativa de esforço e que isso implica em menor sobrecarga cardiovascular. Portanto, indivíduos aclimatados têm menor risco de desenvolver os males induzidos pelo calor, bem como melhor desempenho que praticantes igualmente treinados, porém não aclimatados. Lembrete A prática de exercícios físicos em ambiente quente e úmido representa um grande desafio para os mecanismos de controle térmico do organismo. 109 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA 40 39 38 37 120 110 0 130 140 150 160 170 180 0 Te m pe ra tu ra re ta l ( ºC ) Tempo de exercício (min) Tempo de exercício (min) Não aclimatado Aclimatado ao calor Fr eq uê nc ia c ar di ac a (b pm ) 30 3060 6090 90 Figura 41 – Efeito da aclimatação na elevação da temperatura corporal e na sobrecarga cardiovascular Saiba mais A exposição crônica ao frio também pode causar aclimatação em curto prazo. Leia mais sobre isso em: PITHON‑CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013, p. 214. Resumo O controle da nossa temperatura corporal é uma atribuição do sistema nervoso autônomo. O hipotálamo é uma espécie de termostato em nosso organismo, que tem como função manter nossa temperatura interna em torno de 36,1 ºC a 37,8 ºC. Esse controle é feito pelo hipotálamo através de um balanço entre mecanismos de ganho e de perda de calor. Nosso corpo adquire calor por meio do metabolismo celular e da exposição direta e indireta ao sol. Por outro lado, para perdermos calor, usamos quatro mecanismos: radiação, condução, convecção e evaporação. Em repouso, o principal mecanismo de perda de calor é a radiação; em exercício, a evaporação. 110 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III A quantidade de calor que perdemos numa determinada unidade de tempo depende do gradiente térmico, que é a diferença entre nossa temperatura e o ambiente. Quanto maior essa diferença, maior a taxa de transferência de calor corporal para o meio externo. No mecanismo de radiação a perda de calor se dá pela emissão de raios infravermelhos. Na condução, a mesma transferência depende do contato entre os corpos. Na convecção, o calor é transferido pelo contato com o ar ou com a água. Por fim, na evaporação, esse processo se dá pela evaporação do suor. Quando nossa temperatura abaixa além dos limites ideais, o hipotálamo promove o ganho de calor por meio de tremores involuntários, aumentando o metabolismo celular através dos hormônios tiroxina e das catecolaminas, e a diminuição da perda de calor através da vasoconstrição periférica. Por outro lado, quando a temperatura se eleva acima do ideal, o hipotálamo promove a perda de calor aumentando a sudorese e produzindo vasodilatação periférica. Todo controle realizado pelo hipotálamo depende do constante fluxo de informação enviada a ele pelos termorreceptores instalados na pele, na medula espinhal e no próprio hipotálamo. Essa informação é integrada para que sejam colocados em funcionamento mecanismos de ganho ou de perda de calor. O exercício físico é uma importante fonte de calor, já que anecessidade de aumento na produção de energia metabólica é acompanhada da elevação da energia térmica. Quanto maior a quantidade de energia exigida numa atividade, maior a quantidade de energia térmica produzida. Assim, quanto mais intenso o exercício, mais difícil é a manutenção da temperatura corporal. Uma vez que o mecanismo de evaporação é responsável por cerca de 80% da perda de calor durante o exercício, conforme nos exercitamos em intensidades progressivamente maiores, maior é a taxa de transpiração. O resfriamento efetivo do corpo, no entanto, acontece apenas quando o suor é evaporado. Assim, se algo atrapalhar essa dinâmica, o sujeito terá uma dificuldade muito grande em resfriar seu corpo. A prática de exercícios em ambiente quente e úmido pode representar um problema sério para o organismo, já que nessas condições dois fatores contribuem para uma acentuada elevação da temperatura corporal. A primeira é o exercício, quanto mais intenso, maior a ganho de calor. A segunda é o ambiente que, sendo quente, representa uma 111 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA fonte adicional de calor. E por ser úmido, dificulta a evaporação do suor, o que compromete a perda de calor. Por essa razão, a prática de exercícios físicos em ambiente com essas características exige muita atenção, pois pode induzir os chamados distúrbios induzidos pelo calor, como as câimbras, a exaustão e a intermação. Esses distúrbios estão associados e têm diferentes níveis de gravidade. Eles se manifestam sequencialmente. Por isso, para evitarmos a intermação, que é o mais grave deles, devemos ficar atentos ao surgimento de cãibras e da exaustão. A intermação é caracterizada por uma elevação abrupta na temperatura corporal acima dos 40 ºC, que é acompanhada de uma série de sinais como interrupção da transpiração, pulso acelerado, vômitos, inconsciência e coma. Se não tratado rapidamente, esse distúrbio pode levar o indivíduo a óbito. Diante de um quadro de intermação o ideal é tentar resfriar a pessoa o mais rápido possível, usando compressas de gelo, banhos gelados etc. Ao mesmo tempo, é necessário providenciar atendimento médico imediato. Essa condição pode ser evitada. Para isso é necessário que o sujeito se hidrate adequadamente antes, durante e depois da prova. Também pode amenizar a elevação da temperatura corporal, usando roupa adequada para a prática de exercício. Além disso, o sujeito pode ser aclimatado. A hidratação antes da atividade deve incluir a ingesta de 500 ml de líquido duas horas antes da prova/treino. Durante o esforço, o sujeito deve beber em torno de 100 ml de água a cada 15‑20 minutos. Após o término, deve beber o volume equivalente a 1,5 vezes o peso corporal perdido durante a prova. Este ainda deve se exercitar usando roupas leves, que cubram pequena área corporal, facilitando a evaporação do suor. Aclimatação é um termo que se refere aos ajustes fisiológicos produzidos pelo organismo para que haja maior tolerância à exposição ao calor e eficiência no controle da temperatura corporal. A aclimatação ao calor acontece muito rapidamente, bastando para isso que o sujeito se exponha progressivamente às condições climáticas as quais pretende que o organismo se adeque. Para isso, é necessário que o praticante se exercite em um ambiente quente no período de aproximadamente dez dias prévios à competição. Essa exposição deve ser gradativa, para dar tempo de as alterações fisiológicas acontecerem. Com o tempo, o sujeito sentirá menos desconforto térmico ao se exercitar em horários mais quentes do dia, amenizando o impacto sobre seu desempenho e diminuindo os riscos à sua saúde. 112 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III Exercícios Questão 1. (PUC–Rio 2008) A água, por ter um alto calor específico, é um elemento importante para a regulação da temperatura corporal em todos os chamados animais de sangue quente. A quantidade de água necessária para a manutenção da estabilidade da temperatura corporal varia, basicamente, em função de dois processos: a sudorese e a produção de urina. Assinale a opção que aponta corretamente como funciona esse controle: A) Quando há aumento da temperatura ambiente, o indivíduo produz menor quantidade de suor e menor quantidade de urina. B) Quando há aumento da temperatura ambiente, o indivíduo produz maior quantidade de suor e maior quantidade de urina. C) Quando há diminuição da temperatura ambiente, o indivíduo produz menor quantidade de suor e maior quantidade de urina. D) Quando há diminuição da temperatura ambiente, o indivíduo produz maior quantidade de suor e menor quantidade de urina. E) Quando há diminuição da temperatura ambiente, o indivíduo produz maior quantidade de suor e maior quantidade de urina. Resposta correta: alternativa C. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: quando há aumento da temperatura ambiente o indivíduo irá produzir maior quantidade de suor, para equilibrar sua temperatura corporal (no sentido de resfriar o corpo) e, com isso irá produzir menor quantidade de urina. B) Alternativa incorreta. Justificativa: irá produzir maior quantidade de suor e menor quantidade de urina. C) Alternativa correta. Justificativa: com a queda da temperatura ambiente, o corpo precisará se aquecer, suando menos e aumentando a quantidade de urina. 113 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FISIOLOGIA APLICADA À ATIVIDADE MOTORA D) Alternativa incorreta. Justificativa: quando há diminuição da temperatura ambiente, o indivíduo produz menor quantidade de suor e maior quantidade de urina. E) Alternativa incorreta. Justificativa: quando há diminuição da temperatura ambiente, o indivíduo produz menor quantidade de suor e maior quantidade de urina. Questão 2. (Enem 2009) Para que todos os órgãos do corpo humano funcionem em boas condições, é necessário que a temperatura do corpo fique sempre entre 36 ºC e 37 ºC. Para manter‑se dentro dessa faixa, em dias de muito calor ou durante intensos exercícios físicos, uma série de mecanismos fisiológicos é acionada. Pode‑se citar como o principal responsável pela manutenção da temperatura corporal humana o sistema: A) Digestório, pois produz enzimas que atuam na quebra de alimentos calóricos. B) Imunológico, pois suas células agem no sangue, diminuindo a condução do calor. C) Nervoso, pois promove a sudorese, que permite perda de calor por meio da evaporação da água. D) Reprodutor, pois secreta hormônios que alteram a temperatura, principalmente durante a menopausa. E) Endócrino, pois fabrica anticorpos que, por sua vez, atuam na variação do diâmetro dos vasos periféricos. Resolução desta questão na plataforma. 114 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 8 KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 9. Figura 10 KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 67. Figura 11 CURI, R.; ARAÚJO FILHO, J. P. Fisiologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011, p. 172. Figura 12 WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo: Manole, 2001, p. 65. Figura 13 WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo:Manole, 2001, p. 64. Figura 14 KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 23. Figura 15 CURI, R.; ARAÚJO FILHO, J. P. de. Fisiologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. Figura 17 Grupo UNIP‑Objetivo. Figura 22 KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 26. 115 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Figura 24 Grupo UNIP‑Objetivo. Figura 25 WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo: Manole, 2001, p. 60. Figura 26 KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 183. Figura 27 KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 162. Figura 28 PLOWMAN, S. A.; SMITH, D. L. Fisiologia do exercício para saúde, aptidão e desempenho. Traduzido por Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009, p. 538. Figura 29 KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 408. Figura 30 Grupo UNIP‑Objetivo. Figura 31 Grupo UNIP‑Objetivo. Figura 32 KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p. 418. Figura 33 LINHARES, S.; GEWANDSZNAJDER, F. Biologia hoje. São Paulo: Ática, 2003. v. 1. Adaptado. 116 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Figura 34 PITHON‑CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013, p. 250. Figura 35 POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 8.ed. São Paulo: Manole, 2014, p. 269. Figura 36 POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 8.ed. São Paulo: Manole, 2014, p. 268. Figura 37 PITHON‑CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013, p. 253. Figura 38 PITHON‑CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013, p. 250. Figura 39 POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 8.ed. São Paulo: Manole, 2014, p. 269. Figura 40 POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 6.ed. São Paulo: Manole, 2009, p. 267. Figura 41 WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo: Manole, 2001, p. 330. REFERÊNCIAS Textuais CURI, R.; ARAÚJO FILHO, J. P. Fisiologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. FOSS, M. L.; KETEYIAN, S. J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 117 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 JUZWIAK, C. R.; PASCHOAL, V. C. P.; LOPEZ, F. A. Nutrição e atividade física. Jornal de Pediatria, v. 76, supl. 3, 2000. Disponível em: <http://www.medicina.ufba.br/educacao_medica/graduacao/dep_ pediatria/disc_pediatria/disc_prev_social/roteiros/adolescencia/nutri%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2017. KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. MARANGON, A. F. C; WELKER, A. F. Otimizando a perda de gordura corporal durante os exercícios. Universitas Ciências da Saúde, Brasília, v. 1, n. 2, p. 363‑376, 2008. Disponível em: <https://www. publicacoesacademicas.uniceub.br/cienciasaude/article/viewFile/518/339>. Acesso em: 12 jun. 2017. PITHON‑CURI, T. C. Fisiologia do exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. PLOWMAN, S. A.; SMITH, D. L. Fisiologia do exercício para saúde, aptidão e desempenho. Traduzido por Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 6.ed. São Paulo: Manole, 2009. ___. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 8. ed. São Paulo: Manole, 2014. WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2. ed. São Paulo: Manole, 2001. Exercícios Unidade I – Questão 1: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL) 2003. Processo Seletivo Vestibular 2003. Prova de Biologia e Física. Questão 17. Disponível em: <http://www.cops.uel.br/ vestibular/2003/provas/uelbfil.pdf>. Acesso em: 29 maio 2017. Unidade I – Questão 2: FACULDADE DE TECNOLOGIA (FATEC). Processo Seletivo Vestibular 1º semestre/2007. Questão 40. Disponível em: <http://www.vestibularfatec.com.br/download/prova_ ant/27.pdf>. Acesso em: 29 maio 2017. Unidade II – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2010: Educação Física. Questão 16. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2010/ educacao_fisica_2010.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2017. Unidade II – Questão 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU). Vestibular 2006: 1ª fase – tipo 2. Questão 2. Disponível em: <https://nacionalonline.nacionalnet.com.br/servicos/ coberturas/?cod_system=1&cod_funcao=1¶m1=843>. Acesso em: 5 jun. 2017. 118 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Unidade III – Questão 1: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA – RIO DE JANEIRO (PUC–RIO). Vestibular 2008: Biologia. Questão 1. Disponível em: <http://www.puc‑rio.br/vestibular/repositorio/provas/2008/ download/provas/VEST2008PUCRio_GRUPO2_28102007.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2017. Unidade III – Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2008: 1º dia. Questão 11. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2009/dia1_caderno1.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2017. 119 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 120 Re vi sã o: F er na nd a - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 3/ 07 /1 7 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000
Compartilhar