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Arritmias Causas para as arritmias: Hipóxia, Isquemia e irritabilidade, Estimulação simpática, Fármacos, Eletrólitos, Bradicardia e Estiramento. Determinação da frequência cardíaca pelo ECG: o eixo horizontal do ECG é o tempo e a distância entre cada quadrado pequeno representa 0,04s; a distância entre cada quadrado grande representa 0,2s. 5 quadrados grandes = 1 segundo. Se um ciclo se repete a cada cinco quadrados grandes, isso gera 1 batimento por segundo, ou seja, 60 BPM de FC. Facilitando – 1º passo = encontrar onda R que caia sobre ou quase sobre uma onda escura; 2º passo = contar o número de quadrados grandes até a próxima onda R; 3º passo = determinar a frequência de batimentos; se houver um quadrado grande entre as ondas R, então cada onda é separada por 0,2 segundo. Então há 5 ciclos para 1 segundo. Logo 5 x 60 = 300 BPM. Se houver dois quadrados grandes separando as ondas R esse valor cai para 150, uma vez que a distância entre cada ciclo dura 0,4 segundo. Consequentemente, 3 quadrados grandes de distância = 100 BPM; 4 quadrados = 75 BPM; 5 quadrados = 60 BPM; e 6 quadrados = 50 BPM. Pode-se também dividir 300 da quantidade de quadrados grandes entre as ondas R, bem como dividir a quantidade de quadrados pequenos entre as ondas R por 1500. Os tipos básicos de arritmia: I – arritmias de origem sinusal (condução usual com velocidade rápida, lenta ou irregular); II – ritmos ectópicos (atividade elétrica se origina de foco que não o nó SA); III – arritmias reentrantes (atividade elétrica aprisionada em circuito elétrico com forma e limites dependentes da forma elétrica e anatômica do coração, podendo ocorrer em qualquer parte); IV – bloqueios de condução (eletricidade sai do nó SA e segue a via normal, sendo bloqueado ou retardado); V – síndromes de pré-excitação (eletricidade segue vias acessórias que contornam as normais, fornecendo atalho elétrico ou curto- circuito). Arritmias sinusais – ritmo sinusal normal é o correto do coração e se origina no nó SA, com frequência de 60-100 BPM. Se o ritmo fica > 100 BPM = taquicardia sinusal; se fica < 60 = bradicardia sinusal. Podem ser normais ou patológicas. Exercício forçado dá taquicardia sinusal e atletas bem treinados costumam ter bradicardia sinusal. Contudo, taquicardia sinusal pode ocorrer em paciente com ICC ou doença pulmonar grave, ou pode ser o único sinal de hipertireoidismo. Bradicardia sinusal é distúrbio de ritmo mais comum nos estágios iniciais do IAM; nos indivíduos saudáveis pode ser o resultado de um aumento do tônus vagal e pode causar desmaios. Arritmia sinusal ocorre quando há irregularidade entre os intervalos R-R. Geralmente, é normal e representa a variação na frequência cardíaca com a inspiração e expiração. A primeira acelera a frequência e a segunda reduz a expiração. Parada sinusal ocorre quando o nó SA para de estimular o coração. Se nada mais acontecer, o ECG mostra uma linha isoelétrica sem qualquer atividade elétrica e o paciente morrerá. A inatividade elétrica prolongada é chamada assistolia. Maioria das células miocárdicas têm a capacidade de se comportar como marca- passo, sendo que aquele que for mais rápido comandará o ritmo do coração e, normalmente, é o nó SA. Este suprime as outras células de marca-passo por fornecer a sua onda de despolarização para o miocárdio antes que seus potenciais competidores possam completar a sua despolarização, de forma mais moderada, espontânea. Na parada sinusal esses outros marca-passos podem entrar em ação como missão de resgate. Esses batimentos que se originam fora do nó SA, são chamados batimentos de escape. Semelhante ao nó SA, que dispara entre 60-100x/minuto, estas outras células de marca-passo potenciais têm o seu próprio ritmo intrínseco. Os marca- passos atriais geralmente descarregam a frequência de 60-75 BPM. Os marca-passos localizados próximos ao nó AV, chamados marca-passo juncional, normalmente descarregam a uma frequência de 40-60 BPM. As células marca-passo ventriculares geralmente descarregam a uma frequência de 30-45 BPM. Cada um desses marca-passos não sinusais pode resgatar um nó SA inadequado fornecendo apenas um batimento de escape ou uma série contínua desses batimentos. De todos os mecanismos de escape, o escape juncional, é o mais comum. No escape juncional, a despolarização se origina próximo ao nó AV, e o padrão habitual de despolarização atrial não ocorre. Como resultado, não há onda P normal. Frequentemente, não há nenhuma onda P. Às vezes, é vista uma onda P retrógrada, representando a despolarização atrial se movendo para trás, a partir do nó AV e para dentro dos átrios. O eixo elétrico médio dessa onda P retrógrada é 180º invertido da onda P normal. Logo, enquanto a onda P normal é para cima em DII e invertida em aVR, a retrógrada é invertida em DII e positiva em aVR. Parada sinusal vs. Bloqueio de saída sinusal, sem a despolarização do nó SA registrada, é impossível determinar se uma pausa sinusal prolongada é devida à parada sinusal ou à falha na transmissão da despolarização sinusal para fora do nó e para os átrios, uma situação chamada bloqueio de saída sinusal. A finalidade de nomenclatura é a mesma: há falha no mecanismo sinusal em fornecer a sua corrente para os tecidos adjacentes. Observação especial é que há uma forma pela qual a parada sinusal transitória e o bloqueio de saída sinusal, podem, às vezes, ser distinguidos no ECG. Na parada, o reinício da atividade elétrica sinusal ocorre em qualquer momento aleatoriamente. Contudo, no bloqueio de saída sinusal, o nó SA continua a disparar silenciosamente. Logo, quando o bloqueio cessa, o nó SA retoma a despolarização dos átrios após uma pausa que é um múltiplo inteiro do ciclo normal (exatamente uma onda P perdida, ou duas ou mais). Ritmos ectópicos – são ritmos anormais que se originam de outro lugar que não o nó SA. Lembram batimentos de escape, mas a abordagem é sobre ritmos sustentados, não apenas um ou alguns batimentos. Podem ser causados por qualquer dos fatores precipitantes descritos. Ao nível celular, eles nascem de uma maior automaticidade de um local que não o nó SA, seja um único foco ou um foco migratório. Em circunstâncias anormais qualquer um dos outros marca-passos espalhados pelo coração pode ser acelerado, ou seja, estimulado para despolarizar cada vez mais rápido até que possa superar o mecanismo sinusal normal e estabelecer o seu próprio ritmo ectópico transitório ou sustentado. Entre as causas mais comuns de aumento da automaticidade estão a intoxicação digitálica e a estimulação beta-adrenérgica por terapias inalatórias usadas para tratar asma e DPOC. Ritmos reentrantes – segunda maior causa de arritmias não sinusais é chamada de reentrada, que representa um distúrbio da transmissão do impulso. O resultado é similar ao dos ritmos ectópicos: a criação de um foco de atividade elétrica anormal. O mecanismo normal é que a onda de despolarização que parte de um ponto, atinge duas regiões adjacentes do miocárdio, A e B, com a mesma velocidade e no mesmo tempo, sendo as ondas de despolarização não perturbadas e passando de forma veloz. Na reentrada, uma dessas vias transmite a onda de despolarização mais lentamente que a outra. Isso ocorre quando a via é danificada por isquemia ou fibrose, ou se as duas vias estiverem recebendo graus diferentes de estímulo do sistema nervoso autônomo. Com isso, a onda de despolarização fica acelerada numa das vias e retardada na outra, sendo que o impulso que passa acelerado retorna pela via que é mais lenta, gerando um circuito ininterrupto ao longo das duas vias. À medida que o impulso gira por essa alça, ondas de despolarização são enviadas em todas as direções. Isso é chamado de alça de reentrada, e ela secomporta como um circuito elétrico, fornecendo uma fonte de ativação elétrica que pode suprimir o mecanismo sinusal e comandar o coração. Uma alça de reentrada pode variar significativamente em tamanho. Podendo ser limitada em uma alça pequena dentro de um único local anatômico, pode fazer uma alça por toda a câmara ou pode até mesmo envolver um átrio e um ventrículo se houver uma via acessória de condução conectando as duas câmaras. As quatro perguntas: todas as arritmias não sinusais clinicamente importantes são de origem ectópica ou reentrante. 4 perguntas devem ser respondidas para identifica-las e diferenciá-las. 1ª há ondas P normais presentes? – se há ondas P de aspecto normal com eixo de onda P normal, a origem da arritmia é, quase certamente, atrial. Se não houver ondas P, então o ritmo deve se originar abaixo dos átrios, no nó AV ou nos ventrículos. A presença das ondas P com eixo anormal pode refletir uma ativação retrógrada dos átrios por impulsos que se originam abaixo dos átrios, no nó AV ou nos ventrículos, ou seja, do fluxo de corrente de volta para os átrios através do nó AV ou de uma via acessória. Eixo anormal de onda P não garante que a origem do ritmo esteja localizada abaixo dos átrios, mas eixo normal da onda P é boa garantia de que o ritmo se origine acima do nó AV. 2ª os complexos QRS são estreitos (< 0,12 s) ou largos (> 0,12 s)? – complexo QRS estreito normal implica que a despolarização ventricular está progredindo ao longo das vias usuais (nó AV Feixe de His Ramos D e E células de Purkinje). Logo, isso implica que a origem do ritmo deve ser no nó AV ou acima dele. Um complexo QRS amplo geralmente implica que a origem da despolarização ventricular está dentro dos próprios ventrículos. A despolarização é iniciada dentro do miocárdio ventricular, não do sistema de condução, e, assim, espalha-se muito mais lentamente. A condução não segue a via mais eficiente, e o complexo QRS é de longa duração (largo). Essas duas perguntas ajudam a distinguir entre uma arritmia ventricular ou supraventricular (seja atrial ou juncional). 3ª qual a relação entre as ondas P e o complexo QRS? – se a relação é 1:1, com uma única onda P precedendo cada complexo QRS, então, quase certamente, o ritmo tem uma origem sinusal ou atrial. Às vezes os átrios e ventrículos se despolarizam e contraem independentemente um do outro. Isso se manifesta no ECG como falta de correlação entre ondas P e complexos QRS (dissociação AV). 4ª O ritmo é regular ou irregular? – geralmente é a característica mais óbvia de um ritmo particular e é, às vezes, a mais crítica. Logo, ao olhar o ECG, sempre avaliar o ritmo e perguntar-se: Há ondas P normais?; Os complexos QRS são estreitos ou largos?; Qual a relação entre ondas P e os complexos QRS?; O ritmo é regular ou irregular?. Arritmias supraventriculares: arritmias atriais podem consistir em um único batimento ou em um distúrbio de ritmo sustentado que dura segundos ou muitos anos. Batimentos prematuros atriais e juncionais – batimentos supraventriculares ectópicos únicos podem se originar nos átrios ou na adjacência do nó AV. Os primeiros são chamados batimentos atriais prematuros (contrações atriais prematuras); os últimos, batimentos juncionais prematuros. Esses são fenômenos comuns, que não indicam doença cardíaca subjacente nem requerem tratamento. Podem, contudo, iniciar arritmia mais sustentada. Um batimento atrial prematuro pode ser distinguido de um batimento sinusal normal pelo contorno da onda P e pelo momento (vem muito cedo antes da próxima onda sinusal esperada) do batimento. Nos batimentos juncionais prematuros, geralmente não há onda P visível, mas, às vezes, pode ser vista uma onda P retrógrada. É assim que acontece com os batimentos de escape juncional vistos durante a parada sinusal. A diferença entre um batimento juncional prematuro e um batimento de escape juncional se dá pelo tempo, uma vez que o prematuro ocorre mais cedo, se interpondo entre o ritmo sinusal normal. Um batimento de escape ocorre mais tarde, após longa pausa, na qual o nó SA não está disparando. Como esses batimentos são conduzidos normalmente para os ventrículos; o complexo QRS resultante é estreito. Às vezes, pode ocorrer um batimento atrial prematuro suficientemente precoce ao ponto que o nó AV ainda não tenha se recuperado do batimento previamente conduzido e, portanto, será incapaz de conduzir o batimento atrial prematuro para os ventrículos. O ECG, dessa forma, pode mostrar apenas uma onda P sem complexo QRS seguinte, sendo chamada de contração atrial prematura bloqueada. Há 5 arritmias supraventriculares sustentadas importantes: I – taquicardia supraventricular paroxística (TSVP), às vezes também chamada de taquicardia nodal AV reentrante; II – flutter atrial; III – fibrilação atrial; IV – taquicardia atrial multifocal (TAM); V – taquicardia atrial paroxística (TAP), às vezes também chamada de taquicardia atrial ectópica. Taquicardia supraventricular paroxística, é comum, de início súbito, geralmente desencadeado por batimento supraventricular prematuro (atrial ou juncional), e seu término é igualmente abrupto. Pode ocorrer em corações normais. Indivíduos portadores de TSVP apresentam, em geral, palpitações, dispneia, tonturas e, raramente, síncope. Não raramente, álcool, café ou apenas uma pura excitação pode produzir esse distúrbio de ritmo. É um ritmo absolutamente regular, com frequência entre 150-250 BPM. Há vários tipos e o mais comum é estimulado por circuito reentrante dentro do nó AV. Ondas P retrógradas podem, às vezes, ser vistas nas derivações DII ou DIII, mas em V1 aparece uma onda P retrógrada sobreposta ao complexo QRS, aparecendo como uma mancha, chamada de pseudo-R’. Massagem carotídea, pode ajudar a diagnosticar e a terminar um episódio de TSVP. Os barorreceptores que sentem alterações na PA estão localizados no ângulo da mandíbula, onde a artéria carótida comum se bifurca. Quando a PA se eleva, eles produzem respostas reflexas a partir do cérebro, que são enviadas, pelo nervo vago (NC X), para o coração. O estímulo vagal reduz a frequência na qual o nó SA dispara e diminui a velocidade de condução no nó AV. Esses barorreceptores são ativados quando se faz leve pressão externamente à artéria carótida (bem como nas manobras de Valsalva ou a posição de cócoras, que também tendem a aumentar a PA). Como o mecanismo subjacente da TSVP é um circuito reentrante envolvendo o nó AV, a massagem carotídea pode interromper um circuito reentrante e terminar uma arritmia; ou reduzir a FC da arritmia de modo que a presença ou ausência de ondas P possam ser determinadas mais facilmente e a arritmia possa ser diagnosticada. Ao fazer a massagem carotídea deve-se fazer antes a ausculta do leito carotídeo para verificar presença de sopros, uma vez que são advindos de placas ateroscleróticas ou outras formas de estenose carotídea. Nunca comprimir as duas artérias simultaneamente, aplicar pressão suave por 10-15 segundos na posição da artéria em relação ao ângulo da mandíbula. Tentar a artéria direita primeiro, pois o índice de sucesso é maior. Nos pacientes com episódio agudo de TSVP que não respondem à massagem carotídea ou outra manobra vagal, a intervenção farmacológica geralmente termina a arritmia. Uma injeção em bolus de adenosina quase sempre é eficaz (evitar em pacientes com doença pulmonar broncoespástica). Terapias de 2ª linha são os β- bloqueadores, BCC e, raramente, cardioversão elétrica. Flutter atrial, menos comum que a TSVP. Pode ocorrer em corações normais ou, mais frequentemente, em pacientes com patologia cardíaca subjacente. A ativação atrial no flutter é absolutamente regular, porém ainda mais rápida. Asondas P aparecem com frequência de 250-350 BPM. Na forma mais comum, é gerada por circuito reentrante que corre em torno do anel da valva tricúspide. No flutter atrial, a despolarização atrial ocorre com frequência muito rápida, de modo que ondas P discretas, separadas por uma linha de base achatada, não são vistas. Em vez disso, a linha de base se eleva e abaixa continuamente, produzindo as ondas chamadas ondas de flutter (ondas F). Nas derivações DII e DIII, podem ser proeminentes e criar o chamado padrão em dente de serra. O nó AV não consegue manejar o grande número de impulsos atriais que chegam e nem todos os impulsos passam através do nó AV para gerar complexos QRS. Alguns apenas colidem com um nó refratário e isso é o mais longe que eles vão. Esse fenômeno é o bloqueio AV. Um bloqueio 2:1 é mais comum. Isso significa que para cada duas ondas de flutter visíveis, uma passa pelo nó AV para gerar um complexo QRS e o outro não. Massagem carotídea pode aumentar o grau de bloqueio (passar de um 2:1 para um 4:1). Como o flutter se origina acima do nó AV, a massagem carotídea não encerra a arritmia. O eixo das ondas P dependem se o circuito reentrante gira no sentido anti-horário (produz deflexões negativas em dente de serra nas derivações inferiores), ou no sentido horário (deflexões positivas nas derivações inferiores) em torno da valva tricúspide. As condições mais associadas a flutter atrial são: HAS, obesidade, DM, distúrbios eletrolíticos, intoxicação por álcool, consumo de drogas (cocaína, anfetaminas), doença pulmonar (DPOC e embolia pulmonar), tireotoxicose e condições cardíacas subjacentes, congênitas (defeito do septo atrial) e adquiridas (doença valvular reumática, DAC e ICC). A arritmia raramente impõe risco à vida, mas a resposta ventricular rápida pode causar dispneia ou angina o precipitar ou piorar a ICC, que pode necessitar de intervenção clínica urgente. Cardioversão elétrica é muito eficaz na restauração do ritmo sinusal normal, embora a farmacológica, em geral, seja tentada primeiro nos pacientes hemodinamicamente estáveis. Fibrilação atrial, atividade atrial é caótica e o nó AV pode receber mais de 500 impulsos por minuto. Enquanto no flutter um único circuito reentrante constante é responsável pelo padrão regular em dente de serra no ECG, na fibrilação atrial, múltiplos circuitos reentrantes estão ocorrendo de forma totalmente imprevisível. Não é possível ver nenhuma onda P verdadeira. Em vez disso, a linha de base aparece achatada ou discretamente ondulada. O nó AV permite que apenas impulsos ocasionais passem através do nó em intervalos variáveis, gerando frequência ventricular irregularmente irregular, em geral entre 120 e 180 BPM. O aspecto irregularmente irregular dos complexos QRS na ausência de onda P discreta é o que identifica a fibrilação atrial. É mais comum que o flutter e é a arritmia sustentada mais comum na população geral. As causas subjacentes são similares às do flutter atrial, com incidência especialmente elevada de condições cardíacas, principalmente doença cardíaca hipertensiva, doença da valva mitral e DAC. Consideração de evento agudo precipitante como TEP, tireotoxicose e pericardite devem ser enfatizados na avaliação clínica de qualquer paciente com episódios novos de fibrilação atrial. Apneia obstrutiva do sono pode gerar episódios noturnos. Palpitação, dor torácica, dispneia e tontura podem ocorrer. A restauração do ritmo sinusal pode ser tentada por cardioversão elétrica ou farmacológica ou técnicas ablativas e é, em geral, temporariamente bem-sucedida. Contudo, a manutenção de ritmo sinusal normal frequentemente é impossível de ser atingida, seja porque a arritmia é refratária à terapia farmacológica de manutenção, seja devido aos efeitos colaterais desses agentes. Pacientes com fibrilação atrial persistente correm o risco de embolização sistêmica. O átrio fibrilante fornece excelente substrato para formação de coágulos sanguíneos. O tratamento de pacientes de risco intermediário ou alto de acidente vascular cerebral deve incluir anticoagulação. Taquicardia atrial multifocal (TAM) e marca-passos atriais migratórios, a TAM é um ritmo irregular que ocorre em FC de 100- 200 BPM. Resulta de estímulos aleatórios de vários focos ectópicos atriais diferentes. Se a FC for < 100 BPM a arritmia é chamada de marca-passo atrial migratório. A TAM é comum em paciente com doença pulmonar severa. Raramente requer tratamento. Massagem carotídea não tem efeito. Marca-passo atrial migratório pode ser visto em corações saudáveis. Pode ser distinta da fibrilação atrial pelas ondas P, que se originam de múltiplos locais nos átrios e variam na forma, e os intervalos entre as diferentes ondas P e os complexos QRS, que também variam. Seu diagnóstico é feito ao observar-se, pelo menos 3 diferentes formas de ondas P. Taquicardia atrial paroxística (TAP), ritmo regular com frequência de 100-200 BPM. Pode resultar de um aumento da automaticidade de um foco ectópico atrial ou de um circuito reentrante dentro dos átrios. O tipo automático tem irregularidade no início e no final da taquicardia. A forma reentrante, menos comum, começa abruptamente com um batimento atrial prematuro. TAP é mais frequente em corações saudáveis em outros aspectos. A causa também pode ser a intoxicação digitálica. É indistinguível da TSVP, mas na primeira, às vezes, observa-se um período de aquecimento e resfriamento e, na segunda, a massagem carotídea é útil, o que não ocorre na TAP. Arritmias ventriculares: distúrbios que se originam abaixo do nó AV. Contrações ventriculares prematuras (CVPs) – são as arritmias ventriculares mais comuns. O complexo QRS de uma CVP aparece largo e bizarro porque a despolarização ventricular não segue a via normal de condução. Contudo, o complexo QRS pode não aparecer alargado em todas as derivações. Deve-se olhar as 12 derivações antes do diagnóstico. A duração do QRS deve ser de, pelo menos, 0,12s na maioria das derivações para que seja feito o diagnóstico de CVP. Às vezes, pode ser vista onda P retrógrada, mas é mais comum não ver nenhuma onda P. Geralmente a CVP é seguida de pausa compensatória prolongada antes do próximo batimento. CVPs isoladas são comuns em corações normais e raramente requerem tratamento. CVPs isoladas num IAM são mais perigosas, porque podem desencadear uma taquicardia ventricular (TV) ou fibrilação ventricular. Podem ocorrer aleatoriamente, mas podem se alternar com ritmo sinusal normal em padrões regulares. Se a proporção é um batimento sinusal para uma CVP, o ritmo é chamado bigeminismo. Trigeminismo ocorre quando há dois batimentos normais para uma CVP. Há situações em que as CVPs podem ter risco aumentado de desencadear TV, FV e morte: I – CVPs frequentes; II – grupos de CVPs consecutivas, especialmente três ou mais seguidas; III – CVPs polimórficas, nas quais as CVPs variam no seu local de origem e na sua aparência; IV – CVPs que caem sobre a onda T do batimento anterior, chamado fenômeno “R sobre T”. A onda T é um período vulnerável do ciclo cardíaco, e uma CVP que cai sobre ela parece ser mais propensa a desencadear TV; V – qualquer CVP que ocorre na vigência de um IAM. A supressão destas CVPs com medicação antiarrítmica não reduz a mortalidade em qualquer circunstância. Taquicardia ventricular – série de três ou mais CVPs. A FC geralmente está entre 120-200 BPM e, ao contrário da TSVP, pode ser discretamente irregular. A TV sustentada é uma emergência, antecedendo parada cardíaca e necessitando de tratamento imediato. Pode ter morfologia uniforme (monomórfica), ou pode ser polimórfica. A segunda está associada mais comumente com isquemia coronariana aguda, infarto, distúrbios eletrolíticos profundose condições que causam prolongamento do intervalo QT. A TV monomórfica é vista mais frequentemente nos infartos cicatrizados; o miocárdio com cicatrizes fornece o substrato para a TV reentrante. Fibrilação ventricular – é um evento pré-terminal. É vista quase unicamente nos corações de quem está prestes a morrer. É a arritmia encontrada com maior frequência em adultos que apresentam quadro de morte súbita. O traçado pode ser intenso (FV grossa) ou suave (FV fina). Não há complexos QRS verdadeiros. Na FV, o coração não produz débito e a ressuscitação cardiopulmonar e a desfibrilação elétrica devem ser realizadas imediatamente. Seus precipitantes comuns são: I – isquemia/infarto do miocárdio; II – insuficiência cardíaca; III – hipoxemia ou hipercapnia; IV – hipotensão ou choque; V – distúrbios eletrolíticos; VI – estimulantes como cafeína, álcool e drogas. Ritmo idioventricular acelerado – ritmo benigno visto, às vezes, durante IAM ou nas primeiras horas após reperfusão coronariana. É um ritmo regular que ocorre com FC de 50-100 BPM e representa um foco de escape ventricular que acelerou o suficiente para estimular o coração. Raramente é sustentado, não progride para FV e raramente requer tratamento. Quando a FC cai abaixo de 50 BPM, é chamado ritmo idioventricular. Torsade de pointes – ou “torção de pontos”, é uma forma única de TV geralmente vista em pacientes com intervalos QT prolongados. O intervalo QT prolongado pode ter origem congênita (resultante de mutações em genes que codificam os canais iônicos cardíacos), pode resultar de vários distúrbios eletrolíticos (notadamente hipocalcemia, hipomagnesemia e hipocalemia), ou pode se desenvolver durante um IAM. Vários agentes farmacológicos também podem prolongar o intervalo QT, que incluem fármacos antiarrítmicos, antidepressivos tricíclicos, fenotiazinas e alguns antifúngicos e anti-histamínicos, quando usados concomitantemente com certos antibióticos, particularmente eritromicina e quinolonas. Intervalo QT prolongado é resultado de repolarização ventricular prolongada. CVP que cai sobre uma onda T prolongada pode iniciar a torsade de pointes. Esta parece uma TV comum, exceto pelo fato de os complexos QRS girarem em torno da linha de base, alterando o eixo e a amplitude. É importante distinguir as torsades de pointes de uma TV regular, porque são tratadas de modo diferente. Arritmias supraventriculares versus arritmias ventriculares: as últimas em geral trazem pior prognóstico e a terapia é diferente. Geralmente, a diferença está no complexo QRS estreito da primeira e alargado da segunda. Contudo, o QRS pode ser largo no batimento supraventricular se for conduzido de forma aberrante pelos ventrículos, o que o torna indistinguível de uma CVP. Aberrância – ocorre quando um batimento atrial prematuro ocorre tão precocemente no próximo ciclo que as fibras de Purkinje anos ventrículos ainda não foram repolarizadas. O ramo direito, em particular, pode ser lento, e quando o impulso atrial prematuro atinge os ventrículos, o ramo direito ainda está refratário. O impulso elétrico é impedido de passar pelo ramo direito, mas é capaz de passar livremente pelo ramo esquerdo. Aquelas áreas do miocárdio ventricular supridas ordinariamente pelo ramo direito precisam receber a sua ativação elétrica de outra fonte, citadamente das áreas já despolarizadas pelo ramo esquerdo. O processo completo de despolarização ventricular leva um tempo incomumente longo; o vetor do fluxo de corrente é distorcido; e o resultado é um complexo QRS largo, peculiar, que parece com uma CVP. No caso de uma única contração atrial prematura, há uma onda P precedendo o complexo QRS amplo. No caso da CVP não há onda P. Indícios clínicos para distinguir TV de TSVP aberrante – I – a TV geralmente é vista em corações doentes. A TSVP, em geral, é vista em corações normais em outros aspectos; II – a massagem carotídea pode terminar a TSVP, ao passo que não tem efeito sobre a TV; III – maioria das TVs são acompanhadas de dissociação AV. Nesta, átrios e ventrículos batem independentemente uns dos outros. Há um marca-passo ventricular comandando os ventrículos e produzindo TV no ECG e um marca-passo sinusal (ou atrial ou nodal) independente comandando os átrios. O ritmo atrial pode, às vezes, ser visto, mas frequentemente não é, escondido no ECG pela TV, muito mais proeminente. O nó AV é mantido constantemente refratário pelo incessante bombardeamento de impulsos de cima e de baixo e, dessa forma, nenhum impulso pode atravessar o nó AV em qualquer direção. Se os ventrículos se contraírem logo antes dos átrios, estes se encontrarão contraindo contra valvas mitral e tricúspides fechadas, resultando em súbito retorno de sangue para as veias jugulares, produzindo as ondas A em canhão da dissociação AV. Essas ondas não são vistas na TSVP. Indícios eletrocardiográficos – I – a dissociação AV da TV pode ser vista, às vezes, no ECG quando as ondas P e o complexo QRS seguem no registro de ritmo completamente independentes um do outro. Na TSVP, quando são vistas ondas P, elas têm relação 1:1 com os complexos QRS. Além disso, é preciso lembrar que as ondas P da TSVP serão retrógradas, com deflexão positiva em aVR e deflexão negativa em DII; II – batimentos de fusão podem ser vistos apenas na TV. Esse batimento ocorre quando um impulso atrial consegue passar pelo nó AV no mesmo momento que um impulso de origem ventricular está se espalhando pelo miocárdio ventricular. Os dois impulsos juntos despolarizam os ventrículos, produzindo complexo QRS morfologicamente parte supraventricular e parte ventricular; III – na TSVP com aberrância, a deflexão inicial do complexo QRS geralmente é na mesma direção do complexo QRS normal. Na TV, a deflexão inicial frequentemente é na direção oposta. Fenômeno de Ashman – condução aberrante de um batimento supraventricular visto comumente em pacientes com fibrilação atrial. Esse fenômeno descreve um batimento supraventricular largo, conduzido de forma anormal, que ocorre após um complexo QRS que é precedido de longa pausa. Esse é seu motivo: os ramos dos feixes reajustam a sua frequência de repolarização de acordo com a duração do batimento precedente. Se o batimento precedente ocorreu há um tempo relativamente longo, então os feixes se repolarizam vagarosamente. Se, antes de completar a repolarização, outro impulso supraventricular passar pelo nó AV, a condução será bloqueada ao longo da via normal e será inscrito um complexo QRS largo, bizarro. A fibrilação atrial, por ter condução variável produzindo pausas longas e curtas entre os complexos QRS, é uma situação propícia para esse fenômeno.