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* Aproximação conceitual da filosofia da religião A filosofia da religião não tem a pretensão de ser uma instrução religiosa. O objetivo dessa disciplina, por sua natureza, não consiste em tornar alguém mais religioso, uma vez que a função da filosofia não reside propriamente no doutrinamento religioso. Não lhe cabe também demonstrar que as crenças e as religiões são razoáveis e verdadeiras. * Enfim, não é missão da filosofia fazer apologia e nem atacar a religião. E, também, não pode ser confundida com o estudo das religiões comparadas. Para a filosofia da religião é fundamental que se tenha certo conhecimento de religião. Como o foco está na religião é primordial que se conheça algo acerca dela. * O fundamental da filosofia da religião é a análise e o aprofundamento das questões basilares da religião e perceber como os diferentes temas se articulam. A conceituação da filosofia da religião não é uma tarefa fácil, porque ambos os termos são difíceis de serem conceituados. A filosofia da religião se constitui como parte fundamental e constitutiva da filosofia da história. * Paul Tillich nos ajuda a delimitar e compreender os termos, uma vez que para ele a filosofia da religião consiste na “reflexão sobre o fenômeno da religiosidade”, à medida que se faz presente em todas as culturas. Da mesma forma M. T. L. Penido afirma ser “o estudo da fenomenalidade da religião enquanto detectável pela razão e suscetível de uma análise filosófica”. Ela é o estudo acerca da possibilidade e essência da religião na vida do ser humano. * Daí que parte da razão para entender a religião e as condições nas quais essa se manifesta. Ou ainda, procura pelo viés da filosofia esclarecer e explicar a religião. Ela tematiza a abertura do ser humano para o mistério que envolve o ser humano e que o capacita para dar uma reposta positiva ou negativa. A questão da religião toca o ser humano na profundidade do seu ser, uma vez que, implica toda a realidade humana. * E a filosofia da religião não se ocupa somente com o ser humano, mas também com aquilo que é diferente dele, que o transcende. A partir do divino, a existência se caracteriza como religiosa. A filosofia da religião é diversa da teologia, ainda que possamos perceber uma profunda relação. Paul Tillich assim a define a “filosofia da religião é doutrina das funções religiosas e de suas categorias. Teologia é apresentação normativa e sistemática da plenificação concreta do conceito de religião”. * Em síntese podemos afirmar que, no âmbito da filosofia da religião, o fenômeno religioso, enquanto algo que concerne a praticamente todas as pessoas (ou todas as pessoas). Procura explicitar a Realidade Suprema que transcende a realidade humana, no entanto o ser humano pode se relacionar com essa Realidade. A filosofia da religião tem a religião como o “objeto” do seu pensar e procura dar respostas sobre o seu ser e a sua essência. * Como afirma Hegel a religião e a filosofia possuem um centro unificador, a saber: a busca da verdade. Dando voz ao próprio filósofo: “A filosofia tem seus objetivos em comum com a religião porque o objetivo de ambas é a verdade, no sentido mais alto da palavra, isto é, enquanto Deus, e somente Deus, é a verdade”. No entanto, para Hegel, a religião se distingue da filosofia, porque a primeira expressa a verdade não conceitualmente, mas sim, como representação e sentimento. * “A religião é a relação com o Absoluto na forma do sentimento, da representação, da fé”. Daí que para Penido a filosofia da religião possui três linhas de investigação: a) o estudo da natureza da religião; b) estudo acerca de sua origem e, c) analisar os seus efeitos sobre a conduta humana e referente à cultura. * No que tange a religião grega são perceptíveis três características basilares; 1) não encontramos uma filosofia da religião nos textos dos pensadores gregos tradicionais; 2) não possui Texto Sagrado e, 3) também está ausente o sentimento de culpa. * Já na tradição judaico-cristã – firmada na concepção monoteísta – Tilghman vai mostrar como a tradição judaica se separa da cristã, a saber: a) acentuação nacionalista do judaísmo (povo hebreu, povo escolhido de Deus); b) a postura universalista cristã. * “O Deus dos racionalistas” Lesek Kolakowshi quando faz uso do termo “o Deus dos racionalistas” faz uma referência “ao Deus dos filósofos”. Para o âmbito filosófico “a realidade de Deus, se ela se confirma, deve ter um caráter radicalmente diferente do que define o mundo”. Alexandre Koyré em seu livro (consideração sobre Descartes, p. 63) declara: “Sem dúvida que Descartes é um crente. É mesmo um homem profundamente religioso. * À sua maneira, evidentemente... crê que o ateísmo é falso. Não gosta dos céticos ‘os que duvidam por duvidar’. Crê que há – fora dos mistérios sagrados da religião revelada – uma verdade religiosa perfeitamente acessível à razão humana: a existência de Deus e da alma, e que ela pode e deve ser provada”. E ainda, “o Deus de Descartes é, seguramente, o Deus dos filósofos e não de Abraão, de Isaac e de Jacó. É que, justamente, Descartes é um filósofo”. * Bergson faz uma profunda crítica ao termo “Deus dos filósofos” e para ele se esse Deus (dos filósofos) quisesse se manifestar de forma miraculosa com certeza não seria reconhecido pelos crentes. Outro tema importante que ele aborda é a questão da pessoalidade ou impessoalidade de Deus. A afirmação de sua pessoalidade implica também em ser totalmente distinto do mundo. * Para o autor, somente a experiência mística pode nos conduzir para Deus. Todavia, unicamente a experiência mística não pode oferecer a resposta última. O acesso à fé para os crentes, tem sua origem no próprio ato da revelação transcendental de Deus, também chamado de graça. * E como esclarece Penido, Deus “é um princípio de explicação”, e para o crente como afirma Bérgson, um Ser com o qual o ser humano se pode relacionar. Outro filósofo importante que merece destaque é Descartes, o qual por sua vez postula que o ser humano é um “animal dotado da ideia de Deus”. Da mesma forma Paul Tillich vai afirmar que o ser humano é um ser religioso por natureza. * E aqui podemos nos questionar se ela decorre da atividade reflexiva humana, isto é, fruto da criatividade, ou se ela decorre de uma graça ou revelação. Encontramos duas respostas: a primeira defende que o ser humano naturalmente se defronta com a questão da causa primeira e do fim último. E, por outro lado, há aqueles que acreditam ser a religião oriunda da graça sobrenatural. * Segundo Kolakowshi no âmbito religioso se encontram duas dimensões profundamente implicadas, a saber: o aspecto doutrinário e o ritualista. Com isso, o âmbito ritual favorecerá a acolhida das concepções doutrinais. Vamos agora apresentar temas centrais da filosofia da religião, a partir de diferentes autores e concepções. * B. R. Tilghman apresenta temas centrais da filosofia da religião: a) estudo da. gênesis da filosofia e da religião; b) os argumentos acerca da existência de Deus; c) a relação entre ciência e religião; d) a analogia entre religião e ética. * Paul Tillich dá destaque aos seguintes temas: a) a religião como dimensão intrínseca da realidade humana; b) relação cultura e religiosidade, etc. Fé e razão A fé tem como “objeto” o sagrado e por isso constitui-se a base da religião. O conhecimento oriundo dela procede não pela via da razão, mas pela Revelação. * A fé indubitavelmente supõe a crença em verdades reveladas, e o seu fundamento é o próprio Transcendente. Já a ciência, procede da aplicação dos processos cognitivos e o conhecimento decorre dos mesmos. Por isso é fundamental que passem pelos crivos da verificação e pelo critério da refutabilidade para poder ser corroborados. No âmbito da féé bastante profunda a reflexão de Pascal sobre Jesus “consola-te, não me procurarias se já não me houvesses achado”. * Essa tese de certa forma retoma Platão, que no Menon, questiona como será possível alguém poder conhecer algo, quando o mesmo não possui sequer qualquer conhecimento prévio sobre isso. Para Pascal esse conhecimento não é oriundo da razão, mas sim, da fé. Ele vai falar que pela fé sabemos da sua existência e pela graça conhecemos sua natureza, que é sobrenatural e infinita. * Pascal defende sempre que é preferível crer. Se Deus existe, mediante sua escolha o ser humano obterá a vida eterna. No caso da rejeição o ser humano não ganha nada, mas se Ele existe perderá a vida eterna. Pascal em seu pensamento (n. 253) mostra que não se pode incorrer em “dois excessos: excluir a razão, só admitir a razão”.
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