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1. Introdução à filosofia da religião

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Aproximação conceitual da filosofia da religião
A filosofia da religião não tem a pretensão de ser uma instrução religiosa. 
O objetivo dessa disciplina, por sua natureza, não consiste em tornar alguém mais religioso, uma vez que a função da filosofia não reside propriamente no doutrinamento religioso. 
Não lhe cabe também demonstrar que as crenças e as religiões são razoáveis e verdadeiras. 
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Enfim, não é missão da filosofia fazer apologia e nem atacar a religião. 
E, também, não pode ser confundida com o estudo das religiões comparadas.
Para a filosofia da religião é fundamental que se tenha certo conhecimento de religião. 
Como o foco está na religião é primordial que se conheça algo acerca dela. 
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O fundamental da filosofia da religião é a análise e o aprofundamento das questões basilares da religião e perceber como os diferentes temas se articulam.
A conceituação da filosofia da religião não é uma tarefa fácil, porque ambos os termos são difíceis de serem conceituados. 
A filosofia da religião se constitui como parte fundamental e constitutiva da filosofia da história.
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Paul Tillich nos ajuda a delimitar e compreender os termos, uma vez que para ele a filosofia da religião consiste na “reflexão sobre o fenômeno da religiosidade”, à medida que se faz presente em todas as culturas. 
Da mesma forma M. T. L. Penido afirma ser “o estudo da fenomenalidade da religião enquanto detectável pela razão e suscetível de uma análise filosófica”.
Ela é o estudo acerca da possibilidade e essência da religião na vida do ser humano. 
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Daí que parte da razão para entender a religião e as condições nas quais essa se manifesta. 
Ou ainda, procura pelo viés da filosofia esclarecer e explicar a religião. 
Ela tematiza a abertura do ser humano para o mistério que envolve o ser humano e que o capacita para dar uma reposta positiva ou negativa. 
A questão da religião toca o ser humano na profundidade do seu ser, uma vez que, implica toda a realidade humana. 
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E a filosofia da religião não se ocupa somente com o ser humano, mas também com aquilo que é diferente dele, que o transcende. A partir do divino, a existência se caracteriza como religiosa.
A filosofia da religião é diversa da teologia, ainda que possamos perceber uma profunda relação. 
Paul Tillich assim a define a “filosofia da religião é doutrina das funções religiosas e de suas categorias. Teologia é apresentação normativa e sistemática da plenificação concreta do conceito de religião”. 
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Em síntese podemos afirmar que, no âmbito da filosofia da religião, o fenômeno religioso, enquanto algo que concerne a praticamente todas as pessoas (ou todas as pessoas).
 Procura explicitar a Realidade Suprema que transcende a realidade humana, no entanto o ser humano pode se relacionar com essa Realidade.
A filosofia da religião tem a religião como o “objeto” do seu pensar e procura dar respostas sobre o seu ser e a sua essência. 
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Como afirma Hegel a religião e a filosofia possuem um centro unificador, a saber: a busca da verdade. 
Dando voz ao próprio filósofo: “A filosofia tem seus objetivos em comum com a religião porque o objetivo de ambas é a verdade, no sentido mais alto da palavra, isto é, enquanto Deus, e somente Deus, é a verdade”. 
No entanto, para Hegel, a religião se distingue da filosofia, porque a primeira expressa a verdade não conceitualmente, mas sim, como representação e sentimento. 
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“A religião é a relação com o Absoluto na forma do sentimento, da representação, da fé”.
Daí que para Penido a filosofia da religião possui três linhas de investigação: 
a) o estudo da natureza da religião; b) estudo acerca de sua origem e, 
c) analisar os seus efeitos sobre a conduta humana e referente à cultura. 
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No que tange a religião grega são perceptíveis três características basilares; 
1) não encontramos uma filosofia da religião nos textos dos pensadores gregos tradicionais; 
2) não possui Texto Sagrado e, 
3) também está ausente o sentimento de culpa.
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Já na tradição judaico-cristã – firmada na concepção monoteísta – Tilghman vai mostrar como a tradição judaica se separa da cristã, a saber: 
a) acentuação nacionalista do judaísmo (povo hebreu, povo escolhido de Deus); 
b) a postura universalista cristã. 
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“O Deus dos racionalistas”
Lesek Kolakowshi quando faz uso do termo “o Deus dos racionalistas” faz uma referência “ao Deus dos filósofos”.
Para o âmbito filosófico “a realidade de Deus, se ela se confirma, deve ter um caráter radicalmente diferente do que define o mundo”.
Alexandre Koyré em seu livro (consideração sobre Descartes, p. 63) declara: “Sem dúvida que Descartes é um crente. É mesmo um homem profundamente religioso. 
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À sua maneira, evidentemente... crê que o ateísmo é falso. Não gosta dos céticos ‘os que duvidam por duvidar’. 
Crê que há – fora dos mistérios sagrados da religião revelada – uma verdade religiosa perfeitamente acessível à razão humana: a existência de Deus e da alma, e que ela pode e deve ser provada”. 
E ainda, “o Deus de Descartes é, seguramente, o Deus dos filósofos e não de Abraão, de Isaac e de Jacó. É que, justamente, Descartes é um filósofo”. 
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Bergson faz uma profunda crítica ao termo “Deus dos filósofos” e para ele se esse Deus (dos filósofos) quisesse se manifestar de forma miraculosa com certeza não seria reconhecido pelos crentes. 
Outro tema importante que ele aborda é a questão da pessoalidade ou impessoalidade de Deus. 
A afirmação de sua pessoalidade implica também em ser totalmente distinto do mundo. 
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Para o autor, somente a experiência mística pode nos conduzir para Deus. 
Todavia, unicamente a experiência mística não pode oferecer a resposta última. 
O acesso à fé para os crentes, tem sua origem no próprio ato da revelação transcendental de Deus, também chamado de graça. 
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E como esclarece Penido, Deus “é um princípio de explicação”, e para o crente como afirma Bérgson, um Ser com o qual o ser humano se pode relacionar.
Outro filósofo importante que merece destaque é Descartes, o qual por sua vez postula que o ser humano é um “animal dotado da ideia de Deus”.
Da mesma forma Paul Tillich vai afirmar que o ser humano é um ser religioso por natureza. 
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E aqui podemos nos questionar se ela decorre da atividade reflexiva humana, isto é, fruto da criatividade, ou se ela decorre de uma graça ou revelação. 
Encontramos duas respostas: a primeira defende que o ser humano naturalmente se defronta com a questão da causa primeira e do fim último.
E, por outro lado, há aqueles que acreditam ser a religião oriunda da graça sobrenatural. 
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Segundo Kolakowshi no âmbito religioso se encontram duas dimensões profundamente implicadas, a saber: o aspecto doutrinário e o ritualista. 
Com isso, o âmbito ritual favorecerá a acolhida das concepções doutrinais. 
Vamos agora apresentar temas centrais da filosofia da religião, a partir de diferentes autores e concepções.
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B. R. Tilghman apresenta temas centrais da filosofia da religião: 
a) estudo da. gênesis da filosofia e da religião; 
b) os argumentos acerca da existência de Deus; 
c) a relação entre ciência e religião;
 d) a analogia entre religião e ética.
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Paul Tillich dá destaque aos seguintes temas: a) a religião como dimensão intrínseca da realidade humana;
 b) relação cultura e religiosidade, etc.
Fé e razão
A fé tem como “objeto” o sagrado e por isso constitui-se a base da religião. 
O conhecimento oriundo dela procede não pela via da razão, mas pela Revelação. 
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A fé indubitavelmente supõe a crença em verdades reveladas, e o seu fundamento é o próprio Transcendente. 
Já a ciência, procede da aplicação dos processos cognitivos e o conhecimento decorre dos mesmos. 
Por isso é fundamental que passem pelos crivos da verificação e pelo critério da refutabilidade para poder ser corroborados.
No âmbito da féé bastante profunda a reflexão de Pascal sobre Jesus “consola-te, não me procurarias se já não me houvesses achado”. 
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Essa tese de certa forma retoma Platão, que no Menon, questiona como será possível alguém poder conhecer algo, quando o mesmo não possui sequer qualquer conhecimento prévio sobre isso. 
Para Pascal esse conhecimento não é oriundo da razão, mas sim, da fé. 
Ele vai falar que pela fé sabemos da sua existência e pela graça conhecemos sua natureza, que é sobrenatural e infinita. 
 
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Pascal defende sempre que é preferível crer. Se Deus existe, mediante sua escolha o ser humano obterá a vida eterna. 
No caso da rejeição o ser humano não ganha nada, mas se Ele existe perderá a vida eterna.
Pascal em seu pensamento (n. 253) mostra que não se pode incorrer em “dois excessos: excluir a razão, só admitir a razão”.

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