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AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I FISIOPATOLOGIA DA NUTRIÇÃO E DIETOTERAPIA I Aula 8: Transtornos Alimentares AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Introdução Os transtornos alimentares são quadros psiquiátricos caracterizados por profundas alterações no comportamento alimentar e disfunções no controle do peso e forma corporal, que levam a sérios prejuízos clínicos, psicológicos e de convívio social. TIMERMAN et al., 2015 Conceito Termo em inglês binge eating disorders AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Fisiopatologia dos transtornos alimentares O MAIOR EQUÍVOCO FISIOLÓGICO que pode ocorrer é tentar distinguir a FOME da SACIEDADE Situação de ansiedade – desvio do controle fome-saciedade ANOREXIA • A fome ainda existe, mas, por um “controle individual’, a paciente não ingere alimentos. BULIMIA • A fome já foi saciada, mas a vontade de comer não. BERNARDI, 2011 Vários hormônios, neurotransmissores e substratos energéticos participam da regulação da ingestão alimentar e manutenção do peso. AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Transtornos alimentares • Anorexia Nervosa; • Bulimia Nervosa; • Transtorno Alimentar Não Especificado; • Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica. DSM-5, 2014 DSM-5, 2014 AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Anorexia nervosa Conceito • O termo anorexia deriva do grego; • An- deficiência ou ausência de; • Orexis- apetite; CORDÁS & SALZANO, 2011 Modelo gaúcha morre de complicação da anorexia nervosa 21 anos, 48 Kg, 1,65m, IMC de 17,6 Kg/m 2 “Quanto mais emagrecia, mais seguidores e elogios conquistava nas redes sociais” CID 10: F-50.0 - DSM-5: 307.1 CID 10- Classificação Internacional de Doenças, 10ª edição - OMS DSM-5- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - APA (Associação Americana de Psiquiatria) AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Anorexia nervosa Características • Restrição persistente da ingestão calórica; • Medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso; • Perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma. DSM-5, 2014 Fonte: bitsandpieces AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Anorexia nervosa Epidemiologia • Ocorre predominantemente em adolescentes e mulheres adultas jovens; • Pouco se sabe a respeito da prevalência entre indivíduos do gênero masculino. Proporção feminino-masculino de aprox. 10:1; • Taxa de prevalência ao longo da vida variando de 0,3 a 3,7%; • Picos de incidência: aos 14 e aos 17 anos; • Risco aumentado: profissões que exigem leveza para melhor desempenho (ginastas, patinadoras, bailarinas) ou esbeltez para "comercialização" da imagem (modelos, atrizes). YAGER et al., 2000 AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Anorexia nervosa Critérios Diagnósticos DSM-5 • Perda de peso e recusa em manter o peso dentro da faixa normal (≥85% do esperado); • Medo mórbido de engordar mesmo estando abaixo do peso; • Perturbação na forma de vivenciar o baixo peso, influência indevida do peso sobre a autoavaliação e negação do baixo peso; DSM-5, 2014 Subtipos: 1. Restritivo (dieta e exercícios apenas); 2. Compulsão periódica/purgativo (presença de episódios de compulsão e/ou purgação além da dieta, exercícios). CID-10 • Perda de peso e manutenção abaixo do normal (IMC ≤ 17,5 kg/m²); • Perda de peso autoinduzida pela evitação de alimentos que engordam; • Medo de engordar e percepção de estar muito gorda(o); • Distúrbio endócrino envolvendo o eixo hipotálamo- hipofisário-gona dal (amenorreia) e atraso no desenvolvimento puberal; • Vômitos autoinduzidos, purgação e uso de inibidores do apetite e/ou diuréticos podem estar presentes. AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Anorexia nervosa Consequências Funcionais • Limitações funcionais associadas ao transtorno; • Alguns permanecem ativos no funcionamento social e profissional; • Isolamento social significativo e/ou fracasso em atingir o nível acadêmico ou profissional. YAGER et al., 2000 Fonte: cidadeverde.com AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Anorexia nervosa Quadro Clínico • Perda da gordura corporal; • Bradicardia; • Hipotensão; • Hipotermia; • Intolerância ao frio; • Dor abdominal; • Sensação de plenitude; • Constipação intestinal; • Perda do interesse sexual; • Perda excessiva de cabelo; • Lanugo corpo e face; • Distúrbio do sono; • Manifestação depressão. SCHEBENDACH et al., 2010 Fonte: http://adsoftheworld.com AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Anorexia nervosa Diagnóstico Diferencial - Emagrecimento intenso • Doenças inflamatórias intestinais; • Diabetes mellitus; • Câncer; • Hipertireoidismo; • Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA); • Bulimia nervosa. DSM-5, 2014 AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Anorexia nervosa Mortalidade • 0,56%/ano (a maior taxa de mortalidade dentre todos os distúrbios psiquiátricos). Principais Causas • Complicações cardiovasculares; • Insuficiência renal; • Suicídio. YAGER et al., 2000 AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Bulimia nervosa Conceito O termo bulimia deriva do grego: • Bous- boi; • Limeos- fome. Fome intensa, suficiente para devorar um “boi”. Sentimento de culpa e medo de engordar. CORDÁS & SALZANO, 2011 CID 10- Classificação Internacional de Doenças, 10ª edição - OMS DSM-5- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - APA (Associação Americana de Psiquiatria) Fonte: denisemoreirapsicologa.com CID 10: F-50.0 - DSM-5: 307.51 AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Bulimia nervosa Epidemiologia • Extremamente rara antes dos 12 anos; • O transtorno é característico das mulheres jovens e adolescentes, com prevalência de 1,1% a 4,2% neste grupo. Etiologia • Fatores de ordem biopsicossocial YAGER et al., 2000 AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Bulimia nervosa Critérios Diagnósticos DSM-5, 2014 Critérios Diagnósticos DSM-5 • Episódios recorrentes de compulsão alimentar (excesso alimentar + perda de controle) • Métodos compensatórios para prevenção de ganho de peso: indução de vômitos, uso de laxantes, diuréticos, enemas, jejum, exercícios excessivos ou outros • Frequência dos episódios compulsivos e compensatórios: em média pelo menos duas vezes/semana por três meses • Influência indevida do peso/forma corporal sobre a auto-avaliação Diagnóstico de AN ausente CID-10 • Episódios recorrentes de hiperfagia (duas vezes/semana por três meses). Preocupação persistente com o comer e desejo irresistível de comida • Uso de métodos compensatórios para neutralizar ingestão calórica: vômitos, abuso de laxantes, jejuns ou uso de drogas (anorexígenos, hormônios tireoidianos ou diuréticos)* • Medo de engordar que leva a busca de umpeso abaixo do limiar ótimo ou saudável *diabéticas podem negligenciar o tratamento insulínico (evitando a absorção da glicose sanguínea. DSM-5- modificação na frequência da compulsão alimentar uma vez/semana por três meses e exclusão dos subtipos AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Quadro Clínico • Massa corporal adequada; • Vômitos; • Erosão do esmalte dental com aumento das cáries dentárias; • Calos nas articulações dos dedos; • Hipertrofia das glândulas parótidas; • Manifestações clínicas: dor de garganta, esofagite, discreta; • Hematêmese, dores abdominais e hemorragia subconjuntival; • Queixas: culpa, depressão, ansiedade e digestão difícil. Bulimia nervosa SCHEBENDACH et al., 2010 Fonte: ptmedical AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Diagnóstico Diferencial • Anorexia nervosa, tipo compulsão alimentar purgativa; • Transtorno de compulsão alimentar; • Transtorno depressivo maior, com aspectos atípicos; • Transtorno da personalidade bordeline. Bulimia nervosa DSM-5, 2014 Fonte: abeso AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I • Alterações Metabólicas: hipercolesterolemia, hipoglicemia; • Alterações Hematológicas: anemia, leucopenia; • Alterações Hidroeletrolíticas: hipocalemia, hipomagnesemia, hiponatremia, hipofosfatemia; • Alterações Gastrointestinais: constipação, distensão abdominal, plenitude pós-prandial, esofagite, vômitos, pancreatite aguda; • Alterações Renais: azotemia pré-renal, cálculo renal, hematúria; • Alterações Físicas: lanugo; pele e cabelo (finos, secos e sem brilho); sinal de Russel; • Alterações Dentárias e Bucais: erosão dentária, hipertrofia bilateral das glândulas parótidas. Acessar Rev Bras Psiquiatr 2002; 24 (Supl III): 29-33 Complicações clínicas na anorexia nervosa e bulimia nervosa ASSUMPÇÃO & CABRAL, 2002 Fonte: ptmedical AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Critérios Diagnósticos Transtorno alimentar não especificado DSM-5, 2014 CID 10: F-50.9 - DSM-5: 307.5 AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Critérios Diagnósticos Transtorno de Compulsão Alimentar (TCA) DSM-5, 2014 CID 10: F-50.8 - DSM-5: 307.51 O TCA apresentado no DSM-IV como uma proposta para estudos adicionais, foi validado como diagnóstico no DSM-5 devido a sua utilidade clínica. DSM-5- modificação na frequência e duração da compulsão alimentar uma vez/semana por três meses. AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Nutrição comportamental http://www.nutricaocomportamental.com.br/ AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Avaliação antropométrica – anorexia nervosa Peso • O terapeuta nutricional deve construir junto com o paciente o conceito de peso saudável; • O peso é atingido naturalmente, em um processo de tentativa e erro; • Metas para ganho de peso: • 900 a 1300g/semana para pacientes de enfermaria; • 500 a 900g/semana para pacientes em internação parcial; • 200 a 450g/semana para pacientes de ambulatório. • Resposta individual: atividade física, uso de métodos purgativos, baixa ingestão de líquidos, baixo peso crônico, tipo de restrição alimentar, velocidade da perda de peso e aceitação da dieta. SCAGLIUSI, 2009 A recuperação do peso não indica recuperação total e forçar o ganho de peso sem suporte psicológico é desaconselhável. AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Recomendação nutricional- anorexia nervosa Calorias • Fase inicial: 30 a 40 kcal/kg/dia. Aumentar 300 a 400 Kcal a cada 24 a 48h; * Atenção a síndrome da realimentação* • Fase de manutenção de massa corporal: 40 a 60 kcal/kg/dia. SCAGLIUSI, 2009 Macronutrientes • Proteína: 15 a 20% do VET; • Carboidratos: 50 a 55% do VET; • Lipídios: 25 a 30% do VET. Micronutrientes • 100% da IDR de suplementos vitamínicos e minerais. VET- valor energético total, IDR- ingestão dietética recomendada AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Diário alimentar ALVARENGA et al., 2004 Data Hora O que comeu e quanto? Compulsivo? Purgação? Fome (0-10)? Satisfação? Duração? Onde/ com quem? Sentimento? AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Terapia nutricional - anorexia nervosa e bulimia nervosa Enteral • Via de acesso: usualmente por sonda nasoenteral; • Escolha da dieta: polimérica, isotônica, hipolipídica e isenta de fibras; • Técnica de infusão: contínua por bomba ou cíclica noturna; • Velocidade de infusão: iniciar a 20 mL/h e progredir para 40 mL/h até atingir o GET. SCHEBENDACH et al., 2010 Parenteral • Indicação: pacientes resistentes ao tratamento usual; • Velocidade de infusão: Iniciar a 25 mL/h; • Contraindicação: história recente de tentativa de suicídio. GET- gasto energético total Checar exames laboratoriais; progressão conforme tolerância AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I Tratamento farmacológico Appolinario JC & Bacaltchuk J, 2002 AN- Anorexia Nervosa, BN- Bulimia Nervosa, ISRS- Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina, ECR- Ensaio Clínico Randomizado AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I • O cuidado nutricional é componente fundamental do tratamento; • O terapeuta nutricional deve: • Ser flexível; • Ter amplo conhecimento da ciência da nutrição; • Ser experiente em transtornos alimentares; • Trabalhar de modo colaborativo e não controlador; • Ser paciente, cuidadoso, com atitude de não julgamento; • Ser otimista e esperançoso com relação à recuperação do paciente. Considerações finais AULA 8: TRANSTORNOS ALIMENTARES Fisiopatologia da nutrição e dietoterapia I ALVARENGA, M. Nutrição Comportamental. São Paulo: Editora Manole, 2015. Cap.: 16 (págs.: 381-412). APPOLINARIO, J. C.; BACALTCHUK, J. Tratamento Farmacológico dos Transtornos Alimentares. Rev. Bras. Psiquiatr. 2002; 24 (Supl III): 54-9. ASSUNÇÃO, C. L.; CABRAL, M. D. Complicações Clínicas da Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa. Rev. Bras. Psiquiatr. 2002; 24 (Supl III): 29-33. CUPPARI, L. Nutrição Clínica no Adulto. 3. ed. São Paulo: Editora Manole, 2009. Cap.: 18 (págs.: 455-470). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. DSM-5, 2014. WAITZBERG, D. L. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 2009. YAGER J.; ANDERSEN, A.; DEVLIN, M.; EGGER, H.; HERZOG, D.; MITCHELL, J. et al. Pratice guideline for the treatment of patients with eating disorders, 2000. Bibliografia complementar AVANCE PARA FINALIZAR A APRESENTAÇÃO. Assuntos da PRÓXIMA AULA Obesidade; Mudança de Estilo de Vida; Tratamento Farmacológico ; Cirurgia Bariátrica.
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