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RESUMO: KUNZ, Elenor. Transformação didático pedagógica do esporte. • Com o desenvolvimento de muitos trabalhos para a educação física escolar inserida nas propostas políticos-educacionais da tenência crítica da educação forma em grande parte apenas teóricos, não se conhecia propostas teórico práticas da realidade concreta escolar. • A partir dessa deficiência, Kunz desenvolve este livro em defesa da concepção crítico emancipatória da educação física escolar, cuja ênfase é dada no ensino dos esportes. UMA PEDAGOGIA CRITICO-EMANCIPATORIA E UMA DIDATICA CAMUNICATIVA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ➢ Análise da concepção de ensino e esportes nas novas propostas metodológicas para a educação física escolar • Nos anos 80 iniciou-se no Brasil, um período de crítica sobre a hegemonia e o modelo de esporte nas aulas de educação física. • Uma das críticas era fundamentada em modelos teóricos marxista, que viam no esporte um processo de alienação e reificação do homem que acontecia na sociedade. • Outra crítica questiona a precocidade do ensino de esportes para crianças das series iniciais. • Esta critica coincide com as discussões sobre obrigatoriedade da educação física em todos os níveis de ensino e a exigência de professores de educação física nas series iniciais. • Como a legislação da educação física emitida pelo MEC em 1980, proibia a introdução do aluno no aprendizado de esportes antes da 5ª série ou antes dos 10 anos forma-se a polemica. • Então se descobre a psicomotricidade que buscava a formação de habilidades básicas sem envolver os esportes. • A psicomotricidade buscava a formação integral através do ensino pelo movimento no processo educacional. • Mas segundo Bracht, “a tentativa do ensino pelo movimento se restringisse a instrumentalizar o movimento com vistas as tarefas fundamentais da escola”. • A diferença das duas críticas, era que a primeira criticava a educação física sem fornecer exemplos de mudanças na pratica, e a segunda, apresentou modelo alternativo sem criticas profundas, sobre o âmbito sociopolítico educacional. ➢ As mudanças didáticas em desenvolvimento • Em 1991 surge com referencia a pratica “educação física: ensino e mudanças” do Kunz; “concepções abertas de ensino de educação física” (Hildebrandt), que dizia que para ensinar os esportes aos alunos deve-se observar: as experiências anteriores as influencias e expectativas do esporte normatizado e clubístico; as condições da escola locais e materiais e a própria organização do ensino e da escola. • Ou seja, na pratica, o esporte passa por uma análise de sentido entre professores e alunos, desenvolvendo uma capacidade de agir pelo esporte. • Em 91, também surge o “Coletivo de autores”, onde é utilizado o conceito de cultura corporal. Isso, segundo KUNZ, “pode significar um velho dualismo corpo/mente na educação física”, pois se existe cultura corporal, pode existir também a cultura mental, cultura espiritual. • Não pode existir nenhuma atividade culturalmente produzida pelo homem que não seja corporal. O pensar é tão corporal quanto o correr. • Para o Coletivo de Autores, o esporte é uma pratica social de origem histórico- cultural definida. • Para o aluno, é necessário que ele desmistifique o esporte através de conhecimentos que permitam criticar esses esportes dentro de um contexto sociopolítico econômico cultural. • Além disso, capacitar os alunos para a compreensão de que a pratica esportiva deve ter significado de valores e normas que assegurem o direito a essa pratica. ➢ Da teoria Crítica a Teoria Instrumental • Em todas as sociedades, o esporte é um fenômeno muito importante. O Brasil faz parte da elite em vários esportes e isso gera influencia em nossa “cultura de movimento”. • Fazendo uma “análise de sentido” do esporte de rendimento, Kunz lembra seus princípios ou regras básicas: sobrepujança e comparações objetivas. • Como consequências imediatas desses princípios apresenta-se os processos de seleção, da especialização e da instrumentalização. • Outro fator influente no desenvolvimento do esporte de forma padronizada e normatizada é a organização do espaço físico (os locais e os materiais). • O esporte, produto cultural valorizado economicamente, tem a ciência com interesse tecnológico e de rendimento a sua disposição, e esquece sua dimensão social. • A participação no esporte de alta performance fica cada vez mais reduzida a atletas de elite, formando uma produção industrial de campeões. • Nas sociedades atuais com a modernização tecnológica, o homem passa a ser um alienado, um excluído pela automatização. • Assim, tem-se um tipo de pensamento que se efetiva na razão instrumental, ou seja, as relações sociais são norteadas para a razão instrumental tornando-se retificadas. • No esporte de alto nível, o homem é a própria máquina de rendimento. • Nesse processo de racionalização técnica do esporte, o movimento se reduz a ações padronizadas que se orientam em grandezas mensuráveis e abstratas. • O corpo é entendido unicamente com um instrumento e o movimento como funcionalidade técnica. • Assim, os aspectos no esporte que devem ser criticamente questionados são: rendimento representação (clube, escola, estadual); de tempo livre (as influencias); o comercio e consumo (seus efeitos). • Kunz questiona: sob quais condições e de que forma o esporte deve e pode ser praticado nas escolas? • O homem se desenvolve através de suas interesses, desejos e necessidades. Mas atualmente, interesses, desejos e necessidades podem ser formados ideologicamente. • Na educação de crianças, há sempre uma grande preocupação com o desenvolvimento da sua identidade: • Brostmann et al (1977) diz “Somente quando o Homem travar relações concretas com o seu Meio circundante, quando ele o consegue dominar e ao mesmo tempo se tornar capaz de manter em certos ‘limites’ com o mesmo, ele consegue alcançar e preservar sua identidade como pessoa madura” • Na sociedade brasileira, crianças devem aprender que todas as coisas têm uma função fixa e que para seu uso correto, há a necessidade de adquirir certos conhecimentos que só o especialista possui. • A aula de educação física é rica em um saber técnico e os professores são os especialistas. • Maraun (1986) diz “O mais significativo nas atividades humanas, não é mais aquilo que um sujeito na sua singularidade individual realiza, mas aquilo que é simples cópia ou aproximação de soluções encontradas por especialistas e aceito como correto por uma maioria. Formando, assim, o âmbito e os limites das experiencias realizadas com movimento e corpo”. • Enfim, interesses, desejos, convicções individuais são formados para os interesses do mercado consumidor, influenciados pelos meios de comunicação, pelos especialistas. • Quando grandes instancias formadoras de consciência ideologicamente falsa agem sobre o esporte, os praticantes podem ser iludidos sobre seus próprios interesses verdadeiros. • Segundo Marcuse e Adorno, as instâncias geradoras de ideologia de dominação conseguem formar nos indivíduos uma “segunda natureza”, formada pelos interesses, desejos e necessidades que não são resultado da natureza individual e social de cada um. • Interesses podem ser facilmente formados, e podem ser canalizados para interesses superficiais, ou menos necessários. • Para Geuss, interesses surgem de desejos e indivíduos que não estão sempre cientes dos seus anseio e desejos, por isso, o autor classifica o desejo em primeira e segunda ordens. • Sendo interesses resultado de desejos, estes também nem sempre estão conscientes nos indivíduos.• Indivíduos não tomam consciência de certas necessidades por terem formado um conjunto de interesses incompatíveis com a satisfação destas necessidades ou podem ter formado um conjunto de interesses inconsistentes. • É nesse sentido que Geuss fala de interesse “meramente aparente”, ou seja, quando os indivíduos estiverem enganados a respeito de seus interesses, estarão perseguindo interesses não verdadeiros. • Interesses verdadeiros são aqueles que em condições normais, os indivíduos têm a partir de um “conhecimento perfeito” desses interesses. • Nas relações praticas de ensino do esporte, Kunz visa não soo rendimento, mas também autonomia, interação social e competência objetiva na formação de sujeitos emancipados. • O fenômeno social do esporte, para poder ser transformado numa atividade de interesse real a todos os participantes, deve se compreendido na sua dimensão polissêmica, ou seja, segundo Brodtmann e Trebles: 1. Ter a capacidade de saber se colocar na situação de outros participantes no esporte, especialmente daqueles que não possuem aquelas devidas competências ou habilidades para a modalidade. 2. Ser capaz de visualizar componentes sociais que influenciam todas as ações socioculturais no campo esportivo. 3. Saber questionar o verdadeiro sentido e por intermédio dessa visão crítica poder avalia-lo. • E da mais alta importância, a competência comunicativa que lhes possibilita a comunicação, não apenas sobre o mundo dos esportes, mas para todo seu relacionamento com o mundo social, político, econômico e cultural. • A estrutura básica para o ensino dos esportes deve estar apoiada em 2 aspectos teóricos: • TEORIA CRÍTICA: pressupostos teóricos com base em critérios de uma ciência humana e social, ser positivista ou tecnológica, formam os alicerces do conhecimento para agir racional- comunicativo. • TEORIA INSTRUMENTAL: fornece os elementos específicos de uma pedagogia critico-emancipatória nas suas sequencias e nos seus procedimentos regrados. • Na dialética de interação entre teoria e pratica que se pode chegar a uma pedagogia para o ensino dos esportes. Como diz Marques (p.81): “Nem bastam apenas juízos críticos sobre as praticas realizadas, com o objetivo de aprender mais sobre elas e supera-las. Exige a condução das praticas algo mais, que delas se descole na abstração dos processos particulares em que se realizam, no sentido de uma reconstrução teórica delas, que supere o entendimento que delas se tem e lance bases para a construção dos conhecimentos em novo patamar teórico. ➢ Pedagogia critico emancipatória e didática comunicativa: um playdoyer para um projeto utópico no ensino dos esportes • Uma teoria pedagógica critico-emancipatória, precisa na pratica estar acompanhada de uma didática comunicativa, pois ela deverá fundamentar na função do esclarecimento e da prevalência racional de todo agir educacional. • Educação é sempre um processo onde se desenvolvam ações comunicativas. E para desenvolver a capacidade comunicativa temos um atributo que nos destaca do mundo dos animais como afirma Habermas: “o que eleva acima da natureza é a única coisa que podemos conhecer de acordo com sua própria natureza: a linguagem. Através de sua estrutura coloca-se para nós a maioridade”. • E defini: “Ações Comunicativas como uma interação simbolicamente mediada. Ela se orienta em normas obrigatoriamente validas, que definem as expectativas reciprocas de conduta e que devem ser compreendidas e reconhecidas por no mínimo dois sujeitos agentes” (p.62). • Habermas defino racionalidade como uma disposição que sujeitos cm capacidade de agir e falar apresentam. Ela se manifesta em diferentes formas de comportamentos, para os quais sempre encontram bons motivos. • “Isto significa, que toda expressão racional pode ter acesso a uma avaliação objetiva. Isto atinge a todas as expressões simbólicas que, no mínimo implicitamente, tenham vinculo com pretensões de validade (ou com reinvindicações que numa relação interna, se coloca para uma pretensão de validade criticável). Cada avaliação explicita de pretensões de validade controvertidas, requer a forma exigente de uma comunicação, que satisfaz as condições de argumentação” (p.44). • Maioridade ou emancipação devem ser colocados como tarefa fundamental da educação. • Isso implica num processo de esclarecimento racional e se estabelece num processo comunicativo. • Sobre esse esclarecimento, Kant afirma: “Esclarecimento é a saída, a libertação do homem de seu estado de menoridade intelectual voluntária. Menoridade intelectual é essa falta de poder ou capacidade do homem para agir racionalmente sem a ajuda ou a orientação de alguém. E ela é voluntaria (auto imposta) quando os motivos dessa menoridade não estão na ausência da razão, mas na falta de determinação e coragem em utilizar a razão, sem a intervenção norteadora de outra pessoa.” “A preguiça e a covardia, causas de outo imposição por parte do homem no estado de menoridade, permitem a produção dos privilegiamentos de ‘tutores’ e de todos aqueles que assumirem a realização da alta vigilância sobre os que não alcançaram a maioridade (...) é tão cômodo permanecer na menoridade.” • Essa situação se agravou nas sociedades atuais, especialistas nos jovens. Embora possamos dizer que o jovem é mais independente, isso só se verifica na dependência física da família. • No plano intelectual, sofrem muitas influencia externas de tutores para qualquer tipo de decisão. • Portanto, Kunz chama de emancipação, o processo de libertar o jovem das condições que limitam o uso da razão critica. • O uso da razão critica é a capacidade de avaliação e analise intersubjetiva das condições de racionalidade. • Para Horkheimer, Adorno e Habermas, segundo a síntese de Geuss, emancipação e esclarecimento se referem a uma transição social de um estado inicial a um estado final, a qual tem as seguintes propriedades: o “O estado inicial apresenta tanta falsa consciência e erro, quanto ‘existência sem liberdade’. o No estado inicial, falsa consciência e existência sem liberdade estão intimamente ligadas, de modo que os agentes só podem ser libertos de uma situação se eles também forem ao mesmo tempo libertos da outra. o A ‘existência sem liberdade’ de que padecem os agentes no estado inicial é uma coerção cujo “poder” ou “objetividade” deva-se apenas do fato de que os agentes não percebem que é auto imposta. o Estado final é aquele em que os agentes estão livres de falsa consciência – eles foram esclarecidos – e livres da coerção auto imposta – eles foram emancipados”. • O estado inicial é essa falsa consciência de que o modelo do esporte de rendimento é adequado para todo mundo. • A sujeição as suas exigências e pré-condição física e técnicas, torna-se uma coerção “auto imposta”. • E pelas limitadas possibilidades alternativas e criativas propicia uma “existência sem liberdade”. • Os professores de educação física também não percebem o poder dessa falsa consciência e da coerção auto imposta. • Para Habermas, devemos agir através do conceito da autorreflexão. A emancipação só será possível quando os agentes sociais, pelo esclarecimento, reconhecem a origem e os determinantes da dominação. • Assim, um processo de aprendizagem pela autorreflexão deve corresponder ao interesse emancipatório do conhecimento pela remoção da repressão e pela dissolução da falsa consciência. • Geuss resume em 3 enunciados onde o conceito de autorreflexão se apresenta em Habermas: o A autorreflexão ‘dissolve: ▪ A objetividade autogerada ▪ A ilusão objetiva o A autorreflexão torna o sujeitocônscio de sua própria gênese ou origem. o A autorreflexão opera ao trazer a consciência os determinantes inconscientes da ação ou da consciência (1998, p.100-101) • Compreender o esporte no seus múltiplos significados para nele poder agir com autonomia e liberdade exige, além da capacidade objetiva de saber praticar o esporte, a capacidade de interação social e comunicativa. • Implica dizer que o esporte na escola não deve ser apenas praticado, mas estudado, ou seja, além do trabalho produtivo das habilidades e técnicas, considerar também a interação social, valorizando o trabalho coletivo de forma responsável, cooperativa e participativa. • Quando este processo se desenvolve através da didática comunicativa, considerar também a linguagem, não apenas a verbal, mas todo o “ser corporal” se torna a linguagem do “se movimentar” enquanto diálogo com o mundo. • Pelo trabalho, o ensino segue um processo racionalmente sistematizado para alcançar a melhor performance física e técnica. Isso requer um entendimento dos alunos entre si e com o professor, pressupondo a interação social. O ensino deve capacitar os alunos para um agir solidário, com autodeterminação e Co determinação, isso não acontece sem a participação da linguagem. • Linguagem é esta “mediação simbólica” (Habermas), nas ações comunicativas de pelo menos dois agentes em busca de entendimentos racionais. • Mayer diz: “é a competência linguística que nos permite pensar sobre Deus e o mundo, como sobre nós mesmos”. • Kunz adapta um esquema de Mayer, que apresenta as três categorias relacionadas com a constituição de um processo de ensino. • Para Mayer, as três categorias formam a mediação de conteúdos entre os alunos enquanto sujeitos em desenvolvimento e a realidade do mundo. O sujeito aprende a se desenvolve, mas também o mundo se transforma. • O ensino que se concentra em apenas uma categoria, torna-se uma “redução de complexidade” (Luhmann), e trará consequências ao futuro do educando. • O conteúdo do ensino dos esportes não pode ser apenas prático. A realidade do esporte deve ser problematizada. • Não se pretende um ensino exclusivamente fechado, nem aberto, mas em um abrir e fechar de suas relações metodológicas. ➢ A competência objetiva, social e comunicativa. • O processo de ensino pelas três categorias deve conduzir ao desenvolvimento da competência objetiva, social e comunicativa. • COMPETENCIA OBJETIVA: aluno precisa receber conhecimentos e informações, treinar destrezas e técnicas racionais, aprender certas estratégias, ou seja, se qualificar. • COMPETENCIA SOCIAL: o aluno precisa entender as relações socioculturais do contexto em que vive, dos problemas e contradições dessas relações, os diferentes papeis na sociedade, discutir as diferenças e tipos de discriminações, ou seja, contribuir para um agir solidário e cooperativo e compreender os diferentes papeis sociais no esporte. • COMPETENCIA COMUNICATIVA: aluno precisa se comunicar através do seu se-movimentar e também através da linguagem verbal para seu desenvolvimento. • Giroux e Mclaren dizem: “nossa subjetividade é estruturada e construída pela linguagem, através do jogo dos discursos e de posições de sujeito que consentimos em assumir”. • Merleau Ponty diz: “é o próprio exercício da palavra que se aprende a compreender. • O aluno deve ser orientado para passar do nível da “fala comum” sobre fatos e fenômenos para o nível de discurso. • Para Habermas discurso teórico é a instancia onde experiencias negativas podem ser discutidas, onde por uma forma de argumentação as “pretensões de validade” de caráter contravertido podem ser tematizadas. • E discurso pratico, a instancia em que hipoteticamente podem ser avaliadas se uma norma do agir, seja ela reconhecida factualmente ou não, pode ser justificada de forma aleatória, ou seja, uma forma de argumentação onde pretensões para a correção ou a retidão moral podem ser tematizadas. • Marques, a partir de McCarthy, desenvolve a compreensão dos discursos de acordo com a característica da linguagem: “a linguagem caracteriza-se como confluência da criatividade, da objetividade e da intersubjetividade e por ela se reconstroem as relações externas e de vez para sempre, mas como pretensões de validade. Além da pretensão de compreensibilidade, ou inteligibilidade, garantida pela gramatica da língua, o caráter performativo da linguagem deve cumprir as condições de aceitabilidade, ao exigir que nela se cumpram três outras pretensões de validade: o A pretensão de verdade, a medida que se refere ao mundo das objetivações e dos fatos enunciados ou ao mundo das objetivações e dos fatores enunciados ou ao mundo das pressuposições existenciais. o A pretensão de veracidade, ou de sinceridade, a medida que expressa a subjetividade do falante, suas intenções e sua maneira de expressar-se, sua capacidade de abertamente expor-se. o A pretensão de retidão moral, correção ou adequação, n oque se refere as relações interpessoais, aos valores e normas compartidas, a reciprocidade das expectativas, a transparência das intenções. • A competência comunicativa devera oportunizar ao aluno, através da linguagem, entender criticamente o fenômeno esportivo, como o próprio mundo, “com a consciência da codificação cultural e da produção ideológica nas varias dimensões da vida social”, acrescentam Giroux e Mclaren. • Para Habermas, segundo Aragão: “a emancipação objetiva das formas de dominação, num dado contexto histórico, só é possível, se se postula uma capacidade de aprendizagem por parte dos indivíduos que, através da pratica comunicativa, pode ser ampliada as sociedades como um todo e que, partilhada coletivamente, forma um potencial cognitivo disponível para enfrentar os desafios evolutivos” (1992. p. 72). • A forma de saber que leva a emancipação é um saber critico que tem origem no mundo vivido dos sujeitos passando pelo desenvolvimento de um saber elaborado pelo processo interativo e comunicativo num contexto livre de coerção. • É problemático para o contexto educacional, desenvolver um processo de ensino sem coerção. Sempre há espaço em que a comunicação humana é utilizada para a formação de falsas consciências, ou “comunicação distorcida” como diz Habermas. • Na pratica, o esporte pode ser pros jovens altamente coercitivo (obrigatório), pode ser considerado um “massacre corporal” e mesmo assim, ser considerado in questionável por eles. • Embora opressor, o esporte escolar nunca deve impossibilitar a própria critica, embora a libertação do processo opressor presente no esporte não seja nada fácil, como lembra Eagleton, apresentado por Pellanda: “O mais eficiente opressor é aquele que convence seus subordinados a amar, a desejar e a se identificar com o seu poder, e, qualquer pratica de emancipação, portanto, envolve aquilo que é mais difícil entre todas as formas de libertação, liberar nos mesmos de nós mesmos” (1993, p.238). EXCURSO: AS DIMENSÕES INUMANAS DO ESPORTE DE RENDIMENTO • Kunz faz uma análise reflexiva de dois problemas relacionados ao treinamento desportivo na atualidade: o Treinamento especializado precoce; o Doping ➢ Treinamento especializado precoce • Crianças antes da fase pubertária, são introduzidas a um processo de treinamento planejado de longo prazo e que se efetiva em três sessões semanais, com objetivo de aumento de rendimento e participação em competições. • Os maiores problemas do treino precoce são: o Formação escolar deficiente (carreira é prioridade) o Desenvolvimento unilateral que deveria ser plural; o Redução da participaçãoem brincadeiras e jogos; o Própria saúde física e psíquica. • Nenhuma criança optaria por si só, treinar com objetivos de arrancar resultados melhores em menos tempo (Kunz chama isto de “princípio da racionalidade irracional” do esporte). • Segundo Nitsch apud Dusenberg: “são certamente as crianças que mais facilmente são influenciadas dependentes e elásticas o suficientes para participar, e ainda com alegria, neste tipo de esporte. • A Alemanha em 1983, elabora um documento relacionado ao problema da criança no treinamento esportivo. O objetivo era atingir os técnicos e professores do treinamento infantil apresentando os aspectos positivos do treinamento infantil. o O fomento ao desenvolvimento corporal, psíquico e social. o A transmissão de experiencias e medos que fomentam a autoavaliação e o reconhecimento de capacidades individuais próprias, assim como, a influencia positiva sobre sua autoimagem e concepção de vida. o Permitir vivencias coletivas e estimular a atuação social. o Ampliar o horizonte de vivencias e experiencias enquanto atividades de tempo livre. • Um problema é que os incentivadores desses aspectos positivos no treinamento para crianças “esquecem” os determinantes sociopolíticos e econômicos. • Os rendimentos financeiros esportivos atingido a cada dia que passa, atletas mais jovens. E para conseguir bons patrocínios, o atleta tem que estar no ranking dos melhores independentemente de sua saúde. • Portanto, os que buscam mostrar os aspectos positivos da pratica do esporte de rendimento para crianças, na verdade concentram seus esforços em salvar o esporte do que salvar a criança que o pratica. ➢ o doping no esporte de rendimento • Treutlein apresenta que no alto rendimento registrou-se o uso do asteroide anabólico pela primeira vez na década de 60 por atletas americanos. • Em 1988, Ben Johnson foi flagrado com substancia proibitiva, mas na verdade não foi um “achado” e sim uma seleção (bode expiatório) para servir de exemplo aos que vinham abusando do uso de asteroides. • O doping tem encontrado defensores. Eles defendem o uso controlado de meios auxiliares para ganhar rendimento, pelo simples fato do esporte ser uma mercadoria supervalorizada. • Limpar o esporte, afetaria os rendimentos e a consequente desvalorização da mercadoria. • E no Brasil? Alguns perguntas a se responder... o Como as pesquisas poderiam priorizar resultados esportivos mais seguros na infância? o Como realizar uma investigação sobre as possibilidades de um se- movimentar livre das crianças, principalmente nas áreas urbanas? o Qual a responsabilidade socio educacional no encaminhamento de alunos para esporte de rendimento? O FENÔMENO ESPORTIVO ENQUANTO REALIDADE EDUCACIONAL • O conceito de esporte vinculado à educação física é um conceito restrito, pois se refere apenas ao esporte de alto rendimento. • Este conceito fica reforçado através dos meios de comunicação que colocam o esporte espetáculo (rendimento) como único tipo de esporte transmitido. • Segundo Souza, a influencia do esporte na educação física se manifesta de três formas: o Ampliação do consumo da mercadoria esporte espetáculo e de outras mercadorias paralelas. o Ampliação das possibilidades de descoberta de valores (novos esportistas). o Propagação de valores e normas de comportamento relativos ao mundo das mercadorias. • Andar de bicicleta, caminhar, fazer ginástica, dançar, brincar... não podem também ser entendidos como esportes? Se afirmativo, temos um conceito amplo de esporte. • Baseando-se em Habermas podemos distinguir esporte enquanto mundo vivido e esporte enquanto sistema. • O saber que possuímos para toda e qualquer espécie de entendimento nas relações sociais, culturais e esportivas, e que não se encontra a todo instante de forma consciente, mas fica as nossas costas como um pano de fundo histórico, constitui o mundo vivido. • Para sistema vale a racionalização e a complexificação objetiva do mundo que se relaciona especialmente ao trabalho, em que o principal objetivo é alcançar sucesso através da razão teleológica, ou seja, através de ações racionais com relações a fins. • Na relação do mundo vivido enquanto mundo de movimento, compreendemos a importância do se-movimentar do homem na constituição de uma relação muito especial de homem-mundo. • Assim, moradia e vivencia social são, enquanto determinantes na compreensão de ser humano e movimento, muito mais importantes que o esporte de rendimento, que corporifica o sistema. • Trebels faz uma diferenciação entre um “movimento” e um “se-movimentar”. “em princípio, o individuo em seu se-movimentar e o mundo dos movimentos experimentados se envolvem de tal forma, que o mundo e os objetivos se tornam um “para fazer algo”: para correr, saltar, nadar, etc. ao mesmo tempo em que o indivíduo realiza a experiencia do “eu posso” (ou de acordo com a idade do não posso mais). Nisso, o mundo, em função da relacionalidade intencional do indivíduo, em seu se-movimentar, passa a ser um mundo do correr, saltar ou nadar (TREBELS, 1992, p.339). • Os estudos existentes sobre o tema esportes referem sempre ao seu sentido restrito, mas esporte analisado na perspectiva critico-emancipatória deve fornecer uma compreensão ampla enquanto fenômeno sociocultural e histórico sobre as todas as manifestações que deram origem a muitas modalidades esportivas. • O objeto de estudo deve se concentrar mais sobre todas as formas de manifestação humana e de forma contextualizada, em que ser humano e movimento são relevantes tanto ao agir e pensar como para as relações entre os próprios homens. • Mas, segundo Dietrich e Landau, somente nas situações em que o se-movimentar se configura como relação de experiencia sociocultural com o meio, de forma relevante para o desenvolvimento do ser humano, podem-se considerar atendidos os critérios para uma realidade pedagógica do esporte. • A educação física deve estudar o homem que se movimenta, relacionado a todas as formas de manifestação deste se-movimentar, tanto no campo dos esportes sistematizados, como no mundo do movimento, no mundo vivido, que não abrange o sistema esportivo, ou seja, na família, no trabalho, onde vive... • Assim, para Dietrich e Landau, “tudo isto podemos definir, como a cultura de movimento”. • Para que o conceito amplo de esporte, no mundo vivido, possa ser melhor tematizado na educação física, Dietrich e Landau apresentam uma forma de trabalho a partir da encenação (termo emprestado do teatro). • Assim como no teatro, no esporte há papeis predeterminados, regras, o desempenho dos papeis depende de um texto em que a abordagem e as ações são rigidamente estabelecidas, especialmente nas representações oficiais. • As encenações do esporte poderiam auxiliar em: o Compreender melhor o fenômeno esportivo. o Avaliar e entender as mudanças históricas do mesmo. o Possibilitar o desenvolvimento de diferentes encenações do mesmo e sua evolução histórica. o Possibilitar vivencias de diferentes encenações e a interpretação de diferentes papeis. o Entender o papel do espectador. o Conhecer o mundo dos esportes que é encenado para atender os critérios e os interesses do mercado. • A encenação do esporte ocorre no plano do trabalho da interação social e da linguagem. • TRABALHO: utilização de um espaço físico e material predeterminado e pelo cumprimento de um programa preestabelecido. • INTERAÇÃO: participação de certo numero de pessoas que se concentram num mesmo tema. • LINGUAGEM: ligação entre trabalho e interação e permite que as encenações aconteçam em nívelracional de entendimento e atendam a interesses da educação e ao desenvolvimento de todos. • Enfim, o máximo que a educação física pode fazer, é tematizar criticamente os problemas inerentes ao esporte de alto rendimento, seus princípios e sua comercialização. ➢ O esporte enquanto objeto de ensino com finalidades educacionais • Definindo o conceito de educação, Bernfeld conforme Dietrich e Landau, considera que dois fatores são precondições para a educação: o FATOR BIOLOGICO: crianças não nascem prontas crianças não nascem prontas, elas devem se desenvolver, e deve haver um encaminhamento para o desenvolvimento. o FATOR SOCIAL: o desenvolvimento infantil ocorre numa sociedade de adultos. • Segundo Dietrich e Landau, educação é a soma das reações de uma sociedade sobre o fator de desenvolvimento. • A encenação pedagógica do esporte acontece onde o esporte é encenado com uma intencionalidade pedagógica independente do lugar que acontece, podendo ser na escola, num clube, num parque. • O professor deve propiciar uma compreensão critica das encenações esportivas, através das situações de um “agir comunicativo” • Permitir apenas o desenvolvimento de formas de encenação do esporte que são pedagogicamente relevantes, para isso, devemos partir dos elementos determinantes do sentido/significado da encenação do esporte para os diferentes contextos e considerar: o O sujeito, o ator ou atores, da encenação esportiva: de acordo com as suas vivencias e experiencias de corpo e movimento. o O mundo do movimento e dos esportes pela encenação precisa ser criticamente compreendido. o As diferentes modalidades de encenações do esporte no sentido histórico sociocultural. o O sentido/significado como determinação normativa que indica “as pretensões de validade” para cada encenação esportiva. • Alguns aspectos relevantes para o trabalho da educação física escolar numa perspectiva problematizadora do ensino: o Evidenciar e esclarecer o problema básico na encenação do esporte. o Destacar a importância das situações de encenação e seu significado individual e coletivo. o Favorecer a responsabilidade individual e coletiva no processo de encenação do esporte. o Aceitar diferentes soluções para diferentes situações de encenação. o Orientar-se nas vivencias e experiencias subjetivas dos participantes, para problematizar sempre novas situações. • Uma concepção de ensino orientada pela pedagogia critico-emancipatória e que se explicita na pratica pela didática comunicativa, privilegia, pelos planos do agir para o trabalho, para a interação e para a linguagem, os três atributos máximos da capacidade heurística humana: saber-fazer; saber-pensar; saber-sentir. O ESTUDO DO MOVIMENTO HUMANO ➢ As diferentes interpretações do movimento humano • Segundo Gohner, em torno do “movendum”, ou seja, do objeto/corpo em movimento, existe sempre uma base de referencia na qual, para o caso dos esportes, podem ser destacados os atributos do próprio “movendum”, os objetivos do movimento, os atributos do produtor do movimento, as condições do meio ou do contexto e as próprias regras preestabelecidas para o movimento intencionado. • O objeto em movimento são as bolas, discos, flechas, peso. • Dessa maneira Gohner, a análise do movimento não leva em consideração, o sentido/significado do movimento fora do sentido da melhoria do rendimento e da vitória. • Segundo Buytendjik, embora se tenham bolas e objetos simultaneamente em movimento, deve ser observada sempre a seguinte base referencial: o sujeito que se movimenta; a situação ou contexto em que o movimento se realiza; e o significado ou o sentido desse movimento. • Trebels amplia e discute essa base referencial na perspectiva do sentido/significado do se-movimentar humano no esporte. • Trebels destaca quatro elementos na sua análise e como exemplo usa saltar da ginastica. • Num trabalho de intencionalidade emancipatória, devemos ampliar esta reflexão do movimento enquanto “dialogo entre homem e mundo”, ou seja, ampliar a concepção do se-movimentar enquanto acontecimento fenomenológico relacional, ou melhor, como relação intencional de ações significativas. ➢ O interesse na análise do movimento dos esportes • A grande evolução do esporte moderno se deve ao progresso cientifico e tecnológico juntamente com o avanço dos meios de comunicação, cujo interesse, é no aperfeiçoamento do gesto para a melhora no rendimento esportivo. • Para muitos, o esporte é a manifestação mais característica da evolução das sociedades industriais, da ciência e da tecnologia. • Para Krocokw, conforme Fritsch, o esporte conseguir expressar melhor o princípio da concorrência e do rendimento do que as sociedades industriais, cujo modelo cópia. • As universidades brasileiras formam especialistas em educação física, preparados para as tecnologias modernas, mas leigos no exercício da profissão de professor de educação física escolar. Não conseguem entender que uma pista de atletismo também serve para andar de bicicleta, de skate, uma bola de vôlei pode ser chutada. • O mundo de movimentos e jogos fica cada vez mais condicionado a locais e materiais padronizados e que predeterminam as possibilidades de uso. Essa padronização quase sempre segue os interesses do sistema esportivo (quadras e campos. • Portanto, o interesse do movimento no esporte é o produto final alcançado pela realização deste movimento a partir de objetivos e de regras preestabelecidas. • A rigidez na execução do movimento em conjunto com a padronização dos locais, permite o controle e a organização das atividades pelo princípio máximo que orienta este movimento: melhora de rendimentos e habilidades para competir. • Então, o ensino dos movimentos esportivos de competição, para servirem com finalidades pedagógicas, deve-se acontecer uma transformação didático- pedagógica nos seus elementos, como os movimentos padronizados e as regras preestabelecidas. ➢ O interesse na analise do movimento na aprendizagem motora • O interesse se orienta na aprendizagem das mais eficientes formas do movimento ou das diferentes operações motoras praticadas. • No ensino-aprendizagem dos movimentos, é necessário um conhecimento do desenvolvimento destes movimentos em dois níveis: o PERSPECTIVA INTERIOR: quem realiza os movimentos. o PERPECTIVA EXTERIOR: o resultado dos movimentos realizados. • A aprendizagem na perspectiva interna se reduz ao desenvolvimento de capacidades motoras nas dimensões cognitivas, motoras e socio afetivas, cujo destaque são: o Reação o Adaptação o Condução o Orientação o Combinação • Estas capacidades abrangem habilidades motoras amplas e finas; simples e complexas; abertas e fechadas. • O motivo do reconhecimento das três dimensões é que elas influenciam a perspectiva externa da realização dos movimentos. • Grande ênfase é dada a dimensão perceptivo-cognitiva e quem transparece uma visão de ser humano com elevada capacidade de colher e reter informações do meio circundante, pois o se-movimentar passa por um esquema de processamento especifico, a partir de informações já guardadas na memória. • Tani define movimento humano como um “deslocamento do corpo e membros produzidos como consequência do padrão espacial e temporal da contração muscular” e considera “a perspectiva externa do movimento é observável e mensurável, mas que esta é um resultado do processo interno concentradono sistema nervoso”. • As informações são recebidas do meio circundante, pelos órgãos dos sentido e encaminhadas a um sistema de processamento de informações (sistema nervoso central), onde as informações são organizadas e classificadas para só então emitir numa resposta imediata ou guardar na memória. • A imagem de ser humano na aprendizagem motora, então é a de uma maquina (corpo substancial), mais ampla e complexa, do motor passamos ao computador. • Resumindo, o interesse da aprendizagem motora no estudo do movimento humano se concentra em: o Estudar o movimento humano enquanto conduta ou ação humana. o Analisar as possibilidades de otimizar o rendimento motor. o Aproveitar os conhecimentos anteriores para a melhoria da performance em todas as dimensões. • A aprendizagem motora tem uma reduzida visão de homem-mundo, mas na pratica apresenta excelente resultados nas atividades e assim pode aumentar o prazer para o se-movimentar. • Uma apropriação critica destes princípios faz com que os alunos possam perceber possibilidades de mudanças nas regras do jogos social, e assim contribuir para o desenvolvimento de valores mais humanos, individuais e coletivos. ➢ O interesse na analise do movimento na dança • O movimento humano se apresenta numa perspectiva de muito mais de expressão e vivencia do que pela padronização • A tendência a esportivização da dança avança à medida que ela adquire espaço na forma competitiva. • O interesse na análise da dança é pelo sujeito e seu mundo subjetivo. • A caracterização da dança é a constante busca de alegria e prazer proporcionado por movimentos ritmados e compassados, desenvolvendo de forma criativa funções mimicas e pantomímicas. • De acordo com Buytendijk, expressão e vivencia significa a revelação do mundo interior do homem. • Permite ao ser humano um retorno a sensibilidade ao belo e a própria vida, que o processo civilizatório tem sufocado no homem, ou seja, um ser humano mais emocional-afetivo do que intelectual-racional. • Como diz Garaudi, toda dança implica participação: mesmo quando ela é espetáculo, não é apenas com os olhos que a acompanhamos, mas com os movimentos esboçados de nosso próprio corpo. • A racionalidade que modela o pensar, o sentir e o agir do homem nas sociedades modernas afasta-o da “unidade primordial de homem-mundo” de Merleau-Ponty. ➢ O interesse na analise do movimento pelas atividades lúdicas: brinquedo e jogo • As análises criticas a partir de um contexto sociocultural e histórico, contestam o crescente processo de homogeneização dos movimentos, dos brinquedos, dos jogos. • Segundo Marcelino, esse processo se verifica pelo furto e desrespeito em relação a cultura do lazer na infância, e segundo Benjamin, pela indústria cultural do brinquedo. • Na homogeneização do mundo do brinquedo jogo, além do interesse econômico, há um interesse no controle social, ou seja, na submissão e obediência da criança. • O brincar criativo, simbólico e imaginário da criança está perto de desaparecer, e o responsável por isso, é a mercadorização e padronização dos brinquedos e a influência das mídias. • Responsáveis também por uma socialização especifica para os sexos, ou seja, brinquedo de menino e brinquedo de menina, e a escola também ajudando nessa separação. • Para analisar os interesses pelo movimento das atividades lúdicas destaca-se dois momentos: o Interesse dos praticantes (criança e adultos) o Interesse dos estudiosos (pesquisadores) • Para as crianças, o brincar é a própria vida, já para o adulto, o brincar é um contraste ao trabalho, mas para ambos, o brincar sempre se relaciona com a cultura de movimento hegemônico de sua sociedade. • Nos estudos e pesquisas do brinquedo, existe variadas formas de análise, destacando-se estudos sociológicos, psicológicos, pedagógicos, filosóficos, antropológicos. • Na educação física, professores buscam mais a análise do rendimento, em vez de um maior interesse no sentido/significado do brinquedo para essa criança. • Segundo Gruppe, um agir livre e espontâneo que se manifesta na brincadeira e no jogo, através de impulsos vitais do ser humano, significa uma “existência em movimento” • Ainda de acordo com Gruppe, “desenvolver a essência do brincar/jogar é desenvolver a essência do homem. • Segundo Schiller, a sua essência motivacional para o movimento são situações existenciais e sua constante busca é o prazer estético. • Oportunizar á criança a chance de vivenciar experiencias bem-sucedidas de vida, sem ser obrigatórias, é contribuir com a possibilidade da formação de indivíduos críticos e emancipados. • “preparação para o futuro e alegria no presente são duas funções que deveriam ser complementares, caso nenhuma tentasse obliterar a outra (...) Para crescer harmoniosamente, a criança precisa munir-se de alegria do presente” (Snyders, 1993) • Da frase de Schiller, de que o ser humano somente é totalmente humano quando brinca, Gruppe acrescenta, que o ser humano somente pode ser totalmente humano, quando for “livre para brincar”. • Finalizando, o interesse da análise do movimento nas atividades lúdicas se concentra no desenvolvimento e interpretação dos diferentes sentidos/significados do movimento, do brinquedo e do jogo, assim como nas funções comunicativas, expressivas, explorativas e criativas. ➢ O interesse pedagógico-educacional no movimento humano • Nenhuma das interpretações do movimento e seus interesses anteriormente falados, podem ser eliminados dos interesses pedagógicos contanto que os condicionantes histórico-culturais sejam esclarecidos e mudanças no sentido/significado do movimento seja, visibilizados. • Nas interpretações anteriores, constatou-se o desinteresse pelo sujeito do movimento e uma instrumentalização do movimento e sua utilização funcional como resumimos na tabela a seguir: • A hegemonia (domínio de uma determinada classe), produz resultados de pesquisas científicas de acordo com seus interesses, desprezando condicionantes histórico-culturais e qualquer tipo de crítica. • Por exemplo, em estudos de biomecânica, produz-se gestos técnicos e padronizados, sem um sentido/significado individual ou coletivo. • Esse tipo de conhecimento não precisa ser totalmente impedido na educação física escolar, basta que seja usado na perspectiva de sujeitos constituintes de um real objetivo e subjetivo, onde se respeita a subjetividade crítica e as possibilidades dos sujeitos se pensarem como autores de suas próprias vidas e de seu mundo. • Atuando com uma cultura hegemônica como o esporte, é possível que pelo esclarecimento crítico e pela transformação didático pedagógica de elementos autoritários, a promoção de subjetividades críticas e emancipadas possa ser alcançada. • A educação física deveria se interessar pelo mundo fenomenológico dos movimento, onde o movimento é compreendido na sua apresentação natural em contraste com o mundo objetivo dos movimentos, onde ele se apresenta como artificial e fragmentado. • A interpretação natural se configura no fazer e não segue “leis naturais” embora possa ser culturalmente condicionada. A forma como caminhamos, dançamos, ou corremos identifica nossa cultua do movimento. • No mundo objetivo, uma pedra em queda livre e um corpo humano que cai tem o mesmo valor e interesse (nas grandezas física dos objetos). • No mundo fenomenológico, movimentos como descer uma escada são naturais, pois não há nenhum interesse (colocar o pé num determinado ângulo), a pessoa simplesmente desce. • O se-movimentar do homem é sempre um acontecimento fenomenológicorelacional, uma relação intencional de ações significativas. • O significado/sentido nessa relação dialógica é constituído na relação homem- mundo e se localiza na mediação entre sujeitos e objetos. • Há uma diferença fundamental entre um movimento esclarecido, onde este movimento é possível de ser apreendido por um sistema constituído pelas unidades de tempo e espaço e um se-movimentar quando as referencias a serem observadas são, segundo Trebels: o Que o movimento é uma ação de um sujeito. o Que o movimento é sempre uma ação vinculada a uma determinada situação. o Que o movimento é uma ação relacionada a um significado. • Mas na realidade pratica, essa diferença não acontece, ou seja, também no ensino mais fechado de uma destreza técnica, acontece um se-movimentar. • O que se pretende mostrar é a limitação que existe no estudo do movimento humano desenvolvido na perspectiva do objetivo em deslocamento. • Na concepção critico-emancipatória, o interesse maior deve ser uma compreensão ampla do se-movimentar humano e das possibilidades educacionais pelo ensino deste. OS INTERESSES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO DO MOVIMENTO • Kunz considera quatro concepções básicas da educação física: o Biológico-funcional. ▪ Prioriza o exercício físico. ▪ A função é o condicionante físico dos alunos. ▪ Atividades sistemáticas e metódicas. ▪ Interesse dos profissionais é a transmissão da quantidade e da qualidade de exercícios físicos de acordo com a idade e sexo. ▪ Promoção da saúde. o Formativo-recreativa. ▪ Função de contribuir na formação da personalidade e de habilidade motoras. ▪ O interesse dos profissionais é desenvolver atividades coletivas de movimentos e jogos. ▪ Evitar a competição e o treino, priorizando prazer e espontaneidade. o Técnico-esportiva. ▪ Contribui com o sistema esportivo no sentido de descoberta do talento esportivo ▪ O interesse dos profissionais é orientado para o auto rendimento esportivo. o Crítico-emancipatório. ▪ Tem como objetivos, o desenvolvimento de competências como autonomia, a competência social e a competência objetiva. ▪ Não se elimina o interesse no movimento que é especifico do esporte, da dança, da aprendizagem motora, dos jogos, porém, o desenvolvimento das três competência precede a decisão dos temas e dos métodos de ensino. ▪ Quando um livre, espontâneo expressar-se pelo movimento, ou quando o movimento adquire uma linguagem que se expressa por signos diferentes da linguagem verbal, descobriu-se manifestações possíveis por essa linguagem de movimento enquanto dialogo homem-mundo. ➢ O objetivo fator subjetividade • Pra que o fator subjetividade no ensino de movimentos seja considerado, é necessário que o ensino se concentre no se-movimentar humano e não sobre os movimentos. • Gualtari e Rolnik dizem: “subjetividade é sempre social, e assumida e vivida por indivíduos com sua existência particulares”. • Mesmo reconhecendo as determinações sociais sobre a subjetividade, em determinadas vivencias há algo de singular, aquilo que só a pessoa viveu. • A subjetividade pode ser entendida assim, um processo que o homem se desenvolve numa relação tensa entre um “ser social” e um “ser individual”. • Neste sentido, os indivíduos se encontram e se confrontam com mecanismos hegemônicos que pressionam o individuo para um desenvolvimento estereotipado. • O papel da escola na sociedade atual é de se interpor entre a criança e a realidade de forma artificial, dificultando uma aproximação real da criança com a realidade, permitindo o desenvolvimento de subjetividades submissas para servir a interesses dominantes. • O desenvolvimento do saber humano enquanto capacidade de saber-sentir, saber- pensar e saber-agir é inseparável do desenvolvimento da subjetividade. • O homem é um ser-no-mundo, ou seja, ao mesmo tempo que é mundo, pode com o mundo desenvolver complexas relações de forma global. • O processo civilizatório que levou a humanidade ao privilégio da capacidade racional e técnica, sempre reprimiu a subjetividade. • Tudo deve ser controlado, com ênfase no individualismo e competitividade, ausência de emoção, o autoritarismo e a supressão de contradições formadoras de subjetividade, culminam para um estereótipo de ser humano. • “quanto mais complicada e mais refinada a aparelhagem social, econômica e cientifica (educacional), para cujo manejo o corpo já há muito foi ajustado pelo sistema de produção, tanto mais empobrecidas, as vivencias de que ele é capaz” (ADORNO/HORJKHEIMER, 1985, p 47). • Para entender melhor as objetivações da subjetividade pelo movimento humano, Kunz busca apoio em Merleau-Ponty: “nossa subjetividade é objetivada na nossa maneira de habitar o mundo, de trata-lo, de interpretá-lo e isto se manifesta nos diferentes modos de agir, sentir, caminhar, falar. • Subjetividade se constitui na nossa forma de conhecer o mundo, onde se incluem os objetos, a natureza, o outro e nos mesmos. • O problema existe na formação da subjetividade já moldada pelo mundo colonizado pelas objetivações culturais, onde especialistas produzem interesses para a maioria, de acordo com a classe dominante. • Analisaremos agora o movimento humano em dois momentos: o Significações subjetivas no se-movimentar o Reificações da subjetividade por movimentos estereotipados. • A reificação ou controle da subjetividade pelo processo de civilizar a criança acontece quando, para tornar-se adulta, precisa perder a fascinação pelo mundo natural, pelos objetos e pela natureza para garantir sua adequação a realidade e agir com sucesso. • Assim, a própria realidade passa a ser subjetivada pelo processo de objetivação instrumentalizada e mecânica. • Assim, o objetivo fator subjetividade se configura na função de aceitar e preservar sentidos em vez de constituir sentidos, como acontece no brincar livre e espontâneo. • Portanto, é no ensino do esporte que se encontra um maior numero de elementos constrangedores de subjetividades, pois são movimento pré-moldados, desenvolvidos por experiencias alheias e aceitas como corretas. • Realizar experiencias com valor subjetivo, nascido das vivencias no momento em que estão sendo realizadas, só é possível nas escolar, no recreio e em turmas das series iniciais que não foram disciplinadas ou estereotipadas. • O processo civilizatório escolar acontece para dominar e controlar subjetividades e se destinam a formar atitudes mecânicas e repetidas para constituir subjetividades acrílicas. • Na escola, diferenças e singularidades individuais são abolidas e assim os valões hegemônicos são homogeneizados. • Manter o homem distante do real e do sensível ao seu modo de agir, pensar e sentir, é mantê-lo na ignorância e vemos isso na escola: na proibição do falar; no desencorajamento de emoções; na separação entre meninos e meninas e principalmente pelo disciplinamento do seu se-movimentar. • Esse processo de civilizar a criança na escola, gerando uma subjetividade acrítica, se estabelece pela “contrato didática” que a escola realiza com a aluno e funciona, como diz Ghevallard, como: “um sistema gerador de senhores que leva a visões de mundo alheias as condições histórico sociais dos contratantes (...) ele opera como um jogo cujas regras sentam as normas. Os jogadores (alunos e professores) jogam dentro de regras bem definidas pelo contrato. A ruptura é parte integrante do jogo” • Mesmo aprendendo por uma formação acrítica e dessensibilizada de ser humano, sempre haverá espaço para interpretações e significações individuais e coletivas que fogem da estereotipagem • É necessárioobservar e criar mais espaços para os alunos a reorganizarem o desenvolvimento de subjetividades críticas e emancipadas. REFLEXÕES DIDÁTICAS A PARTIR DE PRATICAS CONCRETAS • O ensino crítico-emancipatório deve ser um ensino de libertação de falsas ilusões, de falsos interesses e desejos, construídos nos alunos pela visão de mundo a partir dos conhecimentos colocados pelo contexto sociocultural em que vivem. • A libertação, a princípio, deve ser coercitiva, pois existe uma coerção que é auto imposto, e que nos jovens se origina das influencias na formação da subjetividade pela indústria cultural e meios de comunicação. • Sua libertação, deve ser através do esclarecimento e do desenvolvimento de competências, como a autorreflexão, agir comunicativo, uso da linguagem, interação e trabalho no esforço de desenvolver e apropriar-se de cultura. • As estratégias didáticas no ensino critico-emancipatório, se inicia nos seguintes passos que Kunz chama de “transcendência de limites”, aluno é confrontando com a realidade do ensino e seu conteúdo, a partir de graus de dificuldade. • A transcendência de limites atuando concretamente sobre o aluno: ➢ Transformações didático-pedagógica dos esportes. • Na prática, essa transformações se inicia pela identificação do significado central do se-movimentar de cada modalidade esportiva. • Essa transformação se realiza com perfeição no nível do prazer e satisfação do aluno, pois ele é o sujeito, a referência central nessa transformação. • Arranjos materiais são de extrema importância no ensino da transformação didático-pedagógica, para permitir maiores vivencias. • Deve-se também oportunizar a reflexão e o diálogo sobre as práticas. ➢ Situações de ensino • Encontramos locais e formas de saltar na escola • Lançar e arremessar argolas e dardos em vários alvos e direções ➢ Possibilidades didáticas por meio de trabalho, interação e linguagem • A competência objetiva ou pratica instrumental é desenvolvida, pela categoria trabalho. É possibilitado ao aluno, a partir de seus conhecimentos e habilidades, uma transcendência de limites pelo controle racional e planejamento operativo de suas ações. • A competência comunicativa é desenvolvida pelo falar, expressar-se, de forma a relacionar, analisar e compreender fatos e fenômenos do contexto. • A competência objetiva ou pratica instrumental é desenvolvida, pela categoria trabalho. É possibilitado ao aluno, a partir de seus conhecimentos e habilidades, uma transcendência de limites pelo controle racional e planejamento operativo de suas ações. • A competência social é desenvolvida pelas interações sociais. Deve ser problematizadora para que o aluno possa compreender e distinguir interesses individuais e subjetivos de interesses coletivos e objetivo. • A competência comunicativa é desenvolvida pelo falar, expressar-se, de forma a relacionar, analisar e compreender fatos e fenômenos do contexto. ➢ Atendendo ao interesse critico-emancipatório do ensino • Este interesse que liberta os indivíduos da coerção ou imposta, da opressão, e submissão alienadora, deve ser possível pelo ensino escolar, e sua constante da continuidade (vincular o novo ao que o aluno já sabe) e ruptura (transcender os limites do habitual). • Num primeiro momento, trabalho é desenvolvido por experimentação individual e coletiva sem exigências técnicas. Arranjos materiais e situações problema devem apresentar desafios e estímulos. • Num segundo momento, é escolhida a tarefa que precisa de treino e exercício continuado para melhora também do condicionamento físico. • Na interação, o aluno deve trabalhar em pequenos grupos, mesmo na fase de “transcendência de limites pela experimentação”. A demonstração ou encenação das experiencias é imposta. • Na linguagem, o professor deve usar o poder do esclarecimento, sem tirar a alegria do aluno. Resgatar e preservar a linguagem verbal do aluno. Desafiar o aluno ao dialogo e também uma comunicação consigo mesmo, uma autodescoberta de possibilidades e limites, ou seja, o autoconhecimento e conhecimento do outro. • Agora, um plano de aula:
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