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*aluno do curso de Fisioterapia da FAM e-mail: gabrielalaidenigro@hotmail.com ** docente do curso de Fisioterapia da FAM e-mail: adrianapertille@fam.br A prevalência de hiperlordose lombar em bailarinas clássicas amadoras Gabriela Laide Nigro* Profª. Dra. Adriana Pertille** Resumo: O ballet clássico é uma modalidade de dança que surgiu na França e que desde então, exige cada vez mais das executantes, desencadeando desequilíbrios posturais específicos da prática. O objetivo desse trabalho foi avaliar a incidência de hiperlordose lombar em bailarinas clássicas amadoras por meio de um estudo de campo e relacionar essas alterações com a prática da modalidade e com o que se tem em referência bibliográfica sobre o tema. Nesse trabalho foram avaliadas 15 voluntárias bailarinas com mais de 07 anos de prática da modalidade através de biofotogrametria com utilização do Software para Avaliação Postural SAPO. Resultados: 33,3% da amostra apresentaram hiperlordose lombar. Conclusão: A hiperlordose lombar é bastante incidente em bailarinas clássicas amadoras, estando os resultados relacionas também com o uso da sapatilha de pontas. Palavras-chave: Bailarinas amadoras. Alteração postural. Hiperlordose lombar. 2 1. INTRODUÇÃO O ballet clássico é uma modalidade de dança que surgiu na França, durante o período da Idade Moderna, que objetivava reproduzir o movimento e padrões típicos da época (DE AQUINO et al., 2010). A arte, desde então, desenvolveu e aprimorou-se e atualmente trata-se de uma prática que exige desempenho físico com excelência, controle corporal, coordenação, tônus e equilíbrio. Muito além dessas exigências, a bailarina precisa desenvolver aptidões físicas especificas para as posturas exigidas, que muitas vezes fogem da posição anatômica natural (PRATI; PRATI, 2006). Assim como qualquer outra modalidade de atividade física, a prática de aulas e o treinamento do ballet clássico trazem inúmeros benefícios para a saúde do executante. Por outro lado, quando o treinamento leva o executante aos níveis de excelência é comum que ocorram alterações ósseas, musculares e tendíneas nesses bailarinos, levando a padrões posturais específicos ou até mesmo o desencadeamento de patologias do aparelho locomotor (SIMAS; MELO, 2008). Para melhor compreensão de como as posturas adotadas pelas bailarinas podem influenciar sua postura, esse estudo demonstrará como são as posturas de base da execução de quaisquer movimentos nos membros inferiores, onde as maiores alterações são encontradas. Todas as movimentações subsequentes seguem o alinhamento dessas posturas, podendo a partir destas conter saltos, giros, sustentações e grandes flexões dos membros inferiores, Nos membros inferiores, a rotação externa é o elemento corporal mais importante, chamado de en dehors. Quadris, Joelhos e pés estarão submetidos a essa posição. O grau de rotação dessas articulações é determinado pela estrutura anatômica do indivíduo, sendo o quadril o ponto de início (ALMEIDA; DUMONT, 2007). 3 As cinco posições básicas dos pés no ballet também submetem a uma máxima rotação lateral dos membros inferiores. Segundo Harnisch (2001) as posições básicas dos pés na técnica estão ilustradas na Figura 1. Figura 1. Posições básicos do balé clássico (MOTTA-VALENCIA, 2006) Meira et al. (2015) afirmam que as bailarinas são levadas a níveis máximo de exigência, e que acabam optando sempre pelo lado dominante na execução da coreografia, exigindo desse membro e hemicorpo maior controle, equilíbrio, força, amortecimento e equilíbrio dinâmico durante os saltos e giros. Para melhor desempenho e desenvolvimento na atividade, a formação de uma bailarina clássica tem inicio precoce, em uma etapa onde o corpo ainda está em formação. Assim sendo, ela terá mais chances de aprimorar sua flexibilidade, força, resistência, coordenação e consciência corporal. Mas tal exigência leva muitas vezes a um desequilíbrio do sistema musculoesquelético após longos anos sendo exposta a atividade. Essa exposição por longos períodos desencadeia alterações posturais com certo padrão e que poderão tornar-se uma predisposição a patologias mais graves e limitantes no futuro (MEEREIS et al., 2011). As principais alterações esperadas nessas bailarinas devido à postura adotada para prática da atividade, entre outras, são: hiperlordose lombar, 4 desnível entre os ombros, retroversão pélvica e tornozelos pronados (HAMILTON et al., 1992). A análise desses dados torna-se importante, para que o fisioterapeuta entenda e conscientize-se, que ao tratar de uma bailarina, essas alterações podem ser encontradas. Isso se faz relevante para a avaliação, a condução do tratamento e a construção do prognóstico. Dessa forma, o fisioterapeuta poderá desenvolver seu trabalho clinico, entendendo as alterações esperadas, bem como estas foram desencadeadas (BATISTA, 2010). Mediante o exposto o objetivo do presente estudo foi avaliar a incidência de hiperlordose lombar em bailarinas clássicas amadoras por meio de um estudo de campo e relacionar essas alterações com a prática da modalidade e com o que se tem em referência bibliográfica sobre o tema. 2. MATERIAL E MÉTODOS Esse artigo trata-se de um estudo de campo observacional analítico de corte transversal que foi realizado com 15 bailarinas clássicas amadoras, com idade média de 25,6 anos, que possuíam mais de 07 anos de prática e que estavam ainda em atividade. Essas bailarinas foram selecionadas no segundo semestre de 2016 na academia Twist Dança especializada na formação de bailarinas clássicas na cidade de Americana, interior de São Paulo. Após um convite verbal, as bailarinas preencheram uma ficha de avaliação e o termo de consentimento livre e esclarecido que foi assinado pelas próprias ou pelos responsáveis no caso de voluntárias menores de 18 anos. Foram excluídas bailarinas que apresentaram alguma lesão aguda ou que já tinham sido submetidas a cirurgias osteomusculares e aquelas que praticaram outra atividade física há tanto tempo quanto se dedicam ao ballet clássico. Os critérios de inclusão foram: - Manter atividade da dança clássica pelo menos 02 vezes por semana; - Bailarinas que iniciaram as atividades até os 10 anos; 5 - Bailarinas que tem um período de treinamento superior a 07 anos; - Todas do gênero feminino; Figura 2: Fluxograma descrevendo a seleção da amostra A AVALIAÇÃO A análise postural das voluntárias foi realizada através da biofotogrametria, utilizando o Software para Avaliação Postural (SAPO). Esse programa foi desenvolvido pelos pesquisadores da Universidade de São Paulo e seus resultados são considerados satisfatórios para análise postural estática (SOUZA, 2011). O programa tem por base a utilização de pontos pré- estabelecidos através da relevância clínica, base cientifica, viabilidade metodológica e aplicabilidade (SOUZA, 2011). O AMBIENTE As bailarinas foram avaliadas através de 2 fotografias (vista lateral direita e esquerda) que foram realizadas sob fundo branco infinito. A câmera estará posicionada a uma altura de cerca de 1,20 do chão e 3,00 metros da voluntária. Foram submetidas à iluminação local que tem como fonte lâmpadas fluorescente. As fotografias foram tiradas antes que elas realizassem as atividades habituais. 22 voluntárias bailarinas clássicas Voluntárias com validação dos dados encontrados: 15 Aplicação dos critérios de inclusão e exclusão Voluntáriasque foram excluídas: 05 Voluntárias com dor crônica: 02 Voluntárias com dor aguda: 02 Voluntárias que não entregaram o termo de consentimento: 01 6 Os dados foram apresentados de forma descritiva, destacando a frequência de hiperlordose lombar. 3. RESULTADOS A média da idade das voluntárias foi de 25,6 anos (na faixa de 15 a 45 anos), com média de 18 anos de prática do Ballet. Das 15 voluntárias 33,3% apresentaram hiperlordose lombar (n=5) como demostrado na tabela 1. Tabela 1 – Idade, Tempo de Prática (TP), Uso de sapatilhas de ponta (SP), Medidas do ângulo lombar (AL) e sua classificação (HP = hiperlordose lombar/ Lordose Lombar Nornal = LN). Voluntária Idade TP SP AL Classificação I 15 10 Sim 62° HL II 18 13 Não 49° LN III 20 15 Não 58° LN IV 22 15 Sim 70° HL V 22 18 Não 60° LN VI 40 30 Sim 59° LN VII 45 35 Sim 48° LN VIII 23 10 Sim 49° LN IX 22 10 Não 58° LN X 17 12 Não 56° LN XI 19 12 Sim 71° HL XII 31 26 Não 58° LN XIII 32 22 Não 49° LN XIV 18 8 Não 69° HL XV 40 35 Sim 62° HL Referência para classificação para angulação normal de 40 a 60°, segundo Hoppenfeld, 1999. 4. DISCUSSÃO A coluna vertebral lombar representa um suporte ósseo que precisa ser resistente para a sustentação corporal e flexível para a realização das 7 movimentações do tronco, além de ser responsável por transferir cargas para os membros inferiores e para o quadril (HOPPENFELD, 1999). Após o nascimento, a criança começa a deslocar-se e ocorre distribuição de carga sobre a coluna vertebral, ocorrendo a formação das curvaturas secundárias da coluna: as convexidades cervical e lombar. Esse modelo anatômico é essencial para que a coluna seja capaz de suportar as cargas axiais impostas a ela, porém, o exagero dessa curvatura lombar torna-se patológico quando muito acentuado (DÂNGELO; FATTINI, 1998). A hiperlordose lombar é comum em atividades esportivas de alto desempenho, como também se é esperado no ballet clássico. Segundo Toniote e Dos Santos Araujo (2015), a hiperlordose lombar é a alteração postural mais incidente em bailarinas clássicas segundo os modelos de pesquisa atuais. No presente estudo, a incidência de hiperlordose lombar foi encontrada em um terço das voluntárias. A elevada porcentagem demonstra os mesmos resultados esperados segundo a literatura encontrada até então, onde Almeida e Dumont (2007) e Simas e Melo (2008) também encontram a hiperlordose lombar como alteração entre as bailarinas. Considerando o tempo de prática e a idade das bailarinas do estudo, não foi possível desenvolver uma correlação entre os anos de prática e a incidência da hiperlordose lombar, uma vez que a média dos anos de prática do grupo que não apresenta a alteração foi até um pouco maior que aquelas que apresentaram a hiperlordose lombar. Das 05 voluntárias que apresentaram hiperlordose lombar, 04 delas fazem ou fizeram o uso de sapatilhas de ponta. Sabe-se que o calçado é um grande fator contribuinte para o desenvolvimento de lesões em qualquer esporte, e portanto, e ainda, por ser desenvolvida apenas para fins estéticos e não funcionais, como apresentado por Picon et al. (2002) a sapatilhas de ponta podem ser um fator desencadeador dessa alteração postural. Pode-se justificar tais alterações também com a exigência da prática no que se diz a rotação externa exacerbada nos membros inferiores em que as 8 bailarinas clássicas estão submetidas. Mesmo quando a prática não é considerada uma prática profissional, os bailarinos podem sofrer consequências posturais devido a pratica da modalidade. 5. CONCLUSÃO A prática, mesmo que amadora, do ballet clássico pode causa alterações posturais permanentes nas executantes, dentre as quais, a hiperlordose se destaca. Nessa amostra, não foi possível relacionar a quantidade de anos de prática com a incidência dessa alteração postural. Porém, a amostra demonstra uma tendência de que essa alteração postural possa estar relacionada com o uso das sapatilhas de ponta, sendo necessários mais estudos e nos dando uma direção para uma linha de raciocínio. O que se torna evidente é que a prática de ballet clássico por anos a fio pode causar alterações posturais nas bailarinas, ainda que sejam amadoras e futuramente, essas alterações podem ser desencadeadoras de leões. Por isso, torna-se extremamente importante que o profissional que irá conduzir as atividades, tenha conhecimento sobre a anatomia humana e o processo de formação corporal dos bailarinos, sendo capaz de equilibrar os valores estéticos que a prática exige, com a saúde musculoesquelética dos mesmos. 9 The incidence of lumbar hyperlordosis in classic amateur dancers Abstract: Classical ballet is a form of dance that has arisen in France and since then, demands more and more of the performers, triggering specific postural imbalances of practice. The objective of this study was to evaluate the incidence of lumbar hyperlordosis in classical amateur dancers through a field study and to relate these changes to the practice of the modality and to what is available in bibliographical references on the subject. In this study 15 volunteers were evaluated with more than 7 years of practice of the modality through biophotogrammetry using “Software para Avaliação Postural SAPO”. Results: 33.3% of the sample presented lumbar hyperlordosis. Conclusion: Lumbar hyperlordosis is quite frequent in classic amateur dancers, and the results are also related to the use of point shoes. Keywords: Amateur dancers. Postural alteration. Lumbar hyperlordosis. AGRADECIMENTOS Agradeço as bailarinas voluntárias pela contribuição e paciência e também a Twist Dança por ter cedido o espaço para realização da avaliação das voluntárias. 10 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Heloísa Suzano de; DUMONT, Lucíola Maria Pacheco. Análise estática e radiológica da hiperlordose lombar como conseqüência do en-dehors na 1º posição dos pés no ballet clássico. Fisioter. Bras, v. 8, n. 6, p. 405-408, 2007. BATISTA, Camila Gouveia; MARTINS, Erik Oliveira. A prevalência de dor em bailarinas clássicas. J Health Sci Inst, v. 28, n. 1, p. 47-9, 2010. DÂNGELO, José Geraldo; FATTINI, Carlo Américo. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. Editora Atheneu, 1998. DE AQUINO, Cecília Ferreira et al. Análise da relação entre dor lombar e desequilíbrio de força muscular em bailarinas [I]. Fisioterapia em Movimento, v. 23, n. 3, 2010. DOS SANTOS ARAUJO, Alisson Guimbala; TONIOTE, Gabriela. Principais alterações posturais encontradas em bailarinas clássicas-uma revisão. Cinergis, v. 16, n. 3, 2015 HAMILTON, William G. et al. A profile of the musculoskeletal characteristics of elite professional ballet dancers. The American journal of sports medicine, v. 20, n. 3, p. 267-273, 1992. HARNISCH, B. Z; IORIS, M. N.; A incidência de lesões relacionadas à prática de balé clássico e o perfil de suas praticantes. Monografia (Graduação em fisioterapia) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2001. HOPPENFELD, Stanley. Propedêutica Ortopédica – Coluna e extremidades. Editora Atheneu, 1999. MEEREIS, Estele Caroline Welter et al. Análise de tendências posturais em praticantes de balé clássico-doi: 10.4025/reveducfis. v22i1. 9130. Revista Da Educação Física/UEM, v. 22, n. 1, p. 27-35, 2011. MEIRA, Gabriela Andrade Job et al. Perfil postural de bailarinas clássicas: análise computadorizada. Revista Pesquisaem Fisioterapia, v. 1, n. 1, 2015. PICON, Andreja Paley et al. Biomecânica e Ballet Clássico: Uma avaliação de Grandezas dinâmicas do" sauté" em primeira posição e da posição" en pointe" em sapatilhas de ponta. Rev Paul Educ Fís, v. 16, n. 1, p. 53-60, 2002 PRATI, Sérgio Roberto Adriano; PRATI, Alessandra Regina Carnelozzi. Níveis de aptidão física e análise de tendências posturais em bailarinas clássicas. Rev. Bras. Cineantropom. Desempenho Hum, v. 8, n. 1, 2006. 11 SAMPAIO, F. Balé essencial. Rio de Janeiro, ed. Sprint,1996. SIMAS, Joseani Paulini Neves; MELO, Sebastião Iberes Lopes. Padrão postural de bailarinas clássicas. Revista da Educação Física/UEM, v. 11, n. 1, p. 51-57, 2008. SOUZA, Juliana Alves et al. Biofotogrametria confiabilidade das medidas do protocolo do software para avaliação postural (SAPO). Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum, v. 13, n. 4, p. 299-305, 2011.
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