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Interrupção de gravidez de feto anencéfalo

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL 
CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS 
DIREITO CONSTITUCIONAL II 
PROFESSOR: SEGIONEI CORREA 
ACADÊMICAS: NATÁLIA FIORIO 
 NATHÁLIA MEDEIROS 
 TASSIANE PANZENHAGE 
 
 
 
 
 
 
 
ADPF 54/DF – Interrupção de gravidez de feto anencéfalo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2018 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO........................................................................................2 
2 CARACTERIZAÇÃO DA ANENCEFALIA...............................................4 
3. PRÍNCIPIOS FRENTE AO ABORTO DE FETOS ANENCEFÁLICOS..5 
3.1 Dignidade da Pessoa Humana.................................................................5 
3.2 Princípio da Legalidade..................................................................................6 
3.3 Direito a Saúde...............................................................................................6 
3.4 Princípio da Liberdade....................................................................................7 
4. ACÓRDÃO ADPF 54..............................................................................8 
4.1 Argumentos contra a ação..............................................................................8 
4.2 Argumentos favoráveis...................................................................................10 
4.3 Decisão Final..................................................................................................15 
5. CONCLUSÃO...................................................................................................15 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.................................................................16 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO: 
 
 O debate acerca da homologação do aborto anencefálico como crime contra a vida 
gera grandes discussões na atualidade, o mesmo ganhou espaço nos tribunais nos 
últimos anos fazendo com que o Poder Judiciário se posicionasse diante o problema. 
Há uma tamanha complexidade perante este tema, permeado de dúvidas, 
contradições e polêmicas. Considerado como grave embate ético-moral entre o direito 
à vida do feto e a dignidade da pessoa humana, neste caso, representada pela 
gestante. 
A anencefalia é uma má formação fetal congênita, que ocorre entre o 24º e 26º dia 
após a fecundação, é caracterizado pelo defeito do fechamento do tubo neural durante 
a gestação, de modo que o feto não apresente os hemisféricos cerebrais havendo 
apenas a calota craniana, conhecida vulgarmente como “ausência de cérebro”. Uma 
vez diagnosticada a má-formação, não há nada que a ciência possa fazer. 
O choque existente entre os direitos fundamentais da pessoa humana e princípios 
jurídicos, é dado na controvérsia existente entre o feto ter ou não expectativas de vida, 
já que o direito à vida é tratado como um direito constitucionalmente previsto, 
possuindo por tanto status de supremacia, inviolabilidade e irrevogabilidade. Sendo 
assim, significa dizer que o direito à vida deverá se sobrepor a todos os demais 
direitos, pois o mesmo foi a vontade do legislador constituinte originário na Carta 
Magna. Dentro do ordenamento jurídico brasileiro, não se admite a interrupção de 
vida, a não ser nos casos previstos na legislação infraconstitucional e penal quais 
sejam, pena de morte em caso de guerra declarada. (art. 5º, XLVII, “a”) aborto 
necessário (art.128, I, CP) e aborto decorrente de estupro ( art.128, II, CP) conhecido 
na doutrina como aborto sentimental. Uma vez que o homem não é dono da vida, não 
é a ele que cabe abreviar a vida de outrem. No entanto, grande parte das pessoas 
são a favor ao aborto em casos de anencefalia, por acreditarem que o sofrimento da 
mãe, ao gerar um feto anormal é maior do que tirar a vida dele, com base nos 
princípios da liberdade e da autonomia da pessoa humana. 
 
 
2- CARACTERIZAÇÃO DA ANENCEFALIA 
A anencefalia é caracterizada pela ausência do encéfalo e da calota craniana (parte 
de cima do crânio), podendo ter reduzida a parte de cerebelo e meninge. Todas essas 
são partes extremamente importantes do cérebro, pois são elas que permitem o 
pensamento, visão, audição, coordenação de movimentos, entre outras funções. Na 
maioria dos casos, o tecido cerebral fica exposto, sem ser coberto nem mesmo por 
pele. 
Acerca das malformações, Wanderley Rodrigues Belo acredita que 
 
As más formações se dividem em dois grupos: 
estruturais e funcionais. As primeiras significam a 
falta ou mal funcionamento de uma estrutura no 
organismo do bebê. Elas podem ir da falta de um 
dedo à ausência da calota cerebral (anencefalia). 
(BELO, 1999, p. 83). 
Durante o nascimento, o bebê pode apresentar funcionamento normal do tronco 
cerebral, parte do sistema nervoso responsável por diversas atividades involuntárias. 
Sendo assim, pode haver o funcionamento correto de algumas funções vitais do 
organismo, como a capacidade de respirar, engolir e manter os batimentos cardíacos. 
No caso da anencefalia, há um problema nesse processo de “fechamento” do tubo 
neural. Dessa forma, o tecido cerebral fica exposto ao líquido amniótico que, por sua 
vez, o degenera. É comum que crianças com essa condição tenham também a 
chamada espinha bífida, na qual algumas vértebras não se formam e a medula 
espinhal se projeta para fora dos ossos 
Não há sinais de que a anencefalia seja hereditária, pois são poucos os casos que 
ocorrem diversas vezes numa mesma família. Mesmo assim, pais que já tiveram um 
filho com anencefalia correm um risco um pouco mais elevado de desenvolver o 
mesmo problema em gestações futuras. 
 
Durante a gravidez, a mãe não apresenta nenhum sintoma específico de que o bebê 
está desenvolvendo uma má-formação. Já o bebê, ao nascer, tem um formato 
anormal da cabeça: a falta da calota craniana e do encéfalo é evidente. Não possui 
testa, suas orelhas são malformadas e baixas, além de possuir um pescoço curto. 
Pode apresentar fenda palatina e globos oculares protuberantes por conta de 
malformações nos pavilhões oculares (parte onde o olho “se encaixa” no rosto). O 
bebê é cego, surdo e inconsciente. Dependendo do tanto que o cérebro conseguiu se 
desenvolver, a criança ainda pode “ouvir” por meio do tato, visto que sons altos 
provocam vibrações físicas do ar que podem ser sentidas. Nesses casos, infelizmente, 
o bebê também é capaz de sentir dor. Geralmente, o diagnóstico é feito ainda em 
período pré-natal, através do exame de ultrassom a partir das 12 semanas de 
gestação. Esse exame faz parte da rotina pré-natal e revela imagens do 
desenvolvimento do bebê ao longo da gravidez. Infelizmente, não é possível 
sobreviver com anencefalia. 50% das mortes por anencefalia ocorrem ainda dentro do 
útero. Já 99% dos bebês que conseguem sobreviver ao parto morrem logo após. 
 
3- ALGUNS PRINCÍPIOS FRENTE AO ABORTO DE FETOS ANECEFÁLOS 
 
3.1- DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
A dignidade da pessoa humana é uma característica 
intrínseca, indissociável, irrenunciável e inalienável, ou seja, é essencial ao 
ser humano. Importante lembrar que não se trata de uma concessão à pessoa 
humana, de forma que já lhe pertence de forma inata, desde seu nascimento, devendo 
ser considerado como um fim em si mesmo. 
A Constituição Federal considera a dignidade da pessoa humana um dos 
fundamentos do Estado Democrático de Direito (art. 1º, III, CF\88), in verbis: 
 
A República Federativa do Brasil, formada pela 
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do 
Distrito Federal, constitui-se um Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
a dignidade da pessoa humanaSobre esse princípio, Débora Diniz, Doutora em Antropologia e Pós Doutora em 
bioética disserta que: 
O princípio da dignidade da pessoa humana deve 
ser considerado fundamental para a ética da 
antecipação terapêutica. O diagnóstico da má 
formação fetal incompatível com a vida é uma 
situação de extremo sofrimento para as mulheres 
e os futuros pais. São situações em que todos os 
recursos científicos disponíveis para reverter o 
quadro da má formação são nulos (2004, p.81) 
 
Na petição inicial que deu origem a ADPF nº 54, ao tratar do Princípio da Dignidade 
da Pessoa Humana, Luiz Roberto Barroso faz uma analogia à tortura: 
Obrigar uma mulher a conservar no ventre por 
longos meses, o filho que não poderá ter, impõe 
a ela sofrimento inútil e cruel. Adiar o parto, que 
não será uma celebração da vida, mas um ritual 
de morte, viola a integridade física e psicológica 
da gestante, em situação análoga à tortura 
(BARROSO, 2005). 
 
3.2 – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
A síntese do princípio da legalidade pode ser resumida pela frase em latim: “nullum 
crimen nulla poena sine lege”, na tradução, quer dizer que nenhum crime será punido 
sem que haja uma lei. 
De acordo com art. 5º, II da Constituição Federal “ninguém será obrigado a fazer ou 
deixar de fazer, senão em virtude de lei”, portanto tudo o que não é proibido pelo 
ordenamento jurídico é permitido, assim, todos tem ampla liberdade de reger suas 
vidas da forma como bem entender, salvo disposição em contrário. 
 
3.3- DIREITO A SAÚDE 
Deve ser levado em consideração a questão do direito a saúde, onde o mesmo 
engloba a integridade física e psíquica da gestante e sua violação representaria uma 
afronta ao princípio da dignidade humana. A Organização Mundial da Saúde classifica 
a saúde como “o completo bem-estar físico, mental e social”, assim sendo, negar à 
gestante o direito de praticar a interrupção da gravidez nestas ocasiões seria o mesmo 
que negar-lhe o direito à saúde, um bem jurídico constitucionalmente tutelado. A 
grande parte dos doutrinadores, médicos e juristas acreditam que existem maiores 
complicações à saúde, decorrente desta situação, se comparada a uma gestação de 
feto saudável. 
Neste sentido, Maíra Costa Fernandes, advogada, afirma: 
A vida da gestante também corre sérios riscos, já 
que, não raras vezes, o feto morre ainda dentro 
do corpo da mulher caso em que o atendimento 
médico deve ser de maior urgência. Ademais, 
elevados são os riscos de hemorragia 
deslocamento prematuro de placenta, entre 
outras complicações. Uma vez diagnosticada a 
referida anomalia, não há nada que se possa 
fazer para reverter o quadro fetal. 
 
3.4- PRINCÍPIO DA LIBERDADE 
De acordo com o Princípio da liberdade, é dever do Estado defender e garantir a 
liberdades individual, devendo assegurar o respeito a pluralidade de ideias, opiniões, 
de crenças e harmonizar as mesmas com os demais direitos fundamentais. Por 
representar um conceito aberto, o direito a liberdade engloba uma infinidade de 
direitos, dentre os quais podemos destacar a liberdade religiosa, liberdade de 
pensamento, liberdade de imprensa e etc. Dessa forma, antes do julgamento da ADPF 
nº 54, quando as decisões proibiam a interrupção da gravidez nestes casos, 
restringiam e ofendiam, também, a liberdade da gestante. 
Devemos deixar claro que a lesão de princípios constitucionais é considerada 
gravíssima, conforme demonstra de Celso Antônio Bandeira de Mello: 
 Violar um princípio é mais grave que transgredir 
uma norma. A desatenção ao princípio implica 
ofensa, não apenas a um específico mandamento 
obrigatório, mas, a todo sistema de comandos. É 
a mais grave forma de ilegalidade ou 
inconstitucionalidade, conforme o escalão do 
princípio atingido, porque representa insurgência 
contra seus valores fundamentais, contumácia 
irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de 
sua estrutura mestra. Isto porque, com ofendê-lo, 
abatem-se as vigas que sustêm e alui-se toda a 
estrutura nele esforçada. 
De nada adiantaria a Constituição Federal assegurar outros direitos fundamentais, 
como igualdade, a intimidade, a liberdade, o bem-estar, se não erigisse a vida humana 
a uma condição de supremacia. 
 
 
4- ACÓRDÃO ADPF 54 
A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº. 54 alegou, no Brasil, a 
interrupção da gestação de feto anencéfalo. 
A ação relatada pelo ministro Marco Aurélio Mello, foi proposta em 2004 pela 
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), e somente foi julgada 
oito anos depois, numa votação com a participação dos 11 ministros do Supremo 
Tribunal Federal durante os dias 11 e 12 de abril de 2012 e aprovado com placar de 
8 votos a favor, e 2 votos contra. 
Neste julgamento foi decidido pelos ministros que: os médicos que fazem a cirurgia e 
as gestantes que decidem interromper a gravidez, não cometem nenhum crime. Com 
a decisão, para interromper a gravidez em caso de anencefalia, as mulheres não 
precisam de decisão judicial que as autorize, basta somente ser diagnosticado. 
Em seu voto, o ministro Marco Aurélio afirmou que “anencefalia e vida são termos 
antitéticos”. O ministro afirmou que existe um conflito apenas aparente entre direitos 
fundamentais, já que não há qualquer possibilidade de o feto sem cérebro sobreviver 
fora do útero da mãe. O que estava em jogo, disse Marco Aurélio, é saber se a mulher 
que interrompe a gravidez de feto em caso de anencefalia tem de ser presa. Os 
ministros decidiram que não. 
O decano do Supremo lembrou que há várias teses científicas, dentre elas genética, 
embriologia e neurologia, que discutem o início da vida, e que a Constituição não 
estabelece seu começo. 
 
4.1- ARGUMENTOS CONTRA A AÇÃO: 
Os ministros Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso votaram contra a ação. 
Ricardo Lewandowski, foi o sexto a votar no julgamento, e votou pela improcedência 
do pedido. O ministro seguiu duas linhas de raciocínio. Na primeira, ele destacou os 
limites objetivos do controle de constitucionalidade das leis e da interpretação 
conforme a Constituição, com base na independência e harmonia entre os Poderes. 
Para Ricardo Lewandowski, 
O STF, à semelhança das demais cortes 
constitucionais, só pode exercer o papel de 
legislador negativo, cabendo a função de eliminar 
do ordenamento jurídico as normas incompatíveis 
com a Constituição. 
 
Mesmo este papel, segundo seu voto, deve ser exercido com “cerimoniosa 
parcimônia”, diante do risco de usurpação de poderes atribuídos constitucionalmente 
aos integrantes do Congresso Nacional. “Não é dado aos integrantes do Judiciário, 
que carecem da unção legitimadora do voto popular, promover inovações no 
ordenamento normativo como se fossem parlamentares eleitos”, salientou. 
Nesse fator, o ministro observou que o Congresso Nacional, “se assim o desejasse”, 
poderia ter alterado a legislação para incluir os anencéfalos nos casos em que o aborto 
não é criminalizado, mas até hoje não o fez. O tema, assinalou, é extremamente 
controvertido, e ambos os lados defendem suas posições com base na dignidade da 
pessoa humana. “Nosso parlamento se encontra profundamente dividido, refletindo, 
aliás, a abissal cisão da própria sociedade brasileira em torno da matéria”, disse, 
acrescentando que pelo menos dois projetos de lei sobre o tema tramitam desde 2004 
sem que se tenha chegado a consenso. O segundo ponto enfatizado pelo ministro 
Lewandowski foi a possibilidade de que uma decisão favorável ao aborto de fetos 
anencéfalos torne lícita a interrupção da gestação de embriões com diversas outras 
patologias que resultem em pouca ou nenhuma perspectiva de vida extrauterina. 
Citando dados da Organização Mundial de Saúde(OMS) sobre malformações 
congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas, Lewandowski ressaltou que 
existem dezenas de patologias fetais em que as chances de sobrevivência são nulas 
ou muito pequenas – como acardia (ausência de coração), agenesia renal, hipoplasia 
pulmonar, atrofia muscular espinhal e outras. 
Para o ministro, uma decisão judicial isentando de sanção o aborto de fetos portadores 
de anencefalia, “ao arrepio da legislação penal vigente”, além de “discutível do ponto 
de vista ético, jurídico e científico”, abriria a possibilidade de interrupção da gestação 
de inúmeros outros casos. “Sem lei devidamente aprovada pelo parlamento, que 
regule o tema com minúcias, precedida de amplo debate público, provavelmente 
retrocederíamos aos tempos dos antigos romanos, em que se lançavam para a morte, 
do alto de uma rocha, as crianças consideradas fracas ou debilitadas”, afirmou. 
Finalmente, o voto destaca a existência de diversos dispositivos legais em vigor que 
resguardam a vida intrauterina – sobretudo o Código Civil, que, no artigo 2º, 
estabelece que a lei ponha a salvo, “desde a concepção”, os direitos do nascituro. 
Tais normas, segundo Lewandowski, também teriam de ser consideradas 
inconstitucionais ou merecer interpretação conforme a Constituição. 
O presidente do STF, ministro Cezar Peluso, foi o último a votar, e se manifestou pela 
improcedência da ADPF 54. O ministro frisou a “diferença abissal” entre este caso e 
a discussão sobre o uso de células tronco embrionárias em pesquisas. De acordo com 
o ministro, no caso dos embriões não havia processo vital – ao contrário do feto 
anencéfalo, o qual, em seu entendimento, é portador de vida e, portanto, tem de ter 
seus direitos tutelados. 
“O anencéfalo morre, e ele só pode morrer porque está vivo”, assinalou. O ministro 
lembrou, ainda, que a questão dos anencéfalos tem de ser tratada com “cautela 
redobrada”, diante da imprecisão do conceito, das dificuldades do diagnóstico e dos 
dissensos em torno da matéria. 
4.2-ARGUMENTOS FAVORÁVEIS: 
O ministro Marco Aurélio, relator, considerou procedente o pedido feito pela 
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS). O ministro concluiu que 
a imposição estatal da manutenção de gravidez cujo resultado final será a morte do 
feto vai de encontro aos princípios basilares do sistema constitucional. Para ele, 
obrigar a mulher a manter esse tipo de gestação significa colocá-la em uma espécie 
de “cárcere privado em seu próprio corpo”, deixando-a desprovida do mínimo 
essencial de autodeterminação, o que se assemelha à tortura. 
Para o Ministro Marco Aurélio, 
Cabe à mulher, e não ao Estado, sopesar valores 
e sentimentos de ordem estritamente privada, 
para deliberar pela interrupção, ou não, da 
gravidez. 
 Na interpretação do ministro, ao Estado cabe o dever de informar e prestar apoio 
médico e psicológico à paciente antes e depois da decisão, independente de qual seja 
ela, o que hoje é perfeitamente viável no Brasil. 
Por isso no entendimento do relator, não há que se falar em direito à vida ou garantias 
do indivíduo quando se trata de um ser natimorto, com possibilidade quase nula de 
sobreviver por mais de 24 horas, principalmente quando do outro lado estão em jogo 
os direitos da mulher. 
Em relação ao fato de não haver menção no Código Penal aos casos de anencefalia 
como quesito autorizador de interrupção de gravidez, o ministro Marco Aurélio 
argumentou que nas décadas de 30 e 40, quando foi editado o Código Penal hoje 
vigente, a medicina não possuía os recursos técnicos necessários para identificar 
previamente esse tipo de anomalia fetal. 
Ao proferir seu voto, o ministro reforçou ainda o caráter laico do Estado brasileiro, 
previsto desde a Carta Magna de 1891, quando da transição do Império à República. 
“A questão posta nesse processo – inconstitucionalidade da interpretação segundo a 
qual configura crime a interrupção de gravidez de feto anencéfalo - não pode ser 
examinada sob os influxos de orientações morais religiosas”, frisou. 
Assim como ocorreu no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 
3510 - sobre possibilidade de realização das pesquisas científicas com células-tronco 
embrionárias, em que o STF primou pela laicidade do Estado - para o ministro, as 
concepções morais e religiosas não podem guiar as decisões estatais, devendo ficar 
circunscritas à esfera privada. “O Estado não é religioso, tampouco é ateu. O Estado 
é simplesmente neutro”, concluiu. 
Ao sustentar seu entendimento, o ministro Marco Aurélio também afastou a premissa 
utilizada em prol da defesa do anencéfalo de que os seus órgãos poderiam ser 
doados. Segundo ele, além de ser vedada a manutenção de uma gravidez somente 
para viabilizar a doação de órgãos, essa possibilidade é praticamente impossível no 
caso de anencefalia, pois o feto terá outras anomalias que inviabilizariam a prática. 
Obrigar a mulher a manter a gravidez apenas com esse propósito, para o relator, seria 
tratá-la a partir de uma perspectiva utilitarista, de instrumento de geração de órgãos 
para doação, o que também fere o princípio da dignidade da pessoa humana. 
A ministra Rosa Weber acompanhou o voto do relator da Arguição de 
Descumprimento de Preceito Fundamental 54, ministro Marco Aurélio, também 
defendendo a exclusão da interrupção ou antecipação do parto de feto anencéfalo do 
rol dos crimes contra a vida. Por isso, julgou procedente a ação, ajuizada pela 
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS). 
Logo após o voto da ministra, votou no mesmo sentido o ministro Joaquim Barbosa, 
ao pedir a juntada, com algumas modificações, do voto por ele elaborado sobre esta 
matéria na análise do Habeas Corpus (HC) 84025. 
Em seu voto, a ministra Rosa Weber sustentou que, para o direito, o que está em jogo, 
não é o direito do feto anencefálico à vida, já que, de acordo com o conceito de vida 
do Conselho Federal de Medicina, jamais terá condições de desenvolver uma vida 
com a capacidade psíquica, física e afetiva inata ao ser humano, pois não terá 
atividade cerebral que o qualifique como tal. O que está em jogo, portanto, segundo 
ela, é o direito da mãe de escolher se ela quer levar adiante uma gestação cujo fruto 
nascerá morto ou morrerá em curto espaço de tempo após o parto, sem desenvolver 
qualquer atividade cerebral, física, psíquica ou afetiva, própria do ser humano. 
Ministro Luiz Fux foi o quarto a votar na sessão Plenária a favor da possibilidade da 
interrupção da gravidez de fetos anencéfalos. Com base em inúmeros estudos e 
dados científicos, o ministro Luiz Fux afirmou ser possível chegar a “três conclusões 
lastimáveis” sobre a gestação de anencéfalos: que a expectativa de vida deles fora do 
útero é absolutamente efêmera, que o diagnóstico de anencefalia pode ser feito com 
razoável índice de precisão e que as perspectivas de cura da deficiência na formação 
do tubo neural são absolutamente inexistentes nos dias de hoje. 
Diante dessas conclusões, o ministro ressaltou a importância de se proteger a saúde 
física e psíquica da gestante, dois componentes da dignidade humana da mulher. Ele 
desafiou a possiblidade de qualquer pessoa comprovar, à luz do princípio da 
razoabilidade e da proporcionalidade, que é justo relegar a gestante de um feto 
anencéfalo aos “bancos de um tribunal de júri” para responder penalmente por aborto. 
“Por que punir essa mulher que já padece de uma tragédia humana?”, questionou. 
Para Luiz Fux, esse intuito punitivo que não só não se coaduna com a sociedade 
moderna, como está desconectado “da necessidade de se reservar para o direito 
penal apenas aquelas situações realmente aviltantes para a vida em comunidade”.O 
ministro enquadrou a interrupção da gravidez de fetos anencefálicos como matéria de 
saúde pública que aflige, em sua maioria, mulheres de menor poder aquisitivo, sendo, 
portanto, uma questão a ser tratada como política de assistência social. 
A ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha se uniu aos votos dos ministros que a 
antecederam. Em seu voto, ela se manifestou favorável quanto à possibilidade de 
interrupção da gravidez de fetos anencéfalos. 
Segundo a ministra, todos, tanto as contribuições dadas durante a audiência pública 
realizada sobre o tema, bem como os ministros da Corte, estão preocupados com o 
direito à vida e à dignidade da pessoa humana, “com a visão que cada um tem de 
mundo e da própria vida”. Ela avaliou que essa situação reflete o momento 
democrático brasileiro, “de pluralidade e de respeito absoluto pelas opiniões 
contrárias, o qual precisa ser dito exatamente na perspectiva constitucional”. 
Frisou também que o STF não está decidindo nem permitindo a introdução do aborto 
no Brasil, menos ainda a possibilidade de aborto em virtude de qualquer deformação. 
Para ela, essa é uma questão posta à sociedade e o STF está tratando, de saber qual 
interpretação que deve ser dada aos dispositivos do Código Penal no sentido de se 
considerar crime ou não a interrupção da gravidez nesse caso. 
Ministro Ayres Britto afirmou que, 
Levar às últimas consequências esse martírio 
contra a vontade da mulher corresponde a tortura, 
a tratamento cruel. Ninguém pode impor a outrem 
que se assuma enquanto mártir. O martírio é 
voluntário 
Com o voto do ministro Ayres Britto, formou-se uma maioria na Corte pela procedência 
da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54, o objetivo da 
entidade é que seja declarada inconstitucional qualquer interpretação do Código Penal 
no sentido de penalizar o que a entidade chama de “antecipação terapêutica de parto 
de fetos anencéfalos”. 
Para o ministro Britto, a gravidez se destina à vida, e não à morte. Ele disse que é “até 
lógica” a opção da mulher no sentido de interromper a gestação de um feto 
anencéfalo. “É preferível arrancar essa plantinha ainda tenra do chão do útero do que 
vê-la precipitar no abismo da sepultura”, afirmou. 
Por fim, o ministro ressaltou que a mulher, mesmo se sabendo portadora de um feto 
anencéfalo, poderá assumir sua gravidez até as últimas consequências. “Ninguém 
está proibindo. É opcional“, disse. 
Ministro Gilmar Mendes considerou a interrupção da gravidez de feto anencefálo como 
hipótese de aborto, mas entende que essa situação está compreendida como causa 
de excludente de ilicitude, já prevista no Código Penal, por ser comprovado que a 
gestação de feto anencefálo é perigosa à saúde da gestante. 
No entanto, o ministro ressalvou ser indispensável que as autoridades competentes 
regulamentem de forma adequada, com normas de organização e procedimentos, o 
reconhecimento da anencefalia a fim de “conferir segurança ao diagnóstico dessa 
espécie”. Enquanto pendente de regulamentação, disse o ministro, "a anencefalia 
deverá ser atestada por, no mínimo, dois laudos com diagnósticos produzidos por 
médicos distintos e segundo técnicas de exames atuais e suficientemente seguras”. 
Apesar de entender que a regra do Código Penal é a vedação do aborto, o ministro 
Gilmar Mendes avaliou que a hipótese específica de aborto de fetos anencéfalos está 
compreendida entre as excludentes de ilicitude, estabelecidas pelo Código Penal. 
Citou que, conforme a legislação brasileira, o aborto não é punido em duas situações: 
quando não há outro meio de salvar a vida da mãe (aborto necessário ou terapêutico) 
e quando a gravidez é resultante de estupro, caso em que se requer o consentimento 
da gestante, porque a intenção é proteger a saúde psíquica dela. 
O ministro Gilmar Mendes ressaltou a questão de que, o Brasil já possui medidas que 
priorizam a prevenção e não apenas a repressão da interrupção da gravidez. Conta 
ele que o Ministério da Saúde homologou resolução do Plenário do Conselho Nacional 
de Saúde na qual se atribui ao próprio ministério a responsabilidade de promover 
ações que visem à prevenção de anencefalia, disponibilizando ácido fólico na rede 
básica de saúde para acesso de todas as mulheres no período pré-gestacional e 
gestacional, além de assegurar a integração de ácido fólico nos insumos alimentícios. 
O ministro Celso Mello afirmou que, esta malformação fetal seja diagnostica e 
comprovadamente identificada por profissional médico legalmente habilitado”, 
reconhecendo à gestante “o direito de submeter-se a tal procedimento, sem 
necessidade de prévia obtenção de autorização judicial ou permissão outorgada por 
qualquer outro órgão do Estado”, afirmou o ministro, ao concluir seu voto. 
Em seu voto, ele endossou proposta do ministro Gilmar Mendes no sentido de que 
seja solicitada ao Ministério da Saúde e ao Conselho Federal de Medicina a adoção 
de medidas que possam viabilizar a adoção desse procedimento. 
 “Nós não estamos autorizando práticas abortivas, legitimando a prática do aborto”, 
disse o ministro, observando que “esta é outra questão que poderá ser submetida à 
apreciação desta Corte, em outro momento, mas não é o caso”. Ele fez questão de 
afirmar que há uma grande diferença entre legalização do aborto e a antecipação 
terapêutica do parto em caso de anencefalia. 
Em seu voto, ele lembrou que há diversos conceitos de vida, sobre seu início e fim, e 
que a Constituição não define quando ela se inicia. Lembrou também, que na 
Assembleia Nacional Constituinte foram apresentadas variadas emendas 
estabelecendo o início da vida humana a partir do momento da concepção, poém 
foram todas negadas. 
 
4.3- DECISÃO FINAL: 
Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente 
o pedido contido na ADPF 54, ajuizada na Corte pela Confederação Nacional dos 
Trabalhadores na Saúde (CNTS), para declarar a inconstitucionalidade de 
interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta 
tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, todos do Código Penal. Ficaram 
vencidos os ministros Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso, que julgaram a ADPF 
improcedente. 
 
5. CONCLUSÃO 
Ao analisar a questão da interrupção terapêutica da gestação de fetos anencéfalos, 
a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal, entendeu, reconheceu e 
acolheu os argumentos trazidos pelo Conselho Nacional dos Trabalhadores em 
Saúde, que defendiam a possibilidade de ocorrência, alegando que os fetos na 
verdade são natimortos cerebrais, não possuem expectativa de vida extrauterina e 
que por isso não há que se falar em direito a vida, mas que por outro lado, obrigar a 
gestante a levar a gestação a termo, sabendo que a qualquer tempo durante a 
gravidez ou invariavelmente após o nascimento, o feto ou recém nascido, viria a 
falecer, equipara-se a uma situação de tortura, ferindo princípios constitucionais. 
Decidindo procedência da ADPF/54, reconhecendo o direito e a autonomia da 
mulher gestante de feto anencéfalo, e a ela conferindo o poder de decidir sobre sua 
vontade, sobre seu próprio corpo, de acordo com a sua essência e com as suas 
crenças, da melhor forma como lhe prouver, o Supremo Tribunal Federal deu um 
grande passo, não rumo ao futuro, mas sim finalmente se chegando ao presente. 
Deste modo percebe-se que a anencefalia é uma doença de origem desconhecida e 
que acaba matando o feto durante a gravidez ou após seu nascimento, sendo que 
este também e pode nascer cego, surdo, mudo, entre diversos outros problemas. Sem 
sinais de terem origens genéticas, esta doença continua a ser estudada por cientistas,a fim de encontrar uma cura para tal. Sabe-se que existem fatores de riscos que 
podem contribuir para o desenvolvimento do feto anencéfalo. 
6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: 
SILVA, Kátia Costa da, et alli, Aborto e Legalidade- malformação congênita; Algumas 
Patologias Incompatíveis com a Vida. São Caetano do Sul: Editora Yendis, 2007. 
SILVA, César Dário Mariano da. Manual do Direito Penal: Parte Geral 2. ed. São 
Paulo: EDIPRO, 2002. 
SARLET, Ingo Wolfgan, Dignidade da Pessoa Humana e os Direitos Fundamentais 
na Constituição Federal de 1988, in LIMA, Carolina A. de Souza, Aborto e Anencefalia, 
Curitiba: Editora Juruá, 2008. 
Anencefalia. Disponível em: www.anencephalie-infor.org/p/perguntas 
CASTILO, Eduardo. O que é anencefalia? Disponível em 
www.ghente.org/entrevista/oqueé anencefalia.com.

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