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MATERIAL PENAL- LESÃO CORPORAL

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Art. 129 - Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incuravel;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Diminuição de pena
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Aumento de pena
§ 7o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código.
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
Violência Doméstica
§ 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).
§ 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.
1. Objeto material – O tipo do artigo 129 do Código Penal acaba por tutelar a integralidade corporal da pessoa, responsabilizando aquele que, por sua conduta, causa dano às funções biológicas, anatômicas, fisiológicas ou psíquicas de terceiro (da vítima).
Novamente o legislador deixa de estabelecer uma conduta determinada para que o crime se configure, bastando um nexo causal entre uma ação do autor (que não está predefinida pela lei) e a efetiva ofensa à integridade corporal da vítima.
Embora o verbo nuclear do tipo exija uma conduta positiva, uma ofensa à integridade corporal de outrem, compreende-se que o autor também pode responder quando deixa de fazer, quando se omite, nas hipóteses em que a lei lhe impõe o dever jurídico de garantir a integridade física da vítima, situação em que restará caracterizado o crime comissivo por omissão (omissivo-impróprio), na forma do artigo 12, § 2.º, do Código Penal.
Quando a conduta do autor se limitar apenas a causar dor na vítima, sem que disso resulte ofensa à integridade física dela, prevalece o entendimento jurisprudencial e doutrinário de que isso não configurará o crime de lesão corporal, por se considerar que a dor é apenas um fenômeno de índole subjetiva.
As intervenções cirúrgicas, mesmo que resultem em ofensa à integridade corporal do paciente, encontram respaldo no exercício regular de um direito, enquanto tratamentos curativos voltados à melhora das suas condições físicas. Portanto, considera-se excluída a ilicitude de tais atuações médicas.
Dentro do delito de lesão corporal, o enquadramento da conduta do autor deve ocorrer em razão da gravidade do resultado sobre a vítima.
É possível dizer, assim, que quando não demonstrada qualquer consequência, dentre aquelas previstas nos parágrafos 1.º a 3.º e 9.º do artigo 129, restará caracterizado o delito em sua forma simples, prevista no caput do dispositivo, o que se apura através de um raciocínio lógico de exclusão.
Assim, exemplificadamente, quando a lesão corporal resultar morte, incidirá a hipótese do § 3.º; quando resultar incapacidade permanente da vítima para o trabalho, enquadrar-se-á na prevista no § 2.º (inciso I); quando resultar em incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias, capitula-se a conduta tão somente pelo previsto no § 1.º (inciso I); e se nenhuma das hipóteses anteriores for a incidente no caso, restará caracterizada apenas a lesão corporal leve, contida no caput do artigo 129 do Código Penal.
Obs¹: O reconhecimento da insignificância da conduta, quanto à lesão muito branda, recebe resistência da jurisprudência, pois se compreende que a integridade física é bem jurídico superior que não comporta relativizações.
2. – Sujeito ativo – O sujeito ativo do delito pode ser qualquer pessoa, já que a lei não exige alguma condição especial daquele que ofende a integridade corporal de outrem.
Considerando-se criminosa apenas a ofensa física provocada em outrem, conclui-se que a autolesão não é crime. Assim, a pessoa que ataca seu próprio corpo não responde pelo crime de lesão corporal.
No entanto, se a autolesão tiver o intuito de permitir o recebimento de indenização ou valor de seguro, a conduta será criminosa, enquadrando-se, então, como estelionato, previsto no artigo 171, § 2.º, inciso V, do Código Penal.
Aquele que causa lesão em pessoa morta (em cadáver) não responde pelo crime do artigo 129 do Código Penal, mas sua conduta pode se enquadrar nos artigos 211 ou 212 da precitada lei, pela violação do respeito aos mortos.
3. – Sujeito passivo - Qualquer pessoa física pode ser sujeito passivo do crime, excluindo-se, pelas razões já citadas, o autor que provoca lesões em si mesmo.
O cadáver também não pode ser considerado vítima do crime de lesões corporais, por já não ser sujeito de direito.
4. – Elemento subjetivo – Constitui-se no animus nocendi, na vontade agredir fisicamente, que resta demonstrada quando o autor do fato pratica conduta que resultará na ofensa à integridade corporal de terceiro, atuando conscientemente nesse sentido.
Há espaço para o dolo eventual e a conduta culposa também é admitida, estando prevista no § 6.º do artigo 129 do Código Penal.
Obs¹: As lesões corporais graves, gravíssimas e as que resultam morte (§§1.º a 3.º do artigo 129 do Código Penal) podem ser consideradas preterdolosas ou preterintencionais. Elas exigem, portanto, que o resultado mais grave (a lesão corporal grave, gravíssima ou a morte da vítima) seja ao menos previsível ou evitável pelo autor do fato, ainda que não pretendido.
Caso o autor sequer consiga prever o resultado de sua conduta, não se poderá responsabilizá-lo pelo ato. Do contrário, estaríamos admitindo autêntica responsabilidade objetiva na hipótese de lesão corporal, o que colide com a disciplina do artigo 19 do Código Penal.
5. – Consumação:
O delito se consuma quando a agressão do autor resulta na efetiva ofensa à integridade física ou à saúde da vítima, comprovando-se a lesão pelo auto de exame de lesões corporais.
Cogita-se possível a tentativa quando, apesar de não alcançado o resultado lesivo, o efetivo dano corporal, prevalecer na conduta do autor o elemento subjetivo de ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.
Se a vítima não restar ofendida em sua integridade física ou em sua saúde, e também faltar elementos para demonstrar o intuito do autor nesse sentido, o seu dolo, a conduta pode caracterizar residualmente vias de fato, prevista no artigo 21 da Lei das Contravenções Penais.
6. – Lesões corporais graves (§1.º): São as consideradas em razão do resultado da ação do agressor, repreendidas com mais rigor que as lesões leves quando a vítima restar lesionada na forma dos incisos do § 1.º do artigo 129 do Código Penal:
Inciso I – A incapacidade para as ocupações habituais, pormais de trinta dias, não alcança apenas as atividades profissionais da vítima, mas também outras tarefas e rotinas de seu cotidiano, como o lazer, as ocupações domésticas etc.
Se a incapacidade para as ocupações habituais se der por período inferior a trinta dias, então a lesão corporal será leve, na forma do caput, do artigo aqui analisado.
Apesar de se exigir o prolongamento dos efeitos lesão por período superior a trinta dias, ela ainda deve ser temporária. Se for perene (permanente), pode ser enquadrada na hipótese do inciso III, por debilidade permanente de membro, sentido ou função, ou até mesmo como gravíssima, por possível incapacidade permanente para o trabalho, perda ou inutilização de membro, sentido ou função e/ou deformidade permanente (incisos I, III, ou IV do § 2.º do artigo 129 do Código Penal).
Inciso II – O perigo de vida previsto no inciso II deve ser concreto, demonstrável mediante realização de prova técnica na situação de fato (o auto de exame de lesões corporais), que seja conclusivo pela efetiva exposição da vida da vítima a perigo.
Inciso III – A debilidade contida no inciso III está relacionada à redução de uma capacidade atribuída aos membros, sentidos ou função da vítima, sendo que a permanência da debilidade, sua continuidade, estabelece-se em oposição às lesões curáveis.
Membros são os apêndices do corpo, dividem-se em membros superiores e inferiores.
Os sentidos são atributos, atividades desempenhadas pelo organismo em sua correlação com o meio ambiente, como são a audição, a visão, o tato, o paladar e o olfato.
As funções são as atividades fisiológicas desenvolvidas pelo organismo, como são as funções respiratória, circulatória, renal, neurológica, digestiva, cardíaca etc.
A redução de tais atributos fisiológicos, em razão da conduta do autor, caracteriza a lesão corporal grave. A perda deles, de outro lado, destaca a lesão corporal gravíssima.
Obs.: Nas hipóteses envolvendo perda de um dos órgãos duplos (rins, pulmões etc.) admite-se que a lesão provocou a redução das funções do organismo, não se cogitando perda delas, já que a função desempenhada por eles (renal, respiratória etc.) ainda se manterá. Nesses casos, então, a lesão não chega a ser gravíssima.
Inciso IV – A lesão corporal que resulta em aceleração de parto impõe o nascimento do feto com vida. Se por conta da lesão resultar natimorto, então a hipótese será de aborto, configurando-se lesão corporal gravíssima, na forma do inciso V do § 2.º deste artigo.
7. – Lesão corporal gravíssima (§2.º): As consequências arroladas aqui afetam mais severamente a vítima, pelo que entendeu o legislador em cominar penas mais graves nestas hipóteses.
Inciso I – Trata da lesão corporal que resulta em incapacidade permanente para o trabalho, em que se considera a capaz de impedir o exercício de qualquer atividade profissional remunerada, não se limitando apenas àquela habitualmente exercida pela vítima.
Inciso II – A enfermidade incurável se caracteriza justamente pela inexistência de terapia consagrada pela medicina, apta a reestabelecer a saúde da vítima.
A existência de terapias experimentais não descaracteriza a hipótese do inciso II, já que a vítima não pode ser obrigada a se aventurar em tratamentos inconclusivos quanto aos riscos e eficácia.
Obs¹: A transmissão de doenças venéreas, por ato sexual, não caracteriza a hipótese do inciso II do artigo 129, ainda que alguma seja cediçamente incurável. No caso, a situação violará a norma do artigo 130 do Código Penal, já que neste a conduta do autor encontrará todos os elementos de sua definição legal.
Obs²: A transmissão pura e simples de doenças incuráveis, que não se enquadrar nas hipóteses dos artigos 130 e 131 do Código Penal, pode caracterizar lesão corporal gravíssima.
Inciso III – A hipótese deste inciso difere da prevista no inciso III do § 1.º por se tratar, aqui, da efetiva perda ou inutilização do membro, sentido ou função, aplicando-se, assim, sanções mais severas que as previstas para os casos de redução funcional da vítima.
Inciso IV – A deformidade permanente é a que causa alteração no aspecto físico da vítima, que pode lhe resultar em vexame ou desagrado. Sua constatação se dá por meio de exame pericial, seguido de confrontação entre imagens anteriores e posteriores à lesão.
Inciso V – A lesão corporal que resulta em aborto impõe que o autor do fato tenha conhecimento do estado de gravidez da vítima. Por se tratar de conduta preterintencional, em tendo consciência da gravidez da vítima, pode se considerar que assumiu risco de causar a morte do feto, mesmo que não tenha pretendido isso diretamente.
No entanto, se também houve dolo na provocação do aborto, deve se cogitar a incidência dos artigos 125 a 127 do Código Penal.
Obs¹: Para a caracterização do crime, impõe-se a prova do nexo causal entre a agressão e o aborto, mediante laudo pericial.
§ 3.º - Lesão corporal seguida de morte – A doutrina destaca que o § 3.º do artigo 129 do Código Penal contém uma hipótese de homicídio preterintencional (preterdoloso), em que a lesão corporal causada pelo autor resulta na morte da vítima.
Neste caso, embora a morte não tenha sido pretendida (não se conclua pela existência de dolo na morte da vítima), a responsabilidade por ela é imputada ao autor na forma deste parágrafo, desde que previsível em face das circunstâncias.
Em todos os casos, o nexo causal entre a conduta do autor e a morte da vítima deve sempre estar presente.
§ 4.º - Lesão Corporal privilegiada - O § 4.º do artigo 129 repete, em seus fundamentos e no método de redução, as privilegiadoras contidas no § 1.º do artigo 121, ambos do Código Penal. As duas situações consideram que o crime motivado por relevante valor social ou moral, assim como aquele em que o agente atua mediante violenta emoção, quando seguida de injusta provocação da vítima, acomodam redução da pena, de um sexto (1/6) a um terço (1/3)
O relevante valor social é aquele que aproveita a coletividade.
O relevante valor moral é o que vem em defesa da conduta ética, em acordo com os costumes aceitos na comunidade.
A violenta emoção é o estado emotivo que domina o autor ao ponto de reduzir o juízo crítico de sua conduta, que se justifica na hipótese quando seguido de uma provocação injusta da vítima.
Recomenda-se uma leitura dos apontamentos a respeito do artigo 121, § 1.º, em que a matéria foi apreciada.
Substituição da pena - § 5.º - Há no delito de lesões corporais leves (no qual as lesões não são graves) uma hipótese especial de substituição da pena privativa de liberdade por pena de multa, ela incide quando a lesão corporal for privilegiada (§ 4.º do artigo 129 do Código Penal) e também quando as lesões são recíprocas.
Lesão corporal culposa - § 6.º - Ocorre quando da imprudência, da negligência ou da imperícia do autor advém apenas ofensa à integridade corporal corporal da vítima. Independentemente da gravidade das lesões, por não terem sido pretendidas pelo autor do fato (já que ausente o dolo), a pena aplicável é apenas a privativa de liberdade de dois meses a dois anos.
Lesão corporal culposa qualificada ou decorrente da atuação de milícia de segurança ou grupo de extermínio - § 7.º - O parágrafo em questão amplia a incidência da lesão corporal às hipóteses previstas em dois dispositivos que sofreram significativas alterações recentes, os §§ 4.º e 6.º do artigo 121 do Código Penal, que já foram estudadas no artigo 121 do Código Penal.
Então, há previsão legal à lesão corporal culposa qualificada, assim como previsto ao delito de homicídio culposo qualificado, quando ela decorre de inobservância de norma técnica de profissão, arte ou ofício, se omite socorro à vítima ou foge para evitar a prisão em flagrante, em situações equivalentes às previstas no § 4.º do artigo 121 do Código Penal.
Além disso, a lesão corporal decorrente da atuação de milícia que presta serviço de segurança e a oriunda a atuação de grupo de extermínio também se tornaram qualificadas (§6.º do artigo 121 do Código Penal).
Perdão judicialna lesão corporal culposa - § 8.º - Previu aqui o legislador a hipótese de perdão judicial na lesão corporal culposa quando a ação culposa do autor resultar em tal sofrimento pessoal seu que, por si só, já implica em punição pela lesão causada a terceiro, em situações equivalentes àquelas previstas no § 5.º do artigo 121 do Código Penal.
Lesão corporal qualificada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem convivia ou tenha convivido, ou, ainda, na prevalência das relações domésticas, de habitação ou de hospitalidade - § 9.º - A hipótese de lesão corporal aqui qualificada foi incorporada ao diploma penal por força da Lei n.º 11.340/06, destacando-se das lesões corporais leves do caput porque considera as condições pessoais da vítima, notadamente a proximidade do vínculo familiar entre ela e o autor do fato (qualquer parente dele em linha reta – ascendentes ou descendentes, colaterais até o segundo grau – irmãos e cônjuge ou companheiro), bem como nos casos em que se prevalece o delinquente das relações domésticas, de habitação ou de hospitalidade mantidas com a vítima.
Causa de aumento de pena prevista no § 10 – Caso as lesões sejam qualificadas pelas hipóteses dos §§ 1.º a 3.º e as circunstâncias do § 9.º coexistirem no caso concreto, estas já não incidirão como qualificadoras, mas como causas de aumento, em 1/3 (um terço), na dosimetria da pena.
Causa de aumento de pena na lesão corporal qualificada do § 9.º - § 11 -O § 11 do artigo 129 do Código Penal reservou uma última causa de aumento da pena na hipótese de lesão corporal qualificada do § 9.º, quando a vítima for portadora de deficiência.
A reserva legal da lei impõe que a deficiência da vítima só incida como causa de aumento nas situações previstas no § 9.º do artigo 129 do Código Penal, excluindo-a em face das demais. Contudo, nada obsta, em outros casos, seja considerada no agravamento da pena, conforme artigo 61, alínea h, do Código Penal, quando reconhecida a deficiência como enfermidade.
Art. 130 - Perigo de contágio venéreo
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - Somente se procede mediante representação.
1. Objeto material: No seu artigo 130 o Código Penal quer tutelar a incolumidade física da pessoa pelo resguardo da sua higidez sexual, assim como prevenir indiretamente o risco daa disseminação de doenças venéreas no meio social. Para tanto, busca a punição daquele que simplesmente expõe alguém a contágio delas, seja por relação sexual ou por ato libidinoso.
A mera ação de expor a contágio, sem a necessidade de que este efetivamente ocorra, é suficiente para configurar o delito do artigo 130 do Código Penal, circunstância esta que também faz concluir tratar-se de crime de perigo.
Não se cogita a prática do crime por omissão.
A exposição da vítima a contágio deve ser veiculada através da relação sexual (que é o coito normal) ou de ato libidinoso (aquele voltado à satisfação do prazer sexual do autor). Se outro for o meio adotado para o contágio, poderão restar caracterizadas as hipóteses dos artigos 131 ou 132 do Código Penal.
2. Sujeito Ativo: A lei não exige uma qualidade especial do autor, pelo que qualquer pessoa pode praticar o delito, desde que seja portadora de doença venérea.
3. Sujeito Passivo: Também não há exigência de uma qualidade especial para que alguém seja vítima do crime, razão pela qual o ofendido pode ser qualquer pessoa.
4. Elemento Subjetivo: Não se vê na redação do dispositivo uma precisão do legislador no que se refere ao elemento volitivo. Não obstante, é possível concluir que a vontade do autor deve ser condensada em três intensidades diversas (em três figuras distintas) para que o delito se configure.
4.1. A mais branda destaca que o autor “... deve saber que está contaminado...”, impondo-se a ele a obrigação pessoal da ciência de seu próprio contágio quando da prática do ato.
Esta hipótese pode restar configurada quando o autor percebe sintomas físicos que o façam concluir estar portando doença venérea e, embora não tenha certeza sobre o seu efetivo contágio, pratica o ato sexual ou libidinoso mesmo assim.
Obs.: Parte da doutrina compreende que neste ponto o perigo de contágio venéreo do artigo 130 do Código Penal contempla a culpa, já que o autor negligencia seu próprio estado de saúde quando pratica o ato.
No entanto, Celso Delmanto descarta do tipo em questão a modalidade culposa, entendendo que extensão da norma alcança o dolo eventual. Conclui assim porque a existência culpa no tipo penal impõe expressa previsão nesse sentido, em razão do princípio da reserva legal (já que a modalidade culposa deveria ser expressamente contemplada na lei), e também porque a incidência da culpa na hipótese destoa do disposto no artigo 18, inciso II, do Código Penal.[1]
Admitir-se-ia, então, que o dolo eventual decorreria daindiferença do autor quanto aos sintomas de doença venérea que já apresenta, concluindo-se disso o potencial risco de contágio de outrem quando da prática do ato.
Obs.: Igualmente corrobora a tese de Delmanto o argumento de que se houvesse sanção à conduta culposa, ela deveria ser menor que a do delito cometido dolosamente, não se podendo compreender para as duas espécies de conduta previstas no caput (o dolo de quemsabe e a “culpa” de quem deve saber) a mesma pena.
4.2. A segunda intensidade de dolo necessário para configurar o crime em questão dispensa o debate anterior, encampando de modo indiscutível a vontade do autor na prática do delito. Então, incide a sanção do artigo 130 do Código Penal quando o agente tem plena ciência de que está portando doença venérea e, mesmo assim, expõe alguém ao risco de contágio por ela.
O verbo “sabe”, contido no caput do artigo 130, destaca o efetivo conhecimento do autor do fato quanto ao seu estado de saúde e aos riscos de transmissão.
4.3. A última modalidade, prevista no § 1.ºdo artigo 130 do Código Penal, acaba exigindo vontade mais intensa que as demais por não se contentar apenas com o intuito da exposição a perigo, já que exige um dolo específico de contaminar a vítima, daí se justificando a punição mais severa.
Ela se configura quando demonstrado que o autor pratica o ato com o firme propósito de contaminar o ofendido. Neste caso, contudo, o crime também se consuma caso o contágio não se realize. A sanção mais severa nesta hipótese se justifica apenas porque o dolo do autor mostrou-se mais lesivo.
5. Consumação e tentativa: O crime restará consumado quando o autor lograr expor a vítima a contágio de doença venérea, durante a relação sexual ou quando da prática de ato libidinoso, sendo irrelevante se não conseguiu contagiá-la.
E por apresentar um iter fracionável, é plausível admitir que a cadeia de atos contidos na prática do crime seja frustrada por circunstâncias alheias à vontade do agente, o que pode ocorrer pela resistência da vítima em praticar a relação sexual ou o ato libidinoso, assim como por algum outro evento que obste a consumação dele.
Se o ofendido restar contagiado poderá ocorrer a incidência de um crime mais grave, como a lesão corporal grave, gravíssima ou a seguida de morte, incidindo a norma do artigo 129, §§ 1.º a 3.º, do Código Penal, caso a intenção do agente extrapole a vontade do simples perigo de contágio.
Quanto à lesão corporal seguida de morte, impõe-se também a previsibilidade do resultado.
Na hipótese de haver intenção de contágio e animus necandi(dolo de matar), convém ponderar a hipótese de homicídio doloso.
Caso o dolo fique limitado apenas à exposição ao contágio, eventual transmissão poderá ensejar lesão corporal culposa ou homicídio culposo.
6. Crime Impossível: Admite-se a figura do crime impossível quando a vítima já se apresentava infectada peladoença venérea portada pelo autor.
7. Crime Putativo: Ocorre quando o autor não é portador da doença que intenta transmitir, embora acredite estar contaminado.
8. Ação Penal: Processa-se no Juizado Especial Criminal o delito previsto no caput, apenas, conforme artigo 61 da Lei n.º 9.099/95, em razão da pena máxima, que não supera 02 anos.
O crime do § 1.º do artigo 130 do Código Penal extrapola a competência do Juizado Especial pelo valor da pena máxima (que é de quatro anos) remanescendo, contudo, a proposta de suspensão condicional do processo, de acordo com o artigo 89 da Lei de Juizados Especiais, já que sua pena mínima é de 01 (um) ano.
Em ambos os casos a ação penal é pública condicionada à representação, conforme § 2.º do artigo 130 do Código Penal. 
Art. 131 – Perigo de contágio de moléstia grave
Art. 131 – Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir contágio:
Pena – Reclusão, 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
1. Objeto Jurídico: O artigo 131 quer tutelar a segurança à incolumidade física da pessoa, coibindo a pratica de ato com potencial ofensividade à saúde dela, bem como prevenir a voluntária disseminação de doenças graves na sociedade.
Diferentemente do previsto no artigo 130, a norma em questão não exige que o ato praticado tenha natureza sexual, libidinosa ou qualquer outra específica, por isso a doutrina diz que se trata de delito de ação livre.
Noutros termos, a incidência desta norma ultrapassa os limites que o artigo 130 do Código Penal impõe ao perigo de contágio venéreo. Assim, compreende-se que a exposição a contágio de doença venérea, por outro meio que não o ato sexual ou o libidinoso, amolda-se à regra do artigo 131 da norma penal.
E o mesmo também ocorre com o perigo de contágio de outras doenças por ato sexual ou libidinoso (que não sejam venéreas), sendo hipótese, então, do artigo 131 do Código Penal.
Em resumo, se na situação concreta a doença for grave, mas não for venérea e se der por ato sexual e/ou libidinoso, ou, em sendo venérea, não se der por ato sexual e/ou libidonoso, incidirá o artigo 131 do Código Penal, pois neste não se exige uma forma específica de se expor a vítima a perigo de contágio, sequer uma natureza específica da doença, contanto que seja enfermidade grave.
Obs.¹: A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), mais conhecida como AIDS não se trata de doença venérea, embora uma das formas de contágio seja pelo ato sexual. Assim, a potencial exposição do ofendido ao contágio por ela caracteriza a hipótese do artigo 131 e não do artigo 130 do Código Penal.
Obs.²: Compreende-se acertado o entendimento de que a gravidade da doença deve ser aferida mediante perícia médica.
2. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito em questão, desde que esteja contaminado com a doença grave a ser potencialmente transmitida.
3. Sujeito passivo: O ofendido, neste caso, será qualquer pessoa, desde que já não esteja adoecida pela enfermidade a cujo perigo de contágio foi exposta.
4. Elemento subjetivo: Além da ciência quanto ao seu estado de saúde e à potencialidade de transmissão da doença, a norma do artigo 131 do Código Penal exige o dolo específico de promover a transmissão da doença. Deve o autor pretender o contágio quanto praticar o ato capaz de transmitir a moléstia grave que possui.
Obs.¹: O dolo exigido neste artigo tem a mesma intensidade daquele previsto no § 1.º do artigo 131 do Código Penal. Cumpre notar, aliás, que as penas para os dois delitos são idênticas.
A norma não pune o ato praticado culposamente, mediante imprudência, negligência ou imperícia.
5. Consumação e tentativa: O crime se realiza com a prática do ato capaz de induzir a vítima a contágio de doença grave, com a intensão da efetiva contaminação, ainda que seja prescindível a efetiva ocorrência desta.
Aliás, se o contágio ocorrer o crime deixará de ser de perigo e será de lesão corporal, amoldando-se, conforme a gravidade das consequências, às hipóteses dos §§ 1.º a 3.º do artigo 129 do Código Penal, pois já contendo estes o dolo da ofensa, logrando êxito o agente em realizá-la, então foram satisfeitas todas as elementares das lesões corporais dolosas.
Poderá responder, inclusive, por homicídio doloso se demonstrado o animus necandi, a vontade do autor de matar o ofendido.
Outrossim, caso a efetiva contaminação se dê por negligência, imprudência ou imperícia do autor, restará caracterizada a lesão corporal culposa ou o homicídio culposo, conforme a situação.
6. Ação Penal: Na hipótese do artigo 131 a ação penal é pública incondicionada, sendo possível, à luz do artigo 89 da Lei n.º 9099/95, suspensão condicional do processo, já que a pena mínima não é superior a 01 ano.
Art. 132 - Perigo para a vida ou saúde de outrem
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.
1. Objeto jurídico: Tal é a preocupação do legislador em preservar a vida e a saúde da pessoa humana que a mera exposição de tais bens jurídicos a perigo já é considerado crime, concluindo-se daí que a lei não tolera sequer condutas dirigidas à exposição deles a risco.
A princípio a norma compreende criminosa a conduta positiva do autor de expor a vida ou a saúde do ofendido a perigo, uma ação propriamente dita (crime comissivo). Contudo, também é possível que ele seja praticado quando o autor deve evitar o resultado lesivo (quando o delito será omissivo impróprio ou comissivo por omissão), ao assumir a posição de garantidor da segurança dos precitados bens jurídicos.
O perigo deve ser concreto, apresentando-se direto e iminente, já que a norma assim dispõe, impondo-se a prova de comprovação de que houve efetiva exposição da vida ou da saúde a perigo.
2. Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode praticar o delito em questão.
3. Sujeito passivo: Qualquer pessoa pode ser ofendida, não se exigindo dela qualquer atributo especial.
4. Elemento subjetivo: Para a ocorrência do fato típico em questão é exigida a vontade de expor a vida de outrem a perigo, nisso se concentra o dolo do autor. E se pela intenção dele for alcançada a efetiva ofensa à vida ou à saúde do ofendido, já não incidirá o artigo 132, mas sim o dispositivo que pune a efetiva violação de tais bens jurídicos (ex: lesão corporal ou homicídio).
Obs.: É compreensível que o delito do artigo 132 incida apenas de modo subsidiário, quando a conduta não resultar em violação de norma penal mais grave.
A contrario sensu, se não restar configurado outro delito mais grave que ele, então a incidência deste tipo será impositiva, por expressa previsão legal.
Condutas eivadas de imprudência, negligência ou imperícia, porquanto próprias do ato culposo, não são puníveis na forma do artigo 132 do Código Penal. Assim, a exposição a perigo decorrente de ato desastroso do autor não configura o crime, já que não há previsão para a punição do fato praticado culposamente.
5. Consumação e tentativa: O crime se consuma com a simples exposição da vítima a perigo, admitindo-se, também, a tentativa.
6. Causa de aumento pelo transporte irregular: A ocorrência do crime quando do transporte irregular de pessoas para a prestação de serviços é acréscimo decorrente da Lei n.º 9.777/98, adicionada ao ordenamento com o objetivo de punir com mais rigor o transporte irregular de trabalhadores angariados para a prestação de qualquer serviço.
No Brasil, um grave problema decorrente do transporte irregular dos “boias-frias” para as colheitas de cana-de-açúcar, eventualmente transportados na área de carga de caminhões, sem qualquer medida de segurança à integridade física ou à vida deles motivou repressãomais severa. O crime praticado nestas condições torna impositivo o aumento da pena de um sexto (1/6) a um terço (1/3).
7. Ação Penal: A ação é pública incondicionada e segue o rito do Juizado Especial Criminal, inclusive quando da incidência do parágrafo único do artigo 132 do Código Penal, pela ampliação da competência dos Juizados Especiais Criminais para crimes cuja pena máxima não superior a 02 anos.
Art. 133 – Abandono de incapaz
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
III - se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.
1. Objeto Jurídico: O bem jurídico tutelado na hipótese é a segurança da saúde e da vida da pessoa que não pode, por suas próprias forças, defender-se das adversidades resultantes do abandono praticado pelo seu responsável.
Para coibir dito desamparo a lei descreve como criminoso o ato de abandonar, largar, soltar etc. a pessoa que se mostra incapaz de garantir a própria segurança, que deveria ser garantida pelo seu responsável.
A materialidade do crime também exige a demonstração de uma situação concreta de perigo, pois não há uma presunção legal de incapacidade de defesa na hipótese. Desse modo, é a apreciação do caso concreto que levará ao reconhecimento do efetivo abandono do incapaz.
A prática do delito pode se dar por uma ação do autor (quando o responsável leva a vítima a um determinado lugar e a abandona lá) como também por omissão (ao deixar a vítima em determinado local ausentando-se dali o autor do fato a fim de expô-la a perigo).
Não é apenas um deslocamento espacial/geográfico entre o autor e o ofendido que configura o crime, materializando-se ele também quando agente deixa de prestar o devido cuidado ao indefeso, mesmo mantendo-se próximo a ele.
É um crime próprio pelas condições particulares do sujeito ativo e passivo.
2. Sujeito ativo: Sujeito ativo pode ser aquele que tem a vítima sob seus cuidados.
Isso pode ocorrer em situações excepcionais, que, quando ausentes, não motivam para qualquer responsabilidade sobre o ofendido (p. ex. enfermeira com relação ao seu paciente, a esposa quanto aos cuidados com o marido adoentado ou situação inversa etc.).
O sujeito ativo será também o que mantém a vítima sob sua guarda, caracterizando-se esta por uma dependência contínua do ofendido com o autor do delito.
Inclui-se como sujeito ativo do delito o que mantém a vítima sob sua vigilância, a pessoa a quem foi incumbida a segurança pessoal da vítima.
Também poderá ser autor do delito o que tem a vítima sob sua autoridade, em decorrência de um vínculo familiar (p. ex. pai ou mãe com relação aos filhos submetidos ao poder familiar) ou funcional (p. ex. autoridade policial com relação ao prisioneiro sob sua custódia).
3. Sujeito passivo: Pode ser qualquer pessoa que se encontre sob os cuidados, a guarda, a vigilância ou a autoridade do autor do fato, e que se mostre indefesa, efetivamente incapaz de garantir sua vida ou segurança diante dos riscos do abandono.
Obs.: A norma penal não exige uma correlação desta incapacidade com aquela necessária para os atos da vida civil, prevista no Código Civil. Então, é comum enquadrar nesta situação os submetidos ao poder familiar, à tutela e à curatela, assim como os idosos, os doentes, os portadores de necessidades especiais etc. (mesmo quando civilmente capazes), cuja garantia da própria segurança é exigida de outrem.
4. Elemento subjetivo: Constitui-se na vontade consciente do autor de abandonar a pessoa posta sob sua responsabilidade, expondo-a a risco em face do qual ela não pode oferecer defesa.
Se o autor compreender, na situação concreta, que o ato praticado não implica em abandono, ou que o ofendido terá capacidade para subjugar a situação de risco, quando de fato este não tem, compreende-se na hipótese a ocorrência de erro de tipo, na forma do artigo 20 do Código Penal.
Obs.: Se verificado o dolo do autor com relação ao resultado mais grave, então o fato deve ser compreendido como lesão corporal grave ou homicídio, conforme as consequências (artigo 129 ou 121, ambos do Código Penal)
Não há previsão do delito na modalidade culposa.
5. Consumação e tentativa: O delito se consuma quando do efetivo abandono do incapaz, cogitando-se a tentativa quando, depois de iniciada a atuação do autor, algum evento o impeça de abandonar a vítima.
Cogita-se que na prática por omissão a tentativa do crime não é possível.
6. Crimes qualificados: As formas qualificadas do crime, previstas nos §§ 1.º e 2.º do artigo 133 do Código Penal encerram figuras penais preterdolosas (dolo no antecedente e culpa no consequente), impondo-se que sejam previsíveis pelo autor para que incidam na hipótese.
6.1. Abandono que resulta em lesão corporal de natureza grave: as hipóteses dos §§ 1.º e 2.º do artigo 129 do Código Penal devem orientar o intérprete na identificação da gravidade da lesão, para o enquadramento adequado do §1.º do dispositivo em comento.
6.2. Abandono que resulta em morte: Se da exposição a perigo sobrevier a morte do abandonado, que não era pretendida, mas poderia ser prevista, então incidirá a sanção prevista no § 2.º do artigo 133 do Código Penal.
7. Causas de aumento de pena: O agravamento da pena opera-se em nas hipóteses previstas no caput, §§ 1.º ou 2.º do artigo 133 do Código Penal, impondo-se o aumento da pena em um terço (1/3) quando verificadas na hipótese.
7.1. Abandono efetuado em lugar ermo: O lugar ermo é aquele isolado, pouquíssimo frequentado, o que acaba por dificultar eventual localização do ofendido ou a própria busca dele por socorro.
7.2. Se o agente é ascendente, descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima: A lei determina especial rigor à sanção das pessoas indicadas no inciso II do § 3.º do artigo 133 do Código Penal por se compreender exigível delas maior zelo delas em face do ofendido, em razão de uma maior solidariedade exigida do autor em face da vítima.
Obs.¹: É de se reconhecer que causa de aumento prevista neste parágrafo afasta a agravante do artigo 61, inciso II, aliena “e”, do Código Penal, a fim de se evitar o proibido bis in idem.
Obs.²: Compreende-se também que, caso a autoridade do autor sobre o ofendido, prevista no caput do artigo, decorra do exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela, não se poderá cogitar a causa de aumento prevista no debatido inciso II, pois a circunstância determinante de sua aplicação já integrou na hipótese um dos elementos do delito, do contrário isso também resultaria em bis in idem.
8. Ação penal: É pública incondicionada, admitindo-se a suspensão condicional do processo apenas nas hipóteses do caput e § 1.º.
Art. 134 – Exposição ou abandono de recém-nascido
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
1. Objeto jurídico: Concluí-se da redação do dispositivo a intenção do legislador de tutelar a segurança da integridade física e da própria vida do recém-nascido.
A doutrina compreende que o texto do caput é redundante porque o ato do abandono também implica na exposição. Contudo, ao que parece isso não prejudica a incidência da norma, que quer coibir justamente o ato de deixar o recém-nascido sem assistência, subtraindo-lhe as cautelas necessárias para sua própria segurança.
A circunstância doabandono exige que o neonato fique exposto a situação concreta de risco, sem embargo à presunção absoluta no sentido de que, por suas próprias forças, ele estará indefeso em qualquer cenário de risco no qual for deixado.
Pelas penas cominadas, concluí-se que o delito do artigo 134 é uma modalidade privilegiada em relação à conduta prevista no artigo 133, ambos do Código Penal. Para sua materialização, no entanto, há exigência que a exposição do recém-nascido seja motivada para ocultar desonra própria do autor do fato, sendo que a parte final do dispositivo também acaba por definir o sujeito ativo (a pessoa que pode ter sua honra impugnada), bem como a vontade específica do autor na prática do ato (a finalidade específica de ocultar a desonra).
2. Sujeito ativo: A lei exige que o autor do fato tenha alguma honra cuja preservação motivaria o abandono do neonato. Daí se deduz que ele pode ser a mãe do infante, quando a concepção advier de relação ilegítima ou de adultério, assim como o pai da criança cuja concepção faria prova conclusiva de sua infidelidade, enquanto casado ou comprometido com outra pessoa que não a mãe da vítima.
Sem embargo, há também entendimento de parte da doutrina (p. ex. Celso Delmanto, in Código Penal Comentado) no sentido de que apenas a mãe do recém-nascido teria desonra a ocultar nessa hipótese, pelo que somente ela poderia ser considerada autora do crime.
Sustenta-se que a prostituta não pode ser considerada autora do crime do artigo 134 do Código Penal, porquanto a natureza da sua atividade já lhe impõe situação vexatória. Então a ela remanesceria a incidência do artigo 133, da lei penal.
3. Sujeito passivo: É o recém-nascido, o que ainda não perdeu o cordão umbilical, sendo este o critério científico.
A ampliação do entendimento sobre o momento até quando a vítima seria considerada recém-nascida, que para o senso comum ultrapassa dito instante, não obstante aparentemente plausível, poderia restar impedida pela circunstância de que a concepção desonrosa não poderia ser mantida clandestina por muito tempo, já que logo a criança seria vista por terceiros, por isso se afigura razoável vincular a incidência deste artigo ao conceito científico, aplicável na espécie.
4. Elemento subjetivo: O dolo está no ato livre e consciente da exposição do recém-nascido a situação de abandono e risco, cumulada com a crença do autor de que tal conduta salvará sua própria honra. Não há modalidade culposa para o crime.
Se o nascimento da vítima não foi sigiloso, não há mais como ocultar a desonra, pelo que não se cogita a prática do crime do artigo 134 do Código Penal, remanescendo, contudo, a hipótese do artigo 133 deste.
5. Consumação e tentativa: Para a consumação do crime do artigo 134 do Código Penal basta a exposição do recém-nascido a algum perigo, sem a necessidade de que a lesão decorrente do risco efetivamente ocorra. Aliás, caso esta se efetive, incidirá uma das modalidades qualificadas dos § 1.º e 2.º do dispositivo.
6. Modalidades qualificadas dos §§ 1.º e 2.º do artigo 134 do Código Penal; As formas qualificadas do abandono de recém-nascido ficam caracterizadas nas ocasiões em que o resultado da conduta ultrapassa o limite da simples exposição ao risco, advindo então um dano concreto à vítima, que resulte na lesão corporal ou na morte dela.
Nessas ocasiões é exigível do autor do fato a previsibilidade do resultado mais grave, já que se configuram modalidades preterdolosas do crime.
7. Ação penal: A ação penal é pública incondicionada, já que inexistente disposição em sentido diverso.
Na hipótese do artigo 134, caput, a competência para julgamento do crime é do Juizado Especial Criminal, em razão do disposto no artigo 61 da Lei n.º 9.099/95, e o enquadramento da conduta no § 1.º autoriza apenas a suspensão condicional do processo, pelo disposto no artigo 89 da Lei dos Juizados Especiais.
Art. 135 – Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
1. Objeto Jurídico: A tutela da norma penal destaca aqui a defesa da vida e da saúde da pessoa, que se dá mediante imposição de um dever geral de solidariedade no sentido de que todos têm a obrigação dar assistência à criança abandonada ou extraviada, à pessoa inválida ou ferida, assim como ao desamparado ou em grave e eminente perigo de vida, quando isso for possível sem risco pessoal, também punindo o ato egoístico daquele que nem sequer se digna a pedir o socorro da autoridade pública, em favor da vítima.
Embora descreva condutas alternativas (“deixar de prestar assistência” ou “não pedir, nesses casos, socorro”), não se pode concluir que a redação da norma outorga ao autor do fato a liberdade de optar entre prestar assistência ou apenas chamar o socorro, para que não lhe incida a pena cominada. Isso porque, enquanto ausente o risco pessoal ao autor, é plenamente exigível que se solidarize com a situação do ofendido de modo a lhe prestar imediato socorro.
Assim, é de se admitir o pedido de socorro como providência subsidiária, possível apenas diante da impossibilidade de o autor alcançar imediato amparo ao ofendido. Sendo possível o socorro, sem risco ao autor, e tendo ele apenas solicitado auxílio à autoridade pública, tem-se que o crime restará caracterizado.
Contudo, o delito não se configura quando demonstrado que o próprio socorro ou o chamado por ele implicar em risco pessoal ao autor do fato.
A norma descreve ato omissivo próprio, pois, diante da obrigação de assistir o desvalido, implícita na norma penal, a simples omissão impõe a incidência do artigo 135 do Código Penal. Descarta-se o enquadramento do tipo como omissivo impróprio justamente por não incidir quaisquer daquelas alíneas do § 2.º do artigo 13 do Código Penal.
Obs¹: Enquanto a norma do artigo 133 do Código Penal quer punir o ato de quem coloca a vítima em situação de risco, as disposições contidas no artigo em tela pretende punir a omissão daquele que encontrou alguém em risco (dentro das condições do artigo em tela) e não providenciou qualquer socorro.
2. Sujeito ativo: Qualquer pessoa que encontre alguém nas condições de vulnerabilidade previstas no artigo em questão pode ser considerada autor do crime.
3. Sujeito passivo: O caput do dispositivo elenca um rol de pessoas que figuram como sujeitos passivos do crime em questão:
Compreende-se como criança, para a norma, o infante que não pode oferecer defesa própria à situação de risco à qual foi submetida, sendo considerada abandonada aquela exposta à situação de risco.
A criança extraviada é aquela que está perdida.
A pessoa inválida é a que, por deficiência, doença ou idade, está exposta ao risco.
A pessoa ferida é a que teve sua integridade corporal ofendida.
O desamparado é o que não tem qualquer auxílio.
A gravidade da situação e a eminência do perigo em que se encontra a pessoa, que também encampam elementares do tipo, devem ser avaliadas no caso concreto, porquanto qualquer pessoa submetida a tais condições também é considerada sujeito passivo do crime.
4. Elemento subjetivo: A norma exige a consciência do autor no sentido de que sua conduta (de não prestar assistência ou não pedir ajuda) deixará o ofendido desamparado, exposto a risco.
Não se considera criminosa a conduta praticada culposamente.
5. Consumação e tentativa: O crime se consuma diante da omissão do autor à falta de socorro à vítima. Não se cogita a hipótese de tentativa.
6. Modalidades qualificadas: Sobrevindo a lesão corporal de natureza grave ou a morte da vítima, em sendo previsível o resultado pelo autor, mas não pretendido, por se tratar de crime preterdoloso, a normapenal impõe sanção mais severa, aumentando-se a pena de metade na ofensa à integridade física da vítima, bem como a triplicando, na hipótese de morte.
7. Ação penal: É pública incondicionada, sendo competente para julgá-lo o Juizado Especial Criminal, inclusive quando configuradas as hipóteses do parágrafo único do artigo 135 do Código Penal.
Art. 135–A - Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial.
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.
1. Objeto Jurídico: Acrescido pela Lei n.º 12.653/12, o artigo 135-A do Código Penal quer a tutelar a saúde e a vida da pessoa que, por apresentar estado de saúde grave, determinante de imediato socorro especializado, busca atendimento médico-hospitalar emergencial.
A norma repreende, assim, o ato daquele que recusa o atendimento de emergência ou o protela sem prévia garantia de pagamento pelo serviço ou o cumprimento de alguma formalidade administrativa junto ao estabelecimento hospitalar em que será atendido o paciente.
O verbo nuclear do tipo encerra o ato de exigir, de impor o cumprimento de determinadas condições, excluindo-se da incidência da norma, então, a simples conduta de solicitar ou sugerir.
Nestas últimas situações, se não há uma imposição ao cumprimento das condições para o atendimento, remanesce a voluntariedade do sujeito passivo de aceitar o recusar o que lhe foi sugestionado, desde que tal proceder não seja condição ao atendimento.
Sem embargo, esta hipótese converte-se em exigência se a solicitação de pagamento e/ou de preenchimento for posta como condição de atendimento, já que neste caso o correrá uma autêntica exigência, pois não haverá alternativa ao paciente (ex: “sugerimos que dê a garantia ou não serás atendido”). Neste caso haverá crime.
Entende-se como cheque a ordem de pagamento à vista disciplinada pela Lei n.º 7.357/85. Contudo, a lei do cheque não prevê a figura jurídica do cheque-caução. Apesar disso, é de se compreender como tal aquele costumeiramente dado em garantia ao cumprimento de alguma obrigação.
A nota promissória é o título de cambial que contém em si uma promessa de pagamento.
O conceito técnico de emergência está descrito no parágrafo segundo do artigo 1.º da Resolução n.º 1.451/95 do Conselho Federal de Medicina, compreendendo-se como tal “... a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo portanto, tratamento médico imediato.”
Obs: Pela redação do texto da lei parece que o legislador não quis reprimir a simples exigência de pagamento, contentando-se apenas em coibir a cobrança de garantias. Assim, consta que a exigência pura e simples de preço pelo atendimento (sem qualquer tipo de garantia) não configura o crime do artigo 135-A do Código Penal, posto que o princípio da taxatividade da norma penal só tolera a punição de condutas previstas expressamente. Neste caso, então, cogitar-se-ia a hipótese do artigo 135 da lei penal.
2. Sujeito ativo: Qualquer pessoa que faça as exigências pode ser autora do crime.
3. Sujeito passivo: Tanto o próprio enfermo que roga atendimento, como alguém a quem é exigida a prestação de caução ou o preenchimento de algum formulário para atendimento daquele, podem ser considerados sujeitos passivos do crime.
4. Elemento Subjetivo: Só é criminosa a conduta praticada com a finalidade específica da exigência da caução ou do preenchimento de formulários como condição ao atendimento (daí advindo o dolo da conduta do autor).
Por não haver previsão legal para a modalidade culposa, não é criminosa a conduta cometida culposamente.
5. Consumação e tentativa: o crime se consuma com a simples exigência, sendo difícil imaginar uma situação concreta de tentativa. Contudo, não se ignora entendimentos no sentido de que a exigência escrita ou não verbal pode ser tentada, quando não chegar ao conhecimento da vítima por circunstâncias alheias à vontade do autor.
6. Modalidades qualificadas: Sobrevindo a lesão corporal de natureza grave ou a morte da vítima, em sendo previsível o resultado pelo autor, mas não pretendido (por se tratar de crime preterdoloso) a norma penal exige imposição de sanção mais severa. Aumenta-se a pena até o dobro se o crime resultar em lesão corporal grave, bem como até o triplo, na hipótese de morte do paciente.
6. Ação penal: Será pública incondicionada, processando-se perante o Juizado Especial Criminal nas hipóteses do caput e naquelas que não resultar em morte da vítima.
Art. 136 – Maus-tratos
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
1.            Objeto Jurídico: Novamente se destaca na norma a tutela da segurança à incolumidade física e à vida da pessoa, mediante repressão a abusos praticados quando da educação ou da correção, assim como em razão de tratamento e/ou custódia da vítima.
O que se extrai do dispositivo é que o exercício da educação, da correção e da disciplina deve ser moderado, não se tolerando que resulte na exposição da vítima a perigo de saúde ou de vida.
Para que o delito se configure a exposição a perigo deve decorrer da privação da alimentação ou dos cuidados indispensáveis, da submissão a trabalho excessivo ou inadequado ou, ainda, mediante abuso correcional ou disciplinar.
2.            Sujeito ativo: Será considerado sujeito ativo do crime do artigo 136 do Código Penal apenas aquele que tem o sujeito passivo sob sua autoridade, guarda ou vigilância para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia. Trata-se, pois, de crime próprio.
3.            Sujeito passivo: O sujeito passivo é a pessoa submetida à autoridade, guarda ou vigilância de outrem para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia.
4.            Elemento subjetivo: É a vontade de expor a perigo, o dolo de perigo, acrescido do intuito específico da correção, o animus corrigendi ou animus disciplinandi, sob pena de caracterizar a prática de outro crime, tal como o do artigo 132 do Código Penal.
Não se cogita a prática do crime sob a modalidade culposa.
5.            Consumação em tentativa: O delito se consuma quando exposta a vítima a risco de vida ou de saúde, sem a necessidade que este ocorra.
Cogita-se possível a tentativa, nas hipóteses que a conduta do autor implica numa comissão, numa ação concreta.
6.            Maus-tratos qualificados: quando previsível um resultado mais grave que acaba se realizando (crime preterdoloso), a norma estabelece sanções mais severas do que aquelas previstas para o crime praticado sob a modalidade simples.
Quando a exposição a perigo resultar em lesão corporal de natureza grave a pena será de reclusão, de um a quatro ano.
Se a exposição a perigo resultar em morte a sanção será de quatro a doze anos, também de reclusão.
7.            Causa de aumento: Praticado o crime contra a vítima menor de 14 anos, impõe-se o aumento da pena em 1/3.
Obs.: É corrente na doutrina que as agravantes previstas no artigo 61, inciso II, alíneas “e”, “f” e “h” do Código Penal não podem ser consideradas na hipótese deste tipo penal, pois já integrama conduta prevista no caput do dispositivo. Do contrário, haverá bis in idem
Art. 138 - Calúnia
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Exceção da verdade
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
1.  Objeto Jurídico – Na tutela da honra objetiva da pessoa (que é o conceito dela perante terceiros) a norma penal coíbe a conduta de imputar (divulgar, tornar público, indicar, atribuir etc...) falsamente a alguém a prática de algum crime.
O delito de calúnia se caracteriza pela imputação falsa à autoria de um crime, quando se afirma que alguém praticou uma conduta individualizada, igualmente adequável à norma penal como delito.
Logo, o autor do delito de calúnia pratica tal crime quando narra uma conduta certa, determinada e também prevista como criminosa, imputando ao caluniado sua autoria, mesmo ciente da falsidade da acusação.
Um exemplo:
- Chamar alguém de “ladrão” de modo puro e simples, sem referências ao fato que ensejou tal acusação, não configura o crime de calunia, já que não há qualquer descrição da conduta desonrosa, prevista como criminosa. Esta seria a hipótese de injúria.
Contudo, dizer que “sicrano” subtraiu um par de calçados da vítima “beltrano” acaba por caracterizar o delito, já que o caluniante narrou a prática do delito de furto, imputando falsamente à vítima (sicrano) a autoria de dito crime contra o patrimônio. Disso advém a ofensa à honra objetiva da pessoa, que provoca a incidência do artigo 138 do Código Penal.
2. Sujeitos Ativo e Passivo – Será autor do delito de calúnia qualquer pessoa que prolate imputação falsa de crime.
Havia norma penal específica definindo, ao menos abstratamente, sanção mais severa para calúnia praticada na atividade jornalística (pena máxima maior – artigo 20 da Lei n.º 5.250/67).
Não obstante, o texto legal que a previa não foi recepcionado pelo regime constitucional. Isso foi o que entendeu o pleno do Supremo Tribunal Federal no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n.º 130/DF julgada procedente em 30/04/2009, para fins de declarar a inconstitucionalidade da Lei de Imprensa.
Daí que, para efeito de responsabilidade criminal, os jornalistas equiparam-se a qualquer outro autor de crime de calúnia, passíveis, então das sanções do artigo 138 do Código Penal.
Atualmente é considerado crime comum, portanto.
O entendimento sobre a matéria (jornalista não mais como sujeito ativo do delito do artigo 20 da Lei de Imprensa, pela inconstitucionalidade desta) aplica-se aos demais crimes contra a honra previstos na lei de imprensa, pois esta já não tem vigência. Assim, não se cogita mais qualquer diferenciação quanto ao sujeito ativo, tanto no crime de calúnia como no de difamação e de injúria.
Quanto ao sujeito passivo, qualquer pessoa pode ser vítima do delito em questão. Inclusive pessoas jurídicas.
Estamos cientes do argumento, aparentemente convincente, de que, por estar o artigo 138 do Código Penal no título dos crimes contra a pessoa, na Parte Especial do Código Penal, apenas as pessoas naturais poderiam ser vítimas dele.
Contudo, a premissa não é verdadeira, porquanto o crime contra a violação de correspondência comercial (artigo 152 do Código Penal), igualmente contido no mesmo Título I da Parte Especial do Código Penal, tem como sujeito passivo justamente pessoas jurídicas de direito privado.
Logo, vê-se que o rigor normativo propugnado pela doutrina não foi observado pelo legislador. Então, resta inaplicável na hipótese tal critério hermenêutico.
Não bastasse, há importante divergência doutrinária no sentido de que a denominação do Título I da Parte Especial do Código Penal não está a distinguir entre pessoas naturais e jurídicas, significando que ela apenas designa os “...crimes contra a pessoa”.
Podem ser sujeitos passivos, portanto, tanto as pessoas físicas como as jurídicas (estas quando falsamente apontadas autoras de crimes ambientais, pela responsabilidade penal que a Lei n.º 9.605/98 já lhes impõe).
Os inimputáveis, embora livres da responsabilidade penal, podem ser vítimas do delito de calúnia, por também possuírem a honra objetiva tutelada pela norma.
3. Elemento Subjetivo – Exige-se o animus caluniandi, a vontade livre e consciente de caluniar a pessoa (RT 752/532).  Consoante jurisprudência, a certeza ou a fundada suspeita da autenticidade da imputação, que ao final se mostra errônea, acaba por caracterizar o erro de tipo, afastando o dolo e, por consequência, também o crime, já que não há modalidade culposa para o crime de calúnia (RT 538/335, JTACRIM 29/317 e outros tantos).
4. Consumação e tentativa – O crime se consuma na imputação chegada ao conhecimento de terceiro, pois, tratando-se de honra objetiva, haverá lesão ao bem jurídico quando outrem (aquele que pode formar juízo negativo de valor da vítima) toma conhecimento da imputação feita contra o caluniado.
Será tentado nas ocasiões em que, quando escrita, a informação não chega a conhecimento de terceiros por circunstâncias alheias à vontade do autor.
5. Propalação ou divulgação da calúnia – O § 1.º do artigo 138 do Código Penal estende a incidência da norma a quem, também sabendo da falsidade na imputação, contribui para sua divulgação, espalhando a outras pessoas a notícia da falsa delinquência. Contudo, exige-se o dolo, a consciência da falsidade na imputação. Novamente o erro ou a fundada suspeita da autenticidade na imputação descaracterizam o crime, posto não haver dolo nestas hipóteses.
6. Calúnia contra os mortos – É punível a ofensa à honra objetiva dos mortos na hipótese de calúnia. Contudo, os ofendidos serão seus herdeiros.
7. Exceção da verdade – Ressalvadas as hipóteses previstas nos incisos do parágrafo 3.º do artigo 138 do Código Penal, o autor pode oferecer defesa no sentido de provar a autenticidade dos fatos criminosos que imputou ao caluniado, o que se chama de exceção da verdade.
Contudo, na hipótese da imputação de crime de ação penal privada, a exceção não será admitida enquanto não condenado o caluniado, de modo irrecorrível, ou, na hipótese de ação penal pública, ele restar absolvido.
Também contra o Presidente da República ou contra chefe de Estado estrangeiro não se admite a prova da autenticidade das imputações, em qualquer hipótese.
8. Ação penal – De regra será privada (mediante queixa-crime), mas quando a calúnia for dirigida contra o Presidente da República ou chefe de Estado estrangeiro procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, já quando a vítima for funcionário público, em razão de suas funções, procede mediante representação.
Artigo 139 – Difamação
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
1 – Objeto Jurídico: Na tutela da honra objetiva da pessoa, considerada como o conceito que terceiros têm sobre ela, a norma penal também considera crime a mera imputação de fato desonroso, torpe, imoral etc., desde que suficientemente apto para denegrir a imagem da vítima no meio social.
Entretanto, diferentemente da falsa imputação criminosa (conduta típica da calúnia), neste dispositivo se coíbe apenas a imputação sobre a prática de um fato desonroso contra a vítima, que macule sua imagem no meio social.
À configuração do delito, pouco importa a autenticidade do fato atribuído à vítima,pois a norma não faz qualquer exigência nesse sentido. Basta que seja vexatório em seu conteúdo, sendo indiferente se ocorreu ou não.
Há exceção, contudo, admitindo-se a prova da verdade dos fatos quando o difamado é funcionário público e a imputação é relacionada ao exercício de função inerente ao seu cargo (parágrafo único do artigo 139 do Código Penal), ganhando relevo, aqui, o interesse da sociedade no esclarecimento dos eventos difamantes.
2 – Sujeito ativo e passivo: Atualmente trata-se de crime comum, já que a norma não impõe qualquer qualidade pessoal ao autor ou à vítima. Então, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo e passivo do crime de difamação.
Nesse aspecto, aliás, cabem aqui as mesmas observações a respeito da inconstitucionalidade da Lei de Imprensa, reconhecida na ADPF n.º 130/DF. Situação jurídica ora a sujeitar jornalistas apenas aos tipos previstos no Código Penal, no que toca aos crimes contra a honra.
E pessoas jurídicas também podem ser vítimas do delito, tais como podem ser sujeitos passivos do artigo 138 do Código Penal. Neste aspecto, o mesmo raciocínio do artigo anterior se aplica à hipótese, justamente pelas razões expostas no item “1” dos comentários daquele, em relação aos quais é sugerida a leitura.
3 – Elemento subjetivo: Constitui-se no dolo, que no caso é materializado pelo animus diffamandi, em evidência quando a conduta do autor tem o objetivo de ofender a honra da vítima.
O delito não se configura quando verificada apenas a culpa na prática do ato, justamente por não haver previsão legal à repressão de difamação culposa.
4 – Consumação e tentativa: Fica consumado o delito quando a imputação desonrosa contra a vítima, articulada por qualquer meio (p. ex. diálogo, carta, gravação, mensagens etc.), chega ao conhecimento de terceiros.
A doutrina cogita possível a tentativa quando a imputação (v.g. mensagem escrita, gravação etc.) não chega a conhecimento de terceiros por circunstâncias alheias à vontade do autor.
5 – Exceção da verdade: Como já referido, só a difamaçãopropter officium tolera a prova da autenticidade do fato desonroso, verificando-se nos casos em que atinge funcionário público no exercício de suas funções. Justamente pelo interesse público na apuração da lisura da conduta do servidor difamado. Nos termos do parágrafo único do artigo 139 do Código Penal.
6 – Ação Penal: Como regra geral a ação penal será privada, por meio de queixa crime.
Não obstante, será pública, condicionada à representação do ofendido, quando a vítima for funcionário público no exercício de suas funções. A ação penal pela difamação praticada contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro dependerá de requisição do Ministro da Justiça.
Art. 140 - Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)
1 – Objeto: A tutela da honra da pessoa sob seu aspecto subjetivo (o prestígio que ela tem de si mesma) é o que a norma pretende assegurar quando tipifica a conduta da injúria, repreendendo o ato que resulta na simples ofensa contra a dignidade ou o decoro.
A ofensa pode ser a atributos, morais (dignidade) ou correção moral (decoro).
Daí que a tipificação do delito prescinde a imputação da autoria de fato criminoso (calúnia) ou de evento degradante, imoral (difamação), contentando-se com uma mera ofensa, desvinculada a qualquer circunstância fática infamante. Apenas uma opinião ofensiva sobre a pessoa.
Para a configuração do delito basta que o autor impute à vítima algum atributo pejorativo, humilhante etc.
2 – Sujeito ativo e passivo: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito de injúria, pois a norma não exige uma qualidade especial do seu autor.
Contudo, há considerações importantes quanto ao sujeito passivo, pois o delito não ocorre quando dirigido a incapazes de compreender o caráter injuriante da ofensa. Parte-se da premissa de que a lesão à honra subjetiva pressupõe compreensão pela vítima do real sentido das palavras que lhe são opostas. Caso falte capacidade para tanto (para compreender o conteúdo imoral da ofensa), então não há lesão ao bem jurídico, sendo atípica a conduta.
Pessoas jurídicas, porque também não possuem consciência e capacidade para se sentirem ofendidas, não podem ser consideradas sujeitos passivos do delito em questão.
3 – Elemento subjetivo: É a intenção de ofender a dignidade ou o decoro da vítima. O animus injuriandi configura-se quando o autor manifesta opinião ofensiva contra a vítima, em evidente intenção de macular sua honra.
4 – Consumação e tentativa: A consumação do delito ocorre quando o ofendido toma conhecimento da injúria que lhe foi dirigida, cogitando-se possível a tentativa nos casos em que frustrado o conhecimento da ofensa por aquele, em razão de circunstâncias alheias à vontade do autor.
5 – Perdão Judicial: O § 1.º do artigo 140 do Código Penal trata do perdão judicial, quando faculta ao Juízo deixar de aplicar a pena se demonstrado que a injúria adveio de provocação da vítima (inciso I) ou de que ela foi seguida de retorção imediata, consistente noutra injúria proferida pela vítima, em razão da primeira pronunciada pelo autor (inciso II).
O Direito Penal não cogita a possibilidade de compensação de culpas. Não obstante, por razões de política criminal e considerando a menor lesividade da ofensa em si, entendeu-se por admitir possível a dispensa na imposição de pena nas situações dos incisos do § 1.º do artigo 140 do Código Penal.
Trata-se de hipótese de extinção da punibilidade (artigo 107, inciso IX, do Código Penal).
6 – Injúria real: O § 2.º do artigo 140 do Código Penal prevê sanção mais severa porque as consequências do delito são mais graves neste caso, com implicações em violência ou vias de fato, se consideradas a natureza do ato ou o meio empregado.
Quando se trata de injúria real consistente em violência, cogita-se possível seu concurso com crimes de lesão corporal, em razão da parte final do § 2.º do artigo 140 do Código Penal.
Entretanto, a ofensa consistente em vias de fato resulta na absorção do da contravenção do artigo 21 Decreto-Lei n.º 3.668/41.
7 – Ação penal: De regra, a ação penal é iniciada por queixa crime, sendo privada, portanto (caput do artigo 145 do Código Penal).
Contudo, na injúria real, a que resulta em lesões corporais ou vias de fato, a ação penal será pública incondicionada, por não se perceber expressa exigência de representação nesse caso, ainda que atualmente, em face do crime de lesões corporais, a ação penal dependa de representação do ofendido (parte final do caput do artigo 145 do Código Penal).
Também deverá ser pública condicionada à representação do ofendido, quando a injúria for dirigida contra funcionário público, no exercício de suas funções e também nas hipóteses do § 3.º do artigo 140 do Código Penal (injúria com elementos de raça, cor etnia, religião ou origem, assim como as que contam elementos referentes à condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência).
Contra o Presidente da República ou chefe de Governo estrangeiro a ação penal dependerá de requisição do Ministro da Justiça.

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