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Universidade Paulista - Gestão das Operações Produtivas – GOP Prof. Ms. Gilson Staianov Santos Capítulo 11 – Just-in-Time e Operações Enxutas Pág. 1/7 GESTÃO DE OPERAÇÕES PRODUTIVAS Capítulo 11 – Just-in-Time e Operações Enxutas Este capítulo aborda a questão da abordagem de operações enxutas ou Just-in-time. É uma filosofia e também um método para o planejamento e controle das operações. Muitas das idéias práticas das operações enxutas implica em organizar o fornecimento de bens (e serviços) somente quanto se fizer necessário para atender os clientes internos e externos. 11.1 – Conceituando Just-in-Time e Operações enxutas Slack, Chambers e Johnston (2009) afirmam que o princípio base das operações enxutas significa mover-se na direção de eliminar todos os desperdícios de modo a desenvolver uma operação que é mais rápida, mais confiável, com alta qualidade e custo baixo. Just-in-Time (JIT) significa produzir bens e serviços no momento em que são necessários, não formando estoques. Muitas frases são utilizadas pelos estudiosos para demonstrar o JIT. Elas incluem: fluxo sincronizado, fluxo contínuo, produção sem estoque, tempo de atravessamento rápido e operações de temo de ciclo reduzido. A figura 11-1 mostra as diferenças entre as abordagens tradicional e JIT. Na abordagem tradicional, cada estágio envia os componentes que produziu para um estoque, que isola aquele estágio do próximo. Esses estoques que são formados entre cada estágio do processo produtivo faz com que cada estágio seja independente, de modo que, se ocorrer algum problema por exemplo com o estágio A, o estágio B continuará trabalhando Universidade Paulista - Gestão das Operações Produtivas – GOP Prof. Ms. Gilson Staianov Santos Capítulo 11 – Just-in-Time e Operações Enxutas Pág. 2/7 normalmente pelo menos por algum tempo. Quanto maiores forem estes estoques isoladores, maior o grau de independência entre os estágios, portanto menor é o distúrbio causado quando ocorre o problema. Este, no entanto, é o principal argumento contra a abordagem tradicional, pois quando um problema ocorre em dado estágio, este problema fica escondido, não se tornando imediatamente aparente. Na abordagem JIT, os componentes são produzidos e passados diretamente para o próximo estágio que os fica esperando. Os eventuais problemas, em qualquer estágio, afeta todo o processo produtivo. Uma conseqüência disso é que a responsabilidade pela resolução do problema não fica mais confinada em um único estágio, mas agora é compartilhada por todos. Isso amplia consideravelmente as chances de que o problema seja resolvido, pois agora ele é muito importante para ser ignorado. Dessa forma, a operação amplia as chances de a eficiência intrínseca da fábrica ser aprimorada. A abordagem tradicional busca a eficiência protegendo cada parte da produção de possíveis distúrbios. A abordagem Just-in-time faz a exposição do sistema aos problemas, tornando-os evidentes, mudando a motivação para ELIMINÁ-LOS DE VEZ. A idéia do encobrimento dos efeitos do estoque é geralmente ilustrada graficamente como na figura 11-2. Os muitos problemas da produção são mostrados como pedras que não podem ser vistas em virtude dos estoques representados pela profundidade da água. 11.2 – Filosofia enxuta A abordagem enxuta se fundamenta em fazer bem as coisas simples, eliminando todos os desperdícios em cada passo do processo. A Toyota Motor Company idealizou um conjunto de práticas e procedimentos hoje denominado filosofia enxuta ou JIT. Universidade Paulista - Gestão das Operações Produtivas – GOP Prof. Ms. Gilson Staianov Santos Capítulo 11 – Just-in-Time e Operações Enxutas Pág. 3/7 Pesquisadores argumentam que o JIT nasceu na Toyota quando esta reagiu ao “choque do petróleo” nos anos 70, o qual aumentou os preços de todos os produtos. Os desenvolvimentos da Toyota e de outras empresas japonesas foram incentivados pela cultura e pelas circunstâncias econômicas. A atitude do Japão em relação ao desperdício, e também por ser um país superpovoado e com escassez de recursos, formou as condições ideais para enfatizar o baixo desperdício e o alto valor agregado nos produtos. Três razões chaves definem a filosofia enxuta, as quais apóiam as técnicas de JIT. São elas: a) A eliminação de desperdício; b) O envolvimento dos funcionários na produção; c) O esforço de aprimoramento contínuo. 11.2.1 – Eliminação de desperdícios A eliminação dos desperdícios é a parte mais significativa da filosofia enxuta. Slack, Chambers e Jonhston (2009) apresentam dois mecanismos utilizados o aprimoramento enxuto. Um deles é a identificação dos possíveis desperdícios através da lista dos “sete tipos de desperdício”, como primeiro passo para eliminá-lo; e o outro é a utilização da filosofia “5 Ss”, representando um conjunto de regras para redução do desperdício. 11.2.1.1 – Os sete tipos de desperdício A Toyota identificou sete possíveis causas de desperdício os quais podem acontecer em vários tipos de operações, formando a base da filosofia enxuta. São eles: 1. SUPERPRODUÇÃO. De acordo com a Toyota, produzir mais do que é necessário para o próximo passo do processo produtivo é a maior das fontes de desperdício. 2. TEMPO DE ESPERA. Ocorre muitas vezes em função da espera de materiais ou de ferramentas, e muitas vezes é disfarçado pelos operadores. 3. TRANSPORTE. A movimentação de materiais dentro da fábrica é fonte de desperdício pois não agrega valor. As empresas devem aproximar os estágios do processo e reorganizar o local de trabalho. 4. PROCESSO. No próprio processo pode haver fontes de desperdício. Podem existir operações em função de um projeto ruim ou manutenção ruim, podendo ser eliminadas. 5. ESTOQUE. Todo estoque deve tornar-se um alvo para eliminação. 6. MOVIMENTAÇÃO. A simplificação do trabalho é uma rica fonte de redução de desperdício. 7. PRODUTOS DEFEITUOSOS. Surge pela qualidade ruim de operação, muitas vezes por erro do operador ou por problemas de matéria-prima. 11.2.1.2 – Os 5 Ss A terminologia dos 5 S originou-se no Japão, e significa: 1. Separe (SEIRI). Elimine o que não é necessário e mantenha o que é necessário. 2. Organize (SEITON). Posicione as coisas de forma que sejam facilmente alcançadas. Universidade Paulista - Gestão das Operações Produtivas – GOP Prof. Ms. Gilson Staianov Santos Capítulo 11 – Just-in-Time e Operações Enxutas Pág. 4/7 3. Limpe (SEISO). Mantenha tudo limpo e arrumado. 4. Padronize (SEIKETSU). Mantenha sempre a ordem e a limpeza. 5. Sustente (SHITSUKE). Mantenha os padrões. 11.2.1.3 – Demais metodologias para identificação do desperdício Slack, Chambers e Johnston (2009) apresentam ainda duas metodologias que auxiliam na detecção de desperdícios dentro de um processo produtivo. São elas: 1. TEMPO DE ATRAVESSAMENTO. Quanto mais longo for o tempo em que os itens processados forem mantido em estoque, em movimento, em checagem ou sujeitos a atividades que não agregem valor, mais longo será o tempo que levarão para seguir ao longo do processo. Dessa forma, analisar o tempo de atravessamento olhando o que acontece a todos os itens influentes no processo é um excelente método para identificar fontes de desperdício. 2. MAPEAMENTO DA CORRENTE DE VALOR. Muito semelhante a documentação e análise de processos. Visa mapear visualmente o caminho da “produção” de um produto ou serviço, do início ao fim. Focaliza as atividades que agregam valor e distingue as não agregadoras de valor. 11.2.2 – Envolvimento de todos Segundo Slack, Chambers e Johnston (2009), a filosofia enxuta é vista como um sistema“total”, envolvendo todos os funcionários e todos os processos organizacionais. Esse sistema gera uma cultura organizacional algumas vezes chamada de “qualidade total”, foco do capítulo 12. No enfoque enxuto, a administração de recursos humanos incentiva a resolução de problemas por equipes, o enriquecimento de cargos, a rotação de cargos e multi-habilidades. A intenção é encorajar alto grau de responsabilidade pessoal, engajamento e senso de propriedade (ownership) do trabalho. 11.2.3 – Melhoria contínua Os objetivos da abordagem enxuta são expressos como ideais: “atender à demanda no momento exato, com qualidade perfeita e sem desperdício”. Mesmo que o desempenho de uma organização esteja longe desses ideais, é possível aproximar-se deles ao longo do tempo. Se os gestores organizacionais não acreditarem nessa crença, é provável que todas as melhorias que obtiverem sejam transitórias e não definitivas. E é por isso que o conceito de melhoria contínua é tão importante na filosofia enxuta. A palavra japonesa para melhoria contínua é KAIZEN, sendo uma parte chave da filosofia enxuta. O KAISEN será detalhado no capítulo 12 do curso. Universidade Paulista - Gestão das Operações Produtivas – GOP Prof. Ms. Gilson Staianov Santos Capítulo 11 – Just-in-Time e Operações Enxutas Pág. 5/7 11.3 – Técnicas JIT Slack, Chambers e Johnston (2009) apresentam uma série de ferramentas e técnicas JIT que representam os meios para eliminação e não geração de desperdício. Os principais são: Adotar práticas básicas de trabalho JIT. Formam a preparação básica para a operação, envolvendo todos os funcionários na implementação do JIT. Incluem a disciplina aos padrões de trabalho, a flexibilidade, a igualdade com os funcionários, a autonomia (empowerment), o desenvolvimento das pessoas, a boa qualidade de vida no trabalho, o incentivo a criatividade e o envolvimento total de pessoal. Projetar bem para facilitar o processamento. Estudos mostram que o projeto determina de 70% a 80% dos custos de produção. Aprimoramentos do projeto podem reduzir dramaticamente o custo do produto. Usar máquinas simples e pequenas. Máquinas pequenas possuem vantagens sobre máquinas grandes. O sistema fica mais robusto. Se uma máquina grande quebra, todo o sistema pára de operar. Máquinas pequenas são também mais fáceis de movimentar, ampliando a flexibilidade do arranjo físico. Adotar a manutenção produtiva total (TPM). Envolve o envolvimento do pessoal na busca de aprimoramentos da manutenção, com a execução de atividades rotineiras de manutenção e reparo simples. Redução dos tempos de set-up. Set-up é o tempo decorrido na troca do processo de uma atividade para outra. A redução desses tempos pode ser alcançada por uma variedade de métodos como a eliminação do tempo para busca das ferramentas e equipamentos de auxílio e a pré-preparação de tarefas que retardam as trocas de operação. 11.4 – Planejamento e controle JIT Conforme estudado no capítulo 9, o monitoramento e o controle das operações produtivas é governado por duas escolas de pensamento: planejamento e controle “puxado” e planejamento e controle “empurrado”. O planejamento e controle JIT é baseado no princípio de um “sistema puxado”, enquanto a abordagem MRP (Material Report Planning) é adequada a um “sistema empurrado” (SLACK, CHAMBERS & JOHNSTON, 2009) 11.4.1 – Controle KANBAN O controle KANBAN é um método de operacionalizar o sistema de planejamento e controle puxado. KANBAN significa CARTÃO ou SINAL. Sua função é controlar a transferência de material de um estágio para outro dentro da operação. Em sua forma mais simples, é um Universidade Paulista - Gestão das Operações Produtivas – GOP Prof. Ms. Gilson Staianov Santos Capítulo 11 – Just-in-Time e Operações Enxutas Pág. 6/7 cartão utilizado por um estágio cliente, para avisar seu estágio fornecedor que mais materiais deve ser enviado. (SLACK, CHAMBERS & JOHNSTON, 2009). Corrêa & Corrêa (2012) afirmam que o sistema de cartões KANBAN mais difundido atualmente é o sistema de dois cartões, utilizado inicialmente na fábrica da TOYOTA no Japão. O sistema utiliza dois cartões kanban, um deles denominado kanban e produção e o outro kanban de tranporte. O KANBAN DE PRODUÇÃO dispara a produção de um lote de peças de determinado tipo, em um centro de produção da fábrica. O cartão contém, em geral, as seguintes informações: número da peça, descrição, tamanho do lote, centro de produção responsável e local de armazenagem. Nenhuma operação de produção é executada sem que haja um kanban de produção autorizando. O KANBAN DE TRANSPORTE autoriza a movimentação do material pela fábrica, do centro de produção fabricante para o centro de produção que o utiliza, conforme o processo produtivo. Nenhuma atividade de movimentação é executada sem que haja um kanban de transporte autorizando. A figura 11-3 a seguir exemplifica os dois tipos de KANBAN. 11.5 – JIT em operações de serviço Muitas das situações e exemplos da filosofia enxuta e das técnicas JIT são relativos a organizações de manufatura, porém, as técnicas JIT em organizações prestadoras de serviço são diretamente análogas às organizações manufatureiras. A seguir, alguns exemplos que utilizam o princípio de controle puxado, retirados de Slack, Chambers e Johnston (2009): Os supermercados normalmente reabastecem suas prateleiras somente após os consumidores terem retirado suficientes produtos das mesmas. A movimentação de bens da parte de trás Universidade Paulista - Gestão das Operações Produtivas – GOP Prof. Ms. Gilson Staianov Santos Capítulo 11 – Just-in-Time e Operações Enxutas Pág. 7/7 da loja até a prateleira é disparada com um aviso do tipo KANBAN. Princípio – controle puxado. Uma empresa de construção segue a regra de requisitar entregas de material para sua obra um dia antes de o material ser necessário. Isso reduz o acúmulo na obra e diminui a chance de roubos. Princípio – controle puxado reduz confusão. Muitos restaurantes fast-food só cozinham, montam seus pratos e os deixam esperando em uma área aquecida quando um atendente recebe o pedido. Princípio – controle puxado reduz tempo de preparação.
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