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Caracterização de Insumos Farmacêuticos Tec. Farmacêutica - Ninho Senna Dentro da cadeia produtiva de um medicamento, a caracterização ocorre quando eu recebo uma molécula e a intenção é transformar em um produto farmacêutico, e quando se vem um material da síntese ou de fitomedicamento, já se sabe toda a estrutura e se faz outros testes confirmatórios e também passa pelo pessoal da farmacologia para se identificar a atividade biológica. A partir da atividade pré-comprovada, essa molécula vai para a tecnologia farmacêutica para que se possa escolher a forma farmacêutica adequada, e às vezes nos perguntamos: porque determinado fármaco só existe na forma de comprimido, outro é semissólido e outro é um transdérmico? Para chegar ao desenvolvimento da forma farmacêutica é crucial se conhecer todas as propriedades físico químicas das moléculas, que é o ponto de partida, e às vezes tem produtos que pecam na barreira da solubilidade, e ela pode definir ou não a absorção do composto. Quando se chega na parte da tecnologia, já se tem boa parte do percurso já avançado, porém, dependendo das propriedades como a solubilidade, ou se ter incompatibilidade da incorporação na forma farmacêutica, e quando se chega nessa parte, boa parte das perguntas frequentes já estão respondidas, e são respondidas perguntas como: vai ser líquido, vai ser sólido? E a resposta está sempre baseada na terapia, tendo que saber o conhecimento da farmacologia. O primeiro passo é a elaboração da drug master file (DMF) ou a carta de identidade do IFA, que é o momento onde eu vou reunir todas as caracterizações físico químicas do meu material, como pureza, molécula, constante de partição e solubilidade, rota de síntese, e todas essas informações estão reunidas neste dossiê, que é imprescindível para obter o registro em órgãos reguladores, como a ANVISA. A beta lapachona foi isolada a partir do perroche, que é uma planta endêmica do semi-árido e tem uma atividade contra alguns tipos de câncer, e no laboratório tem diversas formulações que tentam incorporar em formulações orais e outros até tentam incorporar em injetáveis. O primeiro passo para caracterização de uma molécula é a identificação química, onde é utilizada a ressonância magnética nuclear, espectroscopia na região do infravermelho médio ou espectroscopia de massa são métodos utilizados quando eu tenho uma nova identidade química ou molécula desconhecida, e se eu perguntar a vocês para citar técnicas utilizadas para identificação química das moléculas. Temos agora os infravermelhos próximo (near) e distante, mas o IFTIR ainda é a metodologia mais utilizada para a caracterização de materiais. A espectroscopia está muito associada a cromatografia, então atualmente podemos ver em artigos HPLC-MS, ou massa-massa quando há dois espectros envolvidos. O segundo passo é definir a pureza química, então quando eu faço a síntese, eu tenho que determinar o quão puro é o meu composto, ou se houve a formação de subprodutos, o que pode comprometer a pureza e toxicidade do material, sendo empregada a espectroscopia Uv, o CLAE, que é padrão ouro, principalmente na indústria, sendo utilizado para ver subprodutos e degradação, e um produto farmacêutico pode ser degradado pelo estoque e até no processo produtivo. Também temos o DSC, ou a calorimetria diferencial para caracterização da análise térmica, e o fármaco pode ser solubilizado e exposto a câmaras de fotólise, perdendo também estabilidade, e durante essa fase, podemos obter essas informações, tendo que colocar o fármaco num blister revestido ou revestir o fármaco com polímeros, e geralmente se observa um pico diferente no HPLC, evidenciando o produto de degradação e isso é uma informação importante que vai compor a DMF. O estado sólido tem que passar por estudos para definir se ele tem forma cristalina ou ele não tem uma forma cristalina definida, sendo chamado de amorfo, definir o ponto de fusão do meu material, para definir o ponto de pureza, e entre essas técnicas, temos a análise térmica, que também serve para definir a pureza. Quando se chega um material novo, todos os testes deverão ser feitos pelo meu setor de P,D&I para essas caracterizações. Também se utiliza a microscopia eletrônica de varredura, para observar a forma do cristal, se ele é tubular, em forma de agulha. A calorimetria diferencial exploratória (DSC) é uma técnica dentro das análises térmicas que eu uso para avaliar o ponto de fusão, onde cada material tem um ponto de fusão específico, e é uma forma de identificar o material, feito por meio do fusiômetro e o DSC, onde tem uma curva de quantidade de energia em função da temperatura, e se eu recebo um material e ele bate, eu posso fazer analise confirmando, e através de uma relação matemática, eu posso descobrir a pureza do meu material. A outra informação é para saber se meu material é cristalino ou amorfo, através do formato do pico, e uma rede de cristal tem uma distância bem definida entre eles, e para que ela seja quebrada e tenha uma transição de fase, tem que se ter uma grande quantidade de energia gasta no processo. Essa técnica não é comprovatória, devendo ser feito outros estudos para a confirmação. Ela faz parte do grupo das análises térmicas. A segunda técnica é a termogravimetria, que relaciona a variação de massa em função da temperatura, sendo utilizada principalmente para avaliar a estabilidade térmica do meu material. Eu coloco 5 mg do meu material e ao longo da variação do material, ele começa a perder a massa, podendo identificar o valor de temperatura onde o meu fármaco é estável. São técnicas rápidas de execução e que utiliza muito pouco do seu produto, o que é vantajoso para produtos oriundos de síntese ou uso de padrões. A análise é preditiva, e você pode descobrir se seu cristal é cristalino ou amorfo, mas você só vai descobrir realmente quando fizer a difração de raio x. Qual a importância do DR-X? Ele vai definir se o material é cristalino ou amorfo, e nele se tem um emissor de radiação, onde há um movimento circular em volta da amostra e a medida que a radiação incide em uma das fases, ocorre a difração e vai ser formado um pico, onde cada plano da estrutura vai refletir em forma de um pico, e quando essa estrutura é bem definida, como um quadrado ou um pico, na medida que a radiação bate ela começa ficar difusa, não tendo uma boa definição e vamos ter esse formato aqui. Para a tecnologia, os sólidos cristalinos vão ter problemas com a solubilidade e dissolução, e tendo problema com a solubilidade há problemas com a dissolução, afetando toda a cadeia da farmacocinética. Ai temos um porém, materiais amorfos tem alta solubilidade e dissolução, mas não tem uma boa estabilidade térmica quando comparado com o materialcristalino, sendo bem óbvio: o cristalino tem uma estrutura bem definida, necessitando de uma alta energia para romper a estrutura do material, e como ela é bem definida, a estabilidade térmica do material vai ser deslocada para valores mais altos. Nos amorfos, por ser muito solúveis, e a solubilidade pode ser importante em algum momento dependendo do alvo farmacológico a ser atingido, porém podem ser facilmente degradados a baixas temperaturas, principalmente com quem trabalha com extratos de plantas liofilizadas, onde se pode ver uma grande diferença, e são essas informações que eu vou juntando para elaborar a minha DMF. No material amorfo, ele está bem difuso, ou seja, a radiação está batendo em várias faces e não se consegue definir qual o plano cristalino, tendo o gráfico esse padrão aqui. Outra técnica que eu posso fazer uso para ver o formato do meu cristal é a microscopia eletrônica de varredura, e podemos ver que cada uma dessas técnicas vão dar um resultado para que quando eu junto, tenha um conceito preciso acerca do meu material, onde cada uma delas só não podem ser conclusivas. Em todo e qualquer trabalho onde se faça uma nova formulação, você tem que fazer todas as análises citadas anteriormente, e na DMF, você tem que descrever todas essas informações, pois esse dossiê é fundamental para quando você for fazer registro nos órgãos regulatórios. A partir do momento que eu conheço as propriedades, eu começo a avaliar a situação da minha molécula, como sua solubilidade, vendo se eu preciso fazer alguma outra modificação nela para eu chegar no meu produto final, e é daí que vem os famosos sais, como cloridrato de propranolol, hidrato e outros. Um exemplo é a eritromicina, que na sua base tem um sabor amargo e uma dissolução alta, sendo totalmente degradada no estômago, e a partir de quando eu coloco ela na forma de estolato de eritromicina, ele se torna um sal insolúvel e é inativo em meio ácido, porém sofre hidrólise quando chega no intestino e vai liberar o fármaco, que vai ser absorvido, e esses são manejos que eu posso fazer para aumentar a absorção de uma determinada molécula. Um exemplo é a talidomida, onde teve todos os problemas por conta das misturas de enantiômeros, por conta da presença dos dois isômeros na mistura racêmica. Podemos ter dois isômeros em mistura racêmica, porém um deles não tem atividade biológica alguma, e a síntese de apenas um isômero pode ser muito oneroso para a indústria, de modo que fazer a mistura racêmica é de fato mais vantajosa e ainda tem retorno financeiro. A indústria farmacêutica tem muito foco na área da obesidade e do câncer, e no estudo pré formulação, nós vamos ter: caracterização do meu IFA, que pode se dividir em três grandes partes: 1. Molecular: solubilidade, coeficiente de partição e de ionização; 2. Particular: cristalinidade, polimorfismo e dissolução; 3. Glomerular: granulometria, densidade e escoamento Não adianta eu fazer um fármaco e ele ter baixa solubilidade em água, pois todo fármaco tem que ter uma solubilidade. Então o povo da farmacologia aumenta a dose, desde que ela esteja abaixo do nível de toxicidade, enquanto a fase glomerular corresponde mais às medidas técnicas, onde é feito uso para ajudar no processo produtivo. Então no estudo de formulação temos: 1. Identificação da molécula: eu faço RMN E IV, para descobrir o peso molecular e estrutura da minha molécula; 2. Solubilidade: A partir do momento que eu sei a minha estrutura, eu tenho que saber a solubilidade, para daí eu saber a forma farmacêutica que vou utilizar, como um xarope ou uma suspensão, para moléculas insolúveis, e essa escolha depende muito do objetivo desse fármaco. Sempre observar estudos de toxicidade de acordo com a solubilidade, e sempre quando se tem a forma final, temos a repetição de todos os estudos, para assegurar que o IFA na forma farmacêutica tem as mesmas propriedades. 3. Definição do pKa e constante de partição: É realizada para saber se ele vai ser ionizado a nível de pH estomacal ou a nível de intestino, onde os fármacos tem uma grande propriedade de solubilidade, é feito pra prever se ele vai sofrer hidrólise ácida, e é feito para estimar as propriedades farmacocinéticas. É feito também para observar o sistema de classificação biofarmacêuticas, para avaliar entre as quatro classes, onde para a classe IV, o fármaco deve ter imprescindivelmente inovador para a clínica que eles devem ser utilizados. 4. Dissolução: Todo produto farmacêutico a ser desenvolvido deve passar por essa etapa, que corresponde a transferência de moléculas ou íons de um estado sólido para uma solução, onde já se deve saber a solubilidade e ele mimetiza os tampões biológicos, e se não tiver as propriedades bem definidas, pode ocorrer erros nessa etapa. A dissolução é a etapa limitante da absorção, e se ele tem uma boa dissolução, ele vai liberar da sua forma farmacêutica de forma satisfatória, e se ele não tiver essa boa dissolução, ele não vai alcançar a concentração plasmática satisfatória para exercer a sua atividade biológica. 5. Cristalinidade e polimorfismo: Os compostos cristalinos podem ter arranjos diferenciados, podendo ter diferença de solubilidade, e tendo uma dissolução diferenciada ele vai ter uma biodisponibilidade afetada. Por isso a indústria está adentrando muito hoje na questão do polimorfismo, tendo um fármaco bem comum, a carbamazepina, que possui quatro formas de cristais, que tem problemas de dissolução entre si. Às vezes durante esse desenvolvimento, eu devo saber se meu fármaco tem a presença de polimorfos, sendo utilizando o DR-X para essa avaliação, por meio dos picos da molécula. Os picos não batem pois há um arranjo cristalino diferente, e a quantidade de energia necessária para quebrar a rede cristalina também é diferente, podendo alterar o escoamento, solubilidade, ponto de fusão, densidade, estabilidade química e a dissolução. Durante o processo tecnológico, eu vou utilizar excipientes que vão alterar esse escoamento, como o aerosil. A nível molecular, a alteração está apenas na disposição das ligações de hidrogênio entre as moléculas, e no caso dos pseudopolimorfismos ocorre quando temos a recristalização, onde se usa diferentes solventes e moléculas desse solvente ficam dentro dos meus sais, podendo ser solvatos ou hidratos. Além das técnicas anteriores, também é feita a cristalografia. 6. Tamanho de partícula: Sempre antes da manipulação, há a padronização dos pós, pois caso esse tamanho seja diferente, pode haver complicações no desenvolvimento tecnológico. Se tiver tamanhos diferentes, eu vou preencher em momentos com mais e outros com menos, tendo diferenças de dose e falta de uniformidade de conteúdo. Reduzindo o tamanho da partícula, e aumento a área de contato com a águae aumento a solubilidade do meu material. 7. Densidade: o estudo de estabilidade vai evitar a compactação, evitando que haja o entupimento de uma máquina, por exemplo. 8. Escoamento: O pó é colocado e é visto o tempo em que o pó vai escoar, e se ele não escoar, não tendo um bom fluxo, vai interferir muito no processo de produção, e isso é feito com a adição de um agente de escoamento ou um lubrificante, como o estearato de cálcio. Quando estamos desenvolvimento uma formulação, temos dois tipos: excipientes que vão ajudar na farmacotécnica e os que vão ajudar no processo tecnológico. 9. Caracterização de misturas de pós: ângulo de repouso, escoamento, granulometria, densidade aparente e compactada. 10. Estabilidade: Não adianta chegar no desenvolvimento e ele não ter estabilidade, sendo uma medida mais convencional e mais versátil, sendo feito do fármaco isolado, do fármaco em solução ou do fármaco contendo excipientes. A segurança e eficácia podem ser avaliados através da formação de produtos de degradação por meio do estudo de estabilidades, gerando perda da sua atividade terapêutica ou toxicidade (PROVA).