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1 Direito das Obrigações Sumário 1 Aula Introdutória ...................................................................................................................................... 3 2 Relação Jurídica Obrigacional ................................................................................................................. 6 2.1 Relação Jurídica (Conceito) .............................................................................................................. 6 2.1.1 Relação obrigacional – Ato Jurídico Stricto Sensu .................................................................. 11 2.2 Princípios Atinentes ........................................................................................................................ 12 2.2.1 Autonomia da Vontade ............................................................................................................ 12 2.2.2 Boa-fé Objetiva ........................................................................................................................ 18 2.2.3 Função Social ........................................................................................................................... 21 3 Elementos Constitutivos da Relação Obrigacional ................................................................................ 21 3.1 Sujeitos ............................................................................................................................................ 23 3.1.2 Obrigação Simples ................................................................................................................... 23 3.1.3 Obrigação Complexa ............................................................................................................... 24 3.2 Objeto .............................................................................................................................................. 25 3.3 Prestação .......................................................................................................................................... 27 3.3.1 Requisitos da Prestação ............................................................................................................ 27 3.3.2 Prestação de Coisas: ................................................................................................................. 28 3.3.3 Prestação de Fatos .................................................................................................................... 29 3.4 Conteúdo – Vínculo Jurídico ........................................................................................................... 29 3.4.1 Característica do Vínculo ......................................................................................................... 29 4 Obrigações: Positivas e Negativas ......................................................................................................... 30 5 Obrigação de Dar ................................................................................................................................... 31 5.1 Dar Coisa Certa ............................................................................................................................... 32 5.1.1 Tradição ................................................................................................................................... 32 5.1.2 Lei da Gravitação Jurídica ....................................................................................................... 36 5.1.3 Perecimento ou Deterioração ................................................................................................... 37 5.2 Dar Coisa Incerta ............................................................................................................................. 42 5.3 Coisa Incerta .................................................................................................................................... 42 5.3.1 Concentração Mediante Escolha .............................................................................................. 44 5.3.2 Sobre os Riscos da Coisa Incerta ............................................................................................. 50 6 Obrigação de Fazer ................................................................................................................................ 58 6.1 Objeto .............................................................................................................................................. 59 6.2 Espécies ........................................................................................................................................... 60 6.2.1 Fungíveis .................................................................................................................................. 61 Rosana Gabriela de Andrade Profa. Ma. Carolina Fernández Fernandes� Rosana Gabriela de Andrade Transcrição de Áudios e Edição: R.G.A� 2 6.2.2 Infungíveis ............................................................................................................................... 61 6.3 Inadimplemento ............................................................................................................................... 62 6.3.1 Recusa: ..................................................................................................................................... 64 6.3.2 Impossibilidade ........................................................................................................................ 67 7 Obrigação de Não Fazer ......................................................................................................................... 68 7.1 Objeto .............................................................................................................................................. 69 7.1.1 Exemplos .................................................................................................................................. 69 7.2 Conceito .......................................................................................................................................... 71 7.3 Formas ............................................................................................................................................. 72 7.4 Inadimplemento ............................................................................................................................... 72 7.4.1 O Inadimplemento com Culpa. ................................................................................................ 73 7.4.2 Impossibilidade ........................................................................................................................ 74 8 Classificação quanto às Características ................................................................................................. 75 9 Divisibilidade ......................................................................................................................................... 76 9.1.2 Obrigação Divisível ................................................................................................................. 78 9.1.3 Obrigação Indivisível ............................................................................................................... 82 10 Obrigações Compostas ........................................................................................................................ 87 10.1.1 Compostas Quanto ao Objeto ............................................................................................... 87 10.2 Cumulativas = “E” ....................................................................................................................... 88 10.3 Alternativas= “Ou” ..................................................................................................................... 88 10.4 Obrigações Solidárias .................................................................................................................. 95 10.4.2 Solidariedade Ativa .............................................................................................................. 95 10.4.3 Solidariedade Passiva ........................................................................................................... 96 11 Questões: ............................................................................................................................................. 97 12 Adimplemento e Extinção das Obrigações ......................................................................................... 99 12.1 Primeira parte .............................................................................................................................. 99 12.2 Segunda Parte .............................................................................................................................. 99 12.2.1 Pagamento em Consignação ................................................................................................. 99 12.2.2 Pagamento em Sub-Rogação ................................................................................................ 99 12.2.3 Imputação do Pagamento ................................................................................................... 100 12.2.4 Dação em Pagamento ......................................................................................................... 100 12.2.5 Novação .............................................................................................................................. 100 3 • Apresentação da Professora • Apresentação da Disciplina • Apresentação dos Alunos Após o intervalo, retomaremos um pouco da matéria de Teoria Geral do Direito Civil, resgatando conceitos necessários para a nossa disciplina. No Direito das Obrigações, trabalhamos com Princípios Gerais do Direito, que provêm daquelas Cláusulas Gerais que foram inseridas pelo MIGUEL REALE no Código Civil Brasileiro de 2002. Para tanto, trabalharemos o texto da JUDITH MARTINS COSTA, que fala sobre a inserção das Cláusulas Gerais no Código Civil. Em especial, precisamos entender o papel da Boa-Fé nas relações obrigacionais, que é uma parte muito importante da nossa matéria porque ela pauta todo o comportamento de ambas as partes na relação obrigacional. A boa-fé gera deveres anexos na relação obrigacional – ou seja, além dos deveres comuns de determinada relação obrigacional, há outros deveres que são associados em razão do princípio da boa-fé. Questionamento: “Eu sei o que é uma relação obrigacional? ” Notamos que a maioria não sabe o que é uma relação obrigacional Trailer do Filme: “Um Limite entre Nós”1 Este trecho do filme chama atenção porque ele mostra o que é uma relação obrigacional. https://www.youtube.com/watch?v=x9FiddWYA9I O filho do personagem de Denzel Washington questiona: – Quero saber porque que tu não gosta de mim O pai responde: –Eu não gosto de você? E porque que eu teria que gostar? Quem manda que eu goste de ti? Que obrigação que eu tenho de gostar de ti? ” O filho diz “Porque tu é meu pai”. Então, o pai fala: – Justamente porque eu sou teu pai, eu não tenho obrigação de te amar. Tenho a obrigação de te sustentar, de te alimentar, de te dar estudo, de te dar um teto, de te dar roupa e de te educar. A lei não manda que eu goste de ti. Pergunta: Quando ele diz “eu não tenho obrigação de te amar, ” estamos falando uma relação obrigacional ou não? Este trecho do filme é interessante pois, até a década de 70 no Brasil, trabalhávamos com um sistema jurídico bem positivista [veja que agora estamos no pós-positivismo]. Concebíamos as relações obrigacionais da seguinte forma: “Eu só sou obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei. ” 1 No Direito das Obrigações é muito bom trabalhar com filmes. Tem muitos filmes que tratam das relações obrigacionais. 4 Na década de 50, CLÓVIS COUTO E SILVA começou a trabalhar essa ideia de que relação obrigacional é muito maior do que aquilo que a lei determina. Entretanto, foi somente na década de 70 que entrou em vigor no Brasil essa nova concepção do que seria uma relação obrigacional.2 Clóvis, em seu livro “Obrigação como um Processo” (1966), dizia o seguinte: A relação obrigacional, num primeiro plano3, ela é aquilo que a lei diz que ela é: “Se eu devo, tenho que pagar, e o meu credor tem o direito de cobrar” à Simples assim: no momento em que o débito é pago, acaba o vínculo com o credor. Cada um vai para um lado, e nunca mais um poderá exigir algo do outro em virtude DAQUELA obrigação. Ou seja, extingue-se a relação obrigacional e ela não deixa nem vestígios. Hoje, superamos esse conceito de relação obrigacional. Sabemos que nosso sistema jurídico é composto de normas, mas também de princípios. É isso o que nos dá uma margem de interpretação – não apenas para o poder judiciário no momento de julgar, mas também uma margem comportamental, com base na moral, bons costumes, princípios éticos, etc. É o que permite que a sociedade, dentro das suas inúmeras diferenças, consiga se adaptar com o passar do tempo às previsões normativas. Ou seja, o Código não fica velho antes de fazer efeitos. É possível moldá-lo à sociedade, pois há um maior poder de interpretação. Suplantamos esse conceito de relação obrigacional porque nós entendemos que além desse dever aparente (que chamamos de dever principal), que resulta diretamente da relação obrigacional, os princípios de direito fazem surgir deveres anexos ou laterais. Esses deveres anexos ou laterais não se extinguem com o cumprimento da obrigação principal. Eles perduram, fazendo com que, mesmo após o cumprimento da obrigação principal, o vínculo entre credor e devedor se perpetue no tempo para absorver condutas pós-negociação. Exemplo: Contrato de compra e venda de um automóvel usado. Após o pagamento do preço integral e da entrega do veículo.... Se a relação obrigacional estivesse completamente extinta, o que poderia ser feito diante da seguinte situação? - O carro não funciona por conta de problemas que eram anteriores à negociação e que não foram informados pelo vendedor. O comprador teria que deixar de usar o bem que adquiriu? Podemos notar que as relações obrigacionais se perpetuam no tempo. CLÓVIS chamou isso de “Obrigação como Processo” – é como se o vínculo nunca se desfizesse. É um processo (i.e., uma “cadeia de fatos”) muito mais complexo do que aquela relação rasa do Direito Romano que dizia “Eu sou credor, tu és devedor. Eu pago, tu recebes. Me dá o produto, vai cada um para um lado e a gente nunca mais se fala”. Não! Não é assim que as relações obrigacionais acabam. Agora, voltando ao trecho do filme, quando o pai fala “que lei me manda gostar de ti? ” Na área do Direito de Família, encontramos um artigo específico que determina quais são os “deveres parentais. ” Dentre os diversos deveres que os pais e mães têm em relação aos filhos (e.g., educar, sustentar, vestir, alimentar, etc.), não encontramos previsão legal que diga que os pais devam amor ou afeto aos filhos. 2 Nosso sistema jurídico é composto de normas, mas também de princípios. É isso o que nos dá uma margem de interpretação – não apenas para o poder judiciário no momento de julgar, mas também uma margem comportamental, com base na moral, bons costumes, princípios éticos,etc. É isso permite que a sociedade, dentro das suas diferenças (que são muitas), consiga se adaptar com o passar do tempo às previsões normativas. Ou seja, o Código não fica velho antes de fazer efeitos. É possível moldá-lo à sociedade, pois há um maior poder de interpretação. 3 Herança do Direito Romano 5 De fato, nenhuma lei determina que os pais devam amar, dar carinho ou sequer gostar dos seus filhos.4 Entretanto, como sabemos, aquela ideia rasa de relação obrigacional do Direito Romano já foi superada. Hoje, os princípios são trabalhados no ordenamento jurídico brasileiro. Temos, então, a questão do dano moral existencial, do dano moral afetivo por abandono. Já são várias as vitórias na justiça de filhos que demandam contra os pais o abandono afetivo, e ganham indenização por terem sido abandonados afetivamente. Os genitores, sentenciados a indenizar seus filhos, podem ter pago pensão a vida inteira, mas se fisicamente eles estavam ausentes, i.e., se eles não davam carinho, atenção, afeto aos seus filhos, e isso, obviamente, causa um dano à pessoa (porque não é só não dar afeto se eu saio límpido da relação?). não.. isso me causa um dano emocional, e eu tenho que comprovar o dano emocional, eu posso ganhar uma indenização por dano moral do meu pai ou da minha mãe por abandono afetivo. “É difícil provar isso...” diz colega Carol responde “é, é difícil. Tem que fazer perícia com psicólogo, com psiquiatra. Tem que mostrar efetivamente que aquele abandono gerou consequências negativas na tua vida, na tua formação da personalidade, nas tuas relações humanas... “pô, não consigo me relacionar com ninguém satisfatoriamente porque carrego um trauma” – mas não é só chegar dizendo isso, tem que provar. Rosana – “e a questão de extinguir o tempo de pedir isso?” Carol – “não tem prescrição. Porque, na verdade, os direitos da personalidade são imprescritíveis. Ainda que exista uma discussão sobre se as ações decorrentes dos direitos das personalidades prescrevem ou não, (grande parte, e o STJ tem fixado o entendimento de que não prescreve). Em especial, no direito de família, todas as ações relativas à pessoa, à personalidade, elas são imprescritíveis. Então, sempre que eu trato da existência humana há imprescritibilidade. Como por exemplo, a investigação de paternidade, o reconhecimento, etc. São ações imprescritíveis, e essa é uma ação imprescritível. Seria, né? porque é vinculada a um dano existencial, a um direito da personalidade. Qualquer ação de dano moral que não seja vinculada ao direito da personalidade, o prazo prescricional é de 3 anos; assim como dano material: 3 anos também. A não ser que seja decorrente de contrato – aí é 5 anos. Mas o normal são 3 anos. Assim, podemos vislumbrar a complexidade do que a gente vai tratar. Se relações obrigacionais fossem simplesmente “eu devo, tu paga, entrega o produto e fim”, não teria necessidade de existir uma disciplina sobre isso... Seria só abrir o Código e ver... Não. É bem mais. Estudaremos a boa-fé, os princípios da lealdade, da honestidade, da informação – inclusive coisas que vocês vão estudar depois na disciplina de Direito do Consumidor. Análise do Texto: Questões: 1) O que são as “cláusulas gerais” e qual é a sua função no ordenamento jurídico brasileiro, em especial no código civil? As cláusulas gerais são instrumentos, vias que permitem a inserção de princípios valorativos, em síntese, constantes de universos metajurídicos, no ordenamento jurídico, que permitem a sistematização do ordenamento em seus traços característicos. 2) Segundo a autora, em quais momentos do código civil se pode identificar a presença de cláusulas gerais? Quais seriam as cláusulas gerais inseridas no código civil? É possível identificar a presença da cláusula geral de função social no art. 420 do Código Civil, a qual posta ao princípio da liberdade contratual; a cláusula geral da boa-fé objetiva está inserida no Código Civil em seu art. 421. 3) Em conclusão, qual é a importância da inserção das cláusulas gerais? A importância das cláusulas gerais é trazer uma série de princípios que consigam abarcar as mais diversas esferas abordadas no código, de maneira a trazer tudo a um sistema uno, que traga segurança jurídica. Em síntese, é trazer uma regulamentação coordenada das normas expressas no Código, estruturado como um sistema aberto, moldado às janelas das cláusulas gerais. Comentário da Professora: As cláusulas gerais são normatizadas, o que ainda nos prende ao conceito de direito contemporâneo, porque a cláusula geral está positivada. 4 Mas há previsão de uma série de outros deveres que devem ser seguidos, sob pena de o filho poder entrar com uma ação para obrigar o pai/mãe a cumprir com aquela obrigação, para que o juiz intervenha e diga “Ou o Sr. cumpre, ou o Sr. vai sofrer outras penalidades. ” 6 © O que é uma Relação Obrigacional? © O que que significa dizer que estou dentro de uma relação obrigacional? © Como faço para pertencer a uma obrigação? Para entender como aplicamos, ou como nossa relação obrigacional é amparada por esses princípios que vamos começar a tratar, primeiro faremos um resgate à matéria de Teoria Geral do Direito Civil A Relação Obrigacional compõe a Relação Jurídica. A Relação Obrigacional é o resultado do Negócio Jurídico. © Teoria do Fato Jurídico Há 3 planos para identificar uma relação jurídica. 1) Plano da Existência – se a relação é jurídica ou não 2) Plano da Validade – se preenche os requisitos mínimos para gerar efeitos 3) Plano da Eficácia – a partir de quando e de que modo esses efeitos seriam gerados Pontes de Miranda construiu a Teoria do Fato jurídico em 3 planos: Plano da Existência Diante da dúvida se determinada conduta social/acontecimento5 produz, ou não, resultado jurídico, é necessário, em primeiro lugar, indagar: - Quem são os sujeitos presentes na relação? Porque aí talvez possamos descobrir que aquela relação é resultado de um evento da natureza – i.e., alguma força que independe da vontade humana, que agiu e provocou determinado acontecimento (fato) que repercutiu no direito. Isto é o que Pontes de Miranda chamou de Fato Jurídico Stricto Sensu. Entretanto, se, como razão determinante do acontecimento temos a participação da vontade humana – i.e., um ser humano expressando sua vontade para aquele acontecimento e seu resultado jurídico, há, então, um Ato Jurídico, que, de acordo com o grandioso jurista, pode ser um ato da forma Stricto Sensu ou um Negócio Jurídico. Ainda no plano da existência, Pontes de Miranda traz mais 2 classificações: a) Ato Fato Jurídico: conduta humana que produz efeitos jurídicos para determinada situação independente da intencionalidade do agente na sua produção. Tem em sua base a manifestação da vontade humana, embora esta não tenha sido direcionada para a produção do resultado jurídico atingido. b) Fato Ilícito: fato contrário ao direito, ou que produz um resultado jurídico indesejado pelo direito, sendo punível6 tanto na esfera cível como na criminal. 5 Envolvendo, ou não, seres humanos na sua composição 6 Não utilizamos “punição” na esfera cível 7 Havendo um ou mais seres humanos manifestando suas vontades de forma consciente para a produção de um determinado fim jurídico e lícito, pode ser: a) Ato Jurídico Stricto Sensu: ato jurídico que já tem todos os efeitos previstos na norma. É um ato que prevê uma liberdade um pouco mais limitada, porque a liberdade do agente fica adstrita a querer, ou não, celebrar aquele determinado ato. Não é possível escolher os efeitos que decorrem do ato, posto que as categorias de eficácia são pré-determinadas em norma.b) Negócios Jurídicos: são relações travadas entre seres humanos¹7, que manifestam suas vontades para a produção de um resultado jurídico específico, com possibilidade de escolha das categorias jurídicas de eficácia (por exemplo, o modo pelo qual o negócio será celebrado, a partir de quando os efeitos serão gerados, se vai haver algum tipo de condição, prazo e/ou encargos envolvidos no cumprimento da obrigação, etc.). Há total liberdade de escolha, enquanto dentro da norma. Como analisar o conteúdo dessas relações para que elas sejam reconhecidas no Direito? Relações jurídicas se formam, e essa formação jurídica, se for um Negócio Jurídico, trata-se da manifestação consciente da vontade. Determinados Negócios Jurídicos têm requisitos específicos para que sejam praticados – o que não importa uma ameaça à liberdade – pelo contrário! Significa que a liberdade não obedece a um conceito de liberdade absoluta, mas sim, uma liberdade controlada pelo poder estatal. • Uma Relação Obrigacional nasce SEMPRE que há manifestação consciente da vontade para a produção de um fim jurídico. • Uma Relação Obrigacional é sempre resultado de uma Relação Jurídica.8 Aqui, vamos aprender a ESTRUTURA DA RELAÇÃO OBRIGACIONAL, e quais são os PRINCIPAIS ELEMENTOS DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS QUE DECORREM DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS, e também, excepcionalmente9, dos ATOS JURÍDICOS STRICTO SENSU. 7 Para que haja uma relação, é necessário que 2 pessoas, no mínimo, estejam envolvidas. 8 Em especial, nesta disciplina, trataremos das relações jurídicas LÍCITAS decorrentes dos Negócios Jurídicos. Existem relações obrigacionais que decorrem de condutas ilícitas: e.g., Se X atropela Y, X fica obrigado a reparar o dano que causou a Y. Trata-se uma relação obrigacional que decorre de um fato ilícito. V. Responsabilidade Civil, dever de indenizar – reparar. 9 Sempre começamos estudando o Negócio Jurídico porque são a maioria dos atos que praticamos ao longo da vida. No Código Civil, há milhares de possibilidades porque atos nada mais são do que possibilidades de comportamentos que eu posso ou não praticar ao longo da vida – a maioria eu pratico porque não tenho escapatória, mas a princípio tenho liberdade de praticar ou não... a maioria desses atos envolvem ou se classificam como Negócios Jurídicos – isso significa que na maior parte dos atos que vou praticar na vida, tenho uma maior liberdade de escolha, e excepcionalmente, o controle da minha liberdade vai ser um pouco maior por parte do Estado – os atos jurídicos stricto sensu 8 • Exemplo: No Direito de Família, a maioria dos atos que geram relações obrigacionais são Atos Jurídicos Stricto Sensu. Quanto mais o Estado interfere esfera privada, mais liberdade ele retira dos cidadãos. Relação Obrigacional Negócio Jurídico Ato Jurídico Stricto Sensu ( excepcionalmente ) Ao ESCOLHER praticar um Negócio Jurídico (contrato), o sujeito está livremente manifestando a sua vontade para a produção de um resultado jurídico. DIFERENCIAR A Obrigação que decorre da liberdade do indivíduo é diferente da obrigação jurídica. Exemplo de Negócio Jurídico: A compra do almoço de hoje. Ao celebrar este Negócio Jurídico específico (a compra da refeição), houve uma manifestação da vontade.10 Ao se alimentar, uma obrigação foi assumida: a de pagar a conta ao sair do restaurante. Um simples ato de ir ao restaurante almoçar, praticado por mera liberalidade, fez gerar uma relação jurídica, e a partir desta relação jurídica, gerou-se uma relação obrigacional. Para Toda Obrigação Existe um Direito Contraposto! • Se Felisberto tem obrigação de pagar a conta do almoço que consumiu; o direito contraposto de Felisberto é de receber pelo serviço prestado ou pelo produto consumido. Há, sempre, DOIS POLOS em Relação Obrigacional. SUJEITO ATIVO ß à SUJEITO PASSIVO Sujeito detentor de algum direito. Sujeito detentor da obrigação. 10 Porque ninguém obrigou vocês a ir àquele determinado restaurante comprar aquela determinada comida. 9 Relação Obrigacional Devedor (Sujeito Passivo) Credor (Sujeito Ativo) Para complicar... Pode acontecer que o mesmo sujeito que é o sujeito ativo (que tem o direito), também seja um sujeito passivo da mesma relação; e que o sujeito passivo (que a princípio só tinha obrigações a cumprir) também seja um sujeito ativo (sujeito de direitos) da relação. Entendendo o porquê: © No momento em que Felisberto vai a um restaurante e consome o produto, ele assume a obrigação11 de cumprir um Dever: pagar pelo produto que consumiu. © Entretanto, Felisberto também tem Direitos dentro dessa Relação Obrigacional: consumir um produto de qualidade, ser bem atendido. © O prestador de serviços/fornecedor de produtos assume uma série de responsabilidades/obrigações, ao abrir as portas de seu restaurante. Logo, ao mesmo tempo em que ele tem o Direito de cobrar pelo produto consumido, ele também tem o Dever de observar a qualidade da refeição, a validade dos produtos, o bom atendimento, etc. A Relação nunca é tão simples... © É impossível concentrar, no mesmo sujeito, o Ativo e o Passivo do mesmo direito ou do mesmo dever. ü Se Felisberto tem o dever de pagar, Felisberto não tem o direito de receber! (Felisberto até pode ter um direito, mas é outro completamente distinto.) Para cada direito há um dever relacionado. Para cada dever, um direito! 11 Daí vem a palavra relação obrigacional 10 à Direitos e Deveres são POLOS: – Polos se repelem – Temos um Polo Ativo (+) e um Polo Negativo (-). – Polo Ativo e Polo Negativo significa dicotomia, polaridade, repulsão... – Ou seja, é algo oposto a outro algo! • Se Clodoaldo é Sujeito Ativo de um direito, Clodoaldo não pode ser Sujeito Passivo do mesmo direito, porque aí estaria concentrando nele o Sujeito do Direito e do Dever – ou seja, estaria anulando a obrigação! Exemplo: “Clodoaldo tem o direito de receber aula” = “Clodoaldo está pagando”. Significa dizer que “Alguém”, que não é Clodoaldo, tem o dever correspondente à observação do direito de Clodoaldo. Revisando: A Relação Obrigacional nasce da celebração de um Negócio Jurídico (ou da prática de um ato jurídico stricto sensu, excepcionalmente) “Se eu manifestar vontade, eu me vinculo a ela”. Negócio Jurídico: pode-se escolher os efeitos jurídicos Paralelo: Para que que serve a Constituição Federal de um país? - Pra regular a sociedade. Para que que servem as normas de Direito Civil? - Para regular a sociedade na vida privada © Dicotomia do direito Público e Privado – separação meramente didática atualmente. Revolução Francesa à Separa-se o que é Público (Estado) e Privado. à Pregavam a igualdade formal – a não-intromissão do Estado na esfera privada. © Vida Pública = tributos, administração e política © Vida Privada = relação familiar, economia, relação trabalhista (liberalismo) © Relação Vertical (indivíduo – Estado) © Relações Horizontais (entre indivíduos na esfera privada) Estado Social à Inaugurado no Brasil a partir de 1988 à Estado que interfere nas relações privadas porque assume o compromisso de, além de regular a vida em sociedade e promover a paz e o bem-estar social, assume também o compromisso de ajudar todos os 11 indivíduos (criar mecanismos sociais12) para que todos os seres humanos, considerados nas suas singularidades, possam exercer ou ter alcance aos mesmos direitos e garantias. à O Estado compromete-se com a população – diz que vaiajudar no âmbito familiar, promovendo saúde, educação, mas vai garantir, acima de tudo as liberdades individuais. “Eu vou me meter, mas vocês vão ser livres” à Não é liberdade absoluta – conceito utópico porque nenhum direito individual pode ser absoluto; todos os direitos individuais são relativos porque terminam onde começam os do outro. “Não quero que o Estado interfira muito, mas sei que não consigo exercer minha liberdade sem a interferência do Estado. Deixo tu te intrometer nas minhas relações privadas, mas com o único objetivo de tu garantir o exercício da minha liberdade”. à Admitimos que o Estado regule as relações da vida privada, e neste caso específico, as Relações Obrigacionais, para garantir o exercício da nossa liberdade à A função do Estado, por meio da regulação (norma, direito), é regular a conduta humana para diminuir os conflitos na sociedade – para manter a paz e a ordem social. à Nas Relação Obrigacionais, os PRINCÍPIOS devem ser observados. O Estado, por meio do direito, está dizendo: “Tu podes praticar Negócios Jurídicos. Tu podes resolver que não quer praticar Negócios Jurídicos...mas se tu resolver praticar Negócios Jurídicos, eu [o Estado] tenho que garantir que tu e todos os outros indivíduos que se envolverem nessa relação estarão em equilíbrio. Tenho que garantir e oferecer mecanismos para que, caso tu te sintas prejudicado, tu tenhas a quem recorrer para garantir teu direito, para exigir que o outro respeite o seu dever” à É por isso que o Estado diz: TODA E QUALQUER RELAÇÃO OBRIGACIONAL (I.e., toda relação entre um SUJEITO ATIVO e um SUJEITO PASSIVO em que há um DIREITO, e, portanto, um DEVER correspondente.) DEVE SER NORTEADA POR 3 PRINCÍPIOS BÁSICOS: 2.1.1 Relação obrigacional – Ato Jurídico Stricto Sensu Exemplo: Quando alguém, espontaneamente, reconhece a paternidade de um filho Não depende do consentimento do filho. 12 Através de políticas públicas 12 O pai não decide o que é “ser pai” e quais os deveres que assume com a paternidade – é a LEI que determina. A liberdade fica restrita em reconhecer, ou não, voluntariamente a paternidade. Ao reconhecer a paternidade, os efeitos do que é “assumir paternidade” estão todos predispostos na norma. “A principal ferramenta do Direito Civil são as normas presentes no Código – mas Direito Civil é maior do que o Código Civil”. 13 São Princípios Básicos • O Princípio da Autonomia da Vontade (o exercício da liberdade14) • O Princípio da Boa-fé objetiva • O Princípio da Função Social Por que temos que observar princípios quando celebramos Negócios Jurídicos? Por que temos que pensar em princípios quando vou cumprir minhas obrigações? Aprenderemos... 2.2.1 Autonomia da Vontade 2.2.1.1 Conceito “Significa o poder dos indivíduos de suscitar mediante declaração de vontade, efeitos reconhecidos e tutelados pela ordem jurídica. “ (Orlando Gomes) © Autonomia da vontade15 decorre do Princípio da Liberdade Constitucional 16 © Exercício da Autonomia (esfera privada). ® Exercer autonomia = praticar os atos que se quer praticar; deixar de praticar os que não se quer praticar. ® Autonomia = Vontade 13 Compilado de possibilidades. Prevê possibilidades de atos que o ser humano poderá vir a praticar ao longo de sua vida. Significa que ninguém é obrigado a praticar atos da vida civil. As pessoas tem a faculdade de praticar atos da vida civil. Elas tem a liberdade, que é um princípio constitucional, um direito fundamental, de escolher estar ou não em relações jurídicas. Invariavelmente, ao longo de nossas vidas, vamos integrar relações jurídicas. Porque o Código Civil prevê condutas que já praticamos naturalmente ao longo da vida. 14 Aquela liberdade constitucional, mas aqui na esfera privada 15 É o 1º princípio que guia, orienta as relações obrigacionais. 16 Origem: Revolução Francesa. Garantia da não intromissão do Estado nas relações privadas. Garantia de que o Estado não só garantirá a liberdade, mas a efetivará. Na esfera privada, chamamos isto de “Exercício da Autonomia” 13 A autonomia da vontade se exerce por meio da manifestação da vontade17 Origemà REVOLUÇÃO FRANCESA ® Luta Burguesa; ® “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” ® Implementação do Estado Liberal à Não interferência na esfera privada Autonomia da Vontade é a Efetivação do Princípio da Liberdade – celebração do negócio jurídico, escolha do sujeito, conteúdo e efeitos do negócio jurídico, forma ≠ Limites → Proteção dos vulneráveis, terceiros, etc. A autonomia da vontade se exerce por meio da manifestação da vontade. © As pessoas têm a liberdade de escolher estar ou não em relações jurídicas. Invariavelmente, ao longo de nossas vidas, vamos integrar relações jurídicas porque o Código Civil prevê condutas que já praticamos naturalmente ao longo da vida. Então, para integrar relações jurídicas não precisamos abrir o Código Civil, e estudá-lo para ver qual conduta praticar hoje. © É o Estado que deve observar o comportamento humano e transformar ele em norma. Isso significa que já praticamos determinados atos. O Estado copiou os atos mais praticados e os regulou. É o direito que está roubando esses atos e transforma-os em normas. É uma “coincidência orquestrada” – Agimos, e por “coincidência”, as condutas estão previstas na lei. © Existem atos que só praticamos se quisermos – há os mais comuns, os mais ordinários e os mais específicos. Mas eles estão lá... © Se quiser praticar, basta manifestar a vontade Manifestar a vontade é praticar o ato ! No Plano da Validade aprendemos que a manifestação da vontade pode se dar de qualquer maneira [lembrar, liberdade de forma art. 107 Código Civil] © Poucos são os atos que têm uma forma especial em lei, ou uma solenidade específica. © A maioria prevê a LIBERDADE18 17 Conceito herdado da Revolução Francesa 18Se eu quiser praticar e combinar com a pessoa de que nosso Negócio Jurídico vai valer, se foi feito por e-mail, telegrama, WhatsApp... – beleza! Hoje fazemos compras pelo Instagram – manifestamos nossa vontade. Integramos uma relação jurídica. 14 Ninguém raciocina juridicamente em cima de seus comportamentos... Mas isso tudo é manifestar a vontade. Fato inexistente = quando não há manifestação de vontade. Manifestar vontade è Exercer a Autonomia da Vontade Humana Exercer Autonomia è Tomar decisões próprias, dizer se quer ou não; julgar por si se aquilo é bom ou não para si, se quer ou não quer praticar determinado ato. No momento em que o legislador diz, “A Relação Obrigacional é pautada pela Autonomia da Vontade” Ele está dizendo “Eu estou te dando a oportunidade de escolher integrar ou não uma relação jurídica (em primeiro lugar); Se tu manifestares tua vontade, tu vais entrar na relação jurídica e vais assumir direitos e deveres. Ou seja, tu farás parte de uma Relação Obrigacional que tu escolheste. Se tu escolheste, por meio do exercício da tua Autonomia (que nada mais é do que um exercício da Liberdade Constitucional aqui na esfera privada), tu estás assumindo o compromisso de cumprir espontaneamente com seus deveres, mas também, adquirindo o direito de protestar pelo respeito às tuas garantias, direitos... inclusive podendo buscar o poder judiciário para pleitear o teu direito caso ele não seja observado pela outra parte ”. O Estado nos deixa totalmente livres para decidirmos se queremos ou não integrar relações jurídicas – não nos obriga nem proíbe. ENTRETANTO, cada vez que, AUTONOMAMENTE, consciente daquilo que se estamosfazendo (não importa o motivo; importa o querer), manifestada a vontade, estamos vinculados a ela – devendo arcar com suas consequências.. ** Vícios de Vontade à –uma coisa é manifestar a vontade (plano da existência); outra é analisar o conteúdo da manifestação da minha vontade (plano da validade). A relação obrigacional existe (independente dos vícios de vontade); se esta relação vai produzir efeitos, ou não, é outra coisa. Requisito para Existência da Relação Obrigacional Analisar o exercício da autonomia da vontade. Questionar: 15 © A manifestação da vontade humana foi pautada pelo princípio da autonomia da vontade? © Significou mesmo o exercício da liberdade desse indivíduo? © Existiu a prática da autonomia da vontade? Se a resposta é “SIM”, não importa o motivo. Se a autonomia do indivíduo foi exercida, há o requisito de existência da relação obrigacional. Manifesta Vontade Entra na relação jurídica Passa a ter direitos e deveres Faz parte de uma relação obrigacional Escolhida por meio do exercício da Autonomia (Liberdade da esfera Constitucional na esfera privada) O exercício da liberdade vem acompanhado do exercício de deveres! 2.2.1.2 Liberdade na Relação Obrigacional à A própria realização do Negócio Jurídico (se quer ou não realizar o Negócio Jurídico) à Escolha do(s) sujeito(s) com quem se relacionar à No conteúdo da relação e nos efeitos que essa relação vai gerar à Na forma: ART. 104, Código Civil – “A validade do negocio jurídico requer...” Art. 104, III – “forma prescrita ou não defesa em lei” à Via de regra, a forma com que celebramos o Negócio Jurídico é livre. A não ser que a lei dê uma forma especial ou proíba uma forma especial. 2.2.1.3 Limites Toda liberdade tem um contraponto – sempre que manifestamos nossa vontade e exercemos um direito, estamos também assumindo um LIMITE de atuação. 16 Toda liberdade é limitada, tanto na esfera privada quanto na publica – em especial na publica. Autonomia da Vontade Liberdade Limites à Proteção dos Vulneráveis, terceiros, etc. Ex.: Nulidade de cláusulas, incapacidade, forma... ® A liberdade precisa ter limite. ® Não há liberdade absoluta. ® Limitação para o exercício da Liberdade – como o Estado limita a minha liberdade O Estado leva em consideração: ® A proteção dos vulneráveis ® Direito do Consumidor: o Estado, em determinado momento, percebeu que o consumidor era vulnerável19 em relação ao sujeito que oferece o produto ou presta o serviço20 ® O Estado protege o vulnerável para tentar equilibrar a Relação Obrigacional. ® No momento em que ela está equilibrada, é possível garantir que ambos estão exercendo suas liberdades; ® Enquanto a Relação Obrigacional está desiquilibrada, não tem liberdade (já que o vulnerável/consumidor não está nem no patamar do outro/fornecedor para expressar sua vontade). ® O Estado interfere, inclusive, em relações jurídicas em que há equilíbrio, onde as partes manifestam suas vontades sem vícios (em relações jurídicas “impecáveis”) ® Já superamos há muito tempo, em especial no Código Civil de 2002, o conceito individualista das relações. ® Não é mais “o sujeito” da obrigação. ® Já entendemos que as relações obrigacionais não geram efeitos apenas entre as partes. ® Elas geram obrigações entre as partes, mas os efeitos dos Negócios Jurídicos se propagam na sociedade. ® Então, se o Estado percebe que determinada Relação Obrigacional vai interferir na vida de terceiros, ele intervém para regular aquela relação obrigacional, impondo limites. 19 Vulnerabilidade é diferente de Hipossuficiência (conceito econômico). Vulnerabilidade significa poder de controle da situação. O consumidor, na maioria das vezes, é vulnerável, porque está a mercê do produtor ou do sujeito que oferece o serviço. 20 Exemplo do pipoqueiro que tu não sabes se lavou as mãos antes de fazer a pipoca que tu comprou. 17 ® E.g., Interferência na economia – Quando o Estado limita a taxa de juros, pois o banco, para beneficiar os sujeitos que pagam em dia, carregam os juros dos outros. Ou seja, o benefício de um está prejudicando outras pessoas (é um efeito social de uma relação obrigacional). ® O Estado entra para regular minimamente essas relações ® Outros exemplos: nulidades de cláusulas ® Cláusulas abusivas, ilícitas. ® As nulidades da vontade vinculadas ao sujeito, incapacidade, regulação de forma, vícios ou defeitos da vontade (erro, dolo, coação, estado de perigo), fraude contra credores, simulação... ® Todas essas são formas de o Estado controlar a liberdade para que não prejudique terceiros ou o próprio sujeito da obrigação. 2.2.1.3.1 Fatores que Limitam a Liberdade Contratual E, portanto, a relação obrigacional 1. Normas ® O Estado, por meio da norma, está limitando e obrigando as pessoas a obedecerem determinados limites; ® O Estado diz o que se pode fazer e dá os limites da atuação dos indivíduos ® Liberdade restrita 2. Dirigismo Contratual ® O Estado traça comportamentos mínimos de determinados contratos ® E.g., Casamento sofre o dirigismo contratual: tem limites específicos tratados em lei, sem que isso torne ele um Ato Jurídico Stricto Sensu 3. Proibição de Abusos (vulnerabilidade) ® Forma de controle e equilíbrio das relações ® Finalidade: para corrigir vulnerabilidade 4. A Necessidade do bem ou serviço ® Quanto mais limitada for a oferta, ou menor o poder de escolha do sujeito que vai adentrar na relação (porque o mercado é fechado), mais regulada pelo Estado será aquela relação . ® E.g., Serviço de luz, água e esgoto. 18 5. Limites éticos 6. Função social do contrato 7. Boa-Fé Objetiva 8. Equilíbrio 2.2.2 Boa-fé Objetiva Boa-Fé – surge como clausula aberta21.22 Boa-fé também serve para regular a relação obrigacional Uma aplicação especifica da clausula geral da boa-fé se dá nas relações obrigacionais. Há 3 princípios na relação obrigacional AUTONOMIA BOA FÉ (clausula aberta) Subdivide-se Subjetiva (diz respeito ao indivíduo. É um Estado de agir, Estado de consciência ou convencimento individual de obrar em conformidade ao direito – i.e., “é a minha intenção, se acho correto ou não se submeter a determinada norma”). Boa-fé subjetiva à modelo de conduta social Objetiva (direta, específica) – a norma é objetiva. A relação obrigacional deve ser pautada pela objetiva – modelo de conduta social, independente do que o indivíduo pensa a respeito da norma estabelecida. Numa relação obrigacional Tens o que chamamos de deveres principais, por exemplo: numa compra e venda à pagar, entregar o produto (deveres principais relacionados à compra e venda.) Tens deveres secundários, por exemplo, (entregar o produto, transportar a mercadoria, embalar com segurança, pagar o frete) – são deveres secundários que circundam a obrigação principal mas que são necessários. Por fim, temos os deveres anexos ou laterais, que são resultado do princípio da boa-fe objetiva, do modelo de conduta social, segundo o qual cada pessoa deve ajustar a própria conduta a esse arquétipo, ainda que não concorde com ela. Ainda que internamente pense “não devo mais nada a esse sujeito”, a pessoa ainda deve prestar informação porque a boa-fé objetiva exige. Agir com honestidade, lealdade e probidade23. ß são as 3 palavras que caracterizam a boa-fé objetiva. Ver: 21 Com semântica mais aberta, mais vaga, que permite maior interpretação do julgador na hora de aplicar o caso concreto. 22 Função social tb 23 qualidade de probo (de caráter íntegro, justo, honesto); integridade decaráter; honradez, retidão 19 Obrigação Principal Obrigação Secundária Deveres anexos ou laterais – perduram após o fim da relação obrigacional, resultantes da boa-fé objetiva. FUNÇÃO SOCIAL (clausula aberta)24 2.2.2.1 Conceito SUBJETIVA: “Se refere a um estado de agir... denota estado de consciência ou convencimento individual de obrar em conformidade ao direito” àEnvolve INTENÇÃO Exemplo da pessoa que compra livros e os revende na faculdade por um preço mais barato, sem assinar contrato e etc. Os compradores confiam no vendedor de que o mesmo trará o produto no outro dia, conforme o prometido. O estado de agir do vendedor, de levar por se sentir obrigado em um caráter de lealdade, pode de certa forma explicar o princípio da boa-fé subjetiva. Subjetivamente, pode-se tudo – concordar ou não com a norma.... OBJETIVA: “É modelo de conduta social (...) segundo o qual cada pessoa deve ajustar a própria conduta a esse obrando como obraria um homem reto: com honestidade, lealdade e probidade” Na Prática: Agir com cooperação pensando no interesse de todos; deveres de colaboração Quando algo determina que, independente de eu concordar ou não, eu devo me comportar de determinada maneira, falamos de sentido objetivo Não importa se concorda ou não, tem que cumprir. Boa-fé Objetiva à Previsão de valores e comportamentos; é uma postura que deve ser adotada por todos os sujeitos da relação obrigacional, e essa postura tem como objetivo garantir uma relação honesta, verdadeira, e bem informada. Espera-se: probidade, verdade, informação, lealdade... São comportamentos que se espera que as pessoas tenham em relação às outras para que, além do cumprimento da obrigação principal, elas continuem dando assistência, diálogo, clareza, informação, sigilo em algumas oportunidades para aqueles que um dia se relacionaram juridicamente com si. 2.2.2.2 Função da Boa-fé Objetiva Cláusula Aberta Exemplo: Celular que empresa vende, que sai de linha. Celular estraga, muito antigo, fora de mercado – fora de linha. Empresa diz que não conserta mais. 24 não conseguimos traçar com exatidão o que exigem, mas nos norteiam 20 Dentro de um prazo razoável, a empresa deve ter a peça – fabricar a peça ou indenizar. A relação obrigacional está lá atrás - quando o serviço foi contratado e o preço foi pago pelo celular. Hoje a relação obrigacional é muito mais ampla que o objeto principal – se prolonga no tempo por causa da incidência do princípio da boa-fé objetiva. Não se pode largar o consumidor à própria sorte! Deve ser dado ao consumidor todos os mecanismos que permita que ele faça uso do bem que comprou 2.2.2.2.1 Cânone Hermenêutica Normativa 2.2.2.2.2 Limite ao exercício de outros direitos Limite ao exercício de direitos subjetivos 2.2.2.2.3 Criadora de deveres jurídicos 2.2.2.2.3.1 Deveres Principais, Secundários, Anexos ou Laterais Cuidado Proteção Segurança Aviso Esclarecimentos Informação Colaboração e Cooperação Sigilo e lealdade 2.2.2.2.3.2 Obrigação como Processo 2.2.2.2.3.2.1 Pré-contratual 2.2.2.2.3.2.2 Contratual 2.2.2.2.3.2.3 Pós-contratual Exemplo: Dever de lealdade e Sigilo Contrato do engenheiro químico da Coca-Cola. Demitido – extingue-se o contrato de trabalho. A relação obrigacional está extinta. Por força do princípio da boa-fé objetiva, pode-se exigir que ele aja com lealdade e sigilo – (não pode falar o segredo da fórmula da Coca). O que perdura por tempo ilimitado são os deveres laterais ou anexos – não há validade final. Quando falta boa-fé na execução do contrato, ou posteriormente a ele, de modo que invalide ou afete o exercício de um direito após a aquisição do bem (ou após o cumprimento da obrigação), pode-se alegar a anulabilidade, a invalidação do Negócio Jurídico em razão da falha do Princípio da Boa-Fé. 21 2.2.3 Função Social 2.2.3.1 Funções do Princípio Art. 421, C.C. ** Ofensa: Interesses coletivos, lesão à dignidade e impossibilidade fim. Funcionalização do Princípio da Liberdade O que é Função Social Interpretação Individualista Interpretação Coletivista -Reflexos Sociais -Reflexos Ambientais -Reflexos Trabalhistas Funções do Princípio: • Equilíbrio da relação Obrigacional Decisão: Recurso especial – STJ – 187.940 • Efeitos Externos: Reconhecimento dos efeitos externos Decisão: Recurso Inominado - JEC – 7100208811 • Ineficácia Superveniente: Reconhecimento da Ineficácia Recurso de Apelação – TJRS - 70027218668 22 A) SUJEITOS B) OBJETO C) CONTEÚDO DA OBRIGAÇÃO Ativo (credor) Passivo (Devedor) Direitos Obrigacionais (Prestação) Mediato – Bem da Imediato – Prestação Prestação! Direitos Reais Coisa Vínculo Jurídico Relação Jurídica de CRÉDITO e DÉBITO Obrigações Simples Polo passivo e ativo. Terei um ou mais devedores e credores. Obrigações Complexas A Relação Jurídica B Credor à Devedor Devedor ß Credor São a maioria das relações obrigacionais. O mesmo sujeito que é credor é devedor, e o mesmo sujeito que é devedor é credor. Direitos e deveres em ambos os lados. Ex.: contrato de compra e venda. Objeto é onde recai a minha vontade. O objeto da relação obrigacional é a prestação que, em sentido amplo, constitui-se numa atividade, numa conduta do devedor. Credor Sujeito Ativo - Poder de exigir a prestação - O credor é o sujeito da relação obrigacional que detém a faculdade de agir para satisfazer seu crédito. Devedor Sujeito Passivo - Necessidade jurídica de cumprir a obrigação sob cominação de sanções - O sujeito passivo, também chamado de devedor é o que detém a obrigação de cumprir determinada prestação sob pena de sanção. Mediato São os bens objetos da prestação. É o objeto material ou imaterial sobre o qual incide a prestação. Exemplo: compra e venda de um Vade Mecum, o bem mediato é o Vade Mecum. Objeto – Direitos Obrigacionais (Prestação.) Imediato O que eu tenho que fazer, tipo de relação jurídica. Exemplo: compra e venda do Vade Mecum, o bem imediato é a compra e venda. Em uma prestação de serviços, é a prestação de serviços. Objeto – Direitos Reais (coisa) Classificação das Prestações Requisitos da Prestação(Art. 104) Características do Vínculo Prestação pode consistir em: © Dar © Fazer © Não Fazer 1. Lícita 2. Possível 3. Determinada/Determinável 4. Patrimonial (valor estipulável) Prestação de Coisas © Dar © Entregar © Restituir Prestação de Fatos © Fazer © Não fazer Obrigação de Meio Obrigação de Resulta © Transitório – Cumprimento – Prescrição Prescrição vs. Decadência Portanto a Obrigação de DAR “COISA” pode consistir em dar (transferir a propriedade do bem); em ENTREGAR (transferir a posse de um bem); ou, RESTITUIR (devolver a coisa ao domínio do proprietário). Obrigação de dar Coisa Certa: objeto e quantificação certa. Obrigação de dar Coisa Incerta: Objeto imediato determinado; objeto mediato determinável Obrigação Impossível: Ilícita - Herança de alguém que está vivo. 23 São Elementos: 1) Sujeitos 2) Objeto 3) Conteúdo (Vinculo Jurídico) 4) Fato Jurídico 5) Tutela ou Garantia Legal (pretensão) Individualiza a relação obrigacional, sabendo assim, qual o direito e o dever envolvido nessa relação. As relações obrigacionais podem consistir em várias pessoas. 3.1.1.1 Sujeito Ativo É chamado de sujeito ATIVO porqueé quem pode buscar a satisfação do seu crédito, AGIR ATIVAMENTE na realização do seu direito 3.1.1.2 Sujeito Passivo Chama-se sujeito PASSIVO porque é aquele que tem que obedecer, cumprir; Tem a necessidade de observar o direito de alguém. 3.1.2 Obrigação Simples É a relação em que há: UM SUJEITO ATIVO (credor) e UM SUJEITO PASSIVO (devedor). Assim, sempre haverá: Para cada sujeito detentor de um direito ou de um crédito (credor) Um sujeito detentor de uma obrigação ou um dever, que é o devedor Para cada direito existe um dever contraposto Tem um sujeito que tem um direito, e outro sujeito que tem um dever. Não necessariamente temos uma única pessoa no sujeito ativo ou uma única pessoa no sujeito passivo. Pode haver vários credores e/ ou vários devedores em uma relação obrigacional. Ainda, no ponto de vista da relação obrigacional, trata-se de uma obrigação SIMPLES. 24 Obrigação Simples à Há 2 polos: Polo Ativo e Polo Passivo (Um tem o Crédito e o outro tem o Débito) Pode haver 1 ou + pessoas CREDOR (ES) Pode haver 1 ou + pessoas DEVEDOR (ES) EXEMPLO: Contrato de Doação Rose deu um café pra Carol– Rose assumiu a obrigação de dar para Carol25 o café. Carol, por sua vez, assume a posição de detentora do direito de receber. EXEMPLO: Contrato de Doação Pai diz, “quando tu te formar, vou te dar um automóvel”. Para receber o automóvel, basta se formar. Ao se formar, o pai entrega o automóvel mediante doação. Que dever que o filho tem? Nenhum. O filho só tem o direito de receber o automóvel. O pai tem a obrigação de cumprir a promessa e dar o automóvel. Há UM credor e UM devedor. 3.1.3 Obrigação Complexa - A maioria das relações obrigacionais. - O mesmo sujeito que é CREDOR é também DEVEDOR, - E o sujeito que é DEVEDOR, é também CREDOR. Na mesma pessoa, misturam-se as duas figuras. Sujeito A relacionando-se com Sujeito B Sujeito A é credor (Sujeito Ativo) de obrigações do devedor, que é o Sujeito B (Sujeito Passivo) Sujeito A será credor de Sujeito B Mas B também será credor de A Na mesma relação, só que de um direito diferente Numa ÚNICA RELAÇÃO JURÍDICA o Credor tem Direitos em relação ao Devedor, que por sua vez, tem Deveres em relação ao Credor. 25 Obrigação nem sempre é negativa, porque eu assumo porque eu quero. É uma discricionariedade do sujeito 25 Ao mesmo tempo que o Credor tem direitos em relação ao Devedor, este Devedor também tem Direitos em relação ao Credor. E este Credor também tem deveres em relação a este devedor. EXEMPLO: Compra e Venda ® Rose vende livros ® Carol pega 2 livros e diz que quer ® Rose diz – “os 2 custam 120 reais”. ® Carol – “como posso pagar”? ® Rose diz– “em 2x no cartão” ® Carol – “vou comprar” ® Está feito o contrato de compra e venda Apesar de Rose não ter entregue os livros ainda, o contrato de compra e venda está feito – se Rose vai entregar ou não, é outra coisa. ® Contrato expresso – verbal Agora é preciso cumprir as obrigações do contrato! COMPRA E VENDA SUJEITO ATIVO SUJEITO PASSIVO ® Carol tem o DIREITO de receber os livros ® Carol tem o DEVER de pagar o valor ® Rose tem o DIREITO de receber o valor ® Rose tem o DEVER de entregar os livros Carol: Ao mesmo tempo em que Carol tem o DIREITO de receber os livros, ela tem o DEVER de pagar – concentra-se na mesma pessoa o sujeito ativo e passivo. A Rose, ao mesmo tempo que tem o DIREITO de receber o dinheiro, tem o DEVER de entregar a mercadoria. – Concentra-se na mesma pessoa o sujeito ativo e passivo. ® A maioria das obrigações são complexas ® O mesmo sujeito da relação é sujeito ativo e sujeito passivo. ß Se temos sujeitos, temos que ter o porquê desses sujeitos se relacionarem juridicamente É preciso indicar qual vai ser o comportamento do sujeito; ou seja, por que que o sujeito está declarando a sua vontade. Qual o objetivo da relação jurídica? O objeto é o “porquê” da Declaração de Vontade. O objeto é onde recai a Declaração de Vontade 26 “Estou celebrando um contrato de compra e venda” A compra e venda é um objeto da minha relação jurídica - Compra e venda do quê? - Deste Vade Mecum Temos 2 tipos de objetos © O objeto é algo muito próximo ou visível na relação obrigacional e algo que a gente não premedita imediatamente na nossa relação obrigacional © Então nossa vontade recai sobre © - o tipo da relação contratual que estou estabelecendo © - o bem que será objeto dela (da minha declaração de vontade) © Temos 2 tipos de objetos no direito26 - direitos obrigacionais, que envolvem prestações (comportamentos), e temos objetos de direitos reais (que são coisas, bens propriamente ditos, corpóreos) © O que nos importam agora são os objetos das relações obrigacionais – que chamamos de prestações © As prestações se dividem em MEDIATAS e IMEDIATAS. © As prestações mediatas (objetos mediatos) são os bens objetos da prestação. © Já a prestação imediata (objeto imediato) é o que eu tenho que fazer, ou seja, a própria prestação que vou ter que cumprir. © OBJETO MEDIATO © OBJETO IMEDIATO © e.g. © Celebro contrato de compra e venda deste código © - qual o objeto mediato da relação? O código © - qual é o objeto imediato? A compra e venda. © Se perguntar “qual o objeto da relação obrigacional” = compra e venda © qual o objeto mediato da relação? É o bem objeto da compra e venda, ou seja, é o código © -- © lembrar: PLANO DA EFICÁCIA © São as 3 modalidades de eficácia: termo (prazo – inicial e final), condição (uma proposta que tu coloca pra pessoa que pode suspender o direito dela ou pode terminar com o direito dela), e o encargo (é uma prestação que a pessoa tem que cumprir, que se considera uma obrigação, mas não é referente a relação obrigacional – ela é acessória. Encargos são deveres secundários das relações obrigacionais). © Doação de um veículo: © Objeto mediato = o carro © Objeto Imediato = a doação © Objeto imediato é o tipo de relação jurídica que estou celebrando, ou seja, por exemplo, o tipo de contrato que estou celebrando. © E © O objeto mediato é o bem que resulta daquela relação jurídica. 26 direito em geral 27 Aulas particulares Objeto imediato = prestação do serviço de aulas particulares Objeto mediato = a aula em si O objeto imediato é a prestação de um serviço e o objeto mediato é a aula, ou seja, o que propriamente estou contratando. © NÃO CONFUNDA OBJETO COM DEVER! © Pagar pela aula é a obrigação – é o que tu deve fazer para obter o serviço. © Tu não contrata um serviço dizendo “o meu objetivo é te pagar”; não, o teu objetivo é ter a prestação do serviço, “e em razão disso, eu vou te pagar” © Espécies contratuais – a partir do art. 481 © Troca ou permuta - quando tenho um bem e desejo outro. Para que eu faça o contrato de troca ou permuta, entrego meu bem para receber o outro © Carol tem um livro raro do Pontes de Miranda, mas precisa de outro livro que está esgotado, pra completar sua coleção – © Rosana consegue o livro que falta na coleção – © Rose entrega o livro que está faltando © Carol entrega o livro raro © = troca ou permuta © SUJEITOS DA RELAÇÃO: Rose e Carol © QUANTOS SUJEITOS ATIVOS? 2 © QUANTOS SUJEITOS PASSIVOS? 2 © Porque é uma obrigação complexa = os dois têm direitos e deveres. © OBJETO IMEDIATO DESSA RELAÇÃO OBRIGACIONAL: troca ou permuta © OBJETO MEDIATO: os livros © O objeto mediato será sempre um bem da prestação imediata. © O objeto imediato é a prestação, e o mediatoé o bem da prestação. © Objeto imediato da relação obrigacional (a prestação), pro direito das obrigações, pode ser uma conduta, um dar, um fazer ou um não fazer. © Prestação é um comportamento humano que consiste em DAR alguma coisa, FAZER alguma coisa (obrigação positiva), ou DEIXAR DE FAZER alguma coisa (obrigação negativa – abster-se de fazer) © Qual é o objeto imediato de uma obrigação? Uma prestação. © O que é uma prestação? Um dar, um fazer, ou um não fazer. © Prestações podem ser de 3 tipos... 3.3.1 Requisitos da Prestação 3.3.1.1 Dar Entregar coisas (objetos palpáveis = bens) 28 Para dar algo, o objeto tem que ser: • Lícito: • Possível: • Determinado/Determinável: Obs.: Requisitos de validade do Negócio Jurídico – art. 104 CC. • Bem Patrimonial: passível de atribuição de valor econômico O “dar” tem que ser em relação a objetos lícitos, possíveis, determinados ou determináveis. 3.3.1.2 Fazer: É uma conduta ativa (positiva); É um dever de comportar-se de determinada forma. O comportamento tem que ser: • Lícito: • Possível: • Determinado/Determinável: • Passível de atribuição de valor econômico. 3.3.1.3 Não-Fazer: Conduta negativa; abster-se de... Tem que ser também: • Lícita: Deixar de fazer algo lícito... E.g. “Não pague mais pensão pro seu filho!” Isso não pode ser objeto de relação obrigacional. Não, porque é um não-fazer ilícito. • Possível: • Determinada/Determinável: • Passível de atribuição de valor econômico Prestação de dar coisas. A prestação de dar bens pode consistir em: 1) Dar: simples dar, transmitir a propriedade de determinado bem para outra pessoa 29 2) Entregar: pode ser um empréstimo; entrega provisória (mútuo; contrato de depósito27). Não há a transmissão da propriedade, mas apenas da posse. 3) Restituir: Devolver algo para o domínio de seu proprietário. Além da prestação de coisas, temos a prestação de fatos 1. Fazer 2. Não fazer O vínculo jurídico é o conteúdo da relação obrigacional. É a relação de crédito e de débito, pois DENTRO DE TODA E QUALQUER RELAÇÃO OBRIGACIONAL HÁ UM SUJEITO CREDOR QUE DETEM O PODER DE EXIGIR UMA PRESTAÇÃO & HÁ UM SUJEITO (DEVEDOR) QUE TEM A NECESSIDADE JURÍDICA DE CUMPRIR A OBRIGAÇÃO, SOB PENA DE COMINAÇÃO DE SANÇÕES (juros, correção monetária, multas contratuais, etc.) Difere do objeto pois o conteúdo da obrigação (vínculo jurídico) é o poder de exigir a prestação ou o dever (a necessidade jurídica) de cumprir com a obrigação. É como se fosse um “compromisso”; a postura que se assume ao ser credor ou devedor. 5.1.1 Característica do Vínculo © TRANSITORIEDADE é a característica fundamental da relação obrigacional, pois não se espera as pessoas que estão dentro de uma relação obrigacional fiquem unidas para o resto da vida. Toda e qualquer relação obrigacional estabelece um vínculo transitório. Exemplo de vínculo não transitório O casamento, antigamente. Era impossível de extinguir, pois não existia divórcio. Era um vínculo eterno (Relação Obrigacional não transitória) 27 largar o carro no estacionamento, para revisão – entrega provisória do bem 30 Lembrando: PLANO DA EFICÁCIA São as 3 modalidades de eficácia: Termo (prazo – inicial e final), Condição (uma proposta posta para a pessoa que pode suspender ou terminar com o direito dela), e o Encargo, que é uma prestação que a pessoa tem que cumprir. É considerada uma obrigação, mas não se refere à relação obrigacional, pois é acessória. Encargos são os deveres secundários das relações obrigacionais. © Termo: tempo. Toda relação obrigacional, todo contrato, tem uma data de inicio e de fim. É importante saber o termo inicial e o termo final de uma obrigação, porque é o tempo dentro do qual o credor pode exigir a prestação, e o devedor fica vinculado à necessidade jurídica de cumprir determinada prestação. Quando se chega no termo final, extingue-se a relação obrigacional. CUIDADO: Persistem os deveres laterais ou anexos decorrentes da boa-fé objetiva!! Se passa um tempo e o credor deixa de exigir a prestação, este credor pode perder o direito de exigir, e consequentemente, o devedor perde a necessidade de cumprir a obrigação em razão da PRESCRIÇÃO. HÁ DUAS CAUSAS DE PÔR FIM À RELAÇÃO OBRIGACIONAL 1) O CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO – Põe-se fim à relação obrigacional quando a obrigação é cumprida – o objetivo foi alcançado. OU 2) PRESCRIÇÃO Ocorre quando o devedor não faz nada, mas o credor também não exige o cumprimento da obrigação. PRESCRIÇÃO: perda da pretensão O direito prevê, basicamente três modalidades de obrigações (Dar, Fazer e Não Fazer). Temos as obrigações positivas e negativas. © Positivas o Dar 28 § Coisa Certa (Arts. 233-242) § Coisa Incerta (Arts. 243-246) o Fazer (Arts. 247-249) 28 Entregar a outro sujeito coisas certas ou incertas 31 Obrigações Positivas - porque o devedor (ou o credor, também, na posição do devedor deve agir, ou fazer algo, entregar alguma coisa) deve se comportar positivamente - seja para DAR algo a outro indivíduo, e esse “algo” no direito, chamamos de COISA29. Sabemos também que essa COISA pode ser CERTA ou pode ser INCERTA, que é o que chamamos de objeto determinado ou determinável.30 Essa obrigação positiva também pode não envolver um “dar” 31, mas sim FAZER, executar (comportar-se de determinada maneira a fim de cumprir uma obrigação) © Negativas o Não fazer (Arts. 250-251) OBRIGAÇÃO NEGATIVA São negativas porque ao invés de me comprometer a dar alguma coisa, a restituir algum bem, ou a executar algum serviço/prestação, eu me comprometo a me abster de praticar algum ato. Comprometo- me a não fazer alguma coisa determinada. Assumo o compromisso de não me comportar de determinada forma Por isso chama-se obrigação negativa. Dar, no direito, é entregar. Para o Direito das Obrigações, esta entrega pode ocorrer por vários motivos: © Posso entregar isto que é meu, que eu não quero mais, e eu recebo algo em troca ou não (pode ser uma doação, por exemplo), e eu entrego para a outra pessoa, e aí eu estou transferindo a propriedade do bem (a titularidade – “não é mais meu, agora é dela”); © Eu posso entregar esta coisa com a intenção de não transferir a propriedade, apenas de emprestar – “temporariamente isto vai ficar na tua posse, mas eu conservo a propriedade”. © E eu posso, em contrapartida, devolver algo que não é de minha propriedade, que está apenas na minha posse que me foi emprestado nesse mesmo regime que eu acabei de falar (restituição) à Vejam: se eu pego emprestado um apagador de alguém e digo “vou usar até o intervalo, depois te devolvo”, eu estou me obrigando a dar coisa certa. Que tipo de dar? RESTITUIR. à Se, ao contrário: digo para o colega “no intervalo eu te empresto o meu apagador”, eu estou me obrigando a ENTREGAR apenas a posse do apagador – e não a propriedade. Eu conservo a propriedade para mim e entrego a posse do apagador. (Vejam que é uma outra espécie de dar.) à Ou, posso simplesmente dizer, “este apagador eu não uso. Pega pra ti”. Isto consiste em DAR a propriedade do bem para o meu colega. 29 QUE PODE SER CERTA OU INCERTA – OBJETO DETERMINADO OU DETERMINAVEL 30 objeto indeterminado = obrigação nula 31 que significa transferir a propriedade ou a posse de algo, de alguma coisa 32 a) DAR – Sentido Amplo a. Dar – transferir propriedade – transferência de domínio, titularidade32 art. 1247, 1245 Código Civil b. Entregar – transferirposse/detenção, conservando a propriedade c. Restituir – devolver ao dono a coisa que tenha sido dada em posse ou detenção Indica uma coisa especifica. Sabemos exatamente qual é o objeto mediato da minha obrigação. Sabemos, da quantidade e do gênero, a qualidade do objeto da obrigação de dar ou restituir. Temos, então, 3 formas de cumprir obrigações de dar coisa certa: 1. Por meio do dar propriamente dito – que é quando se transfere a propriedade de um bem (transferência de domínio). 2. Por meio da entrega de alguma coisa pra alguém – que é quando se transfere apenas a posse (ou a detenção), conservando a propriedade da coisa. 3. Por meio da restituição – que é devolver ao dono a coisa que tenha foi dada em posse/detenção. Restituir é o inverso de entregar – posse. 7.1.1 Tradição Para o direito, ® Quando é que a entrega conta? ® Como é que bens são dados para outras pessoas? ® Quando podemos considerar que a entrega significou “cumprida a obrigação”? Algumas condutas devem ser adotadas para que ocorra o Adimplemento de uma Obrigação de Dar Coisa Certa. Por que é importante saber isso? Pode ser que ocorra a entrega, e ainda ocorra o inadimplemento. Às vezes, a simples entrega da coisa “em mãos” não é o suficiente para que se possa dizer que a obrigação foi cumprida. Por exemplo, não se pode dar “em mãos” um bem imóvel. É necessário praticar um ato diferente para provar que a coisa realmente foi entregue. 32 Móveis – 1247; imóveis, 1245 33 DO INADIMPLEMENTO: O que sempre se busca no Direito das Obrigações? O cumprimento da obrigação – o Adimplemento. O objetivo é ADIMPLIR, cumprir com a minha obrigação (com o dever). Quando o dever não é cumprido – total ou parcialmente (i.e., não cumprir com nada, ou cumprir com um pouco, mas não cumprir o resto) ocorre o inadimplemento – que pode ser Total ou Parcial. Entretanto, quando o sujeito se compromete a entrar numa relação obrigacional, o objetivo é cumprir com o seu dever, assim como também é esperado que o outro sujeito cumpra com o seu dever. A exceção é quando o dever não é cumprido (adimplido). “Entregar”, literalmente, para o direito, significa “o momento da tradição”. Tradição significa “entregar para outra pessoa”. 7.1.1.1 Entrega de Bens Móveis: O devedor se obriga, em primeiro lugar, a entregar e arcar com os custos, despesas de deslocamento e entrega efetiva da coisa. A REGRA GERAL do Direito das Obrigações é: Ao obrigar-se a entregar coisa certa, caso não haja convenção contraria entre as partes, obriga-se também a transportá-la, carregá-la ate o destino final e suportar os custos deste transporte. Art. 494. Se a coisa for expedida para lugar diverso, por ordem do comprador, por sua conta correrão os riscos, uma vez entregue a quem haja de transportá-la, salvo se das instruções dele se afastar o vendedor. Entregar coisa certa obriga a transportar até o destino final e suportar os custos Exemplo: Compra e Venda de Freezer– Obrigação de Dar Coisa Certa * O resultado do contrato de compra e venda é uma obrigação de dar coisa certa (e obrigação de pagar, obviamente). Na negociação, não é dito quem deve arcar com os custos do deslocamento (frete), com a montagem/desmonte do bem: No momento do cumprimento da obrigação, o comprador exige que a vendedora leve o freezer. O comprador está correto, pois a norma diz: “Se a coisa é tua, e a obrigação de entregar é tua. Correm por tua conta e risco todo o procedimento da entrega (a desmontagem e o transporte do equipamento), a não ser que tenha sido pactuado diferente (disposto contratualmente) “. 34 Os bens móveis são entregues por meio da TRADIÇÃO.33 TRADIÇÃO DE BENS MÓVEIS à entrega “em mãos” Vejam como é fácil entregar um bem móvel: se está comigo é meu. No direito, se presume que aquilo está com a pessoa é dela. © O sujeito só será considerado proprietário de um bem móvel após a tradição. Tradição é a entrega do bem. Tradição não é: • Postar no correio • Mandar pelo motoboy • Assinar um contrato34 A tradição só ocorre quando o bem chega até as mãos da pessoa [que deve assinar o recebimento do mesmo]. 7.1.1.2 Entrega de Bens Imóveis É um pouco mais difícil provar a entrega (a tradição) porque os bens imóveis estão sujeitos a registro. Se é feita a entrega, mas não é transferida a propriedade perante o registro competente, o que ocorre é apenas a entrega da posse do bem, e não a propriedade. Quando ocorre a entrega, mas não a transferência da propriedade: Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico. Enquanto não ocorrer a tradição (que é a entrega da coisa), a propriedade do bem não terá sido transferida. Ou seja, se há um contrato assinado, mas a coisa não foi entregue, o bem ainda não é do comprador. Celebrar um contrato de compra e venda não torna o sujeito proprietário do bem até que ocorra a tradição. O sujeito só passará a ser proprietário da coisa após a tradição. Como se transfere a propriedade de bens imóveis? Da Aquisição pelo Registro do Título Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.35 33 Entregar, no direito, chama-se TRADIÇÃO 34 Assinar um contrato nada mais é do que assumir a obrigação. O cumprimento da obrigação é literalmente entregar a coisa. 35 Logo, “fui lá e celebrei uma escritura de compra e venda de um apartamento. Significa que agora o apartamento é meu?” não. 35 TRADIÇÃO DE BENS IMÓVEIS à REGISTRO Registro = levar a escritura no registro competente, fazer a averbação na matricula do bem constando quem é o novo proprietário, quem vendeu e por quanto vendeu, e todos os outros elementos que devam constar na escritura. A tradição de coisas imóveis só acontece mediante Registro. O bem passa a ser de propriedade do sujeito somente a partir do momento em que sua matricula é averbada com registro de propriedade. § 1o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel. § 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel. VALE O REGISTRO, E NÃO, O ATO DA ESCRITURA. © Escritura pública – se o bem imóvel for 30x o valor do salário mínimo. © Imóveis de valor baixo – pode ser feito por instrumento particular e é válido. Para formalizar, se vai até o registro, onde o contrato será averbado. A Tradição de bens Imóveis ocorre com o Registro. A Tradição de bens Móveis ocorre com a Entrega. Significa que enquanto tu não for ao registro de imóveis fazer a transferência do título tu não é proprietário do bem. Tu pode ter posse, tu pode ter usufruto, mas a propriedade tu não tem. “Mas fomos até o tabelionato, pagamos a taxa, imposto de transmissão...” Mas tu levou até o registro competente, como diz o art. 1245? Não. Logo, a propriedade não é tua. 36 7.1.2 Lei da Gravitação Jurídica Seção I Das Obrigações de Dar Coisa Certa O primeiro artigo (art. 233) explica a LEI DA GRAVITAÇÃO JURÍDICA. Art. 233.
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