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BACHAREL EM DIREITO
ESTUDO DAS DEMANDAS DE PESSOAS LGBT JUNTO À 13ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MARABÁ
Atividade de elaboração de Projeto de Pesquisa, apresentada como requisito para obtenção de nota nas disciplinas Metodologia de Pesquisa e do Trabalho Acadêmico, Cultura Afro-brasileira e Relações Étnico-Raciais e Introdução à filosofia, ministradas, respectivamente, pelos Professores Francilete Souza Almeida, Thiago Cruz e Messias Silva.
MARABÁ
	
2017
TEMA
No presente trabalho apresentamos estudo de demandas de pessoas LGBT formuladas junto à 13º Promotoria de Justiça de Marabá, a qual possui atribuições na área de Direitos Humanos.
PROBLEMÁTICA
Realizamos estudo das demandas de pessoas LGBT junto à 13ª Promotoria de Justiça de Marabá, através do qual buscamos investigar as motivações da formulação dessas reclamações junto ao Órgão Ministerial de Marabá, relacionando tais demandas a questões filosóficas, éticas e morais, e, ainda, observação da forma de atuação do Órgão Ministerial visando garantia de direitos.
OBJETIVO GERAL
Demonstrar, através do cenário local, os problemas enfrentados por pessoas LGBT, os quais causam segregação social em razão do preconceito e discriminação praticados pela sociedade.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Apontar, com base nos dados e teorias estudadas, os agentes, conceitos e orientações envolvendo pessoas LGBT, a fim de proporcionar esclarecimento sobre a vivência dessas pessoas, o que elas esperam do poder público e sociedade.
JUSTIFICATIVA
PROMOTORIA DE JUSTIÇA
A 13ª Promotoria de Justiça de Marabá, Órgão do Ministério Público Estadual, possui, entre outras, atribuições na área de Direitos Humanos e nesse seguimento alberga também demandas de pessoas LGBT. Dessa forma, atua para apurar garantia de direitos nas áreas de saúde, segurança, educação etc. Pela natureza de sua atuação, o Ministério Público não necessita ser provocado para adoção de medidas, nos termos dos artigos 26 e 43 da Lei 8.625/93. Assim, o Órgão Ministerial, uma vez ciente da ausência de políticas públicas voltadas às pessoas LGBT no Município de Marabá, tem adotado providências para garantia de direitos desse público.
A citada Promotoria de Justiça, que tem como titular a Dra. Lílian Viana Freire, instaurou procedimento próprio para apurar garantia de direitos às pessoas LGBT, no bojo do qual realizou reuniões, expediu requisições de informação e recomendações visando providências para implementação de políticas públicas para o público LGBT, estando agendada para o dia 21 de junho de 2017, às 14 horas, a Audiência Pública “LGBT - TODAS AS VOZES”, que será realizada no Auditório do Campus I da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – Unifesspa, com objetivo de garantir a participação da sociedade do Município sobre os direitos das pessoas LGBT e, ainda, construção de políticas públicas.
Nas reuniões realizadas na Promotoria de Justiça foram relatadas dificuldades quanto ao preconceito sofrido no seio familiar, empresas e órgãos públicos, uma discriminação que faz com que pessoas LGBT sejam colocadas à margem, por essa razão fazem reivindicações como cidadãos detentores de direitos. Vejamos alguns relatos:
A Sra. [...] fala que sofre muito desrespeito dentro de casa e na rua; Que está morando atualmente na rua; Que teve que morar por um período com pessoa do sexo masculino para não morrer de fome; Que é mulher e lésbica; Que é encarada pela sociedade como “macho”. A Sra. [...] explica que a escolha de se expor diante da sociedade pode ser perigoso, podendo gerar agressões e até morte; Que a sociedade não está preparada para lidar com pessoas LGBT. A Sra. [...] fala que como servidora pública municipal percebe que o preconceito ocorre também dentro dos Órgãos Públicos. (ATA DE REUNIÃO LAVRADA NA 13ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MARABÁ, 2017, p.)
PESSOAS LGBT
Há no Município de Marabá grande militância pelas causas LGBT, contando com a atuação das Organizações não Governamentais – ONG’s: Grupo Atitude, Coletivo de Lésbicas, Articulação Brasileira de Lésbicas, Consciência LGBT de Marabá e Grupo Levante Popular da Juventude, as quais representam esse público junto a Órgãos e Movimentos na busca de garantia de direitos. Na esfera jurídica, foram editadas normas que atribuem direitos às pessoas LGBT, a exemplo da garantia do uso do nome social, assegurada pelo Decreto Estadual n.º 726/2013, que homologou a Resolução n.º 210/2012 do Conselho Estadual de Segurança Pública - CONSEP, a qual institui a Carteira de Nome Social, Registro de Identificação Social, para pessoas travestis e transexuais do Estado do Pará. E ainda:
A Constituição Republicana prevê que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. A lei maior apresenta o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República e, como um de seus objetivos, a promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação.
As pessoas LGBT têm os mesmos direitos assegurados à toda população brasileira. Estes direitos não podem estar restritos ao texto da lei e devem ser reconhecidos em nome da igualdade perante a lei. (FREIRE; COSTA; SOUZA, 2016, p. 5)
A sigla LGBT significa lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros, que são tipos diferentes de orientações sexuais, sendo também representação de luta por garantia de direitos e contra a homofobia.
Para falar em pessoas LGBT é preciso entendermos o que é identidade de gênero e orientação sexual. A identidade de gênero diz respeito a como a pessoa vê a si mesma, independente do sexo biológico, seja como homem, mulher ou transgênero (transexual, travesti ou drag queen, por exemplo). A esse respeito temos ainda:
CISGÊNERO: quem se reconhece/identifica com o gênero atribuído em seu nascimento.
TRANSGÊNERO: é a pessoa que se identifica/reconhece com um gênero diferente do sexo designado ao nascer.
(FREIRE; COSTA; SOUZA, 2016, p. 6)
A orientação sexual é forma como a pessoa se sente atraída afetiva e/ou sexualmente por outra. É como ela se relaciona com indivíduos de gêneros diferentes, do mesmo gênero ou mais de um gênero, sendo assim “uma direção para a qual aponta o desejo sexual ou a ausência deste” conforme argumentam Freire, Costa e Souza (2016, p. 7), não devendo ser confundida com opção sexual, pois não é uma escolha. Obsevemos graficamente a definição desses conceitos:
Fonte: LGBT: CONCEITOS, DIREITOS E CONQUISTAS. MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, 2016, p 9.
LGBTFOBIA 
O 17 de maio é reconhecido internacionalmente como o dia de luta contra a LGBTfobia. A data é muito importante, pois traz foco às necessárias discussões envolvendo a temática LGBT. A data foi escolhida porque foi num dia 17, há 27 anos, que a Organização Mundial de Saúde – OMS excluiu a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID), portanto, considerado um marco histórico.
Tal fato trouxe às pessoas LGBT a afirmação de poderem viver e expressar suas sexualidades, uma vez que não são mais consideradas como doenças ou anormais, pois há outras possibilidades além da heterossexualidade.
Embora tenham ocorrido alguns avanços, o preconceito persiste. Situações de discriminação e opressão continuam ocorrendo contra pessoas LGBT. A sociedade ainda se mostra imatura quando o assunto é identidade de gênero e orientação sexual, carecendo o assunto ainda de muita reflexão. É necessário que ocorra o constante impulsionamento dessas questões para que o assunto seja debatido e levado para a sociedade.
Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2016, 343 pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais foram mortas no Brasil. Ainda de acordo com os dados levantados pelo GGB, 31% desses assassinatos foram praticados com arma de fogo, 27% com armas brancas, incluindo ainda enforcamento, pauladas, apedrejamento, além de casos com requintes de crueldade, como tortura e queima do corpo da vítima. (17 de Maio – Dia Internacional de Luta contra aLGBTfobia. Disponível em: <http://site.cfp.org.br/17-de-maio-dia-internacional-de-luta-contra-lgbtfobia/>. Acesso em 23 maio 2017).
Pessoas LGBT sofrem preconceito de familiares, nas ruas, nos órgãos públicos, nos eventos sociais etc. São discriminadas até quando buscam ajuda pelo sofrimento causado pelo próprio preconceito. É com certa frequência que redes sociais e imprensa noticiam matérias em tom de ironia envolvendo pessoas LGBT. A sociedade está eivada de preconceito fomentado pelo seu viés cultural, que entende ser “normal” somente relações envolvendo pessoas heterossexuais. Vivemos em um país predominantemente cristão, cujos valores não aceitam as orientações e conceitos LGBT. 
Não deixam de ser frequentes crimes praticados contra pessoas LGBT, inclusive resultando em morte, mas pode estar ocorrendo muito provavelmente a subnotificação desses fatos, tendo em vista que os Órgãos Públicos, como Delegacias, Institutos de Perícia etc., ainda não possuem o aparato necessário para o devido registro de fatos envolvendo vítimas LGBT, sendo muitas vezes registrados como homem ou mulher. Vejamos relatório de casos registrados no Município de Marabá no período de 2013 a 2015:
	
	
	
	
	2013
	2014
	2015
	2016
	TOTAL
	
	Dano
	Bissexual
	Gênero Feminino
	0
	0
	0
	1
	1
	
	
	Homossexual
	Gênero Masculino
	0
	0
	1
	0
	1
	
	Dano Total
	0
	0
	1
	1
	2
	
	Art. 155 – Furto
	Homossexual
	Gênero Masculino
	0
	1
	0
	0
	1
	
	Art. 155 – Furto Total
	0
	1
	0
	0
	1
	
	Roubo
	Homossexual
	Gênero Masculino
	0
	0
	0
	1
	1
	
	Roubo Total
	0
	0
	0
	1
	1
	
	Dano Civil
	Bissexual
	Gênero Feminino
	0
	0
	1
	0
	1
	
	Dano Civil Total
	0
	0
	1
	0
	1
	
	Marabá Total
	0
	1
	2
	2
	5
Fonte: Procedimento Preparatório n.º 000337-940/2017, informações requisitadas à Polícia Civil pela 13ª Promotoria de Justiça de Marabá.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A ética é a ciência que analisa a moral estabelecendo o que é bom e como o sujeito deve agir. É a teoria do comportamento moral. Entendemos assim, que o comportamento ético é aquele que perpassa pela concepção moral. Por sua vez, a moral é todo o complexo aglomerado de costumes, valores e crenças inerentes a uma pessoa ou grupo social que lhe norteia sobre certo e errado, bem ou mal, diante da necessidade de uma ação. Sócrates (470-399 a. C ) escreveu que “a ética não se baseia só nos costumes do povo e leis exteriores, mas sim na convicção pessoal adquirida através de uma reflexão na tentativa de compreender a justiça das leis.” 
Hume (1970) argumenta que “todo comportamento tem suas razões. A ética é simplesmente a razão maior”. Percebemos que a ética é a reflexão filosófica sobre a moral, ao passo que esta não tem qualquer conteúdo filosófico, sendo meramente aquilo que as pessoas fazem ou pensam de acordo com os diferentes grupos sociais a que pertencem. A ética é, portanto, a disciplina que analisa os comportamentos morais e crenças a fim de determinar se são aceitáveis ou não, dando evidência a essência do ser.
Na rotina diária não há distinção entre ética e moral, o indivíduo vive e se relaciona, e dessa interação surgem problemas e questionamentos morais, tais como: o que fazer? Por quê? Normalmente não há reflexão, mas sim a atitude por força do hábito, impulsionado pelos costumes. Não costumamos fazer a reflexão recomendada pela ética, não praticamos a crítica, tão pouco buscamos compreender e explicar a nossa realidade moral. “Juízos sobre as ações humanas que se baseiam em definições do que é bom/mau ou do que é bem ou mal.” (MAURÍCIO ÉRNICA, in Ética: Decidir entre humanos).
Os valores morais fazem parte da consciência humana, pois estão presentes naquilo que dizemos, escrevemos e fazemos, são inerentes à condição humana. E por não haver a necessária distinção entre ética e moral nos nossos dias, com a reflexão acerca de nossas atitudes é que a sociedade ainda surge com comportamento preconceituoso em relação a grupos sociais, como é o caso das pessoas LGBT, que se sentem excluídas do seio social por suas opções de gênero e sexual. Vejamos relatos de pessoas LGBT registrado em reunião ocorrida na Promotoria de Justiça de Marabá:
A Sra. [...] fala que é a primeira vez que tem oportunidade de presenciar vereadores debatendo a questão; Que é muito importante que a Câmara Municipal de Marabá reconheça a existência desse grande público que precisa ter vez e voz; Que o publico LGBT precisa deixar de ser invisível aos Órgãos. A Sra. [...] explica que o público LGBT não tem direito garantidos; Que depois de muita luta e atuação do Ministério Público foi possível a expedição de carteira com nome social [...] Que ninguém quer lhe oferecer trabalho por ser travesti; Que o Estado é totalmente invisível para esse público, pois não há representatividade. (ATA DE REUNIÃO LAVRADA NA 13ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MARABÁ, 2017, p.)
É imperiosa a necessidade de reflexão sobre a condição humana e seus desdobramentos sociais, a fim de que haja o necessário aprofundamento dessa questão e entendimento dos transtornos causados a essas pessoas pela falta de compreensão do universo complexo em que vivem. As atitudes preconceituosas, fruto da ignorância e da predileção cultural absoluta, causam exclusão, abandono, sofrimento psicológico e negligencia quanto aos direitos dessas pessoas que necessitam de garantias.
Essa predileção cultural pode ser explicada pelo etnocentrismo que opera de modo que o sujeito de determinada cultura se considere diferente das demais culturas e ainda desprezando estas, isto é, refutando aquele que se desvie de sua herança cultural. Ainda que a pessoa tenha a oportunidade e experimente outras culturas, permanecerá no seu casulo cultural e não abrirá mão de seus costumes e valores. A esse respeito:
Se oferecêssemos aos homens a escolha de todos os costumes do mundo, aqueles que parecesse melhor, eles examinariam a totalidade e acabariam preferindo seus próprios costumes, tão convencidos estão de que estes são melhores do que todos os outros. (HERÓTODO – 484-424 a.C. apud LARAIA, 2001, p. 11).
Cabe dizer que não se trata de abrir mão de valores morais, mas sim refletir sobre a condição humana para que haja respeito e harmonia entre os sujeitos. A reflexão ética que se recomenda nesse contexto é ainda embasada no entendimento de que os costumes são relativos e dinâmicos, pois cada indivíduo enxerga pela ótica de sua cultura, lente pela qual avalia positivamente ou negativamente dada questão. Há costumes, por exemplo, que consideram ser moral a pena de morte, enquanto que outros não.
Assim, ressaltamos a importância da reflexão ética sobre o comportamento humano nas questões envolvendo pessoas LGBT, pois não se trata, reiteramos, de abrir mão de valores que temos, mas de entender que os valores do outro também devem ser respeitados como queremos que os nossos sejam. Dessa forma, deve-se desfazer da lente cultural para refletir sobre a condição dessas pessoas que, como todo cidadão brasileiro, são detentoras de direitos, têm suas relações sociais, planos e objetivos, e, por assim ser, a dignidade deve prevalecer sobre qualquer forma de preconceito.
RESULTADOS OBTIDOS
Verificamos por intermédio dos dados que tivemos acesso na 13ª Promotoria de Justiça de Marabá que o Órgão Ministerial, que te como titular a Promotora de Justiça Lílian Viana Freire, tem trabalhado muito para a garantia de direitos de pessoas de LGBT com a provocação do Poder Público Municipal, Câmara e Prefeitura, através de expedição de recomendações para implementação de políticas públicas, inclusive criação do Conselho Municipal da Diversidade Sexual, solicitação de informações à Polícia Civil sobre crimes contra pessoas LGBT, verificação da situação desse público no sistema prisional do Município. E, ainda, realização de audiência pública no dia 21 de junho do corrente ano para falar das pessoas LGBT, entre outras medidas.
Percebemos, pela leitura dos relatados de pessoas LGBT,que o preconceito está presente e é manifestado através de ameaças, xingamentos, ofensas, difamação em razão da orientação sexual ou identidade de gênero, agressão, falta de assistência devida em locais públicos ou privados, exclusão do mercado de trabalho, prática de bullying e desrespeito, inclusive quanto ao nome social e utilização de banheiro de acordo com a identidade de gênero.
A sociedade carece de amadurecimento quanto ao assunto, e não visualizamos outra forma senão a abordagem franca do tema a fim de proporcionar o debate necessário visando o entendimento, respeito e garantias legais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Lilian Viana; COSTA, Ozilea Souza; SOUZA, Rodrigo Sampaio Marques de (Org.). LGBT: Conceitos, direitos e conquistas. 2ª ed. Belém: Ministério Público do Estado do Pará: 2016.
HUME, David. Moral and Political Philosophy. Hafner Press, 1948.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 24ª ed. Rio de Janeiro: 2001.
PARÁ. Ministério Público. Promotoria de Justiça de Marabá.
17 de Maio – Dia Internacional de Luta contra a LGBTfobia. Disponível em: <http://site.cfp.org.br/17-de-maio-dia-internacional-de-luta-contra-lgbtfobia/>. Acesso em 23 maio 2017.

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