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ABORDAGEM AO PACIENTE POLITRAUMATIZADO Acadêmicos: • Érica Oliveira Cunha Silveira • Pedro Moreno do Nascimento Antunes Avaliação Inicial O tratamento da vítima de trauma grave requer avaliação rápida das lesões e instituição de medidas terapêuticas de suporte de vida. Esse processo inclui: Preparação Triagem Avaliação primária (ABCDE) Reanimação Medidas auxiliares à avaliação primária e à reanimação Considerar a necessidade de transferência do doente Avaliação secundária (da cabeça aos pés) e história Medidas auxiliares à avaliação secundária Reavaliação e monitoração contínuas após a reanimaçao Tratamento definitivo A avaliação primária deve ser repetida com frequência para identificar qualquer alteração do estado clínico do doente que indique a necessidade de intervenção adicional. Preparação A preparação ocorre em dois cenários clínicos diferentes: FASE PRÉ-HOSPITALAR Ênfase à manutenção da via aérea, ao controle da hemorragia externa e do choque, à imobilização do doente e ao transporte imediato ao hospital apropriado mais próximo. Documentação (hora do trauma, história, mecanismo de lesão) FASE HOSPITALAR Planejamento antecipado Área de reanimação disponível Equipamentos apropriados, monitorização Soluções cristaloides aquecidas Laboratório e radiologia disponível. Triagem Classificação dos doentes de acordo com o tipo de tratamento necessário. O tratamento prestado deve ser baseado nas prioridades ABC (Via aérea e proteção da coluna cervical, Ventilação, Circulação com controle da hemorragia) Habitualmente existem dois tipos de situações de triagem: Múltiplas vítimas Vítimas em massa. Triagem MÚLTIPLAS VÍTIMAS O número de doentes e a gravidade das lesões não excedem a capacidade de atendimento do hospital. Nessa situação, os doentes com risco de vida iminente e os doentes com traumatismos multissistêmicos serão atendidos primeiro. VÍTIMAS EM MASSA O número de doentes e a gravidade das lesões excedem a capacidade de atendimento da instituição e da equipe. Nessa situação, os doentes com maiores possibilidades de sobrevida, cujo atendimento implique menor gasto de tempo, de equipamentos, de recursos e de pessoal, serão atendidos primeiro Avaliação Primária A - Via aérea com proteção da coluna cervical B - Ventilação e respiração C - Circulação com controle da hemorragia D - Disfunção, estado neurológico E - Exposição/controle do ambiente: despir completamente o doente, mas prevenindo a hipotermia A – MANUTENÇÃO DA VIA AÉREA COM PROTEÇÃO DA COLUNA CERVICAL Assegurar a sua permeabilidade Identificar sinais de obstrução da via, como: Aspiração e inspeção para a presença de corpos estranhos e fraturas faciais, mandibulares ou traqueolaríngeas As manobras devem ser feitas com proteção da coluna cervical. A cabeça e o pescoço não devem ser hiperestendidos, hiperfletidos ou rodados Considere uma lesão da coluna cervical em todo doente com traumatismos multissistêmicos! Realizar manobras para permeabilizar a via aérea: Manobra de elevação do mento(chin lift ) Manobra de tração da mandíbula (jaw thrust) A – MANUTENÇÃO DA VIA AÉREA COM PROTEÇÃO DA COLUNA CERVICAL Se o doente consegue comunicar-se verbalmente, é pouco provável que a obstrução da via aérea represente um risco imediato Doentes com TCE grave e rebaixamento do nível de consciência ou portadores de um escore na ECG < ou = 8, exigem o estabelecimento de uma via aérea definitiva Caso se faça necessária a retirada temporária do colar, um dos membros da equipe de trauma deve encarregar-se de imobilizar manualmente a cabeça e o pescoço, mantendo-os alinhados B - Ventilação e respiração Manter via aérea pérvia – Ofertar oxigênio Exame físico: O pescoço e o tórax do doente devem ser expostos Avaliar distensão de veias jugulares, a posição da traqueia e a movimentação da parede torácica A ausculta deve ser realizada para se confirmar o fluxo de ar nos pulmões A inspeção visual e a palpação poderão detectar lesões da parede do tórax capazes de comprometer a ventilação A percussão do tórax também pode identificar anormalidades B - Ventilação e respiração As lesões que podem prejudicar gravemente a ventilação num curto prazo: Pneumotórax hipertensivo Enfisema subcutâneo, hipertimpanismo, abolição do MV, desvio contralateral da traqueia, redução da expansibilidade, hipotensão e turgência jugular Tórax instável (retalho costal móvel) com contusão pulmonar Respiração paradoxal Hemotórax maciço Expansibilidade torácica diminuída, MV diminuído ou ausente, macicez à percussão Pneumotórax aberto MV diminuído, percussão timpânica, diminuição da expansibilidade torácica, sopro que resulta do fluxo de ar através da lesão durante a inspiração C - Circulação com controle da hemorragia Os principais fatores circulatórios a considerar são volume sanguíneo, débito cardíaco e hemorragia A hemorragia é a principal causa de mortes pós-traumáticas evitáveis Uma vez descartado o pneumotórax hipertensivo como causa de choque, a hipotensão em doentes traumatizados deve ser considerada hipovolêmica até prova em contrário. Avaliação rápida e precisa do estado hemodinâmico. Avaliando em poucos segundos: Nível de consciência Cor da pele Pulso C - Circulação com controle da hemorragia Identificar se a fonte de hemorragia é externa ou interna A hemorragia externa significativa deve ser tratada por compressão manual direta sobre o ferimento Os torniquetes são efetivos na exsanguinação nas lesões de extremidades, mas podem causar lesão isquêmica e devem ser utilizados apenas a compressão direta não for efetiva. As principais áreas de hemorragia interna são tórax, abdome, retroperitônio, bacia e ossos longos. Diagnóstico de hemorragia: exame físico, exames de imagem ou USG direcionada para o trauma (FAST) O tratamento pode incluir descompressão do tórax, compressão da pelve, uso de imobilizadores e intervenção cirúrgica. D – Disfunção neurológica ECG é um método rápido e simples para determinar o nível de consciência e que permite prever a evolução do doente E - Exposição e controle do ambiente Após avaliação inicialm o doente deve ser coberto com cobertores aquecidos ou algum dispositivo de aquecimento externo para prevenir a ocorrência de hipotermia na sala de trauma. Os fluidos intravenosos devem ser aquecidos antes de administrados e o ambiente deve ser mantido aquecido. Reanimação A reanimação e o tratamento das lesões com risco para a vida logo que identificadas são essenciais para maximizar a sobrevivência do doente A reanimação também segue a sequência ABC e ocorre simultaneamente com a avaliação VIA AÉREA - Se houver qualquer dúvida sobre a capacidade do doente manter a permeabilidade de sua via aérea, deve-se estabelecer uma via aérea definitiva VENTILAÇÃO, RESPIRAÇÃO E OXIGENAÇÃO – O pneumotórax compromete dramaticamente a ventilação – realizar a descompressão torácica imediata, ofertar oxigênio suplementar, monitorar com oxímetro Reanimação CIRCULAÇÃO E CONTROLE DA HEMORRAGIA – dois acessos venosos calibrosos e reposição volêmica Reanimação volêmica agressiva e contínua não substitui o controle definitivo da hemorragia Deve ser iniciada a administração endovenosa de fluidos com soluções crisataloides. Uma infusão em bolus de 1 a 2 litros de solução isotônica pode ser necessária para alcançar uma resposta apropriada nos adultos. Todas as soluções endovenosas devem ser aquecidas Se o doente não responder à terapia inicial com cristaloides, pode ser necessária a transfusão sanguínea. Medidas auxiliares à avaliação primária e à reanimação MONITORAÇÃO ELETROCARDIOGRÁFICA Arritmias podem indicar trauma cardíaco contuso (FA) AESP – podem indicar tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo e/ou hipovolemia profunda Bradicardia – hipóxia/hipoperfusão SONDAS URINÁRIAS E GÁSTRICAS Débito urinário – indicador sensível de volemia, refletindo perfusãorenal A monitoração do débito urinário é realizada de forma mais adequada pela inserção de uma sonda vesical A cateterização transuretral da bexiga é contraindicada nos casos em que se suspeita de lesão uretral. Deve-se suspeitar de lesão uretral quando há: Sangue no meato uretral Equimose perineal Deslocamento cranial da próstata ou ela não é palpável ao toque retal Medidas auxiliares à avaliação primária e à reanimação OUTRAS MONITORAÇÕES: Frequência Respiratória e Gasometria Arterial Oximetria de Pulso Pressão Arterial RADIOGRAFIAS E PROCEDIMENTOS DIAGNÓSTICOS RX (AP e perfil) – tórax, pelve LPD – lavagem peritoneal diagnóstica FAST Avaliação secundária A avaliação secundária só deve ser iniciada depois de completar a avaliação primária (ABCDE) e quando as medidas indicadas para a reanimação tiverem sido adotadas e o doente demonstrar tendência para normalização de suas funções vitais. É um exame do doente traumatizado da cabeça aos pés, isto é, uma história clínica e um exame físico completos Deve ser realizado: Exame neurológio completo, avaliação neurológica, estudos laboratoriais, História (AMPLA) Avaliação secundária Trauma é dividido em dois grandes grupos: Trauma fechado Colisão automobilística e quedas Avaliar uso de cinto, danos do automóvel, ejeção de passageiro Frequentemente os padrões de lesão podem ser previstos de acordo com o mecanismo do trauma Trauma penetrante Ferimentos por arma de fogo, arma branca e empalhamentos Os fatores determinantes do tipo e da extensão da lesão e do tratamento dependerão da região do corpo que foi lesada, dos órgãos próximos ao trajeto do objeto penetrante e da velocidade do projétil Avaliação secundária LESÕES TÉRMICAS: As queimaduras representam outro tipo significativo de trauma. Podem ser: Isolados Acompanhados de trauma fechado ou penetrante As lesões por inalação ou a intoxicação por monóxido de carbono frequentemente complicam as lesões das queimaduras A hipotermia aguda ou crônica sem proteção adequada contra a perda de calor produz lesões localizadas ou generalizadas provocadas pelo frio Avaliação secundária AMBIENTES DE RISCO: história de exposição a elementos químicos, tóxicos e radiação é importante por duas razões: Primeiro, esses agentes podem produzir uma grande variedade de disfunções pulmonares, cardíacas ou de outros órgãos internos. Segundo, esses mesmos agentes também representam um perigo ao pessoal médico hospitalar Avaliação secundária – EXAME FÍSICO CABEÇA Identificação de todas as lesões neurológicas relacionadas e significativas Inspeção do couro cabeludo – lacerações, contusão, fratura Reavaliar os olhos – acuidade visual, tamanho das pupilas, hemorragia conjuntival, lesões penetrantes, deslocamento do cristalino ESTRUTURAS MAXILOFACIAIS Palpação de todas as estruturas ósseas, a avaliação da oclusão dentária, o exame intraoral e a avaliação de partes moles. COLUNA CERVICAL E PESCOÇO Doentes com trauma craniano e maxilofacial devem ser considerados portadores de lesão instável de coluna cervical. Seu pescoço deve ser imobilizado até que sua coluna cervical tenha sido estudada por completo e tenham sido excluídas possíveis lesões Avaliação secundária – EXAME FÍSICO TÓRAX Inspeção, palpação e ausculta de todo o tórax O murmúrio vesicular é auscultado na parte anterossuperior do tórax para a identificação de pneumotórax e na face posterior das bases para a detecção de hemotórax Bulhas abafadas e pressão de pulso diminuída podem indicar um tamponamento cardíaco Tamponamento cardíaco e o pneumotórax hipertensivo podem ser sugeridos pela presença de distensão das veias do pescoço, embora a hipovolemia associada possa diminuir ou mesmo abolir este sinal A diminuição do murmúrio vesicular, o timpanismo à percussão e o choque podem ser os únicos sinais de um pneumotórax hipertensivo e da necessidade de descompressão torácica imediata. Lesões torácicas significativas podem manifestar-se por dor, dispneia e hipóxia Realizar RX Avaliação secundária – EXAME FÍSICO ABDOME Hipotensão inexplicada, lesões neurológicas, alteração do sensório decorrente do uso de álcool e/ou drogas e com achados abdominais duvidosos devem ser considerados candidatos a LPD, FAST ou, caso estejam hemodinamicamente normais, a uma TC do abdome Contusão abdominal deve ser observado de perto e com frequentes reavaliações do abdome. Com o passar do tempo, os achados abdominais podem mudar. O acompanhamento precoce por um cirurgião é essencial. Avaliação secundária – EXAME FÍSICO PERÍNEO, RETO E VAGINA O períneo deve ser examinado à procura de contusões, hematomas, lacerações e sangramento uretral O toque retal pode ser realizado antes da introdução da sonda urinária. Avaliar a presença de sangue na luz intestinal, a existência de próstata alta e flutuante, a presença de fraturas pélvicas, a integridade da parede do reto e a tonicidade do esfíncter. Nas doentes do sexo feminino, o exame vaginal deve ser realizado em doentes com risco de lesão vaginal. Um teste de gravidez deve ser realizado em todas as mulheres em idade fértil. Avaliação secundária – EXAME FÍSICO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO Os membros devem ser inspecionados para verificar a presença de contusões e deformidades. A palpação dos ossos, pesquisando dor ou movimentos anormais, ajuda na identificação de fraturas ocultas Fraturas pélvicas podem ser suspeitadas pela identificação de equimoses sobre as asas do ilíaco, púbis, grandes lábios ou escroto. SISTEMA NEUROLÓGICO Um exame neurológico abrangente não inclui apenas a avaliação sensorial e motora das extremidades, mas também a reavaliação do nível de consciência e do tamanho e da resposta da pupila do doente Reavaliar o estado utilizando a ECG Nos doentes com TCE é necessário um parecer precoce do neurocirurgião Avaliar possíveis hematomas epidurais ou subdurais ou de fraturas cranianas com afundamento. Realizar TC de crânio Medidas auxiliares à avaliação secundária Durante a avaliação secundária, podem ser realizados testes diagnósticos especializados para identificar lesões específicas. Eles incluem Radiografias adicionais da coluna e das extremidades; TC de crânio, tórax, abdome e coluna; Urografia excretora Arteriografia; Ultrassonografia transesofágica; Broncoscopia; Esofagoscopia e outros procedimentos diagnósticos Reavaliação O doente traumatizado deve ser reavaliado constantemente para assegurar que novos achados não sejam negligenciados e para descobrir deterioração nos achados registrados previamente Monitoração contínua dos sinais vitais e do débito urinário é essencial. Para um doente adulto é desejável a manutenção de um débito urinário de 0,5 mL/kg/h O alívio da dor é uma parte importante no manuseio do traumatizado Tratamento definitivo A transferência deve ser considerada toda vez que as necessidades de tratamento do doente excederem a capacidade da instituição que o recebeu. Paciente evolui estável: “alta” Paciente instável: cirurgia Lesões que excedem a capacidade da instituição : transferência QUESTÕES Paciente, 34 anos, após acidente automobilístico apresenta subitamente insuficiência respiratória aguda. O exame físico na sala de emergência revela hipotensão arterial, enfisema subcutâneo e ausência de murmúrio vesicular no hemitórax direito. Neste caso, a primeira conduta deve ser a realização de: Radiografia de tórax Intubação orotraqueal Toracocentese no nível do 2º espaço intercostal seguido de drenagem em selo d’agua Toracocentese no nível do 5º espaço intercostal seguido de drenagem em selo d’agua Tomografia computadorizada de tórax QUESTÕES Paciente, 34 anos, após acidente automobilístico apresenta subitamente insuficiência respiratória aguda. O exame físico na sala de emergência revela hipotensão arterial, enfisema subcutâneo e ausência de murmúrio vesicular no hemitórax direito. Neste caso, a primeira conduta deve ser a realização de: Radiografia de tóraxIntubação orotraqueal Toracocentese no nível do 2º espaço intercostal seguido de drenagem em selo d’agua Toracocentese no nível do 5º espaço intercostal seguido de drenagem em selo d’agua Tomografia computadorizada de tórax Referências Advanced Trauma Life Support, ATLS, 9ª edição.
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