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Fudamentos do direito aeroespacial (18)

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UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA 
PRÓ-REITORIA DE ENSINO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AEROESPACIAIS 
 
 
 
 
MARCOS LIMA BASTOS, Cel. R1 
 
 
 
 
Responsabilidade civil no transporte de passageiros em aeronaves do 
Comando da Aeronáutica 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2016 
 
UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA 
PRÓ-REITORIA DE ENSINO 
 
 
 
 
2 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AEROESPACIAIS 
 
 
MARCOS LIMA BASTOS, Cel. R1 
 
 
 
Responsabilidade civil no transporte de passageiros em aeronaves do 
Comando da Aeronáutica 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentado ao programa de pós-
graduação em Ciências Aeroespaciais da 
Universidade da Força Aérea. 
Área de concentração (ou Linha de 
Pesquisa): Doutrina de Emprego da Força 
Aérea. 
Orientador: Professor Doutor Ivan Muniz de 
MESQUITA – Cap. R1 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2016 
 
 
 
 
3 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da UNIFA 
 
 
 
Fxxx 
Bastos, Marcos Lima. 
 
Responsabilidade Civil no transporte de passageiros 
em aeronaves do Comando da Aeronáutica..... / Marcos 
Lima Bastos. – Rio de Janeiro: Universidade da Força Aérea, 
2016. 
xxx f.: il., enc. 
 
Orientador: Prof Dr Ivan Muniz de Mesquita – Cap R1 
. 
Dissertação (mestrado) – Universidade da Força 
Aérea, Rio de Janeiro, 2015. 
Referências: f. ....-.... 
 
1. Responsabilidade Civil.2. Código Brasileiro de Aeronáutica. 
3. Código de Defesa do Consumidor. 4.Correio Aéreo Nacional. 
5. Soberania nacional. I. Título. II. Bastos, Marcos Lima. III. 
Universidade da Força Aérea. 
 CDU: 
XXX.XXX(XXX) 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
MARCOS LIMA BASTOS - Cel R1 
 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL NO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS EM 
AERONAVES DO COMANDO DA AERONÁUTICA 
 
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós- Graduação em Ciências Aeroespaciais 
da Universidade da Força Aérea, como 
requisito parcial para obtenção do título de 
Mestre em Ciências Aeroespaciais. 
 
 Aprovado por: 
 
__________________________________________________________________ 
Presidente, Professor Doutor Ivan Muniz de Mesquita, Cap R1 – SEFA 
 
___________________________________________________________________ 
Professor Doutor Flávio Neri Hadmann Jasper, Cel R1 - UNIFA 
 
_______________________________________________________________ 
Professora Doutora Alessandra de La Vega Miranda - UNICEUB 
 
___________________________________________________________________ 
Professor Doutor Afonso Faria de Souza Júnior, Cel R1 - UNIFA 
 
 
Rio de Janeiro 
 
Março de 2016
 
 
 
 
5 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A meus filhos, que apesar da distância, estão 
sempre presentes no meu pensamento e no meu 
coração. 
À minha mãe, velha guerreira que nunca me 
abandonou. 
 
 
 
 
6 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
A Deus, amigo sempre presente, sem o qual nada teria feito; aos amigos, que 
sempre incentivaram meus sonhos e estiveram sempre ao meu lado; aos meus 
colegas de classe e demais formandos pela amizade e companheirismo que recebi; 
ao Prof. Orientador Ivan Muniz de Mesquita que me acompanhou, transmitindo-me 
sua experiência e tranquilidade, e que, além de estar sempre presente, soube a hora 
certa das cobranças; e finalmente à minha família que sempre me incentivou nas 
horas mais difíceis desta longa jornada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Vencer não é competir com o outro. É derrotar os seus inimigos 
interiores. É a própria realização do ser." 
 
"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu 
tamanho original." (Einstein) 
 
 
 
 
 
 
8 
RESUMO 
 
O objetivo da dissertação é analisar a responsabilidade civil do Comando da 
Aeronáutica (COMAER), quando da ocorrência de acidentes e incidentes, com ou 
sem vítimas no transporte de passageiros em suas aeronaves, ou com terceiros, 
bem como nas perdas e/ou danos às bagagens destes. Para tanto é necessário 
mostrar como o instituto da responsabilidade civil objetiva do Estado foi incorporado 
aos deveres do transporte aéreo militar e apresentar as incongruências das 
disposições do Código Brasileiro de Aeronáutica perante o atual ordenamento 
jurídico brasileiro e normas internacionais. Após analisadas as normas que regem o 
transporte de passageiros por meio do Correio Aéreo Nacional(CAN), verificou-se 
que a proposta de atualizar a responsabilidade civil do transporte aéreo militar, em 
face do ordenamento jurídico em vigor, se mostrou a forma mais adequada para 
operar o serviço do Correio Aéreo Nacional, visto que leva o Comando da 
Aeronáutica à vivência dos Princípios do Estado Democrático de Direito, como a 
isonomia e a proteção do consumidor. 
 
Palavras-chave: Responsabilidade Civil. Código Brasileiro de Aeronáutica. Código 
de Defesa do Consumidor. Correio Aéreo Nacional. 
 
 
 
 
 
 
 
9 
ABSTRACT 
 
 
 
The aim of the dissertation is to analyze the civil liability of the Air Force Command 
(COMAER), upon the occurrence of accidents and incidents, with or without victims 
in passenger transport on its aircraft, or with third parties, as well as the loss and / or 
damage to luggage thereof. Therefore, it is necessary to show how the institution of 
objective liability of the state was incorporated into the duties of the military airlift and 
present inconsistencies of the provisions of the Brazilian Aeronautics Code before 
the current Brazilian law and international standards. After analyzing the rules 
governing the transport of passengers through the National Air Mail (CAN), it was 
found that the proposal to update the civil liability of military airlift in view of the legal 
system in force, was the most appropriate way to operate the National Air Mail 
service, as it takes the Air Force Command to the experience of the Law of the 
Democratic Principles of State, such as equality and consumer protection. 
 
Keywords: Liability. Brazilian Aeronautical Code. Consumer Protection Code. 
National Air Mail. 
 
 
 
 
10 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14 
CAPÍTULO I - REFERÊNCIAL TEÓRICO ............................................................... 24 
1.1 Fundamentos da Responsabilidade Civil ........................................................ 27 
1.2 A Responsabilidade Civil Subjetiva e a Objetiva ............................................. 34 
1.3 Os Pressupostos da Responsabilidade Civil ................................................... 39 
1.4 Funções da Responsabilidade Civil ................................................................ 46 
1.5 Classificação da Responsabilidade Civil ......................................................... 48 
1.6 Excludentes da Responsabilidade Civil .......................................................... 51 
CAPÍTULO II - HISTÓRIA DA AVIAÇÃO E DO CORREIO AÉREO NACIONAL .... 56 
2.1. A Aviação em Geral ....................................................................................... 56 
2.2 O Ministério da Aeronáutica ............................................................................ 62 
2.3 O CorreioAéreo Nacional ............................................................................... 64 
CAPÍTULO III - A LEGISLAÇÃO AERONÁUTICA .................................................. 69 
3.1 A Convenção de Varsóvia .............................................................................. 70 
3.2. Legislação Posterior à Convenção de Varsóvia ............................................. 70 
3.3 A Constituição Federal de 1988 e o Transporte Aéreo ................................... 71 
3.4 O Código de Defesa do Consumidor e o Transporte Aéreo ............................ 72 
3.5 O Conflito entre as Três Legislações .............................................................. 72 
3.6 O Código de Defesa do Consumidor X Código Brasileiro de Aeronáutica ...... 75 
3.7 Prevalência das Leis: Nacionais ou Internacionais? ....................................... 77 
3.8 O Conflito entre a Convenção e o Código de Defesa do Consumidor ............. 81 
3.9 A Responsabilidade Civil no Código de Defesa do Consumidor ..................... 83 
3.10 Inversão do Ônus da Prova .......................................................................... 84 
CAPÍTULO IV - A RESPONSABILIDADE CIVIL DO COMANDO DA 
AERONÁUTICA NO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS ...................................... 86 
4.1 A Responsabilidade Civil do Estado por meio do Comando da Aeronáutica ... 86 
4.2 Atual Responsabilidade Civil no Transporte Aéreo ......................................... 90 
4.3 Responsabilidade Civil no Transporte Aéreo Civil .......................................... 92 
4.4 Responsabilidade Civil no Transporte Aéreo Militar ........................................ 94 
4.5 Responsabilidade Civil no Transporte Aéreo Militar pelo Código Brasileiro de 
Aeronáutica .......................................................................................................... 97 
4.6 Atual Responsabilidade Civil no Transporte Aéreo Militar ............................... 98 
CAPÍTULO V – APLICAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA: O 
CASO .................................................................................................................... 106 
5.1 A Coleta dos Dados ...................................................................................... 106 
5.2 O Caso Concreto .......................................................................................... 111 
CONCLUSÃO ........................................................................................................ 123 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 127 
 
 
 
 
 
 
 
11 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figura 1 – Interfaces dos ramos do Direito.................................................. 55 
Figura 2 – "Icarus e Daedalus" por Charles Paul Landon............................ 57 
Figura 3 – Ornitóptero de Leonardo da Vinci................................................. 57 
Figura 4 – Máquina voadora projetada por Leonardo da Vinci.................... 58 
Figura 5 – Ilustração de voo de Santos Dumont no 14-bis............................ 59 
Figura 6 – De Havilland Comet, o primeiro jato comercial da história da 
aviação........................................................................................................... 60 
Figura 7 – O gigantesco Boeing 747, o primeiro widebody da história da 
aviação........................................................................................................... 61 
Figura 8 – O 1º GAv.Ca. P-47 levava o emblema "Senta a pua!" no nariz 
juntamente com a insígnia nacional do Brasil................................................ 64 
Figura 9 – Primeiras rotas do CAN................................................................ 65 
Figura 10 – Aeronaves operadas pelo CAN.................................................. 66 
Gráfico1– Ocorrências na aviação militar entre 2001 e 2015........................ 107 
Fotografia 1 – Acidente do C-95 matrícula FAB 2292................................... 110 
Fotografia 2 – Aeronave C-130, semelhante ao FAB 2455 acidentado........ 110 
Fotografia 3 – Acidente do C-98 matrícula FAB 2735................................... 111 
Figura 11 – Acidente do voo 1907 da Gol.................................................... 112 
Figura 12 – Acidente do voo 1907 da Gol..................................................... 113 
Figura 13 – Acidente do voo 1907 da Gol..................................................... 113 
Figura 14 – Acidente do voo 3054 da TAM................................................... 116 
 
 
 
 
 
12 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 – Acidentes fatais entre 2001 e 2015.........................................107 
Tabela 2 - Acidentes fatais entre 2001 e 2015 com aeronaves do 
COMAER...................................................................................................108 
Tabela 3 - Acidentes fatais entre 2001 e 2015 com aeronaves do Comando 
do Exército.................................................................................................109 
Tabela 4 - Acidentes fatais entre 2001 e 2015 com aeronaves do COMAER 
transportando passageiros........................................................................109 
 
 
 
 
 
 
13 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil 
CAN – Correio Aéreo Nacional 
CBA – Código Brasileiro de Aeronáutica 
CC – Código Civil 
CDC – Código de Defesa do Consumidor 
CENIPA – Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos 
CF – Constituição Federal 
COMAER – Comando da Aeronáutica. Estrutura administrativa da Aeronáutica. 
COMGAR – Comando Geral de Operações Aéreas 
CP – Código Penal 
CPC – Código do Processo Civil 
CPP – Código do Processo Penal 
DCA – Diretriz do Comando da Aeronáutica 
DMA – Diretriz do Ministério da Aeronáutica 
FAB – Força Aérea Brasileira. 
FCA – Folheto do Comando da Aeronáutica 
FMI – Fundo Monetário Internacional 
REsp – Recurso Especial 
NSCA – Norma de Serviço do Comando da Aeronáutica 
RE – Recurso Extraordinário 
STF – Supremo Tribunal Federal 
STJ – Superior Tribunal de Justiça 
TJRJ – Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro 
TJSP – Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 
UNIFA – Universidade da Força Aérea 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
INTRODUÇÃO 
 
A aviação conta com pelo menos um século de existência, mas teve 
desenvolvimento tecnológico vertiginoso e constante, contribuindo na redução 
de distâncias e favorecendo consequentemente a aproximação dos povos. 
Historicamente, após as duas grandes guerras mundiais, a aviação 
passou a ser um dos mais importantes meios de transporte de pessoas e 
cargas. Com o crescimento deste meio de transporte, tornou-se imperiosa a 
criação de regras e normas a serem seguidas pelos transportadores e 
usuários. Tais regras diferem-se em: locais, regionais, nacionais e 
internacionais. A razão dessa distinção é que uma aeronave não sobrevoa 
apenas o espaço aéreo circunscrito à sua bandeira, ao contrário, um avião é 
um meio de integração entre as pessoas e coisas de nações e continentes. 
As regras não foram criadas apenas para o transportador, mas também 
para os usuários desse meio de transporte, conscientes de seus direitos e 
deveres. Em virtude de tais circunstâncias, surge a ideia da aplicação do 
instituto da responsabilidade civil. 
A responsabilidade civil tem como foco evitar a subsistência de um prejuízo 
injusto, impondo uma deslocação patrimonial do lesante para o lesado; sua regra é a 
de quem infringe um dever jurídico e causa dano a outrem, fica obrigado a reparar odano e a ressarcir o prejuízo. 
A responsabilidade civil abrange praticamente um horizonte de relações, ou 
seja, está presente na maioria absoluta das relações jurídicas. Desta forma, um 
estudo realizado por Chaib (2005), menciona que ao produzir reflexo nas atividades 
contratuais e extracontratuais, o tema da responsabilidade civil torna-se de grande 
relevância na atualidade jurídica. Segundo o autor, a responsabilidade jurídica deve 
ser dotada de grande flexibilidade com o intuito de reestabelecer o equilíbrio 
causado pelo dano. 
Para Diniz (2004, p. 08-09), a responsabilidade tem duas funções, quais 
sejam: “garantir o direito do lesado à segurança; servir como sanção civil, de 
natureza compensatória, mediante a reparação do dano causado à vítima, punindo o 
lesante e desestimulando a prática de atos lesivos”. Segundo Diniz (2004, p. 05), “o 
 
 
 
 
15 
interesse em restabelecer o equilíbrio violado pelo dano é a fonte geradora da 
responsabilidade civil”. 
Para que possa entender o contexto em que insere o cerne da pesquisa, 
torna-se necessário um breve conhecimento da evolução das relações jurídicas que 
permeiam o Direito Aeronáutico e como estas chegaram ao momento atual 
adaptando-se continuamente à evolução tecnológica dos meios aéreos. 
Durante o desenvolvimento deste trabalho será mostrada a complexidade das 
relações jurídicas que envolvem o fenômeno aeronáutico, um ramo do conhecimento 
humano que embora estudado desde a elevação dos primeiros aeróstatos, sua 
autonomia científica por um longo arco temporal ficou atrelada a certas correntes 
dogmáticas preexistentes como o direito marítimo e o direito mercantil. 
O Direito Aeronáutico desenvolveu-se acompanhando a própria evolução da 
“arte de voar”, e adquirindo o status de ramo autônomo em face da singularidade da 
aplicação de diversos institutos jurídicos as necessidades específicas do transporte 
aéreo. 
Embora cada Estado tenha desenvolvido seu próprio parque aeronáutico com 
o fito de atender às necessidades de integração do seu território, foram se formando 
no âmbito de cada soberania arcabouços normativos independentes com o objetivo 
de regular o transporte aéreo e a responsabilidade civil do transportador. 
Diante da necessidade de permitir o desenvolvimento da aviação em todo 
mundo foi formado o consenso de estabelecer um regramento comum, evitando 
assim que esta novel indústria tivesse seu progresso retardado pelos conflitos entre 
normas internas e externas. Foi, portanto, reconhecendo as fragilidades da indústria 
aeronáutica e a situação economicamente delicada para a humanidade, que estava 
atravessando uma crise financeira, recuperando-se de uma grande guerra, ainda 
sob a égide do positivismo jurídico e o dogma da completude; que foi forjado a 
Convenção de Varsóvia em 1929, regra multilateral responsável em grande medida 
pelo desenvolvimento da aviação internacional, representando em certa medida a 
supremacia do interesse público diante do interesse privado. A eleição da adoção de 
uma norma convencional não representou uma redução da soberania dos países 
membros, ao revés a participação em um tratado de tal envergadura representou a 
afirmação da soberania das nações participantes do Sistema Varsóvia. 
 
 
 
 
16 
A Convenção de Varsóvia rompeu com certos dogmas do liberalismo, 
estabelecendo um novo regime de responsabilidade civil em escala mundial, no qual 
o passageiro ab initio não tinha sobre si o pesado ônus de provar que os prejuízos, 
experimentados em razão de um contrato de transporte aéreo deveriam ser arcados 
pelo transportador, já impregnado pelo olhar solidário que reconhecia que o risco da 
atividade econômica não deveria ser suportado pelo passageiro. Esta convenção foi 
em sua plenitude o marco inicial para nortear as regras existentes em nossa 
legislação aeronáutica, mais especificamente no CBA – Código Brasileiro de 
Aeronáutica. 
O Direito Aeronáutico, muito embora tenha arcabouço jurídico próprio em 
virtude das peculiaridades dessa modalidade de transporte, deve ser eficiente e 
veloz sem abrir mão da segurança, pois envolve questões de ordem privada, mas é 
norteado pelo interesse público. Este é um ramo do Direito desconhecido não só 
pelo usuário em geral, mas por robusta parcela dos operadores do Direito que, na 
busca por soluções imediatistas, não se dedicam a um estudo aprofundado das 
normas existentes. 
Simultaneamente a estas mudanças no cenário internacional, o Brasil 
promoveu uma profunda mudança em sua matriz jurídica, abandonando 
gradualmente um modelo jurídico oitocentista, lastreado não em valores humanistas, 
mas de forte condão patrimonialista, onde o Código Civil constituía o degrau mais 
alto do patamar privatista, que adotava a lógica da completude jurídica, que não 
resistiu às mudanças sociais que ocorrem nos ciclos evolutivos sociais. O próprio 
sistema jurídico foi abandonando a centralização no Código Civil, para a formação 
de vários estatutos jurídicos, entre ele está o bem-vindo Código de Defesa do 
Consumidor, legislação moderna e articulada com os princípios da dignidade da 
pessoa humana, que em muito contribuiu para a sociedade brasileira. 
Ao conjunto de antinomias, que sem dúvida o maior conflito reside na colisão 
em ter as normas do Sistema Varsoviano - dentre elas o nosso CBA - e o Código de 
Defesa do Consumidor, encontra-se o Código Civil de 2002, que baseado em novas 
orientações filosóficas como as cláusulas abertas e o culturalismo, reside a questão 
da reparação também de ordem integral consubstanciada na própria concepção do 
desenvolvimento de uma atividade que por sua essência consiste em uma atividade 
 
 
 
 
17 
de risco. Esta reparação integral consiste na aplicação do instituto da 
responsabilidade civil. 
Paralelamente a isto, mesmo entre o seleto grupo dos conhecedores do 
Direito Aeronáutico, muitos são aqueles que reputam maior importância às normas 
consumeristas, que, do ponto de vista temporal, são mais recentes do que às 
normas estabelecidas no CBA e nas Convenções Internacionais que tratam do 
assunto. 
A antinomia entre normas de direito interno e o internacional que outrora 
haviam sido pacificadas pelo Poder Judiciário, voltam a ocupar nossa mais alta 
corte, que após ter reconhecido a existência da repercussão geral, atualmente uma 
das condições de admissibilidade do recurso trará, por certo, uma diretriz para as 
questões que diuturnamente assolam nossos tribunais. 
Como a legislação é muito ampla, procurou-se direcionar a pesquisa à 
solução de um problema que se vislumbrou existente na operação interna de uma 
das diversas atribuições sob a responsabilidade do Comando da Aeronáutica 
(COMAER): Quais as dissonâncias legislativas e judiciais no reconhecimento 
da responsabilidade civil objetiva do Estado, no que tange ao transporte de 
passageiros e de suas bagagens em aeronaves da COMAER? 
Dessa forma, será evidenciado que os procedimentos adotados no transporte 
de passageiros por meio das linhas do Correio Aéreo Nacional (CAN) em aeronaves 
do COMAER devem ser atualizados em conformidade com a legislação vigente. O 
assunto é mais abrangente, pois envolve também a participação dos militares em 
serviço, sejam eles tripulantes e/ou pessoal de apoio relacionados com exercício da 
atividade, no entanto, este trabalho somente enfoca o transporte aéreo de 
passageiros. 
A hipótese central da pesquisa é a de que o COMAER é responsável por 
acidentes e incidentes que possam ocorrer no transporte de passageiros, ou com 
terceiros, em suas aeronaves e/ou perdas e danos de bagagens. 
O estudo está delimitado pela legislação existente sobre o tema, como intuito 
de verificar se há e quais são conflitos dessa legislação quanto à responsabilidade 
civil no transporte de passageiros em aeronaves do COMAER, e quais as 
implicações dessas divergências. 
 
 
 
 
18 
O objetivo principal deste trabalho é investigar a responsabilidade civil do 
Comando da Aeronáutica (COMAER), quando da ocorrência de acidentes e 
incidentes, com ou sem vítimas no transporte de passageiros em suas aeronaves, 
ou com terceiros, bem como nas perdas e/ou danos às bagagens destes. Será 
demonstrado como o COMAER pode figurar no polo passivo em processos, 
criminais e civis, este último capaz de gerar grandes indenizações por perdas e 
danos. 
Para tanto, se faz necessário estudar o instituto da responsabilidade civil 
objetiva e subjetiva pertinente ao assunto, analisando as normas que regem o 
COMAER no que tange ao transporte de passageiros por meio do Correio Aéreo 
Nacional. Verificar-se-á, também, se há conflitos entre as legislações existentes, 
quanto à responsabilidade civil do COMAER no transporte de passageiros, com o 
intuito de propor uma mudança na legislação vigente. 
Assim, o presente estudo é o resultado de uma investigação sobre contornos 
da responsabilidade civil no transporte aéreo militar em voos realizados pelo Correio 
Aéreo Nacional (CAN), em aeronaves do Comando da Aeronáutica (COMAER), e 
qual a sua relação com o ordenamento jurídico vigente, analisando-se o teor e a 
orientação doutrinária da jurisprudência pertinente, baseados em dados históricos, 
bem como com levantamentos estatísticos dos acidentes ocorridos nos últimos 15 
anos. 
Neste sentido, a pesquisa busca avaliar as normas existentes que 
sistematizam e orientam as atividades relacionadas ao transporte realizado pelo 
CAN, como atribuição subsidiária do COMAER, e está incluído na linha de pesquisa 
relacionada à Doutrina de Emprego do Poder Aeroespacial. Essa atribuição 
subsidiária visa realizar a missão de integração nacional, a qual corresponde a um 
dos objetivos nacionais permanentes, que está prevista na Carta Magna. 
A proposta é que o Poder Público defina, para dar maior estabilidade às 
relações jurídicas, quais as normas que entende serem mais adequadas para os 
usuários e, principalmente, nos casos dos acidentes e incidentes aéreos, ocasião 
em que ninguém quer assumir a culpa. 
Portanto, este trabalho é fruto de pesquisa sobre a legislação pertinente, a 
jurisprudência, e vocábulos sobre o transporte aéreo militar, que foi reunida e 
 
 
 
 
19 
examinada com destaque nos trechos juridicamente relevantes quanto à 
responsabilidade civil aplicada ao transporte aéreo militar, correlacionado com 
levantamento de dados estatísticos de acidentes com aeronaves militares ocorridos 
nos últimos 15 anos. 
A escolha desse tema deveu-se, primeiramente, a escassez de publicações 
com enfoque na responsabilidade civil em relação ao transporte aéreo militar que 
englobasse a legislação pertinente, seja no aspecto civil ou militar, na jurisprudência, 
nos acórdãos e no vocabulário básico atinente ao assunto. Outro aspecto relevante 
para escolha do tema foi autor, além de ter se tornado um operador do Direito, 
possuir experiência e conhecimento da Aviação Civil em geral, tendo exercido cargo 
na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), e no Departamento de Controle do 
Espaço Aéreo (DECEA). Assim, dedicou-se à coleta de material de pesquisa que 
resultou opúsculo, enveredando por obras e sites de diversos tribunais federais do 
país, bem como em sítios pertinentes ao assunto. 
Este é um tema relevante por ser atual e pelos diversos casos práticos que 
vem aparecendo rotineiramente na mídia nacional, desde lesão direta ao 
consumidor, até casos de acidentes com vítimas fatais. Fatos que por si só geram 
abertura de processos, criminal e civil, este último gerando grandes indenizações 
por perdas e danos. 
Nesse sentido, este trabalho se justifica na medida em que, tomando 
conhecimento das implicações jurídicas relacionadas ao exercício desta atividade no 
âmbito do COMAER, torna-se necessária a adoção de medidas mitigadoras dos 
riscos inerentes ao assunto em pauta, bem como o assessoramento às autoridades, 
visando ao saneamento das divergências existentes na legislação em vigor. 
O conjunto de procedimentos e as técnicas utilizadas para realização do 
presente estudo foi selecionado sob o ponto de vista do autor, diante das 
peculiaridades da matéria tratada nesta pesquisa. 
Diante do tema a ser estudado, o método hipotético-dedutivo é o que melhor 
se apresenta sendo, pois, o indicado para essa tarefa, já que segundo Lakatos e 
Marconi (1991, p. 257), nesse método o raciocínio parte do geral para se chegar ao 
especifico. 
 
 
 
 
20 
Quanto à forma de abordagem do problema, foi aplicada envolvendo aspectos 
que trata da abordagem de natureza qualitativa, em razão dos resultados obtidos 
poderem ser empregados naturalmente pelo COMAER, no sentido de evitar conflitos 
entre as legislações existentes quanto à responsabilidade civil no transporte de 
passageiros. 
Uma pesquisa pode ser considerada de natureza exploratória, quando esta 
envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram, ou têm, 
experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que 
estimulem a compreensão. As pesquisas exploratórias visam proporcionar uma 
visão geral de um determinado fato, do tipo aproximativo (CLEMENTE apud GIL, 
2007). A pesquisa exploratória é realizada sobre um problema ou questão de 
pesquisa que geralmente são assuntos com pouco ou nenhum estudo anterior a seu 
respeito, o que é o caso da aplicação do instituto da responsabilidade civil objetiva 
aplicado ao transporte aéreo militar. 
Portanto, diante do exposto, a presente pesquisa é do tipo exploratória em 
virtude de ter-se realizado um estudo preliminar do principal objetivo da pesquisa, ou 
seja, procurou-se profundar no tema que está sendo investigado, de modo que a 
pesquisa subsequente possa ser concebida com uma maior compreensão e 
precisão. A pesquisa exploratória, que pode ser realizada através de diversas 
técnicas, geralmente com uma pequena amostra, permite ao pesquisador definir o 
seu problema de pesquisa e formular a sua hipótese com mais precisão, ela também 
lhe permite escolher as técnicas mais adequadas para suas pesquisas e decidir 
sobre as questões que mais necessitam de atenção e investigação detalhada 
(PIOVESAN, TEMPORINI apud THEODORSON & THEODORSON; 1995). Esta 
amostra colhida foi o resultado de ações judiciais contra o Comando da Aeronáutica 
que resultaram em indenizações ou desgastes jurídicos desnecessários que 
poderiam ser evitados. 
O objetivo desse tipo de pesquisa é procurar padrões, ideias ou hipóteses. No 
estudo em pauta procurou-se formular tal hipótese. As técnicas tipicamente 
utilizadas para a pesquisa exploratória são estudos de caso, observações ou análise 
históricas, e seus resultados fornecem geralmente dados qualitativos ou 
quantitativos. A pesquisa exploratória avaliará quais teorias ou conceitos existentes 
podem ser aplicados a um determinado problema ou se novas teorias e conceitos 
 
 
 
 
21 
devem ser desenvolvidos (GIL,1999,p.37). Com os dados levantados na análise das 
legislações pertinentes e os resultados das ações judiciais, foi possível identificar as 
incongruências e os conflitos existentes nas publicações e demonstrar a motivação 
para que estas sejam atualizadas para se adequarem ao ordenamento jurídico 
vigente. 
Quanto à técnica1 foram utilizadas a bibliográfica e a documental – a primeira 
abordou assuntos que explicam o problemaa partir de referências teóricas 
publicadas; a segunda estudou matérias que não receberam tratamento analítico – 
livros ou congêneres, publicações avulsas, boletins, jornais, livros, revistas, 
monografias, slides, internet, e alguns outros exemplos de sítios onde serão 
buscadas as informações. Utilizou-se de uma metodologia histórico-descritiva dos 
fenômenos normativos, sendo que o tipo de pesquisa foi exploratório, a forma de 
abordagem de natureza qualitativa e o método hipotético-dedutivo. 
Na dissertação, o estudo do instituto da responsabilidade civil em todo seu 
contexto tornaria a pesquisa com uma complexidade enorme, portanto fez-se 
necessário delimitar o tema somente no que se refere à analise dos aspectos 
jurídicos envolvidos no transporte de passageiros em aeronaves do COMAER, 
principalmente no que se refere ao instituto da responsabilidade civil, em questão, 
tem-se, portanto algumas variáveis que no seu desenvolvimento foram 
aprofundadas, tais como: estudar o instituto da responsabilidade civil objetiva do 
Estado pertinente ao assunto; analisar as normas que regem o COMAER no que 
tange ao transporte de passageiros por meio do Correio Aéreo Nacional e verificar 
se há conflitos entre as legislações existentes quanto à responsabilidade civil do 
COMAER no transporte de passageiros. 
Na etapa inicial, os dados foram obtidos a partir de uma exploração 
documental em normas internas do COMAER para o transporte de passageiros por 
meio do Correio Aéreo Nacional, decisões judiciais e textos doutrinários. Cooper e 
Schindler (2003) afirmam que, por meio da exploração, os pesquisadores 
desenvolvem conceitos de forma mais clara, estabelecem prioridades, desenvolvem 
definições operacionais e melhoram o planejamento final da pesquisa. 
 
1
 Para Lakatos e Marconi (1991), a técnica é um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência 
ou arte; é a habilidade para usar esses preceitos ou normas, a parte prática. Toda ciência utiliza inúmeras técnicas 
na obtenção de seus propósitos. 
 
 
 
 
22 
Dessa forma, será possível desenvolver a exploração documental necessária 
para melhor compreender a proposta de estudo que foi analisar os aspectos 
jurídicos envolvidos no transporte de passageiros em aeronaves do COMAER, 
principalmente no que se refere à responsabilidade civil. 
O trabalho que agora se apresenta está organizado em cinco capítulos, em 
que o primeiro procura a contextualização teórica do problema de pesquisa e seu 
relacionamento com o que foi investigado a respeito. 
O segundo capítulo visa apresentar um breve relato histórico da aviação em 
geral; da criação da Força Aérea Brasileira (FAB) - braço armado do atual Comando 
da Aeronáutica; e do Correio Aéreo Nacional. 
No terceiro capítulo, está centrada a explanação de um breve histórico da 
evolução da legislação aeronáutica, desde a edição da Convenção de Varsóvia e a 
recepção ao ordenamento jurídico interno, passando pela promulgação da 
Constituição Federal (CF) de 1988, do Código de Defesa do Consumidor de 1990 
(CDC), e do Código Civil de 2002 (CC). Este é o momento no qual é descrito o 
conflito existente entre os dispositivos legais. Está focado nas situações de colisão 
entre as normas convencionais e as normas internas do Brasil. São apresentadas as 
premissas usadas tanto pela dogmática como pela jurisprudência sobre o assunto, o 
processo de internacionalização e uniformização dos tratados, como fonte de direito 
com reflexos na soberania, estatal para promover as condições ideais de recepção 
destes; e, finalmente, diante do conflito de normas no tempo e no espaço, as teorias 
que buscam estabelecer qual o conjunto dotado de primazia, a ser invocado para 
dirimir conflitos existentes entre as partes. 
O quarto capítulo dá enfoque à responsabilidade civil, abordando tanto a 
dicotomia da responsabilidade objetiva e quanto da subjetiva, bem como à 
pluralidade de critérios para verificação do nexo de causalidade, quando serão 
abordadas questões pertinentes. Procura-se contextualizar toda a problemática que 
envolve a aplicação da responsabilidade civil no ordenamento jurídico vigente no 
país, traçando um paralelo com o atual tratamento dado a este tema pelos tribunais 
e pela doutrina, visando realizar a fundamentação teórica com mais profundidade. 
No quinto capítulo, discorre-se sobre os aspectos metodológicos que serviram 
para nortear a explicitação do problema de pesquisa que orientou toda a análise 
 
 
 
 
23 
desse trabalho, com o intuito de orientar os resultados encontrados acerca da 
responsabilidade civil do Comando da Aeronáutica no transporte de passageiros em 
suas aeronaves, pela responsabilidade do Estado e como esta é tratada no 
transporte aéreo, civil e militar, com uma proposta de reformulação dos atuais 
conceitos utilizados. Nele é demonstrado como o transporte aéreo militar deve ser 
caracterizado diante das leis nacionais como sendo serviço público e tendo sua 
característica de gratuidade descartada, em função da ausência das exigências 
legais: a cortesia e a amizade. Também procura evidenciar a incongruência das 
disposições do CBA perante o atual ordenamento jurídico brasileiro. Igualmente 
mostra um breve relato sobre os últimos acidentes ocorridos no país, com a devida 
correlação ao disposto na legislação vigente e suas possíveis implicações jurídicas 
em relação ao COMAER, fatos que conduziram à aceitação da hipótese. 
Para concluir, será proposta a atualização jurídica do instituto da 
responsabilidade civil do transporte aéreo militar, frente aos novos princípios 
constitucionais, erguidos pela Carta Política de 1988; incorporando a 
responsabilidade objetiva, a vedação à tarifação de valores indenizatórios e a 
inversão do ônus da prova. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
CAPÍTULO I - REFERÊNCIAL TEÓRICO 
 
Para sustentar a fundamentação teórica da Responsabilidade Civil tomou-
se como Marco Teórico o livro da jurista Maria Helena Diniz em seu livro Curso de 
Curso de Direito Civil Brasileiro, 18ª edição, auxiliado pelo livro do Professor Silvio 
Venosa, 4ª edição, que trata da Responsabilidade Civil, pelo livro do autor José da 
Silva Pacheco, 4ª edição, intitulado Comentários ao Código Brasileiro de 
Aeronáutica, além outros autores e demais legislações pertinentes, dentre outros. 
Desta feita, a responsabilidade civil abrange praticamente um horizonte 
de relações, ou seja, está presente na maioria absoluta das relações jurídicas. Desta 
forma, Chaib (2005), menciona: 
a responsabilidade civil é um tema de grande relevância na atualidade 
jurídica, pois produz reflexos nas atividades contratuais e extracontratuais, 
devendo ser dotada de grande flexibilidade, a fim de restabelecer o 
equilíbrio causado pelo dano e buscar a paz pública. 
 
Gagliano e Pamplona Filho (2006, p. 01-02) trazem a noção da palavra 
responsabilidade: “A palavra responsabilidade tem sua origem latino respondere, 
significando a obrigação que alguém tem a assumir com as conseqüências jurídicas 
de sua atividade [...]”. 
De acordo com Diniz (2004, p. 08-09), a responsabilidade tem duas 
funções, quais sejam: “garantir o direito do lesado à segurança; servir como sanção 
civil, de natureza compensatória, mediante a reparação do dano causado à vítima, 
punindo o lesante e desestimulando a prática de atos lesivos”. 
Acrescenta Gagliano e Pamplona Filho (2006, p. 03) que, 
responsabilidade, para o Direito, nada mais é, portanto, que uma obrigação derivada 
– um dever jurídico sucessivo – de assumir as consequências jurídicas de umfato, 
consequências essas que podem variar (reparação dos danos - ou punição pessoal 
do agente lesionante) de acordo com os interesses lesados. 
Nas palavras de Diniz (2004, p. 05), “o interesse em restabelecer o 
equilíbrio violado pelo dano é a fonte geradora da responsabilidade civil”. 
Nesse sentido Chaib (2005), menciona que uma responsabilidade civil 
quando bem aplicada, torna-se um instrumento poderoso na valorização ética do ser 
 
 
 
 
25 
humano. Portanto, pode-se dizer que o fundamento da responsabilidade civil é que 
todo dano deve ser reparado. 
Assim, conclui Stoco que “a responsabilidade é, portanto, resultado da 
ação pela qual o homem expressa o seu comportamento, em face desse dever ou 
obrigação”. (2001, p. 91). 
Diniz (2004, p. 40) conceitua a responsabilidade civil como a aplicação de 
medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a 
terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela 
responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. 
De acordo com Rodrigues (2003, p. 6), a responsabilidade civil 
corresponde a uma obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo 
causado a outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela 
dependam. Desta forma, sustenta ainda que, uma vez ocorrido o prejuízo pela vítima 
sob a premissa de que quem o causou deve repará-lo, a responsabilidade civil irá 
trazer a solução de como e em que condições esse prejuízo será reparado. 
Já na lição de Lopes (1962, p. 189), a responsabilidade é a obrigação de 
reparar um dano, seja por decorrer de uma culpa ou de outra circunstância legal que 
a justifique, como a culpa presumida, ou por uma circunstância meramente objetiva. 
Na lição de Gagliano e Pamplona Filho (2006, p. 10) para “nossa cultura 
ocidental, toda reflexão, por mais breve que seja, sobre raízes históricas de um 
instituto, acaba encontrando seu ponto de partida no Direito Romano. E com a 
responsabilidade civil, essa verdade não é diferente”. 
Continuam o assunto os autores supramencionados, afirmando que: 
de fato, nas primeiras formas organizadas de sociedade, bem como nas 
civilizações pré-romanas, a origem do instituto está calçada na concepção 
da vingança privada [...] Trata-se da Pena de Talião, da qual se encontram 
traços na Lei das XII Tábuas [...] Um marco na evolução histórica da 
responsabilidade civil se dá, porém, com a edição da Lex Aquilia, cuja 
importância foi tão grande que deu nome à nova designação da 
responsabilidade civil delitual ou extracontratual. [...] Permitindo-se um salto 
histórico, observe-se que a inserção da culpa como elemento básico da 
responsabilidade civil aquiliana – contra o objetivismo excessivo do direito 
primitivo, abstraindo a concepção de pena para substituí-la, paulatinamente, 
pela idéia de reparação do dano sofrido – foi incorporada no grande 
monumento legislativo da idade moderna, a saber, o Código Civil da 
Napoleão, que influenciou diversas legislações do mundo, inclusive o 
Código Civil brasileiro de 1916 [...](GAGLIANO E PAMPLONA FILHO, 2004, 
p. 10). 
 
 
 
 
26 
Venosa (2004, p. 12) esclarece que o “atual Código Civil, embora 
mantendo a mesma estrutura do diploma anterior, trata da responsabilidade civil 
com mais profundidade nos arts 927 e ss”. A definição de ato ilícito é fornecida pelo 
art 186 [...]. 
Com base nessas considerações, a jurista Diniz (2004, p. 40) define 
responsabilidade civil como a aplicação de medidas que obriguem a reparar dano 
moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato próprio imputado, de 
pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda 
(responsabilidades subjetivas), ou, ainda, de simples imposição legal 
(responsabilidade objetiva). Definição esta que guarda, em sua estrutura, a idéia da 
culpa quando se cogita da existência de ilícito e a do risco, ou seja, da 
responsabilidade sem culpa. 
Porém, além do conceito de responsabilidade civil, “antes de adentrarmos 
à temática propriamente dita, ou seja, no campo de reparação civil lato sensu de 
danos, é preciso, por rigor, metodológico, tentar compreender o conceito jurídico de 
responsabilidade” (GAGLIANO E PAMPLONA FILHO, 2004, p. 10). 
Dessa maneira, Venosa (2004, p. 12-13) discorre sobre o assunto 
alegando que o termo responsabilidade, embora com sentidos próximos e 
semelhantes, é utilizado para designar várias situações no campo jurídico. A 
responsabilidade, em sentido amplo, encerra a noção em virtude da qual se atribui a 
um sujeito o dever de assumir as conseqüências de um evento ou de uma ação. Na 
realidade, o que se avalia geralmente em matéria de responsabilidade é uma 
conduta do agente, qual seja, um encadeamento ou série de atos ou fatos, o que 
não impede que um único ato gere por si o dever de indenizar. 
Para Stoco (2001, p. 39), “o que interessa, quando se fala de 
responsabilidade, é aprofundar o problema na face assinalada, de violação da forma 
ou obrigação diante da qual se encontrava o agente”. 
Complementa Diniz (2004, p. 39), “o vocábulo ‘responsabilidade’ é 
oriundo do verbo latino respondere, designando o fato de ter alguém se constituído 
garantidor de algo. Tal termo contém, portanto, a raiz latina spondeo, fórmula pela 
qual se vinculava, no direito romano, o devedor nos contratos verbais”. 
 
 
 
 
27 
Stoco (2001, p. 89) explica que, “essa exposição estabelecida pelo meio 
social regrado, por meio dos integrantes da sociedade humana, de impor a todos o 
dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de Justiça existente no 
grupo social estratificado”. 
De tal modo, de tudo o que se disse, conclui Gagliano e Pamplona Filho 
(2006, p. 09), que “a noção jurídica de responsabilidade pressupõe a atividade 
danosa de alguém que, atuando a priori ilicitamente, viola uma norma jurídica 
preexistente (legal ou contratual), subordinando-se, dessa forma, às consequências 
do seu ato (obrigação de reparar)”. 
Cumpre acrescentar que a responsabilidade civil pode ser classificada 
como responsabilidade civil subjetiva e responsabilidade civil objetiva. Portanto, 
importante se faz esclarecer resumidamente cada uma das classificações. 
Nas palavras de Molon (2007) responsabilidade civil “é o ressarcimento 
dos prejuízos acarretados ao lesado que sofreu tanto em seu patrimônio como em 
componentes de sua pessoa ou personalidade [...].” 
É ainda mais esclarecedor o conceito de Diniz (2004, p. 40): 
A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma 
pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão 
de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por 
alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. 
 
Segundo Diniz (2004), a responsabilidade civil visa, portanto, garantir o 
direito lesado à segurança, mediante o pleno ressarcimento dos danos que sofreu, 
se restabelecendo na medida do possível, o estado inicial da situação. 
Para um melhor entendimento de todos estes conceitos expostos por 
estes diversos autores de renome nacional, a partir de agora passaremos por um 
breve histórico do instituto da responsabilidade civil e suas peculiaridades. 
 
1.1 Fundamentos da Responsabilidade Civil 
 
Contextualizando os fundamentos da responsabilidade civil, temos que o 
conceito de reparar o dano injustamente causado surgiu em época relativamente 
recente na história do Direito. Segundo Venosa (2004, p. 27): 
 
 
 
 
28 
o famoso princípio da Lei de Talião, da retribuição do mal pelo mal, olho por 
olho, já denota uma forma de reparação do dano. Na verdade, o princípio é 
da natureza humana, qualseja, reagir a qualquer mal injusto perpetrado 
contra a pessoa, a família ou o grupo social. A sociedade primitiva reagia 
com a violência. O homem de todas as épocas também o faria, não fosse 
reprimido pelo ordenamento jurídico. 
 
Efetuando um estudo dos aspectos históricos da Responsabilidade Civil, 
observa-se que, já na Babilônia, através de uma das mais antigas fontes do Direito, 
o Código de Hamurabi (1728-1688 a.C.) imposto pelo célebre imperador babilônico 
que deu nome ao código, dois mil anos antes da era cristã, conhecido como o 
princípio do olho por olho, dente por dente, sendo mais tarde adotado também pelos 
romanos como Lei de Talião as quais eram rígidas e inflexíveis, e muitas vezes cruel 
(PEREIRA, 2004, p.3). 
Estas leis possuíam como princípio a aplicação de uma espécie de 
vingança estabelecida pelo Estado em detrimento ao instituto do ressarcimento, 
podendo ser considerada a origem da responsabilidade civil, a qual evoluiu 
sensivelmente com o surgimento da Lei das XII Tábuas (século III a.C.), que fixou o 
valor da pena a ser paga pelo ofensor ao ofendido (PEREIRA, 2004, p.3). 
Ilustrando este período histórico, Stoco (1997, p. 4), acrescenta que 
“ingressa na órbita jurídica após ultrapassada, entre os povos primitivos, a fase da 
reação imediata, inicialmente grupal, depois individual, passando pela sua 
institucionalização, com a pena de Talião, fundada na idéia de devolução da injúria e 
na reparação do mal com mal igual, já que qualquer dano causado a outra pessoa 
era considerado contrário ao direito natural”. 
Com o surgimento da Lei das XII Tábuas (ano 450 a.C.), o ocidente passa 
a desfrutar de um ordenamento que procurava estipular responsabilidades e 
delimitar sanções, assim, somente à lei caberia a definição delitos (civis ou criminais) 
e suas respectivas formas de reparação, inclusive a reparação por arbitragem. 
Em outra etapa da evolução da responsabilidade civil, Dias (1987, p. 2) 
afirma que o Estado surge com a finalidade de atuar como pacificador, buscando 
solucionar as lides decorrentes de danos causados por outrem, sendo então 
institucionalizado o caráter punitivo, em detrimento ao instituto do ressarcimento, 
não havia, nesta época, uma distinção bem definida entre os ilícitos civis e os 
criminais do modo em que está dividida no ordenamento jurídico atual. 
 
 
 
 
29 
A sanção invariavelmente passava da pessoa do responsável pelo crime 
ou dano, atingindo mesmo o patrimônio e a própria vida de terceiros desvinculados 
das relações privadas (obrigações de natureza civil) ou de fundo público. (DIAS, 
1987, p. 2) 
Constata-se, sobre evolução da responsabilidade civil, que esta ocorreu 
de forma lenta e gradativa embora a sociedade desde a época primitiva sempre 
demonstrou a sua pretensão de obter compensação pelo prejuízo causado por outra 
pessoa. 
Nesse sentido, ratifica Rodrigues, (2003, p.1) mencionando que “a 
responsabilidade civil é matéria jurídica antiga, tendo sido prevista no Código do 
Imperador Hamurabi da Babilônia, em sua máxima "olho por olho, dente por dente". 
Aquele que sofria um dano tinha direito a repará-lo mediante a provocação de um 
dano semelhante ao seu responsável. O direito romano, posteriormente, através da 
Lex Poeteria Papiria, proibiu as penas corporais em sede de responsabilidade civil, 
instituindo que apenas o patrimônio do agente deveria responder pelo dano por ele 
causado”. 
Apresentando uma diferenciação entre os delitos públicos e privados no 
direito romano, Almeida (2000, p 32) salientou que nos delitos considerados 
públicos, o autor sofria a persecução do Estado, acarretando-lhe grave sanção. Nos 
delitos privados, a execução não se dava mais sobre a pessoa do devedor, mas sim 
sobre os seus bens. 
Ainda no Direito Romano, na Lei Aquiliana (Século III a.C.) surge um 
princípio geral regulador dedicado à reparação do dano, escopo basilar da 
responsabilidade civil, agora já desvinculada da penal. 
Dias, (1987, p.18) ao tratar da Lei Aquiliana, explica que “o conteúdo da 
Lei Aquilia se distribuía por três capítulos. O primeiro tratava da morte a escravos ou 
animais, das espécies dos que pastam em rebanhos. O segundo regulava a 
quitação por parte do 'adstipulator' com prejuízo do credor estipulante. Regia casos 
de danos muito peculiares, que não interessa pormenorizar, salvo para, atentos à 
advertência de Chironi, assinalar que a pena irrogada contra a ilícita disposição 
praticada pelo 'adstipulator', em relação ao crédito alheio, traduz o fato de já não se 
considerar o direito de crédito como coisa. O terceiro último capítulo da Lei Aquilia 
 
 
 
 
30 
ocupava-se do 'damnum injuri datum’ que tinha, alcance mais amplo, 
compreendendo as lesões a escravos ou animais e destruição ou deterioração de 
coisas corpóreas". 
Assim, observa-se que a Lex Aquilia considera o ato ilícito uma figura 
autônoma. Surge dessa forma a concepção da responsabilidade extracontratual: 
a Lex Aquilia, de uso restrito a princípio, atinge dimensão ampla na época 
de Justiniano, como remédio jurídico de caráter geral; como considera o ato 
ilícito uma figura autônoma, surge, desse modo, a moderna concepção de 
responsabilidade civil extracontratual. O sistema romano de 
responsabilidade extrai, da interpretação da Lex Aquilia, o princípio pelo 
qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, 
independentemente da relação obrigacional preexistente. Funda-se aí a 
origem da responsabilidade extracontratual fundada na culpa. Por essa 
razão, denomina-se também responsabilidade aquiliana essa modalidade, 
embora exista hoje um abismo considerável entre a compreensão dessa lei 
e a responsabilidade civil atual. A Lex Aquilia foi um plebiscito aprovado 
provavelmente em fins do século III ou início do século II a.C., que 
possibilitou atribuir ao titular de bens o direito de obter o pagamento de uma 
penalidade em dinheiro de quem tivesse destruído ou deteriorado seus 
bens. Como os escravos eram considerados coisas, a lei também se 
aplicava na hipótese de danos ou morte deles. Punia-se por uma conduta 
que viesse a ocasionar danos. A ideia de culpa é centralizadora nesse 
intuito de reparação. Em princípio, a culpa é punível, traduzida pela 
imprudência, negligência ou imperícia, ou pelo dolo (VENOSA, 2005, p. 27). 
 
Com a Escola do Direito Natural, a partir do século XVII, o conceito da Lei 
Aquilia foi ampliado, sendo que os juristas começaram a equacionar a questão de 
que o fundamento da responsabilidade civil situava-se na quebra do equilíbrio 
patrimonial provocado pelo dano (VENOSA, 2005, p.27). O dano passa a ser então 
o parâmetro centralizador da responsabilidade civil, em vez da culpa. 
Durante a Idade Média, com a estruturação da ideia de dolo e de culpa stricto 
sensu, seguida também de uma formulação da dogmática da culpa, distingue-se a 
responsabilidade civil da pena. Mas coube ao Direito francês o aperfeiçoamento das 
ideias romanas, quando estabeleceu princípios gerais norteadores da 
responsabilidade civil (DINIZ, 2002). 
Segundo Diniz (2002, p. 11), “a Lex Aquília de damno veio cristalizar a 
ideia de reparação pecuniária do dano, impondo que o patrimônio do lesante 
suportasse os ônus da reparação, em razão do valor da res, esboçando-se a noção 
de culpa como fundamento da responsabilidade, de tal sorte que o agente se 
isentaria de qualquer responsabilidade se tivesse procedido sem culpa. Passou-se a 
atribuir o dano à conduta culposa do agente. A Lex Aquília de damno estabeleceu as 
 
 
 
 
31 
bases da responsabilidade extracontratual, criando uma forma pecuniária de 
indenização do prejuízo, com base no estabelecimento de seu valor. Esta lei 
introduziu odamnum iniuria datum, ou melhor, prejuízo causado a bem alheio, 
empobrecendo o lesado, sem enriquecer o lesante. Todavia, mais tarde, as sanções 
dessa lei foram aplicadas aos danos causados por omissão ou verificados sem o 
estrago físico e material da coisa. O Estado passou, então, a intervir nos conflitos 
privados, fixando o valor dos prejuízos, obrigando a vítima a aceitar a composição, 
renunciando à vingança. Essa composição permaneceu no direito romano com o 
caráter de pena privada e como reparação, visto que não havia nítida distinção entre 
a responsabilidade civil e a penal”. 
Já numa concepção mais moderna de responsabilidade civil, o Código 
Civil Francês, promulgado em 1804 por Napoleão Bonaparte contribuiu e consolidou 
a aplicação de responsabilidade civil atualmente conhecida, a qual se fundamenta 
na culpa. 
Pereira (2004, p. 1) comenta que o Código Civil Francês de 1804 veio 
influenciar decisivamente o instituto de responsabilidade civil no sentido de dar uma 
maior relevância ao princípio da culpa que se consolida como pilar básico e 
estruturante daquele instituto. 
A consequente evolução da responsabilidade civil chegou ao 
ordenamento jurídico interno por meio do Código Civil Brasileiro de 1916, o qual foi 
fortemente influenciado pelo direito francês, momento em que a responsabilidade 
civil fundamentou a idéia da existência de culpa por parte do ofensor. 
É o que se percebe através da leitura do artigo 159 do Código Civil de 
1916, revogado pelo novo Código Civil promulgado em 2002, por meio do artigo 927, 
caput, ao determinar que "aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, 
ou imprudência, violar direito, causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o 
dano". Neste momento a legislação adotou a teoria do risco, baseada na 
insuficiência da culpa. 
Em relação aos rumos tomados pelo instituto da responsabilidade civil na 
atualidade, em relação à superação da culpa como cerne da responsabilidade civil, a 
Gomes (2005, p. 231-232) afirma que o esforço para superação da culpa (fenômeno 
psicológico) como fundamento da responsabilidade civil pode também ser apontado 
 
 
 
 
32 
como uma tendência pós-moderna. Hoje, está claro, delineia-se uma clara 
separação entre culpa, de um lado, e responsabilidade, de outro. Uma coisa é o que 
vai na consciência do agente causador do dano; outra, bem diversa, é a sua 
responsabilização pelo dano provocado ou oportunizado por uma atividade a ele 
relacionada. Não por outra razão a culpa subjetiva tem cedido espaço para a culpa 
objetiva e, sobretudo, para a responsabilidade objetiva. Desta forma, nas hipóteses 
de responsabilidade decorrente do desempenho de atividade de risco e do fato do 
produto, a afirmação da responsabilidade objetiva é feita com fulcro na 
solidariedade, eis que se procura atender os interesses da vítima, que, em regra, 
não quer nem procura o dano. No caso do consumidor, o legislador foi mais longe ao 
trazer para o campo protetivo do Código respectivo todas as vítimas de acidente de 
consumo – CDC, artigo 17. De outra parte, o artigo 931 do Código Civil não exclui de 
suas malhas o comerciante pelos danos causados pelo produto posto em circulação. 
Para Pereira (2004, p. 556), o fundamento maior da responsabilidade civil é a 
culpa, e é fato suficiente e comprovado que esta se mostrou insuficiente para cobrir 
toda a gama de danos ressarcíeis; mas é fato igualmente comprovado que, na sua 
grande maioria, os atos lesivos são causados pela conduta antijurídica do agente, 
por negligência ou imperícia. 
Ainda sustenta que, embora aceitando que a responsabilidade civil se 
construiu tradicionalmente sobre o conceito de culpa, o jurista moderno convenceu-
se de que esta não satisfaz, deixando à vítima o ônus da prova de que o ofensor 
procedeu antijuridicamente, a deficiência de meios, a desigualdade de fortuna, a 
própria organização social acaba por deixar larga cópia de danos descobertos e sem 
indenização. 
A evolução da responsabilidade civil gravita em torno da necessidade de 
socorrer a vítima, o que tem levado a doutrina e a jurisprudência a marchar adiante 
dos códigos, cujos princípios constritores entravam o desenvolvimento e a aplicação 
da boa justiça. Foi preciso recorrer a outros meios técnicos e aceitar, vencendo para 
isso resistências quotidianas, que em muitos casos o dano é reparável sem o 
fundamento de culpa. 
Desta forma, coube à jurisprudência e a doutrina a evolução da 
responsabilidade civil e também conferir responsabilização a eventos danosos em 
que a culpa não esteja presente. 
 
 
 
 
33 
Já Stoco (1997, p. 50) sustenta que mais aproximada de uma ideia de 
responsabilidade é a ideia de obrigação. Nesse sentido afirma que: “responsável, 
responsabilidade, assim, como enfim, todos os vocábulos cognatos, exprimem ideia 
de equivalência de contraprestação, de correspondência. É possível, diante disso, 
fixar uma noção, sem dúvida ainda imperfeita, de responsabilidade, no sentido de 
repercussão obrigacional (não interessa investigar a repercussão inócua) da 
atividade do homem. Como esta varia até o infinito, é lógico concluir que são 
também inúmeras as espécies de responsabilidade, conforme o campo em que se 
apresenta o problema: na moral, nas relações jurídicas, de direito público ou privado. 
A responsabilidade não é um fenômeno exclusivo da vida jurídica, antes se liga a 
todos os domínios da vida social. A responsabilidade é, portanto, resultado da ação 
pela qual o homem expressa o seu comportamento, em face desse dever ou 
obrigação. Se atua na forma indicada pelos cânones, não há vantagem, porque 
supérfluo em indagar da responsabilidade daí decorrente. O que interessa, quando 
se fala de responsabilidade, é aprofundar o problema na face assinalada, de 
violação da norma ou obrigação diante da qual se encontrava o agente”. 
No caso de Venosa (2005, p. 13), este sustenta que, em princípio, toda 
atividade que acarreta um prejuízo gera responsabilidade ou dever de indenizar e há 
situações, excludentes, que irão impedir a indenização. No entanto, afirma que o 
termo responsabilidade é: “um termo utilizado em qualquer situação na qual alguma 
pessoa, natural ou jurídica, deva arcar com as conseqüências de um ato, fato, ou 
negócio danoso. Sob essa noção, toda atividade humana, portanto, pode acarretar o 
dever de indenizar. Desse modo, o estudo da responsabilidade civil abrange todo o 
conjunto de princípios e normas que regem a obrigação de indenizar”. 
Diante do exposto, pode-se observar uma nítida evolução histórica no instituto 
da responsabilidade civil, o qual surgiu da necessidade da reparação do dano, 
porém de uma forma primitiva, onde se aplicava a Lei de Talião, que pregava a 
retribuição do mal pelo mal, do olho por olho, chegando até os dias atuais. 
Passaremos a seguir para a identificação dos principais tipos de responsabilidade 
existentes, a subjetiva e objetiva. 
 
 
 
 
 
34 
1.2 A Responsabilidade Civil Subjetiva e a Objetiva 
 
Para Rodrigues (2003, p. 11), em rigor, poder-se-ia dizer que não há duas 
espécies diversas de responsabilidade civil, uma objetiva e outra subjetiva, mas sim 
maneiras diferentes de encarar a reparação do dano. 
No entanto, já na responsabilidade objetiva, segundo Venosa (2004, p. 22), 
“como regra geral, leva-se em conta o dano, em detrimento do dolo ou culpa. Desse 
modo para o dever de indenizar, bastam o dano e o nexo causal, prescindindo-se da 
prova da culpa”. 
Desta forma, entende-se como objetiva e solidária a responsabilidade da 
empresa, ou seja, comprovada a culpa ou dolo do agressor, a empresa responderá 
de forma objetiva e, automaticamenteé solidária à conduta do assediador. 
Segundo Diniz (2004, p. 128) a responsabilidade civil objetiva se funda no 
risco, que se explica essa responsabilidade no fato de haver o agente causador do 
prejuízo à vítima ou a seus bens. É irrelevante a conduta culposa ou danosa do 
causador do dano, uma vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo 
sofrido pela vítima e a ação do agente para que surja o dever de indenizar. 
Ratifica Faria Júnior (2006, p. 28) que nesta modalidade de 
responsabilidade civil, “basta a prova do nexo causal e do dano para que o agente 
seja responsabilizado”. 
Concluindo o assunto, acrescenta Faria Júnior (2006, p. 19) que “a teoria 
da responsabilidade objetiva não pode, portanto, ser admitida como regra geral, mas 
somente nos casos contemplados em lei ou sob o novo aspecto enfocado pelo 
corrente Código. Levemos em conta, no entanto, que a responsabilidade civil é 
matéria viva e dinâmica na jurisprudência. A cada momento estão sendo criadas 
novas teses jurídicas como decorrência das necessidades sociais [...] A admissão 
expressa da indenização por dano moral na Constituição de 1988 é tema que 
alargou os decisórios, o que sobreleva a importância da constante consulta à 
jurisprudência nesse tema, sobretudo do Superior Tribunal de Justiça, encarregado 
de uniformizar a aplicação das leis”. 
 
 
 
 
35 
Segundo Rodrigues (2003, p. 11) a responsabilidade objetiva está assentada 
na Teoria do Risco. Segundo essa teoria, aquele que, através de sua atividade, cria 
um risco de dano para terceiros deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua 
atividade e o seu comportamento sejam isentos de culpa. Examina-se a situação, e, 
se for verificada, objetivamente, a relação de causa e efeito entre o comportamento 
do agente e o dano experimentado pela vítima. 
Na responsabilidade objetiva, a atitude do agente causador do dano não é de 
tanta relevância, basta que tenha existido a relação de causalidade entre o dano 
experimentado pela vítima e também pela conduta do agente, que faz surgir o dever 
de indenizar, independentemente do agente que causou tal dano agir de forma 
culposa ou dolosa. 
Para Stoco (1997, p. 66), a teoria da responsabilidade objetiva sustenta-se no 
fato de que “ao invés de exigir que a responsabilidade civil seja a resultante dos 
elementos tradicionais (culpa, dano, vínculo de causalidade, entre uma e outro) 
assenta-se na equação binária cujos polos são o dano e a autoria do evento danoso. 
Sem cogitar da imputabilidade ou investigar a antijuridicidade do fato danoso, o que 
importa para assegurar o ressarcimento é a verificação se ocorreu o evento e se 
dele emanou o prejuízo. Em tal ocorrendo, o autor do fato causador do dano é o 
responsável. Desta forma o juiz não tem de examinar o caráter licito ou ilícito do ato 
imputado ao pretenso responsável: as questões de responsabilidade transformam-
se em simples problemas objetivos que se reduzem à pesquisa de uma relação de 
causalidade”. 
A teoria da responsabilidade objetiva surgiu no século XIX, sob os auspícios 
de Saleilles e Josserand. Segundo Stoco (1997, p. 66): 
este último, considerado o experto da teoria do risco, a desenvolve 
principalmente sob o título: “Les accidents du travail et la responsabilité 
civile”, sendo que entre nós, o precursor da responsabilidade objetiva foi 
Alvino Lima, em tese apresentada na Faculdade de Direito da USP, em 
1938, sob o título “Da culpa ao risco”, posteriormente convertida em livro, 
em que não apenas defende a doutrina objetivista como responde aos 
argumentos dos adversários. Outro adepto da teoria é Wilson Melo da Silva, 
também expressada em tese de concurso. O grande mestre Aguiar Dias 
evidenciou a obra de G. Marton (Les fondements de la responsabilité civile, 
Paris, 1938), apontando como o expoente da doutrina objetiva em nosso 
direito. 
 
 
 
 
 
36 
No ordenamento jurídico pátrio atual, a regra do artigo 927, parágrafo único 
do CC, pode ser tida como a mais importante novidade da legislação a respeito de 
responsabilidade objetiva, in verbis: 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, 
fica obrigado a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente 
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, 
risco para os direitos de outrem. 
 
O CC traz também outros casos de responsabilidade civil independente da 
atuação culposa do agente causador do dano, como os casos dos artigos 932, 933, 
e 936 do CC/2002. 
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: 
[...] 
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e 
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; 
[...] 
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, 
ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados 
pelos terceiros ali referidos. 
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este 
causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. 
 
No Código de Defesa do Consumidor, tem-se o caso dos artigos 12, 14 e 17, 
casos de acidentes de consumo ou responsabilidade por fatos do produto ou do 
serviço, in verbis: 
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o 
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela 
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes 
de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, 
apresentação acondicionamento de seus produtos, bem como por 
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. 
[...] 
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores 
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações 
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. 
[...] 
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas 
as vítimas do evento. 
 
 
 
 
 
37 
Traz também os casos de responsabilidade independente de culpa nos casos 
apontados nos artigos 18 a 24, que tem por objeto a responsabilidade por vício do 
produto e do serviço, in verbis: 
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis 
respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os 
tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes 
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com 
as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou 
mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua 
natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. 
[...] 
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de 
quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes 
de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes 
do recipiente, da embalagem, da rotulagem ou de mensagem publicitária, 
podendo o consumidor exigir, alternativamente, e à sua escolha: 
[...] 
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os 
tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por 
aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta 
ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e 
à sua escolha: 
[..] 
Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação 
de qualquer produto, considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de 
empregar componentes de reposição originais adequadose novos, ou que 
mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes 
últimos, autorização em contrário do consumidor. 
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, 
permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são 
obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos 
essenciais, contínuos. 
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das 
obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a 
cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código. 
Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por 
inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade. 
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de 
termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor. 
Na CF de 1988, encontra-se a regra no artigo 37, § 6º, que trata da responsabilidade 
civil objetiva do Estado, in verbis: 
Art. 37. 
[...] 
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado 
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus 
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de 
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. 
 
 
 
 
 
38 
A responsabilidade pode ser subjetiva se depender da conduta ou do 
comportamento do agente. A responsabilidade do agente que causou o dano pode 
ser configurada se ele agiu culposa ou dolosamente, sendo que nesse sentido a 
prova da culpa do agente causador do dano é requisito indispensável para que 
possa haver a reparação do dano causado ao lesado. 
Em sua obra Novo curso de Direito Civil, Gagliano e Pamplona Filho (2006, 
p.14) conceituam responsabilidade civil subjetiva sendo aquela que “decorrente de 
dano causado em função de ato doloso ou culposo”. Esta culpa, por ter natureza 
civil, se caracterizará quando o agente causador do dano atuar com negligência ou 
imprudência, conforme cediço doutrinariamente, através da interpretação da primeira 
parte do art. 159 do Código Civil de 1916, mantida com aperfeiçoamento, pelo art. 
186 do Código Civil de 2002. 
Portanto, de acordo com Faria Júnior (2006, p. 23), “a culpa dá 
sustentação à chamada responsabilidade subjetiva, exigindo, por isso, a 
necessidade do comportamento tido como ensejador do prejuízo, sem o que não há 
falar em reparação”. 
Retifica Diniz (2004, p. 128), que a responsabilidade subjetiva “encontra 
sua justificativa na culpa ou dolo por ação ou omissão, lesiva a determinada pessoa. 
Desse modo, a prova da culpa do agente será necessária para que o dever de 
reparar”. Portanto, a culpa é elemento fundamental da responsabilidade civil. 
E como saliente Gagliano e Pamplona Filho (2006, p. 14), “por se 
caracterizar em fato constitutivo do direito à pretensão reparatória, caberá ao autor, 
sempre, o ônus da prova de tal culpa do réu”. 
Assim, frente ao exposto, temos o entendimento que a responsabilidade 
civil objetiva é notoriamente a responsabilidade sem culpa, caso em que há a 
obrigação de indenizar sem que tenha havido culpa do agente, o que difere da 
responsabilidade civil subjetiva, que exige a prova de culpa. 
Para a existência da responsabilidade civil é necessário que sejam 
satisfeitos alguns fatos previamente elencados como antecedentes necessários e 
que serão tratados a seguir. 
 
 
 
 
 
39 
1.3 Os Pressupostos da Responsabilidade Civil 
 
Pressuposto consiste na circunstância ou fato considerado como 
antecedente necessário de outro. Para que possa haver a caracterização da 
responsabilidade civil é necessária existência de três fatos ou circunstâncias, 
indispensáveis e simultâneos, sem os quais não há como se falar em 
responsabilidade civil. 
Rodrigues, (2003, p. 14) aponta como pressupostos essenciais para 
caracterizar a responsabilidade civil a ação ou omissão do agente; a existência de 
dano; e o nexo causal, elo de causalidade entre ação/omissão e dano. 
Já Noronha (2007, p. 468) menciona que para surgir a obrigação de 
indenizar, são necessários cinco pressupostos, acrescentando, assim, outros dois 
requisitos ao senso comum dos doutrinadores e sobretudo da jurisprudência, que 
são antijuridicidade e âmbito da função de proteção: ”um fato (uma ação ou omissão 
humana, ou um fato humano, mas independente da vontade, ou ainda um fato da 
natureza) que seja antijurídico (isto é, que não seja permitido pelo direito, em si 
mesmo ou nas suas consequências). Que o dano esteja contido no âmbito da 
função de proteção assinada à norma violada. Isto é, exige-se que o dano verificado 
seja resultado da violação de um bem protegido”. 
 Existe uma imprecisão doutrinária no que concerne a caracterização dos 
pressupostos necessários para que seja configurada a responsabilidade civil, e de 
forma geral, pode-se apontar os seguintes pressupostos como essências: ação ou 
omissão do agente; culpa do agente; relação de causalidade e o dano 
experimentado pela vítima. 
 
1.3.1 Ação ou Omissão do Agente 
 
Analisando o pressuposto “ação do agente” verifica-se que este é 
compreendido em sentido amplo, como um comportamento comissivo perante a 
sociedade que ciente das condutas sociais convencionadas em forma de lei, lesa o 
 
 
 
 
40 
direito de outrem, ou mesmo, diante de contrato infringe uma cláusula previamente 
acordada. 
Rodrigues, (2003, p. 15), para ilustrar este entendimento explica que “a 
responsabilidade por ato próprio se justifica no próprio princípio informador da teoria 
da reparação, pois se alguém, por sua ação pessoal, infringindo dever legal ou 
social, prejudica terceiro, é curial que deva reparar esse prejuízo”. 
Já a omissão caracteriza-se quando o agente deixa de agir diante de um 
dever jurídico ou contratual e em virtude de sua omissão lesa outrem. Diniz (2001, p. 
38) argumenta que “a omissão é, em regra, mais frequente no âmbito da inexecução 
das obrigações contratuais. Deverá ser voluntária no sentido de ser controlável pela 
vontade à qual se imputa o fato, de sorte que excluídos estarão os atos praticados 
sob coação absoluta; em estado de inconsciência, sob efeito de hipnose, delírio 
febril, ataque epilético, sonambulismo, ou por provocação de fatos invencíveis com 
tempestades, incêndios desencadeados por raios, naufrágios, terremotos, 
inundações etc.”. 
O elemento primário dos atos ilícitos é uma conduta humana e voluntária 
no mundo exterior. De acordo com Stoco (1997, p. 54) “esse ilícito, como atentado a 
um bem juridicamente protegido, interessa à ordem normativa do Direito justamente 
porque produz um dano. Não há responsabilidade sem um resultado danoso. Mas a 
lesão a bem jurídico cuja existência se verificará no plano normativo da culpa, está 
condicionada à existência, no plano naturalístico da conduta, de uma ação ou 
omissão que constitui a base do resultado lesivo. Não há responsabilidade civil sem 
determinado comportamento humano contrário à ordem jurídica. Ação e omissão 
constituem, por isso mesmo, tal como no crime, o primeiro momento da 
responsabilidade civil”. 
Nesse sentido Diniz (2002, p.42) afirma que “a regra básica é que a 
obrigação de indenizar, pela prática de atos ilícitos, advém da culpa. Ter-se-á ato 
ilícito se a ação contrariar dever geral previsto no ordenamento jurídico, integrando-
se na seara da responsabilidade extracontratual (CC, artigos 186 e 927), e se ela 
não cumprir obrigação assumida, caso em que se configura a responsabilidade 
contratual (CC, artigo 389). Mas o dever de reparar pode deslocar-se para aquele 
que procede de acordo com a lei, hipótese em que se desvincula o ressarcimento do

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