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Camilla Tie Fucuda Gomes Milena Mantovani Malvão VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA EM UTI NEONATAL: revisão bibliográfica Pindamonhangaba – SP 2015 Camilla Tie Fucuda Gomes Milena Mantovani Malvão VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA EM UTI NEONATAL: revisão bibliográfica Pindamonhangaba – SP 2015 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do diploma de Bacharel em Fisioterapia pelo Curso de Fisioterapia da Faculdade de Pindamonhangaba (FAPI) – Fundação Universitária Vida Cristã (FUNVIC). Orientador: Prof. Dr. Luciano Eustáquio Chaves Gomes, Camilla Tie Fucuda; Malvão, Milena Mantovani Ventilação não invasiva em UTI neonatal: revisão bibliográfica / Camilla Tie Fucuda Gomes; Milena Mantovani Malvão / Pindamonhangaba-SP : FUNVIC Faculdade de Pindamonhangaba, 2015. 34f. : il. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Fisioterapia) FAPI-SP. Orientador: Prof. Dr. Luciano Eustáquio Chaves. 1 Histórico. 2 Fisioterapia. 3 Materiais utilizados. 4 Modos ventilatórios. 5 Indicações e contra-indicações. 6 Vantagens e desvantagens. I Ventilação não invasiva em UTI neonatal: revisão bibliográfica. II Camilla Tie Fucuda Gomes; Milena Mantovani Malvão. CAMILLA TIE FUCUDA GOMES MILENA MANTOVANI MALVÃO VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA EM UTI NEONATAL: revisão bibliográfica Data: ___________________ Resultado: _______________ BANCA EXAMINADORA Prof.__________________________ Faculdade de Pindamonhangaba Assinatura:_____________________ Prof.__________________________ Faculdade de Pindamonhangaba Assinatura:_____________________ Prof.__________________________ Faculdade de Pindamonhangaba Assinatura:_____________________ Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do diploma de Bacharel em Fisioterapia pelo Curso de Fisioterapia da Faculdade de Pindamonhangaba (FAPI) – Fundação Universitária Vida Cristã (FUNVIC). Dedicamos aos nossos pais, que com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que chegássemos até esta etapa de nossas vidas. AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus, por nossas vidas e por tudo que nos possibilitou viver e chegar até aqui. Aos nossos pais, que sempre estiveram ao nosso lado, apoiando e acreditando em nossos sonhos. A nossa família, que é grande parte da nossa fonte de forças nessa longa trajetória de vida, permanecendo sempre presentes na partilha de nossas conquistas e frustrações. Ao professor e orientador Dr. Luciano Eustáquio Chaves, por todo aprendizado, apoio e confiança para que este trabalho se concluísse com sucesso. A todos os professores da Faculdade de Pindamonhangaba (FAPI) – Fundação Universitária Vida Cristã (FUNVIC), que através de toda dedicação e conhecimento compartilhado, nos serviram de profunda inspiração. Aos nossos amigos, pelo convívio, pela parceria, pela compreensão e pela amizade durante esses quatro anos de companheirismo. A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da nossa formação, o nosso muito obrigado. “Mar calmo nunca fez bom marinheiro. Quantas são as direções que o vento pode soprar. Se hoje ele infla as velas de um veleiro, amanhã levanta as ondas que o fazem naufragar.” Traqitana RESUMO O objetivo deste estudo foi descrever a utilização da ventilação mecânica não invasiva (VNI) em recém-nascidos (RNs) com disfunção do sistema respiratório na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), utilizando as técnicas de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) e pressão positiva em dois níveis nas vias aéreas (BIPAP). Trata-se de um estudo de revisão de literatura, no qual foram utilizados artigos científicos em português e inglês de revistas indexadas nos bancos de dados Bireme e Pubmed, nas bases de dados Medline, Scielo e Lilacs, publicados entre os anos de 1995 a 2015. A VNI pode e deve ser iniciada precocemente e o conhecimento de suas técnicas é fundamental para o seu sucesso. Como método de suporte ventilatório para RNs, a VNI é capaz de reduzir o trabalho da respiração e a frequência respiratória (FR), aumentar o volume corrente (VC), melhorar a troca gasosa, promover o repouso da musculatura respiratória e melhor conforto ao paciente. As formas mais utilizadas para se aplicar VNI com pressão positiva nas vias aéreas são a CPAP e BIPAP, onde cada uma atua de forma particular nas disfunções respiratórias. Ambas são altamente eficazes e promovem inúmeros benefícios para o neonato. A VNI é um método de fácil aplicação e remoção, que possui grande eficácia clínica e traz benefícios e vantagens como a diminuição da necessidade de intubação, redução do tempo de hospitalização e uma menor taxa de morbi- mortalidade. Palavras-chave: Ventilação não invasiva. Unidade de terapia intensiva neonatal. Pressão positiva contínua nas vias aéreas. Pressão positiva em dois níveis nas vias aéreas. Fisioterapia. ABSTRACT The aim of this study was to describe the use of noninvasive mechanical ventilation (NIV) in newborn with dysfunction of the respiratory system in the Neonatal Intensive Care Unit (NICU), using the techniques continuous positive airway pressure (CPAP) and bi-level positive airway pressure (BIPAP). It is a literature review study, which was used scientific articles in Portuguese and English journals indexed in databases Bireme and Pubmed, in databases Medline, Lilacs and Scielo, published between the years 1995 to 2015. The NIV can and should be initiated early and the knowledge of its techniques is fundamental for its success. As a method of ventilatory support for newborn, the VNI is capable of reducing the work of respiration and the respiratory frequency (RF), increasing the tidal volume (TV), improving the gas exchange, promoting the respiratory muscle rest and better comfort to the patient. The most used ways to apply NIV with positive pressure on the airways are the CPAP and BIPAP, where each one act on a particular way at the respiratory dysfunctions. Both are highly effective and promote countless benefits for the newborn. The NIV is a method of easy application and removal, which has great clinical effectiveness and brings benefits and advantages such as the decrease of the intubation need, hospitalization time reduction and a smaller morbidity and mortality. Keywords: Noninvasive ventilation. Intensive care units neonatal. Continuous positive airway pressure. Bi-level positive airway pressure. Physical therapy specialty. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Pulmão de aço, VNI por pressão negativa 14 Figura 2: Adaptação da VNI no ventilador Bird Mark7 15 Figura 3: Atuação da fisioterapia respiratória na UTIN 16 Figura 4: Máscara nasal 18 Figura 5: A) Pronga nasal curta. B) Pronga nasal longa 18 Figura 6: A) Lesão leve. B) Lesão moderada. C) Lesão severa 19 Figura 7: Fixação da pronga nasal para VNI 19 Figura 8: Circuito, selo d`água, válvula expiratória e gerador de fluxo para CPAP 20 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 11 2 MÉTODO............................................................................................................ 13 3 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................... 14 3.1 Histórico da ventilação mecânica não invasiva............................................... 14 3.2 Atuação da fisioterapia na ventilação mecânica não invasiva....................... 15 3.3 Materiais utilizados na ventilação mecânica não invasiva............................. 17 3.3.1 INTERFACES....................................................................................................... 17 3.3.2 CIRCUITO, VÁVULA EXPIRATÓRIA OU SELO D`ÁGUA E GERADOR DE FLUXO PARA CPAP........................................................................................... 20 3.4 Modos ventilatórios............................................................................................ 20 3.4.1 CPAP.................................................................................................................... 20 3.4.2 BIPAP (BILEVEL)................................................................................................ 22 3.5 Indicações e contra-indicações.......................................................................... 22 3.6 Vantagens e desvantagens................................................................................. 23 4 DISCUSSÃO....................................................................................................... 25 5 CONCLUSÃO.................................................................................................... 29 REFERÊNCIAS............................................................................................................. 30 11 1 INTRODUÇÃO Segundo o DATASUS, o período neonatal compreende as quatro primeiras semanas de vida do recém-nascido (RN), ou seja, considerado desde o nascimento até os 28 dias completos. Denomina-se período neonatal precoce a primeira semana completa ou os sete primeiros dias de vida, e período neonatal tardio, as três semanas seguintes.1 Em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), considera-se que os recém-nascidos (RNs) integram um grupo de maior risco para o desenvolvimento de diversos distúrbios pulmonares decorrentes das particularidades anatômicas, funcionais e imunológicas do sistema respiratório no período neonatal. Nas últimas duas décadas, o aumento da sobrevida destes indivíduos ocorreu devido ao avanço tecnológico e científico na área da Neonatologia, que permitiu conceder melhor auxílio à saúde desses RNs.2,3 Toda a assistência na UTIN deve enfatizar a minimização das sequelas adquiridas pela prematuridade e suas intercorrências pré, peri e pós-parto.4 Neste contexto, a ventilação mecânica não invasiva (VNI) se destaca como um grande avanço da implementação de novas modalidades de suporte ventilatório, sendo definida como uma técnica que oferece pressão positiva nas vias aéreas sem a utilização de nenhum tipo de prótese endotraqueal (tubos oro ou naso traqueal e cânula de traqueostomia), ou seja, permite aumentar a ventilação alveolar (Va) através de diferentes dispositivos ou interfaces, sendo a pronga nasal a mais utilizada em RNs.2 Durante o uso da VNI, dois modos ventilatórios básicos são utilizados: a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) e a pressão positiva em dois níveis nas vias aéreas (BIPAP). O que os diferencia é que a BIPAP tem a capacidade de gerar dois diferentes níveis pressóricos durante o ciclo respiratório, de tal maneira que na inspiração tem-se uma pressão mais elevada do que na expiração. O CPAP, ao contrário, gera pressões positivas que são iguais tanto na inspiração quanto na expiração.5 Porquanto, essas diferenças entre os recursos se fazem necessárias, pois cada um atua de forma particular na recuperação da função e mecânica respiratória dos RNs.6 Dentro da equipe multidisciplinar, o fisioterapeuta tem se tornado cada vez mais indispensável nos processos de assistência e suporte ventilatório aos RNs, sendo nos dias atuais, considerado o principal membro da equipe na instalação e monitorização da VNI em muitas instituições.2 Logo, é uma assistência que contribui para prevenir, reverter ou diminuir disfunções respiratórias, proporcionando uma maior funcionalidade e o bem estar ao RN.7 12 Os principais objetivos do uso da VNI incluem a diminuição do trabalho respiratório, a melhora das trocas gasosas, a diminuição da necessidade de ventilação mecânica invasiva (VMI) e do tempo de internação hospitalar. Diminui também o risco de displasia broncopulmonar, barotrauma e pneumonia.8 Visto que a VNI possui a finalidade de evitar complicações resultantes do uso da VMI e diminuir as taxas de morbidade e mortalidade em RNs, desde a década de 90, tem-se aumentado o interesse pela utilização dessa modalidade em ambientes como a UTIN. Nestas unidades, o interesse em aplicar a VNI é decorrente dos aspectos relacionados às consequências negativas da intubação traqueal, como por exemplo: a maior taxa de infecção respiratória, maior tempo de internação hospitalar e o aumento dos custos com o tratamento.9 Dentre as vantagens, a VNI conserva a fala, deglutição, alimentação, tosse e a umidificação das vias aéreas.5,9,10 Diante dos benefícios e vantagens deste suporte ventilatório, o objetivo deste estudo foi descrever a utilização da VNI em RNs com disfunção do sistema respiratório tratados em UTIN 13 2 MÉTODO Trata-se de um estudo de revisão de literatura, no qual foram utilizados artigos científicos em português e inglês de revistas indexadas nos bancos de dados Bireme e PubMed, nas bases de dados Medline, Scielo e Lilacs, publicados entre os anos de 1995 e 2015, e site disponibilizado pelo Ministério da Saúde – Governo Federal. Foi realizado um levantamento bibliográfico utilizando as seguintes palavras-chave: ventilação não invasiva, unidade de terapia intensiva neonatal, pressão positiva contínua nas vias aéreas, pressão positiva em dois níveis nas vias aéreas e fisioterapia; as mesmas palavras- chave serão consultadas em inglês, sendo: noninvasive ventilation, intensive care units neonatal, continuous positive airway pressure, bi-level positive airway pressure e physical therapy specialty. 14 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Histórico da ventilação mecânica não invasiva O trabalho pioneiro sobre VNI teve início na década de 30, quando foi descrita a técnica e os benefícios de seu uso.9 Inicialmente, foi aplicada na epidemia de Poliomielite que ocorreu nos Estados Unidos (1930-50), utilizando a ventilação por pressão negativa que consistia na aplicação de pressão subatmosférica externa ao tórax do paciente, como pode ser visto na Figura 1, simulando a inspiração e permitindo a expiração de forma passiva.11 Figura 1: Pulmão de aço, VNI por pressão negativa (Fonte: http://www.ndstudies.org/articles) Já na década de 50, com a evolução da VNI com pressão positiva, como pode ser visto na Figura 2, o interesse pelo suporte ventilatório não invasivo ressurgiue a técnica por pressão negativa foi perdendo seu espaço.9,11 A VNI surgiu como uma alternativa terapêutica.8 É considerada um suporte ventilatório seguro e eficaz, pois exige menos tempo de internação, apresenta baixo custo e menor taxa de mortalidade. Além disso, o paciente preserva a deglutição, a linguagem e os mecanismos de defesa das vias aéreas.12 15 Figura 2: Adaptação da VNI no ventilador Bird Mark 7 (Fonte: http://www.jornaldepneumologia.com.br/detalhe_artigo.asp?id=584) Na Neonatologia, rapidamente o seu uso vem ganhando maior aceitação em lactentes com doença respiratória aguda ou crônica.10 Desde a década de 90, o interesse pela utilização deste método tem aumentado de forma significativa em ambientes hospitalares, principalmente nas terapias intensivas, reconhecendo sua eficácia ventilatória, bem como as suas vantagens e benefícios.9 3.2 Atuação da fisioterapia na ventilação mecânica não invasiva No Brasil, o trabalho da fisioterapia na UTIN teve início na década de 80, com a preocupação de melhorar a sobrevida dos RNs, garantir uma ventilação pulmonar normal e contribuir para a prevenção e tratamento de vários aspectos respiratórios.13 Devido a imaturidade do sistema respiratório, os RNs apresentam grandes riscos para desenvolver complicações, necessitando cada vez mais do apoio de uma equipe multidisciplinar em uma UTIN.14 A fisioterapia é um método terapêutico recente na prática respiratória neonatal,15 sendo 16 inserida na equipe multidisciplinar que oferece cuidados aos pacientes, exerce ampla atuação e se encontra presente em várias partes do tratamento intensivo.13 A principal finalidade dessa assistência é proporcionar através de várias técnicas a diminuição do trabalho respiratório, a conservação das vias aéreas pérvias, a melhora da ventilação pulmonar e da troca gasosa.16 Além disso, ela contribui para prevenir, reverter ou diminuir disfunções respiratórias, proporcionando uma maior funcionalidade e o bem estar ao RN.7 Segundo o Ministério da Saúde (portaria n° 3.432, em vigor a partir de 12/08/1998), toda Unidade de Terapia Intensiva (UTI) deve inserir assistência fisioterapêutica no mínimo 12 horas por dia, com o intuito de reduzir as complicações e o período de internação, reduzindo, de modo, os custos hospitalares.13 A lei determina que a UTI deve possuir uma equipe básica composta por um fisioterapeuta para cada dez leitos ou fração, no período da manhã e da tarde.17 A atuação do fisioterapeuta dentro da UTIN, sendo demonstrada na Figura 3, engloba a avaliação cinética funcional e a execução de aplicações de gases medicinais na VNI, atua no desmame e extubação, além da administração de surfactantes e na insuflação traqueal de gás.18 Figura 3: Atuação da fisioterapia respiratória na UTIN (Fonte: próprio autor) Partindo desse preceito, certifica-se que a fisioterapia é um método terapêutico que vem evoluindo e que possui grande importância na assistência do suporte ventilatório no ambiente hospitalar.19 Nos dias atuais, é considerado o principal membro da equipe na instalação e monitorização da VNI em muitas instituições. O fisioterapeuta deve ajustar e acompanhar a VNI nas UTIs, e sua aplicação requer uma atenção maior, principalmente nas primeiras horas da sua instituição.2,20 17 Portanto, através da utilização adequada dessa modalidade, a fisioterapia consegue restabelecer o padrão respiratório e promover a melhora da dinâmica pulmonar nos RNs, visando sempre à estabilização do quadro clínico do paciente.13 3.3 Materiais utilizados na ventilação mecânica não invasiva Para que a VNI seja realizada, são necessários os seguintes equipamentos e materiais: interfaces, dispositivo para fixar a interface, circuito descartável, válvulas expiratórias ou selo d`água com sistema de Pressão Positiva Expiratória Final (PEEP) e um gerador de fluxo.9 Existem diversos tipos de interfaces, de várias formas e tamanhos, e as mesmas são acopladas à face do RN por meio de fitas elásticas ou, no caso das prongas nasais, através de esparadrapos.8 Além do mais, dependendo do modo ventilatório escolhido para implementar a VNI, pode haver a necessidade do uso de um respirador com capacidade de gerar pressões inspiratória e expiratória, como é o caso do BIPAP. Também pode ser utilizado um umidificador de ar para o aperfeiçoamento da técnica.9 3.3.1 INTERFACES As interfaces são dispositivos que interligam o circuito do ventilador à face do paciente facilitando a entrada do gás pressurizado dentro das vias aéreas. Para a execução da VNI, é fundamental a escolha da interface levando em consideração o formato da face, o conforto do paciente e o tempo de utilização.21 Para o sucesso da terapia, o tamanho e o ajuste adequado da máscara se tornam indispensáveis, para tal fim, existem inúmeros modelos e tamanhos diferentes, inclusive pediátricas. Há dispositivos mais aprimorados que são fabricados com materiais maleáveis, que possuem um suporte nos pontos de maior pressão da face, prevenindo possíveis complicações e ulcerações de pele que podem ser ocasionadas durante a aplicação prolongada da VNI.5 A máscara oronasal, também conhecida como facial, é a interface de primeira escolha e mais utilizada para aplicação da VNI no ambiente hospitalar, devido à rápida correção das trocas gasosas e por promover um maior volume corrente (VC). Já a máscara nasal, demonstrada na Figura 4, é considerada a interface mais confortável ao paciente, porém a 18 resistência das narinas ao fluxo de ar e a presença de vazamento de ar pela boca podem limitar o seu uso em alguns pacientes.21,22 Figura 4: Máscara nasal (Fonte: www.yumpu.com/pt/document/view/14914236/babyflowtm- nasal-cpap) Em Neonatologia, a interface mais utilizada é a pronga nasal, demonstrada na Figura 5, que é um dispositivo constituído de material leve, flexível, menos invasivo e encontra-se em diferentes tamanhos.23 Ao contrário de outros dispositivos, essa interface está associada ao surgimento precoce de trauma nasal, entretanto, ainda é considerado o melhor dispositivo para aplicação da VNI em RNs.24 Figura 5: A) Pronga nasal curta. B) Pronga nasal longa (Fonte: greatgroup.com.tw/en/product_list2.php?mid=164) Apesar das vantagens, os principais danos desse tipo de interface são decorrentes da fixação e do seu posicionamento, que podem causar lesões nas narinas, desconforto e desfiguramento em longo prazo. Estudos classificam as lesões nasais causadas por uso de pronga, em três estágios: leve, moderada e severa, sendo os mesmos demonstrados na Figura 19 6. Leve, caracterizada por um vermelhidão ou hiperemia nasal, moderada, sendo as lesões com presença de sangramento, e severa, as lesões com formação de necrose.23 Figura 6: A) Lesão leve. B) Lesão moderada. C) Lesão severa (Fonte: Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 2010;95:F447–F451. doi:10.1136/F448 adc.2009.179416) O posicionamento e a fixação inadequada da pronga nasal são elementos essenciais para o efeito benéfico e a não formação de lesões, como pode ser visto na Figura 7. Quanto ao posicionamento, é ideal que a pronga não deforme as fácies do RN e não encoste sua ponte no septo nasal, além de não possibilitar a movimentação do dispositivo dentro das narinas. Quanto às fixações, são utilizadas proteções adesivas, como, por exemplo, esparadrapos, fitas hipoalergênicas e tiras de hidrocolóide, com o intuito de promover alívio e prevenir a fricção das prongas com a columela e o septo nasal do RN.23 Figura 7:Fixação da pronga nasal para VNI (Fonte: Próprio autor) Sendo assim, a escolha criteriosa do tamanho correto das prongas, a constante vigilância e a atenção adequada quanto ao posicionamento são indispensáveis para prevenção de injúrias nasais durante a aplicação da VNI.25 20 3.3.2 CIRCUITO, VÁVULA EXPIRATÓRIA OU SELO D`ÁGUA E GERADOR DE FLUXO PARA CPAP O circuito para VNI na UTIN são tubos corrugados flexíveis feitos de plástico. É utilizado para a passagem do fluxo contínuo da mistura de gás (oxigênio e ar comprimido), possui um ramo inspiratório que vem do gerador de fluxo e um ramo expiratório que vai para a válvula expiratória ou selo d`água (gera uma PEEP), demonstrado na Figura 8. O gerador de fluxo pode ser o próprio ventilador mecânico utilizado para ventilação invasiva ou um gerador de fluxo próprio para VNI. Figura 8: Circuito, selo d`água, válvula expiratória e gerador de fluxo para CPAP (Fonte: Próprio autor) 3.4 Modos ventilatórios 3.4.1 CPAP Dentre os modos ventilatórios que se pode aplicar a VNI, a CPAP é a modalidade de primeira escolha e mais utilizada em UTIN.9 Caracteriza-se por promover pressão positiva contínua nas vias aéreas de poucos centímetros de água (cmH2O), mantendo os valores predeterminados durante todo o ciclo respiratório e a respiração realizada inteiramente pelo paciente.2,5,26,27 Nesta modalidade, o princípio da ventilação fisiológica realizado com pressão negativa é modificado para pressão positiva, onde o RN é obrigado a respirar o ar que está contido no circuito, sendo esse, normalmente enriquecido com oxigênio. Durante a fase expiratória, o ar liberado é expelido por uma válvula expiratória a qual possui um sistema graduado de PEEP, que tem por objetivo aumentar o período de troca de oxigênio entre os alvéolos e os capilares.9 21 Como método terapêutico, a CPAP vem sendo amplamente utilizada em diversas doenças respiratórias em neonatos.28 Através da pressão transpulmonar positiva, permite um aumento da capacidade residual funcional (CRF), que é de extrema importância para os RNs, pois funciona como um reservatório de oxigênio durante períodos em que não há fluxo inspiratório, além de intervir no trabalho respiratório.29 Para que seja gerado o modo ventilatório CPAP, existem basicamente dois sistemas: um incorporado ao ventilador mecânico, onde o mesmo possui características de cada fabricante e um sistema construído de maneira artesanal, chamado de selo d’água. Em ambos há a necessidade da utilização de um gerador de fluxo contínuo, um sistema de conexão às vias aéreas e um dispositivo para geração de pressão positiva.29 Na CPAP implementada através do ventilador, as fontes de gás estão ligadas ao aparelho, e o fluxo e a fração inspirada de oxigênio (FiO2) são ajustados por meio de dispositivos específicos para cada parâmetro. A pressão positiva é concedida por meio de uma válvula expiratória no circuito do ventilador mecânico.29 Já na CPAP em selo d’água, os fluxômetros são utilizados juntamente à fonte de oxigênio, misturada ou não com ar comprimido, gerando assim um fluxo contínuo.29,30 O fluxo total é a soma dos fluxos desses gases e a FiO2 é controlada de acordo com a proporção de cada gás contido nessa mistura.29 A fonte de oxigênio passa por um umidificador de ar aquecido através de um circuito respiratório e vai para o RN, dele vai para um recipiente contendo água destilada estéril, onde a parte expiratória distal do circuito está submersa, cujo nível em centímetros corresponde à PEEP gerando assim a pressão de CPAP desejada.29,30 Apesar da CPAP em selo d’água ser um sistema de baixo custo, simples e fácil de ser adaptado em RNs, se não houver a adaptação adequada da interface ou se houver quantidade significativa de escape de ar através do nariz ou boca, o nível de PEEP não é garantido.30 CPAP é um modo ventilatório que proporciona o aumento da oxigenação sem aumentar a Va, pois promove reexpansão de áreas colapsadas, reduz o shunt intrapulmonar, aumenta a superfície de trocas gasosas e, consequentemente, melhora a relação ventilação/perfusão.29 Por fim, seus objetivos também incluem: melhorar a complacência pulmonar, prevenir atelectasias, conservar o surfactante endógeno, estabilizar as vias aéreas, promover a regularidade do ritmo respiratório, aumentar a expansão pulmonar, reduzir a resistência das vias aéreas, diminuir o esforço e estabilizar o padrão respiratório.2,10,26 22 3.4.2. BIPAP (BILEVEL) Nesta modalidade ventilatória a VNI é ofertada através de dois níveis de pressão positiva nas vias aéreas, sendo ajustada uma pressão inspiratória, denominada iPAP (pressão positiva inspiratória) e uma pressão expiratória, chamada de ePAP (pressão positiva expiratória). Durante a aplicação com o BIPAP, na inspiração a pressão é maior e durante a expiração o nível de pressão é menor, sendo possível um melhor controle sobre a ventilação, promovendo maior conforto para o RN.9 A iPAP tem como objetivo reduzir o esforço inspiratório, aumentando o VC e reduzindo a dispneia, além disso, melhora a oxigenação em casos de insuficiência respiratória (IR) de causas pulmonares, cardíacas e neuromusculares. A ePAP tem como objetivo aumentar a CRF, aumentando assim, a PaO2. 9 Portanto, trata-se de um modo ventilatório que assiste à inspiração e, com isso, diminui o trabalho respiratório.5 3.5 Indicações e contra-indicações Nos últimos anos o uso da VNI de pressão positiva em RN teve um aumento considerável, e as indicações para seu uso por tempo prolongado incluem inúmeras doenças obstrutivas e restritivas das vias aéreas, e também a síndrome da hipoventilação central.10 Esta última ocorre de maneira mais grave durante o sono na maioria dos neonatos, sendo assim, o tratamento é oferecido para suprir a ausência do controle automático da respiração.8 As indicações da VNI mais comuns em RNs são a apneia obstrutiva do sono (AOS) e a IR, em consequência das doenças neuromusculares. Além disso, é reconhecido que a maioria das doenças pulmonares restritivas em pediatria também são secundárias as doenças neuromusculares, que geram defeitos genéticos levando muitos RNs a adquirir IR.10 Em AOS, sabe-se que no decorrer dos estágios de sono ativo, há uma perda do tônus muscular da faringe.8 Alguns neonatos possuem predisposição para o estreitamento da mesma, devido alterações anatômicas que são geradas por doenças como Paralisia Cerebral, Síndrome de Down, Pierre- Robin, acondroplasia, anormalidades craniofaciais ou obesidade.8,10 Nesses casos a perda de tônus leva a uma obstrução significativa, o que prejudica as trocas gasosas.8 Dentro das obstruções das vias aéreas inferiores estão a asma e bronquiolite, que são consideradas as causas mais comuns que levam a hospitalizações de RNs. Alguns neonatos não 23 se adaptam ao tratamento medicamentoso, sendo necessária a implementação de VMI. Sendo assim, a VNI tem grande importância para eliminar complicações indesejáveis da ventilação mecânica convencional (VMC), como a instabilidade hemodinâmica, barotrauma, infecções e aumento no tempo de internação.10 Ainda em relação à VMI, quanto maior for o tempo do desmame, maior serão os riscos de complicações. Entretanto, a extubação realizada precocemente e a urgência de reintubação são considerados problemas frequentes em UTIN. Portanto, a implementação precoce da VNI diminui o tempo de desmame, reduzindo assim as complicações da VMI e impedindo a necessidade de reintubação.8 As contra-indicações em relação ao uso da VNI englobam as anormalidades congênitasfaciais ou das vias aéreas, além de cirurgias, traumas e queimaduras faciais,8,10 impedindo assim o uso da máscara ou prongas muito justas, instabilidade cardiopulmonar grave, episódios apneicos intratáveis e pacientes com cirurgia recente do trato gastrintestinal superior, no caso de distensão gástrica.10 Além do mais, está contra-indicada em casos de ausência do reflexo de proteção das vias aéreas,8,10 obstrução total das vias aéreas superiores, hipersecreção, alto risco de broncoaspiração devido casos de vômito ou hemorragia digestiva alta, pneumotórax não drenado, falência orgânica não respiratória que inclui encefalopatia severa, hemorragia digestiva, arritmia cardíaca e instabilidade hemodinâmica.8 3.6 Vantagens e desvantagens Diante dos benefícios que a VNI traz para os RNs, uma das principais vantagens que ela proporciona é a não invasividade. Em comparação a VMI, nesta modalidade terapêutica não há intubação, evitando assim complicações associadas com a colocação de um tubo endotraqueal, o que minimiza a ocorrência de infecções hospitalares e lesões de cordas vocais ou traquéia.8,31 Além disso, a VNI com pressão positiva retira o trabalho respiratório que é imposto pelo tubo endotraqueal.8,31 Em relação ao desmame, na VNI não há a necessidade de reintubação associada a extubação precoce.8 O desmame e a extubação na VMI é mais difícil por haver a preocupação em relação a necessidade de reintubação. Já na VNI, é bem mais simples, pois se caso a sua retirada não for eficaz, basta reinstalar a máscara.5,8,31 A duração média da VNI é menor do que a VMI, onde os fatores que podem estar envolvidos na redução dessa duração são: intervenção mais precoce, índices menores de 24 sedação e analgesia, redução da incidência da atrofia da musculatura respiratória, eliminação do trabalho respiratório e menor incidência de complicações, particularmente infecções.5,8 Dentre as vantagens, a VNI conserva a fala, deglutição, alimentação, tosse e a umidificação das vias aéreas.5,9,10 Ela também reduz os índices de morbi-mortalidade que ocorrem devido a permanência prolongada na UTIN.9 No entanto, a VNI possui suas desvantagens, e a mais comum entre elas é a necrose de pele facial, que ocorre devido a pressão da máscara sobre a pele do RN.8 Além disso, se a máscara estiver mal posicionada, o ar pode vazar ao redor da boca ocasionando em uma ventilação inadequada juntamente com irritação dos olhos. Podem ocorrer também escoriações quando se faz o uso de prongas nasais.10 Devido aos fluxos intensos de ar, pode haver o ressecamento nasal, o que causa secreções espessas. Podendo ainda ocorrer a aerofagia com distensão gástrica, o que pode causar a diminuição da mobilidade diafragmática.10 Também pode ocorrer a hipoxemia, devido a retirada da máscara quando não há oferta suplementar de oxigênio.8 Além do mais, a VNI possui suas desvantagens em relação a VMI, como uma correção mais lenta dos distúrbios de troca gasosa, necessidade de um maior número de profissionais à beira do leito para sua implementação, problemas relacionados as interfaces, como vazamentos e inadaptação e dificuldades no acesso as vias aéreas inferiores, sobre tudo em pacientes com hipersecreção brônquica. Além disso, o paciente ideal para a VNI necessita estar consciente, hemodinamicamente estável e não ter dificuldades em adaptar-se a máscara.9,31 Ademais, em pacientes com IR que não são submetidos à intubação, a taxa de mortalidade é maior, em razão dos mesmos acabarem evoluindo com parada respiratória.8 25 4 DISCUSSÃO A VNI é uma modalidade terapêutica muito utilizada nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTINs) como método de suporte ventilatório para RNs capaz de reduzir o trabalho da respiração e a frequência respiratória (FR), aumentar o VC, melhorar a troca gasosa, promover o repouso da musculatura respiratória e melhor conforto ao paciente.22 Logo, existem duas formas de se aplicar pressão positiva de forma não invasiva nas vias aéreas: CPAP e BIPAP, onde cada um atua de forma particular na recuperação da função e mecânica respiratória dos RNs.6 Barreiro e Gemmel identificaram em um estudo que o uso de VNI reduz a necessidade de intubação, diminui a taxa de mortalidade e o tempo de internação hospitalar.32 Segundo Parreira e Carvalho, em um grupo de pacientes foi observada uma redução nas taxas de infecção hospitalar e das complicações relacionadas a VMI. Para eles, por ser uma técnica com baixas taxas de complicações, a VNI pode e deve ser iniciada precocemente e sua falha, também deve ser reconhecida precocemente. O conhecimento das técnicas e a motivação da equipe são pontos fundamentais para o sucesso da VNI.33 Por outro lado, Keenan et al. não encontraram em seus estudos esses tais benefícios em seus pacientes.34 Contudo, Rahal et al. verificaram que a VNI vem sendo considerada uma boa alternativa em relação à VMC, a qual está associada a complicações como: pneumonias nosocomiais, ulceração, inflamação, edema e hemorragia submucosa. Os autores observaram que este método pode ser aplicado em diferentes fases da IR, no desmame da VMI ou na redução do tempo desta e até mesmo a reintubação.35 Em um dos primeiros estudos sobre VNI na IR hipoxêmica, Antonelli et al. compararam 64 pacientes com insuficiência respiratória aguda (IRpA) de diversas etiologias que foram submetidos à VMI ou VNI. O uso da VNI foi tão efetivo quanto à ventilação convencional para a correção da hipoxemia. Porém, o grupo VNI apresentou menor tempo de ventilação mecânica e alta mais precoce da UTI, além de apresentar menos complicações associadas ao suporte ventilatório.36 Fortenberry et al. aplicaram VNI em 28 pacientes com IR hipoxêmica e concluíram que a VNI pode ser usada com segurança em crianças com necessidade de melhorar a oxigenação, com gravidade da doença de leve a moderada.37 26 A maior série de pacientes pediátricos com IR tratados com VNI até o momento foi descrita recentemente por Essouri et al., onde foi realizado um estudo com 114 pacientes que foram incluídos em cinco categorias diferentes. O sucesso no uso da VNI em seu grupo de pacientes dependeu muito da etiologia e da gravidade da doença. Porém, isso não é surpreendente, pois dados em adultos mostraram que a seleção de pacientes é importante no uso bem-sucedido da VNI.38 Em um estudo realizado com 53 pacientes, Holanda et al. analisaram a eficiência da VNI na IRpA objetivando identificar fatores associados ao sucesso ou falha deste método, e caracterizar os padrões de resposta à VNI. Em 37 episódios (62%), houve sucesso sem intubação (grupo sucesso, GS), enquanto em 23 ocasiões (38%), os pacientes foram intubados (grupo falha, GF). A complicação mais frequente foi lesão de pele no ponto de contato da interface com o nariz. A VNI foi eficiente no tratamento da IRpA em cerca de dois terços das vezes. Pacientes mais graves e níveis relativamente mais baixos da iPAP associaram-se a falha. A alta mortalidade (10,43%) nos casos de falha justifica esforços para aperfeiçoar sua utilização e ao mesmo tempo para reconhecer precocemente suas falhas, evitando-se protelar a intubação traqueal. Os mesmos autores concluem que o uso da VNI deve seguir critérios rigorosos quanto a: indicação, seleção dos pacientes e modo de uso.31 Estudos com um grupo misto de pacientes com doenças neuromusculares constataram que a VNI melhorou a gasometria diurna e a resposta ventilatória ao CO2, mas não melhorou a mecânica pulmonar ou a força dos músculos respiratórios. Já Duiverman et al. apud Loh et al., em uma revisão com 114 pacientes adultos com doenças pulmonaresrestritivas, demonstrou que a VNI melhorou a gasometria diurna e a função pulmonar.10 Existem alguns relatos de casos pediátricos sobre o uso bem sucedido da VNI em doenças hematológicas malignas e IRpA.10 O estudo de Essouri et al. mencionou 12 pacientes oncológicos com IR tratados com VNI, concluindo que a taxa de sucesso chegou a 92% e apenas um paciente necessitou de intubação.38 Em um estudo prospectivo realizado dentro de uma Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, Nunes et al. analisaram a eficácia da VNI em crianças com IRpA ou crônica, entre novembro/2005 e abril/2008. Foram analisadas 113 crianças, com idade média de 9,4 ± 26,2 meses, que foram submetidas à VNI entre novembro/2005 e abril/2008, onde foram avaliados os seguintes parâmetros: FR, frequência cardíaca (FC), saturação periférica de oxigênio (SatO2) e gasometrias capilares antes e uma, duas, seis, 12 e 24 horas após o início de VNI. A VNI foi aplicada em 116 episódios através de modalidades de CPAP (63 episódios) e/ou BIPAP (53 27 episódios). Sendo assim, os autores concluem que a VNI é um método com muito poucos riscos em lactentes e crianças com IRpA, sendo capaz de prevenir um número importante de doentes de agravamento e/ou necessidade de VMI.39 Em pediatria, Bernet et al. relataram que de uma série de 11 pacientes que foram extubados e submetidos à VNI após cirurgia cardíaca, sete responderam bem à VNI (64%) e quatro precisaram ser reintubados. No entanto, não ficou claro no relato se os pacientes foram submetidos à CPAP ou BIPAP.40 Em outro estudo, Guilleminalt et al. analisaram 74 crianças com distúrbio de sono por obstrução de via aérea superior, sendo que 72 foram tratadas com CPAP com sucesso.41 Entretanto, Morley et al. constataram que apesar da CPAP poder ser utilizada em prematuros extremos, tal modalidade não reduz significativamente a mortalidade por displasia broncopulmonar (DBP), quando comparado com a intubação orotraqueal, sugerindo assim, que a VNI precoce em RN com prematuridade extrema pode não ser tão vantajosa em relação à VMI.42 Aguiar et al., compararam a eficácia entre a CPAP e a BIPAP como o principal modo de VNI em 220 neonatos prematuros, com idade gestacional (IG) entre 27 semanas e 32 semanas e seis dias. Este estudo controlado randomizado, foi realizado entre maio/2011 e março/2013 em duas UTINs de Lisboa, Portugal. Dentre os RNs, 109 receberam CPAP e 111 BIPAP, onde 18,3% do grupo CPAP necessitaram de VMI e outros 14,4% no grupo BIPAP. Sendo assim, foi concluído que ambos são eficazes e seguros como modo primário de ventilação em prematuros entre 27 semanas e 32 semana e seis dias sem complicações importantes. Porém, em um subgrupo de 30 semanas a 32 semanas e seis dias observou-se melhores resultados usando BIPAP.43 Essouri et al. relataram uma série de dez lactentes com obstrução grave das vias aéreas superiores secundária à laringomalácia (n=5), traqueomalácia (n=3), hipoplasia traqueal (n=1) e sequencia de Pierre-Robin (n=1). Todos os dez pacientes foram distribuídos aleatoriamente para o grupo BIPAP ou grupo CPAP, e todos apresentaram uma redução significativa no esforço respiratório, bem como uma queda nas pressões esofágica e transdiafragmática. Além disso, apenas a CPAP teria sido suficiente para desobstruir as vias aéreas sem a necessidade de aumentar o esforço respiratório.37 Em um estudo quase experimental do tipo antes e depois, Michelin et al, avaliaram as variáveis hemodinâmicas em RNs prematuros os quais foram submetidos à VNI por máscara facial. Foram avaliados 14 RNs prematuros com IG < 37 semanas, de ambos os sexos, sendo 28 os mesmos avaliados antes, durante, imediatamente após, 30 e 60 minutos após a aplicação da VNI. Foram coletadas FC, pressão arterial (PA), pressão arterial média (PAM) e SatO2, sendo observada melhora significativa da SatO2 quando os momentos antes e durante a aplicação da VNI foram comparados. Foi concluído que a VNI traz benefícios aos RNs prematuros, devido ao aumento da SatO2 e sem promover instabilidade hemodinâmica, pois houve manutenção da FC e PA similar a basal durante e após a sua aplicação.44 Biazus et al., em um relato de caso, mostraram uma experiência positiva no desmame de uma RN prematura, que de início apresentou moderada atelectasia à direita. Após seu nascimento, a mesma assumiu ventilação espontânea efetiva, a qual foi mantida em CPAP. Quando completou 21 dias de vida, foi conduzida a incubadora e submetida à VMI. Após mais ou menos um mês, foi extubada e mantida em BIPAP. Posteriormente à sua extubação apresentou importante atelectasia nos dois terços inferiores do pulmão esquerdo, devido a uma paralisia diafragmática unilateral. A equipe da cirurgia pediátrica orientou aguardar para que se pudesse observar se iria haver ou não evolução pulmonar. Caso não houvesse evolução e ainda existisse permanência de áreas atelectasiadas, haveria indicação de cirurgia. Porém, a VNI através de CPAP e BIPAP, favoreceu a reexpansão pulmonar das aéreas atelectasiadas, sendo possível realizar o desmame da mesma e a manutenção do bebê em ar ambiente e, posteriormente, alta hospitalar com a bebê apresentando padrão ventilatório eficaz.45 Contudo é válido destacar que a VNI é uma assistência que promove contribuição na prevenção, reversão ou diminuição de diversas disfunções respiratórias. Além de diminuir o trabalho respiratório, melhorar as trocas gasosas, reduzir a necessidade de VMI e o tempo de internação. 29 5 CONCLUSÃO Diante da realização do presente estudo foi possível concluir que a ventilação mecânica não invasiva aplicada na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal como suporte ventilatório vem crescendo de forma significativa nos últimos anos. Além de ser um método de fácil aplicação e remoção, possui grande eficácia clínica e trazem benefícios e vantagens como a diminuição da necessidade de intubação, redução do tempo de hospitalização e uma menor taxa de morbi- mortalidade, utilizando ainda recursos que mantêm a fala, a deglutição, permitem a expectoração de secreções e preservam as funções de defesa do aparelho muco ciliar. 30 REFERÊNCIAS 1. BRASIL. [HOMEPAGE na internet]. Ministério da Saúde - Governo Federal. DATASUS. 2015 [acesso em 12 outubro 2015]. Disponível em: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/definicoes.htm 2. Leão EVV, Vieira MEB, Pereira SA. Perfil da utilização do CPAP na UTI neonatal e o protagonismo do fisioterapeuta. Revista Movimenta ISSN. 2013;6(1). 3. Oliveira CHY, Moran CA. Estudo descritivo: ventilação mecânica não invasiva em recém-nascidos pré-termo com síndrome do desconforto respiratório. ConScientiae Saúde. 2009;8(3):485-9. 4. Rodrigues JLV, Araujo MVUDM. 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