Buscar

Fundamento e Legitimidade do Direito de Punir

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 136 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 136 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 136 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” 
FACULDADE DE HISTÓRIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JULIANA QUEIROZ SILVESTRE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A LEGITIMIDADE DO DIREITO DE PUNIR EM DECORRÊNCIA DO 
NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES CONSTITUCIONAIS PELO 
ESTADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA 
2008
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JULIANA QUEIROZ SILVESTRE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A LEGITIMIDADE DO DIREITO DE PUNIR EM DECORRÊNCIA DO 
NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES CONSTITUCIONAIS PELO 
ESTADO 
 
 
 
Dissertação apresentada à Faculdade de História, 
Direito e Serviço Social, da Universidade Estadual 
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para a obtenção do 
título de Mestre em Direito. Área de Concentração: 
Direito Obrigacional Público e Privado. 
 
Orientador: Prof. Dr. José Carlos Garcia de Freitas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRANCA 
2008 
JULIANA QUEIROZ SILVESTRE 
 
 
 
 
 
 
 
A LEGITIMIDADE DO DIREITO DE PUNIR EM DECORRÊNCIA DO 
NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES CONSTITUCIONAIS PELO 
ESTADO 
 
 
Dissertação apresentada à Faculdade de História, Direito e Serviço Social, da 
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para a obtenção do título de 
Mestre em Direito. Área de Concentração: Direito Obrigacional Público e Privado. 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
 
Presidente: _________________________________________________________________ 
Prof. Dr. José Carlos Garcia de Freitas, UNESP 
 
 
 
 
1º Examinador: ____________________________________________________________ 
Prof(a). Dr(a). Jete Jane Fiorati 
 
 
 
 
2º Examinador: ___________________________________________________________ 
Prof. Dr. Euclides Celso Berardo 
 
 
 
 
 
Franca, _____ de ____________________ de 2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais Antonio e Carmelina (in memorian), 
Aos meus irmãos Mara, Fernando, Ricardo e Flávio, 
À minha tia Cida, 
Minha gratidão, meu respeito e meu amor. 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
Ao Prof. Dr. José Carlos Garcia de Freitas, estimado filósofo, professor e amigo, pela 
orientação neste trabalho e pela humildade em partilhar sua imensa sabedoria. 
 
À Laura e Pádua pela valiosa cooperação, e aos demais funcionários da Faculdade de 
História, Direito e Serviço Social da UNESP, que qualificam o serviço público e o ensino 
superior. 
 
À minha amiga Érika por ter compartilhado todos os passos de desenvolvimento deste 
trabalho. 
 
Ao meu namorado, companheiro e amigo Rodrigo pelo carinho, estímulo, 
compreensão e paciência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O mais forte nunca é suficientemente forte para ser 
sempre o senhor, senão transformando sua força em 
direito e a obediência em dever. 
 
Jean-Jacques Rousseau 
SILVESTRE, Juliana Queiroz. A legitimidade do direito de punir em decorrência do não 
cumprimento das obrigações constitucionais pelo Estado. 2008. 134f. Dissertação 
(Mestrado em Direito) – Faculdade de História, Direito e Serviço Social, Universidade 
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2008. 
 
 
RESUMO 
 
Uma das mais destacadas funções do Estado é o exercício do controle social. Para tanto, o jus 
puniendi, entendido como uma parcela do poder do Estado atua como instrumento de tal 
controle e constitui um dos pilares de equilíbrio do Estado Democrático de Direito. Isto 
porque o Direito Penal pode ser considerado como o Direito a atuar em última instância nas 
relações sociais; ou seja, antes de punir qualquer infrator do Ordenamento Jurídico, o Estado, 
por outros meios, jurídicos e políticos, deve zelar pela prevenção de delitos. Em termos 
jurídicos, o Estado, como pessoa jurídica, também está submetido ao princípio da legalidade 
(art. 5°, inciso II, CF), em que apenas a norma legal – princípios e regras - é capaz de exigir 
determinado comportamento de pessoas, que ficam adstritas à sua observância e 
cumprimento. Uma vez adotado o modelo Democrático de Direito (CF, art. 1°, caput), nosso 
Estado, além de respeitar a legalidade - o “breque” de seu poderio - deve atuar legitimamente 
na esfera social, nos moldes estabelecidos pela Constituição Federal. Assim, o artigo 3° do 
Texto Constitucional estabelece quais os objetivos fundamentais da República Federativa do 
Brasil, quais sejam: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o 
desenvolvimento social; erradicar a pobreza e a marginalização, reduzindo as desigualdades e; 
promover o bem de todos, sem quaisquer preconceitos. Dessa forma, no plano político, o 
Estado, para atingir seus objetivos, deve cumprir as obrigações constitucionais que o Poder 
Constituinte dispôs no Capítulo I do Título II, intitulado “Dos Direitos e Deveres Individuais 
e Coletivos” - lembrando que os deveres estatais neste não se esgotam, permanecendo 
difundidos em todo Texto Constitucional. Estas obrigações ou deveres constituem uma teia, 
sendo cada intersecção desta correspondente a um princípio constitucional, que amarra e 
vincula todas as outras normas à sua observância. Podemos dizer, destarte, que o fundamento 
dos deveres constitucionais se assenta nos princípios que, por sua vez, encontram-se no mais 
alto patamar do conjunto das normas jurídicas. Os princípios constitucionais têm o condão de 
ditar quais as “regras do jogo”, ou seja, veicular o modus operandi do Estado Democrático. 
Portanto, os princípios são normas jurídicas, aptos a produzirem efeitos (aplicação imediata) 
na esfera social, além de ocuparem a mais alta hierarquia das leis. O problema das obrigações 
constitucionais – normas programáticas - repousa na efetividade de seus comandos o que, 
conseqüentemente, lança uma reflexão sobre a questão da legitimidade do poder estatal. 
Satisfeitas as obrigações constitucionais, ou mesmo, empenhando-se para a realização das 
mesmas, o Estado legitima o exercício de seu poder e, conseqüentemente, também legitima e 
torna justa a aplicação do jus puniendi a qualquer dos indivíduos. A legitimidade, neste caso, 
é questionada acerca do exercício de poder do Estado. Não se discute a questão da 
legitimidade do poder do Estado – no caso, do jus puniendi – em sua origem, o que é pacífico; 
mas esta legitimidade pode se perder em decorrência das práticas ou omissões do Estado que 
violam o conteúdo material e valorativo da Constituição. Destarte, o poder legítimo, neste 
caso, é aquele exercido de forma justa, no compasso dos princípios e diretrizes constitucionais 
e nos moldes das obrigações constitucionais. 
 
Palavras-chave: legitimidade. direito de punir. obrigações constitucionais. Estado. Democracia. 
 
SILVESTRE, Juliana Queiroz. La legitimità del Diritto di punire in decorrenzia del non 
òbblighi costituzionali per lo Stato. 2008.134 foglie. Dissertazione (Maestria in Diritto) - 
Facoltà di Storia, Diritto ed Servizio Sociale, Università Statale Paulista "Julio de Mesquita 
Filho", Franca, 2008. 
 
 
RIASSUNTO 
 
Una delle più distacata funzioni dello stato è il esercizio del controlo sociale. Per tanto, il jus 
puniendi, intentuto come una particella del potere dello stato attua come strumento di tale 
controlo ed costitue uno dei pestari dell’equilibrio dello Stato Democràtico di Diritto. Questo 
perchè il Diritto Penale poteessere considerato come il diritto che fà attuare in ùltima istanza 
nelle relazioni; o sarai, dianzi di punire qualùnque trasgressore del Ordinamento Giuridico; lo 
stato, per l’altri mezzi, giuridici ed politici, debbe zelare per la prevenzione di deliti. In 
conclusione giurdici, lo stato, come persona giuridica, anche questo sottomesso al principio 
della legalità (art.5, inciso II, CF) nella quale appena la norma legale – principi ed regre è 
capace da esigere determinata condota di persone che restano ristretto alla sua osservancia e 
complimento. Una vece adottato il modelo Democratico di Diritto (CF, art 1º - caput) nostro 
stato, oltre da rispettare la legalità – il “freno” dello suo dominio – debbe attuare 
legitimamente nella sfera sociale, nei tagli stabiliti per la Costituizione Federale. Così, il 
articolo 3º del testo costituzionale stabili quali i oggetivi fondomentali della Repubblica 
Federativa del Brasile, a quali sono costituire una società libera, giusta ed solidaria; garantire 
il svolgimento sociale; sradicare la povertà e la marginalizazione, ridotto le desiguaglianza e 
promovere il bene di tutti, senza qualùnque preconcetti. Codesta forma, nel piano politico, lo 
stato, per attingere suoi oggetivi debbe soddisfare le obbligazioni costituzionali che il potere 
costituinte dispone nel Capìtolo I del Tìtolo II, entitolato “Dei Diritti ed Doveri Individuali ed 
Coletivi” – ricordando che i debberi statali in questo non si esaureno, permanecendo 
diffondite in tutto il testo costituzionale. Queste obbligazioni o debberi constitueno una 
struttura, sendo ogni intersezione di questa corrispondente a uno principi constituzionale che 
legga ed vincola tutte l’oltre norme alla sua osservanza. Potteremo dire, così che il 
fondamento dei debberi constituzionali si fà sedere nei principi che, per la sua vece, si 
incontrano nel più alto pianerottolo del congiunto delle norme giuridiche. I principi 
costituzionali hanno il privilegio di attare quali le “regre del gioco”, o debbe essere veicolare 
il modus operandi dello Stato Democratico. Pertanto, i principi sono norme giuridiche capaci 
a produrreno efetti (applicazione immediata) nella sfera sociale, oltre occupareno la più alta 
gerarchia delle leggi. Il problema delle obbligazioni costituzionali – norme programatiche – 
ripousa nella efetività di suoi comandi o che, consequentemente, getta una reflessione sopra 
la questione di legitimità del potere statale. Soddisfate le obbligazioni costituzionali, o 
medesimo impegnandosi per la effetuazione delle stessa cose, il stato legìttimo il esercizio 
dello suo potere e consequentemente, anche legittima e volge l’applicazioni del jus puniendi a 
qualùnque degl’individui. La legitimità in questo caso, è questionato intorno dell”esercizio 
del potere dello stato. Non si discutere la questione della legitimità del potere – nel caso, del 
jus puniendi – in sua origine, che è pacìfico; ma questa legitimità pote si perdere in 
decorrenza delle pratiche o ommessioni dello stato violano il contenuto materiale ed 
valorativo della costituzione. Così, il potere legittimo , in questo caso, è quello esercizio di 
forma giusta, nel compasso dei principi e direttrice constituzionali e nei moldi delle 
obbligazioni costitucionali. 
 
Parole chiave: Legimità. Diritto di punire. Obbligazioni constituzionali. Stato. Democrazia. 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................11 
 
CAPÍTULO 1 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
1.1 Origem e formação do Estado......................................................................................... 15 
1.2 Evolução histórica............................................................................................................ 17 
1.3 Conceito.............................................................................................................................19 
1.4 Finalidade......................................................................................................................... 20 
1.5 O Estado e o poder........................................................................................................... 22 
1.6 Origens do Estado Democrático..................................................................................... 26 
1.7 Estado de Direito e Estado Constitucional.................................................................... 29 
1.8 Estado Democrático de Direito....................................................................................... 31 
1.9 Idéia atual de Estado Democrático de Direito............................................................... 32 
 
CAPÍTULO 2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
2.1 Os princípios fundamentais – conceitos......................................................................... 34 
2.2 Normatividade e evolução dos princípios...................................................................... 37 
2.3 Princípios, normas e regras............................................................................................. 38 
2.4 Importância dos princípios e sua superioridade em relação às regras ...................... 41 
2.5 Natureza e características dos princípios constitucionais ........................................... 43 
2.6 Tipologia dos princípios .................................................................................................. 46 
2.7 Princípios na Constituição de 1988 ................................................................................ 47 
2.8 Interpretação dos princípios constitucionais ................................................................ 50 
2.9 O Direito Natural e os princípios constitucionais ........................................................ 52 
2.10 A atuação prática dos princípios constitucionais ....................................................... 54 
 
CAPÍTULO 3 OBRIGAÇÕES CONSTITUCIONAIS 
3.1 Considerações preliminares ........................................................................................... 58 
3.2 Conceito e fundamentos .................................................................................................. 59 
3.3 Antecedentes dos deveres fundamentais ....................................................................... 61 
3.4 Deveres nas Constituições brasileiras ........................................................................... 64 
3.5 Deveres na Constituição de 1988 ................................................................................... 65 
3.6 Tipologia, titulares e destinatários das obrigações constitucionais............................. 67 
3.7 Relação entre obrigações constitucionais e direitos fundamentais.............................. 68 
3.8 Relação entre obrigações constitucionais e princípios constitucionais....................... 69 
3.9 Eficácia e aplicabilidade dos deveres fundamentais..................................................... 70 
 
CAPÍTULO 4 O DIREITO DE PUNIR DO ESTADO 
4.1 A vida humana em sociedade: origens do delito e da pena ......................................... 72 
4.2 Evolução do jus puniendi e do Estado ........................................................................... 73 
4.2.1 Período da vingança privada ......................................................................................... 74 
4.2.2 Período da vingança divina ........................................................................................... 75 
4.2.3 Período da vingança pública.......................................................................................... 76 
4.2.4 Período Humanitário ..................................................................................................... 79 
4.2.5 Período Criminológico...................................................................................................81 
4.2.6 Período Contemporâneo ................................................................................................ 82 
4.3 Fundamentos do Direito de Punir ................................................................................. 84 
4.4 O Direito de punir no Estado Democrático de Direito ................................................ 88 
 
CAPÍTULO 5 LEGITIMIDADE 
5.1 Antecedentes históricos ................................................................................................... 93 
5.2 Conceitos de legitimidade ............................................................................................... 97 
5.3 Legitimidade e legalidade ............................................................................................. 101 
5.4 Teoria da racionalidade progressiva de Max Weber ................................................. 105 
5.4.1 Dominação legal-racional.............................................................................................106 
5.4.2 Dominação tradicional..................................................................................................107 
5.4.3 Dominação carismática.................................................................................................107 
5.5 Legitimação pelo procedimento de Niklas Lumhann ................................................ 108 
5.6 Legitimidade em Habermas ......................................................................................... 111 
5.7 Legitimidade e Constituição Dirigente para Canotilho ............................................. 113 
5.8 Legitimidade centrífuga.................................................................................................116 
5.9 Ética e Legitimidade ..................................................................................................... 119 
5.10 Legitimidade e Justiça .................................................................................................121 
5.11 Legitimidade e Direito de Punir .................................................................................124 
 
 
CONCLUSÃO.......................................................................................................................128 
 
REFERÊNCIAS....................................................................................................................130 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A questão do primado da Constituição como norma fundamental do Estado, 
garantindo aos indivíduos direitos fundamentais, tem suas raízes no século XVIII e XIX, 
junto à consolidação dos regimes liberais nos Estados Unidos e na Europa pós-
revolucionários. A idéia inicial foi desafiar os poderes dos monarcas, limitando-os, na medida 
em que estes foram reduzidos à categoria de órgão do Estado; em contrapartida, sobreveio a 
soberania popular que concedeu importância ao povo, agora figurando como um dos 
elementos do Estado. Embora liberais, as Constituições não eram, ainda, democráticas. 
O Estado Democrático moderno nasceu, destarte, das lutas contra o absolutismo, 
sobretudo através do reconhecimento dos direitos naturais da pessoa humana - daí a grande 
influência jusnaturalista neste período. Declarou-se, pois, que os homens nascem, são iguais 
perante a lei e permanecem livres. Como finalidade de uma sociedade política, aponta-se a 
conservação de direitos naturais e indeclináveis aos homens, quais sejam: a liberdade, a 
propriedade e a segurança. Todos os cidadãos passaram a ter o direito de participar, direta ou 
indiretamente, da formação da vontade geral. O Estado, neste sentido, submetendo-se ao 
Direito, tornou-se, também, sujeito de direitos e deveres. 
No Brasil, a Constituição de 1934 foi a primeira a elencar os direitos sociais ou de 
segunda geração, tendo como fonte inspiradora a Constituição da Alemanha de Weimar de 
1919. Passados alguns anos de autoritarismo e ditadura, sobreveio a Constituição Federal de 
1988, prolixa e analítica, não hesitando ao prever todos os direitos e deveres individuais e 
coletivos, além de estabelecer metas a serem alcançadas pelo Governo. Neste estágio, a 
Constituição passou a ser um instrumento de governo, uma vez que confere legitimidade ao 
poder estatal, limitando-o e submetendo-o à observância e cumprimento dos comandos 
constitucionais. 
Assim, a atual Constituição do Brasil, ao subdividir o Título II (Dos Direitos e 
Garantias Individuais), nomeou o Capítulo I: Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos. 
Cabe ao Estado, portanto, o dever constitucional de respeitar tais direitos. Porém, não há, 
neste Título, qualquer dever discriminado, entendendo grande parte dos doutrinadores que se 
encontram esparsos e implícitos na totalidade do Texto Constitucional. 
A esses deveres inseridos, pois, no texto constitucional, alguns doutrinadores 
chamam “deveres fundamentais” e, outros, de “obrigações constitucionais”. Podemos dizer 
que as obrigações constitucionais constituem uma categoria especial de deveres jurídicos, em 
que o Estado, respeitando a dignidade humana (um dos fundamentos da República Federativa 
do Brasil, segundo o artigo 1°, III), atua com as finalidades primordiais de tutela da Ordem 
Pública e de realização do bem comum. 
O fundamento de validade das obrigações constitucionais se encontra nos 
princípios constitucionais, petrificados pela Constituição Federal (art. 60, § 4°, IV), jamais 
podendo ser suprimidos. Disto decorre que o não cumprimento de quaisquer das obrigações 
constitucionais implica na violação de um princípio constitucional por parte do Estado. Surge 
para o Estado, destarte, o dever como imperativo ético de cumpri-las, providenciando as 
condições materiais de aplicabilidade. 
Somente através de leis lato sensu, devidamente elaboradas de acordo com 
processo legislativo previsto pela Constituição, podem ser criadas obrigações para o indivíduo 
e para o Estado, pois aquelas são expressão da vontade geral do povo. A Constituição Federal, 
uma vez positivada, é a força motriz do Estado, contendo todas as suas diretrizes políticas, 
econômicas e sociais. A “arte de governar” deve ser inspirada em princípios éticos, mas, 
sobretudo, não pode o Estado abandonar as regras racionais que lhe são próprias, colocando 
em risco o princípio da segurança jurídica. 
Ao conceder esses direitos aos indivíduos, a Constituição confere deveres aos 
Poderes Públicos, compondo, pois, uma relação obrigacional; o Estado (sujeito passivo) se 
propôs a fazer ou não fazer qualquer coisa (viabilizar o acesso à educação, trabalho, moradia, 
dentre outros) em favor da população (sujeito ativo). O inadimplemento do Estado implicaria 
na reparação do prejuízo que causara aos indivíduos da sociedade. Qual seria a 
responsabilidade do Estado inadimplente? 
O Estado brasileiro apresenta atualmente problemas de adequação das normas 
constitucionais às reais necessidades de seus cidadãos, gerando a sensação de ineficácia do 
texto constitucional. Ocorre que os textos constitucionais devem ser a expressão da vontade e 
dos ideais do povo, revelando a identidade constitucional destes sujeitos e devendo, portanto, 
ter sua participação direta quando de sua elaboração. Tal fato repercute gravemente em 
questões como legitimidade do poder, sua representatividade e eficácia da norma 
constitucional. 
A observação das realidades sociais, culturais e econômicas denuncia as 
condições de sobrevivência oferecidas pelo Estado aos cidadãos. Neste caso, “cidadão” não 
seria o termo correto, mas sim, súditos, desprovidos, parcialmente, de liberdade ede direitos. 
Um Estado que primasse pelo cumprimento das obrigações constitucionais proporcionaria a 
todos, igualmente, condições para o pleno desenvolvimento social, cultural e espiritual. 
Assim, o poder de punição do Estado surge como uma das mais destacadas 
funções do Direito, qual seja, o exercício do controle social e a defesa da sociedade. No caso 
de um Estado Democrático de Direito, pressupõe-se um controle limitado à estrita 
observância à legalidade constitucional, voltado à preservação da sociedade. A segurança é, 
pois, um dos princípios constitucionais presentes no caput do artigo 5° do Texto 
Constitucional, ao lado da vida, liberdade, igualdade e propriedade. São princípios que, além 
de invioláveis, devem ser garantidos pelo Estado aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País. 
É assim que o jus puniendi, no entanto, só pode ser exercido se respeitadas certas 
limitações constitucionais, legais e dogmáticas dentro do Estado Democrático de Direito, tais 
como os princípios da legalidade, da anterioridade, da irretroatividade da lei mais severa, 
dentre outros. Este direito de punir, no entanto, gera uma obrigação para o Estado que, diante 
de uma infração de natureza criminal, tem um dever de punir em nome da preservação da 
sociedade. O dever de punir encontra seu fundamento na própria Constituição, que submete 
todos (princípio da isonomia), inclusive os Poderes Públicos, à observância da lei (princípio 
da legalidade). Assim, o fato de os indivíduos possuírem direitos fundamentais gera um dever 
para o Estado de torná-los concretos. Numa visão utilitarista, como a Constituição resguarda 
os direitos individuais (que exprime uma ética de intenção), cabe ao Estado a voluntariedade 
de materializá-los (ética de ação), sob “pena” de o Estado perder o direito de exigir a 
contraprestação social. Assim, o Estado só terá o poder – de fato - de punir quando cumprir 
suas obrigações constitucionais. Embora um tanto radical esta visão, esbanja precisão quanto 
à razão pela qual o Estado deve cumprir seus deveres. 
Finalmente, a análise destes conceitos e institutos permitirá maior segurança para 
a elaboração de uma conclusão crítica sobre o tema. Para que o direito de punir do Estado seja 
legítimo, deve ser exercido de maneira justa. Um real Estado Democrático de Direito não é 
compatível com um direito de punir apenas fundado na legalidade. Ele deve ser legal e 
legítimo, sob o risco de esconder face autoritária do mesmo. 
O “problema” das obrigações constitucionais – normas programáticas de eficácia 
limitada - é que não possuem conteúdo totalmente concretizado na Constituição, carecendo de 
legislação infraconstitucional, no sentido de não serem diretamente aplicáveis. É o que 
demonstra a realidade social, cindida por contrastes desafiadores dos princípios fundamentais 
que deveriam orientá-la. Dessa forma, a questão da legitimidade será analisada não sob o 
aspecto jurídico, mas sob a ótica sócio-política, como pretendem algumas vertentes 
sociológicas, especialmente as propostas por Max Weber, Niklas Luhmann, Habermas, além 
de Canotilho e outros mencionados. 
 
 
 
15
CAPÍTULO 1 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
 
1.1. Origem e formação do Estado 
 
O homem, consideradas as suas qualidades sui generis, sejam a racionalidade e a 
produção cultural, que lhe proporcionam a capacidade de transformar o meio ambiente de 
acordo com seus interesses, é um ser fadado ao relacionamento. A idéia de associação está 
diretamente ligada a um interesse, ou à consecução de um fim que apenas a cooperação entre 
homens é capaz de viabilizar. Um animal selvagem, por exemplo, desprovido daquelas, não 
possui alternativas, senão a de se adaptar ao meio, rendendo-se às condições que este lhe 
impõe. Como bem observou Giorgio Del Vecchio1: 
 
A sociedade é um fato natural determinado pela necessidade que o homem tem de 
viver com os seus semelhantes. O homem, para viver isolado, fora da sociedade, 
deveria ser (consoante escreveu Aristóteles) – um bruto ou um Deus – ou seja: 
qualquer coisa menor ou qualquer coisa maior que o homem. Mas, dada a sua 
natureza, outro remédio não tem senão o de se associar, de pertencer a uma 
sociedade. 
 
Destarte, ao se observar os tempos remotos – e nem há a necessidade de se voltar 
tanto na História – não se pode afastar a existência de uma força centrípeta que diminui e 
reforça, paulatinamente, os laços existentes entre os seres humanos. Nos primórdios dos 
agrupamentos humanos não havia, ainda, qualquer tipo de organização e muito distantes 
estavam do que se conhece por civilização. Porém, a experiência do convívio social se 
encarregou em despertar e promover a evolução de tais agrupamentos que, cada vez mais 
organizados, culminaria, num longo período de aprendizado dos homens, no que conhecemos 
como Estado de Direito e, num grau de desenvolvimento ainda maior, no Estado Democrático 
de Direito. 
Falar sobre a origem e formação do Estado implica em uma polêmica discussão 
doutrinária que rendeu inúmeras teorias, não cabendo neste trabalho, a apresentação de todas, 
apenas daquelas que exerceram maior influência sobre o pensamento político das épocas que 
se seguiram. 
Sob o ponto de vista da época em que o Estado surgiu, são três as posições, a 
saber: 
 
1 DEL VECCHIO, Giorgio. Lições de filosofia de direito. Tradução de Antônio José Brandão. 4. ed. Coimbra: 
Armênio Amado, 1972. v. 2. p. 217 (destaque do autor). 
 
 
16
a) A primeira acredita que o Estado sempre existiu concomitante à sociedade. 
Nesta posição destacam-se Eduard Meyer e Wilhelm Koppers, que consideram 
o Estado como elemento universal na organização humana2. 
b) A segunda vertente entende o surgimento do Estado para atender aos anseios 
dos grupos sociais, sendo, portanto, posterior a estes. Não surgiu, ao mesmo 
tempo, em todos os lugares, mas em cada um, dependendo das suas condições. 
c) A terceira posição acredita na existência do Estado a partir de características 
bem definidas. Carl Schmidt acredita se tratar de um conceito histórico 
concreto, a partir da idéia e da prática da soberania no século XVII. Também 
compartilham destas idéias Kelsen, Balladore Pallieri e Ataliba Nogueira3. 
Quando se fala em causas do aparecimento do Estado, duas vertentes devem ser 
levadas em consideração: uma que procura explicar a formação originária do Estado; e outra 
que justifica a formação derivada do mesmo. 
Quanto à formação originária, são duas as teorias, a saber: aquelas que afirmam a 
formação natural ou espontânea do Estado, tendo em comum a afirmação de que o Estado se 
estabeleceu naturalmente, por um ato voluntário; e outras que sustentam a formação 
contratual do mesmo, a partir de um ato volitivo dos homens. As teorias que sustentam a 
formação natural, segundo Dallari4, podem ser agrupadas pelos seguintes critérios: 
a) Origem familiar ou patriarcal: o Estado sendo uma extensão da entidade 
familiar, tendo como principal representante Robert Filmer. 
b) Origem em atos de força, violência e conquista: o Estado como conseqüência 
da dominação dos mais fracos pelos mais fortes; Oppenheimer é o principal 
representante. 
d) Origem em causas econômicas: o Estado como um produto da sociedade 
quando esta chega a um determinado grau de desenvolvimento, segundo Marx 
e Engels, dentre outros. 
e) Origem no desenvolvimento interno da sociedade: o desenvolvimento 
espontâneo da sociedade origina o Estado, não havendo a influência de fatores 
externos à sociedade, como interesses dos indivíduos; representada por Robert 
Lowie. 
 
2 CARVALHOJUNIOR, Clóvis. As origens do Estado. 1988. 393 f. Tese (Livre Docência) – Faculdade de 
História, Direito e Serviço Social, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 1988. v. 1. 
p. 35. 
3 NOGUEIRA, José Carlos Ataliba. Lições de teoria geral do estado. 1969. p. 46-47 apud DALLARI, Dalmo de 
Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 44. 
4 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 46-47. 
 
 
17
As diversas vertentes do contratualismo – Rousseau, Hobbes, Locke e Grócio -, 
apesar das diferenças no tocante à natureza humana, pressupõem certo grau de liberdade 
imanente aos homens; assim, por manifesta vontade destes em prol da necessidade de 
harmonia social, segurança e possibilidade de realização de interesses – sem a sobreposição 
de alguns em detrimento de outros -, optam pelo contrato social como garantia de uma vida 
pacífica e não hostil. 
Quanto aos processos derivados, a formação do Estado pode ocorrer através do 
fracionamento ou pela união de Estados. Tem-se o fracionamento quando uma parte se 
desmembra do território estatal passando a constituir outro. A união reúne vários Estados que 
se vinculam pela adoção de uma Constituição comum. 
 
1.2 Evolução histórica 
 
O estudo da evolução do Estado procura fixar as formas fundamentais que o 
mesmo tem adotado através os séculos. Busca a tipificação do Estado, a descoberta de 
movimentos constantes e a formulação de probabilidades quanto à sua futura evolução. 
Para se conceber o Estado tal qual se apresenta hodiernamente, a Doutrina, em 
geral, percorre dois caminhos: o primeiro pretende alcançar o momento de seu aparecimento, 
e o segundo investiga as causas de surgimento do mesmo. Por fim, a Doutrina se preocupa, 
ainda, com o estudo dos tipos de Estado, ou seja, com a questão da formação de Estados a 
partir de outros preexistentes. 
 Quanto à época, de modo geral, “pode-se dizer que do século XVI em diante o 
termo Estado vai aos poucos tendo entrada na terminologia política dos povos ocidentais”. 5 
Mas é Maquiavel6, especificamente em ocasião de sua obra “O Príncipe”, que data de 1513, 
que utilizou o termo associado à sociedade política. 
Para efeitos didáticos, estuda-se o tema dentro de uma sucessão cronológica, 
justamente para uma melhor compreensão do Estado contemporâneo. É possível, dessa forma, 
distinguir os tipos de Estado, ao qual se dedicou Jellinek7 como uma de suas maiores 
contribuições à Teoria Geral do Estado. Seguindo suas lições, cronologicamente, o Estado 
percorreu as seguintes fases: 
 
5 AZAMBUJA, Darcy. Teoria geral do estado. 17. ed. Porto Alegre: Globo, 1978. p. 7. 
6 MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. 6. ed. São Paulo: Martins Claret, 2008. passim. 
7 JELLINEK, Georg. Teoria general del estado. Tradução de Fernando de Los Rios. Buenos Aires: Albatros, 
1954. p. 24. 
 
 
18
a) Estado Antigo: também conhecido como Estado Teocrático ou Oriental; refere-
se à forma mais antiga de Estado, caracterizado, principalmente pela natureza 
unitária e pela religiosidade. A autoridade dos governantes, assim como as 
normas de comportamento, tinha amparo num poder divino. 
b) Estado Grego: apesar de não empregarem o vocábulo “estado”, possuíam 
organismos similares embebidos de teor político, tal qual se apresentam os 
Estados Modernos, como se vê verá adiante. 
c) Estado Romano: como na polis grega, o Estado era governado pelo povo, um 
termo ainda restrito e limitado segundo as modernas orientações. Os 
governantes supremos eram os magistrados pertencentes às famílias patrícias. 
Assim, a família é o elemento base de sua organização. O advento do Império 
Romano e sua grandiosidade empreenderam a integração jurídica dos povos 
conquistados, ao passo que novas camadas sociais surgiam e adquiriam 
direitos, sem, no entanto, desintegrar o núcleo da organização política. 
d) Estado Medieval: foi marcado pelo cristianismo, pelas invasões bárbaras e pelo 
sistema feudal. A luta empenhada pela Igreja em expandir o Império cristão foi 
responsável pela universalização dos ideais de igualdade, de amor ao próximo, 
bem como o esforço que se empreendeu em recuperar a unidade política. Neste 
sentido foi a atitude do papa Leão III ao conferir a Carlos Magno, no ano de 
800, o título de Imperador, que acabou fracassando perante o imenso e 
complexo Império nos últimos séculos da Idade Média. Esta condição gerou 
uma enorme necessidade de restabelecimento da ordem e da autoridade, donde 
surge o Estado Moderno. 
e) Estado Moderno: nasceu da frustrada tentativa de unidade do Estado Medieval, 
somada, dentre outros fatores, à intolerância dos senhores feudais à alta 
tributação dos monarcas e ao constante estado de guerra. Buscou-se, então, a 
unidade territorial, sob os ditames de um poder soberano, aspiração 
documentada pelos tratados de paz de Westfália, que anunciaram o Estado 
Moderno. Tais tratados, que encerraram a Guerra dos Trinta Anos, são 
apontados pela Doutrina, como o marco da Diplomacia Moderna, donde foi 
reconhecida, pela primeira vez, a soberania dos Estados envolvidos. 
 
 
 
 
 
19
1.3 Conceito 
 
O termo “Estado” deriva do latim status, que quer dizer “estar firme”. De 
imediato, pois, pode-se atribuir ao mesmo dois caracteres intrínsecos: o de permanência e o de 
rigidez. Vários são os conceitos encontrados na Doutrina, sendo que cada um reflete o 
momento histórico e a ideologia política reinante da época. Destarte, a conceituação do 
Estado parece tarefa difícil e corre o risco de limitações e mesmo de interpretações adversas. 
Assim, para os gregos, o Estado limitava-se ao continente da polis. Preleciona 
Azambuja8, que os romanos utilizavam o termo status republicae para designar a situação, a 
ordem permanente da coisa pública, dos negócios do Estado. Talvez o desuso do segundo 
termo pelos autores medievais condicionou a utilização de Status com a significação moderna. 
Continua o mesmo autor que, posteriormente, na linguagem política e nos documentos 
públicos, o termo foi utilizado para representar as três classes que formavam a população dos 
países europeus: a nobreza, o clero e o povo. É no século XVI que o termo passa a ser 
utilizado pelos povos ocidentais. 
As diversas teorias acerca do conceito de Estado podem ser divididas em três 
grupos; são eles: os conceitos filosófico, sociológico e jurídico, enumerados por Paulo 
Bonavides.9 
Filosoficamente, Hegel definiu o Estado como a realidade da idéia moral, a 
substância ética consciente em si mesma, e manifestação da divindade; considerado 
dialeticamente como instituição mais alta, conciliando as contradições da Família e da 
Sociedade. 
O conceito sociológico ou político não descarta a natureza jurídica do Estado, mas 
consideram-no, sobretudo, um poder em si. Neste sentido, Duguit10 considera o Estado como 
“a força material irresistível” sendo, atualmente, limitada e regulada pelo Direito. Também 
Max Weber chama o Estado de comunidade humana dentro de um determinado território que 
reivindica para si, de maneira bem sucedida, o monopólio da violência legítima. 
Da mesma forma, as teorias jurídicas não eliminam a presença do elemento força 
do conceito de Estado. Porém, o Estado passa a ser visto como pessoa jurídica, sendo que seu 
funcionamento é subordinado a regras jurídicas. É assim que Jellineck11 elaborou a noção de 
Estado como a “corporação territorial dotado de um poder de mando originário”. Também 
 
8 AZAMBUJA, Darcy. Introdução à ciência política. 12. ed. São Paulo: Globo, 1999.p. 28-29. 
9 BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 62-66. 
10 DUGUIT, Leon. Traite de droit constitutionnel. 3. ed. Paris: E. de Boccard, 1927. p. 93. 
11 JELLINECK, 1954, op. cit., p. 103. 
 
 
20
Kelsen12 fixa uma noção genuinamente jurídica de Estado, como a ordem coativa normativa 
da conduta humana. 
De todo o exposto, o Estado deve ser conceituado envolvendo suas dimensões 
política e jurídica; assim, pode ser considerado como a sociedade jurídica e politicamente 
organizada para atender ao bem comum. Pode, destarte, ser considerado como a forma mais 
perfeita de organização social, produto da evolução e da cultura; tanto que sua composição, 
dessa forma, pode ser observada como uma tendência universal: a perfeita síntese de uma 
orientação genérica, ordinária, evolutiva e cultural, responsável por sedimentar os laços da 
convivência humana. 
 
1.4 Finalidade 
 
O estudo acerca da finalidade do Estado é de grande importância prática, dado que 
é através da consciência desta que se pode fazer um julgamento sobre a presente atuação 
estatal ou verificar em qual medida o Estado atende ou não seus propósitos. É necessário, para 
tanto, que as finalidades estatais coincidam com o desempenho de suas funções. Neste 
sentido, como se verá no capítulo V, a legitimidade de todos os atos do Estado depende de sua 
adequação às finalidades. Mas quais seriam exatamente estas finalidades? 
Alguns autores consideram o Estado um fim em si mesmo, sendo o homem, um 
instrumento do qual se serve o Estado para a realização de sua grandeza. De modo contrário, 
há aqueles que sustentam o Estado como instrumento do homem para a realização da paz 
social e da justiça; estas seriam, pois, as finalidades daquele. Esta é a posição de Ataliba 
Nogueira e Azambuja, segundo a qual: “O Estado é um dos meios pelo qual o homem realiza 
o seu aperfeiçoamento físico, moral e intelectual, e isso é que justifica a existência do 
Estado”. 13 
Outra posição, um tanto reducionista, seria a de Kelsen14, dentre outros, que 
atribui a discussão das finalidades do Estado ao campo da Política, não devendo a Teoria 
Geral se ocupar de questões alheias ao campo técnico-jurídico. 
Aristóteles entende que o Estado, como criação da natureza, tem a finalidade de 
viabilizar a consecução da felicidade humana, tornando possível a completa realização de 
todas as capacidades do homem. O fim do Estado é, pois, assegurar ao homem o exercício de 
 
12 KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 63. 
13 AZAMBUJA, 1999, op. cit., p. 114. 
14 KELSEN, op. cit., p. 41. 
 
 
21
todos os direitos fundamentais, viabilizando sua felicidade. Essas faculdades só poderão ser 
plenamente desenvolvidas vivendo no seio de uma comunidade (cidade-estado). Logo, faz 
parte da natureza humana viver na cidade-estado. 
Enquanto Hobbes afirma que os homens devem renunciar aos seus direitos 
existentes no estado de natureza, Locke15 afasta tal possibilidade, uma vez que contraria os 
objetivos do contrato social: 
Nenhum homem ou sociedade tem o poder de renunciar à própria preservação, e, 
portanto, aos meios de fazê-lo em favor da vontade absoluta e domínio arbitrário de 
alguém, e sempre que houver a tentativa de reduzi-los a tal situação de escravidão, 
terão direito de preservar aquilo que não tinham, o poder de alienar, e de livrar-se 
dos que violam a lei fundamental [...]. 
 
O estimado professor Clóvis Carvalho Júnior16, ao considerar o Estado como fruto 
de um processo da evolução natural, subordinado às causas econômicas e culturais, bem 
sintetizou suas finalidades: “Conceitos como desenvolvimento da personalidade, satisfação 
das necessidades mínimas, segurança e busca da felicidade estão incluídos de maneira natural 
nas finalidades do Estado.” 
A noção de bem público é pertinente nesta discussão sobre a finalidade estatal 
justamente por demonstrar a existência de parcelas de fruição comum17. Citando novamente 
Darcy Azambuja18, a maioria dos autores confunde os conceitos de “fim” e de “competência” 
do Estado, chegando muitos a afirmarem a impossibilidade de determinação dos fins estatais 
devido à variabilidade dos mesmos. Porém, o mesmo autor adverte que os fins são os bens 
públicos, que são invariáveis; variáveis seriam os meios empregados para a consecução dos 
mesmos. Os bens públicos formam um conjunto de meios que visam o aperfeiçoamento de 
determinada sociedade, tendo em vista a satisfação das necessidades de seus membros. 
A realização do bem-público, assim, origina uma série de deveres e obrigações, 
que devem ser claramente definidos como expressão da consciência social. Codificam-se, 
pois, os direitos individuais e sociais. Os primeiros constituem obrigações negativas do 
Estado, ou seja, o que ele não pode fazer para embaraçar o desenvolvimento do indivíduo. Os 
direitos sociais geram obrigações positivas ao Estado e ao indivíduo; define quais as 
 
15 LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. Tradução de Alex Marins. São Paulo: Martin Claret, 2004. 
p. 109. 
16 CARVALHO JUNIOR, op. cit., p. 102. 
17 Por bem público pode-se entender, em sentido amplo, a parcela de bens destinados direta ou indiretamente à 
utilização do povo, ou em benefício deste, embora sua titularidade pertença à União, aos Estados, ao Distrito 
Federal ou aos Municípios, ou a suas autarquias ou a suas fundações de direito público. 
18 AZAMBUJA, 1999, op. cit., p. 114. 
 
 
22
providências que deve tomar o Estado para que o indivíduo coopere de modo eficaz para a 
realização do bem público. Na visão de Azambuja19: 
 
Segurança e progresso, eis uma síntese do bem comum. [...] O Estado não cria a 
prosperidade material, a Arte, a Ciência, A Moral, o Direito, que são criações da 
alma humana, e por isso não tem poder direto sobre ela. Seu domínio é o temporal, o 
equilíbrio e a harmonização da atividade do homem, para que a liberdade de um não 
prejudique a igual liberdade dos outros. 
 
Surge, pois, um desafio frente aos Estados Modernos Democráticos: a realização 
dos bens públicos por meio do cumprimento de suas obrigações para com a sociedade do qual 
faz parte. O conjunto dessas obrigações a serem realizadas pelo Estado é o que Azambuja20 
entende por competência do mesmo, ou seja, deveres de exclusiva atribuição do Estado. A 
tendência dos Estados Modernos é alargar cada vez mais tais suas atribuições, gerando uma 
hipertrofia estatal. Não basta, todavia, alargar cada vez mais o plano de atuação e interferência 
estatal ao ponto de provocar sua ineficácia. Aliás, diga-se que o Estado – em especial o 
Brasileiro – já está obrigado sob a égide da Carta Constitucional de 1988 em que o Poder 
Constituinte Originário não titubeou na sua redação prolixa, pormenorizada exaustivamente e, 
ainda, inesgotável, de forma a não deixar escapar as previsões fundamentais de um Estado. 
Impõe-se, diante de expressa previsão da Carta Maior, a realização material das suas 
finalidades. 
 
1.5 O Estado e o poder 
 
Estabelecido o critério para definição da finalidade estatal, resta saber qual a 
necessidade de manutenção do elemento aglutinador por excelência dos agrupamentos 
humanos: o poder. Como um elemento impositivo, limitador das liberdades humanas é capaz 
de preservar um Estado de modelo democrático e, ainda, preservar ou não ameaçar sua 
legitimidade? 
Este elemento é de alta relevância para o presente trabalho, uma vez que será 
questionadoao longo do mesmo no tocante à legitimidade do poder de punir do Estado. A 
legitimidade, no entanto, será dissecada ao final deste, donde serão analisadas as definições 
dos mais expressivos autores sobre este tema. Portanto, neste ponto, importante é o 
adiantamento de que o referido termo será entendido, previamente, como uma qualidade do 
 
19 AZAMBUJA, 1999, op. cit., p. 119. 
20 Ibid., p. 123. 
 
 
23
poder, que deve ser avaliada não apenas na sua aquisição, mas também no seu exercício. 
Assim, não basta um título obtido de maneira justa para que seja legítimo; da mesma forma, é 
necessário que o mesmo seja exercido de maneira justa. 
A maioria dos autores que têm se encarregado do estudo deste tema reconhece-o 
como imprescindível à vida da sociedade. Muitos chegam a afirmar que ele sempre existiu, 
mesmo nos agrupamentos mais primitivos. A observação dos comportamentos das mais 
diversas sociedades revela que mesmo as mais desenvolvidas e organizadas apresentam 
dissidência dos membros, conflitos de interesses que não dispensam o poder como elemento 
mantenedor do corpo social. 
As manifestações mais primitivas de poder foram caracterizadas pelo aspecto 
material da força, que definia quais os chefes dos grupos, os mais fortes e preparados para a 
condução e defesa do grupo das ameaças externas. Outro critério utilizado em tempos remotos 
foi o sobrenatural: quando muitos acontecimentos não poderiam ser desvendados pela força 
física, confiava-se o poder a uma entidade sobre-humana. Esta prática era verificada na 
Antigüidade greco-romana, entre os antigos povos do Oriente e no mundo Ocidental, já no 
século XVIII, com a influência do cristianismo e a crença no poder divino dos reis. 
O poder, com o passar dos anos, passou a contar com variadas características 
definidoras de sua legitimidade, desvinculando-se da força como elemento constitutivo. O 
poder poderia se utilizar da força, mas jamais se confundir com a mesma. No século XIX, a 
positivação do Direito estava vinculada a um poder, o que aproximou e fez coincidir o poder 
jurídico com o poder legítimo. Direito e poder passaram a caminhar paralelamente, sem serem 
confundidos, porém, vistos sob uma relação de complementaridade. 
Assim, o Direito recebeu os aliados para sua existência e veracidade: a legalidade 
e a legitimidade. A legalidade vem a ser um princípio de Direito que submete os Estados ao 
império de suas leis. Quanto à legitimidade, várias são as teorias que se ocupam desta 
qualidade intrínseca ao Estado Democrático, termo que, posteriormente, será estudado com 
mais minúcias. Por enquanto, de modo singelo, pode-se associá-la à idéia de consentimento 
da maioria e de justiça quanto aos procedimentos, ou seja, não basta obediência às leis: é 
necessário que expressem uma vontade geral e que sejam efetivas na sociedade. 
Duas são as correntes que pretendem caracterizar o poder. A primeira classifica-o 
como poder político e a segunda, como poder jurídico. 
O poder político manifesta-se na ação do Estado e destina-se à organização dos 
indivíduos; o Estado atua, pois, como representante e guardião da vontade coletiva, sejam nas 
 
 
24
suas funções legislativa, executiva e judiciária. Berloffa21 acrescenta que através do poder 
político “permite-se, ainda, a manutenção das ideologias de organização e atuação do Estado, 
ao viabilizar, nas democracias, a existência da dissidência partidária em oposição à forma de 
atuação do Governo existente.” 
O poder jurídico, que tem Kelsen como eminente representante, significa a 
vinculação do Estado ao Direito. É através deste poder que o Estado poderá agir de forma 
legítima no exercício do poder político, conduzindo a máquina administrativa pública de 
acordo com as normas de gestão e de condução da democracia. A soberania é expressão 
máxima do Poder Jurídico, calcada na dominação sobre todos os demais poderes. É 
característico do poder do Estado organizar a nação e fazer valer em seu território a totalidade 
de suas decisões, nos limites e fins éticos de convivência. 22 
De acordo com Miguel Reale23, a organização pressupõe um poder e um direito, 
concluindo que não há poder, portanto, que não seja jurídico. Mas isto não significa que o 
poder esteja totalmente situado no âmbito do Direito. O mesmo autor fala sobre uma 
graduação de juridicidade; assim, mesmo que o poder se apresente com aparência de mero 
poder político, procurando ser eficaz na consecução de objetivos sociais, sem preocupação 
com o Direito, ele já participa, ainda que em grau mínimo, da natureza jurídica. Mesmo 
quando o poder atinge o grau máximo de juridicidade, tendo reconhecida sua legitimidade, ele 
continuará a ser da mesma forma, poder político, capaz de agir com plena eficácia e 
independência para a consecução de objetivos não jurídicos. 
Diversamente, relevante é classificação de Norberto Bobbio, que enumera três 
formas de poder: econômico, ideológico e político. O poder econômico se materializa na 
posse de certos bens, por exemplo, os meios de produção, indispensáveis em períodos de 
escassez, induzindo os que não os detêm a adotar certa conduta, como a de prestação de um 
serviço útil nas condições determinadas pelo detentor dos mesmos. O poder ideológico se 
identifica na detenção de conhecimentos, informações, códigos de conduta ou doutrinas 
capazes de influenciar comportamentos dos indivíduos num processo de socialização. Por fim, 
o poder político – desde sempre considerado o sumo poder -, utiliza-se da força como meio 
específico, tendo em vista que todo grupo social dele imprescinde para se proteger de ataques 
externos ou para impedir a própria desagregação interna. 
 
 
21 BERLOFFA, Ricardo Ribas da Costa. Introdução ao curso de teoria geral do Estado e ciências políticas. 
Campinas, SP: Bookseller, 2004. p. 290. 
22 Ibid., p. 291. 
23 REALE, Miguel. Teoria do direito e do estado. São Paulo: Martins, 1990. p. 106-107. 
 
 
25
O que se tem em comum entre estas três formas de poder é que elas contribuem 
conjuntamente para instituir e para manter sociedades de desiguais divididas entre 
fortes e fracos com base no poder político, em ricos e pobres com base no poder 
econômico, em sábios e ignorantes com base no poder ideológico. Genericamente, 
entre superiores e inferiores. 24 
 
Para Hannah Arendt, poder é a aptidão humana para agir em conjunto, daí a 
importância decisiva do direito de associação para uma comunidade política, pois é a 
associação que gera o poder do qual se valem os governantes. O poder, dessa forma, não se 
confunde com a força; do contrário, sempre resulta de um agir em conjunto, imprescindindo 
de comunicação entre as pessoas e, portanto, do direito à informação. É assim que a questão 
da obediência à lei não se resolve, em última instância, pela força, mas pela opinião e pelo 
número daqueles que compartilham o curso comum de ação expresso no comando legal. 25 
 
O poder não precisa de justificativas, sendo inerente à própria existência das 
comunidades políticas; mas precisa, isto sim, de legitimidade. A percepção dessas 
duas palavras como sinônimos não é menos enganosa do que a corrente equação de 
obediência e apoio. O poder é originado sempre que um grupo de pessoas se reúne e 
age de comum acordo, porém a sua legitimidade deriva da reunião inicial e não de 
qualquer ação que possa se seguir. 26 
 
Pode-se concluir do exposto, que não há associação sem o elemento poder; ou 
seja, o poder atua como pressuposto de existência a qualquer associação, sociedade ou Estado. 
E, ainda, o poder tem como conseqüência o consentimento, seja espontâneo ou forçado. No 
entanto,não há que se falar, tendo em vista o atual Estado Democrático de Direito, nos 
elementos força e violência, mas em legitimidade ou não do poder. O problema da 
legitimidade do poder consiste, pois, no próprio fundamento deste, que será analisado 
posteriormente. 
 
 
 
 
 
24 BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: para uma teoria geral da política. 4. ed. Rio de Janeiro: 
Paz e terra, 1992. p. 82-83. 
25 LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 25. 
26 ARENDT, Hannah. Sobre la violência. Tradución de Guilhermo Solana. Madrid: Alianza, 2006. p. 71. “El 
poder no necesita justificación, siendo como es inherente a la verdadera existencia de las comunidades 
políticas; lo que necesita es legitimidad. El empleo de estas dos palabras como sinónimo no es menos 
desorientador y perturbador que la corriente ecuación de obediencia y apoyo. El poder surge allí donde las 
personas se juntan y actúan concertadamente, pero deriva su legitimidad de la reunión inicial más que de 
cualquier acción que pueda seguir a ésta.” 
 
 
 
26
1.6 Origens do Estado Democrático 
 
Observado o paradoxo entre as promessas constitucionais, firmadas especialmente 
nos artigos da atual Constituição Federal que se dedicam aos princípios constitucionais e o 
seu efetivo cumprimento, o Estado Democrático de Direito revela defasagens gigantescas que 
desembocam numa crise de sua legitimidade. Assim sendo, parece evidente a existência de 
uma acentuada contradição entre o modelo normativo proposto e as práticas efetivas dos 
agentes e representantes do poder e da sociedade. De acordo com José Eduardo Faria27, “[...] 
o país vem vivendo uma ampla crise estrutural, da qual se destacam a falta de credibilidade do 
regime, a fragmentação de seu aparelho burocrático, a desmoralização da autoridade [...].” 
Entretanto, ao contrário da proposta do mesmo autor sobre a elaboração de uma 
nova Carta Magna, este trabalho vem propor uma re-inauguração do Estado Democrático de 
Direito, de maneira que sejam assegurados efetivamente os direitos fundamentais do homem 
por meio do cumprimento das obrigações constitucionais. A Constituição Federal de 1988, 
mesmo diante de sua prolixidade, atende, formalmente, aos anseios do modelo democrático de 
Estado; constata-se um problema de efetividade, que põe em dúvida o referente modelo. 
A idéia de democracia surgiu na Grécia Antiga, significando, pela própria 
etimologia da palavra, o governo do povo, o governo da maioria, ou seja, dos cidadãos. Para o 
pensamento antigo, forma de governo significava muito mais do que um adjetivo para a 
organização da polis, mas um valor fundamental de determinada forma de organização. Tanto 
que a finalidade da polis ultrapassava o plano material, estendendo-se à consecução da Justiça 
através da liberdade política dos cidadãos que expunham suas idéias e debatiam opiniões. 
Importante assinalar que a virtude política estava diretamente relacionada à virtude moral, 
termos que hoje parecem opostos. 
Sólon, considerado o pai da democracia, tomou medidas que transformaram o 
mundo grego: modificou a estrutura da sociedade ateniense: os cidadãos passaram a ser 
classificados não segundo o tamanho das propriedades de cada um — critério que assegurava 
o poder político à aristocracia rural —, mas de acordo com suas riquezas, facilitando a 
ascensão de pequenos artesãos e comerciantes antes tidos como inferiores. Além disso, o 
legislador revigorou a Assembléia do Povo, que anualmente elegia os funcionários do 
governo, e instituiu um tribunal popular, a heliéia. 
 
27 FARIA, José Eduardo. A crise constitucional e a restauração da legitimidade. Porto Alegre: Sérgio Antonio 
Fabris, 1985. p. 11. 
 
 
27
Sólon foi, também, o responsável pela introdução da idéia de que a sobrevivência 
da cidade depende da educação de todos os cidadãos. Ele acreditava que a saúde de um 
organismo político depende não só das instituições que o integram, mas também de cada 
membro da comunidade. Por isso, ele encontra na formação do caráter um meio mais seguro 
de garantir a manutenção do equilíbrio social. 
No entanto, nem todos na polis grega possuíam privilégios. Como bem esclareceu 
Aristóteles, cidadão era aquele que tivesse parte na autoridade deliberativa e na autoridade 
judiciária. Apesar das exceções em casos de emergência em algumas cidades, a regra era a 
restrição. Aos artesãos e escravos não era permitida a prática desta virtude política, um 
privilégio daqueles que não tinham a necessidade de trabalhar para sobreviver. Esta era uma 
regra estabelecida no estatuto jurídico e que não feria os princípios morais e políticos da 
época. A própria condição de guerra em que viviam justificava a hierarquia adotada. 
É evidente que esta idéia de democracia, não estaria presente nas revoluções 
burguesas do século XVIII. A democracia passou a ser um adjetivo do Estado, sendo que o 
termo “povo” recebeu uma amplitude maior do que significava aos antigos gregos. Estado e 
povo passaram a ser termos independentes: o Estado Moderno organiza-se com uma 
roupagem democrática e, então, controla a sociedade. A democracia passou a ser um termo de 
legitimação do poder estatal, localizado acima da sociedade. A democracia efetiva, idealizada 
e realizada pelos gregos, ganhou uma conotação simbólica para os Estado Modernos. 
O conceito moderno de Estado Democrático tem suas raízes no século XVIII, 
agregando, obrigatoriamente, a afirmação de certos princípios fundamentais da pessoa 
humana vinculadores da organização e funcionamento do Estado a serviço e realização dos 
mesmos. A partir de então, seguiu-se uma série de conflitos na tentativa de proteção aos 
direitos humanos e a dificuldade da máquina estatal em assumir de fato seu papel precípuo. 
Daí a grande influência dos jusnaturalistas, como Locke e Rousseau. Apesar deste 
não ter acreditado em um governo democrático de homens, mas de deuses, em sua mais 
expressiva obra, “O Contrato Social”, estão encerrados os princípios do Estado Democrático. 
Na prática, três foram os movimentos político-sociais a materializar estas teorias: 
a Revolução Inglesa, influenciada, principalmente, por Locke, culminando no Bill of Rights, 
em 1689; em seguida, a Revolução Americana e a conseqüente independência das treze 
colônias da América, em 1776 e; por fim, a Revolução Francesa em 1789, com seus 
princípios expressos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a marcante 
presença das idéias rousseaunianas. 
 
 
28
Foi declarado que os homens nascem, e permanecem livres e iguais em direitos. 
Como fim da sociedade política, apontou-se a conservação dos direitos naturais indeclináveis 
do homem, quais sejam: a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. 
Qualquer limitação ao indivíduo deveria ser permitida apenas pela lei, como expressão da 
vontade geral. Assim, a base da organização do Estado deveria ser, pois, a participação 
popular no governo, para que fossem preservados e garantidos os direitos inerentes. 
Foram essas as idéias responsáveis pela consolidação do Estado Democrático 
como ideal supremo que, a partir de então, figurou em vários sistemas jurídicos. Em pequena 
síntese, são pontos fundamentais do Estado Democrático: 1) supremacia da vontade popular; 
2) preservação da liberdade, e; 3) igualdade de direitos. 
A conseqüência do despertar da Europa e dos Estados americanos inaugurou uma 
era de resgate dos direitos naturais do homem, assim como a descoberta de novos direitos a 
ele pertencentes. A Doutrina consagroua expressão “gerações de direitos”, lembrando que tal 
expressão é inesgotável, no sentido de que a história não é estanque, assim como a história do 
Direito e dos direitos. Assim é que tais direitos são variáveis, modificando-se ao longo da 
história de acordo com as necessidades e interesses do homem. 
A primeira geração consagrou o direito amplo à liberdade. Surgiu nos séculos 
XVII e XVIII, compreendendo direitos civis e políticos inerentes ao homem e oponíveis ao 
Estado, à época, grande opressor das liberdades individuais. São exemplos: direito à vida, 
segurança, justiça, propriedade privada, liberdade de pensamento, voto, expressão, crença, 
locomoção, dentre outros. 
A segunda geração, pós 2ª Guerra Mundial, proclamou os direitos de igualdade, 
consentâneo ao advento do Estado Social. São os direitos econômicos, sociais e culturais que 
devem ser prestados pelo Estado através de políticas de justiça distributiva, como o direito à 
saúde, trabalho, educação, saneamento, greve, lazer, repouso, habitação, livre associação 
sindical, dentre outros. 
Os direitos da terceira geração consagram os direitos de fraternidade e 
solidariedade, coletivos por excelência, pois estão voltados a toda humanidade. Dessa forma, 
não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo ou grupo isolado, 
de determinado Estado, mas operam, tais direitos, no gênero humano como condição de 
existência e vivência concreta. São eles: direito ao desenvolvimento, à paz, à comunicação, ao 
meio-ambiente, à conservação do patrimônio histórico e cultural da humanidade, dentre 
outros. 
 
 
29
A quarta geração de direitos, a mais nova criação doutrinária, resulta dos efeitos 
cada vez mais traumáticos da pesquisa biológica, da preocupação política que os avanços 
tecnológicos do mundo globalizado impõem ao meio social e que afetam as estruturas 
políticas, econômicas, culturais e jurídicas vigentes. São exemplos o direito à informação, ao 
pluralismo e à democracia direta. 
A linguagem dos direitos humanos encerra um inegável teor de atualidade e 
praticidade – a exemplo da quarta geração de direitos – que extrapola a órbita individual dos 
cidadãos para vincular, também, o Estado. Assim é que Bobbio28 classifica os direitos 
individuais tradicionais - que consistem em liberdades -, e os direitos sociais - que consistem 
em poderes. Os primeiros exigem obrigações puramente negativas, que implicam na 
abstenção de determinados comportamentos; contrariamente, os segundos exigem obrigações 
positivas de todos, inclusive do Estado. Neste ponto encontra-se, pois, o maior desafio dos 
direitos humanos: seu reconhecimento generalizado por todos os povos, a proteção e a 
efetivação dos mesmos. Trata-se de problema jurídico e, em sentido ainda mais amplo, de 
problema político a ser sanado. 
 
1.7 Estado de Direito e Estado Constitucional 
 
A moderna concepção de Estado está intimamente vinculada à idéia de limitações 
por normas jurídicas, que traduzem direitos e deveres, faculdades e vinculações dos Estados e 
dos indivíduos entre si. Aliás, sem descartar as outras esferas do Estado (social, econômica, 
política), foi esta construção normativa verdadeira arma contra os abusos do absolutismo. 
Ensina o professor Jorge Miranda29: “[...] não são apenas os indivíduos (ou os 
particulares) que vivem subordinados a normas jurídicas. Igualmente o Estado e as demais 
instituições que exercem autoridade pública devem obediência ao Direito.” 
Pode-se considerar o elemento jurídico como a moldura do Estado, no sentido de 
que todos os seus elementos constitutivos, ou seja, povo, território e soberania, devem estar 
sempre conformados e limitados pelas normas jurídicas. Assim, tais elementos devem estar 
regulados e amparados pela Constituição e por outras normas do ordenamento jurídico de um 
Estado Nacional. 
 
28 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 20. 
29 MIRANDA, Jorge. Teoria do estado e da constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 1 (destaque do 
autor). 
 
 
30
Para José Afonso da Silva30, o clássico conceito de Estado de Direito se limita a 
uma igualdade formal e abstrata, baseada na generalidade da lei, sem qualquer base na vida 
real. 
De acordo com Canotilho31, o Estado como forma de organização jurídica do 
poder político soberano, ao qual fica submetido o povo de um determinado território, 
corresponde ao modelo que surgiu com a paz de Westfália, em 1648, tendo evoluído para o 
Estado Constitucional, que se conceitua como sendo uma tecnologia política de equilíbrio 
político-social, e representa uma superação da autocracia absolutista do poder dos privilégios 
orgânico-corporativo medievais. O mesmo autor define o Estado Constitucional como Estado 
soberano, que edita as leis que devem ser observadas pelo povo de um determinado território, 
mas que também o submete ao Direito, sendo regido por leis sem confusão de poderes. 
Dessa forma, do clássico conceito de Estado de Direito dos séculos XVIII e XIX 
não foi difícil avançar para o conceito de Estado Constitucional, que no século XX ganhou a 
primazia nas formulações políticas do mundo ocidental. Não obstante, principalmente a partir 
da segunda metade do século XX, com o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados 
Nacionais - já todos em sua conformação Constitucional - passaram a vivenciar uma nova 
perspectiva: a dos blocos e comunidades transnacionais, as quais se formaram em busca de 
uma maior força pelas alianças econômicas, políticas e até culturais. 
O Estado Constitucional é, assim, uma criação do Estado Moderno, tendo surgido 
paralelamente ao Estado Democrático. Pressupõe uma estrutura ordenada por um sistema 
normativo fundamental e hierarquicamente superior. Mas não é só isso; o Estado 
Constitucional vai além do Estado de Direito, não se limitando a ele. O Estado Constitucional 
moderno é, também, democrático e esta exigência se impôs da necessidade de legitimação, 
não apenas da ordem jurídica enquanto positivada, mas do exercício do poder político 
vinculado, ditado segundo o princípio da soberania popular. 
Seja pelos objetivos propostos, seja pela conveniência dos interesses burgueses, 
não se pode olvidar que o Constitucionalismo teve caráter nitidamente revolucionário. Porém, 
apesar da força com que as Constituições escritas se impuseram no século XVIII, gozando de 
extraordinária autoridade como a mais alta expressão democrática e legislativa, rendeu-se a 
um paulatino processo de desmistificação e perda de eficácia. 
 
 
30 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 119. 
31 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 3. ed. Coimbra: 
Almedina, 1999. p. 86- 89. 
 
 
31
1.8 Estado Democrático de Direito 
 
O Estado Democrático nasceu das lutas contra o absolutismo, sobretudo através 
do reconhecimento dos direitos naturais da pessoa humana - daí a grande influência 
jusnaturalista neste período. Declarou-se, pois, que os homens nascem, são iguais perante a lei 
e permanecem livres. Como finalidade de uma sociedade política, aponta-se a conservação de 
direitos naturais e indeclináveis aos homens, quais sejam: a liberdade, a propriedade e a 
segurança. Todos os cidadãos passaram a ter o direito de participar, direta ou indiretamente, 
da formação da vontade geral. O Estado, neste sentido, submetendo-se ao Direito, tornou-se, 
também, sujeito de direitos e deveres. 
Seguindo as lições de Canotilho32, mais uma vez, o binômio “legalidade-
igualdade” reclama que sua aplicação sejade cunho material sua aplicação, o que somente 
pode ser alcançado se houver também a democracia econômica, social e cultural, como 
conseqüência lógico-material da democracia política. Esta é, pois, a construção do Estado 
Democrático de Direito. Acrescenta que o principio da democracia econômica e social impõe 
tarefas ao Estado para a promoção da igualdade real, constituindo um elemento essencial de 
interpretação das normas constitucionais. 
O Constitucionalismo ampliou os horizontes do Estado de Direito, trazendo a 
idéia de sua legitimação na vontade popular por meio da democracia participativa; eis o 
Estado Democrático de Direito. A lei, especialmente a Constituição, passou a desempenhar 
uma função transformadora. A lei opera, pois, como instrumento de realização material de 
uma sociedade justa, solidária, onde a promoção da dignidade humana seja a razão da própria 
existência do Estado. A veiculação desses valores, dentre outros, se dá por meio de princípios, 
que ocupam o ápice do Ordenamento Jurídico. 
Assim, deve-se partir do ponto de que a Constituição, por meio dos princípios, 
explícitos ou implícitos, oriente a interpretação do sistema, que lhe dê uma unidade de 
sentido; contrariamente, o Estado Democrático de Direito não se realiza, pois o seu 
ordenamento transformar-se-á numa somatória estanque de preceitos, desprovido de qualquer 
capacidade de coordenação e efetividade do todo. 
Neste sentido, o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello
33
 ressaltou 
a importância da Constituição; em 23/04/2008, iniciou os discursos proferidos na posse do 
 
32 CANOTILHO, 1999, op. cit., p. 325. 
33 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Constituição e o Supremo: informativo. Disponível em: 
 
 
32
novo presidente da Corte, o ministro Gilmar Mendes. Em seu discurso, destacou que os três 
Poderes da República, sem exceção, devem respeito à Constituição, que não pode ser burlada 
por conveniência política ou pragmatismo institucional. 
 
Nada mais nocivo, perigoso e ilegítimo do que elaborar uma Constituição, sem a 
vontade de fazê-la cumprir integralmente, ou, então, de apenas executá-la com o 
propósito subalterno de torná-la aplicável somente nos pontos que se mostrarem 
convenientes aos desígnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores 
dos cidadãos. 
 
 
1.9 Idéia atual de Estado Democrático de Direito 
 
Através da análise do longo processo de desenvolvimento das sociedades 
humanas e do Estado, não se pode afastar a imaturidade do Estado Democrático de Direito. 
Perante a História, pode-se dizer que, em dois séculos de existência, ele ainda está num 
aprendizado, ainda não fala, ainda não anda; está sendo educado segundo princípios e regras 
constitucionais que consagram os direitos fundamentais do homem. 
Pode-se falar, atualmente, numa verdadeira crise do Estado Contemporâneo. Se no 
século XVIII havia um ideal de Estado a ser materializado, no século XIX o mesmo passou a 
ser definido paulatinamente, chegando aos dias atuais como ideal político de toda a 
humanidade. No entanto, problemas de ordem estrutural da sociedade capitalista se tornaram 
empecilho às aspirações liberais da época, arrastando-se até os dias atuais. Dallari34 enumera 
três problemas: 
a) O problema da supremacia da vontade do povo. 
A ênfase ao poder Legislativo, que se empreendeu no século XIX, gerou um 
problema de representação devido às divergências dos grupos sociais que se formavam. O 
industrialismo obrigou a inserção dos operários na esfera política, seja através de movimentos 
proletários, seja através da tentativa de participação no poder. No século XX, tendo adquirido 
um razoável grau de organização, as classes trabalhadoras elegeram seus representantes que 
passaram a integrar partidos, fundar novos até, enfim, integrarem o Plenário. 
Em meio a tantas diversidades partidárias e intermináveis debates, o processo 
legislativo se tornou lento e imperfeito, acarretando um verdadeiro descrédito no sistema 
representativo. Eis um dos impasses a que chegou o Estado Democrático de Direito: a 
 
 http://www.stf.gov.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=87586&caixaBusca=N. Acesso em: 24. 
abr. 2008. 
34 DALLARI, op. cit., p. 254. 
 
 
33
participação do povo tornou-se inconveniente quando, na verdade, sua ausência constitui 
expressa violação do princípio democrático. 
 
b) Dilema entre os princípios liberdade e igualdade 
Estes foram dois dos princípios consagrados pela Revolução Francesa, prezando-
se, na época pela não intervenção do Estado, no sentido de que todos permanecessem livres 
com iguais condições para alcançarem seus interesses. Porém, esse ideal não seria possível 
numa sociedade marcada pelas descomunais diferenças entre as classes sociais. Muitos 
passaram a defender a intervenção estatal a fim de assegurar a igualdade de todos os 
indivíduos. 
A questão da igualdade passou, pois, a ter primazia perante a liberdade. De que 
adiantaria liberdade diante das desigualdades e dos privilégios restritos às minorias? Chegou-
se ao segundo impasse do Estado Democrático de Direito: na prática, liberdade e igualdade se 
mostraram princípios antitéticos e antidemocráticos. 
 
c) Distanciamento entre a formalidade e a efetividade do Estado Democrático 
A medida emergencial de combate ao Absolutismo foi à submissão de todos ao 
império da lei. No entanto, a prática demonstrou uma formalidade de leis camuflando um 
Estado totalitário revestido de democrático. Seria o elemento formal um empecilho à 
efetivação do Estado Democrático? Ou sua ausência favoreceria a utilização arbitrária do 
poder? Eis o terceiro impasse que desprestigia o Estado Democrático. 
Diante do exposto, entretanto, não há que se conspirar contra o Estado 
Democrático, mas repensar maneiras para atingi-lo, ou para alcançar sua maturidade. Não se 
pode, destarte, questionar o modelo de Estado Democrático, mas questionar as atitudes 
humanas que dirigem a sociedade. Daí a questão da Ética como a maior preocupação do 
século XXI, gerando discussões em nível universal acerca do comportamento dos homens. 
Há, portanto, uma preocupação com as atitudes humanas desprovidas, consistindo a Ética no 
antídoto para as mazelas dos indivíduos. 
Quanto ao Estado Democrático de Direito, seria este ideal possível de ser 
atingido? De que maneira? Sim, os ideais de democracia e de Justiça podem ser atingidos a 
partir do momento em que os seres humanos tiverem as plenas e iguais condições de 
desenvolvimento físico, cultural, moral e ético. E tais condições serão possíveis a partir de um 
efetivo Estado Democrático, que prima pela igualdade de todos os cidadãos, governantes e 
governados, e se mantém fiel aos mandamentos constitucionais e à vontade da maioria. 
 
 
34
CAPÍTULO 2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
 
2.1 Os princípios fundamentais – conceitos 
 
A palavra “princípio” exprime, em sentido vulgar, o ponto de partida, o início de 
algo. Porém, como o termo é utilizado em diferentes esferas do conhecimento humano, tais 
como a Filosofia, a Sociologia, a Física, o Direito, dentre outras, cabe a cada uma dessas 
ciências animarem esta idéia simplificada a partir de seus elementos peculiares. Assim, todo 
conhecimento humano pressupõe um conjunto de elementos ou de idéias sistematizados e 
ordenados a partir de princípios e a eles subordinados. 
Em termos jurídicos, o vocábulo alcança um sentido bem mais amplo, tendo a 
Doutrina e os Tribunais se preocupado em definir e realçar sua importância

Outros materiais