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Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-1 EEssccooaammeennttoo VViissccoossoo EExxtteerrnnoo:: FFoorrççaass AAeerrooddiinnââmmiiccaass Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-2 Capítulo 11 - Escoamento Viscoso Externo: Forças Aerodinâmicas 11.1 FORÇAS AERODINÂMICOS DE SUSTENTAÇÃO E ARRASTO...................................................3 11.1.1 Coeficiente de Arrasto .........................................................................................4 11.2 ESCOAMENTO SOBRE CILINDROS - EFEITO DA VISCOSIDADE ...............................................6 11.3 ESCOAMENTO NÃO VISCOSO NUM CILINDRO .....................................................................7 11.4 ESCOAMENTO VISCOSO NUM CILINDRO : EFEITO DO GRADIENTE ADVERSO DE PRESSÃO........9 11.5 SUSTENTAÇÃO AERODINÂMICA ....................................................................................14 11.6 RELAÇÃO ENTRE COEFICIENTE DE PRESSÃO E SUSTENTAÇÃO..........................................16 11.7 CURVA DE SUSTENTAÇÃO VERSUS ÂNGULO DE ATAQUE. .................................................17 11.7.1 Influência da Velocidade Induzida na Força de Arrasto.......................................20 11.7.2 Velocidade mínima de vôo................................................................................22 11.8 EXEMPLO - ARRASTO EM BOLAS DE GOLFE E DE TÊNIS ...................................................23 Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-3 Capítulo 11 - Escoamento Viscoso Externo: Forças Aerodinâmicas 11.1 Forças Aerodinâmicos de Sustentação e Arrasto Num escoamento externo quando o corpo se movimento através do fluido se manifesta uma interação fluido-corpo resultando em forças que podem ser descritas em função da tensão de cisalhamento na parede (τw) provocada pelos efeitos viscosos e uma tensão normal provocada pela distribuição de pressão (p). Figura 11.1 Forças aerodinâmicas sobre um corpo • A componente da força resultante que atua na direção normal ao escoamento é denominada força de sustentação (Lift, L ou FL). • A componente da força resultante que atua na direção do escoamento é denominada força de arrasto. (Drag, D ou FD) . Consideremos um elemento diferencial localizado na superfície do corpo em estudo. As componente x e y da força que atua no pequeno elemento de área dA são: θτθ dAsenpdAdF wx += cos θτθ cossen dApdAdF wy +−= O arrasto e a sustentação podem ser determinados pela integração das tensões de cisalhamento e das tensões normais ao corpo. A força de sustentação é dada por: ∫∫∫ +−== θτθ cosdApdAsendFF wyL A força de arrasto é dada por: ∫∫∫ +== dAdApdFF WxD θτθ sencos Para determinar esta força é necessário determinar o formato do corpo e as distribuições da tensão de cisalhamento na parede e da distribuição de pressão ao longo da superfície do corpo. Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-4 11.1.1 Coeficiente de Arrasto Na forma adimensional esta força é definida pelo coeficiente de arrasto como: AU FC DD 2 2 1 ∞ = ρ onde O coeficiente de arrasto ou de resistência de um corpo é dado por: DfDpD CCC += onde CDf representa o coeficiente de tensão de cisalhamento. AU F C DfDf 2 2 1 ∞ = ρ A representa a área superficial ou área molhada. Por exemplo numa placa paralela ao escoamento A=bL onde b é a largura da placa e L o comprimento da placa. O termo CDp representa o coeficiente de arrasto por pressão. AU F C DpDp 2 2 1 ∞ = ρ Neste caso A pode representar projeção num plano normal da área do corpo. Por exemplo num cilindro A=DL , onde D é o diâmetro do cilindro No caso de uma placa perpendicular ao fluxo a tensão de cisalhamento não contribui para a força de resistência. O coeficiente de arrasto deve-se unicamente ao arrasto por pressão. Desta forma CD= CDp. Figura 11.2 Placa plana perpendicular ao fluxo Como foi visto no Cap.10, no caso de uma placa plana paralela ao escoamento, o arrasto se deve unicamente ao atrito superficial. Desta forma CD= CDf. CD=CDp Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-5 Na Tab.11.1 se são dados os valores do coeficiente de arrasto para diferentes corpos rombudos entre eles, esferas, semi-esferas, cilindros, placas planas, aerofólios; também é dado o coeficiente de arrasto de corpos típicos como asas de avião e automóveis. Cabe salientar que estes são valores de referência. Um estudo mais apurado deverá ser realizado para projetos de sistemas específicos. Tabela 11.1 Coeficiente de Arrasto para diferentes tipos de corpos Corpos rombudos CD Esfera rugosa 0.40 Esfera lisa 0.10 Semi-esfera oca oposta à corrente 1.42 Semi-esfera oca com face para a corrente 0.38 Semi-cilindro oco oposto a corrente 1.20 Semi-cilindro oco com face para a corrente 2.30 Placa plana 90° 1.17 Placa plana comprida a 90° 1.98 Roda girando oca h/D=0.28 0.58 Corpos afinados CD Placa Plana Laminar 0.001 Placa Plana Turbulenta 0.005 Aerofólio valor mínimo 0.006 Aerofólio próximo do estol 0.025 Asa em escoamento subsônico mínimo 0.05 Automóveis CD Avião de transporte subsônico 0.016 Avião supersônico M=2.5 0.025 Barcos 0.4-1.2 Helicópteros 0.3 -0.4 Carro de esporte 0.4 -0.5 Carro Econômico 0.5 Camioneta e caminhão 0.6-0.7 Trator e Trailers 0.7-0.9 Pessoas CD Homem em pé 1.0 - 1.3 Esquiador 1.2 - 1.3 Skier 1.0 - 1.1 Outros Fios e cabos 1.0 - 1.3 Prédio Empire State 1.3 - 1.5 Torre de Eiffel 1.8 - 2.0 Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-6 11.2 Escoamento sobre cilindros - Efeito da viscosidade Número de Reynolds Muito Baixo Para Reynolds baixo (Re < 0.1) o escoamento apresenta uma grande região onde os efeitos viscosos são importante. As linhas de corrente são praticamente simétricas com comportamento muito similar na parte anterior e posterior do cilindro. Este tipo de escoamento pode ser estudado utilizando a teoria de escoamentos potenciais. Figura 11.3 Escoamento com baixo Re Número de Reynolds Moderado Para escoamento em regime moderado (Re≅50) a região onde os efeitos viscosos são importantes se torna menor a montante do cilindro. A jusante a região viscosa aumenta. O escoamento perde sua simetria. Forma-se uma bolha de separação atrás do cilindro existindo um escoamento em sentido contrário ao fluxo principal.Figura 11.4 Escoamento para Re moderado Número de Reynolds Alto No caso de escoamento com número de Reynolds alto (Re > 105) a área afetada pelas forças viscosas é concentrada na parte de atrás do cilindro. Na parte frontal do cilindro se desenvolve uma camada muito fina de fluido onde os efeitos viscosos são importante. Na parte frontal, após a separação, o escoamento torna-se turbulento originando-se uma região com emissão de vórtices. Figura 11.5 Escoamento para Re alto Nestas regiões o fluido apresenta gradientes consideráveis de velocidade. Como a tensão de cisalhamento é proporcional a estes gradientes, os efeitos viscosos são significativos. Fora da camada limite e da região de vórtices o fluido se comporta como se fosse um fluido não viscoso. Cabe salientar que a viscosidade dinâmica permanece a mesma em todo o campo do escoamento já que o fluido é o mesmo. Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-7 11.3 Escoamento não viscoso num cilindro Do estudo do escoamento da camada limite numa placa plana sabemos que a fronteira da camada limite tenderá ao valor da velocidade de corrente livre (Voo) admitida a jusante da placa. Neste caso aplicando a Eq. de Bernoulli podemos constatar que não existe variação da pressão ao longo da placa. No caso do escoamento sobre um cilindro isto é bem diferente. Consideremos um escoamento não viscoso sobre um cilindro. Neste tipo de escoamento as linhas de corrente formadas em torno do corpo são simétricas e a linha de corrente que atinge o ponto de estagnação contorna o cilindro aderida ao mesmo. Devido à curvatura do cilindro a velocidade do fluido que contorna o cilindro (U) é diferente da velocidade de corrente livre e dependente da posição angular. Neste caso aplicando a Eq. de Bernoulli pode ser constatado que existe uma variação da pressão dependente da variação da velocidade que contorna o cilindro. Figura. 11. 6 Esquema de escoamento não viscoso Consideremos que a montante do cilindro a corrente livre não perturbada apresenta uma velocidade Voo e uma pressão Poo. Podemos aplicar a Eq. de Bernoulli que contorna o cilindro considerando um ponto a montante do cilindro e outro sobre a superfície da mesma com pressão p e velocidade U=U(θ). g U g p g V g p 22 22 +=+ ∞∞ ρρ Para analisar a distribuição de pressão utilizamos na forma adimensional definindo o coeficiente de pressão (Cp): 2 2 1 ∞ ∞− = V pp c p ρ Explicitando o termo (p - poo) da Eq. de Bernoulli e substituída na Eq. de Cp se obtém: 2 1 −= ∞V U c p A equação obtida mostra a dependência da distribuição de pressão em função da velocidade do fluido que contorna o cilindro. Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-8 Para escoamento não viscoso a solução teórica (potencial) da distribuição de pressão é dada como: θ2sen41−=pc Da mesma forma a velocidade ao longo da superfície é dada por: θθ sen2)( ∞= VU a qual pode ser representada na forma adimensional θθθ sen2)()(* == ∞V UU Utilizando estas expressões podemos graficar a distribuição de Cp e do perfil de velocidades em torno do cilindro. A pressão é simétrica em relação ao semi-plano vertical atingindo seu máximo nos pontos de estagnação A e F. Observa-se que a velocidade nos pontos de estagnação (θ=0 e θ=1800) é nula (U*(θ) =0), alcançando seu máximo em θ=900 sendo sua magnitude o dobro da velocidade de corrente livre (U=2Voo). Figura 11.7 Distribuição do coeficiente de pressão e da velocidade tangencial Considerando o escoamento não viscoso o arrasto por atrito será nulo (CDf =0). Devido à simetria da distribuição de pressão em torno ao cilindro o arrasto por pressão é nulo (CDp=0). Dados experimentais mostram que sempre existirá um arrasto no cilindro mesmo tratando-se de fluidos com viscosidade muito pequena. Isto nos leva ao denominado Paradoxo de d´Alambert o qual especifica que o arrasto num corpo é sempre nulo para escoamento não viscoso, porém o arrasto num corpo imerso num fluido viscoso não é nulo. Cilindros : Escoamento não viscoso CDp = CDf=0 Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-9 11.4 Escoamento viscoso num cilindro : Efeito do Gradiente Adverso de Pressão Numa placa plana paralela ao escoamento a camada limite se desenvolve num campo de escoamento onde a pressão permanece constante. Isto significa que o gradiente de pressão é nulo. No caso de geometrias mais complexas, ou placa plana com inclinação, o campo de pressão deixa de ser uniforme. No caso de um cilindro na camada limite se desenvolve um gradiente de pressão devido à variação da velocidade da corrente livre que contorna a fronteira da camada limite. Consideremos uma partícula de fluido, que escoa dentro da camada limite, que viaja do ponto A para o ponto F. Tal partícula está submetida à mesma distribuição de pressão das partículas de fluido próximas, porém fora da camada limite. Contudo, devido aos efeitos viscosos, a partícula localizada dentro da camada limite sofre perdas de energia. Sendo assim a partícula não tem energia suficiente para vencer o gradiente adverso de pressão quando escoa de C para F. Considera-se que a partícula de fluido quando chega em C não tem quantidade de movimento suficiente para vencer o gradiente de pressão adverso. Se define gradiente de pressão adverso quando a pressão aumenta no sentido do escoamento ou ∂p/∂x > 0 Se define gradiente de pressão favorável quando a pressão diminui no sentido do escoamento ou ∂p/∂x < 0 Figura 11.8 Escoamento com gradiente adverso de pressão sobre um cilindro Observando o perfil de velocidades dentro da camada limite (Fig. ) vemos que no ponto D, onde ocorre a separação do escoamento, o gradiente de velocidade e a tensão de cisalhamento na parede são nulos. Após este ponto se origina um escoamento reverso dentro da camada limite. 0 e 0 separação de ponto No 0 == ∂ ∂ = w yy u τ Atualmente as soluções computacionais conseguem identificar nos escoamento viscosos a separação da camada limite e a emissão de vórtices tal como representado na Fig. 11.9. Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-10 Figura 11.9 Solução numérica (CFD) do escoamento num cilindro com emissão de vórtices Devido aos efeitos da separação da camada limite a pressão média na metade traseira do cilindro é muito menor que na metade dianteira. Isto origina um arrasto (CD) devido principalmente à parcela de arrasto por pressão (CDp) já que o arrasto por efeitos viscosos (CDf) pode ser muito pequeno. O arrasto por pressão é denominado também arrasto por forma devido a sua dependência da forma do objeto. Cilindros : Escoamento viscoso CDp >> CDf Pelo efeito da separação da camada limite podemos compreender o paradoxo de d`Alambert. No escoamentos sobre um corpo submerso, mesmo para fluido com pequena viscosidade, se manifestará uma força de arrasto, a qual é, geralmente independente da magnitude da viscosidade do fluido. Dependência do Regime de Escoamento A localização do ponto de separação, a largura da esteira de vórtices originados na parte traseira do corpo e a distribuição de pressão na superfície do corpo dependem da natureza do escoamento, seja ele laminar ou turbulento. A energia cinética e a quantidade de movimento associadas ao escoamento na camada limite turbulenta são maiores do que as associadas ao escoamento na camada limite laminar. Isto se deve basicamenteao seguinte: (1) O perfil de velocidade na camada limite é mais uniforme no caso do escoamento turbulento que no caso do escoamento laminar. (2) A energia associada com os movimentos turbulentos aleatórios é maior que a laminar. Desta forma o descolamento da camada limite turbulenta desenvolvida em torno de um cilindro descola numa posição posterior daquela da camada limite laminar tal como se observa na figura. (a) Laminar (b)Turbulento Figura 11.10 Separação do escoamento laminar e turbulento. Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-11 Figura 11.11 Perfil de velocidades na camada limite no cilindro analisado Figura 11.11 1Distribuição de pressão em cilindro escoamento não viscoso e viscoso Efeito do Regime de Escoamento no Arrasto de Esferas e Cilindros Como mostra a Fig. 11.12 existe uma dependência do coeficiente de arrasto nos cilindros e esferas lisas, muito semelhantes em função do número de Reynolds. Para escoamento com baixo número de Reynolds o arrasto é função de 1/Re. Para escoamentos moderados (103 a 105) o coeficiente de arrasto tem comportamento constante. Quando o Re atinge o valor crítico a camada limite se torna turbulenta e existe um queda abrupta do arrasto. Para determinar o coeficiente de arrasto (CD) numa esfera lisa podemos também utilizar as equações sugeridas por Chow: Re ≤ 1 1 < Re ≤ 400 400 <Re ≤ 3x105 3x105 < Re ≤ 2x106 Re > 2x106 Re 24 =DC ( ) 646,0Re 24 =DC 5,0=DC ( ) 4275,0Re 000366,0 =DC 18,0=DC Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-12 Figura 11.12 Coeficiente de arrasto em função do número de Reynols para cilindros e esferas A estrutura típica do escoamento segundo o número de Reynolds é mostrada na Fig. 11.13. Para baixo número de Reynolds (Re≅0,1) se observa o escoamento típico (A) sem separação. A medida que Reynolds aumenta (Re≅10) se origina uma região de separação na parte traseira do corpo (B). A formação de vórtices oscilantes (C) se origina (Re≅100), conhecidos como vórtices de Von Karman. Para maiores Re se produz a configuração do escoamento laminar (D) no qual o arrasto é quase constante. Posteriormente quando se alcança o Re crítico (≅3x105) o escoamento torna-se turbulento (E) no qual o ponto de separação desloca-se para a parte traseira do perfil originando-se queda brusca do arrasto. Figura 11.13 Tipos de escoamentos associados aos pontos indicados no gráfico Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-13 Efeito da Rugosidade Superficial no Arrasto de Esferas e Cilindros Geralmente o arrasto aumenta com o aumento da rugosidade superficial nos corpos delgados como os perfis aerodinâmicos. Isto se deve a que o escoamento se torna turbulento. Nesta condições a maior contribuição para o arrasto total se deve ao arrasto por atrito (CDf) que é muito maior no escoamento turbulento que no escoamento laminar. Por outro lado, como se observa na figura abaixo, nos corpos rombudos, como um cilindro circular ou esferas, o aumento da rugosidade superficial pode causar uma diminuição do arrasto total. Para uma esfera lisa quando o Re atinge o valor crítico (Re≅3x105), a camada limite se torna turbulenta. Nesta condição a esteira atrás da esfera fica mais estreita. Isto origina uma diminuição significativa do arrasto por pressão (CDp) e um leve aumento do arrasto por atrito (CDf). A combinação desta duas parcelas de arrasto (CDp + CDf) fornece um arrasto total menor que nas condições de escoamento laminar. O aumento da rugosidade superficial pode conseguir que a camada limite se torne turbulenta para um Re mais baixo e com isto conseguir um arrasto total menor. Esta é, por exemplo, a técnica utilizada nas bolas de golfe que apresentam uma rugosidade artificial exagerada para conseguir um escoamento turbulento com menor Re (≅ 4x104) e diminuir assim o arrasto. Desta forma com uma tacada a bola pode alcançar maiores distâncias percorridas comparadas com o caso de uma esfera lisa. Figura 11.14 Efeito da rugosidade no coeficiente de arrasto em esferas lisas Figura 11.15 Diferença do escoamento de uma esfera lisa e uma bola de golfe. Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-14 11.5 Sustentação Aerodinâmica A sustentação é a componente da força aerodinâmica perpendicular ao movimento do fluido. Tal força é a responsável pelo vôo dos aviões e princípio de acionamento de muitos tipos de turbomáquinas. Nos aviões, por exemplo, as asas apresentam um formato aerodinâmico (Fig) cuja seção é denominado aerofólio ou perfil aerodinâmico. Estes são projetados para produzir sustentação com a menor força de resistência possível. Figura 11.16 Detalhe de seção transversal de uma asa definindo um aerofólio Um aerofólio apresenta uma borda de ataque e uma borda de fuga. Denomina-se corda ( c ) a linha que une a borda de ataque com borda de fuga. A linha curva que é sempre simétrica às superfícies superior e inferior denomina-se linha de camber ou linha média. Um perfil aerodinâmico é simétrico quando a linha da corda e a linha de camber são retas coincidentes. O formato de um aerofólio apresenta uma curvatura que atinge seu máximo indicada pela espessura máxima. Figura 11.17 Nomenclatura básica de um aerofólio Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-15 Figura 11.18 Detalhe das forças de sustentação e arrasto num aerofólio Um perfil aerodinâmico quando submetido a uma corrente de fluido com velocidade V∞ apresenta uma força resultante ( R ou FR) que é formada por duas componentes. Uma componente denominada força de sustentação (L ou FL) que atua perpendicular à velocidade e uma força de arrasto (D ou FD) que atua paralela à velocidade. O ângulo de ataque ( α ) é o ângulo formado entre a linha da corda e a velocidade de corrente livre. A força de sustentação é apresentada na forma adimensional como: p L AV LC 2 2 1 ∞ = ρ Onde CL é o coeficiente de sustentação L a força de sustentação V∞ a velocidade de corrente livre e Ap a área projetada máxima da asa. Ap=cb onde c é a corda do aerofólio e b a envergadura da asa. Da mesma forma define-se o coeficiente de arrasto como: p D AV DC 2 2 1 ∞ = ρ Onde CD é o coeficiente de arrasto e D a força de arrasto. Num perfil aerodinâmico o arrasto total origina-se pelo arrasto devido à pressão CDf, o arrasto devido ao atrito (superficial) CDf e o arrasto induzido CDi por efeitos de envergadura finita. Geralmente nos aerofólios o arrasto superficial é o mais importante. Isto pode se inverter para relações t/c maiores que 25% onde t é a espessura máxima do perfil e c a corda do mesmo. Aerofólio: Geralmente CDf >> CDp Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-16 11.6 Relação entre Coeficiente de Pressão e Sustentação A sustentação depende de vários parâmetros entre eles o formato do aerofólio, o número de Reynolds e o ângulo de ataque do perfil. Num corpo pode ser determinada quando se conhece a distribuição de pressão em torno do corpo. Na forma adimensional a distribuição de pressão é dada por: 2 2 1 ∞ ∞− = V pp c p ρ cp é denominado coeficiente de pressão que é a diferença entre a pressão estática local e a pressão estática de corrente livre adimensionalizada pela pressão dinâmica da correntelivre. Na figura abaixo mostra-se a curva típica da distribuição de pressão em torno de um aerofólio. A parte inferior do aerofólio apresenta uma pressão maior que na parte superior. Geralmente isto se apresenta trabalhando com o eixo de cp negativo tal como mostrado. O ponto de estagnação ocorre próximo da borda de ataque. Neste local a velocidade V=0. Para escoamento incompressível Cp=0 neste ponto. Quando a corda é unitária a sustentação é relacionada com o coeficiente de pressão: ( )∫ −= 1 0 c xdCCC pspiL Onde Cpi é o coeficiente de pressão da superfície inferior e Cps representa coeficiente de pressão da superfície superior. Figura 11.19 Distribuição do coeficiente de pressão num aerofólio Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-17 11.7 Curva de Sustentação versus Ângulo de Ataque. Um aerofólio com um determinado ângulo de ataque originará uma distribuição de pressão tal como mostrada na figura acima. Para graficar o comportamento da sustentação versus o ângulo de ataque de um perfil aerodinâmico devemos previamente avaliar a distribuição de pressão para cada angulo desejado e posteriormente graficar o resultado. Uma curva típica deste resultado pode ser observada na figura abaixo. Como se aprecia existe uma região em que a sustentação aumenta linearmente com o ângulo de ataque até alcançar a sustentação máxima (CLmax). Nesta região o escoamento apresenta-se suave sem separação da camada limite. Após este máximo o gradiente adverso de pressão provoca a separação do escoamento na superfície superior do aerofólio originando-se um esteira turbulenta. Nestas condições o aerofólio entra em estol o que significa que perde sustentação e ocorre aumento do arrasto. O ângulo em que se origina este fenômeno denomina-se ângulo de estol. Figura 11.20 Curva típica de sustentação aerodinâmica versus ângulo de ataque Um aerofólio simétrico apresentará uma curva de CL versus α que passa pela origem. Isto é para α=00 a sustentação CL=0. No caso de perfis assimétricos para α=00 o aerofólio apresenta um sustentação, contudo existirá um ângulo tal que terá sustentação nula tal como mostrado na figura abaixo. Figura 11.21 Curva de sustentação para aerofólios simétricos e assimétricos Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-18 Um aerofólio é uma seção de asa que, para efeitos de análise de escoamento, considera-se como bidimensional. Trata-se portanto de uma asa de envergadura infinita. Quando se estudam perfis com envergadura finita devem ser considerados os efeitos tridimensionais provocados pelas pontas das asas, as quais reduzem a sustentação e aumentam o arrasto. Num aerofólio de envergadura finita são originados vórtices de fuga devido a que a pressão média na superfície inferior é maior que a pressão média na superfície superior. Esta diferença de pressão se manifesta perto das pontas na qual o fluido tende a escoar da parte superior para a parte inferior. Como a asa está em movimento para jusante do aerofólio formam-se estes vórtices de fuga tal como mostrados na figura abaixo. Figura 11.22 Circulação e feito de vórtices de fuga num perfil de envergadura finita Os efeitos de envergadura são correlacionados utilizando a definição da razão de aspecto pA b ojetadaÁrea asadaocomprimentdoQuadrado arAspectodeRazão 2 Pr )( == onde b é a envergadura e Ap a área projetada. Se o comprimento da corda é constante tal como numa asa retangular, esta relação fica simplificada como ar = b/c. As asas compridas são mais eficientes que as asas curtas devido às perdas das pontas são menos significativas. O efeitos de pontas também origina um arrasto induzido o qual deve ser determinado e adicionado ao arrasto por atrito e por pressão do aerofólio. Figura 11.23 Definição de envergadura e área planiforme de uma asa Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-19 A relação sustentação/arrasto (L/D) é um parâmetro importante que mede a qualidade aerodinâmica de um perfil. Quanto maior esta relação maior será a eficiência do perfil. Seções modernas de baixo arrasto atingem L/D em torno de 400. Um planador de alto desempenho com ar=40 pode ter um L/D=40. Um avião típico (ar≅12) pode ter L/D≅20. Figura 11.24 Definição do ângulo de ataque geométrico efetivo e induzido Figura 11.25 Efeito da envergadura finita na sustentação aerodinâmica Nos perfis com envergadura finita as velocidades dirigidas para baixo reduzem o ângulo de ataque efetivo em proporção ao coeficiente de sustentação. iefec ααα += onde αefec é o ângulo efetivo numa asa com envergadura finita, αi é o ângulo de ataque induzido por efeito da velocidade para baixo originada pelos vórtices de fuga. Isto origina uma redução da inclinação da curva da sustentação como observado na figura. Da teoria de fluido incompressível o ângulo induzido é determinado como: ar CL i pi α = Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-20 A inclinação da curva de sustentação para um aerofólio com envergadura infinita é definida como coeficiente de inclinação: αd dC a Lo = Desta forma a sustentação pode ser avaliada para uma asa de envergadura infinita em função de ao curva utilizando a relação: eefctoL aC α= ( )ioL aC αα −= Figura 11.26 Determinação da sustentação para aerofólios de envergadura finita 11.7.1 Influência da Velocidade Induzida na Força de Arrasto Numa asa de envergadura finita os vórtices de fuga (Fig.11.22) originam velocidades para baixo que provocam um aumento do coeficiente de arrasto CD , o qual pode ser avaliado como: DiDD CCC += ∞ onde CD∞ é o coeficiente de arrasto da seção considerada um perfil de envergadura infinita e CDi é o arrasto induzido que pode ser avaliado pela expressão: ar CCC LiLDi pi α 2 == Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-21 A Fig.11.27 mostra a as curvas típicas de sustentação e arrasto para um perfil aerodinâmico em função do ângulo de ataque. Observa-se na curva de sustentação o comportamento linear de CL até o alcançar ângulo de estol (α≅150). Após este ângulo o aerofólio entra em estol, observando-se um queda brusca de CL e um aumento acentuadado do coeficiente de arrasto. (a ) Sustentação (b) Arrastro Figura 11.27 Curvas típicas de sustentação e arrasto para um aerofólio Efeito da compressibilidade Para corpos perfilados para escoamentos com número de M<0,5 os efeitos de compressibilidade no coeficiente de arrasto não são significativos. Já para escoamentos com M alto o coeficiente de arrasto é fortemente dependente do número de Mach, como se observa no exemplo da figura. Figura 11.28 Efeito da compressibilidade no escoamento de aerofólios Mecânica dos Fluidos Forças Aerodinâmicas 11-22 11.7.2 Velocidade mínima de vôo Nas condições de estado de vôo constante (condições de cruzeiro) a sustentação (FL) deve ser igual ao peso da aeronave (W). AVLW 2 2 1 ∞== ρ Figura 11.29 Equilíbrio do peso e da sustentação num avião em velocidade de cruzeiro A velocidade mínima (Vmin) de vôo é obtida quando CL=CLmax. AC WV L max min 2 ρ = Desta forma a velocidade mínima de aterrissagem pode ser reduzida pelo aumento de CLmax. ou pelo aumento da área daasa. Os flapes são partes móveis da borda de fuga de uma asa que podem ser prolongados num aterrissagem e decolagem com a finalidade de aumentar a área efetiva da asa. Capítulo 11: Escoamento Viscoso Externo - Forças Aerodinâmicas PUCRS - DEM - Prof. Alé 11-23 11.8 Exemplo - Arrasto em bolas de Golfe e de Tênis (Exercício resolvido de Munson et al.) • 1. Determinar a força de arrasto para uma bola de golfe (a) Bola Lisa (b) Bola Padrão • 2. Determinar a força de arrasto para a bola de tênis de mesa (Ping-Pong) • 3. Determinar a desaceleração de cada uma das bolas e comparar o resultado Fluido ar: (ρ=1,2kg/m3 e ν=1,51x10-5 m2/s) Uma bola de golfe bem tacada. Diâmetro Dg=43mm Peso W=0,44N Velocidade V=61,0 m/s Uma bola de tênis bem rebatida. Diâmetro Dg=38,1mm Peso W=2,45x10-2N Velocidade V=18,3m/s O coeficiente de arrasto total é assim definido: AU FC DD 2 2 1 ∞ = ρ ou DD ACUF 2 2 1 ∞= ρ Número de Reynolds Para Bola de Golfe ν UL L =Re Para bola de Tênis ν UL L =Re Área Bola de Golfe 0014522,0 4 2 == DABg pi Bola de Tênis 2 2 00114,0 4 m DABt == pi Coeficiente de arrasto: Fig. 11.14 Bola de Golfe Lisa CD=0,51 Bola de Golfe Padrão CD=0,25 Bola de Tênis CD=0,50 Pressão Dinâmica: Para as duas Bolas de Golfe Para a Bola de Tênis PaxxUPv 6,2232612,15,02 1 22 === ∞ρ ( ) PaxxUPv 2013,182,15,02 1 22 === ∞ρ Golfe Lisa N xxFD 65,1 51,00014522,06,2223 = = Bola de Golfe Padrão N xxFD 81,0 25,00014522,06,2223 = = Bola de Tênis N xxFD 115,0 5,000114,0201 = = A desaceleração correspondente é dada por: W F çãoDesacelera D= (a menor desaceleração maior deslocamento da bola - maior trajetória) Bola de Golfe Lisa 75,3 44,0 65,1 === W F Desc D Bola de Golfe Padrão 82,1 44,0 8,0 === W F Desac D Bola de Tênis 7,4 0245,0 115,0 === W F Desac D • A bola de golfe padrão (com cavidades) alcança uma maior trajetória já que possui uma menor desaceleração.
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