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Concepções Liberais do século XX Escola tradicional: Esta tendência percorreu, pelo menos, por 4 ou 5 séculos, do século 16 ao 20. Sofreu inúmeras críticas e transformações, principalmente pelas avaliações negativas surgidas pelas pedagogias inovadoras do século 20. Fica difícil, por conta de toda esta diversidade, fazer uma análise homogênea deste modelo tradicional de ensino então uma análise será feita através da comparação com as propostas das pedagogias inovadoras do século 20. A relação professor-aluno, na educação tradicional, é magistrocêntrica, isto é, centrada no professor e na transmissão de conhecimento. Este mestre detém todo o saber e o poder, detém a autoridade e comanda o processo de aprendizagem. A metodologia utilizada no ensino tradicional são as aulas expositivas, centradas no professor (exercícios de fixação, leituras repetidas, cópias, horários fixos, conteúdos dirigidos), os alunos não são vistos por suas individualidades, são tratados como grupo. O conteúdo é distanciado da vida e dos problemas cotidiano, pois a ênfase é expressa em transmitir a cultura acumulada, é a valorização do passado, de obras primas, por exemplo. É só transmitir o conhecimento acumulado. A avaliação é derivada desta acumulação dos saberes que foi transmitido. A prova passa a ser o objetivo do aluno, estudar para ser avaliado e não estudar para a vida, para o aprendizado. Esta aprendizagem se torna mecânica e para estimular passa a ter prêmios e punições, passa a ter competições e sistema classificatório. Do ponto de vista epistemológico (à teoria do conhecimento; à ciência), é privilegiada a posição empirista (experiência é a origem das ideias), que traz a assimilação do aluno, que foca ao conhecimento externo que é adquirido por transmissão. Já do ponto de vista antropológico predomina a concepção essencialista, ou seja, o homem já tem sua essência universal e o professor só precisa desenvolver as habilidades inerentes ao ser. E sobre os aspectos axiológicos (aspectos morais) a escola é pautada na hierarquia e na constante disciplina. Além disso, para manter esta rígida disciplina usava-se de castigos corporais e intimidação. A Escola Nova: A Escola Nova surgiu no final do século 19, para propor novos caminhos à educação que se apresentava em descompasso com o mundo moderno. O mundo vivia um processo veloz de transformação social, política e econômica, então era preciso que o homem contemporâneo estivesse preparado para viver um mundo em constantes modificações e para isso ele precisa aprender a aprender, precisa saber mais do que fixação de conteúdo. Começa neste momento uma ênfase maior no processo de conhecimento do que propriamente no produto. A escola Nova queria o acesso de todos ao saber e com isso conseguiria promover uma democratização do ensino e por consequência uma mobilidade social, uma ascensão social. A criança passa a ser vista como sujeito de ação, não é mais um miniadulto ou sujeito sem voz. A criança passa a ser o centro do processo, além disso, a educação passa a pensar no indivíduo, não mais em grupo. Algumas características são pertinentes a esta nova proposta, a relação aluno/professor, por exemplo, o aluno passa a ser o centro da atenção, a espontaneidade do aluno são valorizadas, suas curiosidades, seus desejos, o professor é apenas um facilitador da aprendizagem. Já o conteúdo precisa ser compreendido e não decorado como na escola tradicional. O processo de conhecimento passa a ser mais importante do que o produto. A metodologia utilizada parte do concreto para o abstrato é o aprender fazendo. O objeto da educação é a pessoa integral, razão, sentimentos, emoções e ação. Atividades físicas e o desenvolvimento da motrocidade tornam-se essenciais para o desenvolvimento- assim como mostrou Piaget na psicologia. Preocupam-se muito com a individualização, respeitando o desenvolvimento de cada um, mas também alia trabalhos em grupo para desenvolvimento da socialização. Programas e horários não são rígidos são adaptáveis às necessidades de cada indivíduo. A avaliação passa a não ser mais o centro, é um processo válido para o próprio aluno, não para o professor é só uma etapa de aprendizagem. A avaliação não afere apenas aspectos intelectuais e sim atitudes e aquisição de habilidades. É condenado o sistema de prêmios e de classificação da competição e é estimulado atitudes de solidariedade e cooperação. A disciplina estimula a autonomia, regras menos rígida objetivam buscar a responsabilidade e a capacidade crítica do aluno a fim de alcançar uma disciplina voluntária que é estimulada por discussão sobre a necessidade de normas coletivas para a vida em sociedade. Escola Nova e pragmatismo: Os ideais da escola nova só são compreendidos a partir da situação social e econômica no qual foi gerada. É típica representante da pedagogia liberal. A partir da Revolução Industrial, com o fortalecimento do capitalismo, houve necessidade da ampliação da rede escolar, uma escola que preparasse para este mundo novo, mundo com rápidas e constantes modificações. Além disso, era necessário depositar as esperanças que uma escola para todos traria mudanças sociais, traria possibilidades de mobilidade social, de ascensão das classes mais baixas. Final do século 19 e início do século 20 surgiu às primeiras experiências educacionais, trazendo teorias inovadoras. Uma boa parte era de ideal iluminista, mas houve inúmeras tendências que se opuseram a este iluminismo privilegiando a prática e a experiência, umas das influências que se destacam são a do pragmatismo (ação) e que influenciou no ideário da Escola Nova. A expressão pragmatismo foi usada por Charles Peirce e William James, e volta-se para o concreto, para os fatos, para a ação. As teorias passam a não ser mais as respostas definitivas para os problemas dos seres humanos, a verdade está em constantes modificações, não se tem só uma verdade. A proposição passa a ser verdadeira quando funciona, por isso é funcionalista esta tendência. O pragmatismo ressalva o papel da educação pela ação (educação progressiva). Um dos maiores teóricos desta corrente é John Dewey, identifica sua teoria como funcionalismo ou instrumentalismo, ou seja, as ideias passam a ser verdadeiras na medida em que funcionam como orientadoras de ação. O pragmatismo, dando ênfase ao papel da educação pela ação faz crítica ao intelectualismo e a memorização encontrada na escola tradicional. Para Dewey é indissociável vida, experiência e aprendizagem, esta educação progressista à medida que dá autonomia a criança permite que ela enriqueça sua experiência. Do ponto de vista epistemológico valoriza o empirismo, pois tem como resultante o processo derivado da experiência e tem o sujeito como ativo no processo. O sujeito e o objeto é que são importantes no processo. O escalanovismo no Brasil: No Brasil a Escola Nova só começou a se movimentar em 1920, no entanto as reformas eram esparsas. Suas ideias foram mais expressas em 1932, no Manifesto dos pioneiros da educação nova, através de Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho. Este manifesto surgiu em meio a conflitos entre católicos conservadores e escola renovada. No Estado Novo, o movimento renovador entrou em recesso ressurgindo em 1950 com estes mesmos pedagogos. Alguns colégios religiosos passaram a aderir ao escalanovismo. No Brasil, Anísio Teixeira foi responsável pela difusão das ideias pragmatistas de Dewey, devido a tal influência, Anísio utilizava a expressão escola progressiva e não Escola nova. Anísio defendia que era preciso dar condições para que o aluno desenvolva atitude científica, que aprenda por si mesmo, que elabore projetos, que faça reflexões, a escola tem que facilitar a atividade participativa do aluno, desenvolvendo responsabilidade no educando além de desenvolver progressivaautonomia. Assim como Dewey a meta era democratização do ensino, educação seria um Direito, todos teriam acesso a uma escola pública, universal, laica, gratuita e unitária. Esta nova escola deveria superar o dualismo escolar, onde ricos tinham acesso à educação acadêmica e aos pobres era destinado o ensino técnico. Várias teorias foram sendo incorporadas ao ideário da Escola Nova, até que no Golpe Militar (1960), houve uma tentativa da implantação da tendência tecnicista. As ilusões da Escola Nova Os teóricos da Escola Nova estavam convencidos que a verdadeira democracia seria instaurada pela “escola redentora”, na qual todos teriam as mesmas oportunidades e poderiam buscar um “lugar ao sol” a partir de seu talento e esforço, era a possibilidade de através do estudo buscar a tão sonhada mobilidade social, mas é justamente aí que perpetua o otimismo pedagógico desse ideário. A ilusão liberal desta se encontra no fato de que na verdade não seria uma busca de democratização e sim uma reprodução do sistema de desigualdades, ou seja, são fornecidas poucas chances reais para os filhos de operários deixarem de ser proletário, o que vimos são alto índice de repetência e evasão escolares e indicativas do afastamento precoce das crianças do ambiente escolar. Na verdade houve uma maior elitização do ensino, a escola pública ficou em desvantagem ao concorrer com um ensino altamente qualificado, com professores mais qualificados, escolas mais aparelhadas advindas das escolas particulares. Então este rebaixamento, esta posição inferiorizada da escola pública, acabou criando uma incapacidade da introdução destas novas didáticas e com isso gerando ainda mais o agravamento da marginalização do maior segmento da sociedade. Na verdade a reprodução do sistema se encontra também porque a raiz é a aceitação da desigualdade, em momento algum lutam e questionam os valores burgueses, a sociedade não é colocada em questão assim como vemos em teorias socialistas. Anísio Teixeira estava mais a frente de Dewey porque queria uma escola unitária, isto é, uma escola que prestava atendimento específico aos segmentos desfavorecidos. Alguns prejuízos também foram notados, como por exemplo, a crítica feita ao autoritarismo que era presente na Escola Tradicional e a relação aluno-professor muitas vezes baseada na falta de disciplina. Também a ênfase dada ao processo e não ao produto levou a confusão da velocidade do conteúdo dado. Esta má assimilação dos ideários progressistas trouxe algumas dificuldades como comentadas anteriormente e também trouxe o risco de puerilismo, ou seja, a supervalorização da criança e a consequente depreciação do adulto gerou a minimização do papel do professor. A má assimilação dos princípios da Escola Nova encontra-se na confusão entre ensino e pesquisa, enfatizam na experiência e deixam de lado as descobertas científicas já existentes. Todos sabem que para ser um cientista precisamos saber o contexto do que nos propomos a investigar e tentar reproduzir na sala de aula superficialmente estes conhecimentos científicos é um risco. Não se desmerece a contribuição da Escola Nova, pois abre novos rumos à educação quando começa a questionar as formas da escola tradicional. A tendência Tecnicista A partir do Golpe Militar, da década de 1960, surgiram propostas de inspiração tecnicistas e que baseavam que a escola só seria eficaz se adotasse o modelo empresarial, o modelo de racionalização (taylorismo) que focava na divisão de tarefas é o que seria essencial à educação. Esta tendência surgiu nos Estados Unidos, e no Brasil foi após o golpe de 1964 onde surgiram os acordos MEC-Usaid. O objetivo desta tendência é adequar a educação às exigências da sociedade industrial e tecnológica, ou seja, preparar a mão de obra qualificada para a indústria. O conteúdo a ser transmitido é baseado em informações objetivas que proporcione a adequação do indivíduo ao trabalho, a preocupação com o saber científico é nítida nesta época. Além disso, o método taylorista, baseado na divisão de tarefas, propõem um objetivo claro no processo, metas bem específicas. A relação entre professor e aluno exige um distanciamento afetivo, o professor é um técnico que transmite o conhecimento técnico e objetivo. Neste momento, os meios didáticos são ampliados e valorizados, passam a usar filmes, slides, máquinas de ensinar, telensino, módulos de ensino e computadores. Constatamos influência da filosofia positivista e da psicologia americana behaviorista, o conhecimento passa a ser compreendido como descoberta de algo que se acha fora do sujeito, não resultante de uma construção. O ensino busca mudanças de comportamento do aluno mediante treinamento, objetivando que ele desenvolva habilidades e adquira saberes. Desde 1950 o Brasil sofreu acelerada industrialização, com a implantação da indústria de base e o crescente crescimento do setor de serviços, o sistema educacional, porém, não tinha condições de oferecer recursos humanos exigidos por esta expansão econômica. Foram deste contexto que derivou a crise da década de 1960 agravadas pelos movimentos estudantis que buscavam mais vagas nas escolas e uma adequação da escola às novas necessidades. Com o golpe militar de 1964, o governo começou aceitar ajuda dos estados Unidos para implantação das reformas educacionais. Através de acordos MEC-Usaid o Brasil passou a receber assistência técnica e cooperação financeira advindas dos Estados Unidos. Estas trocas resultaram em leis quanto ao ensino universitário e o ensino de 1º e 2º graus no Brasil. De fato nunca houve uma mudança na prática, pois os professores continuavam com tendências da escola tradicional ou da escolanovistas. Decretos-leis impuseram mudanças, o professor passou a ser um simples executor de obras porque a burocratização do ensino estava sendo muito intensificada. A educação elementar foi bastante abandonada à implantação do ensino profissionalizante diminui a carga horária de disciplinas como história e geografia e exclui disciplinas como a filosofia. A queda do nível desta educação repercutiu mais drasticamente nas escolas públicas, pois as escolas particulares acabavam contornando as leis e continuando com conteúdos tradicionais. Esta dualidade no ensino cada vez mais agravava as desigualdades sociais e fazia com que só os filhos da elite tivessem acesso à educação superior. A escola pública só conseguia formar uma mão de obra barata, não qualificada, os trabalhadores só conseguiam empregos de baixa remuneração e não se via então uma mobilidade social. As críticas ao tecnicismo derivam da crise da razão contemporânea, ou seja, o racionalismo exacerbado acabou descuidando-se de aspectos importantes aos seres humanos como afeto, imaginação, sentidos, deixou isso de lado para usar as técnicas ancoradas no conhecimento científico. O cientificismo impresso no tecnicismo exalta a ciência em detrimento de outras formas de conhecimento de mundo. Decorrente disso nasce o mito do especialista, explicando este mito que nada mais é do que a fragmentação das ciências, onde só um especialista poderia saber e indicar a ação, só o especialista tem poder investigar a pequena parte de sua realidade. Nasce disso também, o mito da tecnocracia, pois para valer como saber técnico e científico só poderia acontecer se fosse revelada por técnicos e especialistas na função, a última palavra era a dele colocando todos os outros como ignorantes ao assunto além de reduzir o saber sem contemplar o todo, o interdisciplinar como falamos hoje. Ao apresentar uma solução reducionista, o tecnicismo traz uma resposta simplista a uma questão muito complexa. A ciência e a tecnologia auxiliam o trabalho do pedagogo, a educação não é resultante apenas de uma técnica e nem tampouco que não exista realidade educacional fora do conhecimento científico à questão é muitomais ampla. O tecnicismo trouxe à tona as disciplinas pragmáticas e excluiu as que são necessárias a construção do pensamento crítico.