Buscar

A relativização da coisa julgada inconstitucional

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A relativização da coisa julgada inconstitucional
Adelson Barbosa Damasceno
André Ribeiro Silva
Deborah Mendes Ribeiro
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo o estudo do fenômeno da relativização da coisa julgada, principalmente no que se refere a coisa julgada tida como inconstitucional, partindo-se dos conceitos básicos do Direito Processual Civil e do Direito Constitucional, visando formar uma base sólida para a iniciação das discussões centrais ora apresentadas. Dessa forma, objetivou principalmente analisar as hipóteses e os limites para que se possa relativizar a coisa julgada, observando não apenas os aspectos legais, mesmo porque trata-se de uma situação hoje admitida pela doutrina majoritária e sedimentada na jurisprudência que ainda carece de regulamentação legal, por isso, não cuida-se de um instituto jurídico, mas sim de uma situação para alguns chamada fenômeno. Os resultados apontam para a possibilidade de se relativizar a coisa julgada, contudo, esta deve ser feita de uma forma muito séria e sempre observando os resultados que dela pode advir, uma vez que sua aplicação indiscriminada implicaria em afronta ao princípio da segurança jurídica. Para se alcançar os objetivos pretendidos foi adotado o método bibliográfico, pautando-se na leitura de doutrinas, jurisprudências, legislação e artigos da internet.
Palavras-chave: Direito Constitucional. Coisa Julgada. Relativização da Coisa Julgada Inconstitucional. Segurança Jurídica.
______________________
* Alunos do Curso de Pós Graduação em Direito Público da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Campus de Divinópolis-MG.
INTRODUÇÃO
A coisa julgada é um instituto garantido constitucionalmente cujo objetivo é garantir a segurança jurídica, de modo que aquelas situações já decididas no âmbito do Poder Judiciário, esgotadas as possibilidades de interposição de recurso, tornem-se imutáveis.
Não restam dúvidas de que tal instituto é de suma importância para a manutenção do sistema democrático, haja vista que se assim não fosse, as relações jurídicas submetidas à apreciação jurisdicional poderiam nunca ter fim, o que ocasionaria, sem a menor sombra de dúvidas, uma grande insegurança jurídica, e consequentemente a própria descrença do cidadão no Poder Judiciário.
Dessa forma, a segurança jurídica não se reporta apenas aos interesses dos cidadãos em suas relações intersubjetivas, sua abrangência salta aos limites das relações civis, tendo grande relevância no Direito Penal, Tributário, Previdenciário, enfim, em todos os ramos do Direito.
Porém, questionar a exigibilidade daquilo que já foi determinado por uma decisão judicial da qual não caiba mais recurso, é uma matéria séria e que deve ser estudada com cuidado, uma vez que estão em jogo questões que levaram décadas, e talvez séculos, para se constituírem.
Destarte, o presente trabalho tem por objetivos o estudo do instituto da coisa julgada e de alguns institutos básicos do próprio Direito Constitucional como também do Direito Processual Civil, de modo a fornecer subsídios para posteriormente estudar o fenômeno da relativização da coisa julgada, principalmente da coisa julgada inconstitucional.
Importa frisar que não se tem a pretensão de esgotar o tema, o que se visa é contribuir, ainda que de forma singela, para o amadurecimento das discussões acerca do tema proposto.
Tendo em vista a dificuldade em se adotar outros meios de pesquisa, para a consecução dos objetivos pretendidos adotou-se o método bibliográfico, pautando-se na leitura de textos de lei, doutrinas, jurisprudências, revistas jurídicas e artigos publicados na internet.
2. COISA JULGADA
Coisa julgada é uma qualidade que adquire a sentença judicial com o seu trânsito em julgado, o qual ocorre com o esgotamento das possibilidades de interposição de recurso, seja por decurso do prazo recursal, seja por se exaurirem todos os recursos possíveis.
É instituto que visa gerar a segurança jurídica, e consequentemente a confiança das pessoas na decisão proferida pela justiça. (PARENTE, 2009).
Cuida-se, portanto, de instituto ligado ao fim do processo e à imutabilidade daquilo que tenha sido decidido. (WAMBIER, 2007)
De fato, a coisa julgada se revela um importante instrumento do sistema jurídico no processo de realização do Direito, no sentido de impor limites no passado e futuro, a possibilitar a ordem e racionalidade, necessárias à preservação do próprio sistema jurídico. (SANTOS, 2009).
Portanto, é instituto que tem em vista gerar segurança jurídica. A segurança, de fato, é um valor que desde sempre tem desempenhado papel de um dos objetivos do direito, assim, o homem está sempre em busca da segurança[1], e o direito é o instrumento pelo qual esta pode se efetivar.
Para o código de Processo Civil de 1973, o efeito principal da sentença é apenas esgotar o ofício do Juiz e acabar com a função jurisdicional (art. 463do CPC).
Referido Diploma Legal enfatiza ainda que “denomina-se coisa julgada material a eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário” (art. 467 do CPC).
Dessa forma, a sentença sujeita a recurso não passa de uma situação jurídica[2], haja vista que seus efeitos só ocorrerão no momento em que não mais seja suscetível de reforma por meio de recursos. (THEODORO JUNIOR, 2007)
Há, diante da possibilidade de ação rescisória da sentença (art. 485 do CPC), dois graus de coisa julgada, a coisa julgada e a coisa soberanamente julgada[3], ocorre esta última quando esgotado o prazo decadencial de dois anos após o trânsito em julgado da ação rescindenda ou quando seja a rescisória julgada improcedente.
Sendo, outrossim, rescindível e não nula a nova sentença que infringiu a coisa julgada, e como não podem coexistir duas coisas julgadas a respeito da mesma lide, força é concluir que, enquanto não rescindida, deverá prevalecer a eficácia do segundo julgamento.(THEODORO JÚNIOR, 2007)
3.1 Limites da coisa julgada
A coisa julgada é um instituto garantido constitucionalmente que visa à garantia da segurança jurídica das relações processuais, de modo que, esgotando para o vencido todos os recursos cabíveis torna-se a relação jurídico-processual impossível de ser rediscutida restando ao vencido se conformar e ao vencedor a garantia de que aquela situação jurídica não mais poderá ser rediscutida. (GRINOVER, 2008)
Tendo por ponto de partida a ideia de que a coisa julgada é a qualidade que torna a sentença imutável após o trânsito em julgado, ou seja, quando desta não caiba mais qualquer recurso, seja porque já interpostos todos os possíveis, seja por inércia ou desinteresse da parte vencida em recorrer, esta é de suma importância não apenas para as partes envolvidas no processo já decido, mas também para toda sociedade uma vez que demonstra que as decisões proferidas por um Juiz ou Tribunal têm eficácia, repassando assim a confiança que a justiça deve ter por parte da sociedade. (GRINOVER, 2008)
Entende-se que a partir do momento em que o Estado toma para si a função de dirimir os conflitos de modo a impedir que o cidadão exerça os seus direitos pelos meios que possui, assumi este, também, a obrigação de solucionar os conflitos de modo justo, célere e eficaz, eficácia não só no sentido de imutabilidade do julgado, mas também de segurança à parte vencedora, garantindo-lhe que seu direito não seja novamente atacado.
Portanto, o instituto da coisa julgada é de grande importância pois sem este haveria a perpetuação dos conflitos, e, o que se busca de fato, não é apenas uma solução justa, mas também o apaziguamento dos litigantes, pois a imutabilidade da decisão transitada em julgado é o remédio que faz com que o vencido, mais cedo ou mais tarde, venha a se conformar com a decisão e que ao mesmo tempo garante a cura do vencedor nas palavras do alemão Gustav Radbruch.(MORAES, 2007)
3.1.1 Limites objetivos da coisa julgada
Conforme dispõe o artigo 468 do Código de Processo Civil a sentença que julgar, total ou parcialmente, a lide, tem forçade lei nos limites da lide e das questões decididas. (PARENTE, 2009)
Portanto, aquilo que tenha sido decidido em sentença deve ser respeitado por estar protegido pela autoridade da coisa julgada.
Na oportunidade importa relembrar os artigos 469 e 470 do Código de Processo Civil, que assim rezam:
Art. 469. Não fazem coisa julgada:
I. Os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença;
II. A verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença;
III. A apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.
Art. 470. Faz, todavia, coisa julgada a resolução da questão prejudicial, se a parte a requerer (art. 5º e 325), o juiz for competente em razão da matéria e constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide.
Diante da leitura dos dispositivos acima transcritos percebe-se que apenas o dispositivo da sentença é que fará coisa julgada, não adquirido tal qualidade o relatório e a fundamentação, haja vista que estes últimos não contêm qualquer elemento decisório. (CÂMARA, 2007)
3.1.2 Limites subjetivos da coisa julgada
A coisa julgada também é submetida a limites subjetivos, ou em relação às pessoas que atinge. (PARENTE, 2009).
O artigo 472 do Código de Processo Civil dispõe que a sentença faz coisa julgada entre as partes, não beneficiando nem prejudicando terceiros que não compuseram a relação processual.
Com a regra do art. 472 do CPC se afirma que a coisa julgada se torna imutável e indiscutível em relação às partes, mas tal indiscutibilidade e imutabilidade não podem atingir terceiros, estranhos ao processo onde aquela autoridade se formou. (CÂMARA, 2007, p.501)
Contudo, há de se atentar que os efeitos da coisa julgada versam apenas sobre as partes, devendo, todavia, ser respeitada por todos, inclusive os alheios à relação processual.
Existem hipóteses também em que o terceiro juridicamente interessados podem se insurgir contra a coisa julgada, mas nesse caso, seu interesse deverá ser jurídico, não podendo versar sobre qualquer outro tipo de interesse, como por exemplo nos casos de substituição processual, quando um terceiro atua em juízo, em nome próprio, na defesa de interesse alheio. (CÂMARA, 2007)
Assim, salvo exceções, a regra é de que a coisa julgada alcança somente as partes envolvidas na relação processual.
3.2 Modalidades de Coisa Julgada: Formal e Material
A coisa julgada encontra-se dividida na doutrina brasileira em duas modalidades: coisa julgada formal e coisa julgada material sendo a primeira decorrente de um processo cujo mérito não fora examinado e a segunda de uma questão fática ou de direito exaurida no processo.
Diz Monique Soares Parente:
A coisa julgada formal, é aquela concernente à Ação cujo mérito não tenha sido julgado. Por conta disso, o autor da Ação, pode propor nova demanda contra o mesmo réu e com a mesma causa de pedir, desde que tenha sanado o defeito que tenha proporcionado a extinção da lide. (PARENTE, 2009, p. 40)
Conclui-se que a coisa julgada formal, uma vez que o mérito não fora apreciado, pode ser rediscutida em um novo processo, podendo ter mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido, desde que haja sido sanado o defeito que impediu o seu prosseguimento.
Para Alexandre Freitas Câmara:
A coisa julgada formal tem alcance limitado ao próprio processo onde foi proferida a sentença, impedindo que naquele feito se reabra a discussão já encerrada com o esgotamento dos recursos que podiam ser interpostos. (CÂMARA, 2007, p.486)
Porém, se a sentença tiver uma natureza definitiva contendo desta maneira, uma resolução do objetivo discutido no processo, alcançará também a coisa julgada material ou substancial, e, esta sim impede que a matéria volte a ser discutida.
A coisa julgada material faz com que o conteúdo da sentença se torne imutável em razão de o Estado-Juiz já ter decido acerca do mérito da questão, pacificando a lide de maneira que, diferentemente da coisa julgada formal, não se poderá discutir em nova ação o que já foi decidido.
Novamente para Alexandre Freitas Câmara:
A coisa julgada substancial, de outro lado, tem alcance mais amplo, tornando o conteúdo da sentença imutável e indiscutível em qualquer outro processo, sendo certo que não poderá, ainda que em processo novo, retomar a discussão sobre aquilo que já foi objeto de decisão transitada em julgado. (CÂMARA, 2007, p. 486).
Para Elpídio Donizetti:
Os efeitos da sentença vão determinar a natureza da coisa julgada que dela emergirá. Tratando-se de sentença de mérito ou definitiva, com efeito material ou formal, portanto teremos coisa julgada material. Ao revés, se a sentença põe fim ao processo, sem resolução do mérito, teremos apenas o efeito formal, e, consequentemente, a coisa julgada será tão-somente formal. (DONIZETTI, 2007, p. 331).
3. INCONSTITUCIONALIDADE
Para se entender o que seria coisa julgada inconstitucional, necessário se faz, ainda que de forma genérica, a compreensão do que seria inconstitucionalidade.
O fundamento da inconstitucionalidade está justamente na supremacia da Constituição Federal, sendo que as leis abaixo da Constituição devem com ela serem compatíveis, vale dizer, portanto, que as leis infraconstitucionais devem encontrar na Constituição o seu suporte de validade.
Na Constituição Federal encontram-se previstas duas espécies de inconstitucionalidade: por ação e por omissão, presentes nos artigos: 102, I, a e III, a, b e c e artigo 103 parágrafos 2 e 3.
O autor Pedro Lenza menciona ambas as espécies ao considerar que fala-se em inconstitucionalidade por ação (positiva ou por atuação), a ensejar a incompatibilidade vertical dos atos inferiores (leis ou atos do Poder Público) com a Constituição, e, em sentido diverso, em inconstitucionalidade por omissão, decorrente da inércia legislativa na regulamentação de normas constitucionais de eficácia limitada. (LENZA, 2011).
Para, J. J Gomes Canotilho citado por Pedro Lenza (2011), enquanto a inconstitucionalidade por ação pressupõe a existência de normas inconstitucionais, a inconstitucionalidade por omissão pressupõe a “violação de lei constitucional pelo silêncio legislativo (violação por omissão).
Pode-se considerar que a inconstitucionalidade por ação ocorre em razão da produção dos atos legislativos ou administrativos contrários às normas ou princípios constitucionais (PARENTE, 2009)
Já a inconstitucionalidade por omissão, na visão do constitucionalista Alexandre de Moraes:
Na conduta negativa consiste a inconstitucionalidade. A constituiçãodeterminou que o Poder Público tivesse uma conduta positiva, com a finalidade de garantir a aplicabilidade e eficácia da norma constitucional. O Poder Público omitiu-se, tendo, pois, uma conduta negativa. A incompatibilidade entre a conduta positiva exigida pela constituição e a conduta negativa do Poder Público omisso configura-se na chamada inconstitucionalidade por omissão. (MORAES, 2007, p. 740)
4. COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL
O fenômeno da coisa julgada inconstitucional ocorre quando uma sentença transitada em julgado encontra-se embasada em uma determinada lei, sendo esta vigente e válida. Posteriormente, essa lei, a qual fundamentou tal decisão, é declarada inconstitucional por decisão do Supremo Tribunal Federal, o que gera um efeito retroativo, devendo atingir todos os atos consagrados na vigência “ilegal” da referida lei.
Para Joyce Araújo dos Santos:
A nosso ver, é errado dizer “coisa julgada inconstitucional”, pois, em verdade, estará se tratando do instituto da coisa julgada, ou melhor, da qualidade atribuída às sentenças, evidenciando-se, assim, a impropriedade, haja vista que não pode ser inconstitucional o atributo a elas imprimido mas as sentenças ou acórdão propriamente ditos. (SANTOS, 2009, p. 119).
Portanto, na realidade, não seria a coisa julgada inconstitucional, uma vez que coisa julgada é meramente um atributo, uma qualidade atribuída a sentença que transitou em julgado. Inconstitucional, portanto é o conteúdo da sentença ou acórdão.
Novamentede acordo com Joyce Araújo dos Santos:
Hodiernamente, malgrado o embasamento da coisa julgada na segurança jurídica, têm sobressaído questionamentos, no âmbito do Direito Processual Civil Constitucional, acerca da coisa julgada contraria à Constituição, no sentido de que as decisões que apresentem incompatibilidade com as normas constitucionais, e aí se incluindo os princípios, devem ser passíveis de controle de constitucionalidade, ou seja, devem ser desconstituídas.
Defende-se a relativização de tais decisões, ainda que transitadas em julgado, sob o argumento de que a determinação viola alguma norma constitucional, ou ainda como um reflexo do controle de constitucionalidade, o que, por sua vez, também violaria o principio da isonomia, redundado, em última análise, na violação à justiça, numa visão aristotélica. Nesse passo, é a busca pela justiça que move a proposta de desconstituição da sentença ou acórdão ofensivos da Constituição. (SANTOS, 2009, p. 117).
Pode-se dizer que a desconstituição da coisa julgada inconstitucional, não fere a segurança jurídica, pois existem no ordenamento constitucional brasileiro, princípios superiores, como é o princípio da constitucionalidade que determina que, todos os atos emanados dos poderes federativos devem estar em total harmonia com o que determina a Constituição Federal. Sendo a desconstituição aparada pela segurança jurídica que modo a garantir a justiça ao caso concreto, não perpetrando julgados com base em lei tida como inconstitucional, dando assim de forma uniforme o mesmo tratamento a todos os jurisdicionados. (OLIVEIRA, 2004)[4].
Para Cândido Rangel Dinamarco citado por Joyce Araújo dos Santos (2009) a ideia de coisa julgada inconstitucional é plausível e deve ser aceita por representar a harmonia entre os princípios e garantias previstos na Constituição, sobretudo por implicar o resultado da ponderação entre a exigência de certeza jurídica e a justiça das decisões judiciais, uma vez que a ordem constitucional não tolera que se eternizem injustiças a pretexto de não eternizar litígios.
5. COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL E O PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA
O Instituto da coisa julgada visa, de forma geral, por fim aos conflitos de interesses, com isso evitando a perpetuação dos litígios, acabando com controvérsias, insegurança e novos questionamentos acerca das mesmas questões já pacificadas pelo judiciário.
Dessa forma a coisa julgada impõe-se ao futuro, pela firmeza, estabilidade, que se fazem indispensáveis para se pôr termo à vacilação, à dúvida, ou ao distúrbio, oriundos da instabilidade quanto à verdade intrínseca. O que é preciso é que se acabem as controvérsias, a insegurança, o pisar e o repisar das questões. (THEODORO JÚNIOR 2007).
Lecionando no mesmo sentido Neves (2004, p. 1) nos traz que “o fundamento da coisa julgada é puramente prático: evitar a perpetuação dos conflitos. Em outras palavras, a coisa julgada existe por uma questão de conveniência, já que é desejável que seja conferida segurança às relações jurídicas atingidas pelo efeito da sentença”.
Em que pese o fundamento da coisa julgada ser evitar a perpetuação dos conflitos, novos conflitos surgem quando a sentença transitada em julgado encontra-se embasada e uma determinada lei que, posteriormente, é declarada inconstitucional por decisão do Supremo Tribunal Federal.
Novamente as partes envolvidas na relação processual, as quais estariam protegidas pelo manto da coisa julgada, estão diante de um novo impasse. A declaração de inconstitucionalidade da lei que embasou a decisão transitada em julgado seria capaz de abalar a segurança da relação jurídica atingida pelo efeito da sentença?
Na tentativa de por fim a tal dúvida surge o princípio da segurança jurídica, o qual visa dar cumprimento, inclusive pela legislação infraconstitucional ao direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito.
Trata-se de princípio diretamente ligado à elaboração do que seja a ideia de Estado Democrático de Direito, conforme é assinalado por JJ Gomes Canotilho citado por Pedro Lenza (2011), se constitui o referido princípio em uma das vigas mestras da ordem jurídica. O citado princípio se liga estruturalmente à moderna exigência de que se dê maior estabilidade as situações jurídicas, aí incluídas aquelas, que na sua origem, apresentem vícios de ilegalidade.
Referido princípio está disposto no inciso XXXVI, artigo 5º da Constituição Federal, o qual dispõe que a Lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Portanto está dotado de efetividade, porquanto inserido no rol de direitos e garantias fundamentais, gozando, ainda, de aplicabilidade imediata, a teor do disposto no § 1º do artigo 5º da Constituição Federal.
No entanto, em que pese a garantia constitucional da segurança jurídica, dúvidas e posições divergentes surgem no momento em que o principio da segurança jurídica vai de encontro com demais princípios do ordenamento jurídico pátrio, como é o caso de decisão judicial transitada em julgado baseada em leis declaradas inconstitucionais.
Em tal situação, deve-se por ressalvas à interpretação do inciso XXXVI do artigo 5º da Constituição, pois se acaso interpretada de forma literal, não há que se falar em possibilidade de alteração de situações definidas por sentenças transitadas em julgado, tendo em vista que o legislador constituinte afirma que a lei não prejudicará a coisa julgada.
Nesse ínterim deve-se interpretar a Constituição em conformidade com os demais princípios norteadores do ordenamento jurídico, não podendo deixar que a coisa julgada se sobreponha a todos os demais princípios, sobretudo à justiça.
De acordo com as lições de José Augusto Delgado:
Havendo simetria entre segurança e justiça, na perspectiva lógica da aplicação do direito, o conflito que se procura estabelecer entre ambas é de mera aparência. De fato, inadmissível a segurança servir de pano de fundo para impedir a impugnação da coisa julgada, imutável, imodificável e absoluta, na percepção dos processualistas mais conservadores. Mas torna-se necessário enfrentar tais resistências, desmistificando essa ideia de superação do Estado de Direito pelo Poder Judiciário. (In NASCIMENTO, Carlos Valder do. 2002, p 119-120).
No mesmo sentido José Augusto Delgado, leciona quanto a impossibilidade de reconhecer como absoluta a coisa julgada que vá contra a moralidade, legalidade e os princípios maiores da Constituição Federal:
“(...) não posso conceber o reconhecimento de força absoluta da coisa julgada quando ela atenta contra a moralidade, contra a legalidade, contra os princípios maiores da Constituição Federal e contra a realidade imposta pela natureza. Não posso aceitar, em sã consciência, que, em nome da segurança jurídica, a sentença viole a Constituição Federal, seja veículo de injustiça, desmorone ilegalmente patrimônios, obrigue o Estado a pagar indenizações indevidas, finalmente, que desconheça que o branco é branco e que a vida não pode ser considerada morte, nem vice-versa.” (In NASCIMENTO, Carlos Valder do. 2002, p. 216).
Tais posicionamentos nos levam a concluir que o princípio da segurança jurídica deve estar em consonância com os demais princípios constitucionais, não podendo a coisa julgada se sobrepor a princípios e valores maiores moralidade, tais como a justiça a moralidade e legalidade.
6. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL
O princípio da segurança jurídica vigorou como absoluto no ordenamento jurídico pátrio por muito tempo, porquanto competia ao juiz “pronunciar o direito”, não havendo que se falar em mudança das decisões judiciais.
O próprio poder judiciário ficou imune às ações diretas de inconstitucionalidade, permanecendo o princípio da segurança jurídica e a coisa julgada imunes a qualquer questionamento, possuindo, ainda caráter absoluto no ordenamento jurídico.
Tal posicionamento vem se modificando. A doutrina, de um modo geral, aponta a possibilidade de revisão da decisão protegida pelo manto da imutabilidade, salientandosempre que somente em casos excepcionais a coisa julgada deverá ser relativizada.
Joyce Araújo dos Santos fundamenta a relativização da coisa julgada inconstitucional:
Defende-se a relativização de tais decisões, ainda que transitadas em julgado, sob o argumento de que a determinação viola alguma norma constitucional, ou ainda como um reflexo do controle de constitucionalidade, o que, por sua vez, também violaria o princípio da isonomia, redundando, em última análise, na violação à justiça, numa visão aristotélica. Nesse passo, é a busca pela justiça que move a proposta de desconstituição da sentença ou acórdão ofensivos da Constituição. (SANTOS, 2009, p. 117-118)
Há diversos posicionamentos doutrinários acerca da relativização da coisa julgada inconstitucional, alguns favoráveis, outros contrários.
Nelson Nery Júnior é desfavorável a relativização da coisa julgada inconstitucional. Para ele, a coisa julgada constitui elemento de existência do Estado Democrático de Direito, porquanto possui fundamento na segurança jurídica, não se podendo conferir à coisa julgada tratamento inferior.
Para Nery Júnior por a coisa julgada constituir elemento do Estado Democrático de Direito, não deverá ser reduzida sua importância sob o argumento de que a sentença é injusta ou contrária à Constituição, haja vista que:
O sistema jurídico convive com a sentença injusta (quem será o juiz posterior da justiça da sentença que for impugnável por ação rescisória) bem com a sentença proferida contra a Constituição ou a lei (a norma que é abstrata, deve ceder sempre a sentença que regula e dirige uma situação concreta). (NERY JÚNIOR, 2004, p. 507).
Para José Augusto Delgado (2002), doutrinador favorável a desconstituição da coisa julgada tida como inconstitucional, os julgados contrários às normas constitucionais não terão força de coisa julgada, podendo ser desconstituídos a qualquer tempo, uma vez que praticam agressão ao regime democrático no seu âmago mais consistente que é a garantia da moralidade, legalidade, do respeito à Constituição e da entrega da justiça. Para ele, a coisa julgada é uma garantia constitucional constituindo óbice tão-somente à retroatividade da lei, de modo que a segurança jurídica que informa está subordinada aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, de modo que pode ser afastada para fazer imperar a moralidade, a legalidade e a certeza do justo nas decisões judiciais.
Para Alexandre Freitas Câmara (2007), também favorável a relativização da coisa julgada inconstitucional, o vício de inconstitucionalidade atinge os atos judiciais, sendo, no seu entender, o vício mais grave que pode acometer uma sentença ou acórdão. Referido autor, menciona ainda, que a ineficácia da sentença inconstitucional transitada em julgado poderá ser reconhecida por qualquer meio idôneo, ou seja, por qualquer meio capaz de permitir que essa questão suscitada em outro processo, como questão principal ou como questão prévia.
Para Monique Soares Parente:
No direito brasileiro a norma inconstitucional é considerada nula, e sua declaração pelo Supremo Tribunal Federal tem efeitos ex tunc e erga omnes, a não ser que esse Tribunal por razões de segurança jurídica e relevante interesse social, decida, por maioria de dois terços de seus membros, que a declaração de inconstitucionalidade da norma somente tenha efeitos a partir do trânsito em julgado desta decisão ou a partir de algum outro momento que venha a ser fixado (ou seja, que tenha efeitos ex nunc, daí em diante).
Ora, se a sentença é baseada em lei ou ato normativo nulo, esta também será nula, não podendo produzir efeitos no mundo jurídico. (PARENTE, 2009, p. 50-51).
Alguns juristas afirmam inclusive que se a sentença é baseada em lei ou ato normativo inconstitucional, tal sentença é inexistente. (PARENTE, 2009).
Porém a opinião da maioria dos juristas é de que a coisa julgada inconstitucional é passível de rescisão. (PARENTE, 2009).
Para a desconsideração da coisa julgada inconstitucional poderia se usar, de acordo com a doutrina majoritária: ação rescisória, ação ordinária declaratória de nulidade absoluta, o mandado de segurança e os embargos à execução. (PARENTE, 2009).
7. CONCLUSÕES
O Brasil é um Estado Democrático de Direito e possui como uma de suas principais características a supremacia da Constituição, devendo todos os atos emanados pelo Estado estarem de acordo o disposto na Carta Magna.
O princípio da Segurança Jurídica encontra-se resguardado pela Constituição Federal de 1988, sendo o principal responsável pela não perpetuação dos conflitos pelo tempo.
A fim de garantir a segurança jurídica foi criado no Direito Brasileiro o instituto da Coisa Julgada, que nada mais é que uma qualidade que adquire a sentença judicial com o seu trânsito em julgado, o qual ocorre com o esgotamento das possibilidades de interposição de recurso, seja por decurso do prazo recursal, seja por se exaurirem todos os recursos possíveis. A coisa julgada concede à decisão judicial a característica de imutabilidade, com o intuito de perpetuar o que restou decidido pelo juízo em determinada lide, concedendo segurança às partes que buscaram a tutela jurisdicional.
Porém nem o argumento da coisa julgada, nem o argumento da segurança jurídica devem ser utilizados para justificar a imutabilidade de sentenças ou acórdãos que encontram-se em desconformidade com o texto constitucional.
De acordo com a doutrina majoritária, a coisa julgada inconstitucional pode sim ser desconsiderada.
No entanto, a relativização da coisa julgada inconstitucional não deve ser aplicada de forma desmedida, devendo ser aplicada apenas em situações tidas como excepcionais. Justifica-se tal assertiva, para não se criar dúvidas sob a atuação do Poder Judiciário e para que a sociedade não passe a “viver de incertezas”.
Abstract
The purpose of this paper is the study of the phenomenon of the relativization of the thing judged, particularly in terms of the res judicata taken as unconstitutional, starting from basic concepts of Civil Procedural Law and Constitutional Law, in order to form a solid basis for the initiation of discussions presented herein. This way, the objective was mainly analyze the assumptions and the limits to relativize the thing being judged, observing not only the legal aspects, even because it is a situation today admitted the doctrine epitomizes and deposited in the case-law that still lacks legal regulations, therefore, do not take care of a legal institute, but in a situation for some called phenomenon. The results point to the possibility of downgrading the thing being judged, however, this must be done in a very serious and always observing the results that it may arise, once its indiscriminate application would result in an affront to the principle of legal certainty. To achieve the objectives pursued was adopted the method bibliographic, based on reading of doctrines, jurisprudence, law and articles on the internet
Keywords: Constitutional Law. Res Judicata. Relativization of Thing Judged Unconstitutional. Legal Certainty
8. BIBLIOGRAFIA
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil, v. 3, 15ª edição. Lúmem Juris, 2007
CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. Jurisdição Constitucional Democrática. Del Rey. 2004
DELGADO, José Augusto. Efeitos da coisa julgada e os princípios constitucionais. In: NASCIMENTO, Carlos Valder do (coord.). Coisa julgada inconstitucional. América Jurídica, 2004.
DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 7ª edição. Lumen Juris. 2007.
GRINOVER. Ada Pellegrini. Teoria Geral do Processo. 24ª edição. Malheiros. 2008
LEAL, Rosemiro Pereira. Relativização Inconstitucional da Coisa Julgada: temática processual e reflexões jurídicas. Del Rey. 2005
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 15ª edição. Saraiva. 2011
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 21ª edição. Atlas. 2007
NEVES, Marcelo. Teoria da Inconstitucionalidade das Leis. Saraiva. 1988.
NERY JR., Nelson. Princípios do Processo Civilna Constituição Federal. 8ª edição. Revista dos Tribunais. 2004
OLIVEIRA, Daniel Gomes de. Coisa julgada inconstitucional. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 280, 13 abr. 2004. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/5087>. Acesso em: 21 nov. 2011
PARENTE, Monique Soares. Relativização da Coisa Julgada no Processo Civil Brasileiro. Continental Jurídica. 2009
RAMOS, Elival da Silva. Controle de Constitucionalidade no Brasil: Perspectivas de Evolução. Saraiva, 2010.
SANTOS, Joyce Araújo dos. Teoria da Relativização da Coisa Julgada Inconstitucional. Nuria Fabris. 2009.
SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 34ª edição. Malheiros. 2011
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. V 1. 48ª edição. Forense. 2007
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de Processo Civil. V. 1. 9ª edição. Revista dos Tribunais. 2007
[1] Wambier, Luiz Rodrigues. Em seu Curso Avançado de Processo Civil, v. I, defende a ideia de que o homem, por meio do direito, procura tanto a segurança no que diz respeito ao ordenamento jurídico como um todo, quanto no que tange às relações jurídicas individuais, sendo este o papel que a coisa julgada desempenha.
[2] Theodoro Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria gral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. V. I. 48ª edição. Editora Forense. 2007.
[3] MARQUES, Frederico. Manual de Direito Processual Civil, 1ª edição., V. III, P. 664.
[4] OLIVEIRA, Daniel Gomes de. Coisa julgada inconstitucional. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 280, 13 abr. 2004. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/5087>. Acesso em: 21 nov. 2011

Continue navegando

Outros materiais