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Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 1 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 1 BIOQUÍMICA 2º Período Medicina UFG Sumário DIAGNÓSTICO MOLECULAR ............................................................................................................... 6 MÉTODOS DE BIOLOGIA MOLECULAR APLICADOS AO DIAGNÓSTICO CLÍNICO.......................................... 7 PRINCÍPIOS DE DIAGNÓSTICO MOLECULAR ................................................................................................................ 7 O PROCESSO BIOLÓGICO DETERMINA O MÉTODO DE DIAGNÓSTICO ............................................................................... 7 A REVOLUÇÃO DA BIOLOGIA MOLECULAR................................................................................................................ 9 TÉCNICAS BASEADAS EM ÁCIDOS NUCLEICOS ............................................................................................................. 9 Técnicas de hibridização .......................................................................................................................... 10 Técnicas baseadas no DNA ...................................................................................................................... 11 Técnicas baseadas no RNA ...................................................................................................................... 13 TÉCNICAS BASEADAS EM PROTEÍNAS...................................................................................................................... 13 TECNOLOGIA DE DNA RECOMBINANTE ................................................................................................ 15 Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 2 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 2 DIAGNÓSTICO MOLECULAR.................................................................................................................................. 15 TESTE ELISA ......................................................................................................................................... 17 SINALIZAÇÃO CELULAR .................................................................................................................... 18 MECANISMOS DE TRANSDUÇÃO DE SINAL ASSOCIADOS À EXPRESSÃO.................................................. 19 SINALIZAÇÃO CELULAR ........................................................................................................................................ 19 RECEPTOR DE INSULINA – INDUÇÃO DA TRANSCRIÇÃO GÊNICA .................................................................................... 24 REGULAÇÃO PELO CGMP ................................................................................................................................... 24 CÁLCIO ............................................................................................................................................................ 25 ENZIMAS REGULADAS PELO CAMP ....................................................................................................................... 25 FOSFATIDIL-INOSITOL DERIVADOS ......................................................................................................................... 26 TUMORES ........................................................................................................................................................ 26 AÇÃO HORMONAL ............................................................................................................................................. 26 APOPTOSE .......................................................................................................................................... 28 DIVISÃO CELULAR ................................................................................................................................ 31 PRINCIPAIS GRUPOS ........................................................................................................................................... 31 VIAS DE TRANSDUÇÃO DE SINAL .......................................................................................................... 33 ETAPAS DA VIA DE TRANSDUÇÃO DE SINAL .............................................................................................................. 33 VIA DE TRANSDUÇÃO DE SINAL DA EPINEFRINA ................................................................................... 35 FINALIZAÇÃO DO SINAL DA EPINEFRINA .................................................................................................................. 37 VIA DE SINALIZAÇÃO DE FOSFOINOSITÓIS ............................................................................................ 40 CÁLCIO E CALMODULINA ..................................................................................................................... 42 Calmodulina ............................................................................................................................................. 43 VIA DE TRANSDUÇÃO DE SINAL DA INSULINA ....................................................................................... 44 AÇÃO SECUNDÁRIA DA INSULINA .......................................................................................................................... 46 VIA DE TRANSDUÇÃO DE SINAL DO EGF ............................................................................................... 48 PROPRIEDADES COMUNS ÀS VIAS DE SINALIZAÇÃO .............................................................................. 51 SINALIZAÇÃO CRUZADA DA CÓLERA E PROTEÍNA G .............................................................................. 53 APOPTOSE (MORTE CELULAR PROGRAMADA) ...................................................................................... 55 Via intrínseca da apoptose ...................................................................................................................... 55 Via extrínseca da apoptose ..................................................................................................................... 56 Fator indutor de apoptose ....................................................................................................................... 56 Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 3 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 3 CÂNCER E FINALIZAÇÃO DAS VIAS DE SINALIZAÇÃO .............................................................................. 57 METABOLISMO ................................................................................................................................. 59 INTRODUÇÃO AO METABOLISMO ........................................................................................................ 60 CATABOLISMO E ANABOLISMO ............................................................................................................................. 62 METABOLISMO ENERGÉTICO................................................................................................................................ 64 CARBOIDRATOS................................................................................................................................ 66 METABOLISMO DE CARBOIDRATOS ..................................................................................................... 67 TRANSPORTADORES DE GLICOSE ........................................................................................................................... 67 METABOLISMO DA GLICOSE .................................................................................................................................70 GLICÓLISE ........................................................................................................................................... 73 DETALHAMENTO DAS ETAPAS DA GLICÓLISE ............................................................................................................ 74 VIAS ALIMENTADORAS DA GLICÓLISE ..................................................................................................................... 79 Galactose ................................................................................................................................................. 80 manose .................................................................................................................................................... 81 Frutose ..................................................................................................................................................... 81 Polissacarídeos e dissacarídeos ............................................................................................................... 83 PIRUVATO ........................................................................................................................................... 85 DESTINOS DO PIRUVATO ..................................................................................................................................... 85 DESCARBOXILAÇÃO DO PIRUVATO EM ACETILCOENZIMA A ......................................................................................... 87 CICLO DE KREBS................................................................................................................................... 89 DETALHAMENTO DAS ETAPAS DO CICLO DE KREBS .................................................................................................... 89 ANABOLISMO DOS INTERMEDIÁRIOS DO CICLO DE KREBS ........................................................................................... 92 INTERAÇÃO DO CICLO DE KREBS COM OUTRAS VIAS .................................................................................................. 94 REGULAÇÃO DO CICLO DE KREBS .......................................................................................................................... 95 CADEIA TRANSPORTADORA DE ELÉTRONS ............................................................................................ 98 LANÇADEIRAS DE COENZIMAS .............................................................................................................................. 99 CONSTITUINTES DA CADEIA TRANSPORTADORA DE ELÉTRONS ................................................................................... 101 DETALHAMENTO DA CADEIA TRANSPORTADORA DE ELÉTRONS .................................................................................. 103 FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA ................................................................................................................106 REGULAÇÃO DA CADEIA TRANSPORTADORA DE ELÉTRONS/FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA ................................................... 107 Desacoplamento .................................................................................................................................... 108 Verificação do comportamento da cadeia transportadora .................................................................. 110 Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 4 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 4 SALDO DA RESPIRAÇÃO CELULAR ........................................................................................................112 GLICONEOGÊNESE ..............................................................................................................................114 GLICONEOGÊNESE A PARTIR DE PIRUVATO ............................................................................................................ 114 Via principal ........................................................................................................................................... 115 Via secundária ....................................................................................................................................... 117 REGULAÇÃO DA GLICÓLISE/GLICONEOGÊNESE ....................................................................................................... 118 VIA DAS PENTOSES FOSFATO ..............................................................................................................121 DETALHAMENTO DAS ETAPAS ............................................................................................................................ 124 Saldo da via das pentoses fosfato ......................................................................................................... 126 FORMAÇÃO DE ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO.................................................................................................... 127 METABOLISMO DO GLICOGÊNIO .........................................................................................................130 ESTRUTURA DO GLICOGÊNIO .............................................................................................................................. 130 DEGRADAÇÃO DE GLICOGÊNIO ........................................................................................................................... 131 Glicogênio fosforilase ............................................................................................................................ 132 SÍNTESE DE GLICOGÊNIO ................................................................................................................................... 133 Efeito da insulina sobre o metabolismo do glicogênio .......................................................................... 134 REGULAÇÃO DO METABOLISMO DO GLICOGÊNIO ................................................................................................... 135 No fígado ............................................................................................................................................... 135 No músculo ............................................................................................................................................ 135 LIPÍDIOS ...........................................................................................................................................136 DEGRADAÇÃO DE LIPÍDIOS .................................................................................................................137 TRIACILGLICEROL ............................................................................................................................................. 137 METABOLISMO ENERGÉTICO DE ÁCIDOS GRAXOS ................................................................................................... 139 Detalhamento das etapas da beta-oxidação de ácidos graxos de número par de carbonos ............... 140 Saldo da beta-oxidação de ácidos graxos ............................................................................................. 141 FORMAÇÃO DE CORPOS CETÔNICOS .................................................................................................................... 141 METABOLISMO DO ETANOL ................................................................................................................143 SÍNTESE DE LIPÍDIOS ...........................................................................................................................144 Detalhamento das etapas da síntese de ácidos graxos ........................................................................ 144 Saldo da síntese de ácido palmítico ......................................................................................................145 Regulação da síntese de ácidos graxos ................................................................................................. 145 Modificações do ácido palmítico ........................................................................................................... 146 SÍNTESE DE TRIACILGLICERÓIS............................................................................................................................. 147 Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 5 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 5 METABOLISMO DO COLESTEROL .........................................................................................................148 SÍNTESE DE COLESTEROL ................................................................................................................................... 150 PROTEÍNAS ......................................................................................................................................152 METABOLISMO DE AMINOÁCIDOS ......................................................................................................153 REMOÇÃO DO GRUPO AMINO DOS AMINOÁCIDOS.................................................................................................. 154 CICLO DA UREIA .............................................................................................................................................. 155 Balanço energético da bicicleta de Krebs .............................................................................................. 156 DEGRADAÇÃO DA CADEIA CARBÔNICA ................................................................................................................. 156 SÍNTESE DE AMINOÁCIDOS ................................................................................................................................ 157 BIOSSÍNTESE A PARTIR DE AMINOÁCIDOS.............................................................................................................. 158 REGULAÇÃO METABÓLICA ..............................................................................................................159 REGULAÇÃO METABÓLICA ..................................................................................................................160 NÍVEIS DE REGULAÇÃO ..................................................................................................................................... 160 REGULAÇÃO DO METABOLISMO ENERGÉTICO DA GLICOSE ........................................................................................ 161 REGULAÇÃO DA VIA DAS PENTOSES FOSFATO ........................................................................................................ 164 Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 6 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 6 DIAGNÓSTICO MOLECULAR Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 7 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 7 Métodos de biologia molecular aplicados ao diagnóstico clínico Princípios de diagnóstico molecular • O diagnóstico molecular pode ter sua análise baseada tanto no DNA e RNA quanto em proteínas. A escolha por uma dessas biomoléculas deverá levar em conta a eficiência, a sensibilidade e os custos do método diagnóstico em questão. • O objetivo do diagnóstico molecular é identificar/analisar a expressão/presença de genes para fins diagnósticos, terapêuticos e biotecnológicos. • O processo de montagem de um diagnóstico molecular segue uma rota padrão, a saber: o Definição do organismo alvo (que pode ser bactéria, vírus, etc.); o Conhecimento do processo biológico e parasitológico do organismo alvo; o Desenvolvimento de processos de diagnóstico de ácidos nucleicos ou proteínas; o Desenvolvimento de processos de tratamento do resultado. • Os processos de tratamento do resultado são essenciais para a compreensão correta daquilo que está sendo analisado pelo método diagnóstico, para que não se incorra em erros de interpretação dos dados obtidos. o Ex.: não se pode associar a mera presença de um patógeno no organismo à sua capacidade de infecção nesse mesmo organismo. Por exemplo, por mais que um vírus seja detectado em um determinado organismo, não se pode afirmar que este sofrerá infecção, apenas baseando-se nessa detecção. Pode ser que o vírus esteja inócuo devido a erros em seu processo de transcrição, para os quais os vírus não têm meios de correção de erros, anulando, portanto, sua capacidade infecciosa (virulência). O processo biológico determina o método de diagnóstico • O conhecimento do processo biológico da maioria dos patógenos é basicamente o conhecimento de sua ação infecto-parasitária, permitindo que sejam estabelecidos meios adequados para sua detecção, quantificação, análise, etc. em organismos afetados. o Na maioria dos casos, a ação infecto-parasitária por patógenos segue o esquema: gene → proteína → infecção → colonização. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 8 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 8 o O conhecimento do processo biológico é capaz de determinar aquilo que será essencial para que o método diagnóstico seja eficiente. Ex.: uma infecção viral normalmente se expressa no meio intracelular, portanto, métodos diagnósticos para esse vírus deverão ser capazes de transpor obstáculos como a membrana celular das células do organismo. • A detecção de proteínas frequentemente passa pelo uso de anticorpos marcados, como ocorre em testes como o ELISA. Anticorpos são proteínas produzidas por células de defesa dos organismos capazes de reconhecer proteínas de patógenos, dessa forma recrutando outras células para combatê-los. Com isso, a produção de anticorpos acaba sendo dependente do repertório genético do próprio organismo e da forma com que o patógeno expressa suas proteínas. o Nesse caso, entretanto, alguns obstáculos se interpõem: a produção de anticorpos específicos para a proteína patogênica pode não acontecer devido à insuficiência do repertório; ou essa produção pode acontecer em quantidade muito diminuta; ou o anticorpo produzido pode não ter interação suficientemente forte com a proteína patogênica. ▪ Para superar estes obstáculos, os métodos de diagnóstico podem se valer de técnicas como: induzir a produção de anticorpos em outro organismo; ou induzir a maximização da produção de anticorpos no mesmo organismo; ou produzir anticorpos sintéticos. o Outro obstáculo seria o fato de que os vírus podem ter várias proteínas sendo expressas, mas o corpo pode produzir anticorpos contra apenas uma delas – favorecendo a ocorrência de testes falso-positivos no caso daquela proteína específica, para o qual o anticorpo foi produzido, estar ausente ou em mutação. ▪ Organismos patogênicos, aliás, têm alta taxa de mutação, o que também é outro grande obstáculo à detecção de suas proteínas. • Para que um gene forme proteínas, as etapas são DNA → transcrição → tradução. Assim, os métodos de diagnóstico podem focar em uma dessas etapas, a depender do comportamento do patógeno. o Ex.: Durante a transcrição, ocorre a produção de RNA, por isso, uma das técnicas de diagnóstico é promover a transcrição reversa do RNA, produzindo um DNA complementar (cDNA) que possa ser replicado ou Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 9 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 9 traduzido para identificaro patógeno. Como ele foi produzido a partir de RNA, este cDNA não possui os íntrons, ou seja, a parte que não é expressa. o Microarray e leitura robotizada: em um painel eletrônico, são posicionadas moléculas de cDNA controle conhecidas em locais fixos. Depois, elas são hibridizadas com cDNA do organismo que se está experimentando, estando este cDNA experimental marcado com fluorescência. É aplicado laser sobre o painel, capaz de excitar os cDNA e torná-los fluorescentes. Assim, os cDNA que o organismo possuir estarão visíveis, e, como os locais de cada cDNA controle e conhecido são fixos, as proteínas deles derivadas serão conhecidas. A Revolução da Biologia Molecular • 1970: enzimas de restrição e Southern Blotting. Tornou possível digerir o DNA de maneira específica. • 1980: uso de sequências gênicas e clonagem. Tornou possível a hibridização do DNA para visualização. • 1990: inovação da PCR, vetores de expressão. Tornou possível a maximização do DNA com menos custos, a transferência de genes, e a identificação de bandas de DNA em técnicas como a RAPD. • 2000: técnicas automatizadas, kits e softwares de sequenciamento. Permitiu o sequenciamento de DNA a partir de pequenos fragmentos. • 2010: genômica e proteômica: estudo e análise de qualquer gene e suas interações. Permitiu o sequenciamento completo de DNA íntegro, o sequenciamento de DNA a partir do sequenciamento de proteína, e qualquer expressividade do DNA. Técnicas baseadas em ácidos nucleicos • Para o desenvolvimento de métodos de diagnóstico baseados em ácidos nucleicos, é preciso ter a informação acerca das sequências alvo do material genético que estejam relacionadas a doenças genéticas e patógenos: o Se a sequência alvo é DNA codante, ela é um gene, estando relacionada a íntrons e éxons. Este gene pode determinar a doença estando normal, alterado ou em mutação. o A sequência alvo também pode ser DNA não codante, nesse caso podendo ser pseudogenes, repetições tandem (VNTR), satélites, regiões controladoras, etc. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 10 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 10 o Se a sequência alvo for um RNA, ela estará relacionada a eventos transcricionais e sinalização molecular. • Diferentemente de quando se usa proteínas, a detecção de ácidos nucleicos (especialmente DNA) durante a infecção permite a quantificação de patógenos com mais eficiência. Isso ocorre porque um único DNA circulante de um único patógeno pode produzir proteínas em larga escala, assim, a quantificação de proteínas não pode quantificar o patógeno. o Por outro lado, há exceções a essa regra, como é o caso das proteínas que são produzidas em menor escala e apenas em alguns momentos a depender da fase da infecção do patógeno. Nesses casos, a quantificação de proteína pode ser útil para a quantificação do patógeno. Técnicas de hibridização Figura 1: Esquematização do processo de hibridização do DNA a partir de duas amostras distintas. • Conforme visto anteriormente, a hibridização de ácidos nucleicos requer sondas moleculares formadas a partir de uma região do DNA molde, chamada template. Para isso, a sequência alvo a ser analisada não pode ser muito variável entre o organismo, sob o risco de incompatibilidade com as sondas já preparadas. • A similaridade ou não da sequência alvo com a sonda determinará temperaturas de melting semelhantes, que, nos processos de hibridização, são usualmente elevadas. Com isso, a hibridização pode ser usada para se detectar mutações na sequência de DNA. Neste processo, uma sequência normal de DNA é hibridizada com uma sonda e sua temperatura melting (estringência) é calculada. Depois, caso a sonda Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 11 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 11 seja hibridizada com uma sequência mutante de DNA, sua estringência será alterada. o Quanto menos variar a temperatura necessária para separar o resultante híbrido com o mutante, menor será o tamanho da mutação, ficando a estringência ainda a temperaturas elevadas. o Quanto mais variar a temperatura necessária para separar o resultante híbrido com o mutante, maior será o tamanho da mutação, ficando a estringência em baixas temperaturas. Isso é explicado porque a hibridização de uma sonda com um mutante fará com que menos pontes de hidrogênio sejam formadas. ▪ Exemplo prático: uma DNA saudável tem temperatura melting de 50°C. Ele sofreu uma mutação e essa temperatura passou a ser 48°C, ou seja, variou pouco, apenas 2°C. Isso significa que a mutação foi pequena e a estringência permaneceu elevada. Se ele sofrer uma mutação e esse temperatura passar a ser 30°C, ou seja, variar muito, de 20°C, isso significa que a mutação foi grande, e a estringência diminuiu. o Desta forma, o uso de sondas não é muito adequado para identificar pequenas alterações na DNA, estando a estringência do mutante muito próxima da estringência do normal. • Nas técnicas de hibridização, as sondas podem ser feitas a partir de DNA ou RNA. • A análise pode ser: o Direta, com a visualização direta dos genes, o que pode ser feito com gel PAGE ou agarose. Depende da singularidade e do tamanho da sequência. o Indireta, com sonda ou anelamento, ou marcação a frio ou a quente, em que só é possível visualizar usando algum outro artifício. Técnicas baseadas no DNA • Genes são melhores analisados pela técnica da PCR. o Genes de alto peso molecular podem ser analisados por cópia direta. É o caso de procariotos. É possível apenas analisar a presença, mas não quantificar. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 12 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 12 o Genes de baixo peso molecular precisam ser analisados por cópia de regiões específicas como éxons. É possível tanto analisar a presença quanto quantificar. o A análise direta pode ser feita em gel PAGE ou agarose, dependendo do tamanho. Nesse caso vai requerer marcadores de massa molecular, para análise por comparação e pelo peso molecular. • Restrições: o Os genes (ou regiões) precisam ter sequências estáveis para cada cópia. o Os iniciadores precisam ser iguais ao template • Assim, técnicas baseadas em DNA podem ser aplicadas para avaliar as seguintes modificações sofridas pelo DNA: transição, transversão, translocação, inversão, inserção, deleção, duplicação e supressão. • As principais técnicas nesse caso são: o Análise de cariótipo: detecta a integridade e a presença de cromossomos. Podem ser detectadas doenças que mudam a contagem de cromossomos, como síndromes de Down, de Edwards, Klinefelter, etc. o Hibridação com sondas moleculares: ▪ Técnica fish: combinação do teste do cariótipo com sondas de DNA. Podem ser detectadas alterações em cromossomos inteiros (como translocações) que causam doenças como a leucemia mieloide crônica, câncer pancreático e HPV. ▪ RFLP: uso de enzimas de restrição com sondas de DNA. Podem ser detectadas regiões específicas de mutação do DNA, que guardam relação com a paternidade e com isoenzimas. o PCR com primers específicos: ▪ PCR convencional ▪ Nested-PCR ▪ RFLP-PCR ▪ LAMP-PCR: técnica quantitativa para avaliar a amplificação do cDNA. É utilizado um primer especial que permite a amplificação do cDNA sem que seja necessário variar a temperatura. o Testes de paternidade com VNTR rearranjados; o Testes de doenças com VNTR rearranjados. Guilherme de Matos Abe – Acadêmicode Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 13 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 13 o Banco genético: útil apenas para procariotos, cuja expressão diferencial do DNA é pouco diversa. Nos eucariotos, a expressão do DNA é muito diversa, inviabilizando a existência desse banco de genes. Técnicas baseadas no RNA • A análise de RNA é útil para analisar o estado metabólico imediato das células, podendo se fazer comparações temporais do RNA que aquela célula estará transcrevendo. • As principais técnicas são: o qPCR: uso da transcriptase reversa e de primers de RNA. É possível fazer tanto a detecção quanto a quantificação de vírus de RNA, por exemplo. o Macroarray e microarray: no macroarray, a membrana contém moléculas de RNA a serem hibridizadas no maior tamanho possível, devido à dificuldade técnica em fazer isso com ferramentas convencionais. No microarray, o uso do biochip permite a colocação de moléculas de RNA a serem hibridizadas nos menores locais possíveis, pois há precisão robótica do processo. o Banco de expressão: é mais eficiente do que um banco genético, pois ele irá listar apenas a parte efetivamente expressa do DNA. • Ex.: teste de viroses transmitidas pelo Aedes aegypti. Em um tubo de ensaio, existem primers para o cDNA dos vírus da dengue, chikungunya e zika. Colhe-se uma amostra do RNA do vírus que está infectando o paciente e produz-se o cDNA a partir de transcriptase reversa. Esse cDNA será então amplificado por PCR a partir do primer apropriado que está dentro do tubo de ensaio. Com o cDNA amplificado, podem ser usadas outras técnicas para identificar a qual vírus pertence. Técnicas baseadas em proteínas • São técnicas que possuem a vantagem de seus alvos serem mais abundantes do que os ácidos nucleicos. • Por mais que entre organismos de mesma espécie possuam proteínas cuja expressão deve ser idêntica, existem algumas proteínas que podem ser expressas de maneira diferencial (isoenzimas). Essa expressão é regulada por diversos fatores, por isso, é possível identificar a influência deles por meio da análise de alguns parâmetros das proteínas, como sua performance. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 14 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 14 • A detecção de proteínas exógenas nos organismos indica a possível presença de patógenos nesses organismos, sendo uma das formas mais comuns de diagnóstico. o Tipicamente, a detecção de proteínas exógenas é feita com a avaliação de anticorpos (testes sorológicos), produzidos por células de defesa do organismo em resposta a proteínas produzidas pelos patógenos. ▪ Existem ainda técnicas capazes de quantificar essas proteínas exógenas. É o caso do teste ELIZA com diluição. o Técnicas baseadas em anticorpos são úteis porque os anticorpos são altamente sensíveis e específicos no reconhecimento de proteínas, e a visualização das proteínas é indireta (mas a do anticorpo é direta), a partir da identificação da reação do anticorpo com a proteína e da análise colorimétrica, que dá informações qualitativas e quantitativas. A limitação dessa técnica é uma exigência por uma grande pureza do material. ▪ O mesmo não acontece com análises de eletroforese, que envolve a análise visual individual de várias proteínas separadas no gel. • Assim, técnicas baseadas em proteínas podem ser aplicadas para avaliar os seguintes parâmetros biológicos e bioquímicos das proteínas: o Níveis de expressão; o Isoformas; o Modificações pós-traducionais; o Tempo de vida média e degradação; o Localização intracelular. • As principais técnicas são: o Teste sorológico (com anticorpos) para patógenos virais de DNA e RNA ▪ ELIZA: tubos com anticorpos primários ligados a uma amostra proteína que se quer testar, dentro dos quais então se coloca anticorpos secundários marcados com fluorescência. Se o tubo brilhar, então, é porque a proteína específica dele está presente. ▪ Luminex ▪ Teste rápido em tiras o dot blot: hibridização em fitas de nylon o imunodifusão o Kits de teste rápido: teste de gravidez. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 15 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 15 Tecnologia de DNA recombinante • O campo da biotecnologia emergiu do entendimento dos ácidos nucleicos, como eles funcionam e como são usados por sistemas biológicos (células e vírus). • A biotecnologia fornece meios de criar e manipular ácidos nucleicos e proteínas. Existem vários fatores essenciais que fazem o campo da biotecnologia possível. 1. Enzimas de restrição são usadas para clivar ácidos nucleicos em locais específicos. As enzimas de restrição são proteínas que podem cortar molécula de DNA em fragmentos menores que podem então ser manipulados. Muitas enzimas de restrição existem na natureza. 2. Sequenciamento de moléculas de DNA. É possível hoje determinar a sequência exata de nucleotídeos ao longo de moléculas de DNA. Isso fornece informações sobre a estrutura dos genes, como eles são expressos e quais proteínas formam. 3. Síntese precisa de ácidos nucleicos via método estado sólido. É possível criar um ácido nucleico específico de interesse do zero. Pode-se então estudá-lo ou amplificá-lo caso necessário. 4. Reação em cadeia da polimerase (PCR) pode ser usada para a amplificação do DNA. É possível criar muitas cópias de um fragmento de DNA de interesse. A PCR permite um processo de formar milhões e bilhões de cópias de um único segmento de DNA. É possível usar este método para detectar moléculas de DNA específicas, que podem ser úteis para determinar a presença de uma doença ou detectar e comparar o DNA deixado em uma cena de crime. 5. Southern e northern Blotting: essas duas técnicas podem ser usadas para detectar e isolar moléculas de DNA. 6. Avanços da computação moderna: a computação permite uma maneira de armazenar e acessar sequências de DNA, RNA e proteínas que são descobertas diariamente. Diagnóstico molecular • O diagnóstico molecular é uma coleção de técnicas usadas para analisar marcadores biológicos no genoma e no proteoma – o código genético de um indivíduo e como suas células expressam seus genes em proteínas – ao se aplicar a biologia molecular aos testes médicos. As técnicas são usadas para diagnosticar e monitorar doenças, detectar riscos e decidir quais terapias irão funcionar melhor para pacientes individualmente. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 16 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 16 o Por meio da análise das especificidades do paciente e de suas doenças, os diagnósticos moleculares oferecem o prospecto da medicina personalizada. • Tais testes são úteis em uma gama de especializações médicas, incluindo doenças infecciosas, oncologia, tipagem antigênica leucocitária humana (que investiga e prediz funções humanas), coagulação e farmacogenômica – a predição genética de quais drogas funcionarão melhor. Eles se justapõem à química clínica (testes médicos em fluidos corporais) Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 17 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 17 Teste ELISA • O ensaio de imunoabsorção enzimática (enzyme-linked immunosorbent assay) ou simplesmente ELISA é um método que utiliza anticorpos para determinar e quantificar a presença de alguma proteína específica. • ELISA indireto • Este método é usado para detectar a presença de um anticorpo específico.1. A superfície do poço é coberta com um antígeno específico. 2. Uma mistura de anticorpos é adicionada ao poço. Se o anticorpo de interesse estiver presente, ele irá se ligar ao antígeno. 3. Anticorpos de ligação enzimática que podem se ligar ao anticorpo de interesse são adicionados dentro do poço. Se o anticorpo de interesse estiver ligado ao antígeno, o anticorpo de ligação enzimática irá ligar ao complexo anticorpo-antígeno. 4. Anticorpos não ligados são removidos por lavagem. O substrato específico da enzima é então adicionado. Se a enzima está presente, o substrato irá reagir e causar uma mudança de cor. Isso significa a presença do anticorpo de interesse. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 18 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 18 SINALIZAÇÃO CELULAR Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 19 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 19 Mecanismos de transdução de sinal associados à expressão • Transmissão de sinal: as proteínas que agem no citoplasma são reguladas por meio de um processo chamado de sinalização. Então, os mecanismos de sinalização são responsáveis por ativar ou inativar essas proteínas. Entre esses mecanismos, tem-se, por exemplo: o Transporte em membranas: o impulso nervoso, o transporte ativo e o transporte passivo das substâncias podem interferir na performance das proteínas. Por isso, é uma ação direcionada ao citoplasma. o Regulação metabólica: sinalizadores extracelulares, como os hormônios, são mensageiros capazes de ampliar ou reduzir a ação celular, por meio da indução ou inibição da transcrição gênica, por exemplo. Por isso, é uma ação direcionada ao núcleo. • A sinalização é uma via de mão dupla: sempre depende que exista um agente sinalizador e um receptor desse agente na célula-alvo. Além disso, uma vez reconhecida a sinalização, também é essencial que a célula disponha de componentes para realizar aquilo que foi sinalizado (provocando uma cascata de sinais); caso contrário a sinalização será truncada, produzindo proteínas anômalas, que podem até mesmo provocar a apoptose da célula ou sua destruição por células de defesa. • Proteínas sinalizadoras: as proteínas envolvidas no processo de sinalização são 3: o Substrato receptor de insulina 1, o IRS-1; o Monofosfato guanosina cíclico, ou GMP cíclico (cGMP); o Proteína G. Sinalização celular • Sinalização por moléculas secretadas (sinalização parácrina): uma célula sinalizadora é capaz de liberar moléculas sinalizadoras, que serão então captadas por um receptor específico dessas moléculas presente na membrana de uma célula- alvo. Assim, uma célula pode ser mais ou menos sensível à molécula sinalizadora, a depender da quantidade de receptores que ela possui. Nesse caso, a ação sinalizadora se processa contanto haja esse contato molécula-receptor. Dessa forma, uma única célula sinalizadora pode afetar várias células-alvo devido à difusão das moléculas. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 20 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 20 • Sinalização por moléculas ligantes na membrana plasmática (sinalização contato- dependente): uma célula sinalizadora expressa, em sua membrana, uma molécula sinalizadora. Dessa forma, a célula sinalizadora precisa se aproximar do receptor da célula-alvo para provocar a sinalização, o que é menos eficiente do que a sinalização parácrina. • Sinalização endócrina: semelhantemente à sinalização parácrina, mas com a presença de um condutor da molécula sinalizadora até células-alvo em regiões mais distantes do local onde ela se encontra. • Sinalização sináptica: a sinalização sináptica se processa com a transmissão de um impulso elétrico através da membrana para só então haver a liberação de moléculas em células-alvo específicas. • Assim, existe uma gama de diversos sinais que podem iniciar a sinalização celular, fatores de crescimento, neurotransmissores, morfógenos, matriz extracelular, moléculas sinalizadoras na membrana de outras células, hormônios, citocinas, etc. • Erros de sinalização, como a ausência de fatores impeditivos para a sinalização terminem, podem provocar disfunções das mais variadas, como o câncer, doença na qual está ausente a sinalização para que a replicação celular seja interrompida. • Uma mesma molécula de sinalização pode, entretanto, provocar respostas diferentes em células-alvo diferentes. Isso vai depender do tipo de receptor que estiver sendo expresso pela célula-alvo. o Ex.: a acetilcolina, quando ligada ao receptor da célula muscular cardíaca, provoca diminuição de frequência e força de contração; quando ligada ao receptor da célula muscular esquelética, provoca contração; quando ligada ao receptor da célula glandular salivar, provoca secreção. o Certas moléculas de sinalização, como os morfógenos, também são capazes de provocar respostas diferentes a depender da concentração com a qual atingem a célula-alvo. Nesse caso, também serão relevantes a duração da sinalização e a exposição a múltiplos sinais (neste último caso, determinando a sensibilidade dos indivíduos). • Combinações de sinais podem induzir respostas celulares diferentes. Ex.: sozinha, uma determinada molécula sinalizadora é responsável pela manutenção da célula viva. Quando combinada a uma segunda molécula sinalizadora, é responsável por fazer a célula crescer e dividir. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 21 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 21 • Os tipos de resposta ao sinal são muito variáveis: o Ativação enzimática. Ex.: ativar a via da glicólise para obtenção de energia. o Alteração da organização do citoesqueleto. Ex.: projeção de pseudópodes pelo macrófago para fagocitar patógenos. o Alteração da permeabilidade aos íons o Ativação da síntese de DNA o Ativação da síntese de RNA o Morte celular ▪ Assim, a comunicação (sinalização) celular é capaz de afetar todos os aspectos da estrutura e função celular, servindo para regulação do crescimento e divisão celular. • O fim da resposta pode ocorrer por destruição/inativação da molécula sinalizadora, ou por diminuição do nível do estímulo extracelular (isto é, diminuição da concentração da molécula sinalizadora). • Tradução/conversão do sinal: o sinal recebido na superfície celular é diferente do sinal transmitido ao interior da célula. o Mais comumente, a ativação ou inativação de proteínas no interior da célula é feita através da adição de fosfato por proteínas quinases, e desfosforilação por proteínas fosfatases. • As vias de sinalização compostas por diferentes proteínas geralmente funcionam por alteração da conformação da proteína substrato, ativando ou inativando essa proteína substrato. Assim, o sinal fica mais forte, pois uma sinalização é capaz de afetar várias proteínas, maximizando a ação coletiva delas, que podem ser enzimas, canais iônicos, fatores de transcrição ou vários tipos de unidades de regulação. o Ex.: sinalização por fosforilação: em que normalmente uma proteína quinase, dependente de ATP, ativa uma proteína, ligando-a ao fosfato do ATP (e consequentemente convertendo-o em ADP). Já a fosfatase inativa a proteína ao remover seu fosfato. o Ex.2: sinalização por ligação de GTP: a ligação de GTP a uma proteína a torna ativa. Já a hidrólise desse GTP o converte em GDP após remover seu fosfato, o que inativa a mesma proteína. Para que ela possase ligar a GTP novamente, ela precisa remover a GDP. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 22 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 22 • Existe também comunicação cruzada entre vias de sinalização, ou seja, compartilhamento de componentes entre diferentes vias metabólicas, o que torna o metabolismo celular bastante intrincado. Isso garante o sucesso de vias metabólicas mais importantes (como a ativação de proteínas regulatórias de genes), pois a ocorrência dessas primeiras vias indica a presença dos componentes necessários para as vias importantes. • Sinais distintos reconhecem receptores específicos. Por exemplo, tem-se um sinal A, um sinal B, um sinal C1, um sinal C2, um receptor 1, um receptor 2 e um receptor 3. o O sinal A é reconhecido apenas pelo receptor 1. o O sinal B é reconhecido pelo receptor 2, mas influencia o receptor 1. o Os sinais C1 e C2 são apenas reconhecidos pelo receptor 3. • Esquema geral da sinalização: um sinal (ligante), no ambiente extracelular, se liga a um receptor na membrana plasmática. Isso faz com que uma cascata de moléculas sinalizadoras intracelulares seja ativada, permitindo a ativação de: o Proteínas reguladoras da expressão gênica, podendo assim alterar a expressão gênica por meio da alteração da transcrição gênica; o Enzimas metabólicas, podendo assim alterar o metabolismo intracelular, sendo um mecanismo independente da transcrição gênica; o Proteínas estruturais, podendo assim alterar a morfologia da célula, sendo também um mecanismo independente da transcrição gênica. • Curso temporal da sinalização: as vias de sinalização intracelular (desencadeadas pela ligação de uma molécula sinalizadora extracelular à sua proteína receptora de membrana) podem seguir para o citoplasma, alterando a função de uma proteína; ou para o núcleo, alterando a expressão gênica (e, portanto, a síntese proteica). Embora em ambos os casos haja alteração da maquinaria citoplasmática (e, consequentemente, do comportamento celular), no citoplasma, a ação é rápida, demorando de menos de segundos a minutos; já no núcleo, a ação é lenta, demorando de minutos a horas. • Segundos-mensageiros: segundos-mensageiros são moléculas sinalizadoras intracelulares. Seus níveis são alterados após a ativação do receptor pelo ligante, que é chamado de primeiro-mensageiro. Os exemplos mais importantes (e mais Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 23 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 23 fortes) são: Ca2+, cAMP, cGMP, DAG e IP3. Possuem diversos efeitos biológicos no interior da célula. o Certos receptores, entretanto, dispensam os segundos-mensageiros, sendo capazes de promover a mesma ação que eles diretamente. • Em algumas vias, a ativação do receptor resulta em indução de atividades enzimáticas específicas. o Ex.: moléculas sinalizadoras intracelulares, cuja atividade é regulada por uma alteração pós-traducional, como fosforilação (por quinases que adicionam fosfato) e desfosforilação (por fosfatases que removem fosfato), têm esses processos desencadeados pela ativação ou não de um determinado receptor específico de membrana por seu ligante. o As regiões onde ocorre a fosforilação e a desfosforilação dos receptores de membrana que precisam de ativação, esses casos, normalmente são os seus resíduos de tirosina e serina. • Por que processos que ocorrem nas vias de transdução de sinal não são cruzados? o Em primeiro lugar, o padrão conformacional da porção extracelular do receptor é atraente para a molécula sinalizadora. Quando eles se ligam, há mudança conformacional no receptor, o que faz com que sua porção intracelular seja atraente para uma proteína quinase. A ação dessa proteína quinase será fosforilar a porção intracelular do receptor, alterando novamente sua conformação, desta vez tornando-a atraente para uma molécula efetora inativa. A ligação do receptor fosforilado com a molécula efetora é capaz de ativar essa molécula, que passa a agir sobre outras moléculas na célula. ▪ A cascata de eventos provocada pela molécula efetora também é capaz de provocar a inibição da fosfatase (que seria capaz de inativa o receptor). Entretanto, com o progresso temporal da sinalização, eventualmente essa capacidade de inibição da fosfatase começará a ser estancada, deixando a fosfatase ativa para inibir o receptor. o O receptor será capaz de promover essa ativação de moléculas efetoras durante todo o tempo que estiver ligado à molécula sinalizadora. ▪ Assim, a intensidade geral sinal promovido pela molécula sinalizadora não vai depender somente da concentração desta Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 24 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 24 molécula, mas também do tempo que ela permanecerá ligada ao seu receptor. o A insulina, caso tenha uma ligação prolongada no receptor, vai provocando efeitos cada vez mais gradativos: primeiro, a captação de glicose; depois, a síntese de glicogênio para poder captar mais glicose; depois, a síntese de lipídios para captar mais glicose; depois, a síntese de proteínas sintetizadoras de lipídio e glicogênio (alcança o núcleo, na transcrição gênica). o Respostas envolvendo proteínas G são mais lentas do que respostas envolvendo ATP, que são mais rápidas. Isso ocorre porque a proteína G não é ativa, ela depende da ligação com uma outra proteína substrato, formando um complexo ativado funcional. Já o ATP (cAMP) é capaz de ativar uma enzima por si próprio. Assim, para reverter a ação da proteína G, basta desfazer o complexo ativado. Para reverter a ação do ATP, é necessário desfosforilar a proteína que ele ativou com uma fosfatase. • Dupla ação da insulina: o Ativação da via PI-3K-PKB que afeta o metabolismo do glicogênio, no sentido de sintetiza-lo (as quinases ativam a glicogênio sintetase). o Ativação da via GRB2-Sos-Ras-MAPK que afeta a regulação gênica incentivando a transcrição de vários genes. o Outros efetores: adenilato ciclase (cAMP). • Mais comumente, a ativação de receptores provoca a seguinte cascata de eventos: ativação do cAMP, ativação do IP3, ativação do cGMP e então transcrição gênica. Receptor de insulina – indução da transcrição gênica • As proteínas receptoras parecem conter 2 subunidades (dímeros). • Possuem atividade de tirosina quinase, ativando IRS-1, ou de fosfatase, podendo agir sobre proteínas de membrana. Regulação pelo cGMP • Age de modo diferente em diferentes tecidos (rins, intestino, coração, cérebro, etc.). • As proteínas G possuem, assim, receptores diferentes para gerar sinais diferentes. De maneira geral, suas características comuns são: o Receptor na membrana plasmática; o Semelhante ao receptor beta-adrenérgico, que ativa cAMP. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 25 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 25 o Susceptível a 4 tipos: agonistas e antagonistas; o Medeiam respostas diferentes à adrenalina. • No rim, a proteína G promove regulação iônica. • No intestino, a proteína G promove a retenção de água. • No coração, a proteína G promove relaxamento. • No cérebro, a proteína G promove desenvolvimento e maturação. Estímulo Receptor Efetor Resposta fisiológica Epinefrina Receptor beta- adrenérgico Adenilato ciclase Degradação de glicogênio Serotonina Receptor de serotonina Adenilato ciclase Sensibilização comportamental e aprendizado Luz Rodopsinafosfodiesterase cGMP Excitação visual Complexos de antígenos IgE Receptor celular de IgE do mastócito fosfolipase C Secreção • Doenças graves também podem ser causadas por alterações nas proteínas G. Cálcio • É um potente segundo mensageiro. Ele provoca: o Divisão celular o Secreção o endocitose o Fertilização o Transmissão sináptica o Metabolismo o Movimento celular • Por isso, os níveis citoplasmáticos de cálcio devem ser mantidos baixos, por isso tem-se: o Membrana impermeável a cálcio o Sistemas de transporte removem cálcio do citoplasma o Necessidade de canais iônicos ou transportadores de cálcio regulados Enzimas reguladas pelo cAMP Enzima Rota Glicogênio sintase Síntese de glicogênio fosforilase b quinase Degradação de glicogênio Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 26 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 26 piruvato quinase (fígado de rato) Glicólise Complexo piruvato desidrogenase (tipo L) Conversão de piruvato em acetil-CoA Fosfofrutoquinase-2 / Frutose 2,6- bifosfato Glicólise / gliconeogênese Tirosina hidroxilase Síntese de L-DOPA, dopamina, noradrenalina, adrenalina Histona H1 e H2B Condensação de DNA fosfolamban cardíaca Regulação de íons cálcio intracelular Proteína fosfatase-1 inibidor-1 Regulação de desfosforilação de proteínas CREB Regulação cAMP de expressão gênica • Alguns sinais que usam cAMP como segundo-mensageiro: corticotrofina (ACTH), hormônio liberador de corticotrofina (CRH), dopamina, epinefrina, hormônio folículo-estimulante (FSH), prostaglandina. fosfatidil-inositol derivados • Sinais que possuem fosfatidil-inositol derivados como segundo-mensageiros (que atuam através da fosfolipase C e IP3): acetilcolina, agonistas alfa-adrenérgicos, angiotensina. Tumores • Aparecimento de tumores: alterações nos mensageiros intracelulares e/ou de suas cascatas. • Existem promotores de tumores que precisam ser suprimidos. Ação hormonal • O hormônio é carregado para o tecido-alvo em proteínas ligantes de soro, se difunde pela membrana plasmática, e se liga a proteínas receptoras específicas no núcleo. • Dentro da célula, o hormônio vai para o núcleo. A ligação do hormônio muda a conformação da proteína receptora específica. Forma homodímeros ou heterodímeros com outros complexos receptores de hormônios e se liga a regiões regulatórias específicas chamadas elementos de resposta hormonal (HREs) no DNA adjacente a genes específicos. • A ligação regula a transcrição de genes adjacentes, aumentando ou diminuindo a taxa de formação de mRNA. • Níveis alterados do produto do gene regulado por hormônio produzem a resposta celular ao hormônio. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 27 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 27 • Os hormônios podem também ativar o cAMP. Entretanto, como hormônios são liberados em pequena quantidade, a energia gerada na rota de sinalização não é significativa. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 28 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 28 Apoptose • A célula possui sistemas de sinalização externa, que permitem a comunicação do meio externo; e de sinalização interna, que é o sistema housekeeping, para manter a célula íntegra. • As vias de sinalização externa precisam ter mecanismos próprios para que não haja confusão de sinais no interior. Assim, vias específicas ativam proteínas e enzimas específicas. o Usualmente, as proteínas do sistema constitutivo possuem menos afinidade por moléculas que sejam comuns (como o cAMP) às proteínas de vias externas. Isso permite que, em uma via externa, possam ser geradas menos moléculas de cAMP, que terão muita afinidade pelas proteínas dessa via. Também pode ser que proteínas moduladoras inibam as vias constitutivas para permitir maior eficiência das vias externas. • Erros nessa cadência precisam ser detectados pela célula para impedir o prolongamento dos erros. Isso ocorre de duas formas: o Os próprios erros das vias podem ser letais à célula, devido à produção errônea e inadequada de proteínas que podem ser apoptóticas; o Os erros da célula ativarem enzimas apoptóticas programadas para esse fim. • Funções da apoptose: o Elimina células danificadas/prejudiciais; o Fisiologicamente ocorre: ▪ Na renovação de células epiteliais e hematopoiéticas ▪ Mantém número constante de células nos tecidos adultos (ex.: células do sangue eliminadas por morte celular programada por dia, em adultos) ▪ Colapso endometrial durante a menstruação ▪ Deleção de células nas criptas intestinais ▪ Regressão de tumores o Papel importante no desenvolvimento embrionário: ▪ Eliminação do tecido larval durante metamorfose (anfíbios e insetos) ▪ Eliminação da membrana interdigital (animais) ▪ Eliminação de neurônios em excesso (em excesso, provoca doenças neurodegenerativas) Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 29 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 29 o Mecanismo de defesa: ▪ Células infectadas por vírus ▪ Células com danos no DNA ▪ Células cancerosas • Células apoptóticas são bioquimicamente reconhecíveis: durante a apoptose, uma endonuclease cliva o DNA cromossomial em fragmentos de diferentes tamanhos, que podem ser observados por gel de eletroforese ou por TUNEL (marcação de extremidades de dUTP mediada por um TdT). • Necrose: processo patológico (autólise das células). É resultado de uma lesão maciça no tecido. Caracterizada por: o Inchaço citoplasmático o Ruptura da membrana celular e vazamento do plasma celular o Resposta inflamatória e reação de tecido patológico com grande extensão de células afetadas simultaneamente o Resulta da alteração súbita de um ou mais intervalos fisiológicos (pH, temperatura, concentração iônica, etc.) o O citoplasma “incha” o Resulta da inviabilização metabólica da célula o Não tem funções homeostáticas o Fenômeno coletivo a todas as células vizinhas o Resulta na perda de integridade da membrana o O derramamento do fluido celular inicia processos de inflamação que duram horas ou dias e originam marcas duradouras • Apoptose: evento fisiológico (processo de eliminação celular controlado). É uma sequência de eventos que levam à morte celular em uma variedade de diferentes sistemas. o Determinada geneticamente o Ocorre dentro dos intervalos fisiológicos o A célula fica extremamente compactada, não extravasa citoplasma o Resulta de diversos passos intrinsecamente regulados o Participa no equilíbrio homeostático do organismo o Fenômeno individual celular (suicídio celular) o Nunca ocorre perda de integridade da membrana Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 30 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 30 o As vesículas formadas são removidas por fagocitose, num processo muito rápido que não deixa vestígios • Autofagia: “canibalismo próprio” da célula. Degradação de organelas e citoplasmas pelos lisossomos e vacúolos. Há liberação de vacúolos com proteases que provocam lise. • Mecanismo extrínseco: um sinal extracelular é capaz de ativar as caspases diretamente, e de maneira irreversível. A caspase fica ligada no receptor do sinal extracelular, assim, o sinal irreversivelmente provoca a apoptose. • Mecanismo intrínseco: problemas internos na célula maissérios ativam caspases iniciais, que permitem ainda um tempo para o problema ser contornado. Se o problema não for corrigido, são ativadas caspases finais, e a apoptose é induzida. Assim, a ativação das caspases é gradual. o Quando a p53 aumenta sua concentração, ela dispara o mecanismo intrínseco. o A via intrínseca da apoptose depende da mitocôndria. Proteínas da membrana mitocondrial normalmente se mantêm separadas umas das outras por componentes proteicos. A ação da caspase é destruir esses componentes proteicos (proteína BAD – promotor de morte associado a Bcl-2) e provocar a aglutinação dessas proteínas, que perfura a membrana e provoca o extravasamento do conteúdo da mitocôndria, como o citocromo C. O citocromo C forma o complexo apoptossomo, sequestrando caspase para induzir apoptose. ▪ Na via extrínseca, a proteína BAD é removida diretamente. Na via intrínseca, a remoção da proteína BAD é removida após um longo processo de ativação de caspases iniciais, desencadeado por um erro na replicação, em que são produzidas proteínas p21 e p53. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 31 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 31 Divisão celular • As ciclinas são uma família de proteínas que controlam a progressão das células através do ciclo celular ao ativar enzimas quinases ciclina-dependentes (Cdk). • As ciclinas são proteínas ativadoras dos eventos da replicação celular. Um dos elementos finais da cascata desencadeada pela ciclina é inativar proteínas que poderiam abortar o processo. Atuação das proteínas p21 e p53. • A atuação das ciclinas é sequencial. Assim, a primeira ciclina atua durante um tempo, sendo posteriormente inativada pela produção da segunda ciclina, que passa a ter sua atuação, e assim por diante. • As ciclinas precisam, na fase G1 ativar vias para a produção de energia para que a célula consiga replicar (sintetizando RNAs e proteínas relacionadas a essas vias). Elas também promovem a replicação de todos os componentes celulares que serão ativos nas próximas fases do ciclo celular e que serão distribuídos nas duas novas células. • O hormônio do crescimento desencadeia a replicação celular. • Na fase S, as ciclinas induzem a replicação do material genético por polimerização do DNA. • Na fase G2, as ciclinas ativam proteínas fiscalizadoras para verificar se o DNA produzido até aquele instante está correto. Se elas verificarem erros, elas enviam sinais para induzir a inativação do ciclo celular para que haja reparação do DNA. Se o erro não for reparado, a célula entra em apoptose. • Para começar a mitose, as ciclinas precisam ativar a síntese de histonas para promover a condensação de DNA. No final, ela ativa a citocinese. • A ciclina é ativada por fosforilação, e é inativada pelo proteassomo. Principais grupos • Existem dois grupos principais de ciclinas: o Ciclinas G1/S: essenciais para o controle do ciclo celular na transição da fase G1 para a fase S, durante a intérfase. ▪ Ciclina A / CDK2: ativa na fase S ▪ Ciclina D / CDK4; ciclina D / CDK6; ciclina E / CDK2: regulam a transição da fase G1 para a fase S. o Ciclinas G2/M: essenciais para o controle do ciclo celular na transição da fase G2 da intérfase para o começo da mitose. As ciclinas G2/M se Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 32 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 32 acumulam de forma constante durante a fase G2 e são abruptamente destruídas no momento em que a célula sai da mitose. ▪ Ciclina B / CDK1: regulam a progressão da fase G2 para a fase de mitose. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 33 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 33 Vias de transdução de sinal • Mudanças químicas no ambiente ao redor das células podem influenciá-las a realizar processos que terminam por levar a algum tipo de resposta fisiológica. O conjunto de eventos que começa com a presença da molécula sinalizadora e termina com uma resposta fisiológica real é chamado de via de transdução de sinal. • Alguns exemplos de moléculas sinalizadoras são a epinefrina, a insulina e o fator de crescimento epidérmico. Etapas da via de transdução de sinal 1. Liberação da molécula sinalizadora apropriada. O órgão ou glândula específico deve liberar a molécula sinalizadora, também chamada de primeiro-mensageiro. Esta liberação é induzida por algum tipo de estímulo. 2. Ligação do primeiro-mensageiro a seu receptor. O primeiro mensageiro localiza e se acopla em um receptor, que normalmente são proteínas transmembrana. Estes receptores possuem um componente extracelular e um intracelular. A ligação do ligante do primeiro-mensageiro no componente extracelular leva a mudanças estruturais na proteína de membrana. 3. Aumento da concentração de um segundo-mensageiro. Uma vez que a informação seja transduzida pela membrana celular, a célula reage aumentando a produção de algum tipo de molécula intracelular chamada de segundo-mensageiro (ex.: cAMP, Ca2+, etc.). a. Isso resulta na amplificação do sinal. Assim, uma baixa concentração do primeiro-mensageiro é capaz de, após se ligar ao receptor, induzir a produção de uma alta concentração de segundos-mensageiros intracelulares. b. Segundos-mensageiros são livres para se mover pela célula; isso significa que eles podem influenciar diferentes processos em diferentes compartimentos da célula. 4. Ativação ou inibição de moléculas efetoras. Moléculas efetoras são moléculas que são responsáveis por realizar algum tipo de processo celular que ao fim leva à resposta fisiológica. a. Moléculas efetoras podem ser moléculas indutoras de transcrição, enzimas, canais, bombas, etc. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 34 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 34 b. Ex.: uma molécula efetora pode induzir a expressão de um determinado gene, produzindo uma proteína correspondente que realize um certo processo. 5. Finalização da via. As vias devem ser finalizadas em momentos apropriados. A falha em se finalizar pode levar a consequências danosas, como o surgimento de células cancerosas. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 35 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 35 Via de transdução de sinal da epinefrina • Uma importante classe de receptores das vias de sinalização são os receptores hepta-helicoidais transmembrana (7TM). Esses receptores possuem 7 α-hélices que movimentam a membrana em forma de serpente. Dessa forma, são chamados de “receptores serpentina”. Figura 2: Receptor 7TM. • Primeiros-mensageiros como hormônios, neurotransmissores e drogas sintéticas podem se ligar no sítio catalítico pela porção extracelular do receptor. Em alguns casos, o receptor 7TM pode possuir domínios proteicos adicionais acoplados na porção intracelular. • No caso da via de transdução de sinal da epinefrina, ela se liga em um receptor 7TM chamado de receptor β-adrenérgico (β-AR). Figura 3: Receptor β-adrenérgico não ligado à epinefrina. • O receptor β-adrenérgico (β-AR) contém um domínio heterotrimérico na porção intracelular constituído de domínios α, β e γ. O domínio-α é uma proteína G porque se liga a nucleotídeos de guanila, sendo, portanto, chamada de proteína Gα. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 36 Bioquímica – Medicina UFGNúcleo Universitário Cristão 36 • Quando a epinefrina não está ligada ao β-AR, a proteína Gα se liga à guanosina difosfato (GDP). Isso mantém o domínio trimérico intacto e acoplado ao domínio 7TM. • No momento da ligação, a epinefrina induz mudanças conformacionais no 7TM, que agora estimula a proteína G a liberar GDP e se ligar a GTP. Isso também faz com que o domínio βγ se dissocie da proteína Gα. • Uma única epinefrina pode fazer com que muitas proteínas Gα troquem o GDP por GTP. Isso cria um efeito amplificado. Figura 4: Efeito da ligação da epinefrina ao receptor β-adrenérgico. • O domínio Gα dissociado e ligado à GTP se move para se liga a outra proteína transmembrana chamada de adenilato ciclase, estimulando-a a começar a transformar ATP em cAMP. As moléculas de cAMP são segundos-mensageiros. Uma vez que muitas são formadas, isso leva a um segundo nível de amplificação de sinal. Figura 5: Efeito da ativação da adenilato ciclase pela proteína Gα. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 37 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 37 • O cAMP então passa a estimular a ativação da proteína quinase A (PKA, molécula efetora). A PKA passa a fosforilar moléculas-alvo, o que ativa muitos diferentes processos. o Ex.: a PKA ativa enzimas que estimulam a degradação de glicogênio, liberando mais glicose para a célula e para o sangue; e estimula a expressão gênica ao ativar fatores de transcrição. Finalização do sinal da epinefrina Figura 6: Estado das proteínas de membrana ao final da transdução de sinal da epinefrina. • Uma vez que a via de transdução de sinal realiza seu objetivo final de produzir uma resposta fisiológica a um estímulo externo, como as células podem desligar esta via? 1. Enquanto o GTP estiver ligado à proteína Gα, ela permanecerá acoplada à adenilato ciclase, que vai continuar produzindo moléculas de cAMP. a. Se a proteína Gα for desacoplada da adenilato ciclase, o GTP deverá ser substituído por GDP. O que acontece é que a proteína Gα possui a capacidade de hidrolisar GTP em GDP. Isso é chamado de atividade GTPase. b. Esta hidrólise geralmente acontece dentro de poucos segundos a poucos minutos após a proteína Gα ser ativada. Isto a concede bastante tempo para realizar sua função. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 38 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 38 Figura 7: Atividade GTPase da proteína Gα após certo tempo estando ativada. 2. Como as células conseguem inativa o complexo epinefrina-receptor e evitar qualquer ativação adicional de proteínas Gα? a. Um método de inativação envolve a dissociação da epinefrina do sítio catalítico do receptor 7TM. Quando a concentração de epinefrina reduz, a epinefrina fica mais susceptível a dissociar. Figura 8: Dissociação da epinefrina do receptor por queda de sua concentração. b. Em um segundo modo de inativação, a quinase de receptor β-adrenérgico fosforila a extremidade carboxila-terminal do complexo epinefrina-receptor na extremidade intracelular. A β-arrestina subsequentemente se liga, e inativa a capacidade do receptor de estimular proteínas Gα. Inativada pela β- arrestina, o receptor é internalizado por endocitose. Na vesícula resultante dessa endocitose, a β-arrestina se dissocia, o receptor é desfosforilado e retorna à superfície celular. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 39 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 39 Figura 9: Efeito da quinase de receptor β-adrenérgico e da β-arrestina na inativação do sinal da epinefrina. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 40 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 40 Via de sinalização de fosfoinositóis • Outra via de transdução de sinal importante que envolve um receptor 7TM é a via de sinalização de fosfoinositóis. Por exemplo, o receptor de angiotensina II em nosso corpo se liga a um primeiro-mensageiro (hormonal) e utiliza esta via. Figura 10: Efeito da ligação do primeiro-mensageiro ao receptor 7TM. • Quando o primeiro-mensageiro se liga ao receptor 7TM, ele induz uma mudança conformacional que faz com que a proteína Gαq libere GDP e se ligue a GTP. Isso dissocia o domínio Gαq do domínio Gβq. A proteína Gαq agora passa a se ligar em uma proteína de membrana chamada de fosfolipase C. Figura 11: Ação da fosfolipase C sobre o PIP2. • A fosfolipase C ativada degrada o fosfatidil-inositol 4,5-bifosfato (PIP2) em uma molécula hidrossolúvel chamada inositol 1,4,5-trifosfato (IP3), e em uma molécula lipossolúvel chamada de diacilglicerol (DAG). Ambas estas moléculas são segundos-mensageiros. • O IP3 se dissolve pelo citoplasma e se liga a um canal de Ca2+ ligante-dependente na membrana do retículo endoplasmático. Isso permite o movimento do Ca2+ pelo citoplasma. • O Ca2+: Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 41 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 41 o Se liga a à proteína quinase C, e, com a ajuda do DAG (que permanece dissolvido na membrana), a ativa. A PKC então passa a ativar muitos processos celulares. o Combina com uma proteína chamada calmodulina. Este complexo então passa a ativar proteínas quinases. Figura 12: Ação da IP3 sobre os canais de Ca 2+. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 42 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 42 Cálcio e calmodulina • Íons Ca2+ funcionam como segundos-mensageiros em muitas vias de transdução de sinal, incluindo a via de fosfoinositóis. Mas o que faz dos íons Ca2+ mensageiros intracelulares tão prevalentes? 1. Mudanças mínimas da concentração de Ca2+ citoplasmático podem ser detectadas. Figura 13: Disposição dos íons Ca2+ em condições normais nos diferentes meios celulares. a. Durante condições normais, existe uma concentração intracelular de Ca2+ muito baixa (aproximadamente 100nM). b. Isso se deve ao fato de que íons Ca2+ são capazes de rapidamente se ligarem a regiões negativamente carregadas de proteínas, formando complexos insolúveis que podem ser danosos à célula. c. É por isso que a célula bombeia para fora a maioria do Ca2+ e o armazena no retículo endoplasmático até que seja necessário. Os níveis intrinsecamente baixos de Ca2+ citoplasmático permitem à célula detectar até a menor das mudanças. 2. Íons Ca2+ interagem fortemente com proteínas. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 43 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 43 a. Por terem uma carga positiva de 2, os íons Ca2+ podem formar interações fortes com cadeias laterais negativamente carregadas das proteínas, bem como com seus átomos de oxigênio nos grupos carbonila. b. Como resultado, quando o Ca2+ se liga a proteínas, ele pode causar mudanças conformacionais na estrutura proteica que pode acabar ligando diferentes domínios. Isso pode estimular a atividade de uma proteína-alvo. Calmodulina Figura 14: Estrutura terciária da calmodulina. • A calmodulina é uma proteína regulatória que é usada para detectar mudanças nas concentrações de Ca2+. Se a concentração citoplasmática de Ca2+ ficar acima de 500nM, a calmodulina começará a se ligar a esse Ca2+. • Uma única calmodulina é capaz de se ligar a 4 íons Ca2+. Ao se ligar, o Ca2+ induz uma mudançaestrutural na calmodulina que a ativa, expondo regiões hidrofóbicas da calmodulina que a permitem passar a ligar proteínas quinases. Figura 15: O Ca2+ age como um segundo-mensageiro, se ligando à calmodulina e formando um complexo estimulador, capaz de se ligar a proteínas quinases calmodulina-dependentes. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 44 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 44 Via de transdução de sinal da insulina • Após a ingestão de carboidratos, o aumento dos níveis de glicose no sangue estimula a liberação de insulina. A insulina é um pequeno hormônio peptídico que inicia uma via de transdução de sinal muito complexa, que envolve fosforilação. Figura 16: Receptor de insulina proteína quinase. • A insulina se liga ao receptor de insulina, que é um dímero constituído de duas unidades idênticas. Cada unidade possui uma cadeia-α voltada para o meio extracelular, e uma cadeia-β que atravessa a membrana e se estende para o interior da célula. • As duas cadeias-α criam um sítio catalítico para a insulina. As cadeias-β contém domínios de proteína tirosina quinase. Dessa forma, o receptor de insulina também é chamado de receptor de insulina proteína quinase. Figura 17: Fosforilação cruzada no receptor de insulina proteína quinase. • Quando a insulina se liga ao receptor, o fechamento das duas cadeias-α faz com que as duas cadeias-β se aproximem uma da outra. Isso leva a uma fosforilação cruzada pelo domínio tirosina quinase, que muda a conformação e ativa o receptor de insulina proteína quinase. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 45 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 45 Figura 18: Fosforilação do IRS pelo receptor de insulina proteína quinase. • Um dos resíduos de tirosina fosforilados do receptor de insulina atrai uma proteína chamada substrato do receptor de insulina (IRS). Ao se ligar a ele, o próprio IRS é fosforilado pelo receptor de insulina proteína quinase. • Moléculas de IRS são chamadas de proteínas adaptador, porque elas mesmas não ativam nada; em vez disso, a IRS-1 fosforilada age como um ponto de acoplamento para uma quinase lipídica chamada fosfoinositol 3-quinase (PI-3K). Figura 19: Fosforilação da PIP2 em PIP3, que por sua vez ativa a PDK. • A PI-3K fosforila a PIP2 (fosfatidil-inositol 4,5-difosfato) e a converte em PIP3 (fosfatidil-inositol 3,4,5-trifosfato) que então viaja ao longo da membrana para ativar uma proteína quinase chamada de proteína quinase PIP3-dependente (PDK-1). Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 46 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 46 Figura 20: Ativação da AKT pela PDK-1. • A PDK-1 então ativa a AKT (ou PKB, proteína quinase B). Esta quinase, entretanto, não é acoplada à membrana plasmática, e pode difundir pela célula. A AKT tem as seguintes capacidades: o Estimular a movimentação de transportadores de membrana de glicose para a membrana celular, permitindo maior captação de glicose pela célula. o Fosforilar a GSK3, que inativa a glicogênio sintetase, que sintetiza glicogênio a partir de moléculas de glicose. Assim, a síntese de glicogênio a partir de glicose é acelerada. Ação secundária da insulina • Secundariamente, a insulina é capaz de estimular a transcrição e a tradução de um conjunto de genes necessários para a divisão celular. Isto é possível caso a insulina seja persistente no meio externo, pois já terá transportado bastante glicose (portanto, energia) para dentro da célula. o A insulina se liga ao seu receptor, que sofre autofosforilação em seus resíduos carboxila-terminais de tirosina. o O receptor de insulina então fosforila a IRS-1 em seus resíduos de tirosina. o O domínio SH2 da Grb2 se liga à tirosina fosforilada da IRS-1. O Sos se liga à Grb2, e então à Ras; fazendo com que, na Ras, seja liberado GDP e seja ligado GTP. Isso ativa a Ras. o A Ras ativa se liga e ativa a Raf-1. o A Raf-1 fosforila a MEK em seus dois resíduos de serina, ativando-a. A MEK ativa então fosforila a MAPK em seus resíduos de treonina e tirosina, ativando-a. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 47 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 47 o A MAPK ativa vai para o núcleo e fosforila fatores de transcrição nucleares como a Elk1, ativando-a. o A Elk1 ativa se junta à SRF para estimular a transcrição e a tradução de um conjunto de genes necessários para a divisão celular. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 48 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 48 Via de transdução de sinal do EGF • O crescimento e a divisão das células epidérmicas são estimulados pelo fator de crescimento epidérmico (EGF). O EGF é um primeiro-mensageiro peptídico que inicia a via de transdução de sinal da EGF. Figura 21: O receptor de EGF. • O EGF se liga ao receptor de EGF. Em seu estado não ligado, o receptor de EGF consiste de duas unidades monoméricas idênticas, porém separadas. Cada monômero contém: o Um sítio catalítico para o EGF no lado extracelular; o Um domínio tirosina quinase no lado intracelular. Figura 22: Efeito da ligação do EGF ao seu receptor. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 49 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 49 • Quando um total de duas moléculas sinalizadoras EGF se ligam à região extracelular, elas induzem o braço de dimerização de um monômero a se estender em direção ao do outro, o que leva à formação de um dímero. • Quando esta mudança conformacional ocorre, a extremidade carboxila-terminal de um domínio tirosina quinase se move em direção ao sítio ativo do domínio tirosina quinase oposto. Isso fosforila sua cauda C-terminal. Figura 23: Cascata reacional desencadeada pelo receptor de EGF ligado. • Com a fosforilação da cauda C-terminal do receptor de EGF, uma cascata de reações é desencadeada: o A região fosforilada do receptor de EGF atua como uma âncora para uma proteína adaptador chamada Grb-2. o A Grb-2 então recruto outra proteína chamada Sos. o A Sos então se liga à Ras, uma pequena proteína G. Isso ativa a Ras por meio da liberação de GDP e a ligação a um GTP. o A Ras ativada então passa a ativar uma proteína quinase chamada Raf. o A Raf ativada então passa a ativar proteínas quinases chamadas MEK. o As MEK ativadas, por sua vez, ativam quinases extracelulares reguladas por sinal, as ERK. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 50 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 50 o As ERK então movem-se para o núcleo e estimulam os fatores de transcrição a aumentar a expressão gênica. Isso aumenta a taxa de síntese proteica, o que alarga o citoesqueleto e leva ao crescimento celular. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 51 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 51 Propriedades comuns às vias de sinalização • Embora existam muitas vias de transdução de sinal distintas, todas elas compartilham quatro propriedades importantes: o Elas utilizam proteínas quinases; o Elas utilizam moléculas segundo-mensageiras; o Elas dependem de interações proteicas específicas; o Elas devem ser finalizadas apropriadamente. • Proteínas quinases: as proteínas quinasessão usadas por todas as quatro vias aqui discutidas. Isso implica que elas desempenham um papel crucial na transdução de sinal. Sinalização da Epinefrina Cascada dos fosfoinositóis Sinalização da Insulina Sinalização do EGF Proteína quinase A Proteína quinase C Receptor de insulina Receptor de EGF Proteínas quinases dependentes de calmodulina Fosfoinositol 3- quinase Raf Proteína quinase dependente de PIP3 MEK Proteína quinase B ERK • Segundos-mensageiros: todas as vias de transdução de sinal utilizam segundos- mensageiros. Eles são agentes intracelulares cuja concentração pode ser grandemente amplificada, dessa forma causando uma amplificação do sinal inicial. o Esses segundos-mensageiros tipicamente atuam como proteínas ou enzimas que desempenham papéis cruciais nas vias de transdução de sinal Sinalização da Epinefrina Cascada dos fosfoinositóis Sinalização da Insulina Sinalização do EGF cAMP IP3 PIP3 Ca 2+ DAG cAMP Ca2+ • Interações: dentro de qualquer via de transdução de sinal, as proteínas interagem com outras moléculas para estimular e transmitir a informação necessária para, ao final, causar algum efeito fisiológico. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 52 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 52 o Na sinalização da epinefrina, a proteína-Gα deve interagir com a adenilato ciclase. o Na cascada dos fosfoinositóis, a IP3 deve se ligar a um canal de Ca2+ para abri-lo. o Na sinalização da insulina, a IRS-1 deve se ligar ao receptor de insulina para permitir o acoplamento da fosfoinositol 3-quinase. o Na sinalização do EGF, a Grb-2 deve se acoplar ao receptor de EGF para permitir o acoplamento da Sos. • Finalização: todas as vias de sinalização devem ser cuidadosamente reguladas. Elas geralmente são reguladas por: o Dissociação dos primeiros-mensageiros; o Atividade de GTPase das proteínas G; o Fosfatases. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 53 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 53 Sinalização cruzada da cólera e proteína G • O vibrião colérico (Vibrio cholerae): o São bactérias gram-negativas em formato de bacilo que podem infectar humanos; o Podem utilizar O2 para produzir ATP via respiração celular aeróbica; o São ácido-lábeis (não sobrevivem sob condições ácidas); o Afetam a via de transdução de sinal cruzada da proteína G. • Ao beber água contaminada ou comer comida contaminada, a cólera chega ao estômago. Embora o ambiente ácido mate a maioria das células bacterianas, algumas podem sobreviver e passar para o intestino delgado. O ambiente básico do intestino delgado estimula as células bacterianas a se proliferarem, crescerem, e finalmente infectarem os enterócitos. Figura 24: Esquematização das reações provocadas pela toxina colérica. • Os efeitos causados pelo vibrião colérico são os seguintes: o Uma vez dentro da luz do intestino delgado, a cólera secreta a toxina colérica chamada de colerágeno. Trata-se de uma proteína que consiste de dois tipos de cadeias que formam uma estrutura hexamérica. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 54 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 54 Figura 25: ligação da toxina. o O colerágeno utiliza suas subunidades B para se ligar a um esfingolipídio de membrana chamada de GM1 gangliosídeo. o Uma vez ligada, a cadeia A catalítica passa para a célula epitelial via endocitose. o A unidade catalítica A então se liga à proteína Gα em seu estado-GTP que está acoplado à adenilato ciclase. A cadeia A catalisa a adição de um componente ADP-ribose em um resíduo de arginina da proteína-Gα. Essa modificação covalente estabiliza a proteína-Gα em seu estado-GTP, dessa forma prendendo-a no estado ativo. o A proteína-Gα presa no estado ativado continuamente estimula a adenilato ciclase a formar cAMP a partir do ATP. O cAMP por sua vez ativa a proteína quinase A (PKA). A PKA: ▪ Fosforila e desativa o antiporte Na+/H+, o que inibe a reabsorção de Na+ pelas células; ▪ Abre os canais de Cl-, provocando a saída de Cl- da célula. o A perda líquida de íons Na+ e Cl- das células provoca a saída de água delas para a luz intestinal. Isso leva à perda de grandes volumes de água e eletrólitos (diarreia aquosa) pelo intestino delgado. Isso desidrata o indivíduo e leva à morte se não for tratado. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 55 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 55 Apoptose (morte celular programada) • A apoptose é o processo pelo qual a célula passa a sofrer um conjunto específico de etapas que ao fim destroem esta mesma célula. • A célula comete apoptose geralmente por uma de duas razões: o Desenvolvimento normal: a formação de dedos das mãos e dos pés requer apoptose da membrana interdigital; a eliminação de células T que são imunologicamente insuficientes (autoimunidade); o Mecanismo de defesa: destruir agentes perigosos que podem danificar o organismo, como células infectadas, células cancerosas, células danificadas, etc. Via intrínseca da apoptose • Neste mecanismo, o processo de morte celular é desencadeado por sinais internos. • Células saudáveis possuem uma proteína chamada Bcl-2 nas suas membranas mitocondriais, que normalmente é capaz de inibir a apoptose. • Quando a célula está danificada, ela estimula uma proteína chamada Bax para passar para a membrana mitocondrial externa e inibir a Bcl-2. o A Bax também é capaz de perfurar a membrana mitocondrial externa, provocando a liberação do citocromo C no citoplasma. • O citocromo C no citoplasma causa a agregação de um complexo proteico chamado apoptossomo, que se liga e ativa um grupo de proteases chamado caspase-9. • As proteínas do caspase-9 clivam e degradam o DNA e outras estruturas internas da célula, o que eventualmente mata a célula definitivamente. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 56 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 56 Via extrínseca da apoptose • Neste mecanismo, moléculas sinalizadoras originadas de fora da célula estimulam a apoptose. • Células saudáveis contém proteínas de membrana integrais, os receptores da morte, que podem se ligarem a moléculas complementares chamadas ativadores da morte. Este processo de ligação estimula um processo interno que ativa proteases do complexo caspase-8. Essas proteínas então ativam uma cascata que leva à destruição da célula. Fator indutor de apoptose • O mecanismo final de apoptose envolve usar o fator indutor de apoptose (AIF) em vez de caspases. • A AIF está localizada no espaço intermembrana da mitocôndria. Quando a célula comete apoptose, a AIF é liberada no citoplasma. A AIF eventualmente chega ao núcleo, onde se liga ao DNA e desencadeia a destruição do DNA. • Este tipo de mecanismo é feito por neurônios. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 57 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 57 Câncer e finalização das vias de sinalização • A incapacidade de nossas células de regular as vias de transdução de sinal pode levar ao crescimento de tumores e ao câncer. • As células finalizam as vias sinalizadoras por: o Usarem a atividade GTPase das proteínas G o Usarem fosfatases para reverteros efeitos de proteínas quinases o Inativarem o receptor da via. 1. Uma maneira pela qual uma via de transdução de sinal pode funcionar erroneamente é se a codificação gênica para uma proteína que é parte da via sofrer mutação. O gene Ras que codifica a proteína Ras na via do EGF é o gene que mais comumente sofre mutação que leve ao crescimento tumoral de células epiteliais da epiderme. o Uma mutação nesse gene pode produzir uma proteína Ras que é incapaz de processar sua atividade de ATPase, o que significa que ela não consegue Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 58 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 58 desligar a si mesma. Dessa forma ela vai promover uma estimulação contínua e desenfreada das células. Tal gene é chamado de oncogene. 2. Fosfatases são moléculas supressoras de tumor porque elas inativam proteínas e enzimas que processam vias de transdução de sinal. Por essa razão, chama-se tais genes que codificam fosfatases de genes supressores de tumor. o Quando ambos os genes no par de alelos codificante de fosfatase são perdidos, isso pode levar à formação de tumores porque a célula não será capaz de finalizar a via de transdução de sinal. 3. A expressão desenfreada de receptores tirosina quinase também pode levar ao câncer de células epiteliais (como nas mamas, ovários e reto). Se uma célula expressar muitos receptores, os receptores em excesso podem estimular o crescimento em momentos inapropriados. o Drogas (antibióticos) foram desenvolvidas para se ligarem a esses receptores excessivamente expressos, dessa forma desativando sua atividade. A Herceptin® é uma droga dessas, que atua sobre receptores tirosina quinase chamados Her-2 que são expressos excessivamente em muitos pacientes com câncer de mama. o Qualquer gene que tem o potencial de se tornar um oncogene devido a mutações ou expressão excessiva é chamado de proto-oncogene. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 59 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 59 METABOLISMO Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 60 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 60 Introdução ao metabolismo • Metabolismo é a soma de todas as transformações químicas que ocorrem em uma célula ou organismo, por meio de reações catalisadas por enzimas. Quando interligadas, essas reações formam as vias metabólicas. • Regulação do metabolismo: as enzimas mediadoras dos processos metabólicos têm sua atuação controlada por proteínas capazes de ativá-las e inativá-las, portanto estimulando ou inibindo as vias nas quais essas participam. Figura 26: Regulação enzimática por fosforilação (quinases) e desfosforilação (fosfatases) o Fosforilação e desfosforilação: a forma mais comum de regular as enzimas é adicionando ou removendo fosfato de sua estrutura. Na maioria dos casos, tem-se que: ▪ Enzimas inativas são ativadas por quinases, que gastam ATP para as fosforilar e assim as transformar em enzimas ativas. ▪ Enzimas ativas são inativadas por fosfatases, que, por hidrólise, as desfosforilam, e, assim, as inativam. Figura 27: Regulação enzimática por feedback negativo, que pode ou não ser alostérico. o Feedback negativo: forma de regulação em que o aumento da concentração de um segundo composto, produzido a partir de um primeiro composto, faz com que a inibição do primeiro composto seja intensificada. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 61 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 61 ▪ Frequentemente, essa inibição ocorre de maneira alostérica, isto é, o segundo composto produz compostos capazes de inativar o primeiro composto. o Vias irreversíveis: uma terceira forma de regulação ocorre no caso em que dois compostos podem ser converter-se um no outro através de uma sucessão de reações. Se isso fosse desregulado, o acúmulo de um resultaria na inversão das reações para gerar o outro, até que eventualmente atingissem o equilíbrio, o que desativaria as regulações e prejudicaria o organismo. Entretanto, a seleção natural favoreceu a ocorrência de vias distintas irreversíveis nos processos direto e inverso, permitindo que compostos regulatórios atuem nessas vias irreversíveis e regule separadamente os dois processos, de acordo com a necessidade. ▪ As reações reversíveis que se interpõem às irreversíveis permanecem sendo controladas pelas concentrações dos compostos nelas envolvidas. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 62 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 62 Catabolismo e anabolismo Figura 28: Relações energéticas entre catabolismo e anabolismo. • Catabolismo é a parte do metabolismo que envolve degradação, na qual moléculas orgânicas maiores são convertidas em produtos finais simples, produzindo energia de energia. Parte dessa energia pode ser conservada para uso futuro, e parte é perdida na forma de calor. Exemplos de vias catabólicas: glicólise (degradação da glicose) e glicogenólise (degradação do glicogênio). Os componentes do catabolismo são: o Substratos, nutrientes contendo energia, que são comumente degradados (geralmente através de reações oxidantes) em processos catabólicos. Exemplos de substratos: carboidratos, lipídios e proteínas. o Produtos finais, substâncias exauridas de energia pelos processos catabólicos. Exemplos de produtos finais: gás carbônico, água e amônia. o Nucleotídeos (coenzimas do catabolismo), metabólitos intermediários que armazenarão parte da energia liberada nas reações catabólicas. Interagem com os substratos por meio de reações de oxirredução (doação de prótons e Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 63 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 63 elétrons). Exemplos de coenzimas energizáveis: ADP e HPO4 2-, NAD+, NADP+ e FAD. • Anabolismo (ou biossíntese) é a parte do metabolismo que envolve integração, na qual vias dependentes de energia usam substâncias simples para construir estruturas complexas. Essa demanda de energia é suprida pelo catabolismo, portanto essas duas porções do metabolismo são indissociáveis. Exemplos de vias anabólicas: gliconeogênese (biossíntese de glicose) e glicogênese (biossíntese de glicogênio). Os componentes do anabolismo são: o Moléculas precursoras, normalmente simples e pequenas, que servem de base de construção das macromoléculas pelas vias anabólicas. Exemplos de moléculas precursoras: aminoácidos, sacarídeos, ácidos graxos e bases nitrogenadas. o Macromoléculas, normalmente complexas e maiores, que são comumente biossintetizadas em processos anabólicos a partir das moléculas precursoras. Exemplos de macromoléculas: proteínas, polissacarídeos, lipídios e ácidos nucleicos. o Nucleotídeos (“moedas energéticas” para o anabolismo), metabólitos intermediários energizados, fornecedores da energia química que é necessária para a ocorrência de processos anabólicos. Exemplos de nucleotídeos energéticos: ATP, NADH, NADPH, FADH2. Figura 29: Esquematização do catabolismo convergente a partir de diversos substratos para a acetilcoenzima A e de seu anabolismo divergente para diversas macromoléculas, bem como sua inclusão em uma via cíclica. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 64 Bioquímica – Medicina UFG NúcleoUniversitário Cristão 64 • Em geral, as vias catabólicas são convergentes, o que significa que distintos substratos, através de diferentes vias catabólicas podem gerar o mesmo produto final. Contrariamente, as vias anabólicas são divergentes, o que significa que uma molécula precursora, através de diferentes vias anabólicas, pode gerar várias macromoléculas. o Ex.: a degradação de fosfolipídios, triacilgliceróis, amido, glicogênio e sacarose gera acetilcoenzima A (catabolismo convergente). Esta acetilcoenzima A pode então gerar carotenoides, vitamina K, ácidos biliares, ésteres de colesterol, hormônios esteroides e fosfolipídios (anabolismo divergente), ou até mesmo fazer parte de uma via catabólica especial cíclica, o ciclo de Krebs (via cíclica). Metabolismo energético • Metabolismo energético: conjunto de vias metabólicas que visam a obtenção de energia na forma de ATP. Elas usam, como substratos mais comuns, os carboidratos (glicose), as proteínas (aminoácidos) e os lipídios (ácidos graxos). Figura 30: Rota simplificada do metabolismo energético: partindo-se de substratos e chegando-se ao ATP. o Oxirredução: neste processo, as coenzimas nucleotídicas NAD+ (nicotinamida-adenina nucleotídeo oxidada) e FAD (flavina-adenina nucleotídeo oxidada) são os aceptores de prótons/elétrons mais comuns, sendo que este processo, conhecido como redução, se processa ao mesmo tempo em que essas coenzimas promovem a degradação dos substratos, conhecida como oxidação, que resulta também na liberação de metabólitos, dos quais o CO2 (dióxido de carbono) é o mais comum. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 65 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 65 o Síntese de ATP: as coenzimas nucleotídicas reduzidas mais comuns, portanto, são o NADH (nicotinamida-adenina nucleotídeo reduzida) e o FADH2 (flavina-adenina nucleotídeo reduzida). Para o armazenamento efetivo da energia, eles devem ser oxidados a NAD+ e FAD novamente, reação em que o ADP (adenosina difosfato) é fosforilado, isto é, adicionado a Pi (fosfato inorgânico) para formar ATP (adenosina trifosfato). Em seres aeróbios, a ocorrência deste processo depende de O2 (gás oxigênio) que promoverá a oxidação, sendo ao final reduzido a H2O (água metabólica). Figura 31: Estrutura dos compostos fosforilados de adenosina. • ATP (adenosina trifosfato): o ATP é um nucleotídeo formado por uma adenosina ligada a uma tríade de fosfatos ligados entre si. Ele é a principal molécula fornecedora de energia química aos processos anabólicos. Esta energia química encontra-se armazenada nas duas ligações fosfato-fosfato (ligações fosfoanidrido) que o ATP possui. o Hidrólise do ATP: ao fornecer energia a uma reação, o ATP sofre hidrólise, que rompe de uma de suas ligações fosfato-fosfato, formando ADP. Se o ADP vier a sofrer hidrólise também, a segunda ligação fosfato- fosfato é rompida, produzindo AMP. ATP + H2O → ADP + Pi Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 66 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 66 CARBOIDRATOS Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 67 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 67 Metabolismo de carboidratos • Os carboidratos são obtidos a partir da dieta. No sistema digestivo, os carboidratos maiores (polissacarídeos, oligossacarídeos e dissacarídeos) são quebrados por enzimas digestivas em carboidratos menores (monossacarídeos) na boca e no estômago. Transportadores de glicose • Transportadores de glicose: carboidratos menores, notadamente a glicose, precisam então serem absorvidos pelas células intestinais. Para isso, essas células dispõem de transportadores de glicose capazes de captá-la da luz intestinal para o interior da célula. Semelhantemente, outras células do organismo também possuirão diferentes transportadores para captar a glicose do sangue para seu interior, dependendo das suas necessidades metabólicas. Figura 32: Tabela descritiva das características de cada um dos principais transportadores. • SGLT1 (sodium-glucose linked transporter): transportador de glicose que opera à base de transporte ativo secundário com íons Na+. Ou seja, estes transportadores se aproveitam do gradiente químico de Na+ criado pela bomba de Na+/K+ para captar, a partir do meio externo, um íon Na+ e uma molécula de glicose ao mesmo tempo, ainda que a concentração intracelular de glicose esteja elevada. Este transportador está presente na membrana apical dos enterócitos, para levar a glicose da luz intestinal para dentro de seu citoplasma. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 68 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 68 Figura 33: Esquematização do funcionamento do transportador SGLT1. • GLUT4: transportador de glicose presente nos adipócitos e nas fibras musculares esqueléticas. Ele é dependente de insulina. Possui uma alta afinidade pela glicose, o que significa que promoverá uma rápida captação de glicose. Esta característica do transportador, aliada à ampla distribuição de adipócitos e fibras esqueléticas no corpo, faz com que a ativação de transportadores GLUT4 pela insulina provoque uma rápida queda na glicemia sistêmica. o Ativação por insulina: quando há ligação de insulina ao receptor insulinérgico das células é desencadeada uma cascata reacional que, ao fim, promoverá a mobilização de GLUT4 do citoplasma para a membrana plasmática. ▪ Pré-diabetes: uma vez ativado pela insulina, o receptor insulinérgico necessita ser endocitado por um certo tempo para ficar responsivo mais uma vez. Assim, quanto maior for a quantidade de insulina produzida, mais deficitária será a responsividade por parte dos receptores insulinérgicos, que não serão capazes de atuar à altura da elevada insulinemia, o que é conhecido como pré- diabetes. Essa elevada insulinemia pode ocorrer devido a uma Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 69 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 69 elevada glicemia resultante de uma elevada ingesta de açúcares/carboidratos. ❖ Existem transportadores de glicose capazes de serem mobilizados para a membrana em resposta à atividade física do organismo. Por isso, recomenda-se que diabéticos façam atividade física para mitigar sua condição. • GLUT3: transportador de glicose presente nos neurônios. Ele é independente de ativadores para realizar sua função, o que significa que capta glicose o tempo inteiro; e possui uma afinidade muito alta pela glicose, o que significa que vai ser capaz de captar glicose mesmo em situações de baixa glicemia. Essas características são muito importantes para a manutenção constante da atividade das células neuronais, porque o único substrato energético dessas células é a glicose. • GLUT2: transportador de glicose presente no fígado e nas células-β pancreáticas. Sua afinidade pela glicose é baixa, tornando sua atividade de captação lenta e dependente de alta glicemia. Essa característica é compatível com o metabolismo das células em que se encontra, que é primordialmente indutor de hipoglicemia. Com isso, o pâncreas e o fígado só irão induzir hipoglicemia quando a glicemia estiver muito alta. Em outras palavras, quanto maior a glicemia, maior a quantidade de glicose captada pelos GLUT2, e mais forte a hipoglicemia induzida pelas células: o Nas células-β pancreáticas, a captação de glicosepromove a liberação de insulina; o Nos hepatócitos, a captação de glicose promove a síntese de glicogênio. • GLUT1: transportador de glicose presente em todas células do organismo (mas especialmente em hemácias e neurônios), que é responsável pela captação basal de glicose pelo corpo. Possui uma alta afinidade por glicose, o que é especialmente importante para hemácias e neurônios, pois ela é o único substrato energético dessas células. • Outros transportadores: o SGLT2: promove a reabsorção de glicose do ultrafiltrado no túbulo contorcido proximal do néfron. o GLUT5: promove a absorção de frutose pelos enterócitos. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 70 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 70 Metabolismo da glicose • Metabolismo da glicose: uma vez que a célula capte a glicose, ela pode usá-la como molécula precursora da biossíntese de diversas macromoléculas, ou como substrato para vias catabólicas: o Glicogênio: no fígado e nas fibras musculares esqueléticas, a glicose pode ser utilizada como molécula precursora para a glicogênese (síntese de glicogênio). o Glicoproteínas e glicolipídios: na maioria das células do organismo, a glicose pode ser utilizada como molécula precursora para sintetizar polímeros estruturais (glicoproteínas e os glicolipídios) da matriz extracelular e da membrana plasmática. o Piruvato: em todas as células do organismo, a glicose é utilizada como substrato na via glicolítica, ao final da qual ela é convertida em piruvato. o Ribose: na via das pentoses-fosfato, a glicose é oxidada em ribose 5- fosfato, substância primordial na biossíntese de ácidos nucleicos. ▪ A via das pentoses-fosfato ocorre em todas as células do organismo, mesmo nas hemácias, que são desprovidas da atividade de ácidos nucleicos. Nelas, a via das pentoses-fosfato ocorre para manter o estado redox de seus constituintes bioquímicos, o que os mantêm funcionais. Essa manutenção de estado redox é vital para a hemácia, uma célula que está em constante contato com O2, portanto altamente susceptível à oxidação, que provoca o desequilíbrio do estado redox, que inativa os constituintes bioquímicos da célula. ❖ Anemia falciforme: indivíduos com anemia falciforme possuem uma incorreta produção de hemoglobina que causa deficiência na via das pentoses-fosfato, que por sua vez provoca um aumento do estresse oxidativo das hemácias. Duas coisas curiosas ocorrem devido a esse estresse: a hemácia fica menos susceptível à infecção por protozoário malárico; e o indivíduo tem restrição alimentar de alimentos altamente oxidativos como feijão fava. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 71 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 71 Figura 34: Esquematização do metabolismo energético da glicose que envolve apenas os compostos formados a partir da glicose. • Metabolismo energético da glicose: a glicose atua como ponto de partida para a respiração celular, a principal via de obtenção de energia nas células aeróbicas, na qual a glicose é oxidada gerando metabólitos energizados. Esta via completa depende de três etapas: o Glicólise: processo inicial, que ocorre no citosol. Basicamente, leva à produção de 2 ATP, oxidação da glicose em 2 piruvatos e redução de coenzimas. o Ciclo de Krebs: processo intermediário, que ocorre na mitocôndria. Basicamente, ocorre oxidação e descarboxilação de cada piruvato formado na glicólise (com formação intermediária de acetilcoenzima A), produção de 2 ATP e redução de coenzimas. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 72 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 72 ▪ Ao longo da glicólise e do ciclo de Krebs, as contínuas oxidações que se sucedem a partir da glicose vão alterando a quantidade de carbonos presentes nas moléculas. Por isso, é comum referenciar moléculas de acordo com o número de carbonos para que possuem. Assim, a glicose, uma molécula com 6 carbonos, é representada por C6, enquanto o piruvato, uma molécula com 3 carbonos, é representada por C3. o Cadeia respiratória: processo final, que também ocorre na mitocôndria. Deixa de envolver compostos formados a partir da glicose, fazendo uso apenas das coenzimas reduzidas, que serão oxidadas, produzindo em média 32 ATP. ▪ Dessa forma, as coenzimas entram nos processos de oxidação da glicose para serem reduzidas e, ao final da respiração celular, serem oxidadas novamente e gerarem a maior parte da energia do processo. Portanto, essas coenzimas precisam possuir uma estrutura adequada para captar elétrons (reduzir): o NAD+ é a coenzima oxidada cuja base nitrogenada é a nicotinamida; o FAD é a coenzima oxidada cuja base nitrogenada é a flavina. Figura 35: Reações de mudança do estado redox das principais coenzimas do metabolismo energético da glicose: NAD+/NADH e FAD/FADH2 Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 73 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 73 Glicólise • Etapas fundamentais da glicólise: Figura 36: Esquematização das etapas fundamentais da glicólise. o Etapa I (fase preparatória): fosforilação da glicose (C6), com a adição de 2 fosfatos à sua estrutura às custas de 2 ATP. Impede que a glicose saia da célula e fique preparada para a próxima etapa. o Etapa II (fase preparatória): hidrólise da glicose (C6) em duas moléculas C3, cada uma com um fosfato ligado. o Etapa III (fase preparatória): fosforilação das duas moléculas C3, com adição de 1 fosfato a cada uma. Cada C3 fica com 2 fosfatos, portanto. o Etapa IV (fase de pagamento): cada uma das moléculas C3 fosforila um ADP com um fosfato. Como há duas moléculas C3 com 2 fosfatos cada uma, serão fosforilados 4 ADP, gerando 4 ATP. Ao final, então, sobrarão duas moléculas C3 desfosforiladas, os piruvatos. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 74 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 74 • Fases da glicose: o Fase preparatória: fase que envolve etapas de fosforilação da glicose e formação de gliceraldeído 3-fosfato. Nessa fase ocorre apenas gasto energético, ou seja, é como se fosse uma via anabólica, pois se está preparando a glicose para que ela possa efetivamente gerar energia. o Fase de pagamento (ou fase de compensação): fase que envolve etapas de conversão oxidativa do gliceraldeído 3-fosfato em piruvato. Nessa fase ocorre geração efetiva de energia, que é capaz não só de compensar a energia gasta na fase preparatória como também disponibilizar nova energia célula. Detalhamento das etapas da glicólise 1. Primeira reação preparatória (fosforilação da glicose): glicose → glicose 6-fosfato o Gasto de 1 ATP, produção de 1 ADP. o Enzima envolvida: hexoquinase. Ela se manifesta na forma de diferentes isoenzimas dependendo do tipo celular, o que permite uma regulação direcionada do metabolismo energético. o Reação irreversível da glicólise. Evita que a via glicolítica e a via gliconeogênica tenham enzimas idênticas, o que dificultaria a regulação das duas separadamente. Com enzimas distintas agindo em reações irreversíveis, as vias são reguladas de maneira direcionada. o Função: esta etapa adiciona um fosfato à glicose para impedir que ela saia do interior da célula. ▪ No hepatócito, esta etapa é reversível, atuando uma isoenzima da hexoquinase específica chamada glicose 6-fosfatase. Ela consegue tanto fosforilara glicose para a glicólise quando desfosforilar a glicose 6-fosfato para permitir que a glicose saia da célula. 2. Isomerização da glicose em frutose: glicose 6-fosfato ↔ frutose 6-fosfato o Não há gasto nem produção de energia. o Enzima envolvida: fosfo-hexose isomerase. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 75 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 75 o Reação reversível da glicólise. Converte a glicose em um de seus isômeros, a frutose. 3. Segunda reação preparatória (fosforilação da frutose): frutose 6-fosfato → frutose 1,6-bifosfato o Gasto de 1 ATP, produzindo 1 ADP. o Enzima envolvida: fosfofrutoquinase 1. o Reação irreversível da glicólise, compondo outro ponto de regulação da glicose/gliconeogênese. Essa etapa adiciona mais um fosfato à frutose. 4. Clivagem do açúcar-fosfato com 6 carbonos em 2 açúcares-fosfato com 3 carbonos (clivagem da frutose): frutose 1,6-bifosfato ↔ gliceraldeído 3-fosfato + diidroxiacetona-fosfato o Não há gasto nem produção de energia. o Enzima envolvida: aldolase. o Reação reversível da glicólise. Quebra a frutose (cetona) com 2 fosfatos em gliceraldeído (aldeído) com 1 fosfato e diidroxiacetona (cetona) com 1 fosfato. 5. Isomerização da diidroxiacetona: diidroxiacetona fosfato ↔ gliceraldeído 3-fosfato o Não há gasto nem produção de energia. o Enzima envolvida: triose-fosfato isomerase. o Reação reversível da glicólise. Converte diidroxiacetona (cetona) em gliceraldeído (aldeído), que irá se somar ao gliceraldeído já produzido na etapa 4 para dar continuidade à glicólise. Última etapa da fase preparatória. 6. Oxidação e fosforilação (oxidação e fosforilação dos gliceraldeídos): gliceraldeído 3-fosfato (x2) ↔ 1,3-bifosfoglicerato (x2) o Redução de 2 NAD+ produzindo 2 NADH e 1 H+. o Enzima envolvida: gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase. o Reação reversível da glicólise. Oxida o gliceraldeído e reduz o NAD+. Tecnicamente, é a primeira etapa da fase de pagamento, em que ocorre redução da coenzima oxidada NAD+, que, futuramente, produzirá ATP. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 76 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 76 7. Primeira reação formadora de ATP por fosforilação a nível de substrato (desfosforilação do bifosfoglicerato): 1,3-bifosfoglicerato (x2) ↔ 3-fosfoglicerato (x2) o Fosforilação de 2 ADP em 2 ATP o Enzima envolvida: fosfoglicerato quinase. o Reação reversível da glicólise. Cada 1,3-bifosfoglicerato transfere um fosfato a um ADP, formando um ATP. Primeira etapa de fato da fase de pagamento, havendo produção direta de ATP. 8. Reposicionamento do fosfato no fosfoglicerato: 3-fosfoglicerato (x2) ↔ 2-fosfoglicerato (x2) o Não há gasto nem produção de energia. o Enzima envolvida: fosfoglicerato mutase. o Reação reversível da glicólise. Remove o fosfato da posição 3 do glicerato e o transfere à posição 2. 9. Desidratação do fosfoglicerato: 2-fosfoglicerato (x2) ↔ fosfoenolpiruvato (x2) o Não há gasto nem produção de energia, mas há liberação de 2 H2O como metabólito. o Enzima envolvida: enolase. o Reação reversível da glicólise. Remove uma molécula de água de cada fosfoglicerato. 10. Segunda reação formadora da ATP por fosforilação a nível de substrato (desfosforilação do fosfoenolpiruvato): fosfoenolpiruvato (x2) → piruvato (x2) o Fosforilação de 2 ADP em 2 ATP. o Enzima envolvida: piruvato quinase. o Reação irreversível da glicólise, compondo outro ponto de regulação da glicose/gliconeogênese. Essa etapa desfosforila o fosfoenolpiruvato, formando piruvato e finalizando a glicólise. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 77 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 77 Figura 37: Esquematização geral de todas as etapas da glicólise. Em rosa, estão destacadas as reações irreversíveis. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 78 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 78 • Correlações clínicas da via glicolítica: Figura 38: Principais fatores patológicos que podem influenciar a glicólise. o Câncer: as células tumorais aumentam sua expressão de GLUT1, GLUT3 e hexoquinases, intensificando a captação e metabolização da glicose, o que mantém a proliferação descontrolada característica dessas células. ▪ Escaneamento PET: considerando esse aumento da concentração de hexoquinases nas células tumorais, foi artificialmente sintetizada uma molécula chamada fluorodesoxiglicose (FDG). A FDG, sob ação das hexoquinases, produz fosfo-FDG. Assim, em células tumorais, haverá um excesso de fosfo-FDG. Esta fosfo-FDG pode Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 79 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 79 então ser detectada em um exame chamado escaneamento PET (positron-emission tomography), que identifica os locais onde ela está concentrada em excesso. o Hipóxia: em casos de diminuição do fornecimento de O2 para a célula, há produção de uma substância chamada de fator de crescimento de hipóxia (HIF), que aumenta a expressão das enzimas glicolíticas para intensificar a glicólise e obter mais energia. Vias alimentadoras da glicólise • Outras moléculas além da glicose podem entrar na via glicolítica em diferentes etapas ao serem convertidos em intermediários desta via. Figura 39: Esquematização das vias alimentadoras da glicólise. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 80 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 80 Galactose Figura 40: Esquematização da via de entrada de galactose na glicólise. • Galactose: a galactose, um epímero da glicose quanto à posição da hidroxila, pode entrar na via glicolítica ao ser convertida em glicose 6-fosfato. • Etapa I: fosforilação da galactose em galactose 1-fosfato o Gasto de 1 ATP o Enzima envolvida: galactoquinase • Etapa II: conjugação da galactose 1-fosfato e da UDP-glicose em, respectivamente, glicose 1-fosfato e UDP-galactose o Enzima envolvida: galactose 1-fosfato uridil transferase o A UDP-glicose (uridina difosfato glicose) é um nucleotídeo de uridina ligado à glicose. Nesta etapa, a uridina deixa de se ligar à glicose e passa a se ligar à galactose. Para isso, a galactose 1-fosfato perde seu fosfato e o adiciona à glicose que se desligou da uridina, formando glicose 1-fosfato. Uma vez ligada à uridina, a galactose se torna UDP-galactose (uridina difosfato galactose). • Etapa III: reposicionamento do fosfato da glicose 1-fosfato, formando glicose 6- fosfato o Enzima envolvida: fosfoglicomutase Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 81 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 81 • Entrada na via glicolítica: a glicose 6-fosfato entra na etapa 2 da glicólise • Reposição da UDP-glicose: isomerização da UDP-galactose em UDP-glicose o Enzima envolvida: UDP-galactose 4-epimerase ligada a NAD+ o Nessa etapa, a UDP-galactose é convertida em UDP-glicose mais uma vez para que todo o processo possa ocorrer novamente. manose Figura 41: Esquematização da via de entrada de manose na glicólise. • Manose: a manose, outro epímero da glicose quanto à posição da hidroxila, pode entrar na via glicolítica ao ser convertida em frutose 6-fosfato. • Etapa I: fosforilação da manose em manose 6-fosfatoo Gasto de 1 ATP o Enzima envolvida: hexoquinase • Etapa II: isomerização da manose 6-fosfato em frutose 6-fosfato o Enzima envolvida: fosfomanose isomerase • Entrada na via glicolítica: a frutose 6-fosfato entra na etapa 3 da glicólise Frutose • Frutose no músculo: a frutose nas fibras musculares pode entrar na via glicolítica ao ser convertida em frutose 6-fosfato. o Etapa única: fosforilação da frutose em frutose 6-fosfato ▪ Gasto de 1 ATP ▪ Enzima envolvida: hexoquinase o Entrada na via glicolítica: a frutose 6-fosfato entra na etapa 3 da glicólise. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 82 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 82 Figura 42: Esquematização da via de entrada da frutose na glicólise no músculo e no fígado. • Frutose no fígado: a frutose nos hepatócitos pode entrar na via glicolítica ao ser convertida em gliceraldeído. o Etapa I: fosforilação da frutose em frutose 1-fosfato de cadeia fechada ▪ Gasto de 1 ATP ▪ Enzima envolvida: frutoquinase ▪ A frutose 1-fosfato de cadeia fechada espontaneamente é convertida em frutose 1-fosfato de cadeia aberta. o Etapa II: clivagem da frutose 1-fosfato cadeia aberta em gliceraldeído e diidroxiacetona fosfato. ▪ Enzima envolvida: frutose 1-fosfato aldolase o Etapa III: fosforilação do gliceraldeído em gliceraldeído 3-fosfato ▪ Gasto de 1 ATP ▪ Enzima envolvida: gliceraldeído quinase Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 83 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 83 o Etapa IV: isomerização da diidroxiacetona fosfato em gliceraldeído 3- fosfato. ▪ Enzima envolvida: triose fosfato isomerase o Entrada na via glicolítica: o gliceraldeído 3-fosfato (x2) entra na etapa 6 da glicólise. o Síntese de glicerol: existe uma via secundária para o gliceraldeído entrar na via glicolítica. Ela envolve convertê-lo em diidroxiacetona fosfato antes de convertê-lo em gliceraldeído 3-fosfato, que entrará na etapa 6 da glicólise. As etapas dessa via secundária são: ▪ Redução do gliceraldeído em glicerol. 1 NADH é oxidado em 1 NAD+. Envolvida a enzima álcool desidrogenase. ▪ Fosforilação do glicerol em glicerol-3 fosfato. Gasto de 1 ATP. Envolvida a enzima glicerol quinase. ▪ Oxidação do glicerol 3-fosfato em diidroxiacetona fosfato. 1 NAD+ é reduzido em 1 NADH. Envolvida a enzima glicerol fosfato desidrogenase. ❖ Função: essa via secundária é importante porque, quando há a formação de glicerol, ele pode desviado para formar triacilglicerol, que é substância de reserva energética no fígado. Polissacarídeos e dissacarídeos • Açúcares maiores: os açúcares maiores que são ingeridos precisam ser digeridos pelo corpo para que seus produtos finais possam entrar na via glicolítica. o trealose: é convertida em glicose pela enzima trealase. o Sacarose: é convertida em glicose e frutose pela enzima sacarase. o Lactose: é convertida em glicose e galactose pela enzima lactase. o Glicogênio e amido: sofrem sucessivas fosforilações por enzimas fosforilases para serem convertidos em inúmeras moléculas de glicose 1- fosfato. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 84 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 84 Figura 43: Visualização geral de todas as vias alimentadoras da glicólise. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 85 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 85 Piruvato Destinos do piruvato • Uma molécula de glicose, ao final das 10 reações sucessivas da via glicolíticas, forma duas moléculas de piruvato. Cada molécula de piruvato, uma vez formada, poderá sintetizar três compostos distintos principais: lactato, etanol e acetilcoenzima A. Figura 44: Esquematização dos principais destinos do piruvato após sua síntese. • Lactato: em condições anaeróbicas, o piruvato é convertido em lactato. Este processo é conhecido como fermentação láctica, e ocorre nas hemácias (que não possuem mitocôndrias onde se processa o restante da respiração celular), nas fibras musculares em contração vigorosa, em algumas outras células humanas e em alguns microrganismos. No organismo humano, o lactato é conduzido pela corrente sanguínea até os hepatócitos, que reconverterão o lactato em piruvato, fechando assim um ciclo conhecido como ciclo de Cori. o Etapa única: redução do piruvato em lactato ▪ 1 NADH é oxidado em 1 NAD+ ▪ Enzima envolvida: lactato desidrogenase Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 86 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 86 ▪ Reação reversível, mas com grande tendência da via direta para formar lactato, pois é espontânea (a lactato desidrogenase apenas a acelera). o Função: em uma condição anaeróbia, a captação de NADH para a formação de ATP por fosforilação oxidativa seria prejudicada devido à ausência de O2. Com isso, há um acúmulo de NADH, desfavorecendo as vias metabólicas que o formam (glicólise e ciclo de Krebs). Essas vias são essenciais em condições anaeróbias, porque suas etapas de fosforilação a nível de substrato se tornam a única fonte de ATP para a célula. Por isso, a oxidação de NADH em NAD+ na fermentação lática evita que haja acúmulo excessivo de NADH, o que interromperia a fosforilação a nível de substrato. Figura 45: Esquematização do ciclo de Cori. • Etanol: em condições anaeróbicas, o piruvato pode ser também convertido em etanol e CO2. Este processo é conhecido como fermentação alcóolica, e ocorre nas leveduras. o Etapa I: descarboxilação do piruvato em acetaldeído ▪ Enzima envolvida: piruvato descarboxilase ▪ Liberação de CO2 como metabólito Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 87 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 87 o Etapa II: redução do acetaldeído em etanol ▪ 1 NADH é oxidado em 1 NAD+ ▪ Enzima envolvida: álcool desidrogenase o Função: oxidação de NADH em NAD+ na fermentação alcóolica, tal qual a fermentação lática, permite a continuidade da formação de ATP a nível de substrato no metabolismo da glicose. • Acetilcoenzima A (acetil-CoA): em condições aeróbicas, o piruvato é convertido em acetilcoenzima A, processo conhecido como descarboxilação do piruvato, que será detalhado a seguir. Descarboxilação do piruvato em acetilcoenzima A • Transporte do piruvato para a mitocôndria: em condições aeróbicas, o piruvato é transportado do citosol (local onde ocorre a glicólise) para dentro da mitocôndria pela enzima piruvato translocase, que é uma permease. Uma vez na mitocôndria, o piruvato é descarboxilado em acetilcoenzima A que entrará no ciclo de Krebs para a continuidade da respiração celular. o É importante lembrar que, partido de uma glicólise iniciada com uma molécula de glicose, serão produzidas duas moléculas de piruvato. • Etapa única: descarboxilação do piruvato em acetilcoenzima A piruvato (x2) → acetil-CoA (x2) o 2 NAD+ são reduzidos a 2 NADH; e 2 CO2 são liberados como metabólito. Assim, o processo também pode ser chamado de descarboxilação oxidativa do piruvato. o São envolvidas as três enzimas que compõem o complexo da piruvato desidrogenase: piruvato-desidrogenase (E1), diidrolipoil transacetilase (E2) e diidrolipoil-desidrogenase (E3). Elas devem estar apropriadamente associadas a certas coenzimas e grupos prostéticos. o Coenzimas e grupos prostéticos envolvidos (alémdo NAD+ que será reduzido): pirofosfato de tiamina (TPP), lipoato, FAD e coenzima A (CoA-SH ou simplesmente CoA). o Reação irreversível. o Função: A descarboxilação do piruvato é muito importante, pois a acetil- CoA serve de base para a biossíntese de uma variedade de compostos. Por Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 88 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 88 isso, a regulação do organismo sobre essa reação é muito intensa, pois envolve várias vias. o Regulação: uma das maneiras de regular esta reação é por meio do NADH, que atua como efetuador alostérico negativo. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 89 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 89 Ciclo de Krebs • O piruvato é uma molécula de três carbonos (C3), e é inicialmente convertido, por descarboxilação, em uma molécula C1 (o CO2, que é eliminado) e uma molécula C2 (a acetil-CoA). Esta segunda molécula entrará então no ciclo de Krebs, etapa que acontece também no interior da mitocôndria. • O ponto de partida do ciclo de Krebs é a reação entre a molécula C2 e uma molécula C4, (o oxalacetato). Durante as etapas do ciclo são produzidas moléculas C6, C5 e C4 até que se produza a molécula C4 inicial novamente. Isso torna o processo sustentável. o Em alguns dos processos do ciclo, é gerado CO2. Entretanto, o carbono desse CO2 nunca advém dos carbonos fornecidos pela acetil-CoA, mas apenas daqueles que estavam presentes no oxalacetato. • É importante frisar que, partindo-se de uma única molécula de glicose, serão produzidas duas acetil-CoA. Portanto, a partir de uma molécula de glicose, ocorrerão dois ciclos de Krebs completos. No detalhamento das etapas a seguir, entretanto, serão consideradas as quantidades produzidas em um único ciclo. Detalhamento das etapas do ciclo de Krebs 1. Condensação de acetil-CoA e oxalacetato em citrato: acetil-CoA + oxalacetato → citrato o Não há gasto nem produção de energia, mas há adição de 1 H2O e liberação de 1 CoA. o Enzima envolvida: citrato sintase o Reação irreversível. Condensa uma molécula C2 ligada a CoA e uma molécula C4 em uma C6, ao mesmo tempo em que remove a CoA. o O oxalacetato adveio de um ciclo de Krebs completado previamente 2. Isomerização do citrato: citrato → isocitrato o Essa isomerização na verdade compreende duas etapas: uma desidratação do citrato em cis-aconitato e uma hidratação do cis-aconitato em isocitrato. o Não há gasto nem produção de energia o Enzima envolvida: aconitase o Reação reversível. Isomeriza uma molécula C6. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 90 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 90 3. Descarboxilação oxidativa do isocitrato: isocitrato → α-cetoglutarato o Reduz 1 NAD+ a 1 NADH e H+ o Liberação de 1 CO2 como metabólito o Enzima envolvida: isocitrato desidrogenase o Reação irreversível. Uma molécula C6 é descarboxilada, resultando em uma molécula C5 que segue no ciclo e uma C1 que é liberada. 4. Descarboxilação oxidativa do α-cetoglutarato: α-cetoglutarato → succinil-CoA o Redução de 1 NAD+ a 1 NADH e H+ o Liberação de 1 CO2 como metabólito. Adição de 1 CoA à molécula. o Enzima envolvida: complexo α-cetoglutarato desidrogenase o Reação irreversível. Uma molécula C5 é descarboxilada, resultando em uma molécula C4 que segue no ciclo e uma C1 que é liberada. Incorporação de uma CoA à molécula C4. 5. Fosforilação a nível do substrato (remoção da CoA do succinil-CoA): succinil-CoA → succinato o Fosforilação de 1 GDP em 1 GTP. Como o GTP tem tanto valor energético quanto o ATP, considera-se que houve a fosforilação de 1 ADP em 1 ATP o Enzima envolvida: succinil-CoA sintetase o Reação reversível. Uma molécula C4 ligada a CoA tem a CoA removida para gerar energia. o O succinato é uma molécula simétrica. Assim, a partir dele, não é mais possível distinguir nas moléculas do ciclo quais são os carbonos que advieram da acetil-CoA 6. Desidrogenação do succinato (oxidação do succinato): succinato → fumarato o Redução de 1 FAD a 1 FADH2 o Enzima envolvida: succinato desidrogenase o Reação reversível. Uma molécula C4 é oxidada 7. Hidratação do fumarato: Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 91 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 91 fumarato → malato o Não há gasto nem produção de energia, mas há adição de 1 H2O o Enzima envolvida: fumarase o Reação reversível. Uma molécula C4 é hidratada 8. Desidrogenação do malato (oxidação do malato e reconstituição do oxalacetato): malato → oxalacetato o Redução de 1 NAD+ a 1 NADH e H+ o Enzima envolvida: malato desidrogenase o Reação reversível. Uma molécula C4 é oxidada, reconstituindo a molécula C4 inicial do ciclo Figura 46: Esquematização dos eventos do ciclo de Krebs. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 92 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 92 Anabolismo dos intermediários do ciclo de Krebs Figura 47: Esquematização dos produtos passíveis de biossíntese a partir de intermediários do ciclo de Krebs. • Biossíntese de glicose (gliconeogênese): qualquer um dos intermediários do ciclo de Krebs pode ser utilizado pelos hepatócitos para fazer gliconeogênese, tendo em vista que todos podem ser convertidos em oxalacetato, que por sua vez pode ser convertido em glicose. • Biossíntese de outros compostos: existe também a possibilidade de fazer a biossíntese de outros compostos (como aminoácidos, nucleotídeos, grupo heme, etc.) a partir determinados intermediários do ciclo de Krebs. o Para que isso ocorra, é necessário que haja um aumento na quantidade de acetil-CoA e de oxalacetato, pois é partir deles que os demais intermediários são produzidos. ▪ Na maioria das vezes em que isso ocorre, tem-se incialmente um aumento na quantidade de acetil-CoA, a partir de uma ocorrência em abundância dos processos de geração de energia. Com isso, não apenas são fornecidas as moléculas precursoras, mas também Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 93 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 93 energia em abundância para os processos anabólicos a partir dos intermediários. ▪ Para aumentar a quantidade de oxalacetato, é preciso desviar o piruvato em excesso que está gerando acetil-CoA para uma reação de carboxilação, que produz oxalacetato. A enzima envolvida nessa reação é a piruvato carboxilase. Esta reação consome 1 CO2 e 1 ATP. o Uma vez que a conversão de α-cetoglutarato em succinil-CoA é irreversível, ambos os compostos serão aqueles utilizados como substrato para a biossíntese de outros produtos. Por isso, na maioria dos casos, os demais intermediários do ciclo de Krebs precisam ser convertidos em α- cetoglutarato ou succinil-CoA ocorrer a biossíntese. o Os compostos que podem ser produzidos a partir dos intermediários do ciclo de Krebs são: ▪ A partir do citrato: ácidos graxos e esteroides. ▪ A partir do α-cetoglutarato: glutamato, e, a partir dele, glutamina, prolina, arginina e purinas. ▪ A partir de succinil-CoA: porfirinas e grupo heme ▪ A partir do oxalacetato: aspartato e asparagina para produzir pirimidinas ▪ A parit do oxalacetato: fosfoenolpiruvato para produzir glicose, e serina, glicina, cisteína, fenilalanina, tirosina, triptofanoGuilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 94 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 94 Interação do ciclo de Krebs com outras vias Figura 48: Interações do ciclo de Krebs com os metabolismos de carboidratos, proteínas e lipídios. • Metabolismo de lipídios: é possível converter ácidos graxos em acetil-CoA. Uma vez que a acetil-CoA, ao final do ciclo de Krebs, forma o oxalacetato, e este pode ser convertido em piruvato, e este, em glicose, seria teoricamente possível produzir glicose (gliconeogênese) a partir da acetil-CoA. Entretanto, o organismo humano não é capaz de utilizar acetil-CoA como molécula precursora para a gliconeogênese. A razão disso é que, para que a acetil-CoA forme oxalacetato ao final do ciclo de Krebs, ela precisa iniciar o ciclo de Krebs consumindo oxalacetato. É redundante formar oxalacetato através do consumo de oxalacetato. o Por outro lado, outras vias que produzam intermediários do ciclo de Krebs que não a acetil-CoA podem ser utilizadas para a gliconeogênese, uma vez que qualquer intermediário do ciclo de Krebs que não seja a acetil- CoA irá formar uma nova molécula de oxalacetato sem precisar consumir outra. o Entretanto, o processo de formação de acetil-CoA a partir de ácidos graxos não é de todo inútil para a gliconeogênese, uma vez que ele se trata de uma Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 95 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 95 reação de degradação capaz de gerar energia. Esta energia pode então ser aproveitada pela gliconeogênese (que é uma reação anabólica, portanto dependente de energia). Uma vez que a gliconeogênese ocorre quando há escassez de glicose, não haverá energia sendo gerada a partir dela, daí a grande importância da energia advinda dos lipídios. ▪ Entretanto, no fígado, que é o local onde os lipídios são degradados e a gliconeogênese se processa, o acúmulo de acetil-CoA forma corpos cetônicos, compostos que, uma vez liberados na corrente sanguínea, causam uma condição de acidificação do plasma conhecida como cetoacidose. • Metabolismo de proteínas: é possível converter alguns aminoácidos, chamados de os aminoácidos cetogênicos, em acetil-CoA. Neste caso, aplica-se o mesmo raciocínio utilizado para a produção de acetil-CoA a partir de ácidos graxos: este acetil-CoA não serve para iniciar a gliconeogênese. o Entretanto, os chamados aminoácidos glicogênicos são aqueles que podem ser convertidos em intermediários do ciclo de Krebs. Estes podem, portanto, serem usados para iniciar a gliconeogênese. Regulação do ciclo de Krebs • A regulação do ciclo de Krebs ocorre por meio de efetuadores alostéricos que agem sobre as reações irreversíveis do ciclo de Krebs (síntese de citrato, síntese de α- cetoglutarato, síntese de succinil-CoA) e sobre a descarboxilação do piruvato. o Normalmente não há regulação direta de enzimas do ciclo de Krebs por mecanismo hormonal, fato que limitaria muito o ciclo (que é parte integrante de diversas vias), uma vez que a ação hormonal é muito amplificada e de longo prazo. • Regulação da descarboxilação do piruvato: a reação de conversão do piruvato em acetil-CoA é regulada pelos seguintes compostos: o Ativadores da descarboxilação do piruvato: ▪ AMP: uma alta concentração de AMP indica uma baixa concentração de ATP, portanto, sinaliza que é preciso produzi-lo a partir do ciclo de Krebs, que se inicia com a descarboxilação do piruvato. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 96 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 96 ▪ CoA: CoA em altas concentrações indica baixa concentração de acetil-CoA, o que favorece a formação desta substância na descarboxilação do piruvato. ▪ NAD+: NAD+ em altas concentrações significa NADH em baixas concentrações, portanto, sinaliza que é preciso produzi-lo a partir do ciclo de Krebs, que se inicia com a descarboxilação do piruvato. ▪ Ca2+: altas concentrações de Ca2+ intracelular indicam atividade muscular alta, portanto, sinaliza que é preciso aumentar a geração de energia a partir do ciclo de Krebs, que se inicia com a descarboxilação do piruvato. o Inibidores da descarboxilação do piruvato: ▪ ATP: altas concentrações de ATP desfavorecem sua produção a partir do ciclo de Krebs, que se inicia com a descarboxilação do piruvato. ▪ Acetil-CoA: altas concentrações de acetil-CoA desfavorecem sua produção na descarboxilação do piruvato; isso permite que o piruvato seja desviado para formar outros compostos. ❖ Ácidos graxos: altas concentrações de ácidos graxos levam ao aumento das concentrações de acetil-CoA. ▪ NADH: altas concentrações de NADH desfavorecem sua produção a partir do ciclo de Krebs, que se inicia com a descarboxilação do piruvato. • Regulação da síntese de citrato: a reação de condensação do oxalacetato e acetil- CoA em citrato é regulada pelos seguintes compostos: o Ativadores: ADP, principalmente, pois indica baixa quantidade de energia disponível. o Inibidores: NADH, succinil-CoA, citrato e ATP. São compostos produzidos a partir da síntese de citrato, portanto, se estiverem em altas concentrações, desfavorecem a ocorrência dessa reação. • Regulação da síntese de α-cetoglutarato: a reação da síntese do isocitrato em α- cetoglutarato é regulada pelos seguintes compostos: o Ativadores: Ca2+ e ADP. Eles sinalizam uma necessidade de geração de energia. o Inibidores: ATP. Sinaliza um excesso de geração de energia. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 97 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 97 • Regulação da síntese de succinil-CoA: a reação da síntese do α-cetoglutarato em succinil-CoA é regulada pelos seguintes compostos: o Ativadores: Ca2+. Sinaliza uma necessidade de geração de energia. o Inibidores: succinil-CoA, NADH. Sinalizam um excesso de geração de energia e de produtos da reação em questão. Figura 49: Regulação do ciclo de Krebs. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 98 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 98 Cadeia transportadora de elétrons • Nesta etapa, o que ocorre fundamentalmente é que moléculas de NADH e FADH2 (coenzimas reduzidas, portanto carreadores de elétrons) fornecem elétrons à cadeia transportadora de elétrons (ou cadeia respiratória) localizada na mitocôndria. o Este processo gera um gradiente eletroquímico que permitirá a ocorrência de um processo acoplado à cadeia transportadora de elétrons, a fosforilação oxidativa, que é capaz de fosforilar um ADP em ATP às custas de um Pi e da condensação de 2H+ e ½ O2 em H2O (água metabólica). Figura 50: Estrutura da mitocôndria. • Mitocôndria: a cadeia transportadora de elétrons é uma via que ocorre no interior da mitocôndria. Por isso, é importante conhecer a estrutura dessa organela: a mitocôndria é uma organela com duas membranas: uma membrana externa, muito permeável; e uma membrana interna, muito seletiva, que se invagina continuamente, formando as cristas mitocondriais. Entre as duas membranas, encontra-se um fluido de composição praticamente idêntica ao do citosol compondo o espaço intermembrana. Encerrada pela membrana interna, há a matriz mitocondrial. • O correto funcionamento da cadeia transportadora de elétrons depende da existência de dois canais na membrana interna, bem como uma série de carreadores de elétrons: o Um canal gerador de gradiente eletroquímico deH+ entre a matriz mitocondrial e o espaço intermembrana, que é a própria cadeia transportadora de elétrons; Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 99 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 99 ▪ Os carreadores de elétrons que promovem o funcionamento da cadeia transportadora de elétrons (complexo I, complexo II, coenzima Q, complexo III, citocromo C e complexo IV). o Um canal que se aproveita do gradiente eletroquímico de H+ para promover a síntese de ATP, que é a ATP sintase, que promove a fosforilação oxidativa. Sem este processo, o gradiente eletroquímico não é desfeito, e o funcionamento daquele que o gera, a cadeia transportadora de elétrons, tem seu funcionamento interrompido. Lançadeiras de coenzimas • Para que a cadeia transportadora de elétrons funcione, é necessária a síntese de NADH mitocondrial, uma vez que o NADH citoplasmático não pode ser simplesmente transportado até a membrana nesta forma. Para que isso ocorra, a célula dispõe de dois mecanismos conhecidos como lançadeiras: a lançadeira malato-aspartato e a lançadeira glicerol-fosfato. Assim, as lançadeiras são responsáveis por levar os elétrons do citoplasma para a matriz mitocondrial. Figura 51: Esquematização da lançadeira malato-aspartato. • Lançadeira malato-aspartato: presente nos hepatócitos, fibras musculares cardíacas e lisas. o Etapa I: reação de oxirredução entre NADH citoplasmático e oxalacetato. Ocorre no citosol/espaço intermembrana. ▪ NADH citoplasmático se oxida a NAD+ citoplasmático ▪ Oxalacetato se reduz a malato Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 100 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 100 o Etapa II: proteínas da membrana mitocondrial interna transportam o malato até a matriz mitocondrial. Esse transporte é do tipo contratransporte, pois simultaneamente à internalização do malato, ocorre a liberação de α- cetoglutarato. o Etapa III: reação de oxirredução entre malato e NAD+ mitocondrial. Ocorre na matriz mitocondrial. ▪ Malato se oxida a oxalacetato ▪ NAD+ mitocondrial se reduz a NADH mitocondrial o Etapa IV: o oxalacetato na matriz mitocondrial reage com glutamato formando α-cetoglutarato e aspartato. o Etapa V: proteínas da membrana mitocondrial interna transportam o aspartato para o espaço intermembrana. Esse transporte é do tipo cotransporte, pois simultaneamente à liberação do aspartato, ocorre a internalização de glutamato. o Etapa VI: no espaço intermembrana/citosol, o α-cetoglutarato e o aspartato liberados (nas etapas II e V, respectivamente) irão reagir e formar oxalacetato e glutamato. O oxalacetato irá reagir com um novo NADH citoplasmático (etapa I), e o glutamato será transportado à matriz mitocondrial em cotransporte com o aspartato (etapa V). Figura 52: Esquematização da lançadeira glicerol-fosfato. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 101 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 101 • Lançadeira glicerol-fosfato: presente nos neurônios e nas fibras musculares esqueléticas. o Etapa I: reação oxirredução entre NADH citoplasmático e diidroxiacetona fosfato. Ocorre no citosol/espaço intermembrana. ▪ NADH citoplasmático se oxida a NAD+ citoplasmático ▪ Diidroxiacetona fosfato é reduzida a glicerol-3-fosfato o Etapa II: oxirredução entre E-FAD da proteína desidrogenase glicerol 3- fosfato mitocondrial e glicerol 3-fosfato. Ocorre na superfície da membrana mitocondrial interna que está voltado para o espaço intermembrana. ▪ E-FAD se reduz a E-FADH2 ▪ Glicerol 3-fosfato se oxida a diidroxiacetona fosfato ▪ A desidrogenase glicerol 3-fosfato mitocondrial é uma proteína não- integral da membrana interna da mitocôndria, que está voltada apenas para o espaço intermembrana. Ela está ligada ao E-FAD. o Etapa II: oxirredução entre E-FADH2 da proteína desidrogenase glicerol 3- fosfato mitocondrial e coenzima Q. Ocorre no interior da membrana mitocondrial interna, onde circula a coenzima Q. ▪ E-FADH2 se oxida a E-FAD ▪ Coenzima Q é reduzida a Q-H2 Constituintes da cadeia transportadora de elétrons Figura 53: Esquematização dos constituintes da cadeia transportadora de elétrons e suas interações. • Na cadeia transportadora de elétrons, processa-se a via dos carreadores de elétrons, que é a transferência unidirecional de elétrons entre os carreadores de elétrons, localizados na membrana mitocondrial interna, desde a captação de elétrons a partir do NADH mitocondrial e do FADH2 até a acepção final desses elétrons pelo o O2 obtido do meio externo. Graças a este processo, é estabelecido Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 102 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 102 um gradiente eletroquímico de íons H+ entre o espaço intermembrana e a matriz mitocondrial. Basicamente, tem-se a seguinte direção de transferência de elétrons: o O NADH transfere elétrons ao complexo I o O succinato transfere elétrons ao complexo II o Os complexos I e II transferem elétrons à coenzima Q o A coenzima Q transfere elétrons ao complexo III o O complexo III transfere elétrons ao citocromo C o O citocromo C transfere elétrons ao complexo IV o O complexo IV transfere elétrons ao O2 ▪ Essa transferência de elétrons só é possível graças aos valores crescentes do potencial de redução padrão dos compostos iniciais até os compostos finais. Isso significa que NADH e FADH2 possuem os menores valores de potencial de redução padrão, e o O2 possui o maior valor de potencial de redução padrão. ▪ www.wiley.com/legacy/college/boyer/0470003790/animations/anim ations/html ▪ Uma vez que a cadeia de transporte de elétrons depende que uma molécula esteja oxidada para que a molécula anterior a reduza, caso haja um problema em que a molécula não se oxide, ela não poderá ser reduzida novamente, e o processo inteiro é interrompido. • Os complexos I, II e III caracterizam-se por possuir centros ferro-enxofre (Fe-S) como grupos prostéticos, que são capazes de captar elétrons. Esses centros podem possuir um, dois ou quatro átomos de ferro. o Complexo I: o complexo I, além do grupo prostético Fe-S, ainda possui o grupo prostético FMN (flavina mononucleotídeo). Quando oxidada, a FMN é capaz de captar um elétron e um próton do NADH, reduzindo-se a FMNH (semiquinona), que é um composto reduzido altamente oxidante. Por isso, ele rapidamente capta mais um elétron e um próton do NADH, formando FMNH2, que caracteriza o complexo I totalmente reduzido. O complexo I é uma proteína de membrana integral. o Complexo II: possui apenas o grupo prostético Fe-S, sendo capaz de captar elétrons a partir de succinato da matriz mitocondrial. Não capta prótons e não é uma proteína de membrana integral. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 103 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 103 o Complexo III: também possui apenas como grupo prostético o centro Fe-S. Assim, também só capta elétrons, não prótons. Entretanto, é através dele que os prótons captados pela coenzima Q são enviados ao espaço intermembrana, uma vez que ele é uma proteína de membrana integral que recebe os elétrons da coenzima Q. • Complexo IV: distingue-se dos outros complexos por possui, como grupos prostéticos, átomos de cobre e grupos heme. Sendo uma proteína de membrana integral, ele é capaz de promove o envio direto de íons H+ da matriz para oespaço intermembrana. • Coenzima Q (ubiquinona): recebe um elétron e um próton formando um intermediário reduzido, o QH* (semi-ubiquinona). Este intermediário reduzido recebe novamente um elétron e um próton para formar a forma reduzida final da coenzima Q, que é a Q-H2 (ubiquinol). A coenzima Q, por si só, entretanto, não é capaz de enviar ao espaço intermembrana os prótons captados, pois não é uma proteína de membrana integral. • citocromos são compostos com anéis porfirínicos, isto é, átomos de ferro ligados a nitrogênio (Fe-N). São capazes de captar apenas elétrons. Não são proteínas de membrana integrais. o Citocromos A possuem longas cadeias carbônicas o Citocromo B possui cadeias carbônicas menores o Citocromos tipo C possuem cadeias carbônicas menores ligadas a enxofre, que por sua vez está ligado a uma proteína. • Gás oxigênio: o O2 é o aceptor final de elétrons, isto é, é o ponto final da transferência de elétrons da cadeia transportadora de elétrons. Neste processo, ele é capaz de captar íons H+ e formar H2O (água metabólica). Detalhamento da cadeia transportadora de elétrons • Etapas no complexo I: NADH se oxida a NAD+, promovendo a captação de elétron (redução) pelo FMN do complexo I, o que a obriga a captar H+ da matriz mitocondrial para se estabilizar. Assim, a FMN totalmente reduzida é a FMNH2. o O elétron então é transferido da FMN para o centro Fe-S do complexo I, que por sua vez o transfere à coenzima Q ao mesmo tempo em que ela capta H+ da matriz. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 104 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 104 o Ao finalmente transferir os elétrons à coenzima Q, o complexo I envia ao espaço intermembrana os íons H+ da matriz que ele havia captado. ▪ Rotenona: inibidor que bloqueia a transferência de elétrons do centro Fe-S do complexo I para a coenzima Q. • Etapas no complexo II: o complexo II recebe elétrons do succinato na membrana mitocondrial, o que reduz, em sua estrutura, o FAD a FADH2. o O FADH2 então transfere elétrons ao centro Fe-S, que depois os transfere à coenzima Q ao mesmo tempo em que ela capta H+ da matriz. o O complexo II não capta H+ da matriz, portanto não transfere H+ ao espaço intermembrana. • Etapas na coenzima Q: A coenzima Q recebe elétrons dos complexos I e II, e também da lançadeira glicerol 3-fosfato e de outros processos metabólicos que ocorrem na matriz mitocondrial, como a degradação da acil-CoA. o Ao receber esses elétrons, a coenzima Q também capta H+ a partir da matriz mitocondrial. o A coenzima Q transfere então os elétrons ao complexo III, processo em que libera íons H+ para o espaço intermembrana através deste complexo, pois este é uma proteína de membrana integral. • Etapas no complexo III: os centros Fe-S do complexo III captam os elétrons da coenzima Q. Nesse processo de transferência: o A primeira transferência de elétron (ao centro Fe-S do complexo III) pela Q-H2 provoca a liberação de um H + para o espaço intermembrana, e a Q-H2 é oxidada a QH*. Este primeiro elétron depois é transferido ao citocromo C. o A forma reduzida QH*, muito instável, doa outro elétron (dessa vez ao citocromo B do complexo III) e libera outro H+ ao espaço intermembrana, ficando oxidada a coenzima Q novamente. Entretanto, essa coenzima Q capta o elétron de volta (a partir do citocromo B) e ainda capta outro H+ da matriz e volta a ficar na forma reduzida instável QH*. o A segunda transferência de elétron (ao centro Fe-S do complexo III) por outra Q-H2 envia H + ao espaço intermembrana, oxidando-a a QH*. Este segundo elétron depois é transferido ao citocromo C. o A QH* doa outro elétron (ao citocromo B do complexo III) e envia outro H+ ao espaço intermembrana, ficando oxidada a coenzima Q novamente. Essa Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 105 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 105 coenzima Q sai do complexo III, indo receber elétrons do complexo I e do complexo II. o O segundo citocromo B, por sua vez, doa seu elétron à QH* que havia restado da primeira transferência de elétron. Assim, ela fica reduzida a Q- H2, e o processo pode reiniciar. ▪ antimicina A: composto inibidor que bloqueia a transferência de elétrons entre os constituintes do complexo III e a coenzima Q. • Etapas no citocromo C: o citocromo C recebe elétrons dos centros Fe-S do complexo III. o Posteriormente, o citocromo C transferirá elétrons ao complexo IV, processo que promove o envio de íons H+ ao citoplasma através do complexo IV, que é uma proteína de membrana integral. • Etapas no complexo IV: O complexo IV recebe elétrons do citocromo C. o Ao receber esses elétrons, o complexo IV envia H+ da matriz mitocondrial para o espaço intermembrana. o No interior do complexo IV, os elétrons são transferidos para átomos de cobre e para grupos heme, até que finalmente sejam transferidos para o O2. • Etapas no O2: o O2, localizado na matriz mitocondrial, recebe elétrons do complexo IV. Assim, ele oxida o complexo IV e se reduz. o A redução do O2 exige que ele capte íons H+ da matriz, convertendo-o em H2O (água metabólica). Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 106 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 106 Fosforilação oxidativa • Fosforilação oxidativa: geração de ATP a partir da energia disponibilizada pelo gradiente eletroquímico de íons H+ gerado pela cadeia transportadora de elétrons. o A fosforilação oxidativa, assim, é diferente da fosforilação a nível de substrato, que gera ATP por reações catabólicas na glicólise (saldo de 2 ATP por glicose) e no ciclo de Krebs (saldo de 2ATP por piruvato). • Mecanismo: durante a transferência de elétrons ao longo dos constituintes da cadeia transportadores de elétrons, ocorre o envio de íons H+ da matriz mitocondrial para o espaço intermembrana. Isso faz com que haja um aumento na concentração de íons H+ no espaço intermembrana, e uma redução da mesma na matriz mitocondrial. Com isso, surge um gradiente eletroquímico entre esses dois espaços, existindo grande força de difusão para fazer os íons H+ passar pela membrana interna e retornar à matriz mitocondrial. Portanto, os íons H+ possuem uma enorme energia potencial. o Durante a passagem de H+ pela membrana interna, essa energia potencial converte-se em energia cinética e energia térmica. Uma proteína de membrana, a ATP sintase, é capaz de promover a difusão facilitada dos íons H+ para, assim, aproveitar parte dessa energia cinética, convertendo-a em energia química para formar uma ligação entre um ADP e um Pi, formando ATP. Figura 54: Esquematização do mecanismo básico de geração de ATP a partir da cadeia transportadora de elétrons. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 107 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 107 o O gradiente eletroquímico que é gerado a partir de uma molécula de NADH é capaz de gerar uma energia suficiente para que a ATP sintase forme 3 ATP (na realidade, a medida exata são 2,5 ATP). Isso ocorre porque, na cadeia transportadora de elétrons, a transferência de elétrons a partir do NADH envolve três constituintes capazes de acentuar o gradiente eletroquímico de íons H+: complexo I, complexo III e complexo IV. o Já gradiente eletroquímico é gerado a partir de uma molécula de FADH2 é capaz de gerar uma energia suficiente para que a ATP sintase forme 2 ATP (na realidade, a medida exatasão 1,5 ATP). Isso ocorre porque, na cadeia transportadora de elétrons, a transferência de elétrons a partir do FADH2 envolve apenas dois constituintes capazes de acentuar o gradiente eletroquímico de íons H+: o complexo III e o complexo IV. • ATP sintase: é uma proteína integral de membrana (transmembrana) constituída por duas porções: o Porção F0: é a porção transmembrana da ATP sintase, que forma o canal de prótons, ou seja, permite a passagem dos íons H+. ▪ A porção F0 possui várias subunidades às quais os íons H+ do espaço intermembrana podem se ligar. Ligações sucessivas desses íons a essas subunidades eventualmente geram uma mudança conformacional na porção F0, fazendo-a girar e permitir a passagem de um íon H+ por vez para a matriz mitocondrial. o Porção F1: é a porção da ATP sintase que está voltada para a matriz mitocondrial. Ela é a responsável por converter a energia da passagem de íons em energia química para sintetizar ADP e Pi em ATP. ▪ Uma rotação da porção F0 permite a porção F1 se ligar a ADP e Pi, inicialmente. Uma segunda rotação da porção F0 permite que F1 efetivamente adicione as duas substâncias para formar ATP. Regulação da cadeia transportadora de elétrons/fosforilação oxidativa • Interdependência dos processos: a fosforilação oxidativa, portanto, depende da cadeia transportadora, e vice-versa: o Se não houvesse a cadeia transportadora, não haveria gradiente eletroquímico para fornecer energia para a síntese de ATP pela ATP sintase. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 108 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 108 o Se não houvesse a fosforilação oxidativa, a cadeia transportadora geraria um gradiente eletroquímico tão forte que eventualmente impediria a ocorrência da própria cadeia transportadora. • ADP: tanto a cadeia transportadora de elétrons quanto a fosforilação oxidativa são reguladas pela concentração de ADP. Quando está muito elevada, ela estimula a entrada de íons H+ na matriz para que o ADP seja consumido e forme ATP. Esta entrada de íons desfaz o gradiente eletroquímico, o que favorece a ocorrência da cadeia transportadora para refazê-lo. • Compostos inibidores: o Inibição da cadeia transportadora de elétrons: cianeto e monóxido de carbono o Inibição da ATP sintase: aurovertina, oligomicina e venturicidina. • Expressão do genoma mitocondrial: o genoma mitocondrial é o responsável pela codificação da maioria das proteínas formadoras dos complexos da cadeia transportadora de elétrons. A única exceção a essa regra são as proteínas do complexo II, que são codificados pelo genoma da própria célula. o Adicionalmente, o genoma mitocondrial também codifica a ATP sintase e os RNA mitocondriais transportador e ribossômico. o Doenças do genoma mitocondrial: as principais são a LHON (defeito na expressão do complexo I) e a MERRF (defeito na expressão do complexo IV). ▪ No caso da MERRF, ocorre a formação de mitocôndrias anormais em células musculares, com a observação de estruturas paracristalinas à micrografia eletrônica. Desacoplamento • Desacoplamento cadeia transportadora - fosforilação oxidativa: o desacoplamento ocorre quando a interpendência dos processos é anulada por algum fator externo. o Uma forma de desacoplamento é quando algum fator externo permite que a cadeia transportadora funcione, mas a fosforilação oxidativa não. Essa forma pode ocorrer caso a permeabilidade da membrana mitocondrial interna aos íons H+ aumente, permitindo a eles passarem do espaço intermembrana para a matriz mitocondrial sem passar pela ATP sintase. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 109 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 109 Com isso, a cadeia transportadora permanece funcional, mas a fosforilação oxidativa fica prejudicada. ▪ O desacoplamento contrário, isto é, a fosforilação oxidativa permanecer funcional e a cadeia transportadora ser inativada, entretanto, não é possível acontecer. Por isso, o termo “desacoplamento” será sempre utilizado para quando a cadeia transportadora fica funcional e a fosforilação oxidativa é inativada. • Dinitrofenol (DNP): composto que causa o desacoplamento mencionado, provocando uma doença intoxicante caracterizada por síndrome consumptiva (emagrecimento intenso) e febre intensa, levando a óbito. Seu mecanismo de ação: o Uma vez posicionado no espaço intermembrana, o DNP ionizado, em termos químicos, é a base conjugada de um ácido fraco. o Este DNP ionizado, ao captar os íons H+ enviados pela cadeia transportadora de elétrons, se converte no ácido fraco DNP. o O ácido fraco DNP é capaz então de se difundir para a matriz mitocondrial, onde libera o H+ que havia captado. o Dessa forma, tem-se que o DNP é capaz de transportar os íons H+ pela membrana interna, desfazendo assim o gradiente eletroquímico, sem envolver a ATP sintase. Os sintomas de intoxicação por DNP, assim, são explicados por: ▪ Emagrecimento: a baixa quantidade de ATP gerado a partir de glicose estimula a degradação de lipídios, o que consome o tecido adiposo do paciente. ▪ Febre: a energia de passagem dos íons H+ pela membrana interna não é mais armazenada na forma de ATP, sendo totalmente perdida na forma de calor. ▪ Óbito: a deficiência de ATP causa a morte das células, e a morte generalizada de células leva a morte. Quanto maior a concentração de DNP, menor a quantidade de ATP produzido. • Desacoplamento fisiológico: ocorre em tecidos cuja função é calor. É o caso do tecido adiposo pardo, abundante em humanos recém-nascidos e em animais que hibernam. O recém-nascido precisa dessa geração de calor porque sua pele e capilares são muito finos, portanto perde calor para o ambiente muito facilmente. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 110 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 110 o Adipócito pardo: o adipócito pardo possui mitocôndrias em abundância, ao contrário do adipócito branco. Por isso, no adipócito pardo, as gotículas lipídicas são múltiplas e pouco volumosas, interpostas por muitas mitocôndrias; no adipócito branco, existe uma única gotícula lipídica muito volumosa, com poucas mitocôndrias. o Mecanismo do desacoplamento fisiológico: a mitocôndria do adipócito pardo possui, em sua membrana interna, uma proteína transmembrana tipo canal chamada de UCP-1 (termogenina), que é capaz de desfazer o gradiente eletroquímico tal qual a ATP sintase. Entretanto, neste processo, a energia do gradiente é totalmente perdida na forma de calor. Por isso, nessas células, há um grande funcionamento da cadeia transportadora, pois o gradiente eletroquímico de prótons está sendo desfeito por duas vias. Verificação do comportamento da cadeia transportadora • Experimento I: utilizando-se uma mitocôndria isolada, são aplicadas certas substâncias para verificar como é o comportamento de dois parâmetros da cadeia transportadora: a taxa de consumo de O2 e a taxa de síntese de ATP. A sequência de procedimentos, a partir de taxas zero para ambos os parâmetros, foi: o Adição de ADP e Pi: aumenta sutilmente o consumo de O2, mas a síntese de ATP praticamente não ocorre. ▪ Explicação: o ADP e o Pi provocam leve funcionamento da cadeia transportadora a partir de um leve funcionamento do ciclo de Krebs, sem que isso consiga gerar um gradiente de prótons forte o suficiente para que haja a fosforilação oxidativa. o Adição de succinato: aumenta bastante o consumo de O2, e também aumenta bastante a quantidadede ATP sintetizado. ▪ Explicação: o succinato é um intermediário do ciclo de Krebs que, ao se juntar ao ADP e Pi adicionados no momento anterior, é capaz de gerar coenzimas reduzidas que farão a cadeia transportadora de elétrons funcionar (processo este que consome O2) de maneira suficiente para gerar ATP na fosforilação oxidativa. o Adição de cianeto: interrompe o consumo de O2 e a síntese de ATP. ▪ Explicação: o cianeto bloqueia a transferência de elétrons do citocromo C para o complexo IV, impedindo que, ao final, o O2 seja consumido para captar esses elétrons. Consequentemente, isso Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 111 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 111 impede que seja gerado um gradiente eletroquímico de prótons para que haja a fosforilação oxidativa. • Experimento II: mesmas condições postas no experimento I. A sequência de procedimentos foi: o Adição de succinato: aumenta sutilmente o consumo de O2, mas a síntese de ATP praticamente não ocorre. ▪ Explicação: ocorre um leve funcionamento da cadeia transportadora a partir de um leve funcionamento do ciclo de Krebs, sem que isso consiga gerar um gradiente de prótons suficiente para que haja a fosforilação oxidativa. o Adição de ADP e Pi: aumenta bastante o consumo de O2, e também aumenta bastante a quantidade de ATP sintetizado. ▪ Explicação: ADP e Pi, juntamente com o succinato adicionado anteriormente, permitem o funcionamento eficiente do ciclo de Krebs, que é capaz de gerar coenzimas reduzidas que farão a cadeia transportadora de elétrons funcionar (processo este que consome O2) de maneira suficiente para gerar ATP na fosforilação oxidativa. o Adição de venturicidina ou oligomicina: reduz um pouco o consumo de O2, e interrompe a geração de ATP. ▪ Explicação: esses compostos desfazem a estrutura da ATP sintase. Assim, a cadeia transportadora funcionará, consumindo O2, porém em menor escala porque o gradiente eletroquímico não está sendo desfeito pela ATP sintase, o que significa que o ATP não está sendo gerado. o Adição de DNP: aumenta exponencialmente o consumo de O2, e a geração de ATP permanece nula. ▪ Explicação: O DNP desfaz continuamente o gradiente eletroquímico que é gerado na cadeia transportadora (que consome o O2), impedindo que este seja desfeito pela fosforilação oxidativa, que passa a não ocorrer mais. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 112 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 112 Saldo da respiração celular • Glicólise, no citosol, a partir de 1 glicose: o 2 ATP o 2 NADH • Descarboxilação do piruvato em acetil-CoA, na mitocôndria (multiplicado por 2, uma vez que na glicólise são produzidos 2 piruvatos a partir de 1 glicose): o NADH (x2) • Ciclo de Krebs, na mitocôndria (também multiplicado por 2): o 3 NADH (x2) o FADH2 (x2) o ATP (x2) • Cadeia transportadora de elétrons e fosforilação oxidativa (com estas etapas, cada NADH consegue produzir 2,5 ATP e cada FADH2 consegue produzir 1,5 ATP): o 2 NADH (glicólise) x2,5 = 5 ATP o 2 NADH (descarboxilação piruvato) x2,5 = 5 ATP o 6 NADH (Krebs) x2,5 = 15 ATP o 2 FADH2 (Krebs) x1,5 = 3 ATP ▪ Variação: pode acontecer que, em vez de se ter 2 NADH (glicólise), se tenha 2 FADH2 (glicólise). Neste caso, em vez de 5 ATP, se teria 3 ATP. Isso ocorre porque pode haver variação do mecanismo de lançadeiras utilizado para transferir elétrons do NADH do citosol para a matriz mitocondrial. • Somatório total de ATP gerado: o 2 ATP (glicólise) o 5 ATP (glicólise + cadeia transportadora/fosforilação) o 5 ATP (descarboxilação piruvato + cadeia transportadora/fosforilação) o 2 ATP (Krebs) o 18 ATP (Krebs + cadeia transportadora/fosforilação) o Soma total = 2 + 5 + 5 + 2 + 18 = 32 ATP ▪ Variação: caso a troca de 2 NADH (glicólise) por 2 FADH2 (glicólise), haverá a produção de 3 ATP em vez de 5 ATP. Assim, a soma total ficaria igual a 2 + 3 + 5 + 2 + 18 = 30 ATP. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 113 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 113 Figura 55: Tabela da geração de ATP a cada etapa da respiração celular. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 114 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 114 Gliconeogênese • A gliconeogênese é a biossíntese de glicose, portanto um processo anabólico. É vital para o organismo, pois a glicose é o único substrato energético dos neurônios (o cérebro sozinho demanda diariamente 120g de glicose). o Parte da glicose ingerida na dieta e absorvida pelo sistema digestório é transferida à corrente sanguínea para ser distribuída a todo o organismo, e parte é armazenada no fígado e nos músculos na forma de glicogênio. o Quando a glicose diretamente absorvida da dieta se esgota, o glicogênio passa a ser degradado (glicogenólise) e mais glicose é mobilizada para as células. Entretanto, nos períodos de jejum prolongado e exercício vigoroso, a glicose advinda do glicogênio não é suficiente, por isso, o organismo precisa produzir glicose através da gliconeogênese. o A gliconeogênese processa-se principalmente no fígado, apesar de também ocorrer na região cortical dos rins em menor escala. • Moléculas precursoras da gliconeogênese: qualquer composto que possa ser convertido em piruvato ou oxalacetato pode servir como molécula precursora para a gliconeogênese. o Restrição de compostos que formam acetil-CoA: a exceção a essa regra são os compostos que, para formarem oxalacetato, primeiro seriam convertidos em acetil-CoA para entrar no ciclo de Krebs. É o caso dos ácidos graxos e dos aminoácidos cetogênicos, que embora teoricamente poderiam produzir oxalacetato passando pelo ciclo de Krebs, eles demandariam oxalacetato para fazerem isso, não havendo, portanto, ganho de oxalacetato para produzir glicose. Gliconeogênese a partir de piruvato • Na via glicolítica, em que a glicose é convertida em piruvato, muitas reações são reversíveis. Estas reações reversíveis permitem que a via de conversão do piruvato em glicose, a gliconeogênese, compartilhe com a glicólise algumas enzimas. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 115 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 115 Figura 56: Comparação das vias glicolítica e gliconeogênica. Via principal • De maneira análoga à glicose, que ao final produz duas moléculas de piruvato, a gliconeogênese demandará duas moléculas de piruvato como ponto de partida. As etapas equivalentes às reações irreversíveis da glicólise serão detalhadas a seguir (as etapas equivalentes às reações reversíveis serão apenas citadas): 1. Carboxilação do piruvato: o piruvato (x2) entra no interior da mitocôndria, onde é adicionado a bicarbonato (x2) e convertido em oxalacetato (x2) o Ocorre gasto de 1 ATP (x2) o Ocorre gasto de 1 CO2 (x2) para fornecer o bicarbonato o Enzima envolvida: piruvato carboxilase. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 116 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 116 o Coenzima envolvida: biotina (que normalmente atua em reações de carboxilação) 2. Síntese de fosfoenolpiruvato: o oxalacetato (x2), ainda na mitocôndria, é convertido em fosfoenolpiruvato (x2). o Ocorre gasto de 1 ATP (x2) o Ocorre liberação de 1 CO2 (x2) o Enzima envolvida: PEP carboxiquinasemitocondrial. 3. Processamento das reações reversíveis da via glicolítica no sentido inverso: uma vez formado o fosfoenolpiruvato, ele sai da mitocôndria para o citoplasma, onde processam-se então as reações reversíveis da via glicolítica no sentido inverso, com a participação das mesmas enzimas. Assim, tem-se, sequencialmente, a partir do fosfoenolpiruvato: a. A formação de 2-fosfoglicerato (x2) b. A formação de 3-fosfoglicerato (x2) c. A formação de 1,3-bifosfoglicerato (x2) com gasto de 1 ATP (x2) d. A formação de gliceraldeído 3-fosfato (x2) com gasto de 1 NADH (x2) e. A formação de diidroxiacetona-fosfato a partir de um único gliceraldeído 3- fosfato f. A formação de frutose 1,6-bifosfato pela condensação entre a diidroxiacetona-fosfato e o outro gliceraldeído 3-fosfato 4. Formação de frutose 6-fosfato: a frutose 1,6-bifosfato é convertida em frutose 6- fosfato por hidrólise. a. Enzima envolvida: frutose 1,6-bifosfatase 1 5. Formação da glicose 6-fosfato (reação reversível): a frutose 6-fosfato é convertida em glicose 6-fosfato, por meio da reação inversa da mesma reação reversível observada na via glicolítica. A enzima envolvida é a mesma, e também não há gasto nem geração de energia. 6. Desfosforilação da glicose 6-fosfato: a glicose 6-fosfato sofre desfosforilação por hidrólise, formando glicose. o Enzima envolvida: glicose 6-fosfatase o Essa etapa permite que glicose finalmente saia do hepatócito. • Saldo de gasto de ATP: considerando a gliconeogênese a partir de 2 piruvatos, há o gasto de 11 moléculas de ATP. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 117 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 117 Via secundária • Via secundária da gliconeogênese a partir do piruvato: o Piruvato entra na mitocôndria. o Piruvato forma oxalacetato. Gasto de 1 CO2. Enzima envolvida: piruvato carboxilase. Ainda na mitocôndria. ▪ Na via secundária, esse CO2 é liberado para o citoplasma. Entretanto, na via primária, ele é liberado para a própria mitocôndria. o Oxalacetato forma malato. Gasto de 1 NADH. Ainda na mitocôndria. o Malato sai da mitocôndria para o citoplasma. o Malato forma oxalacetato novamente. Gasto de 1 NAD+. Enzima envolvida: malato desidrogenase citoplasmática (é isoenzima da malato desidrogenase mitocondrial) ▪ Nesta etapa, o gasto de 1 NAD+ produz 1 NADH no citoplasma, o que é interessante para o restante da via gliconeogênica, pois posteriormente ela demandará o gasto de 1 NADH. Assim, o processo fica mais sustentável. ▪ Na via principal da gliconeogênese a partir do piruvato, esse NADH no citoplasma, consumido posteriormente, advém da conversão de lactato em piruvato (não advém da respiração, pois ela não está ocorrendo, uma vez que ela depende de glicose, e a gliconeogênese ocorre justamente quando não há glicose). ❖ Por isso, a via principal é interessante quando há atividade muscular intensa (promove a fermentação láctica) e quando há pouco NADH no interior da mitocôndria. ❖ A via secundária é interessante quando há jejum e muito NADH no interior da mitocôndria. ▪ Ciclo de Cori: no músculo em atividade vigorosa, o ATP é produzido na glicólise que se sustenta com a ocorrência de fermentação lática do piruvato em lactato. Este lactato cai no sangue, e é levado até o fígado. O hepatócito gasta ATP para converter lactato em piruvato e piruvato em glicose. Essa glicose, via de regra, vai para as células neuronais (apesar de também poder ser armazenada no músculo na forma de glicogênio). Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 118 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 118 o Oxalacetato forma fosfoenolpiruvato com gasto de 1 CO2, pela enzima PEP carboxiquinase citoplasmática. o Fosfoenolpiruvato sofre as mesmas reações que sofre na via principal, resultando em glicose. Figura 57: Esquematização das diferenças entre a via principal e a via secundária. Regulação da glicólise/gliconeogênese • As enzimas que não serão compartilhadas entre glicólise e gliconeogênese serão aquelas que participam de reações irreversíveis em ambas as vias. Como a gliconeogênese é um processo que demanda mais energia do que a glicólise é capaz de fornecer, essas duas vias precisam ser muito bem reguladas para não haver escassez de energia. E essa regulação será feita justamente sobre as enzimas das reações irreversíveis. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 119 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 119 Figura 58: Regulação da glicólise/gliconeogênese. • Principal reação regulada: mais especificamente, a principal regulação ocorre nas reações irreversíveis entre frutose 6-fosfato e frutose 1,6-bifosfato das duas vias: o Na via glicolítica, a frutose 6-fosfato forma frutose 1,6-bifosfato, atuando a enzima fosfofrutoquinase 1. o Na via gliconeogênica, a frutose 1,6-bifosfato forma frutose 6-fosfato, atuando a enzima frutose 1,6-bifosfatase. • Regulação pela frutose 2,6-bifosfato: o elemento regulatório principal, por sua vez, vai partir de uma reação reversível entre frutose 6-fosfato e frutose 2,6- bifosfato, sendo que esta última é o agente da regulação. Por sua vez, a frutose 2,6- bifosfato também é regulada, uma vez que essa reação ocorre com a atuação de uma enzima bifuncional, que possui propriedades de quinase e de fosfatase. o A conversão de frutose 6-fosfato em frutose 2,6-bifosfato ocorre quando a atividade de quinase da enzima bifuncional se sobressai. Essa atividade é estimulada pela insulina. o A conversão de frutose 2,6-bifosfato em frutose 6-fosfato ocorre quando a atividade de fosfatase da enzima bifuncional se sobressai. Essa atividade é estimulada pelo glucagon. ▪ Ação da frutose 2,6-bifosfato: ela estimula a fosfofrutoquinase 1, ativando a via glicolítica; e inibe a frutose 1,6-bifosfatase, inibindo a via gliconeogênica. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 120 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 120 • Outros elementos regulatórios: ATP e citrato, que são capazes de inibir a fosfofrutoquinase 1, inibindo a via glicolítica. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 121 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 121 Via das pentoses fosfato • A via das pentoses fosfato é intimamente relacionada à via glicolítica, compartilhando com ela muitos intermediários. • Esta via ocorre em qualquer tipo celular, pois tem como objetivo a produção de dois compostos importantes para o metabolismo: a ribose 5-fosfato (um carboidrato C5) e o NADPH (uma coenzima reduzida). o A ribose 5-fosfato é importante para a síntese de nucleotídeos. Portanto, é essencial para o processo de divisão celular, em que é preciso sintetizar novos ácidos nucleicos a partir de nucleotídeos. Assim, a via das pentoses fosfato ocorre em praticamente todas as células, pois, com exceção de neurônios maduros e hemácias, todas as células do organismo realizam a divisão celular. o NADP: molécula de NAD ligada a um fosfato. Sua forma oxidada é o NADP+, e sua forma reduzida é o NADPH. A via das pentoses fosfato é capaz de promover a redução do NADP+. Funções do NADP incluem: ▪ Atuar como coenzima para enzimas que não utilizam NAD nem FAD; ▪ Atuar como agente redutor, participando de algumas reações no metabolismo dos lipídios e dos nucleotídeos, como a biossíntese de ácidos graxos,colesterol, neurotransmissores e nucleotídeos; ▪ Importante para a manutenção do estado redox das células. É por causa dessa função que as hemácias, anucleadas e com íntima relação com o oxigênio, realizam a via das pentoses fosfato; ▪ Desintoxicação celular, através de dois processos: ❖ Redução de glutationa oxidada para combater as espécies reativas de oxigênio (ROS); ❖ Reação das citocromo P450 monooxigenases. Essas enzimas são responsáveis pelo processo de metabolização de drogas. Portanto, o estudo delas é vital para a produção de fármacos. • Etapas: a via das pentoses fosfato ocorre em duas etapas: Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 122 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 122 Figura 59: Esquema simplificado da fase oxidativa da via das pentoses fosfato. o Fase oxidativa: é a fase em que, a partir da descarboxilação da glicose 6- fosfato em ribulose 5-fosfato, ocorre a redução de 2 NADP+ a 2 NADPH. Todas as reações desta fase são irreversíveis. Figura 60: Esquema simplificado da fase não oxidativa da via das pentoses fosfato. o Fase não oxidativa: é a fase em que a ribulose sofre isomerização e se converte em ribose. Essa ribose pode então ser desviada para a via de síntese de nucleotídeos, ou continuar na fase não oxidativa da via das pentoses fosfato para formar intermediários da via glicolítica. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 123 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 123 ▪ As reações da fase não oxidativa são reversíveis (exceto a isomerização da ribulose) Isso significa que é possível formar compostos para essa via a partir de intermediários da via glicolítica (pois são os produtos finais desta fase). Isso também significa que a fase não oxidativa independe da fase oxidativa para formar ribose, pois basta desviar os intermediários da glicólise (glicose 6-fosfato, frutose 6-fosfato, gliceraldeído 3-fosfato) para a via das pentoses fosfato. Isso vai acontecer quando houver maior necessidade de produção de ribose do que de NADPH. Figura 61: Interação da via das pentoses fosfato com a via glicolítica/gliconeogênica. • Prevalência das fases: as fases da via das pentoses fosfato vão ocorrer em intensidades diferenciadas dependendo das necessidades da célula: o Necessidades equilibradas de NADPH e ribose: prevalência igualitária da fase oxidativa e fase não oxidativa. o Maior necessidade de ribose: prevalência da fase não oxidativa a partir dos intermediários da glicólise. Assim, ocorrem os processos da fase não oxidativa no sentido inverso, para formar ribose. o Maior necessidade de NADPH: prevalência da fase oxidativa. Os intermediários da glicólise, produzidos a partir da fase não oxidativa, em Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 124 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 124 vez de seguirem pela via glicolítica, seguem pela via gliconeogênica, formando novamente glicose para alimentar a fase oxidativa. o Maior necessidade de NADPH e ATP: prevalência da fase oxidativa em grande quantidade; e os intermediários da glicólise, produzidos a partir da fase não oxidativa, seguem pela via glicolítica, formando ATP. Detalhamento das etapas Figura 62: Esquema detalhando as etapas da fase oxidativa. • Etapa I (fase oxidativa): glicose 6-fosfato se converte em 6-fosfoglucono-δ-lactona o Ocorre redução de 1 NADP+ a 1 NADPH o Enzima envolvida: glicose 6-fosfato desidrogenase o Para que a fase não oxidativa se processe de maneira completa posteriormente, é preciso utilizar três moléculas de glicose 6-fosfato. Assim, considera-se que esta etapa produz 3 NADPH. • Etapa II (fase oxidativa): 6-fosfoglucono-δ-lactona se converte em 6- fosfogluconato o Enzima envolvida: lactonase • Etapa III (fase oxidativa): 6-fosfogluconato se converte em ribulose 5-fosfato o Ocorre redução de 1 NADP+ a 1 NADPH o Ocorre liberação de 1 CO2 o Enzima envolvida: 6-fosfogluconato desidrogenase o Devido à necessidade de se utilizar três moléculas de glicose 6-fosfato na etapa I, considera-se que esta etapa produz 3 NADPH e 3 CO2, e que são produzidas, ao final 3 moléculas de ribulose 5-fosfato. • Etapa IV (fase não oxidativa): uma das três moléculas de ribulose 5-fosfato se converte em ribose 5-fosfato. o Enzima envolvida: ribulose 5-fosfato isomerase Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 125 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 125 o Para que a fase não oxidativa ocorra de maneira completa, esta etapa IV precisa ocorrer apenas uma vez. • Etapa V (fase não oxidativa): uma das três moléculas de ribulose 5-fosfato se converte em xilulose 5-fosfato. o Enzima envolvida: ribulose 5-fosfato epimerase o Para que a fase não oxidativa ocorra de maneira completa, esta etapa V precisa ocorrer duas vezes. Assim, é gasta a última das três moléculas de ribulose 5-fosfato para se produzir mais uma molécula de xilulose 5-fosfato. ▪ O saldo da etapa IV e da etapa V, portanto, são uma molécula de ribose 5-fosfato e duas moléculas de xilulose 5-fosfato. • Etapa VI (fase não oxidativa): a ribose 5-fosfato e uma das duas moléculas de xilulose 5-fosfato reagem e formam sedoheptulose 7-fosfato e gliceraldeído 3- fosfato. o Enzima envolvida: transquetolase o O gliceraldeído 3-fosfato, apesar de ser intermediário da via glicolítica, não pode ser desviado para esta via, pois precisa reagir com a sedoheptulose na próxima etapa. • Etapa VII (fase não oxidativa): sedoheptulose 7-fosfato e gliceraldeído 3-fosfato reagem e formam frutose 6-fosfato e eritrose 4-fosfato. o Enzima envolvida: transaldolase o A frutose 6-fosfato já serve para ser desviada para a via glicolítica. • Etapa VIII (fase não oxidativa): eritrose 4-fosfato e uma das duas moléculas de xilulose 5-fosfato (advinda da etapa V) reagem e formam frutose 6-fosfato e gliceraldeído 3-fosfato. o Enzima envolvida: transquetolase o Tanto a frutose 6-fosfato quanto o gliceraldeído 3-fosfato podem então serem desviados para a via glicolítica. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 126 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 126 Figura 63: Visão geral das etapas da via das pentoses fosfato. Saldo da via das pentoses fosfato • Uma via das pentoses fosfato que ocorra de forma completa, isto é, tanto a fase oxidativa quanto a não oxidativa, resulta em: o Gasto de três moléculas de glicose 6-fosfato (C6) na etapa I. Portanto, há 18 carbonos de entrada. o Produção de duas moléculas frutose 6-fosfato (C6), uma na etapa VII e outra na etapa VIII; e um gliceraldeído 3-fosfato (C3) na etapa VIII. Portanto, há 15 carbonos de saída. o Produção de três moléculas de gás carbônico (C1) na etapa III. Portanto, há 3 carbonos de saída. o Produção de 6 NADPH. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 127 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 127 Formação de espécies reativas de oxigênio • As espécies reativas de oxigênio (ROS) são metabólitos resultantes das reações que ocorrem durante a cadeia transportadora de elétrons. Estas ROS são fortes agentes oxidantes, portanto, aumentam o nível oxidativo de uma célula. • A formação de ROS ocorre principalmente quando intermediários instáveis da cadeia transportadora de elétrons, em vez de agirem sobre seus aceptoresnormais, agem sobre outros compostos (como a flavina mononucleotídeo e a ubiquinona) gerando as ROS. o Os principais intermediários instáveis são a FMN* e a QH*. o Uma importante espécie reativa de oxigênio é o peróxido de hidrogênio (H2O2). Figura 64: Ação da glutationa para corrigir proteínas indevidamente oxidadas. • Paralelamente à geração de ROS, existe também o caso das proteínas oxidadas indevidamente. Proteínas nessa condição comumente possuem pontes dissulfeto entre suas cisteínas estabilizando sua estrutura terciária, o que em muitos casos as torna inativas. Para promover a redução dessas proteínas para que voltem a ficar ativas, o principal mecanismo é a atuação de um par de glutationas (GSH). o A glutationa reduzida consiste em três aminoácidos unidos entre si: glutamato, cisteína e glicina. Ela é capaz, então, de reduzir proteínas indevidamente oxidadas de volta a seu estado ativo. ▪ A glutationa também é capaz de reduzir as ROS, impedindo que causem danos ao organismo. o No processo de redução da proteína indevidamente oxidada, ocorre a formação de uma ponte dissulfeto entre os átomos de enxofre da cisteína Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 128 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 128 das duas glutationas reduzidas (GSH), que então se convertem em uma glutationa oxidada (GSSG). o Para que a glutationa oxidada desfaça sua ponte dissulfeto e volte a ser capaz de reduzir proteínas indevidamente oxidadas, ela precisa ser reduzida pelo NADPH. Este processo é catalisado pela enzima glutationa redutase. ▪ Portanto, tem-se aqui uma importância do NADPH: ao reduzir a glutationa oxidada, ele a torna capaz novamente de reativar proteínas indevidamente oxidadas. ▪ Uma vez tendo reduzido a glutationa oxidada, o NADPH é oxidado a NADP+. Este NADP+ precisa ser reduzido novamente, e isso ocorre na fase oxidativa da via das pentoses fosfato, quando há a conversão de glicose 6-fosfato em 6-fosfoglucono-δ lactona (catalisada pela glicose 6-fosfato desidrogenase). Figura 65: Reparos estruturais promovidos pela glutationa. • Danos provocados pelas ROS: em um caso de produção excessiva de ROS, ocorre: o A oxidação de componentes celulares como as proteínas, gerando muitas proteínas indevidamente oxidadas; Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 129 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 129 o O desvio de glutationas para reduzir as ROS, que então deixam de reduzir as proteínas indevidamente oxidadas, que, portanto, ficam mais concentradas e potencializam seus danos. • Deficiência de glicose 6-fosfato desidrogenase (favismo): a hemácia é a célula do organismo que está mais sujeita ao estresse oxidativo acentuado, uma vez que está constantemente em contato com o oxigênio e não possui núcleo para controlar a expressão gênica e poder combater o estresse oxidativo de maneira mais eficiente. Assim, ela é altamente dependente do aparelho proteico que já existe dentro dela, e também especialmente do NADPH produzido a partir da via das pentoses fosfato, para combater esse estresse oxidativo. Por isso, este processo depende muito da enzima glicose 6-fosfato desidrogenase, enzima que atua na geração NADPH. Pessoas com deficiência dessa enzima possuem, portanto, uma deficiência na via das pentoses-fosfato, que acentua o nível oxidativo das hemácias, que já é alto. Com isso, há correlações clínicas importantes: o Pessoas com deficiência da fase oxidativa via das pentoses fosfato possuem certa resistência ao protozoário malárico, pois a deficiência da produção de NADPH acentua os processos oxidativos da célula, criando um ambiente hostil ao parasita (tanto é que drogas antimaláricas como a primaquina possuem como princípio ativo a intensificação de processos oxidativos das células). o Preparados histológicos das hemácias de pessoas deficientes da fase oxidativa da via das pentoses fosfato permitem observar, nas hemácias, os corpos de Heinz, que são agregados de hemoglobina oxidada. o Pessoas com esta deficiência não podem ingerir alimentos que acentuam os processos oxidativos das células, como o feijão fava, sob o risco de causar crises hemolíticas. Por isso, essa condição também é conhecida como favismo. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 130 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 130 Metabolismo do glicogênio • A síntese e a degradação do glicogênio, embora sejam vias simples, possuem uma intrínseca regulação por sinais extracelulares. • O metabolismo do glicogênio ocorre nas fibras esqueléticas e nos hepatócitos, possuindo funções diferentes em cada uma: o Na fibra muscular, o glicogênio, quando degradado, gera glicose para uso do próprio músculo. o No hepatócito, o glicogênio, quando degradado, gera glicose para manter a glicemia, ou seja, para ser enviada ao sangue. • Os principais reguladores do metabolismo do glicogênio são a insulina (estimula síntese de glicogênio), a epinefrina (estimula degradação de glicogênio) e o glucagon (estimula degradação de glicogênio hepático). • A síntese de glicogênio, chamada de glicogênese, utiliza como substrato um intermediário da glicólise, a glicose 6-fosfato. Analogamente, a degradação de glicogênio, chamada de glicogenólise, gera como produto final moléculas de glicólise 6-fosfato. Estrutura do glicogênio • O glicogênio é um homopolímero de moléculas de glicose, portanto, é um homopolissacarídeo de glicose. Sua estrutura é muito ramificada, ou seja, ao longo da cadeia, há dois tipos de ligações entre moléculas de glicose (ligações glicosídicas): o Glicose ligada a apenas uma outra glicose, formando apenas ligações α-1,4, o Glicose ligada a duas outras glicoses, formando tanto uma ligação α-1,4 quanto uma α-1,6. ▪ A ligação α-1,6 representa o início de uma ramificação na molécula. Essas ramificações, no glicogênio, ocorrem a cada cerca de 8 moléculas de glicose. • Amido: o amido também é um homopolissacarídeo de glicose. Pode se apresentar como α-amilose, com uma estrutura linear, ou como amilopectina, com uma estrutura pouco ramificada, possuindo uma ramificação a cada cerca de 20 moléculas de glicose. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 131 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 131 • Celulose: a celulose também um homopolissacarídeo de glicose. Entretanto, a glicose presente na celulose é a β-glicose, e a glicose presente no amido e no glicogênio é a α-glicose. • Extremidade redutora do glicogênio: a glicose, isolada, é um açúcar redutor. Isso significa que seu carbono anomérico (carbono da estrutura da molécula da glicose que está associada à sua função química) é livre para atuar como agente redutor. o Na sacarose, por exemplo, o carbono anomérico da glicose está ligado a uma frutose. A frutose, por sua vez, não possui carbono anomérico redutor. Portanto, a sacarose não é um açúcar redutor. o No glicogênio, haverá sempre uma extremidade redutora, e todas as outras serão não-redutoras. Isso porque apenas a glicose inicial, a partir da qual será sintetizado o glicogênio, terá o carbono anomérico livre. Todas as moléculas de glicose ligadas a essa glicose inicial se ligarão justamente por seu carbono anomérico. ▪ Consequentemente, a quantidade de extremidades não-redutoras no glicogênio sempre será a quantidade de ramificações do glicogênio mais um. Degradação de glicogênio• Etapa I (fosforólise do glicogênio): o glicogênio perde um carbono e gera glicose 1-fosfato e glicogênion-1 o Enzima envolvida: glicogênio fosforilase ▪ Esta enzima, para remover uma glicose do glicogênio, adiciona a ela um fosfato. ▪ Esta enzima é do tipo processiva: quanto mais tempo acoplada à molécula de glicogênio, mais glicose 1-fosfato é gerada. ▪ A glicogênio fosforilase possui uma forma ativa (forma A) e uma forma inativa (forma B). ▪ O alvo desta enzima são as extremidades não-redutoras do glicogênio, pois elas são mais numerosas. ▪ Esta enzima promove a quebra de uma ligação α-1,4 a partir de uma extremidade não redutora do glicogênio. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 132 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 132 o A atuação da enzima glicogênio fosforilase é interrompida quando ela atinge a 4ª glicose mais próxima de um ponto de ramificação (ligação α- 1,6). Neste momento, ocorre a ação da transferase, que remove 3 dessas 4 glicoses próximas ao ponto de ramificação, e as transfere à extremidade não-redutora da ramificação mais próxima. ▪ A remoção da glicose que restou ainda ligada a essa ramificação mais próxima ocorrerá pelo rompimento da ligação α-1,6, liberando-a também na forma de glicose 1-fosfato. A enzima envolvida nesse caso é a α-1,6 glicosidase. ❖ Assim, tanto a transferase quanto a α-1,6 glicosidase são domínios de uma única enzima chamada enzimas desramificadora, na qual atuam juntas para remover uma ramificação do glicogênio. • Etapa II: a glicose 1-fosfato é convertida a glicose 6-fosfato. o Enzima envolvida: fosfoglicomutase Glicogênio fosforilase • A glicogênio fosforilase possui uma forma ativa (forma A) e uma forma inativa (forma B). Na forma inativa, seus sítios catalíticos não são muito abertos. Para ser ativada, a glicogênio fosforilase precisa ser fosforilada enzima glicogênio fosforilase quinase. • A glicogênio fosforilase quinase também precisa ser ativada, primeiro por PKA (ficando parcialmente ativa) e depois por íons Ca2+ (ficando totalmente ativas). • No músculo, os íons Ca2+ são disponibilizados pela contração muscular. No fígado, eles são disponibilizados pela via da fosfolipase C. • Ativação pela PKA (no fígado e no músculo): o Glucagon (fígado) ou epinefrina (fígado e músculo) do meio externo se liga a seu receptor 7TM; o Receptor 7TM ativam a proteína G, convertendo seu GDP em GTP; o Proteína G ativam a adenilato ciclase; ▪ A proteína G possui atividade GTPásica intrínseca, o que significa que, após ativar a adenilato ciclase, ela volta a converter seu GTP em GDP. o Adenilato ciclase converte ATP em AMP cíclico; Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 133 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 133 o AMP cíclico ativa a PKA; ▪ O AMP cíclico é desfosforilado pela fosfodiesterase. o PKA fosforila a glicogênio fosforilase quinase, que então fica parcialmente ativa. ▪ A glicogênio fosforilase quinase (e também a própria glicogênio fosforilase ativa) são inibidas pela PP1. A PP1 é estimulada pela insulina. Por isso, a insulina inibe a degradação de glicogênio. • Ativação pelos íons Ca2+ na via da fosfolipase C (no fígado): o Hormônio se liga a receptor; o Receptor ativa proteína G; o Proteína G ativa PC; o PC converte PIP2 em diacilglicerol e IP3; o IP3 se liga ao retículo endoplasmático, fazendo com que os íons Ca2+ por ele armazenados sejam liberados no citoplasma; o Os íons Ca2+ se ligam à glicogênio fosforilase quinase parcialmente ativa, ativando-a definitivamente. Síntese de glicogênio • Aumentar uma molécula de glicogênio pré-existente: o Primeiramente, uma glicose 6-fosfato é convertida a glicose 1-fosfato pela fosfoglicomutase. o Etapa I: glicose 1-fosfato reage com UTP e forma UDP-glicose e pirofosfato. ▪ Enzima envolvida: UDP glicose pirofosforilase ▪ Nesta etapa, a glicose 1-fosfato é adicionada à UTP. Para que isso aconteça, é preciso remover dois fosfatos da UTP. Por isso, nesta etapa, há gasto de energia (pois há quebra de ligação entre fosfatos, da mesma forma de quando o ATP é convertido a ADP). o Etapa II: UDP-glicose é incorporada a um glicogênio pré-existente, aumentando sua estrutura em mais um resíduo de glicose, e liberando UDP. ▪ Enzima envolvida: glicogênio sintase ▪ O carbono redutor da glicose se liga a uma extremidade não- redutora do glicogênio. Dessa forma, a extremidade continua sendo não-redutora. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 134 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 134 ▪ A glicogênio sintase também possui uma tanto forma ativa quanto uma inativa. Como sua atuação é a oposta da enzima glicogênio fosforilase, a PKA (que contribui para a ativação da enzima glicogênio fosforilase) é capaz de inativar a glicogênio sintase; e a PP1 (que inativa a glicogênio fosforilase) ativa a glicogênio sintase. ❖ A PKA (que é ativada por glucagon e epinefrina) é também capaz de fosforilar a PP1 (tornando-a parcialmente inativa) e de fosforilar a I-1 (tornando-a ativa). A I-1, por sua vez, torna a PP1 totalmente inativa. • Síntese de uma nova molécula de glicogênio: a glicogênio sintase não consegue iniciar uma cadeia de glicogênio “de novo”. Ela necessita de um iniciador, ou seja, de um glicogênio pré-existente. A responsável por sintetizar uma nova molécula de glicogênio é a proteína glicogenina. o Etapa I: transferência da glicose da UDP-glicose para o grupo hidroxila da tirosina da glicogenina ▪ Enzima envolvida: glicosil-transferase intrínseca da glicogenina o Etapa II: adição sequencial de mais 7 resíduos de glicose, cada um derivado de uma UDP-glicose ▪ Enzima envolvida: glicogênio sintase Efeito da insulina sobre o metabolismo do glicogênio • A insulina se liga a seu receptor de membrana; • O receptor de insulina ativa a IRS-1; • O IRS-1 ativa a PI3K; • A PI3K fosforila o PIP2, convertendo-a em PIP3; • O PIP3 recruta PDK e PKB para a membrana. A PDK, com isso, fica ativa; • A PDK ativa é capaz de ativar a PKB; • A PKB é capaz de inativar a glicogênio sintase quinase. Inativa, a glicogênio sintase quinase não é mais capaz de inativar a glicogênio sintase. Assim, a glicogênio sintase fica ativa; • A PKB é capaz de ativar a PP1, ativando a glicogênio sintase; • No músculo e no tecido adiposo, a PKB promove a migração de vesículas com transportadores GLUT4 para a membrana; • A PKB também promove expressão gênica. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 135 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 135 Regulação do metabolismo do glicogênio No fígado • Degradação do glicogênio: os hepatócitos são capazes de degradar o glicogênio em glicose para manter o nível glicêmico. o Ativação: glucagon e epinefrina (através de cAMP e Ca2+). o Inibição: insulina (através da PP1). Com a degradação de glicogênio inibida, a síntese de glicogênio fica ativa. ▪ A insulina, entretanto, não interfere na captação de glicose pelo hepatócito, visto que seu transportador de glicose, a GLUT2, é independente de insulina. No músculo • Degradação do glicogênio: as fibras musculares são capazes de degradar o glicogênio em glicose para manter a atividade muscular. o Ativação: epinefrina (através de cAMP). o Inativação: insulina (através de PP1). Com a degradação de glicogênio inibida, a síntese de glicogênio fica ativa. Intensificandoesse processo, a insulina, nos músculos, é capaz de estimular a captação de glicose, uma vez que seu transportador, a GLUT4, é dependente de insulina. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 136 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 136 LIPÍDIOS Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 137 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 137 Degradação de lipídios • Lipídios no corpo humano: o Lipídios de reserva: são lipídios capazes de participar do metabolismo energético de maneira secundária, isto é, apenas quando não há carboidratos, por isso, são considerados reserva. Os lipídios de reserva do corpo humano são os triacilgliceróis, compostos formados por um glicerol ligado a três ácidos graxos. o Lipídios de membrana: são lipídios estruturais, isto é, lipídios que participam da constituição da membrana plasmática. Por isso, sua característica marcante é seu caráter anfótero (possui partes polar e apolar). ▪ Fosfolipídios: lipídios formados por ácidos graxos e fosfato. ❖ Glicerofosfolipídios: glicerol ligado a dois ácidos graxos e um fosfato ligado a álcool. ❖ Esfingolipídios: esfingosina ligada a um ácido graxo e um fosfato ligado a colina. ▪ Glicolipídios: lipídios formados por ácidos graxos e açúcares. O principal glicolipídio é o esfingolipídio, formado por esfingosina ligada a um ácido graxo e um monossacarídeo/oligossacarídeo. Estes compostos são, por exemplos, os responsáveis pela base do sistema ABO sanguíneo. Triacilglicerol • Triacilglicerol (ou triglicerol, ou triacilglicerídeo, ou triglicerídeo, ou triglicéride, abreviado como TAG): lipídio formado por uma molécula de glicerol ligada a três moléculas de ácidos graxos. • Digestão de TAG: o Sais biliares emulsificam gorduras ingeridas e transportadas pelo sistema digestivo, formando micelas. o As micelas são pequenos agregados de TAG e outros lipídios, que são degradados por lipases intestinais e pancreáticas, gerando ácidos graxos e outros produtos finais. No caso do TAG, é produzido também o monoacilglicerol. o Os ácidos graxos e outros produtos finais são absorvidos pela mucosa intestinal e convertidos novamente em triacilgliceróis. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 138 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 138 • Incorporação e transporte de TAG: o No enterócito, existem as apolipoproteínas, proteínas dispersas no citoplasma que são capazes de se ligarem aos TAG (e a ésteres de colesterol), formando quilomícrons. Os quilomícrons são agregados de lipídios encerrados no interior de uma membrana lipídica (de camada única) com proteínas agora chamadas de lipoproteínas, que, a depender do tipo mais prevalente, podem conjuntamente possuir diferentes densidades. o Os quilomícrons se movem para o sistema linfático e então são conduzidos para a corrente sanguínea, para serem levados aos tecidos. Os principais armazenadores de TAG são os adipócitos e os hepatócitos. Outras células como as fibras musculares apenas utilizam TAG como fonte energética. o Nos tecidos, o endotélio capilar que os nutre expressa lipases de lipoproteína, que libera ácidos graxos e glicerol que estavam dentro do quilomícrons. • Regulação da degradação de TAG: o principal regulador é o glucagon, que estimula a degradação de TAG em células que os armazenam. Assim, este é o primeiro ponto de regulação do metabolismo energético de lipídios. o O glucagon se liga a um receptor 7TM na membrana celular; o O receptor ativa uma proteína G, convertendo seu GDP em GTP; o A proteína G ativa a adenilato ciclase; o A adenilato ciclase converte ATP em cAMP; o O cAMP ativa PKA; o A PKA fosforila uma triacilglicerol lipase, tornando-a ativa; o A triacilglicerol lipase catalisa a reação de hidrólise que converte o triacilglicerol em ácidos graxos e glicerol. ▪ Envio de TAG degradado: uma vez degradados os TAG em ácidos graxos (em células como adipócitos e hepatócitos), eles passam para a corrente sanguíneo, sendo transportados por albumina até os tecidos capazes de utilizá-lo. • Metabolismo de glicerol: o glicerol, que permanece no citoplasma das células onde o TAG foi degradado, é capaz de ser enviado para ser degradado nos hepatócitos, pois estes possuem a glicerol quinase. A degradação do glicerol gera intermediários da glicólise (para gerar piruvato) ou da gliconeogênese (para gerar glicose). Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 139 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 139 • Metabolismo de ácidos graxos: os ácidos graxos, nos diferentes tecidos capazes de metabolizá-los, são oxidados a acetil- CoA, que entra no ciclo de Krebs para geração de energia. Metabolismo energético de ácidos graxos • Ativação de ácidos graxos: a fase de ativação é uma fase do metabolismo energético dos ácidos graxos necessária para o envio deles para a mitocôndria, onde será gerada a energia. Portanto, é o segundo ponto de regulação do metabolismo energético de ácidos graxos. o Etapa I: conversão de ácidos graxos em acil-adenilato. ▪ Há gasto de um 1 ATP, que gera AMP ligado ao acil-adenilato e pirofosfato inorgânico livre. o Etapa II: conversão de acil-adenilato em acil-CoA. ▪ Nesta etapa, há a troca do AMP ligado ao acil-adenilato por CoA, formando acil-CoA o Etapa III: reação de carnitina e acil-CoA, gerando CoA e acil-carnitina. ▪ Enzima envolvida: carnitina aciltransferase I ▪ Essa reação permite que haja finalmente o transporte (da acil- carnitina) para dentro da matriz mitocondrial, por meio de uma translocase. o Etapa IV: reação da acil-carnitina com CoA, restabelecendo a carnitina e a acil-CoA. ▪ Enzima envolvida: carnitina aciltransferase II ▪ A carnitina retorna ao citoplasma pela mesma translocase que a colocou na matriz mitocondrial, onde pode permitir o transporte de mais um acil-CoA. • β-oxidação de ácidos graxos: etapa que gera acetil-CoA para entrar no ciclo de Krebs, e também para reduzir coenzimas. o β-oxidação de ácidos graxos de número par de carbonos: cada ciclo de beta-oxidação gera 1 acetil-CoA e 1 acil-CoA com 2 carbonos a menos. Assim, o último acil-CoA gerado terá 2 carbonos – e será, na verdade, um acetil-CoA. o β-oxidação de ácidos graxos de número ímpar de carbonos: cada ciclo de beta-oxidação também gera 1 acetil-CoA e 1 acil-CoA com 2 carbonos a Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 140 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 140 menos. Entretanto, o último acil-CoA gerado terá 3 carbonos (propionil- CoA), que após sucessivas reações formará succinil-CoA. ▪ Formando succinil-CoA, existe então a única possibilidade de um ácido graxo gerar um intermediário do ciclo de Krebs, o que por sua vez pode formar glicose na gliconeogênese. Detalhamento das etapas da beta-oxidação de ácidos graxos de número par de carbonos • Etapa I: acil-CoA (com quantidade de carbonos igual a n) é convertido em trans- ∆2-enoil-CoA. o Há redução de 1 FAD a 1 FADH2 o Enzima envolvida: acil-CoA desidrogenase o A trans-∆2-enoil-CoA é uma gordura do tipo trans, porém distinta da gordura trans que é ingerida na dieta (que é capaz de aumentar os níveis de LDL) o Esta etapa é irreversível • Etapa II: trans-∆2-enoil-CoA é convertida em L-hidroxiacil-CoA. o Nesta etapa há a incorporação de 1 H2O o Enzima envolvida: enoil-CoAhidratase o Esta etapa é reversível. • Etapa III: L-hidroxiacil-CoA é convertida em β-cetoacil-CoA o Há a redução de 1 NAD+ a 1 NADH o Enzima envolvida: β-hidroxiacil-CoA desidrogenase o Esta etapa é irreversível • Etapa IV: β-cetoacil-CoA reage com H-SCoa e forma acil-CoA (com quantidade de carbonos igual a n-2) e acetil-CoA. o Enzima envolvida: tiolase o Esta etapa é irreversível o O acil-CoA (n-2) demonstra que, a cada ciclo de degradação de ácidos graxos, há a remoção de 2 carbonos da acil-CoA (n), que estão compondo a acetil-CoA. Assim, no último ciclo, haverá um acil de 4 carbonos produzindo acetil-CoA e um acil de 2 carbonos – mas que já está ligado a uma CoA, ou seja, ele é uma acetil-CoA. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 141 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 141 ▪ Assim, na degradação de ácidos graxos de número par de carbonos, há a produção de um número de acetil-CoA igual à metade do número de carbonos do ácido graxo. Saldo da beta-oxidação de ácidos graxos • β-oxidação de palmitoil-CoA: o palmitoil-CoA possui 16 carbonos, portanto, poderão ocorrer 7 ciclos de β-oxidação. o Na ativação do ácido graxo: ▪ -2 ATP o Diretamente após a beta-oxidação: ▪ 7 NADH ▪ 7 FADH2 ▪ 8 acetil-CoA o No ciclo de Krebs: ▪ 3 NADH (x8 acetil-CoA) = 24 NADH ▪ 1 FADH2 (x8 acetil-CoA) = 8 FADH2 ▪ 1 ATP (x8 acetil-CoA) = 8 ATP o Na cadeia transportadora de elétrons: ▪ 7 NADH (beta-oxidação) x2,5 = 17,5 ATP ▪ 7 FADH2 (beta-oxidação) x1,5 = 10,5 ATP ▪ 24 NADH (Krebs) x2,5 = 60 ATP ▪ 12 FADH2 (Krebs) x1,5 = 12 ATP ▪ 8 ATP (Krebs) ▪ -2 ATP (ativação) ❖ Total = 106 ATP. Considerando-se a quantidade de carbonos utilizados, tem-se a proporção de 6,625 ATP para cada carbono. Assim, de qualquer maneira, a degradação de ácidos graxo é muito mais energética do que a da glicose (5 a 5,33 ATP para cada carbono). Formação de corpos cetônicos • A formação de corpos cetônicos ocorre no fígado, em condições em que há baixa glicemia (ou diabetes descompensada), excesso de degradação de lipídios e excesso de gliconeogênese (cujo consumo de oxalacetato gera prejuízo do ciclo de Krebs). Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 142 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 142 • A formação de corpos cetônicos se dá da seguinte forma: o Etapa I: duas moléculas de acetil-CoA se conjugam em um acetoacetil- CoA. o Etapa II: o acetoacetil-CoA é convertido em HMG-CoA. o Etapa III: o HMG-CoA é convertido em acetoacetato. • O acetoacetato é um corpo cetônico, e pode gerar outros dois: acetona, que é volatizada pelo corpo, e beta-hidroxibutirato. o Cetoacidose diabética: em pessoas diabéticas, a formação de corpos cetônicos ocorre de maneira excessiva, uma vez que elas possuem prejuízo no metabolismo energético da glicose, tendo que recorrer ao metabolismo de lipídios para obter energia. No sangue, os corpos cetônicos causam uma condição conhecida como cetoacidose diabética. • Por outro lado, os corpos cetônicos acetoacetato e beta-hidroxibutirato podem ser reutilizados em certos tecidos, como os músculos esqueléticos, córtex renal e o coração. o O beta-hidroxibutirato é reconvertido a acetoacetato. o O acetoacetato é reconvertido em acetil-CoA. • Os neurônios, em condições de jejum extremamente prolongado, passam a se adaptar e ser capaz de utilizar corpos cetônicos como fonte de energia. Isso ocorre porque: o Os corpos cetônicos, em condições de jejum prolongado, são produzidos em alta quantidade; o Em jejum prolongado, o piruvato (molécula precursora da gliconeogênese) é sintetizado a partir da degradação de proteínas musculares. Nos músculos, os aminoácidos são degradados a alanina, que é capaz de formar piruvato, que servirá para a gliconeogênese, disponibilizando glicose para o corpo nessa condição de jejum. Com os neurônios utilizando corpos cetônicos, há uma mitigação nessa demanda de glicose, evitando a degradação intensa dos músculos (sarcopenia), promovendo uma maior sobrevida do indivíduo em jejum prolongado. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 143 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 143 Metabolismo do etanol • O metabolismo de etanol está intimamente relacionado com a síntese de lipídios. • O etanol é conduzido pela corrente sanguínea até o fígado. No hepatócito, ele precisará ser metabolizado (degradado), pois é uma substância tóxica ao organismo. • Etapa I: etanol é convertido em acetaldeído. o Há a redução de 1 NAD+ a 1 NADH o Enzima envolvida: álcool desidrogenase o Esta etapa é reversível e ocorre no citoplasma. • Etapa II: o acetaldeído é convertido em acetato. o Há a redução de 1 NAD+ a 1 NADH o Enzima envolvida: acetaldeído desidrogenase o Esta etapa é reversível e ocorre na mitocôndria o O acetato pode ser então convertido em acetil-CoA • Portanto, o etanol pode fornecer energia ao corpo – desde que consumido juntamente com glicose. A baixa glicemia levaria a uma maior degradação de lipídios, gerando ainda mais acetil-CoA. o Adicionalmente, o excesso de degradação de etanol gera um excesso de NADH, o que passa a inibir a glicólise. o O excesso de NADH no citoplasma também provoca o desvio do piruvato (formado a partir de aminoácidos, em uma condição de baixa glicemia), que passa a formar lactato em vez de glicose. o Coma alcóolico: déficit de glicose para o cérebro após consumo exagerado de etanol sem consumo de glicose. É tratado imediatamente com injeção endovenosa de glicose. o Já o excesso de NADH na mitocôndria: ▪ Inibe o ciclo de Krebs, estimulando a produção de corpos cetônicos; ▪ Inibe a degradação de lipídios (β-oxidação), gerando esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado). ▪ Sobrecarrega a cadeia transportador de elétrons, lentificando a transferência de elétrons e aumentando a formação de espécies reativas de oxigênio. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 144 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 144 Síntese de lipídios • A síntese de lipídeos, nos animais, ocorre em três porções celulares: citosol, mitocôndria e retículo endoplasmático. Para que ocorra, essa síntese é altamente dependente de NADPH, advindo da via das pentoses fosfato (que ocorre no citosol). • O principal fator estimulante da síntese de lipídeos é a alta glicemia. Nessas condições, a glicólise e o ciclo de Krebs passam a ocorrer em escala maior, produzindo uma grande quantidade de ATP e NADH. Ao longo do tempo, esses ATP e NADH em excesso passam a inibir tanto a glicólise quanto o ciclo de Krebs. o A síntese de lipídeos será essencial para gastar este ATP produzido em excesso e permitir a continuidade da glicólise e do ciclo de Krebs. • Em uma inibição do ciclo de Krebs, o principal intermediário do ciclo que sofrerá acúmulo será o citrato. o O citrato é um regulador alostérico do ciclo de Krebs, inibindo-o. Ao mesmo tempo, ele estimula a via das pentoses fosfato, em que a glicose é convertida em ribulose, processo este que gera NADPH. o O citrato acumulado sai para o citoplasma, onde é convertido em oxalacetato. O oxalacetato é convertido em malato. O malato é convertido em piruvato, gerando NADPH. o O citrato também forma acetil-CoA, que, com os NADPH produzidos nos dois processos acima, poderá ser utilizado para sintetizar lipídeos. • Para sintetizar lipídeos, é essencialuma proteína chamada ACP (proteína carreadora de acila), uma enzima sintase que possui CoA em sua estrutura. • Comparativamente: o Na síntese de ácidos graxos há condensação, redução com gasto de NADPH e desidratação. o Na degradação de ácidos graxos, ocorre cisão da cadeia e oxidação com gasto de NAD+. Detalhamento das etapas da síntese de ácidos graxos • Etapa I (primeira reação): um acetil-CoA (C2) é convertido em malonil-CoA (C2) o É uma reação de carboxilação, que gasta 1 ATP e 1 bicarbonato. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 145 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 145 o Enzima envolvida: acetil-CoA carboxilase. Esta enzima é estimulada pelo citrato. o Reação irreversível • Etapa I (segunda reação): outro acetil-CoA se liga à ACP, formando acetil-ACP o Neste processo, o acetil desliga da CoA e então se liga a um resíduo de cisteína da ACP. • Etapa II: o malonil-CoA (C2) se liga à acetil-ACP, formando acetil-malonil-ACP (o acetil e o malonil ficam ligados à ACP em locais diferentes) o Enzima envolvida: sintase de ácidos graxos • Etapa III: o acetil desliga da ACP e se liga ao malonil ligado ao ACP. o Com isso, o ACP (agora com uma cadeia de 4 carbonos ligada) fica com um sítio disponível para uma nova adição de malonil, repetindo o ciclo para que mais 2 carbonos sejam adicionados. o No momento em que são adicionados 16 carbonos, formando o ácido palmítico, o processo de síntese de ácidos graxos no citoplasma é finalizado, com o ácido palmítico sendo enviado à mitocôndria para o alongamento, e ao retículo endoplasmático para o alongamento e adição de insaturações. Saldo da síntese de ácido palmítico • Gasto: o 8 acetil-CoA ▪ 1 para se ligar ao ACP ▪ 7 para se converterem em malonil-CoA o 14 NADPH o 7 ATP Regulação da síntese de ácidos graxos • Insulina: estimula a conversão de citrato em acetil-CoA. • Glucagon e epinefrina: inibem a conversão de acetil-CoA em malonil-CoA. • Citrato: estimula a conversão de acetil-CoA em malonil-CoA • Palmitoil-CoA: inibe a conversão de acetil-CoA em malonil-CoA Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 146 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 146 Modificações do ácido palmítico • Uma vez sintetizado o ácido palmítico, ele pode ser enviado à mitocôndria e ao retículo endoplasmático para sofrer alongamento e posicionamento de insaturações. o Os mamíferos são capazes de posicionar insaturações apenas nas posições ∆4, ∆5, ∆6 e ∆9. Ácidos graxos com insaturações em outras posições, e que são essenciais para o metabolismo, devem ser obtidos da dieta. • Representação: os ácidos graxos são representados como (quantidade de carbonos) : (quantidade de insaturações) (posição da insaturação em relação à extremidade função orgânica) (posição da insaturação em relação à extremidade oposta da função orgânica) • Assim, tem-se que: o O ácido palmítico, produzido pelo corpo, pode ser insaturado em ácido palmitoleico. o O ácido palmítico pode ser alongado em ácido esteárico e depois insaturado em ácido oleico. o O ácido linoleico, um omega-6 obtido da dieta, reage com o ácido oleico para formar ácido araquidônico, que é importante para a cascata de processos inflamatórios. ▪ O ácido araquidônico pode ainda ser obtido a partir de fosfolipídios e diacilgliceróis. ▪ O ácido araquidônico pode ser convertido em leucotrienos e prostaglandinas. Para se converter nestes produtos, o ácido araquidônico precisa ser expelido da membrana plasmática (onde se localiza) por fosfolipases, e depois sofrer a ação da enzima COX. ▪ Medicamentos anti-inflamatórios, assim, podem atuar inibindo as fosfolipases (corticosteroides) ou a COX (aspirina e indometacina). o O ácido α-linolênico, um omega-3 obtido da dieta, reage com o ácido linoleico para formar ácido eicosapentaenoico, que é importante para a formação da bainha de mielina dos neurônios. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 147 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 147 Síntese de triacilgliceróis • No fígado e no tecido adiposo, tem-se que, na via glicolítica, a glicose é convertida em diidroxiacetona fosfato, e também em glicerol 3-fosfato. No fígado, também o glicerol pode ser convertido pela glicerol-quinase em glicerol 3-fosfato. • Etapa I: o glicerol 3-fosfato é convertido em monoacilglicerol 3-fosfato • Etapa II: o monoacilglicerol 3-fosfato é convertido em diacilglicerol 3-fosfato o Neste momento, o diacilglicerol 3-fosfato pode ser desviado para formar fosfolipídios. • Etapa III: o diacilglicerol 3-fosfato é convertido em diacilglicerol o O diacilglicerol também pode ser desviado para formar fosfolipídios. • Etapa IV: o diacilglicerol é convertido em triacilglicerol Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 148 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 148 Metabolismo do colesterol • Estrutura do quilomícron: o Monocamada fosfolipídica; o Apolipoproteínas na monocamada, que podem originar diferentes lipoproteínas; o Contidos no interior da monocamada: triacilgliceróis e ésteres de colesterol; o Colesterol distribuído pela monocamada. • Tipos: o Quilomícron: alto volume, pequena massa, baixa densidade, com maior proporção de triacilglicerol. Importantes para o transporte de TAG. o VLDL: molécula de menor densidade, com mais triacilglicerol do que as outras lipoproteínas. Importante para a entrega de triacilglicerol. o LDL: molécula com maior proporção de colesterol. Importante para a entrega de colesterol. o HDL: molécula com menor proporção de colesterol, e com o menor diâmetro. É a molécula com maior densidade. Importante para a remoção de colesterol dos tecidos de volta para o fígado. • Apolipoproteínas: o ApoA-I: presente no HDL. Responsável por ativar um transportador de membrana. o ApoC-II: presente em quilomícrons, VLDL e HDL, responsável por ativar lipoproteína lipase. o ApoC-III: presente em quilomícrons, VLDL e HDL, responsável por inibir lipoproteína lipase. • O colesterol é sintetizado no fígado e utilizado principalmente pelas glândulas sexuais para a produção de hormônios. o A dieta (consumo) de colesterol é muito pouco significativa para influenciar os níveis corporais de colesterol. o Assim, a produção e uso de colesterol é praticamente regulada por completo pelo corpo. A eliminação de colesterol só vai acontecer por não reabsorção de sais biliares (feitos a partir de colesterol) no intestino e no rim. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 149 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 149 • Esquematização: o Das gorduras digeridas e absorvidas no intestino, são liberados quilomícrons para os capilares, onde podem ser levados para outros tecidos; o Da síntese no fígado, o VLDL é liberado para os capilares, onde podem ser levados para outros tecidos; o Dos capilares, resquícios de quilomícrons são levados para o fígado; o Dos capilares, resquícios de VLDL podem ser levados para o fígado ou serem convertidos em LDL (no caso de entregarem mais TAG do que colesterol); o O LDL pode ser levado para o fígado ou para outros tecidos; o Precursores de HDL, produzidos pelo fígado e pelo intestino, são levados até outros tecidos, de onde retiram lipídios e fazem o transporte reverso de volta para o fígado, agora como HDL.• Doença coronariana: o aumento na concentração de colesterol plasmático está diretamente associado a um aumento da taxa de mortalidade por doença coronariana. Isso ocorre porque a deposição de colesterol sobre lesões inflamatórias dos vasos leva à aterosclerose. o Indivíduos saudáveis praticamente não têm alteração de LDL plasmático por maior que seja seu consumo de colesterol. • Efeitos das gorduras da deita no metabolismo do colesterol: o Efeito das gorduras trans: o consumo de gorduras trans está associada ao aumento na concentração de LDL e à diminuição da concentração de HDL. Com isso, há maior risco de ocorrência de doença coronariana. o Ácidos graxos saturados aumentam o LDL. Aumentam o risco de doença coronariana, câncer de próstata e de colo. o Ácidos graxos monoinsaturados: diminuem LDL e HDL. Diminuem o risco de doença coronariana. o Ácidos graxos poli-insaturados omega-6: diminui LDL e HDL. Diminuem o risco de doença coronariana o Ácidos graxos poli-insaturados omega-3: pouco efeito sobre LDL e HDL. Diminuem o risco de doença coronariana e o risco de morte cardíaca súbita. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 150 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 150 Síntese de colesterol • Todos os 27 carbonos do colesterol vêm da acetil-CoA. • As etapas essenciais da conversão de acetil-CoA em colesterol são: o Conversão de acetil-CoA em acetoacetil-CoA o Conversão de acetoacetil-CoA em HMG-CoA o Conversão de HMG-CoA em mevalonato: ▪ Esta etapa gasta 2 NADPH ▪ Enzima envolvida: HMG-CoA redutase. É uma enzima intensamente regulada, pois catalisa uma etapa muito importante da síntese de colesterol. Por exemplo, sofre inibição da sinvastatina. ▪ Insulina: ativa a HMG-CoA redutase ▪ Glucagon: inibe a HMG-CoA redutase ▪ Metabólito do colesterol intracelular: inibe a HMG-CoA redutase e mediadores da conversão de LDL-colesterol em colesterol intracelular ▪ Colesterol intracelular: origina o metabólito e estimula a síntese de si próprio em ésteres de colesterol ▪ O colesterol e o mevalonato também inibem a síntese e a tradução do mRNA da HMG-CoA redutase o Conversão de mevalonato em isopentenil pirofosfato ▪ Esta etapa gasta 3 ATP o Conversão de isopentenil pirofosfato em esqualeno ▪ Esta etapa gasta NADPH o Conversão de esqualeno em colesterol ▪ Esta etapa gasta NADPH e O2 • O colesterol pode ser destinado à formação de membrana plasmática, lipoproteínas, sais biliares, hormônios esteroides e vitamina D o Hormônios esteroides formados a partir do colesterol: cortisol, estradiol e testosterona • Regulação da HMG-CoA redutase: o A HMG-CoA fica ativa quando é desfosforilada. Uma vez ativa, ela é capaz de converter HMG-CoA em mevalonato. o A HMG-CoA fica inativa quando é fosforilada. Por isso, o AMP inibe a enzima, e o glucagon estimula o AMP. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 151 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 151 o Existe um fator de transcrição SREBP (produzido pelo complexo de Golgi) responsável por ativar a transcrição de uma região SRE do DNA, que no final será traduzido em HMG-CoA redutase. o O mevalonato sintetizado por essa enzima é convertido posteriormente em colesterol. Este colesterol no retículo endoplasmático é capaz de inibir a SREBP-SCAP. Essa proteína, quando sofre modificações no complexo de Golgi, vira a SREBP. Assim, com o colesterol inibindo a SREBP-SCAP, a SREBP também é inibida. Com isso, a síntese de HMG-CoA é inibida. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 152 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 152 PROTEÍNAS Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 153 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 153 Metabolismo de aminoácidos • Os aminoácidos metabolizados no corpo provêm de duas fontes: de proteínas ingeridas na dieta, ou da degradação de proteínas endógenas. São as principais fontes de átomos de nitrogênio para os compostos que os possuem em sua estrutura. o Aproximadamente 400g de proteínas endógenas são degradadas por dia, a partir da sua meia-vida, que expressa a quantidade de tempo que ela fica atuante. A meia-vida de uma proteína está relacionada à sua necessidade para o organismo. ▪ Por exemplo, a meia-vida da hemoglobina é de 120 dias, a mesma da hemácia que a contém. Isso é essencial para a função da hemácia, que é incapaz de produzir mais hemoglobina. o As proteínas podem ser marcadas para serem degradadas, isto é, sua degradação é sinalizada através de um mecanismo conhecido como ubiquitinação. A ubiquitina marca irreversivelmente uma proteína-alvo para ser degradada. Essa proteína é então conduzida até o proteassomo, onde é degradada em fragmentos peptídicos. A ubiquitina, por outro lado, não é degradada. o Por outro lado, 300g de proteínas endógenas são sintetizadas por dia a partir de aminoácidos. Esses aminoácidos podem ter sido obtidos da degradação de proteínas endógenas (aminoácidos naturais) ou da digestão dos 100g de proteínas da dieta por dia (aminoácidos essenciais). o As proteínas da dieta são digeridas por proteases (enzimas proteolíticas) no estômago e no intestino delgado, produzindo ou aminoácidos livres diretamente ou oligopeptídeos, que precisam ser ainda digeridos por aminopeptidases em aminoácidos livres diretamente e tripeptídeos/dipeptídeos, que finalmente são convertidos em aminoácidos livres por peptidases. Os aminoácidos livres são então conduzidos até o sangue. • Basicamente, os destinos dos aminoácidos no corpo são: o Serem mantidos intactos para a biossíntese de novas proteínas ou compostos nitrogenados; o Serem metabolizados, produzindo cadeias carbônicas e grupos amino. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 154 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 154 ▪ As cadeias carbônicas podem ser utilizadas para síntese de glicose, ácidos graxos ou para a obtenção de energia (acetil-CoA e corpos cetônicos) ▪ Os grupos amino são destinados ao ciclo da ureia para permitirem a excreção de nitrogênio. • Metabolização de aminoácidos: neste processo, o aminoácido tem removido seu grupamento amino, ficando apenas uma cadeia (ou esqueleto) carbônico, que será um alfa-cetoácido. o O alfa-cetoácido pode entrar no ciclo de Krebs. o O grupamento amino removido, agora um íon amônio, pode entrar no ciclo da ureia. Remoção do grupo amino dos aminoácidos • No fígado: a remoção do grupo amino dos aminoácidos é uma reação de transaminação, que envolve o deslocamento do grupo amino de um aminoácido para um alfa-cetoglutarato. Essa reação é catalisada por uma aminotransferase. O alfa-cetoglutarato com o grupo amino vira glutamato, que entra na mitocôndria. O aminoácido sem o grupo amino vira um alfa-cetoácido. o O glutamato (que carrega o grupo amino que estava no aminoácido) consegue fazer transaminação, doando o grupo amino para o oxalacetato. O oxalacetato vira então aspartato, e o glutamato volta a ser alfa- cetoglutarato. O aspartato é necessário para o ciclo da ureia. o Alternativamente, o glutamato pode ser oxidado, produzindo NADPH/NADH, liberando o seu grupo amino na forma de íon amônio. O glutamato assim volta a ser alfa-cetoglutarato. O íon amônio, tóxico para o organismo (embora em pequenas quantidades ajude o tamponamento do sangue), precisa ser eliminado soba forma de ureia. • Nos músculos: a transaminação dos aminoácidos se processa da mesma forma, entretanto, nesses órgãos, o glutamato resultante irá fazer uma transaminação doando o grupo amino para o piruvato (advindo da glicólise), convertendo-o em alanina. O glutamato volta a ser alfa-cetoglutarato. Essa reação é catalisada pela alanina aminotransferase. A alanina pode então ser transportada para o sangue até o fígado. A preferência de transporte pela alanina ocorre justamente devido à grande disponibilidade de piruvato nos músculos. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 155 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 155 o No fígado, a alanina então faz o processo feito no músculo de maneira inversa (catalisado pela mesma enzima): a alanina doa seu grupo amino para o alfa-cetoglutarato, formando piruvato e glutamato, respectivamente. o O piruvato do fígado é convertido em glicose na gliconeogênese. Esta glicose pode ser transportada ao músculo mais uma vez; lá sofrendo glicólise e restabelecendo o piruvato que faz transaminação com o glutamato. Assim, isso fecha o ciclo de Cahil. o O glutamato, na mitocôndria do hepatócito, pode enfim perder seu grupo amino para que vire íon amônio e entre no ciclo de ureia; ou fazer transaminação com o oxalacetato para formar aspartato, que entra no ciclo da ureia também. • Em outros tecidos (inclusive músculos): a degradação de aminoácidos nestes tecidos permite que o glutamato receba dois grupos aminos, formando a glutamina, que é um aminoácido polar carregado positivamente (enquanto o glutamato é um aminoácido polar carregado negativamente). Essa glutamina é transportada pelo sangue até o fígado. o A glutamina, na mitocôndria do hepatócito, perde um grupo amino na forma de íon amônio (que entra no ciclo da ureia) e vira glutamato. O glutamato no fígado pode enfim perder seu grupo amino para que vire íon amônio e também entre no ciclo da ureia; ou fazer transaminação com o oxalacetato para formar aspartato, que entra no ciclo da ureia também. Ciclo da ureia • Conforme foi visto, dois produtos são liberados na mitocôndria para entrarem no ciclo de Krebs: o íon amônio (a partir de glutamato e glutamina) e o aspartato (a partir de glutamato). • O íon amônio, no interior da mitocôndria, gasta 2 ATP para reagir com HCO3- e virar carbamoil fosfato. Esta reação é catalisada pela carbamoil fosfato sintetase I. o A carbamoil fosfato, na matriz mitocondrial, onde condensa com a ornitina, perdendo um fosfato e virando citrulina. A citrulina então sai da mitocôndria para o citosol. • O aspartato é diretamente enviado para o citosol. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 156 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 156 • A citrulina, uma vez no citosol, primeiro gasta ATP para virar um intermediário (intermediário cirtulil-AMP), perdendo um pirofosfato. Este intermediário então condensa com o aspartato que foi para o citosol, produzindo AMP e argininosuccinato. • O argininosuccinato é quebrado em fumarato e arginina. • O fumarato pode entrar diretamente no ciclo de Krebs (na mitocôndria), ou antes ser convertido em malato. Ambos poderão ser convertidos em oxalacetato (que retorna para reagir com o glutamato novamente). o Assim, existe uma ressíntese contínua de oxalacetato, por isso a conexão entre o ciclo de Krebs e o ciclo de ureia é chamada de bicicleta de Krebs. o Como bônus, a conversão de fumarato/malato em oxalacetato produz NADH. • A arginina sofre hidrólise formando ornitina (que retorna para a mitocôndria para reagir com a carbamoil fosfato novamente) e ureia. Balanço energético da bicicleta de Krebs • A parte do ciclo de Krebs que participa da bicicleta de Krebs produz 3 ATP. • O ciclo da ureia, que participa completamente da bicicleta de Krebs, gasta 4 ATP. o Portanto, o saldo é um gasto energético de 1 ATP. Degradação da cadeia carbônica • A cadeia carbônica, ou esqueleto carbônico, é o alfa-cetoácido que é resultante da perda do grupo amino do aminoácido. Os destinos dessa cadeia carbônica dependerão de qual aminoácido está sendo metabolizado: o Aminoácidos glicogênicos: são aqueles cuja cadeia carbônica pode sintetizar glicose. ▪ Alanina, cisteína, glicina, serina, treonina, triptofano: a cadeia carbônica destes aminoácidos pode ser convertida em piruvato, que pode entrar na gliconeogênese. ▪ Asparagina e aspartato: a cadeia carbônica destes aminoácidos pode ser convertida em oxalacetato, que pode entrar na gliconeogênese. o Aminoácidos cetogênicos: são aqueles cuja cadeia carbônica pode sintetizar acetil-CoA (que em excesso forma corpos cetônicos). ▪ Isoleucina, leucina, treonina, triptofano: a cadeia carbônica destes aminoácidos pode ser convertida diretamente em acetil-CoA. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 157 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 157 ▪ Leucina, lisina, fenilalanina, triptofano e tirosina: a cadeia carbônica destes aminoácidos pode ser convertida em acetoacetil-CoA. ❖ Albinismo: tirosina é um aminoácido que pode ser oxidado em DOPA, reação esta catalisada pela tirosinase. A DOPA é o precursor da melanina. A deficiência de tirosinase, assim, causa deficiência de melanina. Essa condição é conhecida como albinismo. ❖ Tirosina como aminoácido natural: a fenilalanina, para ser metabolizada, precisa ser convertida em tirosina. A enzima essencial para essa reação é a fenilalanina hidroxilase. É devido a esse processo endógeno de formação de tirosina que ela é considerada aminoácido natural, apesar de a fenilalanina só pode ser obtida da dieta, portanto é um aminoácido essencial. ❖ Fenilcetonúria: a fenilcetonúria é deficiência de fenilalanina hidroxilase. Provoca um acúmulo excessivo da fenilalanina ingerida, por isso pessoas com essa doença precisam restringir o consumo deste aminoácido. O diagnóstico dessa doença, o teste do pezinho, deve ser feito após um certo tempo depois de nascido, pois a mãe, através do leite, pode fornecer a enzima para o bebê que não a possua. Síntese de aminoácidos • A síntese de aminoácidos define quais serão os essenciais e os naturais: os naturais conseguem ser sintetizados pelo corpo, enquanto outros só são obtidos da dieta. o Entretanto, existem certos aminoácidos naturais que só conseguem ser sintetizados pelo corpo a partir de aminoácidos essenciais. Daí certos autores classificá-los como essenciais. o Os aminoácidos essenciais foram evolutivamente determinados de acordo com a exigência de cada aminoácido para ser sintetizado: aminoácidos muito exigentes não são sintetizados. Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 158 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 158 • A síntese de aminoácidos parte essencialmente do metabolismo de carboidratos para a obtenção das cadeias carbônicas, enquanto o grupamento amino advém de aminoácidos da dieta. Biossíntese a partir de aminoácidos • Os aminoácidos são grandes precursores de neurotransmissores. o O próprio glutamato é um neurotransmissor o O glutamato pode ainda ser convertido em GABA o A histidina pode ser convertida em histamina Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 159 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 159 REGULAÇÃO METABÓLICA Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG NúcleoUniversitário Cristão 160 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 160 Regulação metabólica Níveis de regulação • Expressão gênica: a presença de uma enzima é fundamental para que uma via ocorra. Não adianta nada ter o substrato para a via se as enzimas não estiverem presentes. o Exemplo: existem tecidos que expressam proteínas para a síntese e degradação de lipídeos, como o fígado e o tecido adiposo. Existem tecidos que expressam proteínas que apenas degradam os lipídeos, como os músculos. E há tecidos que não expressam proteínas nem que sintetizam nem que degradam os lipídeos, como o cérebro e a hemácia. o De maneira geral, tem-se que a expressão gênica nos seguintes tecidos permite as seguintes funções: ▪ Cérebro: transporta íons para manter o potencial de membrana; integra impulsos do corpo e arredores; manda sinais para outros órgãos. ▪ Pâncreas: secreta insulina e glucagon em resposta a mudanças na glicemia. ▪ Fígado: metaboliza gorduras, carboidratos e proteínas da dieta; sintetiza e distribui lipídeos, corpos cetônicos e glicose para outros tecidos; converte o excesso de nitrogênio em ureia. ▪ Veia porta: leva nutrientes do intestino ao fígado. ▪ Sistema linfático: transporta lipídeos do intestino para o fígado. ▪ Intestino delgado: absorve nutrientes da dieta; transporta-os para o sangue ou sistema linfático. ▪ Músculo esquelético: usa ATP para trabalho mecânico. ▪ Tecido adiposo branco: sintetiza, armazena e mobiliza triacilgliceróis. ▪ Tecido adiposo pardo: faz termogênese. • Controle alostérico: a presença de um regulador alostérico pode aumentar a velocidade de uma reação (regulador alostérico positivo) ou diminui-la (regulador alostérico negativo). o Exemplos: ATP e ADP; NAD+ e NADH; Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 161 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 161 o O controle alostérico é muito importante na regulação de vias que compartilham intermediários entre si, agindo sobre reações irreversíveis desta via. Frequentemente, os reguladores alostéricos inibem as reações irreversíveis da via que as produziu. o É importante notar que os reguladores alostéricos não impedem a ação enzimática: eles apenas diminuem a sua eficiência. • Controle hormonal: estão relacionados a modificações pós-traducionais das enzimas, principalmente fosforilação e desfosforilação de enzimas das mais diversas vias. o Exemplos: insulina, glucagon e leptina. o A produção de hormônios, por sua vez, é regulada por sinais sistêmicos como os níveis de glicemia. • Compartimentalização das vias: promove uma separação física das enzimas, permitindo que certas vias só aconteçam nos locais apropriados. o Exemplo: na mitocôndria ocorrem o ciclo de Krebs, a beta-oxidação de ácidos graxos, a formação de corpos cetônicos, etc. No citoplasma, ocorrem glicólise, via das pentoses-fosfato, síntese de ácidos graxos, etc. Isso ocorre porque as enzimas necessárias para todas essas vias foram apropriadamente alocadas dentro destes dois compartimentos. Regulação do metabolismo energético da glicose • Destinos da glicose: glicogênio (glicogênese), piruvato (glicólise) e ribose 5- fosfato (via das pentoses fosfato). • A ativação da degradação do glicogênio muscular envolve os seguintes compostos: o Epinefrina (sinalizador) o cAMP o PKA ativa o Íon cálcio o Fosforilase quinase ativa o Fosforilase ativa o Inibição da síntese do glicogênio muscular (presença da glicogênio sintase inativa) Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 162 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 162 • A ativação da degradação do glicogênio hepático envolve os seguintes compostos: o Glucagon (sinalizador) o Epinefrina (sinalizador) o cAMP o PKA o Fosforilase quinase o Íon cálcio • A ativação da síntese do glicogênio hepático envolve os seguintes compostos: o Insulina (sinalizador) o GSK-3 inativa o PKA inativa o Fosfodiesterase ativa o PP-1 ativa o Fosforilase quinase inativa o Fosforilase inativa o GSI inativa • A regulação da glicólise/gliconeogênese no fígado envolve os seguintes compostos: o Hexoquinase e glicoquinase: a hexoquinase faz a fosforilação da glicose em todos os tecidos (exceto o fígado que possui uma isoenzima dela), impedindo que essa glicose saia de dentro da célula. Entretanto, a glicoquinase, conquanto faça a mesma ação no fígado, é antagônica à função do fígado de disponibilizar glicose. Por isso, a afinidade da hexoquinase pela glicose é muito elevada, e a glicoquinase, muito baixa. Assim, em baixos níveis glicêmicos, a maioria das células retém sua glicose, mas o fígado a libera para os demais tecidos. ▪ Também, a hexoquinase é inibida pelo próprio produto, a glicose 6-fosfato, uma vez que uma alta concentração dela sinaliza que ela não está sendo utilizada, o que é resultante de uma célula com um estado energético muito alto e de altos níveis glicêmicos. Assim, essa glicose não fica na célula, e pode ser enviada para o fígado, onde é fosforilada pela glicoquinase, que não é inibida pela glicose 6-fosfato. Isso é muito importante, pois o fígado precisa utilizar essa Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 163 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 163 glicose para sintetizar glicogênio e lipídeos em uma situação de estado energético alto e altos níveis glicêmicos. ▪ Adicionalmente, como resposta hormonal, há o sequestro de glicoquinase pelo núcleo (glucagon) e a liberação da mesma (insulina). o Regulação sobre as reações irreversíveis no fígado: ▪ Reação entre frutose 6-fosfato frutose 1,6-bifosfato: é controlada principalmente pela frutose 2,6-bifosfato, que estimula a glicólise e inibe a via gliconeogênica. A frutose 2,6-bifosfato, por sua vez, é controlada por uma enzima bifuncional, que por sua vez é controlada por hormônios e por reguladores alostéricos: ❖ O glucagon estimula a fosforilação da enzima bifuncional, o que diminui a concentração da frutose 2,6-bifosfato. ❖ A insulina estimula a desfosforilação da enzima bifuncional, o que aumenta a concentração da frutose 2,6-bifosfato. ❖ O fosfoenolpiruvato estimula a fosforilação da enzima bifuncional, o que diminui a concentração da frutose 2,6- bifosfato. Isso, portanto, estimula a gliconeogênese. Uma vez que o fosfoenolpiruvato acumulado advém das primeiras fases de uma gliconeogênese, ele é capaz de dar continuidade a esse processo para que seja eficiente. ▪ Reação entre glicose e glicose 6-fosfato: envolve a hexoquinase que, no fígado, é a glicoquinase. A glicoquinase fosforila a glicose, permitindo a via glicolítica. Seus reguladores ❖ O glucagon faz com que o núcleo sequestre a glicoquinase, impedindo o prosseguimento da via glicolítica e, portanto, estimulando a via gliconeogênica. ❖ A insulina faz com que o núcleo libere a glicoquinase para o citoplasma, permitindo que ocorra a glicólise. ▪ Reação entre fosfoenolpiruvato e piruvato: envolve a enzima piruvato quinase, que estimula a formação de piruvato. A piruvato quinase tem reguladores alostéricos e hormonais: ❖ Alanina, que inibe a piruvato quinase. A alanina está presente em uma situação de degradação de aminoácidos Guilherme de Matos Abe – Acadêmico de Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 164 Bioquímica – Medicina UFG Núcleo Universitário Cristão 164 para formar glicose. Assim, ela atua contrariamenteà via glicolítica. ❖ Frutose 1,6-bifosfato, que estimula a piruvato quinase. ❖ Glucagon: por meio da PKA, fosforila a piruvato quinase, inativando-a. ❖ Insulina: por meio da PP-1, desfosforila a piruvato quinase, ativando-a. • Portanto, em uma situação de jejum, tem-se que: o No músculo, a epinefrina estimula a degradação de glicogênio (glicogenólise), formando glicose 6-fosfato, que é degradada para gerar energia para o músculo (glicólise). o No fígado, a epinefrina e o glucagon estimulam a degradação de glicogênio (glicogenólise), formando a glicose 6-fosfato, que não é degradada, mas mobilizada para o sangue, elevando a glicemia. Também nesta situação, a glicólise é inibida e a glicogênese é estimulada, convertendo o piruvato em glicose 6-fosfato, que também é mobilizada para o sangue. Regulação da via das pentoses fosfato • Os principais reguladores são o NADPH e o ATP: o Aumenta ADP: estimula glicólise, reduz síntese de ácidos graxos, diminui NADPH, inibe a desidrogenases da via oxidativa. o Aumenta ATP: inibe fosfofrutoquinase, inibe glicólise, estimula síntese de ácidos graxos, aumenta NADPH, estimula via das pentoses fosfato. • Necessidades: o Maior de ribose 5-fosfato do que de NADPH: situação encontrada na maioria dos tecidos. o Equilibrada de ribose 5-fosfato e NADPH o Maior de NADPH do que de ribose 5-fosfato