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Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 149 CAPÍTULO 8 INTEGRAÇÃO NUMÉRICA 8.1 – Introdução Do cálculo integral, tem-se que )a(F)b(F)x(Fdx)x(f b a b a −== onde F(x) é a primitiva de f(x), i.e. dx )x(dF)x(f = . Contudo, esta forma de cálculo não pode ser utilizada quando: a) For impossível expressar F(x) através de uma combinação finita de fun- ções elementares. Este é o caso de funções como 2xe)x(f −= , )xcos()x(f 2= e muitas outras. b) A função f(x) for conhecida apenas em um número finito de pontos, orga- nizados em uma tabela de valores do tipo: x x0 x1 x2 ... xn f(x) f0 f1 f2 ... fn Em tais situações, pode-se recorrer a métodos numéricos de solução baseados na interpretação de integral (definida) como “área sob a curva de f(x)”. 8.2 – Regra dos Trapézios A – Descrição Este método permite calcular a integral aproximada de uma função f(x) atra- vés da soma das áreas de trapézios definidos pela representação de pontos ta- belados de f(x) em um plano cartesiano. A figura a seguir ilustra essa ideia. Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 150 x a = x0 x1 x2 b = x3 f(x) f(x0) f(x1) f(x2) f(x3) T1 T2 T3 a = x0 x1 x2 b = x3 x f(x) f(x0) f(x3) h Note que h 2 )x(f)x(fT 101 × + = h 2 )x(f)x(fT 212 × + = h 2 )x(f)x(fT 323 × + = . Assim, se forem usados, por exemplo, três trapézios, tem-se a seguinte apro- ximação: ++=≅= b a 321 TTTTdx)x(fI . Onde: h 2 )x(f)x(f)x(f)x(f)x(f)x(fT 322110 ×+++++= h 2 )x(f)x(f2)x(f2)x(fT 3210 ×+++= . Generalizando para n trapézios, tem-se a fórmula geral do método: 2 h)x(f)x(f2)x(fT n 1n 1i i0 × ++= − = . Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 151 B – Exemplo Calcule dx )x(senI 1 0 2 = pela regra dos trapézios com n = 10. Solução Neste caso, tem-se: x0 = a = 0 x10 = b = 1 n = 10. Logo 1,0 10 01 n abh =−=−= . Para conhecer o valor da integral, deve-se primeiramente tabelar a função f(x) no intervalo de interesse, de acordo com o passo calculado acima. Assim: i x f(x) 0 0 0 1 0,1 0,0100 2 0,2 0,0400 3 0,3 0,0899 4 0,4 0,1593 5 0,5 0,2474 6 0,6 0,3523 7 0,7 0,4706 8 0,8 0,5972 9 0,9 0,7243 10 1,0 0,8415 Logo: 3112,0 2 1,0)x(f)x(f2)x(fT 10 9 1i i0 =× ++= = . Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 152 C – Algoritmo 1. Ler f(x), a, b, n; 2. Calcular o passo n abh −= ; 3. Calcule f(xi) para i variando entre 0 e n; 4. Calcule 2 h)x(f)x(f2)x(fT n 1n 1i i0 × ++= − = . Observação: Se em vez da expressão analítica de f(x) for fornecida diretamente a tabela de valores, deve-se executar apenas o Passo 4. Neste caso, o passo h já foi esco- lhido quando da montagem da tabela. D – Teorema: Estimativa do Erro de Truncamento Considere = b a dx )x(fI e suponha que a segunda derivada de f(x) seja co- nhecida e contínua em [a, b]. Nestas condições, pode-se afirmar que: 2 2 hM12 abE ××−≤ onde (x)f MaxM '' ]b ,a[x2 ∈ = . Note que o erro é proporcional ao quadrado do passo utilizado na integração. E – Exemplo Determine uma cota superior para o erro de truncamento do exemplo anterior. Solução Inicialmente, deve-se calcular a segunda derivada de f(x). Assim: Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 153 )x(sen)x(f 2= 2x)xcos()x(f 2' ×= )x(senx4)xcos(2)x(f 222'' −= . No intervalo de interesse, i.e. [0, 1], pode-se determinar graficamente que: 2853,2 )x(senx4)xcos(2 MaxM 222 ]1 ,0[x2 =−= ∈ . Logo 0019,01,02853,2 12 01hM 12 abE 222 =×× − =×× −≤ . F – Exercício Seja = 1 0 x dx eI Pede-se: a) Calcule I pela regra dos trapézios com 10 subintervalos e estime o erro. b) Qual o número mínimo de subintervalos para que o erro estimado da apro- ximação anterior seja inferior a 10-3? Solução a) O algoritmo anterior foi implementado em um programa em Matlab. Con- siderando a = 0, b = 1 e n = 10 têm-se: f(x) = e^x a: 0.0000 b: 1.0000 n: 10 x f(x) -------------------------- 0.0000 1.00000000 0.1000 1.10517092 0.2000 1.22140276 0.3000 1.34985881 0.4000 1.49182470 0.5000 1.64872127 0.6000 1.82211880 Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 154 0.7000 2.01375271 0.8000 2.22554093 0.9000 2.45960311 1.0000 2.71828183 Integral: 1.71971349 O erro da estimativa acima pode ser calculado por 2 2 hM12 abE ××−≤ . Neste exemplo, x" e)x(f)x(f == . Logo, o máximo valor ocorre em x = 1, i.e. 71828183,2ee MaxM 1x ]1 ,0[x2 === ∈ . Assim: 21,071828183,2 12 01E ××−≤ 00226523,0E ≤ . Observe que neste caso particular, a integral é a própria f(x) e, portanto: 71828183,1eeedx eI 01 1 0 x1 0 x =−=== . Logo 00143166,0 71828183,11,71971349 TI E =−=−= que é, de fato, menor que 0,00226523. b) Para obter o erro menor que 10–3: Do teorema, 2 2 hM12 abE ××−≤ . Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 155 Assim, deve-se garantir que: 32 2 10hM12 ab −≤××− . Desenvolvendo, tem-se: 2 3 M)ab( 0112h ×− ×≤ − . Como a = 0, b = 1 e M2 = 2,71828183, vem para E = 10–3: 0664,0 71828183,2)01( 1012h 3 = ×− ×≤ − . Assim, para h = 0,0664: 05,15 0664,0 01 h ab n = − = − = n = 16. Logo, devem ser utilizados n = 16 subintervalos para ter E < 10–3. G – Observação Se a segunda derivada de f(x) não for contínua no intervalo de integração, o erro de truncamento não poderá ser estimado a partir do teorema. Em tais si- tuações, o método dos trapézios pode ser aplicado repetidamente, dobrando-se o número de subintervalos a cada repetição (i.e., n, 2n, 4n, 8n, etc.), até que a diferença entre duas aproximações sucessivas seja menor que uma determina- da tolerância ε especificada. Considere como exemplo, o cálculo da integral: = 1 0 x dx e xI . Neste caso, tem-se: x5,0x e xe x)x(f == Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 156 x5,05,05,0xx5,0' e )x5,0x( x5,0 ee x)x(f −− +=+= )x25,0x5,0( ee)x5,0x()x(f 5,15,0xx5,05,0'' −−− −++= . Simplificando, x5,15,05,0'' e )x25,0xx()x(f −− −+= , ou ainda: x 3 '' e ) x4 1 x 1 x()x(f −+= . Observe que esta função apresenta descontinuidade em t = 0 (que faz parte do intervalo de integração), impedindo que se calcule uma estimativa do erro de truncamento. Contudo, estabelecendo-se uma tolerância ε = 0,5×10–3, por exemplo, tem-se pelo programa: n T(n) Variação 5 1,25017462 – 10 1,25237397 0,00219935 20 1,25414113 0,00176716 40 1,25501819 0,00087706 80 1,25539220 0,00037401 Observe que a diferença (em módulo) entre as duas últimas aproximações,i.e., T(80) e T(40), obtidas com 80 e 40 trapézios, respectivamente, é menor que 0,5×10–3, mostrando que as 3 primeiras casas decimais da integral deseja- da já se tornaram fixas. Assim, pode-se admitir, em termos práticos, que o valor estimado possui pelo menos 3 casas decimais corretas. Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 157 8.3 – Regra de Simpson A – Descrição No cálculo de integrais, é possível, com a mesma tabela de valores, obter re- sultados mais precisos que os fornecidos pela regra dos trapézios, se, em vez de segmentos de retas, forem utilizados arcos de parábolas ajustados a cada conjunto de três pontos igualmente espaçados, como ilustra a figura a seguir. a = x0 x1 x2 x3 f(x) h x4 b = x6x5 Arcos de parábola Função f(x) Cada parábola delimita uma área denominada “trapézio parabólico”. A figura abaixo mostra que 1 trapézio parabólico é composto de 2 subintervalos de lar- gura h. Assim, para n subintervalos haverá n/2 trapézios parabólicos. xi xi+h f(x) xi−h x Arco de Parábola Área do trapézio = Si Trapézio parabólico i y(x) = αx2+βx+γ Observe que para a aplicação deste método, n deve ser obrigatoriamente par. Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 158 A área de um trapézio parabólico é dada pela seguinte integral: hx hx 23hx hx 2 i i i i i xx 2 x 3 dx)xx(S + − + − γ+β+α=γ+β+α= . Os valores dos parâmetros α, β e γ devem ser tais que o arco de parábola in- terpole os três pontos considerados, i.e. • )hx(f)hx()hx( ii2i −=γ+−β+−α • )x(fxx ii2i =γ+β+α • )hx(f)hx()hx( ii2i +=γ++β++α . Este conjunto de equações representa um sistema linear, que permite calcular os valores de α, β e γ. Pode-se mostrar, após alguns desenvolvimentos, que: [ ])x(f)x(f4)x(f 3 hS 1ii1ii +− ++×= para i = 1, 3, 5, 7, ... Assim, somando as áreas dos n/2 trapézios parabólicos, tem-se ...SSSSSdx)x(fI 7531 b a ++++=≅= onde [ ] [ ] ++++× ++++× + ×= − − )x(f )x(f...)x(f)x(f2 )x(f...)x(f)x(f4 )x(f 3 hS n 2n42 1n31 0 . B – Exemplo Calcule o valor aproximado de − = 1 0 x dxeI 2 usando a fórmula de Simpson com n = 10 subintervalos. Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 159 Solução Inicialmente, deve-se fazer o tabelamento de f(x). Para isto, observe que: a = 0 b = 1 n = 10 (i.e., 5 trapézios) Assim: 1,0 10 01 n abh =−=−= A tabela de valores de f(x) é então calculada a seguir. i xi f(xi) 0 0,0 1,0000 1 0,1 0,9900 2 0,2 0,9608 3 0,3 0,9139 4 0,4 0,8521 5 0,5 0,7788 6 0,6 0,6977 7 0,7 0,6126 8 0,8 0,5273 9 0,9 0,4449 10 1,0 0,3679 Logo, pela fórmula de Simpson: [ ] [ ] ++++× +++++× + ×= )x(f )x(f)x(f)x(f)x(f2 )x(f)x(f)x(f)x(f)x(f4 )x(f 3 hS 10 8642 97531 0 7468,0)3679,00379,327402,341( 3 1,0S =+×+×+×= . Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 160 C – Algoritmo 1. Ler f(x), a, b, n (que deve ser obrigatoriamente par); 2. Calcular o passo n abh −= ; 3. Calcule f(xi), para i variando entre 0 e n; 4. Calcule +++×= − Ω∈ = − Ω∈ = )x(f)x(f2)x(f4)x(f 3 hS n 2n k 2k k 1n j 1j j0 PI . onde ΩI é o conjunto dos índices ímpares e ΩP é o conjunto dos índices pa- res (excluindo-se 0 e n). Observação: Se a função f(x) for dada diretamente sob forma de tabela de valores, deve-se executar apenas o Passo 4. Neste caso, o passo h já foi escolhido quando da montagem da tabela. Deve-se lembrar de que n deve ser par. D – Teorema: Estimativa do Erro de Truncamento Considere = b a dx )x(fI e suponha que a quarta derivada de f(x) seja conheci- da e contínua em [a, b]. Nestas condições, tem-se que: 4 4 hM180 abE ××−≤ onde (x)f MaxM (4) ]b ,a[x4 ∈ = . Note que o erro é proporcional à quarta potência do passo de integração. Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 161 E – Exemplo Determine uma cota superior para o erro de truncamento do exemplo anterior. Solução Do exemplo anterior: a = 0 b = 1 h = 0,1 A função integrando é: 2 xe)x(f −= . Assim: • )x2(e)x(f 2x' −= − • )x42(e)x(f 2x'' 2 +−= − • )x8x12(e)x(f 3x''' 2 −= − • )x16x4812(e)x(f 42x)4( 2 +−= − Graficamente, obtém-se que o máximo valor que |)x(f| )4( assume no interva- lo [0, 1] é 12, ocorrendo em x = 0. Assim: 41,012 180 01E ××−≤ 61067,6E −×≤ F – Exercício Calcule = 1 0 2 dx )en(xsI pela regra de Simpson com n = 10, e estime o erro de truncamento cometido. Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 162 Solução O algoritmo anterior foi implementado em um programa em Matlab, que apresentou os seguintes resultados: f(x) = sen(x^2) a: 0.0000 b: 1.0000 n: 10 x f(x) -------------------------- 0.0000 0.00000000 0.1000 0.00999983 0.2000 0.03998933 0.3000 0.08987855 0.4000 0.15931821 0.5000 0.24740396 0.6000 0.35227423 0.7000 0.47062589 0.8000 0.59719544 0.9000 0.72428717 1.0000 0.84147098 Integral: 0.30126023 Antes de estimar o erro de truncamento, deve-se determinar a quarta derivada de f(x). Neste caso, tem-se: )xcos(x48)x(senx16)x(sen12)x(f 22242)4( −+−= . Graficamente, pode-se mostrar que esta função atinge o máximo valor absolu- to de 28,4285 para x = 0,8521. Assim: 41,04285,28 180 01E ××−≤ → 51058,1E −×≤ . Notas de Aula de Cálculo Numérico – Capítulo 8 Prof. João Guilherme de C. Costa 163 8.3 – Exercícios Propostos 1) Calcule a integral += 1 0 dx x)Ln(1 xI usando a regra dos trapézios com n = 10. Estime o erro de truncamento cometido. Qual deve ser o número de subintervalos para que o erro come- tido seja inferior a 10–5? 2) Utilize a regra de Simpson para calcular a integral abaixo com n = 8 e es- time o erro de truncamento cometido. = 2 0 x dx eI Respostas 1) T = 0,2510; E < 0,0017; n = 130. 2) S = 6,3892; E < 0,0003.
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