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Sumário Prefácio vi I Teoria dos Grupos e Aneis vii 1 Grupos 1 1.1 Operações Binárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.2 Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.3 Subgrupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 1.4 Grupos Cíclicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 1.5 Grupos Diedrais e Alternados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 2 Teoremas de Estruturas para Grupos 59 2.1 Classes Laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 2.2 Homomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 2.3 Grupos Quocientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 2.4 Teoremas de Isomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 3 Aneis 103 3.1 Aneis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 3.2 Subaneis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 4 Homomorfismos de Aneis e Aneis Quocientes 133 4.1 Homomorfismos de Aneis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 4.2 Aneis Quocientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 4.3 Teoremas de Isomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 4.4 Ideais Primos e Maximais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 4.5 Aneis de Frações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 II Teoria Avançada dos Grupos e Aneis 185 5 Produto de Grupos e os Teoremas de Sylow 187 5.1 Produto Direto e Semidireto de Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 v vi SUMÁRIO 5.2 Ação de Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195 5.3 Classes de Conjugação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207 5.4 p-Grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210 5.5 Teoremas de Sylow . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215 5.6 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 218 6 Grupos Solúveis e Nilpotentes 229 6.1 Grupos de Permutações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229 6.2 Grupos Solúveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244 6.3 Grupos Nilpotentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255 6.4 Séries de Composição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263 7 Aneis de Fatoração Única e Euclidianos 271 7.1 Aneis de Fatoração Única . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 271 7.2 Máximo Divisor Comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 284 7.3 Aneis Euclidianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291 8 Aneis de Polinômios e Noetherianos 303 8.1 Polinômios e o Algoritmo da Divisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 303 8.2 Critérios de Irredutibilidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 316 8.3 Aneis Noetherianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 328 III Teoria de Corpos e de Galois 337 9 Teoria dos Corpos 339 9.1 Extensão de Corpos e Grau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 340 9.2 Elementos Algébricos e Transcendentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344 Bibliografia 351 Índice 351 Parte I Teoria dos Grupos e Aneis vii Capítulo 1 Grupos O principal objetivo deste capítulo é levar o aluno a compreender o conceito de grupo de um ponto de vista axiomático, isto é, o conceito abstrato de grupo como objeto com uma estrutura algébrica específica. Além disso, serão vistos os conceitos de subgrupos, subgrupos gerados, grupos cíclicos, grupos diedrais e grupos alternados, com ênfase em grupos de ordem finita que serão necessários para cursos subsequentes. 1.1 Operações Binárias Seja G um conjunto não vazio qualquer. Uma operação binária (ou uma composição interna) ∗ sobre G é qualquer função ∗ : G×G −→ G. Notação: ∗(a, b) = a ∗ b, ab, a× b ou a+ b, e assim por diante, chamada de produto ou de soma, dependendo da notação escolhida. Observação 1.1 A prova de que uma operação (binária) ∗ sobre um conjunto G está bem definida pode ser feita como segue: dados (a, b), (c, d) ∈ G×G, (a, b) = (c, d)⇒ a = c e b = d⇒ a ∗ b = c ∗ d. Um sistema algébrico ou uma estrutura algébrico é um conjunto não vazio G munido de uma ou mais operações binárias. Uma operação binária ∗ sobre G é: 1. Comutativa se a ∗ b = b ∗ a, ∀ a, b ∈ G. 2. Anticomutativa se a ∗ b = b ∗ a⇒ a = b, ∀ a, b ∈ G. 1 2 CAPÍTULO 1. GRUPOS 3. Associativa se a ∗ (b ∗ c) = (a ∗ b) ∗ c, ∀ a, b, c ∈ G. Neste caso, podemos omitir os parênteses e simplesmente escrever, a ∗ b ∗ c, sem ambiguidade. 4. Um elemento u ∈ G é uma unidade para a operação binária ∗ se a ∗ u = u ∗ a = a, ∀ a ∈ G. Um elemento unidade u é frequentemente chamado de elemento identidade ou neu- tro. 5. A oposta de uma operação binária ∗ sobre G é definida por a ∗op b = b ∗ a, ∀ a, b ∈ G. 6. Se ◦ é outra operação binária sobre G, então ∗ é distributiva: (a) à esquerda sobre ◦ se a ∗ (b ◦ c) = (a ∗ b) ◦ (a ∗ c), ∀ a, b, c ∈ G. (b) à direita sobre ◦ se (a ◦ b) ∗ c = (a ∗ c) ◦ (b ∗ c), ∀ a, b, c ∈ G. Assim, se ∗ é distributiva à esquerda e à direita sobre ◦, dizemos que ∗ é distributiva sobre ◦. Exemplo 1.2 A soma usual “+” é uma operação binária sobre Z, Q, R e C, respecti- vamente. Note que ela é comutativa e associativa. Exemplo 1.3 O produto usual “·” é uma operação binária sobre Z∗, Q∗, R∗ e C∗, re- spectivamente, com Z∗ = Z− {0}. Note que ele é comutativa e associativa. Exemplo 1.4 A subtração usual “−” é uma operação binária sobre Z, Q, R e C. Note que ela não é comutativa e nem associativa, por exemplo, 3− 5 = −2 6= 2 = 5− 3 e 3− (5− 7) = 5 6= −9 = (3− 5)− 7. Exemplo 1.5 A subtração usual “−” não é uma operação binária sobre Z+, Q+ e R+, com Z+ = {n ∈ Z : n ≥ 0}. Por exemplo, 3− 5 = −2 /∈ Z+. Seja ∗ uma operação binária sobre G. Chamamos a ∗ b o produto de a e b, nesta ordem. Dados a1, a2, ..., an ∈ G, podemos formar o produto dos elementos a1, a2, ..., an, nesta ordem, de várias maneiras inserindo vários parênteses e aplicando sucessivamente a operação binária ∗. Mas os parênteses devem ser localizados adequadamente, de modo que obtemos um produto significativo, isto é, sem ambiguidade. 1.1. OPERAÇÕES BINÁRIAS 3 Exemplo 1.6 Os produtos significativos de a, b e c, nesta ordem, são: a ∗ (b ∗ c) e (a ∗ b) ∗ c. Exemplo 1.7 Os produtos significativos de a, b, c e d, nesta ordem, são: (a ∗ (b ∗ c)) ∗ d; ((a ∗ b) ∗ c) ∗ d; (a ∗ b) ∗ (c ∗ d); a ∗ (b ∗ (c ∗ d)) e a ∗ ((b ∗ c) ∗ d). Mais geralmente, seja f(a1, a2, ..., an), qualquer produto significativo de a1, a2, ..., an ∈ G, nesta ordem. Então é claro que f(a1, a2, ..., an) = f1(a1, ..., ak) ∗ f2(ak+1, ..., an), com f1(a1, ..., ak) e f2(ak+1, ..., an), produtos significativos, 1 ≤ k ≤ n. O produto canônico dos elementos a1, ..., an ∈ G, nesta ordem, é definido, indutivamente, por nY i=1 ai = ( a1, se n = 1¡Qn−1 i=1 ai ¢ ∗ an, se n > 1. Por exemplo, o produto canônico de a1, a2, a3, a4 ∈ G, nesta ordem, é 4Y i=1 ai = ((a1 ∗ a2) ∗ a3) ∗ a4. Proposição 1.8 (Lei Associativa Generalizada) Sejam G um conjunto não vazio e ∗ uma operação binária associativa sobre G. Então f(a1, ..., an) = nY i=1 ai, ∀ a1, ..., an ∈ G. Prova. Vamos usar indução sobre n. Se n = 1 ou 2, nada há para ser provado. Supo- nhamos que n > 2 e que o resultado seja válido para todo m, com 1 ≤ m < n. Como f(a1, a2, ..., an) = f1(a1, ..., ak) ∗ f2(ak+1, ..., an), para algum k,1 ≤ k < n, temos, pela hipótese de indução, que f1(a1, ..., ak) = kY i=1 ai e f2(ak+1, ..., an) = n−kY j=1 ak+j. Logo, f(a1, a2, ..., an) = à kY i=1 ai ! ∗ à n−kY j=1 ak+j ! Assim, há duas possibilidades: 4 CAPÍTULO 1. GRUPOS 1.a Possibilidade. Se k = n− 1, então f(a1, a2, ..., an) = à n−1Y i=1 ai ! ∗ an = nY i=1 ai. 2.a Possibilidade. Se k < n− 1, então f(a1, a2, ..., an) = à kY i=1 ai ! ∗ Ãà n−k−1Y j=1 ak+j ! ∗ an ! , por definição = Ãà kY i=1 ai ! ∗ à n−k−1Y j=1 ak+j !! ∗ an, pela a associatividade = à n−1Y i=1 ai ! ∗ an, pela hipótese de indução = nY i=1 ai que é o resultado desejado. ¥ Observação 1.9 Seja ∗ é uma operação binária associativa sobre G. Dados a1, ..., an ∈ G existe um único produto, nesta ordem, que pode ser escrito como a1 ∗ · · ·∗an sem qualquer parênteses ou ambiguidade. EXERCÍCIOS 1. Determine quais das seguintes operações são operações binárias ∗ sobre N: (a) A operação ∗ definida por a ∗ b = a2. (b) A operação ∗ definida por a ∗ b = 2a+ 3b. (c) A operação ∗ definida por a ∗ b = a− b. (d) A operação ∗ definida por a ∗ b = a+ b+ 1. 2. Determine quais das seguintes operações são operações binárias ∗ sobre R2: (a) A operação ∗ definida por (a, b) ∗ (c, d) = ( (a+c 2 , b+d 2 ), se (a, b) 6= (c, d) (a, b), se (a, b) = (c, d) . (b) A operação ∗ definida por (a, b) ∗ (c, d) = (a+ c, b+ d). 1.1. OPERAÇÕES BINÁRIAS 5 (c) A operação ∗ definida por (a, b) ∗ (c, d) = (ac, bd). (d) A operação ∗ definida por (a, b) ∗ (c, d) = (ac− bd, bc+ ad). 3. Determine se as operações binárias ∗ sobre Z é associativa (comutativa) em cada um dos seguintes casos: (a) A operação ∗ definida por a ∗ b = a− b. (b) A operação ∗ definida por a ∗ b = a2 + b2. (c) A operação ∗ definida por a ∗ b = 2(a+ b). (d) A operação ∗ definida por a ∗ b = −a− b. (e) A operação ∗ sobre Z× Z definida por (a, b) ∗ (c, d) = (ad+ bc, bd). 4. Determine se as operações binárias ∗ sobre R é associativa (comutativa) em cada um dos seguintes casos: (a) a ∗ b = a2b. (b) a ∗ b = min{a, b}. (c) a ∗ b = ab + ba. (d) a ∗ b = 1. 5. Determine se as operações binárias ∗ sobre R é associativa (comutativa) em cada um dos seguintes casos: (a) a ∗ b = 3 √ a3 + b3. (f) a ∗ b = a+ b− ab. (b) a ∗ b = ab+ a+ b. (g) a ∗ b = a+ b− 3. (c) a ∗ b = a. (h) a ∗ b = √ a2 + b2 + 1. (d) a ∗ b = a+ b+ a2b. (i) a ∗ b = a+ log10(10b−a + 1). (e) a ∗ b = max{a, b}. (j) a ∗ b = |a| b, quando a, b ∈ R∗. 6. Determine se as operações binárias ∗ sobre R∗+ é associativa (comutativa) em cada um dos seguintes casos: (a) a ∗ b = 3ab. (e) a ∗ b = a+b 1+ab . (b) a ∗ b = ab. (f) a ∗ b = aba+b+1 . (c) a ∗ b = aba+b . (g) a ∗ b = √ a2 + b2 + 1. (d) a ∗ b = ab+ 1. (h) a ∗ b = a log10 b. 7. Determine quais das seguintes operações binárias são associativa (comutativa): (a) A operação ∗ sobre Q definida por a ∗ b = a+b 5 . (b) A operação ∗ sobre Z× Z definida por (a, b) ∗ (c, d) = (ad+ bc, bd). (c) A operação ∗ sobre Q∗ definida por a ∗ b = ab . 6 CAPÍTULO 1. GRUPOS (d) A operação ∗ sobre Q definida por a ∗ b = a− b+ ab. 8. Sejam S um conjunto não vazio qualquer munido de uma operação binário associa- tiva ∗ e e, f ∈ S. Mostre que se a ∗ e = a e f ∗ a = a, para todo a ∈ S, então e = f . Além disso, se a ∗ b = e = c ∗ a, então b = c. 9. Suponhamos que uma operação binária ∗ sobre G tenha uma unidade e satisfaça a identidade a ∗ (b ∗ c) = (a ∗ c) ∗ b, ∀ a, b, c ∈ G. Mostre que ∗ é associativa e comutativa. 10. Sejam ∗ uma operação binária associativa sobre G e x ∈ G. Mostre que a operação binária ◦ sobre G definida por a ◦ b = a ∗ x ∗ b é associativa. 11. Seja G um conjunto munido de uma operação binária ∗. Dizemos que a ∈ G é um elemento idempotente para ∗ se a ∗ a = a. (a) Suponhamos que ∗ seja associativa. Mostre que ∗ é anticomutativa se, e so- mente se, a ∗ a = a e a ∗ b ∗ a = a, para todos a, b ∈ G. (b) Mostre se ∗ é associativa e anticomutativa, então a ∗ b ∗ c = a ∗ c, para todos a, b, c ∈ G. (Sugestão: Considere a ∗ b ∗ c ∗ a ∗ c.) 1.2 Grupos Um grupo é um conjunto G munido de uma operação binária ∗ tal que os seguintes axiomas são satisfeitos: 1. Associatividade, a ∗ (b ∗ c) = (a ∗ b) ∗ c, ∀ a, b, c ∈ G. 2. Existe e ∈ G tal que a ∗ e = e ∗ a = a, ∀ a ∈ G. 3. Para cada a ∈ G, existe b ∈ G tal que a ∗ b = b ∗ a = e. Observações 1.10 1. O axioma (2), assegura que o conjunto G é sempre não vazio. 1.2. GRUPOS 7 2. O elemento e em (2) é único. De fato, seja f ∈ G outro elemento identidade de G. Então f = f ∗ e e f ∗ e = e⇒ f = f ∗ e = e. 3. O elemento b em (3) é único e é chamado de elemento inverso de a em G e será denotado por a−1. De fato, seja c ∈ G outro elemento inverso de a em G. Então b = b ∗ e = b ∗ (a ∗ c) = (b ∗ a) ∗ c = e ∗ c = c. 4. Se em um grupo G o axioma a ∗ b = b ∗ a, ∀ a, b ∈ G, é verificado, dizemos que G é um grupo abeliano ou um grupo comutativo. 5. Quando G = {e}, dizemos que G é um grupo trivial. Com o objetivo de simplificar a notação usaremos ab ao invés de a ∗ b, salvo menção explicita em contrário. A cardinalidade de um grupo G, em símbolos |G|, é chamada a ordem do grupo G. Exemplo 1.11 O conjunto G = Z (Q, R ou C) munido com a operação binária “ + ” é um grupo abeliano infinito. Exemplo 1.12 Seja p um número primo fixado. Então o conjunto G = Q[√p] = {a+ b√p : a, b ∈ Q, com a ∈ Q∗ ou b ∈ Q∗} munido com a operação binária z · w = (ac+ pbd) + (ad+ bc)√p, com z = a+ b √ p,w = c+ d √ p ∈ G, é um grupo abeliano infinito (prove isto!). Exemplo 1.13 O conjunto G = C∗ = {a+ bi : a, b ∈ R e i2 = −1} munido com a operação binária z · w = (ac− bd) + (ad+ bc)i, com z = a+ bi, w = c+ di ∈ G, é um grupo abeliano infinito (prove isto!). Exemplo 1.14 Seja Mn (R) o conjunto de todas as matrizes n × n sobre R. Então o conjunto G = GL n(R) = {A ∈Mn(R) : det(A) 6= 0} munido com a multiplicação usual de matrizes é um grupo não abeliano infinito, chamado de grupo linear geral de grau n. 8 CAPÍTULO 1. GRUPOS Solução. Dados A,B ∈ G. Então, pelo Teorema de Binet-Cauchy, obtemos det(AB) = det(A) det(B) 6= 0. Logo, AB ∈ G, isto é, o produto usual de matrizes é uma operação binária sobre G. É claro que essa operação é associativa e a matriz identidade In é o elemento identidade de G. Se A ∈ Mn(R) é tal que det(A) 6= 0, então a Regra de Cramer mostra que a transformação linear associada a matriz A admite inversa. Logo, A admite inversa A−1 e, assim, det(A−1) = 1 det(A) 6= 0. Portanto, A−1 ∈ G e AA−1 = A−1A = In, ou seja, G é um grupo. Finalmente, se A = " 1 0 1 1 # e B = " 1 1 0 1 # , então A,B ∈ G. Mas AB = " 1 1 1 2 # 6= " 2 1 1 1 # = BA, isto é, G é não abeliano. Além disso, Aa = " a 1 1 0 # ∈ G, ∀ a ∈ R. Portanto, G é um grupo não abeliano infinito. ¥ Exemplo 1.15 Sejam G = Zn = {0, 1, 2, ..., n− 1} ⊆ Z e n um número inteiro positivo fixado. Então G munido com a operação binária a⊕ b = a+ b, com a+ b indicando o resto da divisão a+ b por n, é um grupo abeliano finito, chamado o grupo aditivo dos números inteiros de módulo n. Solução. Dados a, b, c ∈ G. Então, no grupo aditivo Z, temos que a+ (b+ c) = (a+ b) + c = a+ b+ c. Agora, dividindo a+ b+ c por n, obtemos a+ b+ c = qn+ r, com 0 ≤ r < n. 1.2. GRUPOS 9 Logo, a⊕ b⊕ c = r. Dividindo b+ c por n, obtemos b+ c = q1n+ r1, com 0 ≤ r1 < n, ou seja, b⊕ c = r1. Finalmente, dividindo a+ r1 por n, obtemos a+ r1 = nq2 + r2, com 0 ≤ r2 < n, isto é, a⊕ r1 = r2. Como a+ b+ c = a+ q1n+ r1 = q2n+ r2 + q1n = (q1 + q2)n+ r2 temos, pela unicidade do resto, que r = r2. Portanto, a⊕ (b⊕ c) = a⊕ r1 = r2 = r = a⊕ b⊕ c.De modo inteiramente análogo, prova-se que (a⊕ b)⊕ c = r = a⊕ b⊕ c. Logo, a⊕ (b⊕ c) = (a⊕ b)⊕ c, ∀ a, b, c ∈ G. É fácil verificar que 0 = n é o elemento identidade de G e −a = n−a é o elemento inverso de a. Assim, G = Zn é um grupo de ordem n. Finalmente, dados a, b ∈ G, obtemos a⊕ b = a+ b = b+ a = b⊕ a. Portanto, G = Zn é um grupo abeliano finito. ¥ Exemplo 1.16 Seja G = Z•n = {a ∈ Z : 1 ≤ a < n e mdc(a, n) = 1}. Então G munido com a operação binária a¯ b = ab, com ab indicando o resto da divisão de ab por n, é um grupo abeliano finito (prove isto!). Exemplo 1.17 Seja G = Q o grupo aditivo dos números racionais. Dados x, y ∈ G, definimos x ∼ y ⇔ y − x ∈ Z. Então ∼ é uma relação de equivalência sobre G (prove isto!). Além disso, o conjunto G = G Z = {x : x ∈ G}, com x = x+ Z a classe de equivalência de x, munido com a operação binária x⊕ y = (x+ Z)⊕ (y + Z) = (x+ y) + Z = x+ y, é um grupo abeliano infinito, chamado de grupo dos números racionais de módulo um. 10 CAPÍTULO 1. GRUPOS Solução. Dados x, y, z ∈ G, x⊕ (y ⊕ z) = x⊕ (y + z) = x+ (y + z) = (x+ y) + z = (x+ y)⊕ z = (x⊕ y)⊕ z. Existe 0 = 0 + Z = Z ∈ G tal que x⊕ 0 = 0⊕ x = x, ∀ x ∈ G. Para cada x ∈ G, existe −x ∈ G tal que x⊕−x = x− x = 0 = −x+ x = −x⊕ x. Portanto, G é um grupo. Dados x, y ∈ G, obtemos x⊕ y = x+ y = y + x = y ⊕ x, isto é, G é abeliano. Finalmente, sejam p e q números primos distintos. Então r 6= s, com r = 1 p e s = 1 q , pois se r = s⇔ 1 q − 1 p ∈ Z, então existe n ∈ Z tal que 1 q − 1 p = n⇔ p− q = npq ⇔ p = (np+ 1)q, isto é, q divide p. Assim, p = q, o que é impossível. Portanto, G é um grupo abeliano infinito. ¥ Exemplo 1.18 Sejam S um conjunto não vazio qualquer e G = P (S) = {σ : S −→ S : σ é uma função bijetora}. Então G munido com a composição usual de funções é um grupo não abeliano se |S| ≥ 3. Solução. Dados σ, φ ∈ G e z ∈ S. Como σ é sobrejetora temos que existe y ∈ S tal que z = σ(y). De modo inteiramente análogo, existe x ∈ S tal que y = φ(x). Logo, (σ ◦ φ)(x) = σ(φ(x)) = σ(y) = z, isto é, σ ◦ φ é sobrejetora. Dados x,y ∈ S, se (σ ◦ φ)(x) = (σ ◦ φ)(y), então, por definição de σ e φ, temos que φ(x) = φ(y) e x = y, isto é, σ ◦ φ é injetora. Portanto, σ◦φ ∈ G, isto é, a composição usual de funções é uma operação binária sobreG. 1.2. GRUPOS 11 É claro que essa operação é associativa e a função identidade IS é o elemento identidade de G. Finalmente, se σ ∈ G e y ∈ S, então existe um único x ∈ S tal que y = σ (x). Vamos definir σ−1 : S −→ S por x = σ−1(y)⇔ y = σ(x). Sejam x ∈ S qualquer e y = σ(x). Então (σ−1 ◦ σ)(x) = σ−1(σ(x)) = σ−1(y) = x, isto é, σ−1 ◦ σ = IS. Como σ é sobrejetora temos, para cada x ∈ S, que existe z ∈ S tal que x = σ(z). Logo, (σ ◦ σ−1)(x) = (σ ◦ σ−1)(σ(z)) = σ(σ−1 ◦ σ)(z) = σ(IS(z)) = σ(z) = x, isto é, σ ◦ σ−1 = IS. Portanto, σ−1 ∈ G e σ−1 ◦ σ = σ ◦ σ−1 = IS, ou seja, G é um grupo não abeliano. ¥ O grupo do Exemplo 1.18, é conhecido como o grupo de permutações de S. Em particular, se S = {1, 2, ..., n}, então P (S) é chamado o grupo de simetria de grau n e será denotado por Sn. Neste caso, |Sn| = n! (prove isto!). Note que uma permutação σ ∈ Sn é unicamente determinada pelo conjunto de pares ordenados {(x, σ(x)) : x ∈ {1, 2, ..., n}}. Portanto, σ pode ser escrita sob a forma: σ = à 1 2 · · · n σ(1) σ(2) · · · σ(n) ! = à x σ(x) ! , cuja ordem das colunas não importa. Dados σ, τ ∈ Sn, digamos σ = à x σ(x) ! e τ = à x τ(x) ! . Então, reordenando as colunas de τ até a primeira linha coincidir com a segunda linha de σ, obtemos τ = à σ(x) τ(σ(x)) ! = à σ(x) (τ ◦ σ)(x) ! . Portanto, τ ◦ σ = à x (τ ◦ σ)(x) ! = à σ(x) τ(σ(x)) ! ◦ à x σ(x) ! , ou seja, se as colunas são adequadamente ordenadas, então a composição é essencialmente a lei do cancelamento. Por exemplo, se S = {1, 2, 3}, σ = à 1 2 3 2 3 1 ! e τ = à 1 2 3 2 1 3 ! , 12 CAPÍTULO 1. GRUPOS então τ ◦ σ = à 1 2 3 2 1 3 ! ◦ à 1 2 3 2 3 1 ! = à 2 3 1 1 3 2 ! ◦ à 1 2 3 2 3 1 ! = à 1 2 3 1 3 2 ! e σ ◦ τ = à 1 2 3 2 3 1 ! ◦ à 1 2 3 2 1 3 ! = à 2 1 3 3 2 1 ! ◦ à 1 2 3 2 1 3 ! = à 1 2 3 3 2 1 ! . Observe que σ ◦ τ 6= τ ◦ σ. Finalmente, σ−1 = à 2 3 1 1 2 3 ! = à 1 2 3 3 1 2 ! e τ−1 = à 2 1 3 1 2 3 ! = à 1 2 3 2 1 3 ! = τ . Exemplo 1.19 Sejam G e H grupos. Então o conjunto G×H = {(a, b) : a ∈ G e b ∈ H} munido com a operação binária (a, b) ∗ (x, y) = (ax, by) é um grupo com |G×H| = |G| |H|. Em particula, G×H é abeliano se, e somente se, G e H também o são. Solução. É fácil verificar que ∗ é associativa, que (eG, eH) é o elemento identidade de G×H e que (a−1, b−1) é o elemento inverso de (a, b) em G×H. ¥ Seja G um conjunto munido de uma operação binária ∗. Dizemos que G é um semi- grupo se a operação binária ∗ for associativa. Se, além disso, G tiver o elemento identidade, dizemos que G é um monoide. Seja G um grupo qualquer. Vamos definir uma composição externa ∗ sobre G, ∗ : Z×G→ G, por n ∗ a = an = ⎧ ⎪⎨ ⎪⎩ an−1a, se n > 0 e, se n = 0 (a−1)−n = an+1a−1, se n < 0. O elemento an é chamado a potência n-ésima do elemento a. Note que a−n = (an)−1 = (a−1)n, para todo n ∈ Z, por exemplo, se n ≥ 0, então, indutivamente, obtemos an(a−1)n = e e ana−n = e. Logo, pela unicidade do elemento inverso, temos que a−n = (an)−1 = (a−1)n. Proposição 1.20 Sejam G um grupo e a ∈ G fixado. Então: 1.2. GRUPOS 13 1. aman = am+n, para todos m,n ∈ Z. 2. (am)n = amn, para todos m,n ∈ Z. Prova. Provaremos apenas o item (1). Para isto, vamos dividir a prova em vários casos: 1.o Caso. Se m > 0 e n > 0 (m + n > 0), neste caso, vamos fixar m e usar indução sobre n. Seja S = {n ∈ N : aman = am+n}. Então 1 ∈ S, pois am+1 = ama. Suponhamos que o resultado seja válido para n > 1, isto é, n ∈ S. Então am+(n+1) = am+na = (aman)a = am(ana) = aman+1. Logo, n+ 1 ∈ S. Portanto, S = N. 2.o Caso. Se m < 0 e n < 0 (m+ n < 0), então −m > 0 e −n > 0. Logo, aman = (a−1)−m(a−1)−n = (a−1)(−m)+(−n) = (a−1)−(m+n) = am+n. 3.o Caso. Se m > 0, n < 0 e m+ n > 0, então am = a(m+n)−n = am+na−n. Logo, aman = (am+na−n)an = am+n(a−nan) = am+ne = am+n. 4.o Caso. Se m > 0, n < 0 e m+ n = 0, então am = a(m+n)−n = am+na−n = ea−n = a−n. Logo, aman = a−nan = e = am+n. 5.o Caso. Se m > 0, n < 0 e m+ n < 0, então an = (a−1)−n = (a−1)m+(−m−n)) = (a−1)m−(m+n) = (a−1)m(a−1)−(m+n) = (a−1)mam+n. Logo, aman = am(a−1)mam+n = (ama−m)am+n = eam+n = am+n. Portanto, aman = am+n, para todos m,n ∈ Z. ¥ Proposição 1.21 Sejam G um grupo e a, b, c, d ∈ G. Então: 1. Se ab = e, então b = a−1. Em particular, e ∈ G é o único elemento de G tal que e2 = e. 2. (c−1)−1 = c e (cd)−1 = d−1c−1. 14 CAPÍTULO 1. GRUPOS 3. Se ca = cb ou da = db, então a = b. Prova. (1) Se ab = e, então b = eb = ¡ a−1a ¢ b = a−1 (ab) = a−1e = a−1. Em particular, seja x ∈ G tal que x2 = x. Então e = x−1x = x−1x2 = (x−1x)x = ex = x. (2) Pondo b = c e a = c−1 no item (1), obtemos ab = c−1c = e⇒ c = (c−1)−1. Agora, pondo b = d−1c−1 e a = cd no item (1), obtemos ab = (cd)(d−1c−1) = c(dd−1)c−1 = cec−1 = cc−1 = e⇒ d−1c−1 = (cd)−1 . (3) Se ca = cb, então a = ea = (c−1c)a = c−1(ca) = c−1(cb) = (c−1c)b = eb = b. Provar que se da = db, então a = b fica como um exercício. ¥ Exemplo 1.22 Seja G um grupo tal que (ab)2 = (ba)2, para todos a, b ∈ G. Mostre que se G possui a seguinte propriedade: x2 = e, x ∈ G, implicar que x = e, então G é grupo abeliano. Solução. Dados a, b ∈ G, obtemos a2 = (ab−1b)2 = (bab−1)2 = ba2b−1 ou a2b = ba2. Pondo x = aba−1b−1, obtemos x2 = ab(a−1b−1a)(ba−1b−1)= ab(aa−2b−1a)(ba−1b−1) = ab(ab−1a−2a)(ba−1b−1) = ab(ab−1a−1)(ba−1b−1) = ab(abb−2a−1)(ba−1b−1) = (ab)2(a−1b−2)(ba−1b−1) = (ab)2(a−1b−1)2 = (ba)2(a−1b−1)2 = e, Logo, por hipótese x = e, isto é, ab = ba. Portanto, G é um grupo abeliano. ¥ Proposição 1.23 Seja G um conjunto munido de uma operação binária ∗ tal que os seguintes axiomas são satisfeitos: 1. a(bc) = (ab)c, para todos a, b, c ∈ G. 2. Existe e ∈ G tal que ea = a, para todo a ∈ G. 1.2. GRUPOS 15 3. Para cada a ∈ G, existe a−1 ∈ G tal que a−1a = e. Então G é um grupo. Prova. Dado a ∈ G, devemos provar que o inverso à esquerda a−1 de a é também um inverso à direita a, isto é, aa−1 = e. Pondo b = aa−1, obtemos b2 = ¡ aa−1 ¢ ¡ aa−1 ¢ = a ¡ a−1a ¢ a−1 = aea−1 = aa−1 = b. Assim, e = b−1b = b−1(b2) = (b−1b)b = eb = b, isto é, aa−1 = e. Finalmente, devemos provar que o elemento identidade à esquerda e é também um elemento identidade à direita, isto é, ae = a, para todo a ∈ G. Dado a ∈ G, obtemos ae = a ¡ a−1a ¢ = ¡ aa−1 ¢ a = ea = a. Portanto, G é um grupo. ¥ Proposição 1.24 Seja G um semigrupo. Então as seguintes condições são equivalentes: 1. Para quaisquer a, b ∈ G, as equações ax = b e ya = b têm soluções x, y ∈ G. 2. G é um grupo. 3. Para quaisquer a, b ∈ G, as equações ax = b e ya = b têm soluções únicas x, y ∈ G. 4. As funções Lc : G −→ G e Rc : G −→ G definidas por Lc(x) = cx e Rc(x) = xc, respectivamente, são bijetoras, para todo c ∈ G. Prova. (1 ⇒ 2) Seja e ∈ G uma solução da equação ya = a, de modo que ea = a, para todo a ∈ G. Como a equação ax = b tem solução temos que eb = e(ax) = (ea)x = ax = b, ∀ b ∈ G. Assim, e é o elemento identidade à esquerda de G. Finalmente, a equação ya = e tem solução. Logo, cada elemento a ∈ G tem um inverso à esquerda. Portanto, pela Proposição 1.23, G é um grupo. (2 ⇒ 3) Vamos provar apenas que a equação ax = b tem solução x ∈ G. É claro que x0 = a−1b é solução da equação ax = b, pois ax0 = a ¡ a−1b ¢ = (aa−1)b = eb = b. Reciprocamente, seja x1 uma solução da equação ax = b. Então ax1 = b. Logo, a−1b = a−1(ax1) = (a−1a)x1 = ex1 = x1. Portanto, toda solução da equação ax = b é da forma a−1b. 16 CAPÍTULO 1. GRUPOS (3⇒ 4⇒ 1) Segue das definições. ¥ É usual dar-se a operação binária de um grupo finito G por meio de sua tabela de multiplicação ou tabela de Cayley. Assim, se G = {a1, . . . , an}, então ∗ a1 a2 · · · an a1 a21 a1a2 · · · a1an a2 a2a1 a22 · · · a2an ... ... ... · · · ... an ana1 ana2 · · · a2n Usualmente, fazemos a1 = e, o elemento identidade do grupo G. Observação 1.25 Uma tabela de multiplicação de ordem “n” representa um grupo se cada elemento de G aparece exatamente uma vez em cada linha e cada coluna. Em par- ticular, G é um grupo abeliano se sua tabela for simétrica. Exemplo 1.26 Construa a tabela de multiplicação para o grupo Z4 = {0, 1, 2, 3}. Solução. Pelo Exemplo 1.15, obtemos ⊕ 0 1 2 3 0 0 1 2 3 1 1 2 3 0 2 2 3 0 1 3 3 0 1 2 que é o resultado desejado. ¥ EXERCÍCIOS 1. Mostre que existe exatamente um grupo de ordem 3. 2. Mostre que existe apenas dois grupos de ordem 4. 3. Mostre que G = R− {−1} munido com a operação binária a ∗ b = a+ b+ ab é um grupo. 1.2. GRUPOS 17 4. Sejam G um grupo e x um elemento fixado de G. Mostre que G munido com a nova operação binária a ∗ b = axb é um grupo. 5. Seja G = Z× Z. Mostre que G munido com a operação binária (a, b) ∗ (c, d) = (a+ c, (−1)cb+ d) é um grupo. É G um grupo abeliano? 6. Seja G um grupo com elemento identidade e. Mostre que a operação binária / : G×G→ G definida por a/b = ab−1 satisfaz os seguintes axiomas: (a) Para quaisquer a, b ∈ G, a/b = e se, e somente se, a = b. (b) Para todo a ∈ G, a/e = a. (c) Para quaisquer a, b ∈ G, e/(a/b) = b/a. (d) Para quaisquer a, b, c ∈ G, (a/c)/(b/c) = a/b. Reciprocamente, seja G um conjunto com uma operação binária / : G × G → G e um elemento e ∈ G satisfazendo os quatro axiomas acima. Mostre que G, com a nova operação binária ∗ : G × G → G definida por a ∗ b = a/(e/b), é um grupo. (Sugestão: É fácil verificar que e é o elemento identidade de G. Para mostrar a associatividade faça sucessivamente (a ∗ c)/(b ∗ c) = a/b; (a/c) ∗ (b/c) = a/b; se a/c = b ∗ c, então a = b e (a ∗ b)/b = a.) 7. Seja G = {a ∈ Q : 0 ≤ a < 1} um conjunto munido de uma operação binária a⊕ b = ( a+ b, se 0 ≤ a+ b < 1 a+ b− 1, se 1 ≤ a+ b < 2, com “+” a soma usual emQ. Mostre que G é um grupo abeliano infinito. (Sugestão: Note que a⊕ (b⊕ c) e (a⊕ b)⊕ c são ambas iguais a ⎧ ⎪⎨ ⎪⎩ a+ b+ c, se 0 ≤ a+ b+ c < 1 a+ b+ c− 1, se 1 ≤ a+ b+ c < 2 a+ b+ c− 2, se 2 ≤ a+ b+ c < 3.) 8. Seja G um semigrupo satisfazendo os seguintes axiomas: (a) Existe e ∈ G tal que ae = a para todo a ∈ G. (b) Dado a ∈ G, existe a−1 ∈ G tal que aa−1 = e. Mostre que G é um grupo. 9. Seja G um semigrupo satisfazendo os seguintes axiomas: 18 CAPÍTULO 1. GRUPOS (a) Existe e ∈ G tal que ea = a para todo a ∈ G. (b) Dado a ∈ G, existe a−1 ∈ G tal que aa−1 = e. Mostre, com um exemplo, que G não é um grupo. (Sugestão: Tente G = C∗ com a ∗ b = |a| b.) 10. Seja G um semigrupo finito. Mostre que G possui um elemento idempotente. (Su- gestão: Como G é finito temos que o conjunto {an : n ∈ N} é finito. Assim, existem m,n ∈ N, com n > m, tais que am = an. Agora, escolha um k ∈ N tal que m < k(n−m) e e = ak(n−m). Então eam = am.) 11. Sejam G um semigrupo e a ∈ G. Mostre que se existem e, f ∈ G tais que ex = x, para todo x ∈ G, e fa = e, então ab = ac⇒ b = c, ∀ b, c ∈ G. 12. Seja G um semigrupo. Mostre que se existe e ∈ G tal que ea = a, para todo a ∈ G e ba = e, para algum b ∈ G, então G é um grupo. (Sugestão: Use (ba)2 para mostrar que e é o elemento identidade de G e use o Exercício acima.) 13. Seja G um semigrupo contendo um elemento idempotente e ∈ G com a seguinte propriedade: Para qualquer a ∈ G existe pelo menos x ∈ G tal que xa = e e existe no máximo y ∈ G tal que ay = e. Mostre que G é um grupo. 14. Seja G um semigrupo. Mostre que se para cada a ∈ G a função La : G→ G definida por La(x) = ax é bijetora e para algum b ∈ G a função Rb : G → G definida por Rb(x) = xb é bijetora, então G é um grupo. 15. Seja G um semigrupo com a seguinte propriedade: Para qualquer a ∈ G, existe um único at ∈ G tal que aata = a. (a) Mostre que se e é um elemento idempotente de G, então et = e. (b) Mostre que se x, a ∈ G e atx = at, então x = aat. (c) Mostre que ataat = at e (at)t = a, para todo a ∈ G. (d) Mostre que x = (bat)t é solução da equação xb = a, para todos a, b ∈ G. (e) Mostre que G é um grupo. 16. Seja G um semigrupo abeliano satisfazendo os seguintes axiomas: 1. Para qualquer a ∈ G, existe b ∈ G tal que ba = a. 2. Se ba = a, então existe c ∈ G tal que ca = b, para todos a, b ∈ G. (a) Mostre que se ba = a = b0a, então b = b0. 1.2. GRUPOS 19 (b) Mostre que se ba = a, então b2 = b. (c) Mostre que se ba = a e cd = d, então b = c. (Sugestão: Considere b(bd) e c(bd).) (d) Mostre que G é um grupo. Mostre, com um exemplo, que G não é um grupo se G é um semigrupo não abeliano. 17. Seja G um grupo tal que a2 = e, para todo a ∈ G. Mostre que G é um grupo abeliano. 18. Seja G um semigrupo finito tal que ab = ac⇒ b = c e ba = ca⇒ b = c, ∀ a, b, c ∈ G. Mostre que G é um grupo. Mostre, com um exemplo, que essa conclusão pode ser falsa se G é semigrupo infinito. 19. Sejam G um monoide e ∼ uma relação de equivalência sobre G tal que a ∼ x e b ∼ y ⇒ ab ∼ xy, ∀ a, b, x, y ∈ G. Mostre que o conjunto G = G ∼ = {a : a ∈ G}, com a a classe de equivalência de a, munido com a operação binária a ∗ b = ab é um monoide. Em particular, se G é um grupo (abeliano), então G também o é. 20. Sejam G um grupo e a1, . . . , an ∈ G. Mostre que se a1 · · · an = e, então ak · · · ana1 · · · ak−1= e, ∀ k, com 2 ≤ k ≤ n. 21. Seja p um número primo fixado. Sejam Rp = na b ∈ Q : mdc(b, p) = 1 o e Rp = ½ a pn ∈ Q : n ∈ Z+ ¾ . Mostre que Rp e Rp são grupos abelianos sob a operação de adição de Q. 22. Seja p um número primo fixado. Mostre que o conjunto Z(p∞) = ½ a pn + Z ∈ Q Z : a ∈ Z e n ∈ Z+ ¾ é um grupo abeliano infinito sob a operação de adição de QZ (confira Exemplo 1.17). 23. Sejam G um grupo, a, b ∈ G e k ∈ N fixado. 20 CAPÍTULO 1. GRUPOS (a) Mostre que se aba−1 = bk, então anba−n = bkn , para todo n ∈ N. (b) Mostre que se (ab)n = anbn, para algum n = n(a, b) ∈ N fixado com n > 1, então (ab)n−1 = bn−1an−1, anbn−1 = bn−1an e (aba−1b−1)n(n−1) = e. 24. Sejam G um grupo e a, b ∈ G. (a) Mostre que a equação xax = b tem solução x ∈ G se, e somente se, ab é um quadrado em G. (b) Mostre que a equação x2ax = a−1 tem solução x ∈ G se, e somente se, a é um cubo em G. 25. Seja G um grupo. Mostre que as seguintes condições são equivalentes: (a) G é um grupo abeliano; (b) (ab)n = anbn, para todos a, b ∈ G e n ∈ N; (c) (ab)n = anbn, (ab)n+1 = an+1bn+1 e (ab)n+2 = an+2bn+2, para todos a, b ∈ G e n ∈ N; (d) (ab)2 = a2b2, para todos a, b ∈ G; (e) (ab)−1 = a−1b−1, para todos a, b ∈ G. Mostre, com um exemplo, que (c⇒ a) é falsa se três é substituído por dois. 26. Sejam m,n ∈ N fixados e G um grupo tal que ambm = bmam e anbn = bnan, para todos a, b ∈ G. Mostre que se mdc(m,n) = 1, então G é um grupo abeliano. (Sugestão: Note que ambn = (ambn)rm+sn = am(bnam)rm+sn−1bn.) 27. Seja G um semigrupo. Mostre que G é um grupo se, e somente se, toda equação sobre G do tipo axb = c possui uma única solução em G. (Sugestão: Dado g ∈ G, existe x ∈ G tal que gxg = g. Pondo e = gx, temos que eg = g e e2 = ee = e. Assim, para cada y ∈ G tal que gye = g, temos que ge = (gye)e = (gy)e2 = gye = g. Logo, existe e ∈ G (dependendo de g) tal que ge = eg = g, para todo g ∈ G. Agora, dado a ∈ G existe x ∈ G tal que gxg = a, e daí ea = e(gxg) = eg(xg) = gxg = a e ae = (gxg)e = (gx)ge = gxg = a. Logo, e é o elemento identidade de G. Finalmente, dado a ∈ G e seja x, y ∈ G tal que e = axe = ax e e = eya = ya. Mostre que x = y é o elemento inverso de a.) 28. Construa uma tabela de multiplicação para os grupos S3, Z•7 e Z•24. 1.2. GRUPOS 21 29. Sejam I, σi, τ j : R− {0, 1}→ R− {0, 1}, i = 1, 2 e j = 1, 2, 3, funções definidas por I(x) = x, τ 1(x) = 1 x , τ 2(x) = 1− x, τ 3(x) = x x− 1 , σ1(x) = 1 1− x e σ2(x) = x− 1 x . Construa uma tabela de multiplicação para G = S3 = {I, τ 1, τ 2, τ 3, σ1, σ2} com a composição usual de funções e conclua que G é um grupo não abeliano finito. 30. Sejam as matrizes 1 = " 1 0 0 1 # , I = " i 0 0 −i # , J = " 0 −1 1 0 # e K = " 0 −i −i 0 # , com i2 = −1. Construa uma tabela de multiplicação para Q8 = {±1,±I,±J,±K} com a multiplicação usual de matrizes e conclua que Q8 é um grupo não abeliano finito, chamado de grupo dos quatérnios. 31. Seja G um grupo tal que (ab)3 = a3b3 e (ab)5 = a5b5, para todos a, b ∈ G. Mostre que G é um grupo abeliano. 32. Seja G = {a ∈ R : −1 < a < 1} um conjunto munido de uma operação binária a¯ b = a+ b 1 + ab . Mostre que G é um grupo abeliano infinito. 33. Seja G = {σa,b : R→ R : σa,b(x) = ax+ b, a, b ∈ R e a 6= 0}. Mostre que G com a composição usual de funções é um grupo não abeliano infinito. 34. Sejam G o grupo do Exercício anterior e H = {σa,b ∈ G : a ∈ Q, b ∈ R e a 6= 0}. Mostre que H é um grupo com a operação induzida por G e que σa,b ◦ τ ◦ σ−1a,b ∈ H, para todo σa,b ∈ G e τ ∈ H. 35. Seja G = R∗ ×R. Mostre que G munido de uma operação binária (a, b)¯ (c, d) = (ac, ad+ b) é um grupo não abeliano infinito. Qual a relação deste grupo com o grupo do Exercício 33?. 22 CAPÍTULO 1. GRUPOS 36. Seja G = (" a b 0 1 # ∈M2(R) : a 6= 0 ) Mostre que G com a operação usual de multiplicação de matrizes é um grupo não abeliano infinito. Qual a relação deste grupo com o grupo do Exercício 35? 37. Seja T = {z ∈ C∗ : |z| = 1}. Mostre que T com a multiplicação usual de números complexos é um grupo abeliano infinito, chamado de grupo circular . 38. Sejam d um inteiro positivo livre de quadrados e G = n a+ b √ d : a, b ∈ Q com a ∈ Q∗ ou b ∈ Q∗ o . Mostre que G com a multiplicação usual de números reais é um grupo abeliano infinito. 39. Sejam G um grupo e S um conjunto não vazio qualquer. Mostre que o conjunto GS = F(S,G) = {f : S → G : f é uma função} munido com a operação binária (f ¯ g)(x) = f(x)g(x), ∀ x ∈ S e f, g ∈ F(S,G), é um grupo, chamado de grupo das funções com domínio S e valores em G. 40. Seja G um semigrupo tal que a−1(ab) = b = (ba)a−1, para todos a, b ∈ G. Mostre que G é um grupo. 41. Seja G um semigrupo tal que ba2 = b, para todos a, b ∈ G. Mostre que G é um grupo abeliano. 42. Sejam G um semigrupo e C = {a ∈ G : ab = ac e ba = ca⇒ b = c, ∀ b, c ∈ G} (a) Mostre que C é fechado sob a operação de G. (b) Mostre que se G é um monoide, então G• = {a ∈ G : ab = ba = e, para algum b ∈ G} é um grupo contido em C. (c) Para cada um dos monoides G =M2(Z) e G =M2(R+), determine G•. 43. Seja G um grupo finito. Mostre que para cada a ∈ G existe um inteiro positivo n = n(a) tal que an = e. Conclua que existe m ∈ N tal que am = e, para todo a ∈ G. 1.3. SUBGRUPOS 23 44. Sejam G um grupo finito de ordem n e m ∈ N tal que mdc(m,n) = 1. Mostre que cada a ∈ G pode ser escrito sob a forma a = bm, para algum b ∈ G. (Sugestão: Mostre que a função ϕ : G→ G definida por ϕ(x) = xm é bijetora.) 45. Sejam {Gi}i∈I uma família indexada de grupos e G = Q i∈I Gi o produto cartesiano dos Gi. Mostre que G munido com a operação binária (ai)i∈I ∗ (bi)i∈I = (aibi)i∈I é um grupo, chamado o produto direto externo dos Gi. 46. Seja G = {e, a2, . . . , an} um grupo abeliano tal que a2 6= e, para todo a ∈ G com a 6= e, isto é, e é o único elemento de G com e2 = e. (a) Mostre que ea2 · · · an = e. (b) Mostre o Teorema de Wilson: Se p é um número primo, então (p − 1)! ≡ −1 (mod p). 1.3 Subgrupos Seja G um grupo. Dizemos que um subconjunto não vazio H de G é um subgrupo de G, em símbolos H ≤ G, quando H munido com a operação binária induzida por G for um grupo. Observações 1.27 1. Todo grupo G admite pelo menos dois subgrupos, a saber, G e o subgrupo trivial {e}. 2. Os subgrupos H de G com H 6= {e} e H 6= G são chamados de subgrupos próprios. Sejam G um grupo e A, B subconjuntos de G. Definimos AB = {ab : a ∈ A e b ∈ B} e A−1 = {a−1 : a ∈ A}. Então é fácil verificar que A(BC) = (AB)C, ∀ A,B,C ⊆ G. Proposição 1.28 (Critério de Subgrupo) Sejam G um grupo e H um subconjunto não vazio de G. Então H é um subgrupo de G se, e somente se, as seguintes condições são satisfeitas: 1. eG ∈ H, com eG o elemento identidade de G. 2. Se a, b ∈ H, então ab ∈ H (isto é, HH ⊆ H). (fechamento) 3. Se a ∈ H, então a−1 ∈ H (isto é, H−1 ⊆ H). (existência de inverso) 24 CAPÍTULO 1. GRUPOS Prova. Suponhamos que H seja um subgrupo de G. Seja f o elemento identidade de H. Então devemos provar que eG = f . Como f2 = f e f ∈ G temos que eG = f−1f = f−1(f2) = (f−1f)f = eGf = f. Assim, as condições (1), (2) e (3) são claras. Reciprocamente, dados a, b, c ∈ H, temos que a(bc) = (ab)c, pois a, b, c ∈ G. Logo, pela condição (2), obtemos a(bc) = (ab)c em H. Finalmente, dado a ∈ H, temos, pela condição (3), que a−1 ∈ H. Assim, pela condição (2), e = aa−1 = a−1a ∈ H. Portanto, H é um subgrupo de G. ¥ Corolário 1.29 Sejam G um grupo e H um subconjunto não vazio de G. Então H é um subgrupo de G se, e somente se, ab−1 ∈ H, para todos a, b ∈ H. Prova. Fica como um exercício. ¥ Observação 1.30 Sejam G um grupo, H um subgrupo de G e K um subgrupo de H. Então K é um subgrupo de G. Exemplo 1.31 Seja G = Z ogrupo aditivo dos números inteiros. Então H = nZ = {na : a ∈ Z} é um subgrupo de G, com n ∈ Z+. Solução. É claro que 0 ∈ H, pois 0 = n0. Se h, k ∈ H, então existem a, b ∈ Z tais que h = na e k = nb. Logo, h+ k = na+ nb = n(a+ b) ∈ H, pois a + b ∈ Z. Finalmente, se h ∈ H, então existe a ∈ Z tal que h = na. Logo, −h = n(−a) ∈ H, pois −a ∈ Z. Portanto, H é um subgrupo de G. ¥ Exemplo 1.32 Sejam G = P (S) o grupo de permutações de G e s0 ∈ S fixado. Então H = {σ ∈ G : σ(s0) = s0} é um subgrupo de G (prove isto!). Sejam G um grupo e a, b ∈ G. Dizemos que o elemento ba = aba−1 é o conjugado de b por a. Mais geralmente, sejam S um subconjunto não vazio de G e a um elemento de G. Dizemos que o conjunto Sa = aSa−1 = {asa−1 : s ∈ S} é o conjugado de S por a. Além disso, dizemos que a ∈ G normaliza S se aSa−1 = S. Intuitivamente, uma conjugação de um elemento (de um conjunto) significa ver o elemento (o conjunto) de um outro ponto de vista, isto é, de um ponto de vista “mais fácil”. 1.3. SUBGRUPOS 25 Exemplo 1.33 Sejam G um grupo e S um subconjunto não vazio de G. Então CG(S) = {a ∈ G : asa−1 = s, ∀ s ∈ S} = {a ∈ G : as = sa, ∀ s ∈ S} é um subgrupo de G, chamado o subgrupo centralizador de S em G. Solução. É claro que e ∈ CG(S), pois es = se, para todo s ∈ S. Se a, b ∈ CG(S), então as = sa, para todo s ∈ S e bt = tb, para todo t ∈ S. Logo, (ab)s = a(bs) = (as)b = (sa)b = s(ab), ∀ s ∈ S. Assim, ab ∈ CG(S). Finalmente, se a ∈ CG(S), então as = sa, para todo s ∈ S. Logo, a−1s = a−1(asa−1) = (a−1a)sa−1 = sa−1, ∀ s ∈ S. Assim, a−1 ∈ CG(S). Portanto, CG(S) é um subgrupo de G. ¥ Exemplo 1.34 Sejam G um grupo e S um subconjunto não vazio de G. Então NG(S) = {a ∈ G : Sa = S} = {a ∈ G : aSa−1 = S} é um subgrupo de G, chamado o subgrupo normalizador de S em G (prove isto!). Exemplo 1.35 Seja G um grupo. Então Z(G) = {a ∈ G : ab = ba, ∀ b ∈ G} é um subgrupo de G, chamado o centro de G (prove isto!). Além disso, Z(G) = \ a∈G CG(a) e Z(G) ⊆ CG(S) ⊆ NG(S), ∀ S ⊆ G. Exemplo 1.36 Sejam G um grupo, H um subgrupo de G e a ∈ G fixado. Então Ha = aHa−1 = {aha−1 : h ∈ H} é um subgrupo de G. Solução. É claro que e ∈ Ha, pois e ∈ H e e = aea−1. Se x, y ∈ Ha, então existem h, k ∈ H tais que x = aha−1 e y = aka−1. Logo, xy = ¡ aha−1 ¢ ¡ aka−1 ¢ = a(ha−1ak)a−1 = a(hk)a−1 ∈ Ha, pois hk ∈ H. Finalmente, se x ∈ Ha, então existe h ∈ H tal que x = aha−1. Logo, x−1 = ¡ aha−1 ¢−1 = ¡ a−1 ¢−1 h−1a−1 = ah−1a−1 ∈ Ha, pois h−1 ∈ H. Portanto, Ha é um subgrupo de G. ¥ 26 CAPÍTULO 1. GRUPOS Exemplo 1.37 Sejam n ∈ Z∗ fixado e H = {r ∈ Q : nr = 2}. Então H não é um subgrupo do grupo aditivo dos números racionais Q. Solução. Como 0 /∈ H temos que H não é um subgrupo do grupo aditivo dos números racionais. ¥ Observação 1.38 Note que H = Z+ não é um subgrupo do grupo aditivo dos números inteiros, embora 0 ∈ H. Portanto, e ∈ H é uma condição necessária mas não suficiente para que H seja um subgrupo de G. Proposição 1.39 Sejam G um grupo e {Hi}i∈I uma família indexada de subgrupos de G. Então K = \ i∈I Hi é um subgrupo de G. Neste caso, K é o maior subgrupo de G contido em cada Hi. Prova. É claro que e ∈ K, pois e ∈ Hi, para todo i ∈ I. Se a, b ∈ K, então a, b ∈ Hi, para todo i ∈ I. Logo, ab−1 ∈ Hi, para todo i ∈ I. Assim, ab−1 ∈ K. Portanto, K é um subgrupo de G. ¥ Sejam G um grupo e S um subconjunto de G. Seja F a família de todos os subgrupos de G contendo S, isto é, F = {K ≤ G : S ⊆ K}. Como G ∈ F temos que F 6= ∅. Seja H = \ K∈F K. Então, pela Proposição 1.39, H é um subgrupo de G e S ⊆ H. Finalmente, seja L qualquer subgrupo de G tal que S ⊆ L. Então L ∈ F e H ⊆ L. Portanto, H é o menor subgrupo de G contendo S. O subgrupo H é chamado o subgrupo de G gerado por S e será denotado por H = hSi . Neste caso, temos a existência de um menor subgrupo de G contendo S. Se S = {a1, a2, . . . , an}, então hSi = ha1, a2, . . . , ani . Se existir um subconjunto finito {a1, a2, . . . , an} de G tal que G = ha1, a2, . . . , ani , dizemos queG é um grupo finitamente gerado e {a1, a2, . . . , an} é um conjunto de geradores de G. Em particular, se H e K são subgrupos de G, então o subgrupo hH ∪Ki = hH,Ki será denotado por H ∨K e chamado de adjunção de H e K. 1.3. SUBGRUPOS 27 Proposição 1.40 SejamG um grupo e S um subconjunto não vazio qualquer de G. Então hSi = {a1a2 · · · an : n ∈ N, ai ∈ S ou a−1i ∈ S}. Em particular, se S = {a}, então hSi = h{a}i = hai = {an : n ∈ Z}. Prova. Seja L = {a1a2 · · · am : m ∈ N, ai ∈ S ou a−1i ∈ S} = {at11 at22 · · · atnn : n ∈ N, ai ∈ S e ti ∈ {−1, 1}} = {at11 at22 · · · atnn : n ∈ N, ai ∈ S e ti ∈ Z}. Então é claro que S ⊆ L e e ∈ L, pois e = aa−1, para todo a ∈ S. Se x, y ∈ L, então existem m,n ∈ N tais que x = a1a2 · · · am, ai ∈ S ou a−1i ∈ S, e y = b1b2 · · · bn, bj ∈ S ou b−1j ∈ S. Logo, xy−1 = a1a2 · · · amb−1n b−1n−1 · · · b−11 , ¡ ai ∈ S ou a−1i ∈ S ¢ e ¡ bj ∈ S ou b−1j ∈ S ¢ . Assim, xy−1 ∈ L. Portanto, L é um subgrupo de G. Finalmente, seja K qualquer subgrupo de G tal que S ⊆ K. Então a1a2 · · · an ∈ K, com n ∈ N, ai ∈ S ou a−1i ∈ S. Logo, L ⊆ K. Portanto, L é o menor subgrupo de G contendo S. Assim, L ⊆ hSi. Como S ⊆ L temos que hSi ⊆ L, isto é, L = hSi. ¥ Corolário 1.41 Sejam G um grupo e S = {Hi}i∈I uma família indexada de subgrupos de G. Então hSi = *[ i∈I Hi + = hHi : i ∈ Ii = {h1h2 · · ·hn : n ∈ N e hj ∈ Hij , para algum ij ∈ I}. Prova. Fica como um exercício. ¥ Sejam G um grupo e S um subconjunto não vazio qualquer de G. Uma expressão da forma at11 a t2 2 · · · atnn , com n ∈ N, ai ∈ S e ti ∈ Z, é chamada uma palavra nos elementos de S. Note que o elemento identidade de G pode ser visto como a palavra a0, para todo a ∈ S. 28 CAPÍTULO 1. GRUPOS Observação 1.42 A Proposição 1.40 pode ser usada como um guia para determinar todos os subgrupos de um grupo finito. Exemplo 1.43 Determine todos os subgrupos de S3. Solução. Sejam S3 = {I, σ, σ2, τ , στ , σ2τ}, com I = à 1 2 3 1 2 3 ! , σ = à 1 2 3 2 3 1 ! , σ2 = à 1 2 3 3 1 2 ! , τ = à 1 2 3 1 3 2 ! , στ = à 1 2 3 2 1 3 ! , σ2τ = à 1 2 3 3 2 1 ! e sua tabela de multiplicação (optativa) ◦ I σ σ2 τ στ σ2τ I I σ σ2 τ στ σ2τ σ σ σ2 I στ σ2τ τ σ2 σ2 I σ σ2τ τ στ τ τ σ2τ στ I σ2 σ στ στ τ σ2τ σ I σ2 σ2τ σ2τ στ τ σ2 σ I Vamos primeiro determinar todos os subgrupos de S3 contendo τ . O menor subgrupo de S3 contendo τ é hτi = {I, τ}, pois τ 2 = I. Vamos escolher ϕ ∈ S3 e determinar hτ , ϕi. Se ϕ = στ , então hτ , στi contém I, τ , στ , (στ) ◦ τ = σ, σ2τ e (σ2τ) ◦ τ = σ2. Portanto, hτ , στi = S3. De modo inteiramente análogo, trabalha com ϕ = σ2τ , ϕ = σ e ϕ = σ2. Assim, os únicos subgrupos de S3 contendo τ são hτi e S3. Continuando dessa maneira, obtemos todos os subgrupos de S3. ¥ Exemplo 1.44 Seja p um número primo fixado. Determine todos os subgrupos do grupo Z(p∞) = ½ a pn + Z ∈ Q Z : a ∈ Z e n ∈ Z+ ¾ = ½ a pn + Z : a ∈ Z , 0 ≤ a < pn e n ∈ Z+ ¾ . Solução. É claro que Cn = ¿ 1 pn + Z À = ½ 0, 1 pn , 2 pn , . . . . pn − 1 pn ¾ , ∀ n ∈ N, 1.3. SUBGRUPOS 29 é um subgrupo próprio de Z(p∞) com |Cn| = pn. Note que Cn ⊆ Cn+1, para todo n ∈ Z+. Reciprocamente, seja H um subgrupo próprio de Z(p∞). Vamos provar primeiro que a pm + Z ∈ H − {Z}, com mdc(a, p) = 1, ⇒ b pn + Z ∈ H, ∀ b ∈ Z, com n ≤ m, ou seja, ½ 0, 1 pn , 2 pn , . . . . pn − 1 pn ¾ ⊆ H. De fato, como mdc(a, p) = 1 temos que existem r, s ∈ Z tais que ar + spm = 1. Logo, para todo b ∈ Z e n ≤ m, obtemos b = b · 1 = abr + bspm ⇒ b pn = bpm−nr a pm + bspm−n. Assim, b pn + Z = bpm−nr µ a pm + Z ¶ ∈ H. Portanto, existe um menor inteiro k ∈ N (H 6= Z(p∞))tal que H = ½ a pm + Z : a ∈ Z e m ≤ k ¾ e H ⊆ Ck, que é o resultado desejado. ¥ Sejam F um conjunto (uma família) parcialmente ordenado e C um subconjunto de F . Dizemos que C é uma cadeia de F se dados A,B ∈ C, então A ≤ B ou B ≤ A. Um elemento M ∈ F é chamado um elemento maximal de F se nenhum dos elementos de F é estritamente maior do que M , em símbolos, ∀ A ∈ F , M ≤ A⇒M = A. Ou, equivalentemente, não existe elemento A ∈ F com M < A. Um elemento A ∈ F é chamado o maior elemento de F se X ≤ A, ∀ X ∈ F . Exemplo 1.45 Seja F = {A1, A2, A3, A4} ordenado pela inclusão, com A1 = {0, 1}, A2 = {1, 2}, A3 = {0, 2} e A4 = {0, 1, 2, 3}. Então A4 é o maior elemento de F. Agora, seja G = {A1, A2, A3, A5}, com A5 = {1, 2, 3}. Então G não contém maior elemento, mas A1, A3 e A5 são elementos maximais de G. Exemplo 1.46 Qualquer conjunto parcialmente ordenado finito possui um elemento ma- ximal. 30 CAPÍTULO 1. GRUPOS Solução. Seja F um conjunto finito. Escolhendo um elemento qualquer A1 de F . Se A1 é um elemento maximal, acabou. Caso contrário, escolhendo um elemento qualquer A2 de F , com A1 ⊆ A2. Continuando assim, obtemos uma cadeia de elementos de F , A1 ⊆ A2 ⊆ · · ·An ⊆ · · · Como F tem um número finito de elementos temos que essa cadeia para, digamos em Ak. Portanto, Ak é um elemento maximal de F . ¥ Exemplo 1.47 Nem todo conjunto parcialmente ordenado possui um elemento maximal. Solução. Sejam An = {0, 1, . . . , n}, para cada n ∈ Z+, e F = {An : n ∈ Z+}. Então F não possui um elemento maximal. De fato, se M ∈ F , então existe n ∈ Z+ tal que M = An e M ⊆ An+1, mas M 6= An+1. ¥ Lema 1.48 (Lema de Zorn) Seja F uma família de conjuntos parcialmente ordenado pela inclusão. Suponhamos que para qualquer cadeia C em F, SA∈C A seja um elemento de F. Então F possui pelo menos um elemento maximal. Sejam G um grupo e M um subgrupo de G. Dizemos que M é um subgrupo maximal de G se M 6= G e se K é um subgrupo de G tal que M ⊆ K ⊆ G, então M = K ou K = G. Por exemplo, se G = {e, a, b, c}, com a2 = b2 = c2 = e, então M = {e, a} é um subgrupo maximal de G. Exemplo 1.49 Seja G um grupo finitamente gerado não trivial. Mostre que G possui um subgrupo maximal. Solução. Sejam G = ha1, a2, . . . , ani e F a família de todos os subgrupos H de G com H 6= G. Então F 6= ∅, pois {e} ∈ F . Dados H,K ∈ F , definimos H ¹ K ⇔ H ⊆ K. Então ¹ é uma relação de ordem parcial sobre F (prove isto!). Seja C = {Hi : i ∈ I} uma cadeia qualquer de F . Então M = [ i∈I Hi é um subgrupo de G. De fato, é claro que M 6= ∅, pois e ∈ Hi, para todo i ∈ I. Dados a, b ∈ M , existem i, j ∈ I tais que a ∈ Hi e b ∈ Hj. Como C é uma cadeia temos que Hi ⊆ Hj ou Hj ⊆ Hi, digamos Hi ⊆ Hj. Logo, a, b ∈ Hj e ab−1 ∈ Hj, pois Hi é um subgrupo de G. Portanto, ab−1 ∈ M e M é um subgrupo de G. É claro que M é uma cota superior de C. Afirmação. M ∈ F . 1.3. SUBGRUPOS 31 De fato, se M = G, então ai ∈ M , i = 1, . . . , n. Logo, existem j1, . . . , jn ∈ I tais que ai ∈ Hji, i = 1, . . . , n. Como C é uma cadeia temos que existe k ∈ I tal que k ≥ sup{j1, . . . , jn}. Logo, ai ∈ Hk, i = 1, . . . , n. Assim, Hk = G, o que é impossível. Finalmente, pelo Lema de Zorn, M é um elemento maximal de F . Portanto, M é um subgrupo maximal de G.¥ EXERCÍCIOS 1. Sejam G um grupo e H um subconjunto não vazio e finito de G. Mostre que H é um subgrupo de G se, somente se, ab ∈ H, para todos a, b ∈ H. 2. Sejam G um grupo e H um subconjunto não vazio de G. Para a, b ∈ G, definimos a ∼ b⇔ a−1b ∈ H. Mostre que ∼ é uma relação de equivalência sobre G se, e somente se, H é um subgrupo de G. 3. Sejam G um grupo. (a) Mostre, para um a ∈ G fixado, que as funções La : G → G definida por La(x) = ax e Ra : G→ G definida por Ra(x) = xa−1 são bijetoras. (b) Mostre que Lab = La ◦ Lb e Rab = Ra ◦Rb, para todos a, b ∈ G. (c) Mostre que La ◦Rb = Rb ◦ La, para todos a, b ∈ G. (d) Mostre que Gl = {La : a ∈ G} é um subgrupo de P (G). (e) Mostre que Gr = {Ra : a ∈ G} é um subgrupo de P (G). 4. Sejam G = GLn(R), H = {A = (aij) ∈ G : aij = 0 se i > j} e L = {A = (aij) ∈ G : aij = 0 se i > j e aii = 1}. Mostre que H e L são subgrupos de G. 5. Seja G um grupo qualquer. (a) Mostre que A Ã[ i∈I Bi ! = S i∈I ABi, ∀ A,Bi ⊆ G. 32 CAPÍTULO 1. GRUPOS (b) Mostre que A Ã\ i∈I Bi ! ⊆ \ i∈I ABi, ∀ A,Bi ⊆ G. 6. Seja H = (" cosh a senh a senh a cosh a # : a ∈ R ) Mostre que H é um subgrupo de GL2(R), chamado de grupo de Lorentz . 7. Seja G um grupo. Mostre que CG(Z(G)) = G. Conclua que NG(Z(G)) = G. 8. Sejam G um grupo e S, T subconjuntos não vazios de G tais que S ⊆ T . Mostre que CG(T ) ⊆ CG(S). 9. Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. (a) Mostre que H é um subgrupo de NG(H). Mostre, com um exemplo, que isto não é necessariamente verdade se H não é um subgrupo de G. (b) Mostre que H é um subgrupo de CG(H) se, e somente se, H é um grupo abeliano. 10. Sejam G um grupo, H um subgrupo de G e S subconjunto não vazio de G. Mostre que NH(S) = NG(S) ∩H. Conclua que NH(S) é um subgrupo de H. 11. Sejam G um grupo e n ∈ N com n ≥ 2. Sejam Hn = {a ∈ G : an = e} e Hn = {an : a ∈ G}. Mostre que se G é um grupo abeliano, entãoHn e Hn são subgrupos de G. Mostre que esta afirmação é falsa se G não é um grupo abeliano. 12. Sejam G um grupo qualquer e H = {x1 · · ·xnxn · · ·x1 : com n ∈ N e xi ∈ G}. Mostre que H é um subgrupo de G. 13. Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. Mostre que hHi = H. 14. Sejam G um grupo e S, T subconjuntos não vazios de G com S ⊆ T . Mostre que hSi é um subgrupo de hT i. Mostre, com um exemplo, que hSi = hT i, com S ⊆ T e S 6= T . 15. Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. Mostre que hH − {e}i = H. 1.3. SUBGRUPOS 33 16. Determine explicitamente os seguintes subgrupos de GL2(R) H = *" 1 0 1 1 #+ e K = *" 1 1 0 1 #+ . 17. Sejam G um grupo e H, K subgrupos de G. Mostre que HK é um subgrupo de G se, e somente se, HK = KH. Neste caso, HK = hH ∪ Ki. Mostre, com um exemplo, que HK não é necessariamente um subgrupo de G. (Sugestão: Confira o Exercício acima) 18. Sejam G um grupo e H, K, L subgrupos de G. Mostre que se H ⊆ L, então (HK) ∩ L = H(K ∩ L). Conclua que se G = HK, então L = H(K ∩ L). 19. Sejam G um grupo abeliano e H, K subgrupos de G. Mostre que H ∨K = {ab : a ∈ H e b ∈ K}. Estenda esse resultado para qualquer número finito de subgrupos de G. 20. Sejam G um grupo e H, K subgrupos de G. Mostre que H ∪K é um subgrupo de G se, e somente se, H ⊆ K ou K ⊆ H. 21. Sejam G um grupo e {Hi}i∈I uma família indexada de subgrupos de G. Determine condições necessárias e suficientes para que K = [ i∈I Hi seja um subgrupo de G. (Sugestão: Se G é um grupo ordenado pela inclusão, então dados H e K subgrupos de G, existe um subgrupo L de G tal que H ⊆ L e K ⊆ L.) 22. Sejam G um grupo e F a família de todos os subgrupos de G. Dados H,K ∈ F , definimos H ¹ K ⇔ H ⊆ K. Mostre que ¹ é uma ordem parcial sobre F , supF = *[ H∈F H + e inf F = \ H∈F H, isto é, F é um reticulado completo. 23. Sejam G um grupo e H, K subgrupos próprios de G. Mostre que existe a ∈ G tal que a /∈ H ∪K. 34 CAPÍTULO 1. GRUPOS 24. Sejam G um grupo e H um subgrupo próprio de G. Mostre que hG−Hi = G. 25. Determine o grupo Q8 gerado pelas matrizes A = " 0 1 −1 0 # e B = " i 0 0 −i # , com i2 = −1. (Sugestão: Note que A4 = B4 = I2 e BA = A3B. Logo, qualquer elemento de Q8 é da forma AmBn.) 26. Determine o grupo D4 gerado pelas matrizes C = " 0 1 −1 0 # e D = " 0 1 1 0 # , 27. Sejam G um grupo e H = {a ∈ G : a = a−1}. Mostre que se G é grupo abeliano, então H é subgrupo de G. Determine um grupo G tal que H não seja um subgrupo de G. 28. Sejam {Gi}i∈I uma família indexadade grupos e G = Q i∈I Gi o produto direto externo dos Gi. Mostre que o conjuntoX i∈I Gi = {(ai)i∈I ∈ G : ai = eGi , para todos exceto um número finito de i ∈ I} é um subgrupo de G, chamado a soma direta externa dos Gi. 29. Sejam G um grupo e σ : G→ S uma função arbitrária. Mostre que H = {p ∈ G : σ(xp) = σ(x), para todo x ∈ G} é um subgrupo de G. 30. Determine um conjunto S tão pequeno quanto possível tal que Z× Z = hSi. 31. Sejam G um grupo e a, b ∈ G. Mostre que CG(aba−1) = aCG(b)a−1. 32. Sejam G um grupo e a, b ∈ G. (a) Mostre que ab e ba são conjugados. (b) Mostre que se ab ∈ Z(G), então ab = ba. 33. Seja G um grupo. (a) Mostre que a função κa : G → G definida por κa(x) = axa−1 é bijetora, para todo a ∈ G. 1.4. GRUPOS CÍCLICOS 35 (b) Mostre que κab = κa ◦ κb, para todos a, b ∈ G. 34. Sejam G um grupo finito e S um subconjunto de G com mais da metade dos ele- mentos de G. Mostre que cada a ∈ G pode ser escrito sob a forma a = st, com s, t ∈ S. (Sugestão: Mostre que xS−1 ∩ S 6= ∅, para todo x ∈ G.) 35. Sejam G um grupo e H subgrupo de G. Mostre que G −H é finito se, e somente se, G é finito ou G = H. 36. Sejam {Gi}i∈I uma família indexada de grupos e G = Q i∈I Gi o produto direto externo dos Gi. Mostre que Z(G) = Y i∈I Z(Gi). 37. Seja S um conjunto não vazio qualquer. Mostre que o conjunto G = 2S de todos os subconjuntos de S munido com a operação binária A4B = (A−B) ∪ (B −A) = A ∪B − (A ∩B), ∀ A,B ∈ G, é um grupo abeliano. 38. Mostre que o conjunto G = {(x, y) ∈ Q : x2 + y2 = 1} munido da operação binária (x, y) ∗ (z, w) = (xz − yw, xw + yz) é um subgrupo de R2. Mostre que se x, y ∈ [0, 1], com x < y, então existe r ∈ Q tal que x < 1− r2 1 + r2 < y. 39. Seja G um grupo não abeliano qualquer. Mostre que G contém um subgrupo abeliano maximal. (Sugestão: Use o Lema de Zorn.) 1.4 Grupos Cíclicos Seja G um grupo. Dizemos que G é grupo cíclico se existir a ∈ G tal que G = hai, isto é, G = {at11 · · · atnn : n ∈ N, ai ∈ {a} e ti ∈ {−1, 1}} = {at1 · · · atn : n ∈ N e ti ∈ {−1, 1}} = {a Sn i=1 ti : n ∈ N e ti ∈ {−1, 1}} = {am : m ∈ Z}. 36 CAPÍTULO 1. GRUPOS Observação 1.50 Um grupo cíclico tem pelo menos dois geradores, a saber, a e a−1, pois a−n = (a−1)n, ∀ n ∈ Z. Além disso, G = hai é um grupo abeliano, pois se x, y ∈ G, então existem m,n ∈ Z tais que x = am e y = an. Logo, xy = aman = am+n = an+m = anam = yx. Para finalizar, se a operação binária sobre G for denotada aditivamente, então G = {ma : m ∈ Z}. Exemplo 1.51 Mostre que o grupo aditivo dos números inteiros Z é cíclico. Solução. É claro que h1i = {n · 1 : n ∈ Z} ⊆ Z. Dado n ∈ Z, temos, pela Lei da Tricotomia, que n > 0 ou n = 0 ou n < 0. Se n > 0, então n = 1 + 1 + · · ·+ 1 n parcelas = n · 1⇒ n ∈ h1i . Se n = 0, então n = 0 = 0 · 1 ∈ h1i . Se n < 0, então m = −n > 0. Logo, m = −n ∈ h1i⇒ n ∈ h1i . Portanto, Z ⊆ h1i = h−1i , isto é, Z é um grupo cíclico. ¥ Exemplo 1.52 Mostre que o grupo aditivo dos números racionais Q não é cíclico. Solução. Suponhamos, por absurdo, que Q seja cíclico. Então existe r = mn ∈ Q∗ tal que Q = hri. Como s = 1pn ∈ Q, com p um número primo, temos que existe k ∈ Z tal que s = kr. Logo, s = kr⇔ 1 pn = k m n ⇔ p(km) = 1⇒ p | 1, o que é uma contradição. Portanto, Q não é um grupo cíclico. ¥ Sejam G um grupo e a ∈ G. Definimos a ordem do elemento a como sendo a ordem do subgrupo cíclico gerado por a de G e será denotada por |a| = |hai|. 1.4. GRUPOS CÍCLICOS 37 Proposição 1.53 Sejam G um grupo e a ∈ G. Se |a| é finita, então |a| é igual ao menor inteiro positivo k tal que ak = e. Neste caso, o subgrupo gerado por a é hai = {e, a, . . . , ak−1}. Prova. Como hai = {an : n ∈ Z} é finito temos que existem m,n ∈ Z, com n > m, tais que am = an. Sendo a−m ∈ G, obtemos an−m = ana−m = ama−m = am−m = a0 = e. Logo, S = {n ∈ N : an = e} 6= ∅. Assim, pelo Princípio da Boa Ordenação, S contém um menor elemento, digamos k ∈ S. Donde ak = e. Afirmação. Os elementos e, a, . . . , ak−1 são todos distintos. De fato, se ar = as, com 0 ≤ r < s < k, então as−r = asa−r = ara−r = a0 = e, o que contradiz a minimalidade de k, pois 0 < s− r < k. É claro que {e, a, . . . , ak−1} ⊆ hai . Por outro lado, dado b ∈ hai, existe m ∈ Z tal que b = am. Assim, pelo Algoritmo da Divisão, existem únicos q, r ∈ Z tais que m = qk + r, com 0 ≤ r < k. Logo, b = am = aqk+r = ¡ ak ¢q ar = eqar = ar ∈ {e, a, . . . , ak−1}. Portanto, hai ⊆ {e, a, . . . , ak−1}, que é o resultado desejado. ¥ Proposição 1.54 Sejam G um grupo e a ∈ G. Se |a| é infinita, então an 6= e, para todo n ∈ Z∗ e am 6= an, para todos m, n ∈ Z, comm 6= n. Em particular, os subgrupos próprios de hai estão em corresponência biunívoca com os números 1, 2, . . ., pois ak® = a|k|®, para todo k ∈ Z, e a função ϕ : N→ hai definida por ϕ(k) = ak® é bijetora. Prova. Basta verificar que a função χ : Z −→ G definida por χ(n) = an é injetora. ¥ Teorema 1.55 Seja G um grupo cíclico. Então todo subgrupo de G é cíclico. 38 CAPÍTULO 1. GRUPOS Prova. Sejam G = hai e H um subgrupo de G. Se H = {e}, então H = hei. Se H 6= {e}, então existe m ∈ Z tal que am ∈ H e a−m ∈ H, pois H é um subgrupo de G. Logo, S = {n ∈ N : an ∈ H} 6= ∅. Assim, pelo Princípio da Boa Ordenação, S contém um menor elemento, digamos k ∈ S. Donde ak ∈ H. Afirmação. H = ak ® . De fato, é claro que ak ® ⊆ H, pois H é um subgrupo de G. Por outro lado, dado b ∈ H, existe m ∈ Z tal que b = am. Logo, pelo Algoritmo da Divisão, existem únicos q, r ∈ Z tais que m = qk + r, com 0 ≤ r < k. Se r > 0, então ar = am−qk = ama−qk = am ¡ ak ¢−q = b ¡ ak ¢−q ∈ H, o que contradiz a minimalidade de k. Assim, r = 0 e b = am = akq = ¡ ak ¢q ∈ ak® . Portanto, H ⊆ ak ® . ¥ Observação 1.56 Note que se G = hai e H é um subgrupo de G com H 6= {e}, então H = ak ® , com k o menor inteiro positivo tal que ak ∈ H. Exemplo 1.57 Determine todos os subgrupos do grupo G = Z2 = Z × Z. Conclua que G contém subgrupos diferentes de mZ× nZ. Solução. Seja H um subgrupo qualquer de G. Então K = {a ∈ Z : (a, b) ∈ H, para algum b ∈ Z} e L = {b ∈ Z : (0, b) ∈ H} são subgrupos cíclicos de Z (prove isto!). Logo, existem a0, b1 ∈ Z tais que K = ha0i e L = hb1i . Assim, pela definição de K, podemos encontrar b0 ∈ Z tal que x0 = (a0, b0) ∈ H. Afirmação. H = hx0, x1i, com x1 = (0, b1) ∈ H. De fato, dado x = (a, b) ∈ H, então a ∈ K, de modo que a = ma0, para algum m ∈ Z. Assim, x−mx0 = (0, b−mb0) ∈ H ⇒ b−mb0 ∈ L. Logo, b−mb0 = nb1, para algum n ∈ Z. Portanto, x = (a, b) = (ma0,mb0 + nb1) = mx0 + nx1, isto é, H = hx0, x1i. ¥ 1.4. GRUPOS CÍCLICOS 39 Proposição 1.58 Seja G um grupo. Então: 1. Se a ∈ G tem ordem finita m > 0, então an = e se, e somente se, m divide n. 2. Se G = hai é um grupo cíclico de ordem finita m > 0, então G = ak® se, e somente se, mdc(m, k) = 1. 3. Se G = hai é um grupo cíclico de ordem finita m > 0, então para cada d ∈ N tal que d divide m existe um único subgrupo H de G com ordem d. Neste caso, H = ak ® , com m = dk. Em particular, o número de subgrupos distintos de G é igual ao número de divisores distintos de m, pois hani = amdc(m,n)®, para todo n ∈ Z, e a função ϕ : D(m) → Sub(G) definida por ϕ(d) = ak ® é bijetora, com D(m) o conjunto de todos os divisores positivos de m e Sub(G) o conjunto de todos os subgrupos de G. Prova. Vamos provar apenas os itens (2) e (3). (2) Suponhamos que G = ak ® . Como a ∈ G temos que existe r ∈ Z tal que a = (ak)r = akr. Logo, akr−1 = akra−1 = aa−1 = e. Assim, pelo item (1), kr − 1 = sm, para algum s ∈ Z. Portanto, kr + (−s)m = 1, isto é, mdc(m, k) = 1. Reciprocamente, suponhamos que mdc(m, k) = 1. Então existem r, s ∈ Z tais que kr + sm = 1.Logo, a = a1 = akr+sm = akrasm = (ak)r(am)s = (ak)r ∈ ak ® . Portanto, G ⊆ ak ® , ou seja, G = ak ® . (3) Se m = kd, então H = ak ® tem ordem d = mk . De fato, seja l = |H|. Então akl = ¡ ak ¢l = e⇒ m | kl⇒ kd | kl⇒ d | l⇒ d ≤ l. Por outro lado, e = am = akd = ¡ ak ¢d ⇒ l | d⇒ l ≤ d. Portanto, l = d. Finalmente, seja K um subgrupo qualquer de G de ordem d. Então, pelo Teorema 1.55, K = hani, para algum n ∈ Z. Logo, e = (an)d = and ⇒ m | nd⇒ kd | nd⇒ k | n. Assim, existe r ∈ Z tal que n = rk. Portanto, an = ark = ¡ ak ¢r ∈ H, isto é, K ⊆ H. Como |H| = |K| e K ⊆ H temos que H = K. ¥ 40 CAPÍTULO 1. GRUPOS Exemplo 1.59 Sejam G um grupo abeliano e a, b ∈ G com ordens m e n, respectiva- mente. 1. Mostre que existe um elemento de ordem k = mmc(m,n). 2. Mostre que se a ordem maximal dos elementos de G é igual a N , então aN = e, para todo a ∈ G. Solução. (1) Vamos dividir a prova em dois casos: 1.o Caso. mdc(m,n) = 1 e k = mn. Sejam c = ab e |c| = l. Então cl = (ab)l = albl = e⇒ al = b−l. Logo, aln = (al)n = (b−l)n = (bn)−l = e−l = e⇒ m | nl. Assim, pelo Lema de Euclides, m divide l. De modo inteiramente análogo prova-se que n divide l. Portanto, k divide l, isto é, k ≤ l. Por outro lado, como ck = (ab)k = akbk = (am)n(bn)m = enem = e temos que l divide k, isto é, l ≤ k. Portanto, k = l e |c| = k. 2.o Caso. mdc(m,n) > 1. Seja {p1, . . . , pr} o conjunto de números primos ocorrendo na decomposição de m e n, respectivamente. Então m = pm11 · · · pmrr e n = pn11 · · · pnrr , com mi, ni ∈ Z+. Logo, k = pk11 · · · pkrr , com ki = max{mi, ni}, i = 1, . . . , r. Sejam d = pd11 · · · pdrr e e = pe11 · · · perr , com di = ( mi, se mi ≤ ni 0, se mi > ni e ei = ( 0, se mi ≤ ni ni, se mi > ni. Então d divide m e e divide n. Logo, ad e be têm ordens md e n e , respectivamente (prove isto!). Como (mi− di = 0 ou ni− ei = 0) e (md e n e ) não têm fatores primos comum temos que mdc( m d , n e ) = 1. Logo, pelo primeiro caso, c = adbe tem ordem m d n e = mn de = mmc(m,n) = k, pois ki = max{mi, ni} = (mi + ni)− (di + ei). Portanto, em qualquer caso, G contém um elemento de ordem k = mmc(m,n). 1.4. GRUPOS CÍCLICOS 41 (2) Seja a um elemento de G com |a| = N . Para um b ∈ G fixado, com |b| = k, obte- mos, pelo item (1), um elemento de ordem mmc(k,N) ≥ N . Assim, pela maximalidade de N , temos que N = mmc(k,N). Como k divide N temos que existe r ∈ Z tal que N = kr. Logo, bN = bkr = (bk)r = er = e. Portanto, cN = e, para todo c ∈ G. ¥ EXERCÍCIOS 1. Mostre que todo subgrupo H do grupo aditivo dos números inteiros Z é da forma H = nZ = {na : a ∈ Z} = hni , para algum n ∈ Z+. Conclua que a função ϕ : Z+ → Sub(Z) definida por ϕ(n) = hni é bijetora, com Sub(Z) o conjunto de todos os subgrupos de Z. 2. Mostre que Zn é um grupo cíclico, para todo n ∈ N. 3. Determine todos os subgrupos de Z45. 4. Sejam G um grupo e a ∈ G de ordem finita m > 0. (a) Mostre que ar = as se, e somente se, r ≡ s (modm). (b) Mostre que ¯¯ ak ¯¯ = mk , para cada k ∈ N tal que k divide m. (c) Mostre que ak e a−k têm ordem m mdc(k,m) = mmc(k,m) k . 5. Seja G um grupo. Mostre que G não possui subgrupos próprios se, e somente se, G é um grupo cíclico finito de ordem um número primo p. 6. Sejam G um grupo finito e a ∈ G. Mostre que se |a| = |G|, então G é um grupo cíclico. Mostre, com um exemplo, que o resultado não é necessariamente verdade se G é um grupo infinito. 7. Seja G um grupo abeliano de ordem pq, com mdc(p, q) = 1. Mostre que se existem a, b ∈ G tais que |a| = p e |b| = q, então G é um grupo cíclico. 8. Seja G um grupo abeliano. Mostre que se G é gerado por um número finito de elementos de ordem finita, então G é finito. 42 CAPÍTULO 1. GRUPOS 9. Seja G um grupo. Mostre que se G possui somente um número finito de subgrupos, então G é finito. 10. Sejam m,n ∈ Z∗ e H = {rm + ns : r, s ∈ Z}. Mostre que H é um subgrupo do grupo aditivo dos números inteiros Z. Conclua que existe um menor inteiro positivo d tal que H = hdi e d = mdc(m,n). 11. Sejam G um grupo finito e a um elemento de G de ordem n. Mostre que se n é um número ímpar, então a = (a2)k, para algum k ∈ Z. 12. Sejam G, H grupos e x = (a, e), y = (e, b) ∈ G × H. Mostre que xy = yx e que |(a, b)| = mmc(|a| , |b|). 13. Seja m,n ∈ Z∗. (a) Mostre que m divide n se, e somente se, hni = nZ ⊆ mZ = hmi. (b) Mostre que m divide n se, e somente se, Zm ⊆ Zn. 14. Sejam G um grupo e a, b ∈ G fixados. (a) Mostre que |b| = |aba−1|. (b) Mostre que |ab| = |ba|. (c) Mostre que se |a| = m, então ¯¯ak ¯¯ = ¯¯am−k ¯¯, para todo k ∈ Z. (d) Mostre que se |a| = 5 e a3b = ba3, então ab = ba. 15. Sejam G um grupo e k ∈ N com k > 1. Mostre que se a ∈ G é o único elemento tal que |a| = k, então a ∈ Z(G) e k = 2. 16. Sejam G um grupo e a, b, c ∈ G fixados. (a) Mostre que ab2a−1 = ba, então a = b. (b) Mostre que se |a| = 2 e ab2a−1 = b3, então |b| = 5. (c) Mostre que se |a| = 5 e aba−1 = b2, então |b| = 31. (d) Mostre que se ab2a−1 = b3 e ba2b−1 = a3, então a = e = b. (e) Mostre que se a−1ba = b2, b−1cb = c2 e c−1ac = a2, então a = b = c = e. (Sugestão: (d) Mostre que b9 = a2b4a−2 e b9 = a3b4a−3.) 17. Sejam G um grupo e a, b ∈ G fixados. Mostre que se |a| = m, |b| = n e ab = ba, então pode ocorrer que |ab| < mmc(m,n). (Sugestão: Escolha a 6= e e b = a−2.) 1.4. GRUPOS CÍCLICOS 43 18. Seja G um grupo. Mostre que se existe n ∈ N tal que anbn = bnan, para todos a, b ∈ G, então o conjunto H = {b ∈ G : mdc(|b| , n) = 1} é um subgrupo abeliano de G. 19. Sejam G = GL2(R) e A = " 1 0 0 −1 # , B = " 1 1 0 −1 # , C = " 0 −1 1 0 # , D = " 0 1 −1 −1 # ∈ G. Calcule |A|, |B|, |C|, |D|, |AB| e |CD|. 20. Sejam G = Z2 × Z e a = (0, 1), b = (1,−1) ∈ G. Determine |a|, |b| e |ab|. 21. Sejam G = GL2(R) e A = " 0 1 1 0 # ,B = " 0 2 1 2 0 # ∈ G. Calcule |A|, |B| e |AB|. Conclua que hA,Bi é um grupo infinito. 22. Seja G um grupo abeliano. Mostre que o conjunto T (G) = {a ∈ G : |a| <∞} é um subgrupo de G, chamado o subgrupo de torção de G. Mostre, com um exemplo, que o resultado não é necessariamente verdade se G não é um grupo abeliano. 23. Mostre que os seguintes grupos não são cíclicos: (a) G = Z2 × Z2. (b) G = Z2 × Z. (c) G = Z× Z. 24. Sejam G um grupo, p ∈ N um número primo e n ∈ Z+. Mostre que se a ∈ G é tal que apn = e, então |a| = pm, para algum m ≤ n. 25. Sejam p, n ∈ N com p um número primo ímpar. Use o Teorema Binomial para provar que (1 + p)p n−1 ≡ 1 (mod pn) mas (1 + p)pn−2 6≡ 1 (mod pn). Conclua que |(1 + p)| = pn−1 no grupo multiplicativo Z•pn. 26. Seja n ∈ N com n ≥ 3. Use o Teorema Binomial para provar que (1 + 22)2 n−2 ≡ 1 (mod 2n) mas (1 + 22)pn−3 6≡ 1 (mod 2n). Conclua que |5| = 2n−2 no grupo multiplicativo Z•2n. 44 CAPÍTULO 1. GRUPOS 27. Seja n ∈ N com n ≥ 3. Mostre que o grupo multiplicativo Z•2n não é um grupo cíclico. (Sugestão: Mostre que Z•2n contém dois subgrupos distintos de ordem 2.) 28. Seja G um grupo finito de ordem n. Mostre que se mdc(k, n) = 1, então a função ϕ : G→ G definida por ϕ(a) = ak é bijetora. Mostre, com um exemplo, que ϕ não é necessariamente bijetora se mdc(k, n) 6= 1. 29. Sejam G um grupo e a ∈ G. (a) Mostre que CG(hai) = CG(a). (b) Mostre que hai é um subgrupo de NG(hai). Mostre, com um exemplo, que hai não é necessariamente igual a NG(hai). 30. Sejam G um grupo finito e a ∈ G. (a) Mostre que se b ∈ NG(hai), então bab−1 = am, para algum m ∈ Z. (b) Mostre que se bab−1 = am, para algum m ∈ Z, então b ∈ NG(hai). (Sugestão: (b) Como bakb−1 = (bab−1)k = amk, para todo k ∈ Z, temos que bhaib−1 é um subgrupo de hai. Agora, mostre que se |a| = n, então e, bab−1, . . . , ban−1b−1 são todos distintos.) 31. SejamG um grupo e H um subgrupo de G. Mostre que o conjunto Qua(H) = {a ∈ G : Ka = K, para todo subgrupo K de H} é um subgrupo do NG(H), chamado o quasicentralizador de H em G. Conclua que se G é um grupo finito, então Qua(H) = {a ∈ G : ha = hn, ∀ h ∈ H e para algum n ∈ Z}. 32. Sejam G um grupo cíclico finito de ordem n e k ∈ Z tal que mdc(k, n) = 1. Mostre que se a, b ∈ G e ak = bk, então a = b. Mostre, com um exemplo, que existem um m ∈ Z e um grupo tais que am = bm, mas a 6= b. 33. Sejam G um grupo e H, K subgrupos de G com K = aHa−1, para todo a ∈ G. Mostre que se L é um subgrupo cíclico de G tal que H,K ⊆ L, então H = K. 34. Sejam G um grupo e {Hi}i∈N uma família de subgrupos de G tais que Hn ⊂ Hn+1, para todo n ∈ N. Mostre que H = [ n∈N Hn não é um grupo cíclico. 1.4. GRUPOS CÍCLICOS 45 35. Mostre que o grupo aditivo dos números racionais Q possui subgrupos não cíclicos. (Sugestão: Considere o subgrupo H = hSi, com S = ½ 1 2n : n ∈ N ¾ . Então H = [ n∈Z+ Hn e Hn = ¿ 1 2n À .) 36. Determine todos os subgrupos do grupo aditivo dos números racionais Q (Muito difícil). 37. Mostre que o grupo multiplicativo dos números racionais Q∗ é gerado pelo conjunto S = ½ 1 p : p é um número primo ¾ . 38. Mostre que cada subgrupo finitamente gerado do grupo aditivo dos números racionais Q é um grupo cíclico. 39. (Existência de grupos finitos de qualquer ordem) Sejam n ∈ N fixado e Un = {z ∈ C∗ : zn = 1}. (a) Mostre que Un é um subgrupo cíclico de C∗. (b) Mostre que se m divide n, então Um é um subgrupo de Un. (c) Seja U o grupo de todas as raízes da unidade em C, isto é, U = {z ∈ C∗ : zn = 1, para algum n ∈ Z+}. Mostre que U = [ n∈Z+ Un. 40. Sejam p um número primo, Z = {z ∈ C∗ : zpn = 1, para algum n ∈ Z+} e Ck = {z ∈ Z : zpk = 1}, ∀ k ∈ Z+. (a) Mostre que Ck é um subgrupo de Cm se, e somente se, k ≤ m. (b) Mostre que Ck é um subgrupo cíclico de Z e C0 = {1} ≤ C1 ≤ C2 ≤ · · · ≤ Cn ≤ · · · . (c) Mostre que cada subgrupo próprio de Z é igual a Ck, para algum k ∈ Z+. 46 CAPÍTULO 1. GRUPOS (d) Mostre que Z = [ n∈Z+ Cn e que Z não é um grupo finitamente gerado. 41. Sejam p um número primo fixado e H um subgrupo de Z(p∞). (a) Mostre que Z(p∞) é gerado pelo conjunto S = ½ 1 pn = 1 pn + Z : n ∈ N ¾ . (b) Mostre que todo elemento de Z(p∞) tem ordem finita pk, para algum k ∈ Z+. (c) Mostre que se pelo menos um elemento deH tem ordem pm e nenhum elemento de H tem ordem maior do que pm, então H é igual ao subgrupo cíclico gerado pela classe de equivalência 1 pm = 1 pm + Z. (d) Mostre que se não existir cota superior nas ordens dos elementos de H, então H = Z(p∞). (e) Mostre que os únicos subgrupos próprios de Z(p∞) são os subgrupos cíclicos finito Cn = ¿ 1 pn À , ∀ n ∈ N. Conclua que C0 = {0} ≤ C1 ≤ C2 ≤ · · · ≤ Cn ≤ · · · e Z(p∞) = [ n∈Z+ Cn. 42. Mostre que o grupo aditivo dos números racionais Q é a união de uma sequência crescente de grupos cíclicos infinto. (Sugestão: Considere os subgrupos Cn = ¿ 1 n! À , ∀ n ∈ N.) Conclua que Q não é cíclico. 43. Seja G um grupo abeliano. Dizemos que G é um grupo divisível se para cada a ∈ G e cada n ∈ Z∗ existir x ∈ G tal que xn = a, isto é, a função ϕ : G→ G definida por ϕ(x) = xn é sobrejetora, para cada n ∈ Z∗. (a) Mostre que o grupo aditivo dos números racionais Q é um grupo divisível. (b) Mostre que nenhum grupo abeliano não trivial finito é um grupo divisível. (c) Mostre que Z(p∞) é um grupo divisível. 1.5. GRUPOS DIEDRAIS E ALTERNADOS 47 44. Seja G um grupo abeliano. Mostre que G é um grupo divisível tal que todo elemento de G∗ tenha ordem infinita (livre de torção) se, e somente se, G é um espaço vetorial sobre Q. 45. Sejam G e K grupos abelianos não triviais. Mostre que G×K é um grupo divisível se, e somente se, G e K também o são. 46. Mostre que o grupo aditivo dos números racionais Q não possui subgrupos próprios divisíveis. 1.5 Grupos Diedrais e Alternados Sejam A = (x1, . . . , xn), B = (y1, . . . , yn) ∈ Rn. A distância (Euclidiana) entre A e B é dada por d(A,B) = kA−Bk = p (x1 − y1)2 + · · ·+ (xn − yn)2. Uma isometria de Rn é uma função σ : Rn −→ Rn que preserva distância e é bijetora, isto é, kσ(A)− σ(B)k = kA−Bk , ∀ A,B ∈ Rn e σ(Rn) = Rn. Vamos denotar o conjunto de todas as isometrias de Rn por Isom(Rn). Proposição 1.60 Isom(Rn) é um subgrupo de P (Rn), o grupo de permutações de Rn, chamado o grupo Euclidiano de Rn. Prova. É claro que I ∈ Isom(Rn). Sejam σ, τ ∈ Isom(Rn). Então σ ◦ τ ∈ P (Rn) e k(σ ◦ τ)(A)− (σ ◦ τ)(B)k = kσ(τ(A))− σ(τ(B))k = kτ(A)− τ(B)k = kA−Bk , ∀ A,B ∈ Rn. Assim, σ ◦ τ ∈ Isom(Rn). Finalmente, se σ ∈ Isom(Rn), então σ−1 ∈ P (Rn). Assim,°°σ−1(A)− σ−1(B)°° = °°σ(σ−1(A))− σ(σ−1(B))°° = kA−Bk , ∀ A,B ∈ Rn. Logo, σ−1 ∈ Isom(Rn). Portanto, Isom(Rn) é um subgrupo de P (Rn). ¥ Exemplo 1.61 Seja G = Isom(R). 1. Mostre que se σ, τ ∈ G, com σ(a) = τ(a) e σ(b) = τ(b), para todos a, b ∈ R distintos, então σ = τ , ou seja, se σ fixas dois pontos distintos, então σ = I. 2. Mostre que G = {σ : R→ R : σ(x) = mx+ b, m ∈ {−1, 1} e b = σ(0)} . Em particular, G = hr, ti, com r(x) = −x uma reflexão na origem e t(x) = x + b uma translação. 48 CAPÍTULO 1. GRUPOS Solução. (1) Seja c um elemento qualquer de R. Então |c− a| = |τ(c)− τ(a)| = |τ(c)− σ(a)| = ¯¯σ−1τ(c)− a¯¯ . Logo, σ−1τ(c)− a = ±(c− a). Suponhamos, por absurdo, que σ−1τ(c) 6= c. Se σ−1τ(c)− a = c− a, então σ−1τ(c) = c, o que é uma contradição. Assim, σ−1τ(c) − a = −c + a, isto é, σ−1τ(c) = −c + 2a. De modo inteiramente análogo, obtemos σ−1τ(c) = −c+ 2b. Logo, 2a = 2b, ou seja, a = b, o que é uma contradição. Portanto, σ−1τ(c) = c e σ−1τ = I, pois c é arbitrário. Portanto, σ = τ . (2) É claro que a função σ : R → R definida por σ(x) = mx + b, com m ∈ {−1, 1} e b = σ(0), é uma isometria de R. Portanto, {σ : R→ R : σ(x) = mx+ b, m ∈ {−1, 1} e b = σ(0)} ⊆ G. Por outro lado, seja σ ∈ G e suponhamos que σ(0) = b. Então 1 = |1− 0| = |σ(1)− σ(0)| = |σ(1)− b| . Logo, σ(1) = b± 1. Assim, há dois casos a ser considerado: 1.o Caso. Se σ(1) = b + 1. Seja τ : R → R definida por τ(x) = x + b. Então τ ∈ G. Logo, σ(0) = τ(0) e σ(1) = τ(1). Assim, pelo item (1), σ = τ 2.o Caso. Se σ(1) = b− 1. Seja τ : R→ R definida por τ(x) = −x+ b. Então τ ∈ G. Logo, σ(0) = τ(0) e σ(1) = τ(1). Assim, pelo item (1), σ = τ . Portanto, em qualquer caso, σ(x) = mx+ b, com m ∈ {−1, 1} e b = σ(0). ¥ Exemplo 1.62 Seja G = Isom(R2). 1. Mostre que se σ ∈ G fixa dois pontos distintos A e B em R2, então σ fixa todo os pontos da reta suporte de A e B, isto é, σ = I ou σ é uma reflexão. 2. Mostre que se σ ∈ G fixa três pontos não colineares A, B e C em R2, então σ = I é a identidade. 3. Mostre que existe no máximo um elemento σ ∈ G tal que σ(A) = A0, σ(B) = B0 e σ(C) = C 0, com ABC e A0B0C 0 triângulos congruentes em R2. 4. Mostre que cada elemento de G pode ser escrito como a composição de uma reflexão, uma rotação e uma translação. Solução. (1) Seja P um ponto qualquer de R2. Então kA− Pk = kA− σ(P )k e kB − Pk = kB − σ(P )k . 1.5. GRUPOS DIEDRAIS E ALTERNADOS 49 Logo, σ(P ) = P ou (τ ◦ σ)(P ) = P , com τ uma reflexão com eixo a reta suporte de A e B. Portanto, σ = I ou σ = τ . (2) Se σ ∈ G fixa três pontos não colineares A, B e C em R2, então pelo item (1) σ fixa a reta suporte de A e B. Logo, σ é a identidade I ou σ é uma reflexão τ com eixo a reta suporte de A e B. Como τ(C) 6= C temos que σ = I. (3) Primeiro observe que se A e B são pontos quaisquer em R2, então existe t ∈ G tal que t(A) = B. De fato, sejam t−A e tB translações em R2. Então t = tB ◦ t−A tem a propriedade desejada, pois t(A) = (tB ◦ t−A)(A) = tB(O) = B. Como kA0 −B0k = kA−Bk = kt(A)− t(B)k = kA0 − t(B)k temos que B0 e t(B)
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