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Nutrição de Cães e Gatos

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NUTRI ÇAO
DO CAO E DO GATO
UM MANUAL PARA ESTUDANTES,
VETERINARIOS, CRIADORES E
PROPRIET ARIOS
MANUEL GUILHERME RAM06-
'__h' .. -----
Editor:
A.T.B. EDNEY
<IJ
EDITORA MANOLE
1987
PREF ÁCIO
Dos muitos livros existentessobre nutrição,
poucossão específicospara os animaisde esti-
mação.Isto é surpreendente,já que,somenteno
Reino Unido, existemcercade 10 milhõesde
cãese gatos.Em todoo mundoocidental,a po-
pulaçãode cãese gatosé da ordemde 150mi-
lhões,sendoque,virtualmente,todoselestêmde
ser alimentadosdiariamente.
B difícil compreendra nutriçãopor escrito;é
óbvia a naturezapráticado assunto.Muito do
quetemosdisponívelé bastanteimpreciso,e, em
algunscasos,apresentaum liberal componente
folclórico.As informaçõesmaisprecisastendem
a sermenosacessíveisparaos leitoresem geral.
Parecehavera necessidadeda orientaçãoprática
de um texto,sobretudocompreensível,sobrea
nutriçãodos cãese dos gatos.Este livro tem a
intençãode proporcionartal trabalhopara os
estudantesde veterinária,os tratadoresde ani-
mais,os criadoresdecãesede gatos,e a todasas
pessoasque têminteressemaisprofundona ali-
mentaçãode seusanimais.
O livro estáestruturadode maneiraqueo lei-
tor possaprogredirdo entendimentodas neces-
sidadesnutricionaisdos cãese gatos,atéos ali-
mentosusadosparasuprir essasnecessidades.A
partecentralé dedicadaà alimentaçãoem cir-
cunstânciasespeciais,taiscomo,no trabalhope-
sado,noestresse,edosfilhotesórfãoseemvárias
doenças.O capítulofinal explicacomoos ali-
mentospreparadossãoavaliadose aprovados,in-
formaçõesdifíceisdeseremencontradasemqual-
querlugar.Somenteasreferênciasprincipaissão
incluídasno texto,pois umabibliografiamais
completaé dadanofinaldecadacapítulo,como
umguiaparaleiturasposteriores.
OscolaboradoresdestelivrotrabalhamnoAni-
malStudiesCentre,emLeicestershire,e quatro
delessãoas maioresautoridadesmundiaisem
nutriçãodecãese degatos.Entreestes,incluí-
moso ProfessorD. S.Kronfeld,que,muitogen-
tilmente,nosforneceuumrelatodeseusestudos
individuaissobreos cãesde trenó,comouma
investigaçãodasnecessidadesdosanimaisdesti-
nadosaotrabalhopesado.
O editortema satisfaçãodeexpressarsinceros
agradecimentosa ChristinaLoxley,do Animal
StudiesCentre,a DorothyHoward,daWalthan,
por ter datilografadoos manuscritos,a Alison
Wearne,da GwynneHart & Associates,bem
comoa JohnLavender,daPergamonPress,por
terprocessadoo trabalho.
A. T. B. Edney
INDICE
PREFÁCIO ,..............................
COLABORADORES ,......
1. BALANÇODE ENERGIA, BALANÇODE ÁGUA E FISIOLOGIA
DA DIGESTÃO E A DA ABSORÇÃO.......................
S. E. Blaza
2. UM GUlA SIMPLIFICADODASNECESSIDADESNUTRICIONAIS 15
I. H. Burger
3. ALIMENTOS PARA CÃESE GATOS. .. . .. .. .. .. .. .. 37
D. W. Holme
4. O USO PRÁTlCO DE ALIMENTOS PREPARADOSPARA CÃES
E GATOS 53
D. W. Holme
5. ALIMENTANDO CÃES PARA O TRABALHO PESADO E EM
CONDIÇOESDE ESTRESSE , 69
D. S. Kronfeld
6. CRIANDO FILHOTES ÓRFÃOS DE MÃE. 85
A. T. B. Edney
7. ALIMENTANDO CÃES EM CRESCIMENTO, COM ESPECIAL
REFERBNCIA AS DOENÇAS DO ESQUELETO 89
, A. A. Hedhammar
8. ALIMENTANDOANIMAISQUEESTÃODOENTES , 97
I. Leibetseder
9. FLUlDOTERAPIA E NUTRIÇÃO INTRAVENOSA ., 111
L. W. Hall
10. AVALIAÇÃO E APROVAÇÃO DOS ALIMENTOS PREPARADOS 119
P. T. Kendall
APBNDICE I
GUlA DAS CALORIAS PARA CÃES E GATOS 137
APBNDICE II
LEITURAS COMPLEMENTARES 139
íNDICE REMISSIVO 141
V
IX
CAPITULO 1
BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUA
E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO
S. E. BLAZA
Para viver,todosos animaisnecessitamda in-
gestãoregularde águae alimentos.O alimento
forneceos nutrientese a energia,e, na maioria
dos casos,tambémcontribuicom água.As ne-
cessidadesde nutrientesem particulardiferem
entreas es'pécies,e tambémvariamno ciclo vital
de um único animal.Por exemplo,cãese gatos
adultosexigemproteínapara substituiraquela
usadaparaa manutençãodo tecidoe seureparo,
e tambémpara produzir anticorpos,hormônios,
enzimase hemoglobina,enquantoquecãese ga-
tos emcrescimento,gestaçãoe lactação,necessi-
tamde proteínaextraparaa produçãode novos
tecidos,ou leite,alémde supriras exigênciasdo
metabolismonormal.
O organismonãoé umaunidadefechada,com
umacomposiçãofixa, masestánumestadocon-
tínuo de transformações;os alimentossão inge-
ridos,os nutrientesabsorvidose utilizadosou ex-
cretados.A manutençãodo nívelde qualquernu-
triente,ou da energia,ou do conteúdode água
do organismo,pode ser pensadaem termosde
"balanço".Para muitosdos nutrientesexigidos
pelos mamíferos,tais como proteínas,lipídeos,
mineraise vitaminas,o balançoé atingidogran-
dementepelo controleda eliminação.Acredita-se
queos mamíferoscomamparasatisfazersuasne-
cessidadesdeenergia,e, então,o nível de inges-
tão de nutrientesem particularé dependentede
suaconcentraçãono alimento.Entretanto,supon-
do quea ingestãomínimanecessáriafoi atingida,
qualquerexcedenteàs exigênciaspode ser per-
didonasfezes,ou, tendosidoabsorvido,podese
converteremoutrasubstânciaútil (no fígado)e
usadoou excretadopelosrins (na urina).Entre-
tanto,há limitesacimados quaiscertosnutrien-
tes se acumulame se tornamtóxicos,e os ali-
mentosdealtasconcentrações,particularmentede
vitaminaslipossolúveis,devemser evitados.Há,
também,relações,entrenutrientes,quedevemser
consideradasna formulaçãodequalqueralimento.
A regulaçãodo balançodeenergiae defluidos
é muito mais complexado que aquelados nu-
trientesindividuais;ambasenvolvemmecanismos
que governama ingestãoe a eliminação.A im-
portânciadadaà energiaeaosfluidosé diferente;
então,estesserãoestudadosseparadamente.Co-
mo a digestãoe a absorçãosão centraisà ma-
nutençãodeambos,estasserãoconsideradasmais
tarde.
BALANCEAMENTO DE ENERGIA
Diz-sequeumanimalestáembalançodeener-
giaquandoseugastodeenergiaé igualà ingestão
de energia,resultandoqueo nívelde energiaar-
mazenadono organismonãosealtera.A seguinte
equaçãoé derivadada Lei de Conservaçãode
Energia:
Energiaarmazenada= ingestãode energia-
gastode energia
No cãoou no gatoadulto,a energiaé armaze-
nadapredominantementecomogordura,com al-
gumaumentono tecidoantesmagro(comomas-
sa gordurosàlivre).Num animalem crescimento
ou gestação,a importânciasevoltaparao acúmu-
2
Fig. I. Fotografiade um animalobeso.
10detecidos.A gorduraé armazenadacomote-
cidoadiposo;essesdepósitossãofacilmenteobser-
vadosnumanimal(Fig.1).~, também,possível
reduziros estoquesdeenergia,reduzindoa in-
gestãodamesma,atéquesetomemenordoque
o gastodeenergia.Issofaz revertera equação.
Gasto- ingestão=perdadeenergiados
estoques
Sob essascondiçõesde balançonegativode
energia,o organismotemdecatabolizar(destruir)
seusprópriostecidosparaatendersuasexigências
energéticas;comoosestoquessãodepletadosgra-
dualmente,o animalse tomamaismagroe o
pesocorpóreodiminui.
O balançoenergéticoéatingidopelaexatacom-
binaçãodosganhose gastos,durantelongospe-
ríodos.Umdesequilíbriomuitopequeno,mantido
porlongotempo,causaráa obesidade(sea dife-
rençafor positiva),ou a debilidade(sea dife-
rençafor negativa).Por exemplo,imagineum
cãoLabradorRetriever,quetemum gastode
energiadiáriode1.700kcal,mascoma ingestão
de 1.800kcalpor dia.O desequilíbrioé deso-
mente100kcalpordia (28g debiscoitopara
cãel),mas,se mantido,poderiaresultarnum
aumentode2-3kgnopesocorpóreo,noperíodo
deumano.Seessataxadeganhocontinuarpor
2 ou3 anos,mesmopermitindoalgumacompen-
saçãodo gastode energia(vejaabaixo),o cão
NUTRIÇÃODO CÃO E 00 GATO
teráumgrandeexcessodepesoe estarásujeito
a todososproblemasdaobesidade.
Atérecentemente,presumiu-sequeo balanço
deenergiadependiasomenteda regulaçãoexata
do consumoe quequalquerdesequilíbriorepre-
sentavaumadeficiênciano controledoconsumo
propriamentedito. Agora,pareceprovávelque
tantoa ingestãocomoo gastosãoimportantesna
manutençãodo balançode energia.A ingestão
permiteumcontrolepreciso,emcontrastecomo
gasto,quepareceagircomouma"válvuladees-
cape",opondo-sea qualqueralteraçãonoconteú-dodeenergiadoorganismo.
Ingestãodeenergia
A ingestãodeenergiapodeserpensadaemtrês
diferentesníveis:a energiabruta(EB),a energia
digestível(ED) e a energiametabolizável(EM).
A energiabrutaé a energiatotalqueserialibe-
radana oxidaçãocompletado alimento.Apesar
de umasubstânciapoderterum altonívelde
energiabruta,a menosqueo cãoouo gatopos-
samdigeri-Iae absorvê-Ia,elanãoé útil parao
animal.A quantidadequeédigeridaeabsorvida
(energiabrutamenosasperdasfecais)é conhe-
cidacomoenergiadigestiva.Certaquantidadedo
alimentoabsorvidopodesersomenteaproveitá-
velparcialmentepelostecidos,o excedentesen-
doperdido,via renal,naurina.
Aquelaenergiaqueutilizadapelostecidosé
conhecidacomoenergiametabolizável,e podeser
calculadacomoa energiadigestívelmenosasper-
dasurinárias.
O conteúdodeenergiadigestívele metabolizá-
veldosalimentosdependede suacomposiçãoe
daespécieanimalqueo estáingerindo.Osrumi-
nantes,porexemplo,sãocapazesdedigerirma-
teriaiscomoasparedescelularesdasplantas,que
seriaminaproveitáveisaosanimaismonogástricos
(estômagosimples),taiscomoo cãoe o gato.
Paraessesanimais,essassubstânciasseriamsim-
plesmente"fibrasda dieta"ou "forragem".Há,
também,diferençasentreasespéciesmonogástri-
cas,por exemplo,o sistemadigestivodo cãoé,
geralmente,maiseficientequeo dogato.Então,
o mesmoalimentoadministradoa umcãoou a
umgatopodeproduzirvaloresdiferentesdedi-
BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÁO
gestibilidade.Issopodesedar,parcialmente,por-
que o sistemadigestivodo cão é, proporcional-
mente,maislongoqueo do gato.
Regulaçãodo balançoenergéticoatravés
da ingestão
Apesarde quealimentosmuitopalatáveispo~-
saroperturbaro controleda ingestão,muitosani-
mais, que comemalimentossuaves,regulama
ingestãode energiamuito precisamente.Ainda
que o mesmoalimentoseja fornecidode forma
diluída (usandoáguaou algummaterialnão di-
gerívelpara alterara densidadede energia),a
compensaçãogeralmenteocorre,rápidae comple-
tamente,'paraum nível novo e apropriadode
ingestãode alimentos.Há.muitasteoriastentan-
do explicaresseassunto,a maioriadelasenvol
vendoo mecanismode feedback* negativo,des-
critona Fig. 2, numgraumaiorou menor.
O princípiodo feedbacknegativoé muitosim-
ples e podeser demonstradode muitasformas.
Por exemplo,o controleda pressãosangüíneaé
dependentede um feedbacknegativo,comosão
muitosdos mecanismosde controledo organis-
mo.~ encontrado,muitofreqüentemente,emma-
nobrascomoa quea Fig. 2 mostra.
Em suaformamaisdireta,o feedbacknegativo
é um sistemaondequalqueralteraçãono equi-
líbrio desencadeiaum sinal,provocandoumares-
postaquese opõeà alteraçãoinicial e corrigeo
erro.No exemplo,o termostatoé um sensorque
detectaqualqueralteraçãona temperaturaam-
biente.A discrepânciaentrea temperaturaam-
bientale umatemperaturade referênciaé perce-
bida pelo comparador,que avisao depósito,ou
efetor,ligando-oou desligando-o.O calor libera-
do pelosdepósitosrestaurama temperaturaam-
biente,que pode ser pensadacomo a variável
controlada,e faz comqueo "comparador"pare
de avisarao depósito.
No modelodaregulaçãodo balançodeenergia,
mostradona Fig. 2, a variávelcontroladaé o ta-
manhodos depósitosde energia.Há váriosele-
mentosde feedbackquepodemavisarda altera-
ção,taiscomoos nutrientesdo plasmaou os ní-
.NoT.- Feedback=retroalimentação.
3
a) Principiode feedback negativo
-Variávelcontrolada - r"'"~- - - - - -- -..,
... TemperaturaambientaI I ' ' I
, ". Termostato Tempoae I
Mecanismoefetor I seneor referÉincla
Fornalha I' I I
. I Comparador I
\ ' I
I / I" ' 1'------
, ".
, Sinaldeerro - ...~- liga/desliga- - -
b) Feedbacknegativono armazenamentode enerila
Variávelcontrolada- Depósitos de energia ------, -
, Seneordereferência
I Metebólltoedo plasma
Mecanismo efetor Nutrientes do plasma
Alimentação /, ,
, ,,"
" Sinaldeerro " "
, 1)neural(centrosdealimentação)-
2)hormonal(vejao texto)
3)mecãnlco(contraçõesdoestômago)
Fig.20 feedback negalivo (siS\I:ll1ade n:troalimcntação)o
veisdemetabólitosdoplasma.Quaisquerdif~ren-
çascomos pontosdereferência,conhecidose es-~
tabelecidos,indicam alteraçãonos depósitosde
energia,e estimulama atividadenervosae hormo-
nal,que podeiniciarou{Ulibira alimentação.
A respostaneuralenvolve"centrosde alimen-
tação",no cérebro,que não sãosimplescentros
de "fome"ou saciedade",comose pensava,mas
feixesde neurônioscobrindováriasáreas.A esti-
mulaçãodesses,por elétrodos,pode fazer com
queanimaissaciadoscomam,ou impediranimais
famintosdecomer.
A respostahormonalé maiscomplexa.A insu-
lina estimulaa alimentação,masnãose sabese
esteéumefeitodiretono sistemanervosocentral,
ou porcausarumahipoglicemiaperiférica(baixos
níveisdeglicoseno sanguecirculante).O glicogê-
nio temumefeitoopostoaoda insulina,inibindo
a alimentação,comofazemos estrógenose o hor-
mônio luteinizante(hormôniosreprodutoresfe-
mininos).Comotodosesseshormôniostêmfun-
çõesoutrasdo quea estimulaçãoou inibiçãoda
alimentação,elesnãopodemseros únicosagen-
tesquegovernama ingestão.
4
Além dosmecanismosneuraise hormonais,há
outrosestímulosmaisdiretosparaa alimentação.
As contraçõesdo estômagovazio são tidas co-
mo as causadorasda sensaçãode fome,e provo-
cama alimentação,enquantoa distensãogástrica
inibeo ato de comer.
Essemodeloé útil porqueforneceumaestrutu-
ra às teoriassobrea regulaçãodo balançoener-
géticoatravésda ingestão,e tambémpermitetes-
tar essasteorias.Entretanto,muito deleé espe-
culação,e umaconcessãotemde ser feita,para
algumacontribuiçãodo gastode energiapara a
regulaçãodo balançode energia.Na maioriados
casos,a regulaçãoé eficiente.Os distúrbiosocor-
remquandopetiscosaltamentepalatáveissãoofe-
recidos,e o apetiteparauma alimentaçãoespe-
cial afogaos avisosde saciedadefisiológica:isso
pareceafetaros cãesmaisdo queos gatos,que
sofremmuitomenosde obesidade.
Gastode energia
Vistoquetodaa energiadespendidapeloorga-
nismopode.ser medidacomocalor, o gastode
energiaé freqüentementereferidoem termosde
"perdasde calor", "produçãode calor" ou em
unidadesgeralmenteassociadascoma medidade
calor,taiscomowatts,joulesecalorias.Essasuni-
dadespodem,também,se aplicarà medidada
ingestãode energia.
O gasto de energiapode ser dividido em
duaspartes:médiametabólicabasal (MMB) e
termogênese.A MMB é a quantidadede energia
necessária'paramantero corpoemfuncionamen-
to, isto é, representaa energianecessáriapara
supriros gastosdo trabalhoessencialexecutado
pelascélulase pelosórgãos.Isso incluiprocessos
comorespiração,circulaçãoe funçãorenal.Mui-
tosfatoresdeterminama MMB emum indivíduo,
inclusivepesoe composiçãodo corpo, idadee
-estadohormonal(particularmentedoshormônios
da tiróide).Comoessesfatoresvariam,tambémo
faza médiametabólicabasal,apesardequeessas
al~raçõestendema ocorrervagarosamente,por
longosperíodos.
Gastosadicionaisdeenergiavêmsobo termo
coletivo"termogênese".A termogênesepodesero
custoda digestão,absorçãoe utilizaçãode nu-
NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
trientes(algumasvezeschamadode "efeitotér-
micodo alimento"ou "termogêneseinduzidapela
dieta"), do trabalhomuscularou exercício,do
estresse,ou da manutençãoda temperaturacor-
póreanum ambientefrio. A ingestãode certas
drogasou hormôniospode, também,causarter-
mogênese.A termogêneseé, simplesmente,um
aumentonataxametabólicaacimado nívelbasal.
Em contrastecoma MMB, o graude termogênese
podevariar largae rapidamente,e podecausar
grandesvariaçõesdiáriasno gastodeenergia.Dos
doiscomponentesdo gastototaldeenergia,a ter-
mogêneseé a parteresponsávelpelarespostará-
pida adaptativaàs alteraçõesno ambienteinter-
noouexterno.
A regulaçãodo balançode energiaatravés
degastos
Quandoo alimentoé restritopor um longo
tempo,a MMB diminuinumarespostade dois
estágios.A primeiraquedabruscaé vistadentro
dealgunsdiasdepoisda reduçãoinicialda in-
gestãode alimento,havendoumade.pressãono
metabolismodascélulasindividuais,alcançada
emrazãodatireóidee doshormôniosadrenais
queregulama taxametabólica.Seocorreruma
realimentaçãoduranteestafase,a taxametabó-
lica recuperaseunível.inicial rapidamente.A
segundafaselevamaistempoparaaparecer:há
umdeclíniomuitolentoquesesegueà 'perdado
tecidodoorganismo,particularmenteo tecidoma-
groqueé muitoativometabolicamente.Umavez
queestafasetenhasidoalcançada,a MMB não
podeserrestauradaatéqueo tecidotenhasido
substituído.
Estaquedaé umaformamuitosimplesdere-
gulaçãoe reduziráqualquerperdado pesodo
corpocomoresultadoda restriçãode alimento,
emboranãosepossapreveni-Ia.Há importantes
implicaçõesparaa manutençãodopesodoorga.
nismoseguindoumregimedeemagrecimento;o
nívelda ingestãodealimentoexigidoparaman-
tero equilíbriodopesoserámenordoqueo exi-
gidonopesoanterior.
Do mesmomodo,umasuperalimentaçãopro-
longadaresultaemumaelevadataxametabólica,
querestringeo aumentoemarmazenamentode
BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE AGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO
energia.Esteaumentoemgastodeenergiaé par-
cialmenteatribuívelaoefeitotérmicodo alimento
e ao custode manterum tecidode organismo
extra.Entretanto,estesfatosnão são totalmente
responsáveispelo gastoextra,e ainda há uma
controvérsiaquantoà fonteda adicionalprodu-
çãode calor.
Há, portanto,umaregulaçãorudimentardaeli-
minaçãode energiaquese opõea qualquermu-
dançano estadomencionado.Emboraa elimina-
çãode energianãopossaprevenirqualquermu-
dançainteiramente,elapode,limitara suadura-
çãoe estacontribuiçãonãodeveriaserignorada.
BALANCEAMENTO DE ÁGUA
A águaé freqüentem~ntenegligenciadacomo
um requisitonutricionaldevidoà suaprontavia-
bilidadeemmuitosclimastemperados.Entretan-
to a necessidadeda águaé pelo menostão im-
o portantequantoa dosoutrosnutrientes;a vida
podecontinuarporsemanasnacompletaausência
dealimento,massomentepor diasou mesmopor
horasquandonãohouveráguadisponível.
A águapreenchemuitasexigênciasdentrodo
organismo.~ um excelentesolvente,e estapro-
priedadetornapossíveltodaa químicacomplexa
do metabolismocelular.Comoo principalconsti-
tuintedo sangue,a águadá um transportevital
médio,levandooxigênioe nutrientesaostecidos
e rem0vendodióxidode carbonoe metabólitos.
O sanguetambémcarregaanticorpose células
brancasque protegemo organismode doenças.
A águacontribuide váriosmodosdiferentes
paraa regulaçãoda temperatura.Primeiramente,
o sanguetransportao calor de órgãose tecidos
em funcionamento,assim prevenindoperigosos
aumentosde temperatura.Então,pela redireção
deum poucodo sangueatravésde veiassuperfi-
ciais, o calor pode ser transferidopara a pele
e perdidopor radiação,conduçãoe transmissão.
A perdade calor podeser aumentadapela eva-
poraçãode águada pele.
A águatambémé essencialpara a digestão.
A hidrólise,a quebradoscomponentespelaágua,
é o meiopeloquala digestãoocorre.As enzimas
digestivassão secretadas em solução,o melhor
5
o paradispersarporentreosalimentos.Atéa eli-
minaçãode metabólitostóxicospelo rim exige
águacomoum meio.Essasrepresentamsomente
algumasdasmuitasfunçõesda água.
Há váriosdiferentescompartimentosde fluido
no organismo,que podemser agrupadosjuntos
comofluido intra ou extracelular(FIC e FEC).
O FIC representaaproximadamente50% dopeso
totaldoorganismodo animale incluia águaden-
tro de todasas células,desdeas célulasverme-
lhasdo sangueaosneurôniosdamedulaespinhal.
O FEC é encontradobanhandoos tecidospor
entreas célulase tambémno sanguee na linfa.
O movimentode fluido entreestescompartimen-
tosé contínuo,asdiferentesconcentraçõesdeele-
trólitossendomantidaspelaatividadedasmem-
branasda célula.
Eliminaçãoda água
A águasai do organismopor váriasvias.Num
cão saudávelnormale num gato,estasincluem
as perdasno ar expirado,nas fezes,na urina e
raramentetambémno suor.Estescaminhosserão
discutidosseparadamente.Em animaisdoentesa
perdade águapodeser aumentadanotadamente
atravésde hemorragia(sangramento),vômitose
diarréia.A lactaçãoé umoutroe;emplofieperda
aumentada.
Fezes
O conteúdode águadas fezesé geralmente
muitobaixo,comparadocomosenormesvolumes
defluido secretadodentrodo tubodigestivo,com
enzimase várioseletrólitos.Os intestinostêmme-
canismosmuitoeficientespara a reabsorçãode
águae é somentequandoestesestãoirregulares,
e asfezesevacuadascomodiarréria,queestavia
apresentauma significativacontribuiçãopara a
perdade água.
Perdaspor evaporação
A captaçãode oxigênioa partir do ar inspira-
do é possívelpelaestreitaassociaçãoentreo epi-
6
télio pulmonare umaextensaredecapilar.En-
tretanto,issotambémfacilitaa transferênciade
águae evaporaçãoparaas cavidadesdo pulmão,
e a águaé perdida,então,no ar expirado.Essa
"perdarespiratóriadear" é inevitável.Em épocas
quentes,a evaporaçãoé um mecanismoimportan-
te de regulaçãoda temperatura,Idevidoao calor
corpóreousadoparaevaporara água.Esse é o
porquêdeoscãesficaremofegantesou colocarem
suaslínguasparafora,e o porquêdeos gatosco-
briremseuspelamesde salivapor lambidasre-
petidas.Em condiçõesextremas,podehavertam-
bémumaleveevaporaçãopeloscoxinsplantares.
Apesarde essesmecanismosauxiliaremno con-
troleda temperatura,elespodemaumentarcon-
sideravelmentea perdade água.
Urina
o rimé o únicoórgãonocorpoquepodecon-
trolaraperdadeágua,e,alémdisso,regulartam-
bémo balançoacidobásicoe a concentraçãode
muitoseletrólitos.Emcomumcomoutrosmamí-
feros,os cãese gatostêmdoisrins,situadosna
cavidadeabdominal,umdecadalado,masven-
trais(abaixoouna frenteda)à colunaespinhal
(Fig. 3). O suprimentosangüíneoé feito pela
artériarenale pelaveiarenal.
O rim consistede umaredede milharesde
túbulos(Fig.4).Cadatúbulotemumfundocego.
ou"cápsulaglomerular",queenvolveumnovelo
decapilaressangüíneos,conhecidocomoglomé-
rulo.Há umagrandediferençanapressãoentre
o capilare a cápsula,e essediferencialcausao
movimentocontínuode pequenasmoléculase
fluidodentroda cápsula,provenientesdo capi-
lar.Grandesmoléculas,taiscomoasproteínase
as váriascélulassangüíneas,nãopodempassar
paradentrodotúbulo,a menosquetenhahavido
lesãoàsparedesglomerularesou tubulares.Na
verdade,umadasindicaçõesde lesãorenalé o
achadodeproteínasnaurina.Emanimaissadios.
entretanto,o fluidoqueentrano túbuloé um
"ultrafiltrado"do sangue,e a taxade entrada
dependeda diferençade pressãoentreos dois
sistemas.
À medidaqueo fluidopassapelotúbulo,mui-
todeleé absorvidopelaparedetubulare retoma
NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
Ureter
Ureter
CVelacavacauda'H
Fig.:i. Estruturamacroscópicados rins.
Túbulo
Ductos
coletores
Parao
ureter
Fig. 4. Estruturado túbu)orenal(simplifkada).
BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO
parao sangue.A reabsorçãoé seletiva,substân-
ciaspresentesemquantidadesexcessivasno san-
guenãosãoreabsorvitias,comotambémnãoo
sãováriosprodutosresiduais.Algumassubstân-
ciaspodemsersecretadasativamente,parao in-
teriordo túbulo,pelasparedescelulares,Os tú-
bulosconvergemprofundamente,dentrodo rim,
emduetoscoletores,e o conteúdQremanescente
deixao rim via um tubode paredesdelgadas,
conhecidocomo"uretet".Um ureterpassade
cadarimparaa bexiga,ondea urinaé armaze-
nadaatéserconvenientementevertida.
O controleda águae doseletrólitosperdidos
viarenalocorreemváriosníveis.Há umaforma
rudimentarde feedbacknegativo(retroalimenta-
çãonegativa);se a desidrataçãoresultarnuma
perdado volumede PEC, a pressãosangüínea
cairá,entãoasforçasqueregema filtraçãopara
dentrodotúbuloserãoreduzidas,e menosfiltra-
doatingiráo túbulo.Istolimitaaperdadeágua.
A pressãosangüíneapodeserparcialmenteres-
tauradapelorim; quandoa pressãosangüínea
cai,o rimliberaumaenzima,denominadareni-
na,quecatalisaaconversãodeumaproteínaplas-
máticainativaemangiotensina.A angiotensinaé
umhormôniopotente,quecausaconstriçãodos
vasossangüíneosarteriais,assimmantendouma
pressãomínima,apesardaperdadevolume.Ela
tambémestimulao córtexda adrenala liberar
a aldosterona,outrohormônio,queaumentaa
reabsorçãotubulardesale deágua.Ataxade
reabsorçãode águatambémé controladapelo
hormônioantidiurético(HAD), queé produzido
pelaglândulapituitária,nocérebro,comorespos-
taa concentraçõeselevadasdealgunsdosconsti-
tuintesdo sangue.O HAD agesobrepartedo
túbulo,paraaumentara absorçãodeágua.
O papeldo rim na regulaçãodo balançode
eletrólitos,particularmenteo níveldeíonshidro-
gênio,podeinterferircomsuafunçãonobalanço
deágua.Os íonshidrogêniosãoproduzidospor
muitasdasreaçõesquímicasdoorganismo,e seu
acúmulonãopodeserpennitido,já queissoalte-
rariao pH docorpo.Comoelestêmdeserremo-
vidosdocorpoemsolução,algumaperdadeágua
na formadeurinaé irevitável,!Desmoemcon-
diçõesdedesidrataçãosevera.
7
Ingestãode água
Há váriasviaspelasquaisa águapodeentrar
noorganismo.Estasincluemo beberágua,o con-
teúdodeáguadosalimentos,que'podeseratéde
90%,e a liberaçãodeág;uadurantea utilização
metabólicadessesalimentos.
Conteúdodeáguadosalimentos
Quandoos alimentossão degradadosdurante
a digestão,a águaé liberadajuntocomos outros
produtosfinaisda digestão,taiscomoaçúcarese
aminoácidos.A quantidadede águadependedo
tipo de alimente,por exemplo,os alimentosco-
merciaissecospara cãese gatospodemconter
somente6% de água(emboraalgunscontenham
mais),enquantomuitosalimentosenlatadoscon-
têmmaisde82% de água.O leitecontémapro-
ximadamente88% de.água,e o peixefrescoe a
carne55 a 75%. Portanto,as quantidadesde
águadisponíveisparaos animaisemseusalimen-
tospodemvariarde 10 vezes.
A águametabólica
~a água'produzidanadegradaçãoquímicados
nutrientes,poroxidação,nostecidos.
O hidrogênio,no alimento,combina-secomo
oxigênioparaproduzirágua.A quantidadede
águaliberadadependetotalmentedo alimentoe
dograudeoxidação(vejaa Tabela1).
Tabelat. ÁGUA METABOLlCA
Classede alimento Águaproduzidana oxidação
de 100g
40 g
107g
55g
Proteína*
Gordura
Carboidrato
* Nem sempreoxidadacompletamente.
A águabebida
A águabebidaestásobcontrolevoluntário.Há
váriosmecanismosdefeedbacknegativoqueesti-
8
mulamo atodebeber.Os receptorespresentes
nabocae gargantaenviamsinaisparao "centro
da sede",no cérebro,quandoelesestãosecos.
Da mesmaforma,certos"osmorreceptores"avi-
samo centrodasedequandoadesidrataçãocausa
umaumentonapressãoosmóticadoFEC. Desi-
drataçãosevera,resultandonaperdadovolume
deFECeo conseqüenteaumentonaangiotensina
circulante,tambémestimulao centrodasede.
As necessidadesdefluidosobviamentevariam
deacordocomascondiçõesdo meioambiente,
como estadofisiológicodoanimale como con-
teúdode águadosalimentosingeridos.O cão
adaptasuaingestãodeáguamuitobem,deacor-
docomo conteúdode águadasuaalimentação;
o gatofaz issomenosrápidoe menoscompleta-
mente.Do pontodevistaprático,o acessoad
libitumà águafrescae potávelproporcionará,
parao cãoeparao gato,a melhoroportunidade
desuprirsuasexigênciasdeágua,particularmen-
teemcondiçõesdetemperaturaselevadase quan-
docomidassecassãofornecidas.
A DIGESTÃO E A ABSORÇÃO NO
CÃO E NO GATO
A regulaçãoda ingestãode alimentosjá foi
discutida.Entretanto,antesquesechegueàsne-
cessidadesnutricionaisdosanimais,umpassoin-
termediáriodeveserconsiderado.Diz respeitoà
decomposiçãodosgrandescompostoscomplexos
doalimentoparaumaformasimples,quepossa
serabsorvidapelotratodigestivo,circularpelos
tecidose usada'poreles,.paraa manutenção,re-
paro,crescimentoouparao fornecimentodeener-
gia.Trata-sedopapeldosistemadigestivo.
NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
Existemtrêsgrandesclassesdegênerosalimen-
tícios,querequeremdigestão:carboidratos,lipí-
deose proteínas(Tabela2). O propósitodadi-
gestãoéremoverasligações,nosgrandescompos-
tos,liberandoaspequenasunidades.Issoé con-
seguidopor"hidrólise",queé a quebradoscom-
postos'pelaágua,mecanismoaceleradoporenzi-
masdigestivas.Asenzimassãocatalisadoresorgâ-
nicos,produzidospeloorganismo,e queregulam
o cursoda maioriadasreaçõesbioquímicasdo
organismo.As enzimasdigestivastêmfunções
específicas,cadaumaenvolvidacomumafase
em,particular,nadecomposiçãodeumcomposto
emparticular.
O tratodigestivodo cãoe o do gatopodem
serconsideradoscomoumsimplestubooco,ha-
vendoalgumasporçõesquese diferenciampor
suaestruturaeporsuafunção.O alimentopassa
dabocaemdireçãodoreto,sendoqueo refluxo
é prevenidoporválvulasentrecadacompartimen-
to.O movimentodoalimentoéauxiiladoporcon-
traçõesmuscularesdasparedesdasvísceras,fre-
qüentementecoordenadasnumaseqüênciadeno-
minadade",peristaltismo".Issoocorrequandoa
ondadecontraçãodavíscerasemanifesta,con-
duzindoo boloalimentarcomela.A Fig.5 mos-
tra,deformamuitogeneralizada,umsistemadi-
gestivodemonogástrico,queé aplicávelao cão
e ao gato.Os diferentescompartimentosserão
consideradosseparadamente,na ordememque
elesocorreremanatomicamente.
Boca
Umavezqueo alimentofoi apreendidoe con-
sumidó(ou pelo menoscolocadoem um reci-
Tabela2. ESTRUTURADOS NUTRIENTES
Classe
Carboidratos
Proteínas
Formascomunsnosalimentos
polissacarídeos(ex. amido)
dissacarídeos(ex.sacarose)
monossacarídeos(ex.glicose)
proteínas
monossacarídeos
(açúcaressimples)
.
Lipídeos gordurasneutras
Após a digestão
}
peptídeos
aminoácidos
glicerol
ácidosgraxas
algunsglicérides
BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO
Boca
\
Vesículablllar
Duodeno(intestinodelgado)
Jejuno
(intestinodelgado)
lIeo (intestinodelgado)
VálvulalIeocecal Cólon
(intestino.grosso]
Reto
Fig. 5. Sistemadigestivode monogástricosimplificado.
pienteaoalcancedocãooudo gato!)a visãoe
o cheiroestimulama produçãode salivapelas
glândulassalivares(Fig.6). Istoé conhecidoco-
moumarespostagustativa.Pavlovobservouque
a secreçãodesaliva,nocão,poderiamesmoser
promovidaporumestímulogeralmenteassociado
coma alimentação,tal comoo soardeumsino
nahoradasrefeições.Essaproduçãodesalivaé
reforçadaquandoo alimentoé colocadodentro
daboca,e o gostoé adicionadoàsdemaissensa-
ções.A salivaé umasecreçãolevementeácida,e
contémmuco,queé umlubrificantemuitoefi-
cientee fazcomqueo atodeengolir(particular-
mentealimentossecos)sejafacilitado.Emalguns
animais,aamilasesalivar,enzimaquedigereami-
do (ptialina),estápresentenasaliva,masa sua
contribuiçãoparaa digestãoé geralmentedes-
prezível.
Fig. 6. ,\s gIÚlluul", "di\ <Iresdu cito.
9
Emgatos,a mastigaçãopermiteumadecompo.
siçãomecânicadoalimento,masmuitoscãesde.
voramseusalimentossemmastigar.Entretanto,
seo alimentoé duro,oscãese os gatostêma
dentiçãoapropriadaparaumcomportamentocaro
nívoro,e sãobemequipadospararasgar,aboca-
nhare mastigar.
Esôfago
A deflutiçãotransfereo alimentodabocapara
o esôfago,um tuborelativamentecurto,quese
comunicacomo estômago.Nenhumaenzimaé
secretadaaqui,masascélulasdoesôfagoadicio-
narãomaismucoparafacilitaro movimento.A
presençado alimentoestimulao peristaltismo,
queempurrao alimentoparao estômago.Nabase
doesôfago,ondeeleentrano estômago,há um
aneldecélulasmuscularesespecializadas,conhe-
cidascomoesfínctercardíaco.
Geralmentecontraído,esseesfíncteré esti-
muladoa relaxarpelachegadadaondaperistál-
tica,permitindoa passagemdo alimentoparao
estômago.Entretanto,a pressãoprovenientedo
estômagonãocausarelaxamento,sendoo reflu-
xo, portanto,improvável,excetoemcircunstân.
ciasanormais,associadascomo vômito.
Estômago
o estômagotemmuitasfunções.Ele funciona
comoreservatório,permitindoque o alimento
sejaingeridona formaderefeiçõesespaçadasao
invésdecontinuamente;eleiniciaa digestãodas
proteínase regulao fluxode materiaisparao
intestinodelgado.Funcionalmente,o estômago
podeserdivididoemduasporções,o corpoe o
antro(Fig.7).
O corpotemparedesmuitoelásticas,quepo-
demacomodargrandequantidadede alimentos
semqualqueraumentonapressão.A mucosa(epi-
télioe tecidosubjacente)docorposecretamuco,
ácidohidroclóricoe proteases.As proteasessão
enzimasquedigeremproteínas,e, no estômago,
elasquebramaslongascadeiasempeptídeosme-
nores.A maiorenzima,pepsina,é secretadaem
umaformainativa,paraassegurarquenãodigira
10
AntroFig. 7. Estôlllago.de um animal mo.no.gástrico..
ascélulasnasquaisé produzida.O pepsinogênio
é convertidoempepsinana presençado ácidohi-
droclórico,que tambémproporcionao meioam-
bienteapropriadoparao funcionamentodasen-
zimas,numavelocidadeótima.O estômagoé pro-
tegidoda pepsinapor um fluxo de mucosobre
suasparedes.
A secreçãode ácido,mucoe enzimasdepende
daquantidadee composiçãodo alimentono estô-
mago,e estásob controlehormonale nervoso
(Fig. 8).
O hormôniogastrinaestimulao estômagoa
produzirácido,enzimas,e, também,aumentaa
motilidadedo estômago.Ele é produzidonascé-
lulasda mucosa antrale liberadoparao sangue
quandoo estômagoé distendidoou há alimento
presente.A gastrina"viaja" na correntesangüí-
neaaté retomarao estômago,onde exerceseu
efeitona mucosado corpo.A liberaçãode gas-
trinaéeventualmenteautolimitante;quandoa se-
creçãoácidacausaa quedado pH, a liberação
degastrinaé inibida.Quandoo estômagoesvazia,
parao intestinodelgado,a presençade lipídeos
estimulaa liberaçãodo hormônioduodenalente-
rogastrona,quefazo estômagocessara produção
de ácido.
O controlenervosoda secreçãogástricaé bem
maisdireto.Há um reflexosimplese rápidoque
estimulaa secreção,e tambémumarespostagus-
tativaà visão,cheiroe gostodo alimento,que
estimulaumasecreçãorica emproteasese ácido,
emprontidão,parao alimentoatingiro estômago.
NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
A mucosaantral,por contraste,produz uma
soluçãoque é alcalinae pobre em enzimas.Ela
é misturadacomo alimentoantesdesuaentrada
no intestinodelgado.Ondas mistasoriginam-se
no corpoe, gradualmente,aumentamemcompri-
mentoconformealcançamo antromuscular,onde
ocorreuma completamistura.Nesseestágio,o
conteúdoestomacalformaum líquido espessoe
leitoso,conhecidocomoquimo.
A velocidadepela qual o estômagolibera o
quimopara o duodeno(partemais alta do in-
testinodelgado)é influenciadapor váriosfatores,
permitindoas condiçõesótimaspara a digestão.
Os mecanismosenvolvidossãomuitosimples.Na
porçãodistal(final)do estômago,há um espesso
aneldemúsculo,chamadoesfíncterpilórico,que,
aI Estimulaçãoda secreção
Liberadaquando
- estômagoestiverdlstendldo
- presençade alimento
bl Inibiçãoda secreção
Fig. 8. Controleda secreção.gástrica.
BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO
da mesmaformaque o esfínctercardíaco,está
normalmentecontraído.Quandochegamas for-
ças peristálticasmuito fortes,o esfíncterrelaxa
e permitea entradado quimopara o duodeno.
A presençade ácidos,irritantes,lipídeosou qui-
mono duodenoinibeo movimentoperistálticodo
estômagoe reduza taxade esvaziamento.
O fluido quimopassamaisfacilmenteatravés
doesfínctera significarquea passagemdo quimo
líquido, parcialmentedigeridoe bem misturado,
é favorecida,particularmente,quandojá não há
mais nada presenteno intestino.Isso 'assegura
que o intestinodelgadonão recebamaisquimo
do queelepodesuportareficientemente,e, tam-
bém,que as"enzimasgástricastenhamoportuni-
dadessuficientesde trabalharnummeioambien-
te ácido.
Intestinodelgado
(a) DIGESTÃO
Mais enzimassão adicionadasao quimo no
duodeno.Algumasdelasoriginam-seda mucosa
duodenale outrasdo pâncreas.O pâncreasé im-
portantenãosomentecomoumaglândulaexócri-
na na digestão(isto é, umaglândulaque secreta
externamente),mastambémcomoumaglândula
endócrina(umaglândulaque secretahormônios
para a correntesangüínea),produzindoinsulina.
Ele tambémsecretagrandesvolumesde bicarbo-
nato,na formade sal,no intestino,neutralizando
o quimoácidovindo do estômago,proporcionan-
do um pH ótimoparaas enzimaspancreáticase
intestinais.As enzimaspancreáticasincluempro-
teasesinativas,lipases(que digeremlipídeos)e
amilases(quedigeremcarboidratos).As enzimas
intestinaisgeralmentecatalisamos últimosestá-
giosda digestão.
A regulaçãodaproduçãopancreáticaestágran-
dementesobo controlede dois hormônios,a se-
cretinae a pancreozimina(Fig. 9). Ambas são
produzidaspelascélulasda mucosaintestinal,e,
sob certascondições,liberadaspara a corrente
sangüínea.A secretinaé liberadaemrespostaaos
ácidosno intestino,e estimulaa liberaçãodevo-
lumesmaioresdebicarbonatopelopâncreas.Em
11
aI Pelasecretina
Secretina(paraa
Acido \~~:correntesangüinea)
,C , ,
I,
Pâncreas
(
Bicarbonato
""\ r j -.
Aci~or:-=--- - - - j - - - - L ---)
b) Pelapancreozlmlna
'\ ~
Pâncreas
)1 1
Fig. 9. Regulaçãoda secreçãopancreática.
contraste,a liberaçãode pancreoziminaé provo-
cadapelapresençadealimentoparcialmentedige-
rido e estimulaa liberaçãode sucosricos em
enzimas.O papelcomplementardesseshormônios
asseguraum uso semo menordesperdício,do
pâncreas.
A bile é,também,adicionadaaoquimono duo-
deno. A bile é um fluido produzidocontinua-
mentepelo fígado;emalgunsanimais(comoca-
valos e ratos),ela é depositadadiretamenteno
duodeno,via o ductobiliar.Entretanto,emoutras
espécies(ex.homem,cãese gatos)a bile é arma-
zenadana vesículabiliar, para ser liberadano
duodeno,quandosolicitada.A bile contémsais
biliarese pigmentos,e váriosprodutosresiduais
do fígado,taiscomohormôniose metabólitosde
drogas.Os saisbiliaresnãosão enzimas,apesar
de eles desempenharemimportantesfunçõesna
digestãoe na absorção.O maisimportanteé a
emulsificaçãodasgorduras,sendoquea bile age
sobreo lipídeode formamuitosemelhantea um
12
detergente,quebrando-oemmuitosglóbulosdi.
minutos,comumasuperfíciemuitogrande,sobre
a qualaslipasespodematuar.Algumasdaslipa-
sessão,também,ativadaspelapresençadebile,
de formasimilarà ativaçãodasproteasespelo
ácido,noestômago.
A secretina,o hormônioduodenal,aumentao
conteúdodebicarbonatoe velocidadedefluxode
bile.Outrohormônioduodenal,a colecistocinina,
causaacontraçãodavesículabiliare a liberação
dabilearmazenada(Fig.10).
O intestinodelgadoé assimchamadoporcau-
sadeseudiâmetroestreito,porém,apesardeseu
diâmetrosermuitomenordoqueo do intestino
"grosso",eleé váriasvezesmaislongo.A di-
gestãoé completadano intestinodelgado:todas
as proteínasdigestíveis,lipídeose carboidratos
sãoreduzidosa aminoácidos,dipeptídeos,glice-
rol, ácidosgraxose monossacarídeos.Tão logo
essassubstânciassãoliberadas,elassãoabsorvi-
das,comoo sãoos minerais,as vitaminase a
água.
(b) ABSORÇÃO
A absorçãoé a transferênciado materialdi.
geridodo lúmendo intestinoparao sangueou
vasoslinfáticos.Apesardequealgumaabsorção
ocorranoestômagoe intestinogrosso,delongea
maiorproporçãode absorçãoocorreatravésda
mucosa do intestinodelgado.A áreasuperficial
sobreaqualissotemlugarégrandementeaumen-
.
"..Secretlna",
\
I,
I,
I
I
I
I
I
I,,,-
"-' -
Fig. 10. Produçãoe liberaçãoda bile.
NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
-,"
//'i~,
'/!il"
/1i!'
:',:1"iill!
II :: 11
,I: 111
,'1:/1
;:Ji::,'; 'I
l/i i I~
.::.::::::::~:~:~:~::j,.\,~~,.:::,:,::::::=Capilar
"". Vaso linfático
LúmenIntestinal
Parededo Intestino
Fig. 11. Vilos intestinais (simplificado).
tadapordobrase numerosasprojeçõescomode-
dos,chamadasvilos(Fig.11).Emalgunscães,a
áreasuperficialdo intestinodelgadopodeser
equivalenteao assoalhode umapequenasala.
Movimentosmistosindependentesdaparedein-
testinal,e dosvilos,asseguramqueháumbom
suprimentodemateriaisparaas superfíciesepi-
teliais,e a densaredede capilaresgaranteque
nãohajaacúmulode nutrientesabsorvidos,que
poderiamimpedirabsorçõesposteriores.
Há váriasdiferentesmaneiraspelasquaisos
nutrientessãoabsorvidos.A absorçãopodeser
"passiva",deacordocoma concentraçãooucom
o gradienteosmótico,ou"ativa",exigindoo gas-
to de energiaparapromover"bombas"através
decélulasou membranas.Os aminoácidose os
monossacarídeosdemonstramalgumadifusãopas-
siva,maselaé muitolimitada.Os aminoácidos
sãoabsorvidosativamente,por váriossistemas
diferentesdetransporte,paraascélulasdamu-
cosae depoissedifundemparaa correntesan-
güínea.Umpoucodaproteínadigeridaé absor-
vidana formadedipeptídeo(doisaminoácidos),
porsistemasativos,sendoaligaçãopeptídicaque-
bradadentrodacéluladaparededo vilo,eos
dois aminoácidosliberadosseparadamentepara
a correntesangüínea.Animaisrecém-nascidos
são,também,capazesde absorverproteínasino
tactas(porex.,osanticorposmatemosdo colos-
tro),porumprocessode envolvimentopelacé-
lula,conhecidocomopinocitose.
A captaçãoativademonossacarídeoestáliga-
daa umcomplexodecarreamentoquedepende
BALANÇO DE ENERGIA, BALANÇO DE ÁGUA E FISIOLOGIA DA DIGESTÃO E DA ABSORÇÃO
da captaçãode sódio.Outrosminerais(ex. cál-
cio)estãotambémrelacionadoscomos movimen-
tos dos monossacarídeos.Os açúcarese os ami-
noácidossãoabsorvidosparaos capilaresvilosos
e, delá, convergemparaa veiaporta,quedesvia
o sangueparao fígado,antesqueele retomeao
coraçãopara a recirculação.O fígado converte
muitoda glicoseabsorvidaem glicogênio(regu-
lado pelo nível de insulinacirculante),e arma-
zena-aaté que uma quedana glicosesangüínea
peçaa conversãodo glicogênioarmazenadoem
glicose(reguladopelo hormônioglucagon).O ní-
vel circulantede glicosedeveser mantidopara
,proporcionarum pronto suprimentode energia
viável para os tecidos,particularmentepara o
cérebro.Os aminoácidoscirculamno sanguee
são absorvidospelascélulasquandonecessário;
os aminoácidosexcedentessão convertidosem
outros,se necessário,ou transformados,no fíga-
do, emuréia,queé excretadapelorim.
A absorçãode gorduradifereda de proteínas
e carboidratos;os ácidosgraxose o glicerolsão
absorvidosraramenteparaos capilaresdosvilos,
sendoque a maiorpartedelesé absorvidapelo
sistemalinfáticodosvilos.Os produtosda diges-
tão dos lipídeos,ácidosgraxos,o glicerole os
triglicerídeossãoinsolúveisem água.Entretanto,
formammicelascomos saisbiliarese coma liso-
lecitina,e essescompostospodemsedispersarli-
vrementeno fluido do intestino.Os ácidosgra-
xosdecadeialongaassociam-secomos saisbilia-
resparaformarácidoscoléicos,quesãosolúveis
emágua.Os saisbiliarese a lisolecitinanãosão
absorvidoscomos lipídeos,masretomamparao
lúmenintestinal.Após a absorção,ocorrea res-
sintetizaçãonas célulasda mucosa;os triglicerí-
deose os fosfolípideossãoformadose liberados
para O sistemalinfático,enquantoo glicerole
ácidosgraxosde cadeiacurta podemse dirigir
ao sistemaporta.A linfa, eventualmente,encon-
tra a circulaçãovenosapróximoaocoração.
Os míneraissãogeralmenteabsorvidosemuma
formaionizada.Os meiosde absorçãovariamli-
geiramente,de acordocomo local; por exemplo,
no jejuno,a captaçãodosódioestáligadaà capta-
ção ativa de glicose;no íleo, este processoé
inteiramenteativo, e no intestinogrosso,ele é
muitoativo(istoé, podeoperarcontragradientes
deconcentraçãomuitofortes),e inteiramentede-
13
pendentedo movimentode glicose.A absorção
de mineraisdependedos seusníveisno sangue
(que influenciarãoos gradientesde concentra-
ção),e de váriosfatoreshormonais.
As vitaminashidrossolúveis(grupoB) sãoge-
ralmenteabsorvidaspassivamente,maspodeha,
ver algumaabsorçãoativa.A vitaminaB1'2pode
ser absorvidasomenteapóster se ligadoa uma
proteínaconhecidacomofator intrínseco,queé
produzidopelamucosagástrica.
As vitaminaslipossolúveis(A, D, E e K) tor-
nam-sesolúveispelacombinaçãocomos saisbi-
liares,e essefatoajudasuaabsorção;Ondehou-
ver digestãoe absorçãonormalde lipídeos,de-
veriahaveruma captaçãonormaldasvitaminas
lipossolúveis.
A águaé absorvidapassivamentepor difusão,
sob um gradienteosmótico.A maior parte da
águaé absorvidano intestinodelgado,um pouco
no estômagoe no intestinogrosso.Se a captação
de águaestiveralterada,umadesidrataçãopode-
rá ocorrermuito rapidamente,já que todasas
secreçõesaquosasno intestinoserão perdidas,
alémda águabebidae daquelacontidanos ali-
mentos.
Ointestínogrosso
O conteúdodo intestinodelgadoentrano intes-
tino grossopelaválvulaileocecal.Poucodo ali-
mentoe da águaingeridopelabocachegaatéo
intestinogrosso;a águaé principalmentedestina-
da à evacuaçãona formade fezes.
O intestinogrossonão temvilosidades,então
sua superfíciede absorçãoé limitadae, apesar
de ele sercapazde retirarum poucode águae
de eletrólitos,não possuinenhumdos mecanis-
mosde transportenecessáriosparaos nutrientes
orgânicos.A águaé absorvidade maneiradife-
renteaqui,passandopelosespaçosintercelulares
dependendodos gradientes.O graude absorção
é afetadopeloestadodo fluido doorganismo,re-
fletidopelapresençaou ausênciados.hormônios
aldosteronae angiotensina.O íleo e o cólon(par-
te do intestinogrosso)sãoparticularmentesensí-
veisa eles.Há, também,umaleveaçãoinibitória
da secretina,dagastrinae da pancroziminasobre
a captaçãode água.
14
As colôniasbacterianasresidentesno intestino
grossosãocapazesde digerirparcialmenteum
poucoda proteínae dosresíduosde fibra.Os
produtosdessadigestãodãoàsfezesseuodore
suacor característica.Quaisquerresíduosque
nãoforamdigeridos,juntocoma água,minerais
ebactériasmortassãoarmazenadosnoretoatéa
evacuação.A defecaçãoestá,geralmente,sobcon-
trolevoluntãrio.envolvendoo relaxamentode.
umesfíncteranal;poréma diarréiaou doenças
podemsobrepujarestecontrole.
Umentendimentoda fisiologiado tratodiges-
tivoajudana interpretaçãodasdoençasgastro-
intestinais.Então,umaabsorçãopobredeágua,
poralteraçõesnosmecanismos,ou porumtrân-
.
NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
sitomuitorápido,resultaemdiarréia.Seocorrer
umaabsorçãomuitoforte,asfezestornam-seen-
durecidas,difíceisde evacuar,resultandoem
constipação.Os vômitospodemsercausadospor
toxinasouvenenos,queirritama paredeestoma-
cal,oupordoençasdoesfíncterpi16rico.Engolir
corposestranhospodecausar,também,o vô-
mito.
Umadiarréiapersistentee o vômitopodemser
fatais,devidoà perdadeíonsinorgânicose do
efeitodadesidratação.Elespodemserumaindi-
caçãodedanossériosoudoençasemalgumapar-
tedotratodigestivo.Entretanto,umanáuseaoca-
sionalou fezesdiferentespodemsercausados
,pornadamaissériodoqueumamudançarepen-
tinanadietaouumperíododesuperalimentação.
CAPITULO 2
UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES
NUTRI CIONAIS
I. H. BURGER
Comotodasas outrascriaturasvivas,os cães
e os gatosnecessitamde alimentoparasemante-
rem vivos e saudáveis.Alimentopodeser defi-
nido como"qualquersubstânciacapazde nutrir
o ser vivo". Uma descriçãomais completafala
que alimentoé qualquersólidoou líquido que,
quandoengolido,podesuprir uma ou qualquer
dasseguintesexigências:
materiaisque dão energia,coma qual o
corpopodeproduzirmovimento,calorou
outrasformasde energia;
materiaispara o crescimento,reparosou
reprodução;
substânciasnecessáriasparainiciarou re-
gular os processosenvolvidosnas duas
primeirascategorias.
Os componentesdo alimento,que têm essas
funções,sãochamadosnutrientese os alimentos
e asmisturasalimentares,que sãocomidosatual-
mente,sãoreferidoscomodieta.A estruturados
nutrientesmaioresjá foi discutidano Capítulo1;
a discussão,aqui, restringir-se-á,principalmente,
à funçãoe às exigências.Os principastiposde
nutrientespresentesnosalimentossão:
(a)
(b)
(c)
Carboidratos- proporcionamenergiaao corpo.
e podem,também,serconvertidosemgordura
corpórea.
Lipídeos- trazemenergiade formamaiscon-
centrada,liberando,aproximadamente,o do-
bro da quantidadede energia,por unidadede
peso,do que os carboidratosou as proteínas.
Os lipídeossempreagemcomoveículoparaas
vitaminaslipossolúveise para certostipos de
lipídeos,geralmentereferidoscomoácidosgra-
xos essenciais(AGE), que, comoo nomesu-
gere,são necessáriospara numerosasfunções
do organismoe sãotão importantesquantoas
vitaminasindividuaise os minerais.Os AGE
serãodiscutidosem maior detalheposterior-
mente,nestecapítulo.
Proteínas- são importantesporquetrazemos
aminoácidosque estãoenvolvidosno cresci-
mentoe no reparodos tecidosdo corpo.Os
aminoácidospodem,também,ser metaboliza-
dos paraproduzirenergia.
Mineraisemicroelementos- os "macrominerais"
sãosubstânciascomõo cálcioe o fósforo,que
sãousadasno crescimentoe reparo,masessa
categoriatambéminclui substânciasnecessá-
rias emmenoresquantidades,tais comoferro,
cobree zinco. O último grupoé, geralmente,
chamadode "microelementos".Vitaminas- ajudama regularos processosdo
organismo,e são,geralmente,consideradasem
duascategorias:o grupolipossolúvele o gru-
po hidrossolúvel.No primeirogrupoestãoas
vitaminasA, D, E e K; no últimogrupoestão
as vitaminasdo complexoB (taiscomoa tia-
mina)e a vitaminaC. O outroconstituinteim-
portantedos alimentosé a água,e apesarde
nãoser vistacomonutriente,é essencialpara
a vida.
A necessidadede águaé secundáriasomenteà
necessidadede oxigênio,o outro elementovital
nãoincluídona lista acima.
16
Dificilmenteum alimentocontémsomenteum
nutriente:a maioriados alimentossão misturas
complexas,que consistemde uma variedadede
carboidratos,lipídeose proteínas,junto com a
água.Os mineraise as vitaminas(especialmente
asúltimas)estãogeralmentepresentesemquanti-
dadesmuitomenores. '
NECESSIDADES E RECOMENDAÇOES
Uma ingestãoadequadade nutri~ntesé essen-
cial paraa saúdee para a atividadedo animal;
mas,quantoé adequado?Comparadocomasne-
cessidadesde cãese gatosadultos,há exigências
adicionaisparaos estágiosmaiscarentesdo ciclo
de vida,taiscomocrescimento,gestaçãoe lacta-
ção.No casodo cãoe do gato,é possívelinves-
tigarsuasnecessidadesde nutrientese obterva-
loresmaisprecisosdo qu.eé possívelparao ho-
mem.A quantidademínimadeum nutriente,ne-
cessáriaa cadadia para o metabolismopróprio
do corpoé, geralmente,referidacomoa necessi-
dadediáriamínima(NDM). Entretanto,mesmo
quandofoi possíveldeterminaressesvalorespor
investigaçãocuidadosae extensa,elesnãose re-
feremà variaçãoindividualdasnecessidadesque
existemmesmoentreanimaisde mesmaespécie,
raça,peso,.sexoe atividadefísica. Em lugar de
seusaremessesvalores,é .maiscomumseusarem
valoresde concessãodiária recomendada(CDR),
comoguia para a adequaçãonutricional.Essas
recomendaçõessãodesignadasparaassegurarque
asnecessidadesde todosos cãese gatos,virtual-
mentesadiosforamsupridas.Segue-sequea CDR
estarásempreemexcessodeumanecessidademí-
nimadiária(excetoparaa energia,queserádis-
cutidanapróximaseção)e asnecessidadesatuais
de nutrientesdosanimaisserãomenoresdo que
a ingestãorecomendada.~possível,portanto,que
uma dietapossacontribuirmenosque a CDR,
masaindaproverumaingestãoadequadade nu-
trientes.
Um aspectomaisimportanteé a aplicaçãode
CDR (ou NDM) a um dadoalimentoou mistura
de a-limentos,isto é, à dieta.A CDR e a NDM
serão,inicialmente,medidascomoa quantidade
de nutrientesingeridospelo animala cada dia,
e terão,geralmente,unidadesde g por kg de
NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
pesocorpóreo,por dia. Mas, em últimaanálise,
o modomaisútil e relevantede expressaresse
valoré comoumaconcentraçãona dieta.Isto dá
origemà questãoda quantidadedos diferentes
tiposde alimentosingeridospor animaisdiferen-
tes.Os alimentosvariamem suacomposição(de
enlatadosa secos)e os animais,particularmente
os cães,mostramuma grandevariaçãode raça
pararaça.A ligaçãoentreessasvariáveisé o con-
teúdodeenergiada dieta.
ENERGIA
A energiadiferedosoutrosnutrientes,emque
o apetitenormalmentecontrolaa ingestão,e a
mantémpróxima das necessidades.A ingestão
alémdasnecessidadesé indesejávele, eventual-
mente,levaà obesidade.O conteúdode energia
da dietaé derivadodos carboidratos,lipídeose
proteínase a quantidadede cadanutrientenum
alimentoirá determinarseuconteúdode energia.
A águanão temvalor energético,entãoa densi-
dade.de energiados alimentosvaria numarela-
çãoinversado seuconteúdodeumidade.A ener-
gia é, geralmente,expressaem termosde kilo-
calorias(kcal), onde 1 kcal é definidocomoa
quantidadede calornecessáriaparaelevara tem-
peraturade 1 kg de águade 1 graucentígrado.
Uma convençãomaisrecenteexpressaa energia
emtermosde joule m,queé maisdifícil de de-
finir em termosfamiliares,e é baseadaem um
equivalentemecânicoou elétricodo calor. Para
o propósitodestadiscussão,é necessário,somen-
te,compreenderque 1 kcal é equivalentea apro-
ximadamente4,2 kilojoules(kJ).
O corpo obtémenergiaoxidando("queiman-
do") alimentos,masde forma diferentedo pro-
cessode queimarnuma caldeiraou máquinaa
vapor,a energiaé liberadagradualmentepor uma
sériede reaçõesquímicascomplexas,cadauma
reguladacuidadosamentepor umaenzima.
As enzimassãoproteínasespeciaisquecontro-
lam a velocidadedas reaçõesquímicase, mais
importante,permitemque essascomplexasalte-
raçõesocorramnascondiçõesrelativamenteame-
nasdo organismo.Paraserealizaras mesmasal-
terações,num processoindustrialtípico, condi-
çõesmuitomaisextremasde temperaturae pH
UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS
ou ingredientesaltamentereativos,seriamreque-
ridos.Muitasenzimasnecessitamda presençade
vitaminasou mineraispara funcionarapropria-
damente,e esseaspectoserádiscutidocommais
detalhesq~ndo essesnutrientesforemconside-
rados.
O cão e o gato,comotodosos animais,não
são.totalmenteeficientesna extraçãode toda a
energiado alimento.A quantidadedisponível
parao"brganismo,a chamadaenergiametabolizá-
vel (EM), émenordo queaquelaobtidapor quei-
ma dos alimentos(energiabruta). Há, também,
variaçõesentreanimaisindividualmente,em sua
própriaeficiênciametabólica;então,a únicama-
neirade obterumamedidaconscientedo conteú-
do deEM deum almentoé fornecê-Ioaum gru-
po tãograndedecãesou gatos,quantofor possí-
vel,e medir(porcombustão)a energiafornecida
pelo alimentoe a energiaperdidanasfezese na
urina.'A EM do alimentoé a diferençaentrea
ingestãoe as perdas.Estatécnica,apesarde per-
feitamenteexecutável,consometempoe gastos,
e não é realizávela menosque estejamdisponí-
veisasfacilidadesdeanimaisespecializados.Por-
tanto,atravésdosanos,umasimplesfórmulafoi
desenvolvida,usandodadosdemuitosmamíferos,
incluindoo homem,quedá umaaproximaçãora-
zoavelmenteboa da EM numalimento,a partir
do seuconteúdoem carboidratos,lípidese pro-
teínas,permitindoas perdasem absorçãoe efi-
ciência.:egeralmenteaceitoque:
1 g de carboidratoda dieta (calculadocomo
monossacarídeos)traz 3,75 kcal, ou 16 kT;
1 g de lipídeosda dietatraz9 kcalou 37 kT;
1 g deproteínasdadietatraz4 kcalou 17kT.
Esta técnicaé muitorápidae útil para obter
uma estimativada EM de um alimentoou da
dieta.
Mas deveserlembradoqueelaé somente'uma
aproximação,e que não será, necessariamente,
aplicávelcom a mesmaprecisãopara todosos
alimentosou misturasalimentares.As recomen-
daçõesde ingestãode alimentos,baseadasnessas
medidas,geralmentelevamem contaessaslimi-
tações.
A energiaé usadaparaa execuçãodo trabalho
muscular,.paraprocessostais comorespiraçãoe
17
para outrasatividades,comomante'ra tempera-
turacorpórea.Comoo homem,os cãese os gatos
mantêmsua temperaturacorporalao redor de
40°C,normalmentebastanteacimadascondições
ambientais,e grandesquantidadesde energiasão
necessáriaspara conseguirisso. Portanto,a pri-
meiraexigênciado animal,quantoà sua dieta,
é a energia.A densidade~nergéticadadietadeve
ser suficientementealtaparapermitirque o cão
ou ô gatoobtenhamcaloriaso bastanteparaman-
ter o balançode energia,e esseé o principal
fator que determinaa quantidadede alimento
ingeridoa cada dia. Para tanto,nas seçõesse-
guintes,as exigênciasde nutrientessão, geral-
mente,expressasem termosde concentraçãode
EM calculada,sendoqueosvaloressãoaplicáveis
a qualquertipo dealimentoou dieta,independen-
te de seuconteúdode água,nutrientesou valor
energéticototal.
O NationalResearchCouncil(NRC), daNatio-
nal Academyof Sciences,nos EstadosUnidos,
compilouumalistados níveisdietáriosrecomen-
dadosda maioriadosnutrientes,e freqüentemen-
te, nestecapítulo,referir-nos-emosa essesvalo-
res*. As recomendaçõesestãoresumidasna Ta-
bela 3, e são definidasem termosde 400 kcal
de EM. A primeiravista,issopodeparecerbas-
tantearbitrário,masa razãoadvémdo fato de
quea maioriadosalimentoscomerciaisparacães
e gatoscontém,aproximadamente,400kcal por
100g de matériaseca,isto é, apóstodaa água
ter sido removida.Então, os valoresusadosna
Tabela3 (e emquaisqueroutroslugaresno tex-
to) podem,também,ser consideradosaproxima-
dos de umaconcentraçãopor100g de matéria
secadadieta.
NUTRIENTES: FUNÇOES E EXIGENCIAS
Carboidratos
Nãoexisteumaexigênciamínimadecarboidra-
tosna dietade cãese gatos.Baseando-seemin-
vestigaçõesno cão,e em outrasespécies,parece
* O NRC publicouem 1983umanova ediçãodas
Necessidadesde Nutrientesdos Cães. .
18 NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
Tabela3. NtVEIS DIETÁRIOS RECOMENDADOS DOS NUTRIENTES
PARA OS CÃES E GATOS
Notas
a
b
c
c
d
e
f
f
g
h
~
Todosos valoressãoexpressosem termosde 400kcal de EM, que se aproximam
de 100g de matériasecanos alimentoscomerciais.
* Abreviações:lU =UnidadesInternacionais;NR =
(a) As quantidadessão dependentesdo conteúdode
dieta.Veja, também,a Tabela4.
(b) Não há exigênciade lipídeosalémda necessidadesde ácidosgraxosessenciais,
e como carreadoresde vitaminaslipossolúveis.As recomendaçõesde ácido
linoléicoe araquidônicoestão,provavelmente,acima das necessidadesreais
dessesdois nutrientes.
(c) As exigênciasde ferroe de zinco podemser aumentadaspor proteínasvege-
tais (principalmentea soja)da dieta.As recomendaçõesde zinco,paraos cães,
podemser próximasàs exigências.e possuemapenasuma pequenamargem
de segurança.
(d) Provavelmentenecessárioapenasparaanimaisem crescimento,já que os ani-
maisadultospodemfabricarquantidadessuficientesna pele, sob a açãode
luz ultravioleta(UV). Algumasevidênciasrecentessugeremque os gatosre-
querempouca(se necessitarem!)vitaminaD duranteseu crescimento,mesmo
na ausênciade luz ultravioleta(UV).
(e) As necessidadessãodependentesdos níveisde selênioe de gorduraspoliinsa-
turadosna dieta;as necessidadessãoaumentadasquandohouvergrandesquan-
tidadesde gorduraspoliinsaturadas.
(f) Em animaisnormaise saudáveis,umagrandeproporçãodasnecessidadesdes-
sasvitaminasé supridapor síntesebacterianano intestino.
(g) A necessidadede colinaé muitodependentedo nível de metioninada dieta.
Em gatos,foi mostradoque o aumentoda metioninapodesubstituircomple-
tamentea colina.
(h) Última estimativadas necessidades(publicadaem 1981).
Não requer.
amionácidosda proteínada
Nutriente Unidades Cão Gato
,.
Proteína g 22 28
Lipídeo g 5
L}Ácidolinoléico g 1Ácidoaraquidônico g NR*
Cálcio g 1,1 1
Fósforo g 0,9 0,8
Potássio - g 0,6 .0,3
Cloretode sódio g 1,1 0,5
Magnésio g 0,04 0,05
Ferro mg 6 10
Cobre mg 0,73 0,5
Manganês mg 0,5 1
Zinco mg 5 3
lodo mg 0,15 0,1
Selênio p.g 11 10
VitaminaA IU* 500 1000
VitaminaD IU* 50 100
VitaminaE IU* 5 8
Tiamina mg 0,1 0,5
Riboflavina- mg 0,22 0,5
Ácido pantotênico mg 1 1
Niacina mg 1,14 4,5
Piridoxina mg 0,1 0,4
Biotina p.g 10 5
Ácido fólico p.g 18 100
Vitamina812 p.g 2,2 2
Colina mg 120 200
. Taurina mg NR* 50
UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS
queos cãese gatospodemsermantidossemcar-
boidratosse a dietaproporcionarlipídeose pro-
teínassuficientes,dosquaissãoderivadasas exi-
gênciasmetabólicasde glicose.Entretanto,recen-
tementefoi reportadoque o consumode uma
dietarica emlipídeose livre decarboidratospor
cadelasem gestaçãoreduzia,substancialmente,a
sobrevivênciade seus filhotes,comparadocom
um gr1ij20controle,que recebiaumadieta con-
tendo44% deEM, na formadecarboidrato.Esse
efeitofoi atribuídoa umaseverahipoglicemiaque
ocorrianasprimeirascadelas,na épocada pari-
ção. Nessaocasião,a fonte de carboidratoera
amidocozido,e há dúvidasde queessasubstân-
cia sejaprontamentedigeridapor cãese gatos.
Os açúcaresindividuais,dissacarídeos,tais como
a sacarose(açúcarda cana)e a lactose(açúcar
do leite)nãosãotãobemtolerados.A habilidade
de metabolizaressesaçúcaresé governada,res-
pectivamente,pelasquantidadesde enzimasbeta-
fructofuronidase(sacarase)e beta-galactosidase
(lactase),presentesnos intestinos.As atividades
da sacarasee da lactaséestãocertamentepresen-
tesemcãese gatosadultos,apesarde saberque
sãomais altasem gatinhos,e diminuemcomo
passardosanos.Se se forneceremgrandesquan-
tidadesde sacarose,ou de lactose(por ex., uma
grandevasilhade leite), repentinamente,a cães
ou gatosadultosou jovens,eles poderãoapre-
sentarumadiarréia,que é devida,parcialmente,
à purgação(ou evacuaçãoforçada)de natureza
osmóticae, em parte,à fermentaçãobacteriana
(no intestinogrosso)dos carboidratosque esca-
paramà digestão.Apesardeessaspequenasquan-
tidadesde carboidratos(5% dascaloriastotais)
poderemserbemtoleradaspelamaioriadosani-
mais,existem,obviamente,variaçõesna eficiên-
cia individualnautilizaçãodessassubstânciaspe-
los animais.
Alguns trabalhosrecentescom cãessugeriram
queumadietarica emlipídeose livre de carboi-
dratos conferealgumasvantagens,em corridas
forçadasprolongadas,para cãesde corridacom
trenó,quandocomparadocom dietascontendo
maisde 38% de caloriasna formade carboidra-
tos.Essasvantagensincluíamumaaltacapacida-
de de carregaroxigêniocom maior númerode
célulasvermelhassangüínease hemoglobina.En-
19
tretanto,paracãese gatosnormalmenteativos,a
inclusãode40-50%de calorias,comocarboidra-
to da dieta,nãoparecerepresentarqualquerdes-
vantagem,quando comparadocom uma dieta
completaemlipídeosjproteínas,e poderealmen-
te ser benéfica,comojá foi indicadoanterior-
mente;vejao Capítulo5.
Lipídeos
A gorduradadietaé a fontemaisconcentrada
de energia,e traz palatabilidadee uma textura
maisaceitávelaosalimentosdoscãese gatos.Co-
moos carboidratos,os lipídeossãocompostosde
carbono,hidrogênioe oxigênio.Quimicamente,
os lipídeosdosalimentosconsistemprincipalmen-
te demisturasde triglicérides,ondecadaum de-
lesé umacombnaçãode trêsácidosgraxosasso-
ciadosa umaunidadede glicerol.As diferenças
entreum lipídeoe outrosãocertamenteo resul-
tadodosdiferentesácidosgraxosnelescontidos.
Há diversosácidosgraxosdiferentesencontrados
nosalimentos,e suasestruturasquímicassãoca-
racterizadaspelo númerode átomosde carbono
e duplasligações.Os ácidosgraxossaturadosnão
têmduplasligações,enquantoos insaturadospos-
suemumaou maisde uma; aquelesque contêm
maisde umaduplaligaçãosãoconhecidoscomo
poliinsaturados.A maioriados lipídeoscontêm
todosessestipos,masem proporçõesmuitova-
riadas.
E difícil de dizer,precisamente,qual a exigên-
cia de lipídeostotaisna dietade cãese gatos.
A única necessidadedemonstrávelde lipídeos
(alémdeseupapelcomocarreadordasvitaminas
lipossolúveis)é comofornecedordeácidosgraxos
essenciais(AGE). O NRC recomendaníveisde
lipídeosde 5% e ,9% de matériaseca,paracães
e gatos,respectivamente.Isso representa,aproxi-
madamente,11% e 20% de calorias,sendoque
essesvaloresestãobaseadoslargamentenas ne-
cessidadesde haverum certonível de lipídeos
parafornecera densidadeenergéticaexigidae a
palatabilidadeda dieta.
Existem três ácidos graxos essenciaisgeral-
mentereconhecidos:o linoléico,o alfa-linoléicoe
o araquidônico,sendoquetodoselessãopoliinsa-
20
turados.Devidoà naturezacomplexadessescom-
postos,é comumdesignar-sesuaestruturapelo
núrderodeátomosdecarbonoe duplasligações
queelescontêm;assim,o ácidolinoléico,.que
contém18átomosde carbonoe duasduplasli-
gações',é descritocomo18:2.Os ácidosgraxos
essenciaisnãopodemsersintetizadospeloorga-
nismoe, por isso,sãonutrientesessenciais,que
devemserfornecidosna~ta. O ácidolinoléico
e o alfa-linoléicosãoos compostosprecursores,
a partirdosquaiscompostosmaiscomplexos,de
cadeialonga(AGE derivados),podemsersinte-
tizadospelocorpo.Os ácidosgraxosessenciais
sãoimportantesparaa saúdegeraldoanimal,e
estãoenvolvidosemmuitosprocessos,incluindoa
pelee a funçãorenal,alémdareprodução.l! na
formaçãodosácidosgraxosessenciaisquesetor-
na evidenteumaimportantediferençaentrea
nutriçãodocãoe dogato;umcontrasteentreos
dois animais,que se assemelhampara outros
nutrientes,mostraqueo gatotemumcomporta-
mentoatípico,enquantoqueo cãosegueosmes-
mospadrõesda maioriadosmamíferos.Foi re-
portado,recentemente,queosgatostêmumaha-
bilidadelimitadade converteros ácidosgraxos
essenciaisprecursoresemderivativosde cadeia
longa;o leãotambémpareceter perdidoessa
habilidade.Comoresultado,os felíneosnecessi-tamdeumafontedietáriadeácidospreformados
20:3e 20:4,que,emtermospráticos,significaa
necessidadedecertaquantidadedeácidosgraxos
essenciaisdeorigemanimal.Atualmente,é difí-
cil darumquadroprecisodasnecessidades,de
ácidosgraxosessenciaisderivados,dosgatos,e é
possívelqueelestambémnecessitemdeácidoli-
noléicoemsuadieta.As recomendaçõesdoNRC
parao ácidoslinoléicoe o araquidônicoparaos
gatossãode 1% e 0,1% damatériaseca(apro-
ximadamente2,3% e 0,23%de calorias),res-
pectivamente,masessasconcessõessão,prova-
velmente,bastantegenerosas.A recomendação
parao cãoé de 1% deácidolinoléico,e tam-
bémé,provavelmente,maisdoqueo animalreal-
menteprecisa.As necessidadesdeácidosgraxos
ess~ciaisparaosgatossãoassuntodepesquisas
atuais,e é possívelqueosníveisdietáriosreco-
mendadosdeácidosgraxosprecursorese deriva-
dosserãomaisprecisamentedefinidosnumfutu-
ro próximo.
NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
Proteínase aminoácidos
Todasasproteínassãocompostosdecarbono,
hidrogênioe oxigênio;porém,ao contráriodos
carboidratose doslipídeos,elassemprecontêm
nitrogênio.A maioriadasproteínastambémcon-
témenxofre.As proteínassãomoléculasmuito
grandes,queconsistemde cadeiasde centenas
(ou,talvez,milhares)de subunidadesmuitome-
nores,chamadasaminoácidos.Apesarde existi-
remsomente20 aminoácidosusadosna compo-
siçãodasproteínas,a variedadedas'seqüências
nasquaiselespodemsearranjaré quaseinfini-
ta,e dissoresultaagrandevariedadedeproteínas
queocorremnanatureza.O cãoe o gatoneces-
sitamdeproteínasnadietaparafornecerosami-
noácidosespecíficos,quenão.podemsersinteti-
zados,pelosseustecidos,numaquantidadesufi-
cienteparaumdesempenhoótimo.Essesamino-
ácidossão,então,transformadosemnovaspro-
teínas,quesãoosconstituintesessenciaisdetodas
ascélulasvivas,regulandoprocessosmetabólicos
(na formade enzimas),fornecendoa estrutura
sendo,,portanto,necessáriosparaa reparaçãoe
parao crescimentotecidual.
Os aminoácidospodemser convenientemente
divididosemduasclasses:essenciais(indispensá-
veis)enão-essenciais(dispensáveis).Comoosno-
messugerem,os aminoácidosessenciaisnãop0-
demserfabricadosnocorpoemquantidadessu-
ficientes,devendo,portanto,estarpresentesnos
alimentos.Os aminoácidosnão-essenciaispodem
serproduzidosa partirdosexcessosde certos
outrosaminoácidosdadieta,embora,comocom-
ponentesde ,proteínascorpóreas,elessejamtão
importantesquantoasvariedadesessenciais.Os
seguintesaminoácidosforamestabelecidoscomo
essenciaisparaa manutençãodoscãesadultos(as
necessidadesquantitativasestãorelacionadasna
Tabela4):
Treonina
Valina
Metionina
Isoleucina
Leucina
Fenilalanina
Histidina
Triptofano
Usina
As exigênciasdosgatosadultostêm,ainda,de
serdeterminadas,masnãoparecequeelasse-
UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS 21
Todososvaloressãoexpressosemmgpor 400kcalde EM, queseaproximam
de mg/l00 g de matériasecada dietanos alimentoscomerciais.
(a) Os valoresapresentadosparaa cistinae paraa tirosinarefletemo quanto
esseliaminoácidospodemsubstituiras necessidadestotaisde metionina
e fenilalanina,respectivamente.
(b) NE =nãoexigido.A argininaé, entretanto,exigidapelogatoadulto.
jam diferentesdasdo cão,comrespeitoaosami-
noácidosrelacionadosna tabela.Onde o gato
adultodiferedo cão(e tambémdo ratoe do ho-
mem)é no fato de que ele requeruma fonte
dietáriado aminoácidoarginina.A deficiênciade
argininano gatoresulta,rapidamente,emefeitos
adversosseveros,devidoa uma falta de habili-
dadeemmetabolizaros compostosde nitrogênio
(via o ciclo da uréia), que se acumulam,então,
na correntesangüínea,na formade amônia(hi-
peramonemia), e emcasosmaissériospodemle-
var à mortedentrode váriashoras.Pareceque
não há um outrocomponenteessencialda dieta
(incluindo a água), cuja deficiênciatenha tal
efeitodrásticosobreo animal.A rapidezdesses
efeitosé secundáriasomentea umafaltade oxi-
gênio.Essaexigênciaímparpareceser devidaa
umafaltade habilidadede sintetizaro aminoáci-
do omitina (tambémum componentedo ciclo
da uréia), que protegeos gatoscontraos efeitos
adversosda deficiênciade arginina.
As exigênciasde aminoácidosessenciaispara
o crescimentodos filhotesdecãese de gatosfo-
ram assuntodemuitosestudosnos EUA, nosúl-
timosanos.As estimativasmais recentesdessas
exigênciasestãosumarizadasna Tabela4. Como
indicado,as necessidadede metioninae fenilala-
nina podemser parcialmentesupridas(maisde
50%) pelacistinae tirosina,respectivamente.En-
tretanto,alémda necessidadede aminoácidosin-
dividuais,todosos animaisrequeremproteínas
totaisqueforneçamnitrogêniodietáriosuficiente
paraqueo corpoexerçasuafunção.Obviamente,
os valoresobtidospara essasexigênciassão de-
pendentesdo conteúdode aminoácidosessenciais
da proteína,ou dasproteínas,em questão.Uma
proteínaquecontivessetodosos aminoácidos,nas
quantidadesexatamenteiguaisàs exigidas pelos
cãesou gatos,poderia, logicamente,ser usada
num nível muito mais baixo na dieta, do que
uma proteínaque contivesseuma baixaconcen-
tração de um ou mais aminoácidosessenciais.
Essaé umadasmaneiraspelasquaisasproteínas
diferemem suaqualidadenutricional.As proteí-
nas animais,geralmente,têmum perfil de ami-
noácidosmais balanceadodo que as proteínas
Tabela4. NíVEIS RECOMENDADOS DE AMINOÁCIDOS PARA
OS CÃES E GATOS
CÃO GATO
Aminoácido Adulto Em crescimento Em crescimento
Treonina 264 600 680
Valina 325 450 510
Cistina(a) 88 350 380
Metionina 180 450 380
Cistina+ metionina(a) 268 800 760
Isoleucina 302 800 510
Leucina 544 600 1020
Tirosina(a) 211 425
Fenilalanina 304 425
Tirosina+fenilalanina(4) 515 1000 850
Histidina 132 130 255
Triptofano 79 150 125
Usina 368 650 680
Arginina NE(b) 1000 900
22
origináriasde plantas,que são, freqüentemente,
}\obresem um ou mais aminoácidosessenciais.
Apesardisso,se todosos aminoácidosessen-
ciaisestãosendofornecidos,há, ainda,a neces-
sidadede nitrogênioadicional,e isso tem sido,
tambényobjetode recentesinvestigaçõesna Grã-
Bretannae E.U.A. Por exemplo,foi relatado,re-
centemente,que, se todasas exigênciasde ami-
noácidosessenciaisforem atingidas,as necessi-
dadesde proteínastotaispara os gatinhosem
crescimentoseriamfornecidaspor aproximada-
mente16% dascaloriasdasproteínas.Entretan-
to, essequadrofoi obtidousandoumadietasin-
téticabaseadaem aminoácidosindividuais,que
nãopodiamserconsideradostípicosdeproteínas
dos alimentos.As recomendaçõesdo NRCpara
as proteínasdietáriasdo gatosão28% de calo-
rias,paratodosos estágiosdo ciclo devida, isto
é, incluindoos eventosmaisexigentesnutricio-
nalmente,comocrescimento,gestaçãoe lactação.
O contrasteentreestarecomendaçãoe o valor
obtidopeladietasintéticailustrao cuidadoque
se devetomarao extrapolarresultadosobtidos
emlaboratóriosàs situaçõesdomésticas.Os atri-
butosnutricionaisdas proteínasdevemser con-
sideradosem termosde aminoácidosessenciais,
e o suprimentodesses,na prática,na forma de
dietas,seráquasequeinvariavelmentecomopro-
teínaspré-formadas.O perfil deaminoácidosp0-
de variarconsideravelmentedeumadietaparaa
outra,e essefatodeveserlevadoemcontaquan-
do as recomendaçõesforemfeitas.É um bom
exemploda diferençaentreumaexigência,deter-
minada em condiçõesexperimentaisdefinidas
cuidadosamente,e uma recomendaçãoque deve
seraplicadaa um númeromuitograndede ani-
maiscomendoumavariedadeenormede alimen-
tos.O gatoéumanimalparticularmenteapropria-
do paraser usadoparaexplicaresteaspectoda
nutrição,porqueele tem sido visto tradicional-
mentecomoumanimalquetemumanecessidade
altade proteínas,muitomaisalta quea dosou-
tros animais.Uma sériede experimentosde ali-
mentação(usandouma dieta semi-sintética)fo-
ramrecentementedesenvolvidos,e sugeriramque
somentepor voltade 10% de caloriasdeproteí.
nassãonecessáriasparamanterum gatoadulto
em balançoprotéico,enquantoo perfil de ami-
noácidosessenciaisfoi ajustadopara fornecer
NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
Tabela5. COMPOSIÇÃO DE AMINOACIDOS
ESSENCIAIS DE UMA DIETA CONTENDO 10%
DE PROTErNAS EM RELAÇÃO ÀS CALORIAS,
BASEADANA PROTErNA DO OVO INTEIRO
Aminoácido Concentraçãona dieta
(mgpor400kcaldeEM)
512
752
176
320
496
560
832
400
512
912
240
176
624
608
Treonina
Valina
Cistina
Metionina
Cistina+ metionina
Isoleucina
Leucina
Tirosina
Fenilalanina
Tirosina+ fenilalanina
Histidina
Triptofano
Lisina
Arginina
quantidadessabidamenteadequadasusandova-
loresde gatinhosemcrescimento.Poderiaesse
níveldeproteínasfornecerumaquantidadesufi-
cientede aminoácidosessenciais,usandouma
fonteconvencionaldeproteínas?
O ovointeiroé, geralmente,vistocomoo ali-
mentomaisbalanceadonutricionalmente,conten-
doproteínasdamaisaltaqualidade.O perfilde
aminoácidosessenciaisdeumadietaquecontém
ovosinteirosnum nível de 10% de proteínas01<
por caloriasé dadona Tabela5. Comparando-a
comos valorespara crescimentode gatinhos,na
Tabela4, é duvidosose estadietasupririaquan-
tidadesadequadasde todosos aminoácidos,mes-
moadmitindoo fatode queosvaloresda Tabela
5 sãoparaumadietademanutençãode um ani-
mal adulto. .
Apesar dessasqualificações,os experimentos
paradeterminaras exigênciasprecisasde proteí-
nase aminoácidosdos cãese dosgatossãoim-
portantespassosparaserefinara formulaçãodas
dietasdessesanimais,numaépocaemquea pro-
teínaé um materialbastantecaro,que deveser
usadotão eficientementequantopossível.
* N.T. - Umarelaçãoé feitaentreproteínase ca.
loriasda dieta,sendoque o valoré expressoem por-
centagemdeproteínasemrelaçãoàscaloriasfornecidas.
UM GUIA SIMPLIFICADO DAS NECESSIDADES NUTRICIONAIS
Taurina
Nenhumadiscussãodasnecessidadesde ami-
noácidosdoscãesedosgatosseriacompletasem,
pelomenos,umabreveexplanaçãodaimportân-
cia da taurina.Estritamentefalando,a taurina
nãoé umaminoácido,masumácidoaminossul-
fônicoquenãofazpartedacadeiapolipeptídica
deumaproteína.A taurinaé umprodutofinal
dometabolismodosaminoácidossulfurosos,e é
produzida,normalmente,a partirdosaminoáci-
dosmetioninae cistina,quecontêmenxofre.Ela
estáenvolvidaemváriasfunções,masa demaior
interesseé a deestruturaçãoe funcionamentoda
retina.Umadeficiênciageralmenteresultaemde-
generaçãodaretina,eumadeficiêncianarespos-
tavisual,apesardequeasalteraçõespossamde-
morarum longotempoparaocorrer,e sinais
óbviosdedefeitosvisuaispodemnãosermuito
evidentesatéumanooumaisdeumadietade-
ficienteemtaurina.Diferentementeda maioria
dosoutrosmamíferos,osgatosnãopodemsinte-
tizartaurinasuficientea partirdosaminoácidos
sulfurosos.A erizimaresponsávelpor essacon-
versãonãoestátotalmenteausenteno gato,mas
suaatividadenãoé grandeo bastanteparasuprir
todasasnecessidadesdo gato.
A sensibilidadeespecialdo gatoé aumentada
pelasuatotaldependênciadetaurinaparaa for-
maçãode saisbiliares;ao contráriode outras
espécies,elenãopodeutilizarglicinaparaesse
propósito(vejao Capítulo1).Esteé aindaum
outroexemplodeumaimportantediferençanu-
tricionalentreo cãoe o gato.As pesquisassobre
asexigênciasprecisasdetaurinadietáriadogato
estãoaindaemandamento,masa últimaestima-
tivapõeo mínimoentre0,05%dematériaseca,
istoé,aproximadamente50mgpor400kcal.As
fontesmaisricasdetaurinasãoosmateriaiscrus
deorigemanimal;poucoéencontradoemtecidos
vegetais.
Minerais e microelementos
As concentraçõesdietáriasrecomendadasdes-
seselementossão mostradasna Tabela3. Esses
valoresincorporamas exigênciasmínimasdos
cãese gatos(nosquaisos dadosforamestabele-
cidos)e os achadosem outrasespéciesanimais.
23
Minerais
CÁLCIO E FÓSFORO
O cálcio e o fósforoestãointimamenterela-
cionados,nutricionalmentefalando,e serão,por
isso,discutidosjuntamente.Eles sãoos maiores
mineraisenvolvidosem proporcionara rigidez
estruturalaos ossose aosdentes.O cálcioestá,
também,envolvidona coagulaçãosangüíneae na
transmissãode impulsosnervosos.O níveldecál-
cio no plasmaé crucialpara essasfunçõese é
reguladomuito cuidadosamente.O fósforotem,
também,muitasç>utrasfunções(maisfunçõesdo
quequalqueroutroelementomineral),e umadis-
cussãocompletado metabolismodo fósforoexi-
giria que se falassede quasetodosos processos
metabólicosdo organismo.O fósforoé um com-
ponentede muitossistemasenzimáticose está,
também,envolvidono armazenamentoe natrans-
ferênciadeenergia,na formadecompostosorgâ-
nicosde fosfato,denominadode altaenergia.
Talvezdemaiorimportância,nasexigênciasde
cálcioe de fósforo,sejasuaproporçãona dieta.
As proporçõesótimasde cálcio e fósforo,para
cãese gatos,situam-seentre 1,2 a 4:1 e 0,9 a
1,1:1, respectivamente.Qualqueralteraçãones-
saSproporções,ondeo cálciovememmuitome-
nor quantidadedo que o fósforo, leva a uma
acentuadadeficiênciade cálcioemrelaçãoà for-
maçãoóssea.Há, também,evidênciasde que
uma proporçãomuito alta é prejudicial,apesar
demenossériado queumadeficiênciadecálcio.
O metabolismodo cálcioe do fósforoestáinti-
mamenterelacionadocom a vitaminaD, e isso
serádiscutidoposteriormente,nestecapítulo.
POTÁSSIO
O potássioé encontradoem altasconcentra-
ções dentrodas célulase é necessáriopara a
transmissãonervosa,balançode fluidose parao
metabolismomuscular.A deficiênciade potássio
causadebilidademuscular,crescimentoinsatisfa-
tório e lesõesdo coraçãoe dos rins. Entretanto,
o potássioencontra-selargamentedistribuídonos
alimentose deficiênciasde ocorrêncianatural
sãoextremamenteraras.
24
I
somo E CLORETO
Em contrastecomo potássio,o sódioencon-
tra-se,principalmente,nosfluidosextracelulares,
porém,como potássio,é importanteparaasfun-
çõesfisiológicasnormais,e essastrêssubstâncias
representamos maioreseletrólitosdos líquidos
corporais.O salcomum(cloretode sódio)é a
formamaisusualdessesdoisminerais,adiciona-
dosaosalimentos;a recomendaçãodietáriades-
seselementosé, então,geralmenteexpressaem
termosdecloretodesódio.Damesmaformaque
parao potássio,é muitopoucoprovávelqueas
dietasnormaissejamdeficientesdessesdoismi-
nerais.
MAGN1!SIO
o magnésioé encontradonostecidosmolesdo
organismoe nosossos.Osmúsculosesqueléticos
e o cardíacoe o tecidonervosodependemde
umbalançoapropriadoentreo cálcioe o magné-
sio,paradesempenharemsuasfunçõesnormais.O
magnésiotambémé importanteno metabolismo
desódioe depotássioe desempenhaumpapel
principalemmuitasreaçõesenzimáticasessen-
ciais,,particularmenteaquelasrelacionadascom
o metabolismoenergético.A deficiênciademag-
nésioé caracterizada,porfraquezamusculare,
emcasosseveros,podemocorrerconvulsões.En-
tretanto,umadeficiênciadietáriademagnésioé
muitorara.
Emcontraste,ingestõesmuitoaltasdemagné-
siopelosgatosestãoassociadascomumaumento
deincidênciadachamadasíndromeurológicafe-
lina (SUF).Essasíndromeé caracterizadapor
disúria,hematúria,cistitese obstruçõesdo trato
urinárioporprecipitadossólidosquesairiamcom
aurina.O componentecristalinomaiscomumdos
urólitosfelinosé o hexaidratodefosfatoamônio-
magnésio(estruvita), e há muitasevidênciasde
quealtasconcentraçõesde magnésiona dieta
(dezvezes,oumais,osníveisrecomendados)au-
mentama freqüênciada SUF. Entretanto,deve
serlembradoqueessadoençaestáassociadacom
muitosfatoresderisco,dosquaiso altomagné-
sio da dietarepresentaapenasum deles.Uma
proporçãoadversade cálcioe fósforoda dieta
NUTRIÇÃO DO CÃO E DO GATO
(oumuitomaior,ou menordo que 1) também
foi relatadaestarrelacionadacomo aumentoda
incidênciade SUF. J! ,possívelque,aumentando
o níveldesal (cloretodesódio)na dieta(mais
de4% damatériaseca,4gpor400kcal)aliviem-
se algunsdossintomasda SUF, aumentandoa
ingestãodeágua,por issoaumentandoo volume
urinárioe diminuindoa concentraçãodemagné-
siodaurina."1!,também,possívelqueo saliniba
a formaçãode"estruvita"no tratourináriocomo
resultadodoaumentonaquanitdadedeíonsclo-
retonaurina.Valenotarqueessesefeitosopostos
do magnésioe do sal,emrelaçãoà urolitíase,
tambémforamrelatadosemoutrosanimais,ove-
lhas,bezerrose cabras,porexemplo,apesarde
que,nocão,a urolitíaseestánormalmenteasso-
ciadacominfecçõesdo tratourinário,maisdo
quecoma dieta.
Microelementos
FERRO
O ferroé, provavelmente,o maisconhecido
microelementoe muitaspesquisasforamrealiza-

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