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1 A INCLUSÃO ESCOLAR DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA NA REDE REGULAR DE ENSINO: DESAFIOS E POSSIBILIDADES. Gláucia Bomfim Barbosa1 Elma da Silva Barreto2 RESUMO Este trabalho tem natureza teórica e discute as singularidades da educação inclusiva como possibilidade de desenvolvimento da educação numa perspectiva de avanços qualitativos. É uma pesquisa bibliográfica que busca em publicações variadas abordar a história das crianças especiais na sociedade comentando a importância da educação inclusiva na rede regular de ensino e a necessidade da escola se preparar para receber esses alunos. As leis e obras consultadas asseguram que as crianças a serem incluídas necessitam de respeito do ponto de vista humano e discente. Nesta perspectiva, a escola deve adaptar-se aos alunos com necessidades especiais e não o contrário. Essa adequação deve acontecer tanto do ponto de vista de infraestrutura que precisa adequar os espaços físicos e os recursos pedagógicos, como da capacitação dos professores e essencialmente da família diante do desafio de incluir. Palavras chave: Educação inclusiva. Escola. Desafio. ABSTRACT This work discusses the theoretical and singularities of inclusive education as a possibility for the development of education in the perspective of qualitative advances. It is a literature that seeks to address various publications on the history of special children in society commenting on the importance of education in the regular school system and the school need to prepare to receive these students. Laws and works consulted shall ensure that children need to be included regarding human perspective and students. In this perspective, the school must adapt to students with special needs and not vice versa. This adaptation 1 Graduada em Pedagogia licenciatura Plena pela Universidade Federal de Sergipe, Pós-graduada em Educação Inclusiva com Libras pela Faculdade Pio Décimo, professora da educação infantil da prefeitura municipal de Aracaju. 2 Graduada em Pedagogia pela Universidade Tiradentes, pós graduada em Psicopedagogia clínica e institucional pela Faculdade São Luiz de França, professora do 3°ano do Ensino Fundamental da prefeitura municipal de Aracaju. 2 must happen from the point of view of infrastructure that needs to tailor the physical and teaching resources such as the training of teachers and essentially family challenged to include. Keywords: Inclusive Education. School. Challenge. 1 INTRODUÇÃO Este artigo pretende evidenciar a importância da Inclusão Escolar de crianças com deficiência na rede regular de ensino, os seus desafios e possibilidades; visto que, de acordo com as novas perspectivas da educação, a escola deve excluir do seu cotidiano os preconceitos, tornando-se mais acolhedora, e em uma visão ampla, aberta as diferenças. Estudos realizados acerca desse assunto revelam que um novo tempo está se aproximando e que a educação inclusiva, hoje está cada vez mais ampliando os seus espaços, e já se apresenta como o novo desafio proposto ao professor do século XXI. Diante dessa realidade, a inclusão de crianças com deficiência na rede regular de ensino gera uma questão de como o professor irá trabalhar o respeito às diferenças, promovendo com isso a inclusão de pessoas com necessidades de cuidados especiais no processo educativo. O atendimento às diferentes necessidades educativas dos alunos é certamente o desafio mais importante que o professor tem de enfrentar nos dias atuais, isso porque surgiram novas exigências que foram postas ao sistema educativo, em geral, e aos professores em particular. Não podemos falar em educação sem contar com a diversidade no Brasil trata-se de assunto complexo abrangente e que vem tomando espaços cada vez maiores no âmbito da educação, visto que a política educativa rege o favorecimento da inclusão e aceitação das diferenças na rede regular de ensino. A inclusão representa a iniciativa de acolher, com qualidades e como sujeitos, todos os alunos que é um desafio, que sendo devidamente enfrentado pela escola comum, provoca a melhoria da qualidade da educação básica e superior, pois para que os alunos exerçam o seu direito à educação é indispensável que a escola atenda às diferenças, vez que o direito de todos à educação está estabelecido na Constituição de 1988 e na LDB 9394/96, sendo um dever do Estado e da família promovê-la. Entende-se por educação 3 especial, para os efeitos da Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com necessidades especiais. (LDB, art. 58). Assim esse artigo mostrará a importância da Inclusão de crianças com deficiência na rede regular de ensino, seus desafios e inúmeras possibilidades. É certo que a inclusão da criança com necessidades especiais em classe comum causa objeção entre boa parte dos professores, que muitas vezes, percebem-nas como “incapacitados” (por razões somáticas e neurológicas) advogam a inadaptação das crianças na rede regular de ensino. Vygotsky (1984) assegura que o processo de desenvolvimento humano é o mesmo para todos os sujeitos, portanto, todo ser humano é educável. Desta forma, todas as crianças devem ser educadas. Na sua visão, a fragilidade da deficiência é também uma força que move o sujeito para as suas realizações. Isso significa pensar nos opostos como partes de um todo. A deficiência faz parte da subjetividade de muitas pessoas, que se constituem como sujeitos sociais, com base, simultaneamente, na fragilidade e na força dessa condição e em suas possibilidades educativas. 2 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO REGULAR As discussões sobre Educação Inclusiva não são tão recentes: há muito tempo educadores e especialistas buscam transformar o espaço escolar num ambiente aberto a todos, sem distinção, sem preconceitos. Por isso, faz-se necessário fazer um breve histórico no intuito de que se compreenda melhor, as raízes históricas, filosóficas e psicológicas permitem compreensão e a viabilidade desta modalidade de ensino. A história do atendimento a pessoas com necessidades de cuidados especiais na antiguidade conta com uma pequena e esparsa documentação disponível. Sabe-se que era predominante a filosofia da eugenia, e as pessoas excepcionais, consideradas uma degeneração da raça humana, deveriam ser “expostas” ou eliminadas pelo grande transtorno que representavam para a sociedade. 4 Os aspectos físicos diferenciados sempre foram causadores de impacto, pois mesmo em gerações antigas a aparência humana que não correspondia a uma sensação de agradabilidade incomodava o seio de sociedades que não estavam preparadas para aceitarem as diferenças. O convívio com as “anormalidades” sempre foi difícil para a maioria das pessoas, pois os valores sociais ditam regras que interferem de forma direta nas relações diárias. As diferentes reações frente à deficiência se caracterizam pela diversidade de culturas existentes no mundo que, apesar das singularidades, carregam o fator comum de discriminação Desde há muito tempo, constam relatos de torturas e promiscuidade, da crueldade da inquisição, da qual muitas pessoas diferentes do que era considerado normal foram vitimadas por conta de concepções fanáticas e tendenciosas. Os efeitos negativos provocados culturalmente sobre as pessoas com deficiência estão presentes na história da sociedade onde é possível perceber como os valores e as crenças de determinados grupos influenciam na forma de perceber o outro contribuindo para a aceitaçãoou para o extermínio deste. Infelizmente, nas sociedades mais antigas como Grécia no século IV a. C e Roma no século II a. C as atitudes exclusivas de pessoas com deficiência eram muito corriqueiras e comuns para as crenças da época que eram rígidas em relação às “deformações”. Então, desde os tempos mais remotos da civilização vários grupos humanos vêm sentindo a dificuldade de enfrentar o desafio que é relacionar-se de forma saudável com os membros considerados “mais fracos” ou até “inúteis” à sociedade. A manifestação de eliminação das diferenças, de forma natural ou causada, tem sua origem muito antiga talvez já na pré-história por volta do ano 4000 a. C quando surgiram as primeiras manifestações de presença humana no mundo, mais precisamente na África. É possível que na vida primitiva a presença de pessoas com deficiência não durasse muito, pois fatores como climas instáveis, ambiente hostil, modos de vida e luta pela sobrevivência por meio de caça e pesca não permitiam que um deficiente sobrevivesse. É possível ainda, segundo Gugel (2007), que algumas tribos africanas eliminassem as crianças deficientes devido à representação de fardo para o grupo. Com a expansão de presença humana pré- histórica pelos continentes europeu e asiático é pensado que as práticas de eliminação se repetissem em tribos destes continentes. 5 Durante a Idade Moderna, houve maior valorização do ser humano pelo predomínio de filosofias humanistas. Iniciaram-se investigações sobre a pessoa excepcional do ponto de vista da Medicina. Cresceram os estudos e experiências sobre a problemática das deficiências atreladas à hereditariedade, distorções anatômicas, etc. Na década de 1970, na vigência da Lei 5.692/71 a escola brasileira caracterizou-se pelo forte discurso de democratização do ensino, aumentando o número de alunos de todas as camadas sociais que se matricularam em escolas e gerando as primeiras preocupações com o fracasso escolar, principalmente de grupos minoritários. Essas preocupações começaram a produzir investigações, objeto do temático educacional da década seguinte. O surgimento das escolas especiais foi a primeira oportunidade que tornou possível o acesso dos deficientes à escola, pois anteriormente estas pessoas eram percebidas como seres ineducáveis. Agora as crianças com deficiência passariam a ter atendimento em instituições escolares que iriam desempenhar um trabalho pedagógico objetivando estimular cognitivamente os alunos por meio de técnicas educacionais voltados para a aprendizagem sendo assim desvinculadas de meios clínicos. Eram escolas, não hospitais. Era educação, não assistência hospitalar. A década de 1990 iniciou-se sob o impacto dos efeitos das conquistas estabelecidas na Constituição Federal do Brasil de 1988, que em seu artigo 226 afirma a igualdade de condições de acesso e permanência na escola e, em seu artigo 208, ressalta o dever do Estado com a educação, efetivado mediante a garantia de: “ensino fundamental obrigatório e gratuito para todos, inclusive aos que a ele não tiveram acesso na idade própria, e, ainda, atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. Durante o ano de 1996, novos conceitos sobre Educação Especial como modalidade de educação escolar e sobre alunos com necessidades especiais foram debatidos, visando contribuir para a elaboração da nova LDB. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n 9.394/96) veio subsidiar uma ação educativa compromissada com a formação de cidadãos, mostrando que a Educação Especial é parte integrante da Educação Geral, 6 adotando o princípio da inclusão. Esse princípio defende que o ensino seja ministrado a todas as crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais, preferencialmente no sistema comum de educação. A escola inclusiva muda os papéis tradicionais dos professores e da equipe técnica da escola. A infraestrutura da escola inclusiva deve criar uma rede de suporte para superação das suas maiores dificuldades. Os pais são os parceiros essenciais no processo de inclusão da criança na escola. Os ambientes educacionais devem visar o processo de ensino e a aprendizagem do aluno. Os critérios de avaliação antigos deverão ser mudados para atender às necessidades dos alunos com deficiência. O acesso físico à escola deverá ser facilitado aos indivíduos portadores de deficiência. Os participantes da escola inclusiva deverão procurar dar continuidade aos seus estudos, aprofundando-os. A inclusão visa justamente atender aos estudantes portadores de necessidades especiais; visa propiciar a ampliação do acesso destes alunos às classes comuns; propiciar aos professores da classe comum um suporte técnico; perceber que as crianças podem aprender juntas, embora tendo objetivos e processos diferentes; levar os professores a estabelecer formas criativas de atuação com as crianças portadoras de deficiência; propiciar um atendimento integrado ao professor de classe comum (LDB 9394/96). A inclusão de alunos com necessidades especiais no sistema regular de ensino tem sido, sem dúvida, a questão referente à Educação Especial mais discutida no nosso país nas últimas décadas. Este tema, por algum tempo, ficou restrito ao debate em congressos e textos da literatura especializada, hoje torna-se proposta de intervenção amparada pela legislação em vigor, e determinante das políticas públicas educacionais tanto em nível federal, quanto estadual e municipal (LDB 9394/96). No entanto, inúmeras são as barreiras que impedem que a política de inclusão se torne realidade na prática cotidiana de nossas escolas. Entre estas, a principal, sem dúvida, é o despreparo dos professores do ensino regular para receber em suas salas de aula, geralmente repletas de alunos com problemas de disciplina e aprendizagem. A própria LDB reconhece a importância deste aspecto como pré-requisito para a inclusão ao estabelecer, em seu artigo 59, que: 7 Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns. Por muito tempo acreditou-se que havia um processo de ensino- aprendizagem “normal” e “saudável” para todos os sujeitos, e aqueles que apresentassem algum tipo de dificuldade, distúrbio ou deficiência eram considerados anormais (isto é, fora da norma), denominados de “alunos especiais”, e expulsos do sistema regular de ensino. Esta concepção de normalidade acabou por gerar dois tipos de processos de ensino-aprendizagem: o “normal” e o “especial”. No primeiro caso, o professor estaria frente aos alunos considerados “normais”, que seguem o padrão de aprendizagem para o qual ele foi preparado durante sua formação; no segundo caso estariam os alunos que apresentam os denominados “distúrbios. Neste contexto, a prática pedagógica do professor, está impregnada pelo mito, de que existem duas categorias distintas de alunos: os “normais” que frequentam a escola regular e os “excepcionais”, que são clientela da Educação Especial.. No entanto, é importante ressaltar que eles agem desta forma por não terem recebido, em seus cursos de formação e capacitação, suficiente instrumentalização que lhes possibilite estruturar a sua própria prática pedagógica para atender às distintas formas de aprendizagem de seu alunado. Devido também a isso não é de se espantar que ainda não tenha havido uma efetiva inclusão de alunos com necessidadeseducacionais especiais no sistema regular de ensino. Os professores são seres que possuem uma formação específica para o trabalho escolar e em sua atuação docente adquirem saberes pautados em diferentes dimensões. Para Tardif, os saberes docentes são temporais, ou seja, construídos através do tempo e aperfeiçoados com a experiência. Desta forma, (...) Sua prática integra diferentes saberes, com os quais o corpo docente mantém diferentes relações. Pode-se definir o saber docente como um saber plural, formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais (...). (TARDIF, 2002, p. 36). 8 Assim, os saberes profissionais são aqueles transmitidos pelas instituições de formação onde os docentes entram em contato com as ciências da educação e os saberes pedagógicos. Neste meio o professor adquire concepções de atuação para a prática docente. Os saberes disciplinares provêm das áreas de conhecimento como matemática, história, ciências etc. Tais saberes emergem da tradição cultural de trabalhar os conteúdos com os alunos e se organizam em diferentes campos científicos. Os saberes curriculares apresentam-se como uma programação escolar baseada em objetivos, conteúdos e métodos que os professores são conduzidos a aprender para aplicar. Os saberes da experiência são adquiridos no exercício da função, são específicos do trabalho cotidiano e acontecimentos do meio escolar do qual faz parte. (TARDIF, 2002). Fica evidente de acordo com esses saberes que grande parte dos conhecimentos dos professores advém da formação inicial e da experiência em sala de aula. A prática funciona como uma forma de aquisição de aptidões para a atuação como um professor capaz de resolver problemas e enfrentar desafios que são corriqueiros em seu dia-a-dia. Esta estabilidade na prática docente garantia um saber pedagógico seguro e eficaz. Logo, os professores eram percebidos e se percebiam como profissionais capazes de continuar os trabalhos pedagógicos de forma segura, pois possuíam pressupostos para isso. As competências adquiridas pelos professores de inclusão no processo de formação contínua são essenciais para que possam realizar um trabalho mais significativo. Entre as competências, é necessário registrar o maior conhecimento a respeito do processo de inclusão e das necessidades educacionais especiais dos próprios alunos. É imprescindível que os professores que possuem alunos de inclusão possam conhecer a especialidade das crianças com as quais estão trabalhando e de outras que poderão fazer parte da sua realidade docente. A partir da expansão de informações a respeito das deficiências o professor passará a compreender melhor as necessidades dos alunos, saberá quais metodologias são mais apropriadas para cada caso, conduzirá melhor a interação entre as crianças na sala e na escola. Com essa competência, o educador será um condutor de perspectivas inclusivas no interior da escola e conscientizará a comunidade escolar sobre a inclusão de forma segura e justificada. 9 Avaliar o processo com maior eficácia também é uma característica presente nas ações do professor de inclusão. A nota será percebida como um fator presente, porém, não central do processo. Como a aceitação e o respeito à diversidade serão discussões presentes na sala e incluídas nas atividades das crianças, a avaliação será realizada a partir de atitudes e procedimentos da turma. Embora as exigências curriculares de leitura e escrita estejam presentes no processo constante de avaliação os conceitos subjetivos das crianças são fatores a serem avaliados constantemente e questionados quando não forem agradáveis as propostas implantadas. A atuação em equipe apresenta-se também como um fator primordial nas atividades de um professor. A nota será percebida como um fator presente, porém, não central do processo. Como a aceitação e o respeito à diversidade serão discussões presentes na sala e incluídas nas atividades das crianças, a avaliação será realizada a partir de atitudes e procedimentos da turma. Embora as exigências curriculares de leitura e escrita estejam presentes no processo constante de avaliação os conceitos subjetivos das crianças são fatores a serem avaliados constantemente e questionados quando não forem agradáveis as propostas implantadas. A escola como um todo deve ser mobilizada para a nova demanda e não apenas a equipe pedagógica, em especial o professor, como afirma Lima (2005, p. 03). (...) a inclusão não é responsabilidade somente do regente da turma em que os alunos são inseridos. Na verdade, é o coletivo da escola que constitui uma rede real de suporte para os casos de inclusão. E, geralmente, só com a participação total ou parcial do coletivo de adultos, na escola, é que se podem efetivar as mudanças necessárias na apropriação e uso dos espaços, na organização do tempo, na formação de um contexto de desenvolvimento adequado para os alunos de inclusão. Conforme a citação acima, a responsabilidade de tornar as intenções inclusivas em ações práticas é dever de uma ação coletiva no interior da escola. É necessário registrar que o preparo docente capaz de corresponder às necessidades da escola colabora muito com a conscientização de todos que compõem o ambiente escolar e por isso é imprescindível discutir sobre a formação dos educadores que tem ganhado novas perspectivas devido às transformações ocorridas no cenário educativo ao longo do tempo. 10 Nas iniciativas inclusivas educacionais a escola se apresenta como o elemento principal, pois é o espaço onde se iniciam todas as ações anti- discriminatórias relacionadas aos deficientes. Uma vez comprometida com a educação de todos, a escola possui caráter coletivo e é com base nessa premissa que os documentos oficiais legitimaram o atendimento aos deficientes prioritariamente nestes espaços a exemplo da Declaração de Salamanca (1994). Contudo, a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares inaugura uma nova demanda educacional e traz consigo a urgência de uma formação docente ressignificada por meio da qual os professores possam adquirir novos conhecimentos desenvolver maiores habilidades frente às práticas pedagógicas cotidianas. Seria o aprendizado de novas metodologias que iriam permitir diferentes formas do fazer pedagógico frente à diversidade. O trabalho com estudantes com necessidades educacionais especiais é desafiador e se caracteriza como um fato inesperado na educação capaz de deixar o professor em crise de identidade profissional. São valores, crenças e saberes dos professores agora questionados. Frente a isso Bezerra (2007) afirma que “(...) os professores não foram alertados para os sinais que apontam uma necessidade educacional especial e a partir daí, perceberem a sua importância para desenrolar o processo de aprendizagem”. Assim, ao participarem do processo de formação contínua os professores se aproximam de propostas educativas atuais e são oportunizados de perceber as mudanças e nesse contexto desenvolver novas competências e aplicarem na escola como afirma Stainback (1999, p. 62) “(...) eles tomam conhecimento dos progressos na educação, conseguem antecipar as mudanças e participam do planejamento da vida escolar diária”. As novas aprendizagens docentes é uma exigência do processo inclusivo que preconiza um atendimento escolar mais atuante e eficaz. Educar, frente a este novo paradigma da inclusão, requer novas formas de pensar e de agir especificamente quando se refere à formação dos professores, pois “para se consideraruma proposta de escola inclusiva, é preciso pensar como os professores devem ser efetivamente capacitados para transformar sua prática educativa” (FERREIRA e GUIMARAES, 2003, P.118). Desta forma, ser professor frente à 11 inclusão se configura em ser um profissional devidamente capacitado para atender às novas demandas educacionais. Frente a todas essas peculiaridades que se referem ao educador que necessita preparar-se para a diversidade, fica claro que o desafio é grande e que está apenas em seu início, podendo atingir novas dimensões devido à rapidez com que o mundo transforma-se. Os desafios para os educadores são muitos e cada vez se exige mais destes profissionais que agora são levados a desafiar o tempo para se atualizarem no quesito inclusão. Talvez toda essa adrenalina na busca por novos conhecimentos faça com que a educação melhore e os resultados possam tornar-se mais agradáveis no tocante à qualidade de ensino. O anseio é que os alunos com necessidades educacionais especiais e todos os outros tenham a oportunidade de frequentar um ambiente escolar mais acolhedor, mais humano, receptivo, compreensivo e acima de tudo competente. O incentivo à formação contínua acontece com o objetivo de levar educadores e educadoras a repensar suas práticas e perceberem a necessidade de mudanças urgentes. A formação contínua é um convite à reforma do pensamento preconizado por Edgar Morin (2001). Uma reforma que seja capaz de mudar a forma de perceber as diferenças, de valorizar as singularidades no ambiente escolar a na vida diária em todos os cenários sociais. A inclusão se apresenta como uma alternativa de mais compromisso com a educação e com o ser humano. Mas, é necessário registrar que para atuar neste meio inclusivo não bastam títulos, mas dedicação e respeito aos alunos de forma que a estes sejam garantidos direitos simples, mas essenciais, como carinho, atenção, dedicação e oportunidade de viver como um ser humano. É com base nesta meta que o processo inclusivo foi proposto e se fortifica a cada dia sendo preconizado por aqueles que acreditam na concretude da sua filosofia. Deve-se, portanto, mostrar aos educadores a necessidade de integrar o aluno de ensino regular preparando-se para a vida e dando assim a oportunidade de se relacionar e interagirem tanto quanto possível na escola, acabando aos poucos com os preconceitos a fim de que se tornem indivíduos respeitados e felizes. Porém, para que a inclusão de alunos com necessidades especiais no sistema regular de 12 ensino se efetive deve haver além de capacitação de professores e estrutura escolar, um acompanhamento contínuo, que oriente o trabalho docente, o que virá a beneficiar, não apenas os alunos com necessidades especiais, mas, de uma forma geral, a educação escolar como um todo, pois todos aprenderão desde cedo a conviver com as diferenças de cada um, respeitando-se entre si. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das questões abordadas, pode-se concluir que é importante incluir a criança com algum tipo de deficiência na rede regular de ensino possibilitando à mesma ao acesso ao conhecimento e à possibilidade de ser respeitada e estimulada desde cedo de acordo com as suas potencialidades. Mas apesar das leis governamentais estarem incentivando as escolas a incluírem os alunos com deficiências especiais, muitas destas recebem esses alunos sem as devidas preocupações, levando estes alunos às classes comuns sem o acompanhamento do professor especializado ignorando assim as necessidades específicas da criança, fazendo com que as crianças sigam um processo único de desenvolvimento, ao mesmo tempo e para todas as idades, extinguindo o atendimento de educação especial antes do tempo e esperando que os professores de classe regular ensinem as crianças portadoras de necessidades especiais sem um suporte técnico. Isso quando ainda não separam os alunos com deficiência especial do convívio com os outros alunos. É preciso que a verdadeira missão das instituições seja resgatada, ou seja, que elas existam para servir às pessoas, todas elas sem distinção, e não ao contrário, tendo que as pessoas se ajustem às instituições. A proposta de inclusão vem sendo estimulada em diversas escolas do Brasil e envolve desde a Educação Infantil até a Educação Superior. As transformações sociais e tecnológicas, nesse processo, possibilitam a ampliação das potencialidades de todos os sujeitos. A construção de uma mentalidade inclusiva será possível se ela for mantida como um projeto da sociedade e, principalmente, da escola, pois é através desse espaço condutor de saberes, socialização e interação social, que os novos conceitos acontecem. Diante disso, é possível pensar que incluir não é uma ação impossível de ser concretizada, pois se apresenta como uma forma de garantir direitos, ampliar 13 conhecimentos, quebrar paradigmas e, principalmente de garantir a condição humana. O trabalho é desafiador, mas não difere dos propósitos gerais da educação que gira em torno da formação integral dos estudantes. O desenvolvimento das potencialidades dos discentes é um fator crucial na educação e a escola, enquanto instituição formadora, contribui para que isso aconteça. Desta forma, todos os estudantes são dignos de ações metodológicas que estimulem a prendizagem e com as crianças com necessidads educacionais especiais não deve ser diferente, visto que, possuem várias possibilidades de aprender de acordo com as singularidades. Nesse contexto, para que se possa ter posturas inclusivas mais concretas e condizentes com as propostas legais é necessário quebrar os paradigmas em relação às crianças inclusivas. A credibilidade na capacidade da aprendizagem destas crianças pode ser considerado um fator determinante para a verdadeira inclusão que, baseada neste peincípio, se realizará não apenas no espaço físico da escola, mas nas concepçõs subjetivas de quem convive com elas. O contato com os estudantes de inclusão necessitam ser fortalecidos pela mudança de concepção das pessoas que fazem parte dos ambientes escolares sem distinção de cargos ocupados. Desta forma, é necessário que as relações na escola se realizem de forma despidas de atitudes discriminatórias. Seria muito bom para todos se os esforços de colocar em prática a Declaração dos Direitos Humanos que pretende legitimar e exige de cada ser humano que, pelo simples fato de nascer tenha o direito de ser tratado e viver com toda dignidade que lhe couber. Toda proposta pedagógica que objetive desenvolver os discentes nos campos cognitivo e social deve ter como prioridade a valorização e a compreensão humana, visualizando as condições que todos possuem de aprender, se aprimorar, adquirir habilidades e competências. A educação inclusiva pauta-se justamente nessa premissa e nela necessita ser concretizada. Um processo lento, desafiador, mas que inaugura uma das atitudes mais coerentes e humanas da educação. 14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEZERRA, A. da Augusta Celetisno. Educação e diversidade. Aracaju: UNIT, 2007. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. ________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: SEESP, 1994. ________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei no 9394/96. 1996. BUENO, J. G. Crianças com necessidades educativas especiais, política educacional e a formação de professores: generalistas ou especialistas. Revista Brasileira de Educação Especial,vol. 3. n.5, 7-25, 1999 FERREIRA, Maria Elisa Caputo Ferreira. Aspectos de Intervenção na Área da Educação Física Escolar e a Política Inclusiva. In: BAUMEL, Roseli Cecília Rocha de Carvalho. RIBEIRO. Maria Luiza Sprovieri (orgs.). Educação Especial: do querer ao fazer. 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