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Aula2 Apostila1 MRXDXZH2L5

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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL
PESSOAS JURêDICAS
Sum‡rio
Sum‡rio..................................................................................................1
Considera›es iniciais ...............................................................................2
TEORIA GERAL.........................................................................................3
II. Pessoas ..............................................................................................3
2. Pessoas jur’dicas ...............................................................................3
2.1. Personalidade.................................................................................4
2.2. Classifica‹o...................................................................................5
2.3. Associa›es..................................................................................13
2.4. Funda›es ...................................................................................17
2.5. Desconsidera‹o da personalidade jur’dica .......................................22
2.6. Domic’lio .....................................................................................28
Legisla‹o e Jurisprudncia......................................................................30
Jornadas de Direito Civil..........................................................................37
Bateria de exerc’cios...............................................................................40
Quest›es sem coment‡rios ...................................................................41
Gabarito.............................................................................................68
Quest›es com coment‡rios ...................................................................75
Resumo .............................................................................................. 129
Considera›es finais ............................................................................. 132
Aula 02
privado s‹o regidas por regime jur’dico de direito privado, t’pico do Direito
Civil/Empresarial.
No entanto, antes de adentrar essa classifica‹o, Ž relevante apontar um grupo
um tanto sui generis de pessoas e bens que se reœnem sem se submeter ao
regime legal determinado ˆs pessoas jur’dicas. Esses entes, apesar de se
assemelharem em maior ou menor grau ˆs pessoas jur’dicas, pessoas jur’dicas
n‹o s‹o, curiosamente...
A. Grupos n‹o personificados
H‡ determinados grupos de pessoas ou de bens que atuam como se pessoas
jur’dicas fossem, mas lhes falta o requisito de personalidade jur’dica, pelo que
n‹o constituem, efetivamente, pessoas jur’dicas. Por isso, essas
situa›es jur’dicas s‹o mero agrupamento de pessoas e/ou bens, sem
que cheguem a constituir pessoas jur’dica.
No entanto, possuem direitos e obriga›es muito
semelhantes ˆs pessoas jur’dicas, sendo que alguns
desses grupos, de maneira bastante contradit—ria,
possuem atŽ mesmo CNPJ (que, como o pr—prio nome diz, Ž o Cadastro
Nacional de Pessoas Jur’dicas), como Ž o caso do condom’nio. No fundo, Ž mera
op‹o da lei, j‡ que, na pr‡tica, a semelhana de alguns grupos n‹o
personificados com uma pessoa jur’dica Ž t‹o grande que muitos acabam
achando que s‹o eles efetivamente pessoas jur’dicas.
A relev‰ncia dos entes despersonalizados, em termos jusprivat’sticos, est‡ no
direito processual, pois, novamente, de maneira bastante contradit—ria Ð e as
contradi›es s‹o muitas quando falamos em grupos sem personalidade Ð apesar
de n‹o terem personalidade jur’dica, e, portanto,
capacidade jur’dica, possuem capacidade processual,
exercida mediante representa‹o processual.
Quem s‹o esses grupos despersonalizados? Eles aparecem no art. 75 do CPC,
que estabelece que ser‹o eles representados em ju’zo, ativa e passivamente, por
um representante:
Aula 02
direito pœblico com estrutura de direito privadoÓ. O Direito Administrativo, a seu
turno, resume tudo isso na express‹o Òpessoas jur’dicas de direito privadoÓ,
muitas vezes.
N‹o h‡ nenhuma contradi‹o, tratando-se exatamente ambas as express›es das
mesmas pessoas. PorŽm, o Direito Administrativo, de modo a excluir a aplica‹o
do regime jur’dico de direito pœblico, chama essas pessoas apenas pela parte
mais importante: direito privado. O Direito Civil ainda se atŽm ˆ cria‹o dessas
pessoas jur’dicas, j‡ que apesar de serem regidas pelo regime jur’dico de direito
privado, foram elas criadas pelo Estado, ou seja, s‹o ÒpœblicasÓ, da’ o assento ao
direito pœblico.
ƒ o caso das empresas pœblicas e das sociedades de economia mista. O Direito
Administrativo as chama de Òpessoas jur’dicas de direito privadoÓ, j‡ que tm
regime jur’dico de direito privado. O Direito Civil as chama de Òpessoas jur’dicas
de direito pœblico com estrutura de direito privadoÓ, j‡ que foram criadas pelo
Estado, mas adotaram uma estrutura de direito privado, ou seja, regime jur’dico
de direito privado.
O Enunciado 141 da III Jornada de Direito Civil esclarece
que, para alŽm dessas pessoas jur’dicas, as pessoas
jur’dicas de direito pœblico, a que se tenha dado
estrutura de direito privado, mencionadas pelo art.
41, par‡grafo œnico, s‹o as funda›es pœblicas e os entes de fiscaliza‹o
do exerc’cio profissional, como o CFM (uma autarquia) ou a OAB (uma
entidade sui generis, como definiu o STF na ADI 3.026/DF).
C. Pessoas jur’dicas de direito privado
O art. 44 do CC/2002 classifica as pessoas jur’dicas de direito privado. Atente
porque, segundo o Enunciado 144 da III Jornada de Direito Civil, a rela‹o das
pessoas jur’dicas de direito privado constante do art. 44 n‹o Ž exaustiva (rol
taxativo ou numerus clausus); trata-se de rol meramente exemplificativo
(numerus apertus).
Contraprova Ž que inœmeros dispositivos legais outros trazem inœmeras pessoas
jur’dicas de direito privado que n‹o est‹o no rol trazido pelo CC/2002. Aqui
tivemos outro resvalo do legislador, que se ÒesqueceuÓ de mencionar outras
tantas pessoas jur’dicas de direito privado j‡ previstas em outras normas
ulteriores ao CC/1916. Eis o rol das pessoas jur’dicas de direito privado
trazido pelo C—digo e pelas leis especiais:
Aula 02
Quanto ˆs organiza›es religiosas, sua cria‹o, organiza‹o e
funcionamento n‹o podem sofrer interven‹o estatal, prev o art. 44, ¤1¼.
Isso n‹o significa, porŽm, que h‡ uma espŽcie de Òcarta brancaÓ para a cria‹o
desse tipo de pessoa jur’dica, sob pena de fraude ˆ lei. Nesse sentido, o
Enunciado 143 da III Jornada de Direito Civil evidencia que a liberdade de
funcionamento das organiza›es religiosas n‹o afasta o controle de legalidade e
de legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame,
pelo Judici‡rio, da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos.
Ainda no esmaecimento entre as fronteiras do Direito Pœblico e do Direito
Privado, h‡ o Terceiro Setor. Determinadas pessoas jur’dicas comp›em
aquilo que se convencionou chamar de Terceiro Setor, que nada mais Ž do
que uma parcela das atividades do interesse do Poder Pœblico a cargo do setor
privado, sem a necessidade de concess‹o ou de outras medidas de cunho
administrativo geralmente utilizadas nesses casos.
Certas institui›es acabam precisamente por cumprir determinadas a›es t’picas
do Estado (Primeiro Setor), por intermŽdio do mercado (Segundo Setor). Em
resumo, s‹o entidades com origem na sociedade civil, mas que tm interesse
pœblico evidenciado.
Notabilizam-se as ONGs, Organiza›es N‹o-Governamentais, cuja atua‹o tende
ˆ filantropia. Na esteira desse racioc’nio existem dois t’tulos que podem ser dados
a determinadas pessoas jur’dicas de direito privado:
1. Organiza›es da Sociedade Civil de Interesse Pœblico Ð OSCIP:
previstas no art. 1¼ da Lei 9.790/1999, s‹o organiza›es da sociedade civil de
interesse pœblico;
2. Organiza›es Sociais Ð OS: previstas no art.1¼ da Lei n¼. 9.637/1998, s‹o
organiza›es cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, ˆ pesquisa cient’fica, ao
desenvolvimento tecnol—gico, ˆ prote‹o e preserva‹o do meio ambiente, ˆ
cultura e ˆ saœde;
3. Organiza›es da Sociedade Civil Ð OSC: previstas no art. 2¼, inc. I da Lei
13.019/2014, s‹o organiza›es se dirigem ˆ consecu‹o de finalidades de
interesse pœblico em regime de mœtua coopera‹o, por meio de termos de
fomento ou em acordos de coopera‹o.
Elas nada mais s‹o do que qualifica›es dadas pelo Poder Pœblico a determinadas
pessoas jur’dicas de direito privado, sem fins lucrativos, para que possam receber
recursos da Administra‹o Pœblica para a consecu‹o de seus objetivos. Ou seja,
as OSCIP, OS e as OSC n‹o s‹o pessoas jur’dicas propriamente ditas, mas
qualifica‹o dada a determinadas pessoas jur’dicas de direito privado
sem fins lucrativos!
Para fazer jus ao recebimento dessa qualifica‹o, a pessoa jur’dica
interessada deve comprovar uma sŽrie de requisitos. Cumpridos essas
exigncias, a pessoa jur’dica pode habilitar-se ˆ qualifica‹o pretendida. No
mais, maiores intera›es entre as entidades do Terceiro Setor e o Poder
Aula 02
Pœblico s‹o vistas no Direito Administrativo, evidentemente; apenas
menciono o assunto porque muitas provas acabam tentando induzir o candidato
em erro em quest›es que envolvem as pessoas jur’dicas de direito privado e o
Direito Administrativo.
Como disse mais acima, o nascimento da pessoa jur’dica depende de um ato
formal, j‡ que ela ÒnaturalmenteÓ n‹o existe. Esse ato Ž o registro do ato
constitutivo, consoante regra do art. 45 do CC/2002. Mas o que Ž necess‡rio
para o registro? O art. 46 estabelece quais s‹o os requisitos gerais do registro,
em seus incisos:
I - a denomina‹o, os fins, a sede, o tempo de dura‹o e o fundo social, quando houver;
II - o nome e a individualiza‹o dos fundadores ou instituidores, e dos diretores;
III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e
extrajudicialmente;
IV - se o ato constitutivo Ž reform‡vel no tocante ˆ administra‹o, e de que modo;
V - se os membros respondem, ou n‹o, subsidiariamente, pelas obriga›es sociais;
VI - as condi›es de extin‹o da pessoa jur’dica e o destino do seu patrim™nio, nesse caso.
Cumpridas essas imposi›es, a pessoa jur’dica ÒnasceÓ, adquire personalidade e
passa a ter autonomia completa, desde que seus administradores exeram seus
poderes nos limites definidos no ato constitutivo, na dic‹o do art. 47.
A partir da’, a pessoa jur’dica precisa ser administrada. Caso
ela tenha administra‹o coletiva, as decis›es se
tomar‹o pela maioria de votos dos presentes, salvo se
o ato constitutivo dispuser de modo diverso (art. 48). E se
essas decis›es violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas
de erro, dolo, simula‹o ou fraude? Nesse caso, determina o par‡grafo œnico que
Ž poss’vel anul‡-las no prazo (imprecisamente chamado de) decadencial
de 3 anos.
Na hip—tese de n‹o existair, por qualquer raz‹o, administrador ˆ pessoa jur’dica,
o juiz, a requerimento de qualquer interessado, nomear‡ um administrador
provis—rio, ad hoc, permite o art. 49. Se a ÒcriseÓ da pessoa jur’dica se agravar
e ela for dissolvida ou cassada sua autoriza‹o de funcionamento, ela subsiste
para os fins de liquida‹o, atŽ que esta se conclua (art. 51).
Veja que aqui, efetivamente, ocorrer‡ a
despersonifica‹o ou despersonaliza‹o da pessoa
jur’dica, conceito esse completamente distinto da
desconsidera‹o da personalidade jur’dica. A primeira
situa‹o abarca a extin‹o, dissolu‹o da pessoa
jur’dica, ao passo que a segunda trata do abandono
da regra de cis‹o patrimonial entre a pessoa jur’dica e as pessoas f’sicas
que dela fazem parte.
Aula 02
Essa liquida‹o ser‡ averbada no registro da pessoa jur’dica (¤1¼), aplicando-se
as disposi›es a respeito das sociedades, no que couber, ˆs demais pessoas
jur’dicas de direito privado (¤2¼). Com o encerramento da liquida‹o,
promove-se finalmente o cancelamento da inscri‹o da pessoa jur’dica
(¤3¼); somente nesse momento a pessoa jur’dica Ž extinta, deixando de existir
no plano jur’dico.
O art. 52, por fim, traz dic‹o bastante polmica. Consolidou-se o entendimento
de que os direitos da personalidade eram parte subjetiva
da pr—pria personalidade, pensada, na corrente formal,
para ser a qualifica‹o jur’dica do ser humano,
transformando-o em pessoa. Partindo dessa premissa, o art. 52 estabelece que
se aplica ˆs pessoas jur’dicas, no que couber, a prote‹o dos direitos da
personalidade. A extens‹o dos direitos da personalidade ˆ pessoa
jur’dica depende, obviamente, da possibilidade de a pessoa jur’dica
poder ser titular de determinados direitos e obriga›es.
O C—digo detalha diversas espŽcies de pessoas jur’dicas. Algumas delas, porŽm,
s‹o pr—prias do estudo do Direito Empresarial, do Direito Administrativo, do
Direito do Trabalho e assim por diante. Por isso, n‹o vou me deter nelas; s‹o
relevantes aqui apenas as associa›es e as funda›es.
2.3. Associa›es
As associa›es s‹o pessoas jur’dicas de direito privado
formadas para fins n‹o econ™micos, conforme
estabelece o art. 53 do CC/2002. Veja que nada impede
que as associa›es desenvolvam atividade
econ™mica, desde que n‹o haja finalidade lucrativa, evidentemente (Enunciado
534 da VI Jornada de Direito Civil).
Por isso, uma associa‹o n‹o pode distribuir lucro entre os associados, por mais
polpudos que eles sejam. E pode a associa‹o ter lucro? Pode ela exercer
atividades produtivas? Pode, mas o objetivo da associa‹o
n‹o pode ser a distribui‹o de lucro social,
exatamente o contr‡rio de uma sociedade. Se h‡
distribui‹o de lucro, portanto, trata-se de uma sociedade, e n‹o de uma
associa‹o.
Consequentemente, o par‡grafo œnico do art. 53 prev que
n‹o h‡, entre os associados, direitos e obriga›es
rec’procos. N‹o confunda esse dispositivo com a
possiblidade de haver direitos e obriga›es rec’procos entre o associado
e a associa‹o; n‹o h‡ entre os associados em si! Os requisitos da
associa‹o encontram-se no art. 54:
Aula 02
I - a denomina‹o, os fins e a sede da associa‹o;
II - os requisitos para a admiss‹o, demiss‹o e exclus‹o dos associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manuten‹o;
V - o modo de constitui‹o e funcionamento dos —rg‹os deliberativos e administrativos;
V Ð o modo de constitui‹o e de funcionamento dos —rg‹os deliberativos;
VI - as condi›es para a altera‹o das disposi›es estatut‡rias e para a dissolu‹o.
VII Ð a forma de gest‹o administrativa e de aprova‹o das respectivas contas.
Todos esses requisitos devem estar contidos no Estatuto Social. Esse Estatuto
pode prever categorias de associados com vantagens especiais, mas todos eles
devem ter iguais direitos (art. 55 do CC/2002). Por isso, nenhum associado
poder‡ ser impedido de exercer direito ou fun‹o, a n‹o ser nos casos e
pela forma previstos na Lei ou no Estatuto (art. 58 do CC/2002).
A possibilidade de institui‹o de categorias de associados com vantagens
especiais admite a atribui‹o de pesos diferenciados ao direito de voto,
desde que isso n‹o acarrete a sua supress‹o em rela‹o a matŽrias
previstas no art. 59 (destitui‹o de administradores e altera‹o do estatuto).
Esse Ž o entendimento exarado no Enunciado 577 da VII Jornada de Direito Civil.
Assim, a associa‹o pode ter um Associado Nato, um Associado Ouro e um
Associado Bronze, trs categorias com vantagens distintas.
O Estatuto ainda tem de prever normas de admiss‹o e a possibilidade de
demiss‹o dos associados. A exclus‹o do associado s— Ž admiss’vel se
houver justa causa, assim reconhecida em
procedimento que assegure direito de defesa e de
recurso, nos termos previstos no estatuto, conforme
estabelece o art. 57. Evidentemente que se houver viola‹o
dessas premissas, nada impede que o associado recorraao Poder Judici‡rio para
reapreciar o ato, se for o caso, como em situa›es de exclus›es baseadas em
critŽrios discriminat—rios.
O art. 59 estabelece que Ž de competncia privativa da assembleia geral a
destitui‹o dos administradores e a altera‹o do estatuto. Nesses dois casos, as
delibera›es devem ser realizadas em assembleia especialmente convocada para
esse fim. O quorum ser‡ fixado no estatuto, bem como os critŽrios de elei‹o dos
administradores.
2015 Ð MPT Ð MPT Ð Procurador do Trabalho
Acerca das disposi›es sobre associa›es no C—digo Civil, assinale a
alternativa INCORRETA:
Aula 02
a) Os associados devem ter direitos iguais, mas o estatuto poder‡ instituir
categoria com vantagem especial.
b) A exclus‹o de associado Ž feita de acordo com os estatutos, que Ž
soberano para estabelecer o procedimento que entender adequado.
c) Compete privativamente ˆ assembleia geral, especialmente convocada
para esse fim, destituir os administradores.
d) Nenhum associado poder‡ ser impedido de exercer direito ou fun‹o que
lhe tenha sido legitimamente conferido, a n‹o ser nos casos e pela forma
previstos na lei ou no estatuto.
e) N‹o respondida.
Coment‡rios
A alternativa A est‡ correta, na literalidade do art. 55: ÒOs associados devem
ter iguais direitos, mas o estatuto poder‡ instituir categorias com vantagens
especiaisÓ.
A alternativa B est‡ incorreta, como se extrai do art. 57: ÒA exclus‹o do
associado s— Ž admiss’vel havendo justa causa, assim reconhecida em
procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos
no estatutoÓ.
A alternativa C est‡ correta, na conjuga‹o do art. 59, inc. I (ÒCompete
privativamente ˆ assembleia geral destituir os administradoresÓ) com seu
par‡grafo œnico (ÒPara as delibera›es a que se referem os incisos I e II deste
artigo Ž exigido delibera‹o da assembleia especialmente convocada para esse
fim, cujo qu—rum ser‡ o estabelecido no estatuto, bem como os critŽrios de
elei‹o dos administradoresÓ).
A alternativa D est‡ correta, conforme o art. 58: ÒNenhum associado poder‡
ser impedido de exercer direito ou fun‹o que lhe tenha sido legitimamente
conferido, a n‹o ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatutoÓ.
Ademais, a convoca‹o dos —rg‹os deliberativos tambŽm deve ser feita na forma
do estatuto, prev o art. 60. Fica garantido, de qualquer forma, a 1/5 dos
associados o direito de promov-la.
A qualidade de associado Ž, em regra, intransmiss’vel.
No entanto, o art. 56 permite que o estatuto disponha
em contr‡rio. Atente, porŽm, para a previs‹o do par‡grafo
œnico sobre o elemento patrimonial da associa‹o. Se o associado for titular de
quota ou fra‹o ideal do patrim™nio da associa‹o, a transferncia daquela n‹o
importar‡, de per si, na atribui‹o da qualidade de associado ao adquirente ou
ao herdeiro, salvo disposi‹o diversa do estatuto.
O art. 44, ¤2¼ estabelece que as disposi›es concernentes ˆs associa›es
se aplicam subsidiariamente ˆs sociedades empresariais. Minudencia o
Enunciado 280 da IV Jornada de Direito Civil que as regras dos arts. 57
Aula 02
e 60, relativas ˆs associa›es, se aplicam ˆs sociedades empresariais,
exceto ˆs limitadas, nos seguintes termos:
A) havendo previs‹o contratual, Ž poss’vel aos s—cios deliberar a exclus‹o de
s—cio por justa causa, pela via extrajudicial. Nesse caso, cabe ao contrato social
disciplinar o procedimento de exclus‹o, assegurado o direito de defesa, por
aplica‹o anal—gica do art. 1.085;
B) as delibera›es sociais poder‹o ser convocadas por iniciativa de s—cios que
representem 1/5 do capital social, na omiss‹o do contrato. A mesma regra aplica-
se na hip—tese de cria‹o, pelo contrato, de outros —rg‹os de delibera‹o
colegiada.
Em caso de dissolu‹o da associa‹o, primeiro devem ser deduzidas as quotas
ou fra›es ideais de titularidade dos associados. Aten‹o, j‡ que as associa›es
n‹o podem distribuir lucro aos associados, mas isso
n‹o se confunde com a devolu‹o das cotas dos
associados em caso de dissolu‹o da associa‹o!
Ademais, o ¤1¼ permite que os associados podem receber em restitui‹o o valor
atualizado das contribui›es que tiverem prestado ao patrim™nio da associa‹o,
caso isso esteja previsto no estatuto ou, no seu silncio, por delibera‹o dos
associados.
Pois bem. Feitas essas dedu›es, se for o caso, determina o art. 61 que o
remanescente do patrim™nio l’quido seja destinado ˆ entidade de fins
n‹o econ™micos designada no estatuto, ou, omisso este, por delibera‹o
dos associados, ˆ institui‹o municipal, estadual ou federal, de fins idnticos
ou semelhantes. O Enunciado 407 do CJF esclarece que essa destina‹o possui
car‡ter subsidi‡rio, devendo prevalecer a vontade dos
associados, desde que seja contemplada entidade que
persiga fins n‹o econ™micos.
Se n‹o existir no respectivo territ—rio em que a associa‹o tiver sede institui‹o
nas referidas condi›es, o que remanescer do seu patrim™nio ficar‡ com o Estado,
o Distrito Federal ou a Uni‹o, conforme o caso. ƒ, em certo sentido, medida
semelhante ˆ adotada no caso de vac‰ncia da herana jacente.
AlŽm disso, o Enunciado 615 da VIII Jornada de Direito Civil estabelece que as
associa›es civis podem sofrer transforma‹o, fus‹o, incorpora‹o ou cis‹o. H‡
polmica a respeito de possibilidade de transforma‹o da associa‹o em uma
sociedade empresarial, dado que esta tem fins econ™micos. Evidentemente, em
caso de fraude, a associa‹o n‹o poderia ser transformada.
2016 Ð TRF Ð TRF/3» Regi‹o Ð Juiz Federal Substituto
Relativamente ˆs pessoas jur’dicas, marque a alternativa correta:
Aula 02
a. Se a pessoa jur’dica tiver administra‹o coletiva, as decis›es se tomar‹o,
em qualquer caso, pela maioria de votos dos presentes.
b. Compete privativamente ˆs assembleias gerais das associa›es a
destitui‹o e a elei‹o dos administradores, bem como a altera‹o dos
estatutos.
c. Quando insuficientes para constituir a funda‹o, os bens a ela destinados
ser‹o incorporados em outra funda‹o que se proponha a fim igual ou
semelhante, independentemente do que dispuser o instituidor.
d. ƒ obrigat—ria a inclus‹o de norma estatut‡ria nas associa›es que preveja
o direito de recorrer dos associados na hip—tese de sua exclus‹o.
Coment‡rios
A alternativa A est‡ incorreta, na forma do art. 48: ÒSe a pessoa jur’dica tiver
administra‹o coletiva, as decis›es se tomar‹o pela maioria de votos dos
presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diversoÓ.
A alternativa B est‡ incorreta, segundo o art. 59, incs. I e II: ÒCompete
privativamente ˆ assembleia geral:
I Ð destituir os administradores;
II Ð alterar o estatutoÓ.
A alternativa C est‡ incorreta, de acordo com o art. 63: ÒQuando insuficientes
para constituir a funda‹o, os bens a ela destinados ser‹o, se de outro modo n‹o
dispuser o instituidor, incorporados em outra funda‹o que se proponha a fim
igual ou semelhanteÓ.
A alternativa D est‡ correta, pela combina‹o dos arts. 54, II (ÒSob pena de
nulidade, o estatuto das associa›es conter‡ os requisitos para a admiss‹o,
demiss‹o e exclus‹o dos associadosÓ) e 57 (ÒArt. 57. A exclus‹o do associado s—
Ž admiss’vel havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que
assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatutoÓ).
2.4. Funda›es
As funda›es s‹o um complexo de bens, ou seja, s‹o pessoas jur’dicas sem
quaisquer pessoas f’sicas/naturais quando de sua institui‹o. Ela, assim,
configura o caso mais expl’cito da concep‹o formal de pessoa, bem como da
Teoria da Realidade TŽcnica, j‡ que se personificam os bens, em certa medida.
Cria-se a funda‹o por escritura pœblica ou por
testamento, dotando-a o instituidor de bens livres,
especificando o fim a que se destina, e declarando, se
quiser, a maneira de administr‡-la.
Aula 02
2016 Ð MPE/SC Ð MPE/SC Ð Promotor de Justia Substituto
De acordocom o C—digo Civil, uma funda‹o pode ser criada por escritura
pœblica ou testamento, por meio dos quais o instituidor far‡ dota‹o especial
de bens livres, especificando o fim a que se destina, devendo declarar,
tambŽm, a maneira de administr‡-la. Dentre os fins expressos na legisla‹o,
destaca-se: a saœde; a segurana alimentar e nutricional; e a pesquisa
cient’fica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, moderniza‹o de
sistemas de gest‹o, produ‹o e divulga‹o de informa›es e conhecimentos
tŽcnicos e cient’ficos.
Coment‡rios
O item est‡ incorreto, de acordo com o art. 62: ÒPara criar uma funda‹o, o seu
instituidor far‡, por escritura pœblica ou testamento, dota‹o especial de bens
livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira
de administr‡-laÓ.
O objetivo das funda›es Ž sempre pœblico, apesar do car‡ter privado
que possuem. Em sua reda‹o original, o art. 62, par‡grafo œnico do CC/2002
era bastante restritivo a respeito de quais atividades poderiam ser objetivos das
funda›es.
N‹o ˆ toa, o Enunciado 8 da I Jornada de Direito Civil j‡ propugnava que Òa
constitui‹o de funda‹o para fins cient’ficos, educacionais ou de promo‹o do
meio ambiente est‡ compreendida no C—digo CivilÓ. Indo ainda mais longe, o
Enunciado 9 do CJF estabelece que o par‡grafo œnico do art. 62 deve ser
interpretado de modo a excluir apenas as funda›es com fins lucrativos.
2016 Ð CESPE Ð PGE/AM Ð Procurador do Estado
As funda›es privadas s‹o de livre cria‹o, organiza‹o e estrutura‹o,
cabendo aos seus instituidores definir os seus fins, que podem consistir na
explora‹o de entidades com fins lucrativos nas ‡reas de saœde, educa‹o
ou pesquisa tecnol—gica, e outras de cunho social.
Coment‡rios
O item est‡ incorreto, pois as funda›es n‹o podem ter car‡ter lucrativo, em
hip—tese alguma. Indiciariamente, j‡ indica isso o art. 11 da LINDB: ÒAs
organiza›es destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as
funda›es, obedecem ˆ lei do Estado em que se constitu’remÓ. Igualmente, prev
o art. 66 do CC/2002 que ÒVelar‡ pelas funda›es o MinistŽrio Pœblico do Estado
onde situadasÓ.
Aula 02
Em que pese Enunciado 8 tenha sido absorvido por mudana legislativa posterior,
o Enunciado 9 continua relevante, j‡ que o referido dispositivo continua,
aparentemente, a trazer um rol taxativo de objetivos ˆs funda›es. Esses
objetivos podem ser assim resumidos, segundo o art. 62, par‡grafo œnico:
I Ð assistncia social;
II Ð cultura, defesa e conserva‹o do patrim™nio hist—rico e art’stico;
III Ð educa‹o;
IV Ð saœde;
V Ð segurana alimentar e nutricional;
VI Ð defesa, preserva‹o e conserva‹o do meio ambiente e promo‹o do desenvolvimento
sustent‡vel;
VII Ð pesquisa cient’fica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, moderniza‹o de
sistemas de gest‹o, produ‹o e divulga‹o de informa›es e conhecimentos tŽcnicos e
cient’ficos;
VIII Ð promo‹o da Žtica, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos;
IX Ð atividades religiosas.
Na institui‹o da funda‹o, seu instituidor deve designar o patrim™nio que a
comp›e. Quando, porŽm, insuficientes os fundos para constituir a
funda‹o, os bens a ela destinados ser‹o, se de outro
modo n‹o dispuser o instituidor, incorporados a outra
funda‹o que se proponha a fim igual ou semelhante,
segundo disp›e o art. 63.
Caso a funda‹o seja criada por ato entre vivos, o instituidor Ž obrigado a
transferir-lhe a propriedade sobre os bens dotados, e, se n‹o o fizer, ser‹o
registrados, em nome dela, por mandado judicial (art. 64).
Institu’da a funda‹o, o instituidor nomear‡ pessoa para gerir o patrim™nio. Essas
pessoas devem, segundo o art. 65, formular logo, de
acordo com a base prevista para a funda‹o, o
estatuto da funda‹o projetada, submetendo-o, em
seguida, ˆ aprova‹o da autoridade competente (atualmente, o MP), com recurso
ao juiz.
Veja-se que, caso o estatuto n‹o seja elaborado no prazo assinado pelo
instituidor, ou, n‹o havendo prazo, em 180 dias, a incumbncia caber‡ ao
MinistŽrio Pœblico, consoante regra expressa do par‡grafo œnico do mencionado
art. 65.
O papel do MP Ž important’ssimo, j‡ que cabe a ele velar pelas funda›es,
segundo estabelece o art. 66, de acordo com a competncia territorial do Parquet.
Quando a funda‹o se localiza em algum dos Estados da Federa‹o, n‹o h‡
grande dœvida.
PorŽm, se sua atividade se estender por mais de um Estado, caber‡ o
encargo, em cada um deles, ao respectivo MPE, na forma do ¤ 2¼ do art.
Aula 02
66. Veja que a express‹o Òpor mais de um EstadoÓ, contida no referido ¤2¼n‹o
exclui o Distrito Federal e os Territ—rios, evidentemente.
PRESTE ATEN‚ÌO, pois a Lei 13.151/2015 corrigiu uma
distor‹o que havia no ¤ 1¼ do art. 66. Em sua reda‹o
original, essa regra mencionava que, no caso de
funcionarem no Distrito Federal ou em Territ—rio,
caberia o encargo legal ao MPF. A referida lei alterou o
dispositivo e passou a prever que caber‡ o encargo ao MPDFT.
Essa nova reda‹o legal, inclusive, vai ao encontro do Enunciado 10 da I Jornada
de Direito Civil. Prev o enunciado que em face do princ’pio da especialidade esse
dispositivo deveria ser interpretado em sintonia com os arts. 70 e 178 da LC
75/1993, situa‹o essa agora tornada lei.
Segundo o Enunciado 147 da III Jornada de Direito Civil, a atribui‹o ao
MinistŽrio Pœblico local de velar pelas funda›es situadas em seu
territ—rio n‹o exclui a necessidade de fiscaliza‹o de tais pessoas
jur’dicas pelo MPF, quando se tratar de funda›es institu’das ou
mantidas pela Uni‹o, autarquia ou empresa pœblica federal, ou que destas
recebam verbas, nos termos da CF/1988, da LC 75/1993 e da Lei de Improbidade.
Cuidado para n‹o confundir o teor desse Enunciado (fiscaliza‹o pelo MPF) com
a altera‹o legislativa havida no ¤1¼ do art. 66 (fiscaliza‹o pelo MPDFT).
Contrariamente ˆs associa›es, a altera‹o do Estatuto das funda›es tem
algumas exigncias legais, conforme estabelece o art. 67. Primeiro, tenha em
mente que a finalidade da funda‹o Ž inalter‡vel;
pode-se apenas alterar seu estatuto. Para tanto, s‹o
trs os requisitos exigidos:
I - seja deliberada por dois teros dos competentes para gerir e representar a funda‹o;
II - n‹o contrarie ou desvirtue o fim desta;
III Ð seja aprovada pelo —rg‹o do MinistŽrio Pœblico no prazo m‡ximo de 45 dias, findo o
qual ou no caso de o MinistŽrio Pœblico a denegar, poder‡ o juiz supri-la, a requerimento do
interessado.
O MinistŽrio Pœblico, portanto, tem prazo decadencial de apenas 45 dias para
denegar confirma‹o ˆ altera‹o. O silncio, nesse caso, Ž interpretado como
nega‹o de aceita‹o da altera‹o, consequentemente, a permitir suprimento
judicial.
Caso a altera‹o n‹o seja aprovada por vota‹o un‰nime, os
administradores da funda‹o, ao submeterem o estatuto ao MP, devem
requerer que se d cincia ˆ minoria vencida. A minoria, ent‹o, pode
impugnar a mudana de maneira fundamentada, querendo, no prazo
decadencial de 10 dias, segundo o art. 68. A’, o Parquet analisa a controvŽrsia
e decide se aprova ou n‹o a altera‹o, na forma do art. 67, inc. III, supracitado.
Novamente, se a aprova‹o for negada, cabe ao juiz decidir a respeito.
Aula 02
2016 Ð MPE/PR Ð MPE/PR Ð Promotor de Justia Substituto
Assinale a alternativa correta:
a) Uma funda‹o pode constituir-se para fins de saœde, mas n‹o para fins
de segurana alimentar e nutricional;
b) Se uma funda‹o funcionar no Distrito Federal ou em Territ—rio, o encargo
de sua fiscaliza‹o ao MinistŽrio Pœblico Federal;
c) A funda‹o n‹o pode ser criada para fins de atividades religiosas;
d) A altera‹o ou reforma do estatuto de uma funda‹o deve ser aprovada
pelo —rg‹o do MinistŽrio Pœblico em atŽ 30 dias;
e) Se o MinistŽrio Pœblico denegar a reforma do estatuto, o juiz pode a suprir,
a requerimento do interessado.
Coment‡rios
A alternativaA est‡ incorreta, conforme o art. 62, par‡grafo œnico, inc. IV: ÒA
funda‹o somente poder‡ constituir-se para fins de segurana alimentar e
nutricionalÓ.
A alternativa B est‡ incorreta, de acordo com o art. 66, ¤ 1¼: ÒSe funcionarem
no Distrito Federal ou em Territ—rio, caber‡ o encargo ao MinistŽrio Pœblico do
Distrito Federal e Territ—riosÓ.
A alternativa C est‡ incorreta, consoante o art. 62, par‡grafo œnico, inc. IX: ÒA
funda‹o somente poder‡ constituir-se para fins de atividades religiosasÒ.
A alternativa D est‡ incorreta, pela dic‹o do art. 67, inc. III: ÒSeja aprovada
pelo —rg‹o do MinistŽrio Pœblico no prazo m‡ximo de 45 (quarenta e cinco) dias,
findo o qual ou no caso de o MinistŽrio Pœblico a denegar, poder‡ o juiz supri-la,
a requerimento do interessadoÓ.
A alternativa E est‡ correta, segundo a literalidade da parte final do art. 67, inc.
III, supracitado.
Por fim, estabelece o art. 69 acerca da extin‹o da funda‹o. Se se tornar il’cita,
imposs’vel ou inœtil a finalidade da funda‹o, ou vencido o prazo de sua
existncia, em caso de termo previsto pelo instituidor, o MP ou qualquer
interessado requerer‡ sua extin‹o.
Nessa hip—tese, incorpora-se seu patrim™nio a outra
funda‹o, designada pelo juiz, que se proponha a fim
igual ou semelhante. Evidentemente que se houver
disposi‹o em contr‡rio no ato constitutivo ou no estatuto, deve-se seguir tal
determina‹o.
Aula 02
2.5. Desconsidera‹o da personalidade jur’dica
JosŽ Lamartine Corra de Oliveira Lyra apontou um fen™meno que ele chamou
de dupla crise da pessoa jur’dica. N‹o Ž uma crise do conceito de pessoa jur’dica
ou da pr—pria no‹o de pessoa jur’dica, mas da deforma‹o causada pelo
formalismo. Esse formalismo atribui uma cis‹o absoluta entre a pessoa jur’dica e
a pessoa f’sica/natural.
E esse apartamento absoluto Ž fonte de abuso pela pessoa f’sica/natural,
que se aproveita disso para se utilizar da pessoa jur’dica com fins diversos do
imaginado a ela. Mas o que caracteriza o abuso mencionado pela teoria?
Se configuraria no caso de abuso de direito, de fraude, de descumprimento de obriga›es
contratuais e legais, de atos il’citos praticados pela sociedade, de confus‹o patrimonial entre
o patrim™nio pessoa do s—cio e o patrim™nio da pessoa jur’dica, de desvio da finalidade
contratual prevista no Estatuto etc.
Assim, excepcionalmente, a cis‹o criada pela Teoria da Realidade TŽcnica, em
termos patrimoniais, deixa de existir, e Ž poss’vel se ignorar o vŽu que separa o
patrim™nio da pessoa jur’dica e o patrim™nio pessoal dos s—cios. Trata-se de
homenagem ˆ teoria da aparncia e ˆ veda‹o ao abuso de direito,
claramente. A amplitude dessa separa‹o patrimonial ficou ainda mais evidente
quando o legislador brasileiro criou a EIRELI.
2017 Ð CESPE Ð DPU Ð Defensor Pœblico Federal
Uma senhora procurou a DP para ajuizar a‹o de alimentos contra o pai de
seu filho menor de idade. Ela informou que o genitor n‹o possu’a bens em
seu nome, mas exercia atividade empresarial em sociedade com um amigo:
a venda de quentinhas. Apresentou c—pia do contrato social, que, contudo,
n‹o era inscrito no —rg‹o de registro pr—prio.
Considerando essa situa‹o hipotŽtica e a necessidade de se obter o
pagamento da pens‹o, julgue os itens a seguir.
Se o pai n‹o pagar os alimentos espontaneamente e n‹o forem encontrados
bens de sua titularidade, caber‡ ˆ DP invocar a teoria da desconsidera‹o
da personalidade jur’dica contra a sociedade empres‡ria.
Coment‡rios
O item est‡ incorreto, porque se trata de sociedade n‹o personificada, j‡ que,
conforme o art. 45, ÒComea a existncia legal das pessoas jur’dicas de direito
privado com a inscri‹o do ato constitutivo no respectivo registro, precedida,
Aula 02
quando necess‡rio, de autoriza‹o ou aprova‹o do Poder Executivo, averbando-
se no registro todas as altera›es por que passar o ato constitutivoÓ. Assim, n‹o
constitu’da a sociedade em quest‹o, incab’vel se falar em desconsidera‹o de um
ente que n‹o detŽm personalidade jur’dica ainda, n‹o sendo tal sociedade uma
pessoa jur’dica em termos tŽcnicos.
Essa pessoa jur’dica, que n‹o Ž uma sociedade, mas um novo ente personificado
(Enunciado 469 do CJF), uma pessoa jur’dica unipessoal. Em que pese a confus‹o
entre pessoa f’sica e jur’dica ser mais f‡cil, o Enunciado 470 do CJF elucida que
o patrim™nio da EIRELI responde pelas d’vidas da pessoa jur’dica, n‹o
se confundindo com o patrim™nio da pessoa natural que a constitui.
Obviamente, se presentes os requisitos legais, haver‡ a aplica‹o do instituto da
desconsidera‹o da personalidade jur’dica.
E quando cabe a desconsidera‹o? Depende da situa‹o. Se for uma rela‹o
trabalhista, h‡ regra pr—pria na CLT; se for uma rela‹o tribut‡ria, h‡ aplica‹o
do CTN; se for uma rela‹o consumerista, o CDC disp›e a respeito. Antes de se
compreender a aplica‹o da Disregard Doctrine ou Disregard of the Legal Entity
em cada seara espec’fica, Ž preciso compreender duas diferentes teorias.
A primeira teoria Ž a chamada Teoria Maior, adotada pelo art. 50 do CC/2002:
Em caso de abuso da personalidade jur’dica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela
confus‹o patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do MinistŽrio Pœblico
quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas rela›es
de obriga›es sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou s—cios da
pessoa jur’dica.
Em outras palavras, necess‡rio Ž se verificar o abuso na utiliza‹o da
personalidade jur’dica. Esse abuso deve se caracterizar pelo desvio de
finalidade OU pela confus‹o patrimonial. Se n‹o se caracterizar nem uma
dessas situa›es, n‹o se pode desconsiderar a personalidade jur’dica. Da’ o nome
de Teoria Maior, pois ela exige a verifica‹o de mais requisitos.
2015 Ð ESAF Ð PGFN Ð Procurador da Fazenda Nacional
Considerando o que disp›e o C—digo Civil acerca das pessoas jur’dicas,
analise os itens a seguir e assinale a op‹o correta.
a) A existncia legal das pessoas jur’dicas de direito privado comea com a
inscri‹o do ato constitutivo no respectivo registro, sendo exig’vel, nesse
caso, autoriza‹o estatal para a sua cria‹o e personifica‹o.
b) Se a pessoa jur’dica tiver administra‹o coletiva, as decis›es se tomar‹o
pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de
modo diverso, prescrevendo em cinco anos o direito de anular essas
decis›es, quando violarem a lei ou o estatuto.
Aula 02
c) As pessoas jur’dicas de direito pœblico interno s‹o civilmente respons‡veis
pelos atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros,
ressalvado o direito regressivo contra os causadores do dano se
demonstrado que agiram com dolo.
d) As organiza›es religiosas e as empresas individuais de responsabilidade
limitada comp›em, ao lado das associa›es, funda›es, sociedades e
partidos pol’ticos, as pessoas jur’dicas de direito privado.
e) Em caso de abuso da personalidade jur’dica, caracterizado pelo desvio de
finalidade, ou pela confus‹o patrimonial, pode o juiz decidir, de of’cio, que
os efeitos de certas e determinadas rela›es de obriga›es sejam estendidos
aos bens particulares dos administradores ou s—cios da pessoa jur’dica.
Coment‡rios
A alternativa A est‡ incorreta, de acordo com o art. 45: ÒComea a existncia
legal das pessoas jur’dicas de direito privado com a inscri‹o do ato constitutivo
no respectivo registro, precedida, quando necess‡rio, de autoriza‹o ou
aprova‹o do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as altera›es por
que passar o ato constitutivoÓ.
A alternativa B est‡ incorreta, conforme o art. 48, par‡grafo œnico: ÒDecai em
trs anos o direito de anular as decis›es a que se refere este artigo, quando
violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simula‹o ou fraudeÓ.
A alternativa C est‡ incorreta, na forma do art. 43: ÒAs pessoas jur’dicasde
direito pœblico interno s‹o civilmente respons‡veis por atos dos seus agentes que
nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra
os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou doloÓ.
A alternativa D est‡ correta, pela conjun‹o dos incisos do art. 44: ÒS‹o pessoas
jur’dicas de direito privado:
I - as associa›es;
II - as sociedades;
III - as funda›es.
IV - as organiza›es religiosas;
V - os partidos pol’ticos;
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitadaÓ.
A alternativa E est‡ incorreta, consoante regra espec’fica do art. 50: ÒEm caso
de abuso da personalidade jur’dica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou
pela confus‹o patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do
MinistŽrio Pœblico quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas
e determinadas rela›es de obriga›es sejam estendidos aos bens particulares
dos administradores ou s—cios da pessoa jur’dicaÓ.
Aula 02
O abuso da personalidade jur’dica se evidencia pela utiliza‹o dos par‰metros
oriundos do art. 187 do CC/2002, que trata do abuso de direito (cl‡usula geral)
como ato il’cito. Assim, deve-se verificar se ocorreu, por parte da pessoa natural,
manifesto excesso aos Òlimites impostos pelo seu fim econ™mico ou social, pela
boa-fŽ ou pelos bons costumesÓ. A colmata‹o desses limites depende de
interpreta‹o judicial, evidentemente.
Por exemplo, ainda que a pessoa jur’dica seja insolvente, simplesmente, n‹o se
pode aplicar a desconsidera‹o. A jurisprudncia foi, ao longo dos anos,
consolidando lentamente as situa›es nas quais Ž cab’vel ou n‹o a
desconsidera‹o a partir da Teoria Maior.
Inicialmente, essa teoria era claramente subjetivista, pautando-se
centralmente na figura da fraude. A equipara‹o do esvaziamento patrimonial
ˆ fraude contra credores era bastante frequente, de modo a se fundamentar
minimamente em termos legais a aplica‹o da teoria.
Paulatinamente, sua aplica‹o foi se objetivando, atŽ a consolida‹o em torno do
art. 50. Ainda assim, Ž muito comum ver nas decis›es judiciais o apelo ˆ fraude
para se permitir a aplica‹o; desnecess‡rio, porŽm, a ocorrncia de fraude, sendo
imprescind’vel a verifica‹o do abuso de personalidade, apenas.
2015 Ð CESPE Ð DPU Ð Defensor Pœblico Federal
Para fins de desconsideraão da pessoa jur’dica, adota-se, no C—digo Civil, a
denominada teoria maior subjetiva.
Coment‡rios
O item est‡ incorreto, dado que a teoria adotada pelo CC/2002 Ž a Teoria Maior,
n‹o havendo elemento ÒsubjetivoÓ. Teoria Maior e ponto.
J‡ a Teoria Menor Ž adotada pelo art. 28, ¤5¼ do CDC, que assim disp›e:
TambŽm poder‡ ser desconsiderada a pessoa jur’dica sempre que sua personalidade for,
de alguma forma, obst‡culo ao ressarcimento de preju’zos causados aos consumidores.
O caput do art. 28 estabelece que pode haver a desconsidera‹o em havendo
abuso de direito, excesso de poder, infra‹o da lei, fato ou ato il’cito, viola‹o
dos estatutos ou contrato social, falncia, estado de insolvncia, encerramento
ou inatividade da pessoa jur’dica provocados por m‡ administra‹o. PorŽm,
consolidou-se o entendimento de que o ¤5¼ pode ser
aplicado independentemente do caput do dispositivo,
de modo que Ž desnecess‡rio visualizar algum dos
elementos taxativos do caput, bastando a verifica‹o
de dano ao consumidor.
Aula 02
um conjunto menor de rela›es jur’dicas, aplicando-se a menor lei, o
CDC, apenas! DECORE!
Ao contr‡rio, cabe tambŽm a chamada Òdesconsidera‹o inversa da
personalidade jur’dicaÓ, quando a pessoa f’sica se
utiliza da pessoa jur’dica, indevidamente, para se
ÒblindarÓ de ataques contra seu patrim™nio.
O fundamento Ž o mesmo: evitar o abuso no uso da personalidade jur’dica. Faz-
se, nesse caso, uma interpreta‹o teleol—gica do art. 50, de modo a
permitir que se busque o patrim™nio da pessoa f’sica
ÒescondidoÓ atr‡s da pessoa jur’dica. O Enunciado 283 da IV
Jornada de Direito Civil j‡ propugnava o cabimento da
desconsidera‹o inversa para alcanar bens de s—cio
que se valeu da pessoa jur’dica para ocultar ou
desviar bens pessoais, com preju’zo a terceiros.
O STJ, igualmente, tem reiteradas decis›es afirmando a possibilidade da
desconsidera‹o inversa. Finalmente, a desconsidera‹o inversa passou a
ser textualmente prevista no CPC/2015, em seu art. 133, ¤2¼:
¤ 2¼ Aplica-se o disposto neste Cap’tulo ˆ hip—tese de desconsidera‹o inversa da
personalidade jur’dica.
O CPC/2015, inclusive, trouxe regras acerca de um novo incidente processual, o
incidente de desconsidera‹o da personalidade jur’dica. Esse novo
procedimento tem profundo e importante impacto no exerc’cio do direito
material.
H‡ discuss‹o acerca da responsabiliza‹o da pessoa jur’dica por atos praticados
pelos administradores com abuso de poder ou com viola‹o ao objeto da pessoa
jur’dica. Esse Ž um tema, a rigor, de Direito Empresarial, mas cujas linhas gerais
se extraem daqui.
Como se extrai da interpreta‹o inversa do art. 47 n‹o
obrigam a pessoa jur’dica os atos dos
administradores, exercidos fora dos limites de seus
poderes definidos no ato constitutivo. ƒ uma forma de
prote‹o da pessoa jur’dica contra os atos das pessoas naturais que lhe
administram (lembre-se, s‹o pessoas distintas), derivada da Ultra Vires
Doctrine do direito anglo-sax™nico.
Os atos dos administradores que violam essas premissas s‹o, portanto, ineficazes
em rela‹o ˆ pessoa jur’dica, exceto nos casos em que se beneficia dessas
condutas. No entanto, quanto aos terceiros de boa-fŽ que contrataram com
a pessoa jur’dica por meio de ato exorbitante do administrador, ela
continua respons‡vel, por aplica‹o da Teoria da Aparncia e do princ’pio
da boa-fŽ objetiva. ƒ esse o sentido que se sedimentou, inclusive, no Enunciado
145 da III Jornada de Direito Civil.
Aula 02
Segundo o regramento do C—digo Civil, Ž INCORRETO afirmar que:
a. Quanto ˆs pessoas jur’dicas, o domic’lio da Uni‹o Ž o Distrito Federal, dos
Estados e Territ—rios, as respectivas capitais, do Munic’pio, o lugar onde
funcione a administra‹o municipal, das demais pessoas jur’dicas, o lugar
onde funcionarem as respectivas diretorias e administra›es, ou onde
elegerem domic’lio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
b. Tendo a pessoa jur’dica diversos estabelecimentos em lugares diferentes,
cada um deles ser‡ considerado domic’lio para os atos nele praticados.
c. Se a administra‹o, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-‡
por domic’lio da pessoa jur’dica, no tocante ˆs obriga›es contra’das por
cada uma das suas agncias, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a
que ela corresponder.
d. O domic’lio do incapaz Ž o do seu representante ou assistente; o do
servidor pœblico, o lugar em que exercer permanentemente suas fun›es; o
do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeron‡utica, a sede do
comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do mar’timo, o
porto onde o navio estiver atracado; e o do preso, o lugar em que cumprir a
sentena.
e. Nos contratos escritos, poder‹o os contratantes especificar domic’lio onde
se exercitem e cumpram os direitos e obriga›es deles resultantes.
Coment‡rios
A alternativa A est‡ correta, segundo o art. 75, incisos: ÒQuanto ˆs pessoas
jur’dicas, o domic’lio Ž:
I - da Uni‹o, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territ—rios, as respectivas capitais;
III - do Munic’pio, o lugar onde funcione a administra‹o municipal;
IV - das demais pessoas jur’dicas, o lugar onde funcionarem as respectivas
diretorias e administra›es, ou onde elegerem domic’lio especial no seu estatuto
ou atos constitutivosÓ.
A alternativa B est‡ correta, conforme o art. 75, ¤1¼: ÒTendo a pessoa jur’dica
diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles ser‡ considerado
domic’lio para os atos nele praticadosÓ.
A alternativa C est‡ correta, na dic‹odo art. 75, ¤2¼: ÒSe a administra‹o, ou
diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-‡ por domic’lio da pessoa jur’dica,
no tocante ˆs obriga›es contra’das por cada uma das suas agncias, o lugar do
estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponderÓ.
A alternativa D est‡ incorreta, de acordo com o art. 76, par‡grafo œnico: ÒO
domic’lio do incapaz Ž o do seu representante ou assistente; o do servidor
pœblico, o lugar em que exercer permanentemente suas fun›es; o do militar,
Aula 02
onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeron‡utica, a sede do comando a que
se encontrar imediatamente subordinado; o do mar’timo, onde o navio estiver
matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentenaÓ.
A alternativa E est‡ correta, por conta do art. 78: ÒNos contratos escritos,
poder‹o os contratantes especificar domic’lio onde se exercitem e cumpram os
direitos e obriga›es deles resultantesÓ.
Legisla‹o e Jurisprudncia
As Organiza›es Sociais Ð OS nada mais s‹o do que qualifica›es dadas pelo
Poder Pœblico a determinadas pessoas jur’dicas de direito privado, sem fins
lucrativos, para que possam receber recursos da Administra‹o Pœblica para a
consecu‹o de seus objetivos. Ou seja, as OS n‹o s‹o pessoas jur’dicas
propriamente ditas, mas qualifica‹o dada a determinadas pessoas
jur’dicas de direito privado sem fins lucrativos!
Seu fundamento Ž a Lei 9.637/1998. Para fazer jus ao recebimento dessa
qualifica‹o, a pessoa jur’dica interessada deve comprovar uma sŽrie de
requisitos. Cumpridos esses requisitos, a pessoa jur’dica pode habilitar-se ˆ
qualifica‹o de OS.
As organiza›es sociais comp›em aquilo que se convencionou chamar de
Terceiro Setor, que nada mais Ž do que uma parcela das atividades do interesse
do Poder Pœblico a cargo do setor privado, sem a necessidade de concess‹o ou
de outras medidas de cunho administrativo geralmente utilizadas nesses casos.
Far‹o parte do Terceiro Setor as pessoas jur’dicas de direito privado que
obtenham a qualifica‹o de OS. No mais, maiores intera›es entre as OS e
o Poder Pœblico s‹o vistas no Direito Administrativo:
Art. 1o O Poder Executivo poder‡ qualificar como organiza›es sociais pessoas jur’dicas de
direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, ˆ pesquisa
cient’fica, ao desenvolvimento tecnol—gico, ˆ prote‹o e preserva‹o do meio ambiente, ˆ
cultura e ˆ saœde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei.
Art. 2o S‹o requisitos espec’ficos para que as entidades privadas referidas no artigo anterior
habilitem-se ˆ qualifica‹o como organiza‹o social:
I - comprovar o registro de seu ato constitutivo, dispondo sobre:
a) natureza social de seus objetivos relativos ˆ respectiva ‡rea de atua‹o;
b) finalidade n‹o-lucrativa, com a obrigatoriedade de investimento de seus excedentes
financeiros no desenvolvimento das pr—prias atividades;
c) previs‹o expressa de a entidade ter, como —rg‹os de delibera‹o superior e de dire‹o,
um conselho de administra‹o e uma diretoria definidos nos termos do estatuto,
asseguradas ˆquele composi‹o e atribui›es normativas e de controle b‡sicas previstas
nesta Lei;
Aula 02
d) previs‹o de participa‹o, no —rg‹o colegiado de delibera‹o superior, de representantes
do Poder Pœblico e de membros da comunidade, de not—ria capacidade profissional e
idoneidade moral;
e) composi‹o e atribui›es da diretoria;
f) obrigatoriedade de publica‹o anual, no Di‡rio Oficial da Uni‹o, dos relat—rios financeiros
e do relat—rio de execu‹o do contrato de gest‹o;
g) no caso de associa‹o civil, a aceita‹o de novos associados, na forma do estatuto;
h) proibi‹o de distribui‹o de bens ou de parcela do patrim™nio l’quido em qualquer
hip—tese, inclusive em raz‹o de desligamento, retirada ou falecimento de associado ou
membro da entidade;
i) previs‹o de incorpora‹o integral do patrim™nio, dos legados ou das doa›es que lhe
foram destinados, bem como dos excedentes financeiros decorrentes de suas atividades,
em caso de extin‹o ou desqualifica‹o, ao patrim™nio de outra organiza‹o social
qualificada no ‰mbito da Uni‹o, da mesma ‡rea de atua‹o, ou ao patrim™nio da Uni‹o, dos
Estados, do Distrito Federal ou dos Munic’pios, na propor‹o dos recursos e bens por estes
alocados;
II - haver aprova‹o, quanto ˆ convenincia e oportunidade de sua qualifica‹o como
organiza‹o social, do Ministro ou titular de —rg‹o supervisor ou regulador da ‡rea de
atividade correspondente ao seu objeto social e do Ministro de Estado da Administra‹o
Federal e Reforma do Estado.
O primeiro ind’cio de desconsidera‹o da personalidade jur’dica na legisla‹o
brasileira Ž o art. 135 do CTN. Tecnicamente falando, n‹o h‡ desconsidera‹o
propriamente dita, j‡ que o inc. III desse dispositivo apenas imputa diretamente
a responsabilidade tribut‡ria ˆs pessoas f’sicas. Trata-se de aplica‹o evidente
da consagrada distin‹o existente no Direito Obrigacional entre Schuld e Haftung,
institutos de origem germ‰nica h‡ muito conhecidos dos civilistas.
Nada obstante, consagrou-se (equivocadamente), para muitos, a compreens‹o
de que o art. 135, inc. III do CTN traduz hip—tese de desconsidera‹o da
personalidade jur’dica na seara tribut‡ria. Seria o caso, ent‹o, de aplica‹o de
uma Teoria Menor, exigindo-se t‹o somente o inadimplemento das
obriga›es tribut‡rias em decorrncia de infra‹o da lei, entre outros.
Como o inadimplemento de obriga‹o tribut‡ria significa infra‹o ˆ lei, a
Òdesconsidera‹o da personalidade jur’dicaÓ Ž praticamente autom‡tica,
consequentemente. Fica aqui o indicativo de que essas quest›es s‹o mais
profundas, mas a’ me remeto ˆ disciplina de Direito Tribut‡rio para maiores
elucida›es:
Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigncia do cumprimento da obriga‹o principal
pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas
omiss›es de que forem respons‡veis:
I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados;
III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes;
Aula 02
IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo esp—lio;
V - o s’ndico e o comiss‡rio, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordat‡rio;
VI - os tabeli‹es, escriv‹es e demais serventu‡rios de of’cio, pelos tributos devidos sobre
os atos praticados por eles, ou perante eles, em raz‹o do seu of’cio;
VII - os s—cios, no caso de liquida‹o de sociedade de pessoas.
Par‡grafo œnico. O disposto neste artigo s— se aplica, em matŽria de penalidades, ˆs de
car‡ter morat—rio.
Art. 135. S‹o pessoalmente respons‡veis pelos crŽditos correspondentes a obriga›es
tribut‡rias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infra‹o de lei,
contrato social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
II - os mandat‡rios, prepostos e empregados;
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jur’dicas de direito privado.
O CDC inaugura legislativamente a desconsidera‹o da personalidade
jur’dica em seu art. 28, em termos contempor‰neos. O regime consumerista
adota a Teoria Menor da desconsidera‹o da personalidade jur’dica, que est‡
sintetizada no ¤5¼ do referido artigo. Veja que n‹o se exige qualquer requisito
outro que n‹o o Òobst‡culo ao ressarcimento de preju’zos causados aos
consumidoresÓ. Ou seja, Ž desnecess‡rio apurar se houve fraude, abuso de
personalidade, confus‹o patrimonial, desvio de finalidade, encerramento
irregular das atividades, falncia ou insolvncia; basta que a personalidade
jur’dica obstaculize o ressarcimento de um preju’zo causado ao
consumidor:
Art. 28. O juiz poder‡ desconsiderar a personalidade jur’dica da sociedade quando, em
detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infra‹o da lei, fato
ou ato il’citoou viola‹o dos estatutos ou contrato social. A desconsidera‹o tambŽm ser‡
efetivada quando houver falncia, estado de insolvncia, encerramento ou inatividade da
pessoa jur’dica provocados por m‡ administra‹o.
¤ 2¡ As sociedades integrantes dos grupos societ‡rios e as sociedades controladas, s‹o
subsidiariamente respons‡veis pelas obriga›es decorrentes deste c—digo.
¤ 3¡ As sociedades consorciadas s‹o solidariamente respons‡veis pelas obriga›es
decorrentes deste c—digo.
¤ 4¡ As sociedades coligadas s— responder‹o por culpa.
¤ 5¡ TambŽm poder‡ ser desconsiderada a pessoa jur’dica sempre que sua personalidade
for, de alguma forma, obst‡culo ao ressarcimento de preju’zos causados aos consumidores.
Posteriormente, a Lei 9.605/1998, a Lei de Crimes Ambientais Ð LCA, no mesmo
sentido do ¤5¼ do art. 28 do CDC, passou a permitir a aplica‹o da
desconsidera‹o da personalidade jur’dica nos casos de
responsabilidade civil-ambiental. Com reda‹o muito semelhante ˆ do CDC,
o art. 4¼ da LCA determina a desconsidera‹o sempre que a personalidade Òfor
Aula 02
incidente de desconsidera‹o da personalidade jur’dica tambŽm se
aplica ao processo do trabalho.
N‹o obstante, atente porque a justia laboral n‹o aplica a Teoria Maior do
art. 50 do CC/2002, mas a Teoria Menor. A doutrina trabalhista se divide.
Uma parte aplica, por analogia, do art. 28, ¤5¼ do CDC ˆs rela›es laborais, tendo
em vista que o CDC tutela rela›es desiguais, pela presena de um
hipossuficiente Ð o consumidor Ð, talqualmente ocorre nas rela›es trabalhistas
Ð o empregado. Outra parte pugna pela aplica‹o de teoria pr—pria, qual seja, a
Teoria do Risco da Atividade Econ™mica.
Isso, aqui, Ž irrelevante. Fato Ž que materialmente n‹o se aplica a Teoria Maior
do CC/2002, seja com fundamento no CDC, seja com fundamento em teoria
espec’fica. Processualmente, atente para as distin›es existentes entre o
incidente regido pelo CPC e o incidente regido pela CLT, especialmente
quanto ˆ irrecorribilidade da decis‹o a respeito dele na fase de
conhecimento na justia do trabalho:
Art. 855-A. Aplica-se ao processo do trabalho o incidente de desconsidera‹o da
personalidade jur’dica previsto nos arts. 133 a 137 da Lei no 13.105, de 16 de maro de
2015 - C—digo de Processo Civil.
¤ 1o Da decis‹o interlocut—ria que acolher ou rejeitar o incidente:
I - na fase de cogni‹o, n‹o cabe recurso de imediato, na forma do ¤ 1o do art. 893 desta
Consolida‹o;
II - na fase de execu‹o, cabe agravo de peti‹o, independentemente de garantia do ju’zo;
III - cabe agravo interno se proferida pelo relator em incidente instaurado originariamente
no tribunal.
¤ 2o A instaura‹o do incidente suspender‡ o processo, sem preju’zo de concess‹o da tutela
de urgncia de natureza cautelar de que trata o art. 301 da Lei no 13.105, de 16 de maro
de 2015.
Segundo o STF, a norma do art. 59 do CC/2002 nada mais faz do que detalhar a
norma constitucional, no tocante ˆs associa›es esportivas. A despeito de o art.
217, inc. I da CF/1988 estabelecer que h‡ autonomia das entidades esportivas
quanto ˆ organiza‹o e ao funcionamento internos, a norma do art. 59, incs. I e
II do CC/2002 Ž aplic‡vel e n‹o viola a Constitui‹o.
N‹o Ž porque a CF/1988 prev a autonomia as associa›es esportivas Ž
que elas podem violar as regras aplic‡veis a quaisquer associa›es em
geral. Assim, se um clube altera seu estatuto que n‹o por meio de assembleia
geral especialmente convocada para esse fim, h‡ viola‹o da regra
infraconstitucional. Essa viola‹o pode ser questionada perante o Poder Judici‡rio
e isso n‹o significa cerceamento ˆ autonomia prevista em sede constitucional:
AUTONOMIA DE ENTIDADES DESPORTIVAS E OBSERVåNCIA DE NORMAS GERAIS. N‹o
viola o art. 217, I, da Constitui‹o (ÒArt. 217. ƒ dever do Estado fomentar pr‡ticas
desportivas formais e n‹o formais, como direito de cada um, observados: I - a autonomia
Aula 02
das entidades desportivas dirigentes e associa›es, quanto a sua organiza‹o e
funcionamentoÓ) decis‹o que determina associa‹o esportiva a observar a norma do art. 59
do C—digo Civil (ÒArt. 59. Compete privativamente ˆ assembleia geral: I - destituir os
administradores; II - alterar o estatuto. Par‡grafo œnico. Para as delibera›es a que se
referem os incisos I e II deste artigo Ž exigido delibera‹o da assembleia especialmente
convocada para esse fim, cujo quorum ser‡ o estabelecido no estatuto, bem como os
critŽrios de elei‹o dos administradoresÓ). Com base nesse entendimento, a Primeira Turma
negou provimento a agravo regimental (RE 935482 AgR/SP, rel. Min. Rosa Weber,
julgamento em 7.2.2017).
S‹o frequentes as quest›es a respeito dos requisitos para se aplicar a
desconsidera‹o da personalidade jur’dica. Cotidianamente, o examinador tenta
criar pegadinhas, especialmente para confundir o candidato habituado com a
desconsidera‹o no direito tribut‡rio, do consumidor ou trabalhista, mas n‹o t‹o
habituado com o c’vel. Para a desconsidera‹o da personalidade jur’dica
n‹o basta dissolu‹o irregular, necess‡rio que se prove fraude ou abuso de
personalidade, reconhece o STJ:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE SENTEN‚A.
DESCONSIDERA‚ÌO DA PERSONALIDADE JURêDICA. INDêCIO DE ENCERRAMENTO
IRREGULAR DA SOCIEDADE. CIRCUNSTåNCIA INSUFICIENTE PARA AUTORIZAR A
DESCONSIDERA‚ÌO. AGRAVO IMPROVIDO. N‹o Ž poss’vel deferir a desconsidera‹o da
personalidade jur’dica sem prova concreta de fraude ou de abuso de personalidade.
Precedentes. A mera dissolu‹o irregular da sociedade n‹o autoriza a desconsidera‹o da
personalidade jur’dica da sociedade para alcanar bens dos s—cios. Precedentes (AgRg no
AREsp 757.873/PR, Rel. Ministro MARCO AURƒLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 15/12/2015, DJe 03/02/2016).
Cuidado, porŽm, porque numerosas decis›es do STJ s‹o atŽcnicas quando tratam
da desconsidera‹o da personalidade jur’dica. Isso porque a constru‹o
doutrin‡ria desaguou inicialmente na jurisprudncia, sendo que num primeiro
momento se assumiu a desconsidera‹o com base no critŽrio subjetivo da fraude.
Posteriormente, com a objetiva‹o da teoria, n‹o mais se exige fraude. A
decreta‹o da fraude Ž consequncia, n‹o fundamento, para a
desconsidera‹o da personalidade jur’dica:
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DESCONSIDERA‚ÌO DA PERSONALIDADE JURêDICA.
FRAUDE CONTRA CREDORES. CONFUSÌO PATRIMONIAL. RECONHECIMENTO. INCIDæNCIA
DA SòMULA 7/STJ. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTæNCIA. O ac—rd‹o recorrido tem
fundamenta‹o robusta acerca da existncia de confus‹o patrimonial entre empresas do
mesmo grupo econ™mico, com a finalidade de fraudar credores. Assim, Ž cab’vel a
desconsidera‹o da personalidade jur’dica, nos termos do art. 50 do C—digo Civil, bem como
o reconhecimento da fraude ˆ execu‹o, com amparo na Sœmula n. 375/STJ: "O
reconhecimento da fraude ˆ execu‹o depende do registro da penhora do bem alienado ou
da prova de m‡-fŽ do terceiro adquirente" (AgRg no AREsp 231.558/PR, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÌO, QUARTA TURMA, julgado em 18/12/2014, DJe 02/02/2015).
Aula 02
Muito antes da vigncia do CPC/2015, a jurisprudncia do STJ j‡ permitia a
chamada desconsidera‹o inversa da personalidade jur’dica.
Resumidamente, isso ocorrer‡ quando o s—cio ÒusaÓ a pessoa jur’dica para
esconder seu patrim™nio pessoal, frustrando credores. A rigor, o termo
Òdesconsidera‹o inversa da personalidade jur’dicaÓ Ž atŽcnico, j‡ que n‹o se
desconsidera a personalidade da pessoa jur’dica. A express‹o ÒpegouÓ porque o
objetivo Ž o mesmo: combater a utiliza‹o indevida do ente societ‡rio por seus
s—cios, como j‡ propugnava JosŽ Lamartine Corra de Oliveira Lyra na Òdupla
crise da pessoa jur’dicaÓ:
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECU‚ÌO DE TêTULO JUDICIAL. ART.
50 DO CC/02. DESCONSIDERA‚ÌO DA PERSONALIDADE JURêDICA INVERSA.
POSSIBILIDADE. A desconsidera‹o inversa da personalidade jur’dica caracteriza-se peloafastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente do que ocorre
na desconsidera‹o da personalidade propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu
patrim™nio social, de modo a responsabilizar a pessoa jur’dica por obriga›es do s—cio
controlador. Considerando-se que a finalidade da disregard doctrine Ž combater a utiliza‹o
indevida do ente societ‡rio por seus s—cios, o que pode ocorrer tambŽm nos casos em que
o s—cio controlador esvazia o seu patrim™nio pessoal e o integraliza na pessoa jur’dica,
conclui-se, de uma interpreta‹o teleol—gica do art. 50 do CC/02, ser poss’vel a
desconsidera‹o inversa da personalidade jur’dica, de modo a atingir bens da sociedade em
raz‹o de d’vidas contra’das pelo s—cio controlador, conquanto preenchidos os requisitos
previstos na norma. A desconsidera‹o da personalidade jur’dica configura-se como medida
excepcional. Sua ado‹o somente Ž recomendada quando forem atendidos os pressupostos
espec’ficos relacionados com a fraude ou abuso de direito estabelecidos no art. 50 do CC/02.
Somente se forem verificados os requisitos de sua incidncia, poder‡ o juiz, no pr—prio
processo de execu‹o, levantar o vŽu da personalidade jur’dica para que o ato de
expropria‹o atinja os bens da empresa. Ë luz das provas produzidas, a decis‹o proferida
no primeiro grau de jurisdi‹o, entendeu, mediante minuciosa fundamenta‹o, pela
ocorrncia de confus‹o patrimonial e abuso de direito por parte do recorrente, ao se utilizar
indevidamente de sua empresa para adquirir bens de uso particular (REsp 948.117/MS, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/06/2010, DJe 03/08/2010).
A aplica‹o de Teoria Ultra Vires n‹o pode se chocar com o princ’pio da
boa-fŽ objetiva quando h‡ benef’cio ˆ pessoa jur’dica que, se descumprir,
pode atrair a aplica‹o da Teoria da Desconsidera‹o da Personalidade Jur’dica,
em estando presentes os requisitos para tanto, obviamente.
Isso porque a atua‹o do s—cio, representante ou administrador, ainda que
extravasando o objeto social, obriga a pessoa jur’dica, em homenagem ao
princ’pio da boa-fŽ objetiva. Assim, a pessoa jur’dica n‹o pode reclamar a
inefic‡cia dos atos praticados pelo s—cio, representante ou administrador de
maneira abusiva.
Veja que a aplica‹o da Ultra Vires Doctrine e da Disregard Doctrine Ž
bastante diferente e n‹o se confundem ambas as teorias. Evidentemente
que o Direito Empresarial fornece mais adequadamente arsenal te—rico a respeito
da primeira, ficando o Direito Civil com a segunda:
Aula 02
DIREITO COMERCIAL. SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA.
GARANTIA ASSINADA POR SîCIO A EMPRESAS DO MESMO GRUPO ECONïMICO. EXCESSO
DE PODER. RESPONSABILIDADE DA SOCIEDADE. TEORIA DOS ATOS ULTRA VIRES.
INAPLICABILIDADE. RELEVåNCIA DA BOA-Fƒ E DA APARæNCIA. ATO NEGOCIAL QUE
RETORNOU EM BENEFêCIO DA SOCIEDADE GARANTIDORA. A partir do C—digo Civil de 2002,
o direito brasileiro, no que concerne ˆs sociedades limitadas, por fora dos arts. 1.015, ¤
œnico e 1.053, adotou expressamente a ultra vires doctrine. Contudo, na vigncia do antigo
Diploma (Decreto n.¼ 3.708/19, art. 10), pelos atos ultra vires, ou seja, os praticados para
alŽm das foras contratualmente conferidas ao s—cio, ainda que extravasassem o objeto
social, deveria responder a sociedade. No caso em julgamento, o ac—rd‹o recorrido
emprestou, corretamente, relev‰ncia ˆ boa-fŽ do banco credor, bem como ˆ aparncia de
quem se apresentava como s—cio contratualmente habilitado ˆ pr‡tica do neg—cio jur’dico.
N‹o se pode invocar a restri‹o do contrato social quando as garantias prestadas pelo s—cio,
muito embora extravasando os limites de gest‹o previstos contratualmente, retornaram,
direta ou indiretamente, em proveito dos demais s—cios da sociedade fiadora, n‹o podendo
estes, em absoluta afronta ˆ boa-fŽ, reivindicar a inefic‡cia dos atos outrora praticados pelo
gerente (REsp 704.546/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÌO, QUARTA TURMA, julgado
em 01/06/2010, DJe 08/06/2010).
J‡ assentou o STJ que no caso de sociedades an™nimas impera a regra de
que apenas os administradores da companhia e seu acionista controlador
podem ser responsabilizados pelos atos de gest‹o e pela utiliza‹o
abusiva do poder. No caso de responsabiliza‹o do controlador, exige-se prova
robusta de que esse acionista use efetivamente o seu poder para dirigir as
atividades sociais e orientar os —rg‹os da companhia:
PROCESSO CIVIL E DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DESCONSIDERA‚ÌO DA
PERSONALIDADE JURêDICA. Nos termos do art. 50 do CC, o decreto de desconsidera‹o da
personalidade jur’dica de uma sociedade somente pode atingir o patrim™nio dos s—cios e
administradores que dela se utilizaram indevidamente, por meio de desvio de finalidade ou
confus‹o patrimonial. ƒ de curial import‰ncia reiterar que, principalmente nas sociedades
an™nimas, impera a regra de que apenas os administradores da companhia e seu acionista
controlador podem ser responsabilizados pelos atos de gest‹o e pela utiliza‹o abusiva do
poder; sendo certo, ainda, que a responsabiliza‹o deste œltimo exige prova robusta de que
esse acionista use efetivamente o seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar os
—rg‹os da companhia. No caso, o recorrente retirou-se da administra‹o da sociedade em
1984 e dos quadros sociais em 1985, ou seja, 4 ou 5 anos antes dos fatos geradores do
decreto de desconsidera‹o. A decis‹o Ž de 2009, vale dizer, 24 anos ap—s sua sa’da da
Cobrasol, ressoando inequ’voca, a meu ju’zo, a impossibilidade de que a supress‹o da
personalidade jur’dica da aludida empresa possa atingir seu patrim™nio. Outrossim, verifica-
se que n‹o foi nem mesmo demonstrada a pr‡tica de atos fraudulentos por parte do
recorrente, haja vista n‹o ter o Tribunal a quo especificado quais as provas que embasaram
a sua convic‹o nesse sentido, limitando-se a crer, de forma subjetiva, que o ex-s—cio
controlava a referida sociedade de forma indireta (REsp 1412997/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÌO, QUARTA TURMA, julgado em 08/09/2015, DJe 26/10/2015).
Jornadas de Direito Civil
Aula 02
Um dos primeiros Enunciados da I Jornada de Direito Civil versa justamente sobre
a desconsidera‹o da personalidade jur’dica. Ainda que na pr‡tica os ju’zes
desconsiderem a personalidade jur’dica e atinjam os patrim™nios dos s—cios e
administradores de maneira um tanto quanto indiscriminada, o Enunciado 7
aconselha que a desconsidera‹o atinja somente os administradores ou
s—cios que tenham praticado os atos irregulares:
Enunciado 7
S— se aplica a desconsidera‹o da personalidade jur’dica quando houver a pr‡tica de ato
irregular e, limitadamente, aos administradores ou s—cios que nela hajam incorrido.
Determina o art. 998 que o contrato social da sociedade simples deve ser inscrito
no Registro Civil das Pessoas Jur’dicas do local de sua sede. Por sua vez, o art.
1.096 prev a aplica‹o das regras das sociedades simples ˆs sociedades
cooperativas, nos casos de omiss‹o legislativa. No entanto, o Enunciado 69 do
CJF prev que as sociedades cooperativas sejam inscritas nas Juntas
Comerciais e n‹o no Registro Civil das Pessoas Jur’dicas, dada sua
natureza empresarial:
Enunciado 69
As sociedades cooperativas s‹o sociedades simples sujeitas ˆ inscri‹o nas juntas
comerciais.
Enunciado da III Jornada de Direito Civil esclarece uma discuss‹o muito comum
nos casos de desconsidera‹o da personalidade jur’dica: os requisitos do art. 50
podem ser interpretados extensivamente? Prev o Enunciado 146 que n‹o, os
par‰metros de desconsidera‹o da personalidade jur’dica da Teoria
Maior devem ser interpretados restritivamente:
Enunciado 146
Nas rela›es civis, interpretam-se restritivamente os par‰metros de desconsidera‹o da
personalidade jur’dica previstos no art. 50 (desvio de finalidade social ou confus‹o
patrimonial).
Evidenciando o que j‡ se disse ao longo do texto, Enunciado 281 da IV Jornadade Direito Civil afirma que a aplica‹o da desconsidera‹o prevista no art.
50 do CC/2002 torna desnecess‡ria a demonstra‹o de insolvncia da
pessoa jur’dica. Ora, se a insolvncia, de per si, n‹o Ž capaz de atrair a
aplica‹o da teoria, sua falta igualmente n‹o tem o cond‹o de a afastar,
consequentemente. Esse enunciado, inclusive, encontra assento recorrente nas
decis›es do STJ a respeito do assunto:
Enunciado 281
Aula 02
A aplica‹o da teoria da desconsidera‹o, descrita no art. 50 do C—digo Civil, prescinde da
demonstra‹o de insolvncia da pessoa jur’dica.
O Enunciado 282 do CJF tambŽm traz compreens‹o claramente abraada pelo
STJ quando da aplica‹o da desconsidera‹o da personalidade jur’dica. Segundo
o referido enunciado, o mero encerramento irregular da pessoa jur’dica Ž
insuficiente para caracterizar o abuso da personalidade jur’dica apto ˆ
desconsidera‹o. Assim, a comprova‹o de que a companhia est‡ ÒfechadaÓ n‹o
induz o atingimento do patrim™nio dos s—cios, de per si:
Enunciado 282
O encerramento irregular das atividades da pessoa jur’dica, por si s—, n‹o basta para
caracterizar abuso da personalidade jur’dica.
Quest‹o claudicante enfrentada pela jurisprudncia Ž a aplicabilidade da
desconsidera‹o da personalidade jur’dica a pessoas jur’dicas de direito privado
que n‹o tm fins econ™micos ou, mesmo que tenham, que n‹o tenham fins
lucrativos, como ocorre com associa›es, funda›es ou OSCIPs, por exemplo. De
acordo com o Enunciado 284, pode haver a desconsidera‹o desde que se
caracterize o abuso da personalidade jur’dica, pelos associados
administradores, por exemplo. O STJ, inclusive, com base nesse Enunciado, j‡ o
fez:
Enunciado 284
As pessoas jur’dicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins n‹o-econ™micos est‹o
abrangidas no conceito de abuso da personalidade jur’dica.
Curiosamente, a teoria da desconsidera‹o da personalidade jur’dica pode
ser invocada pela pr—pria pessoa jur’dica para prote‹o de seu
patrim™nio. Isso ocorre, por exemplo, nos casos em que s—cio n‹o-
administrador transfere fraudulentamente para si patrim™nio da pessoa jur’dica.
Nesse caso, a pr—pria pessoa jur’dica pode demandar pela desconsidera‹o da
personalidade jur’dica em seu favor. ƒ o teor do Enunciado 285 do CJF a respeito
do art. 50 do CC/2002:
Enunciado 285
A teoria da desconsidera‹o, prevista no art. 50 do C—digo Civil, pode ser invocada pela
pessoa jur’dica em seu favor.
Com a complexifica‹o das rela›es empresariais, Ž comum que se criem grupos
societ‡rios tambŽm mais complexos. Exemplo t’pico s‹o as holdings, nas quais
uma sociedade empres‡ria controladora detŽm um grupo de outras sociedades
empres‡rias, em diversos arranjos societ‡rios distintos. Muitas vezes, o abuso da
Aula 02
personalidade ocorre justamente com a transferncia de recursos entre as
diversas empresas do grupo, de modo a exaurir o patrim™nio de uma delas em
detrimento dos credores.
O entendimento do Enunciado 406, da V Jornada de Direito Civil, Ž de que a
desconsidera‹o, nesses casos, alcana os grupos de sociedade. Trata-se da
chamada desconsidera‹o econ™mica ou desconsidera‹o expansiva da
personalidade jur’dica.
Ou seja, desconsidera-se a personalidade jur’dica de uma sociedade e se
atinge a outra, n‹o exatamente os s—cios. Isso ocorrer‡, evidentemente,
quando estiverem presentes os pressupostos do art. 50 do CC/2002 e houver
preju’zo para os credores. A desconsidera‹o atingir‡ patrim™nio das
outras pessoas jur’dicas atŽ o limite transferido entre as sociedades:
Enunciado 406
A desconsidera‹o da personalidade jur’dica alcana os grupos de sociedade quando
estiverem presentes os pressupostos do art. 50 do C—digo Civil e houver preju’zo para os
credores atŽ o limite transferido entre as sociedades.
Grande controvŽrsia ocorreu quando da inclus‹o da EIRELI no rol das pessoas
jur’dicas de direito privado. A conclus‹o havida em outro enunciado das Jornadas
de Direito Civil foi de que a EIRELI n‹o Ž precisamente uma sociedade, mas um
novo tipo de ente personalizado, um tanto sui generis.
No entanto, outra controvŽrsia surgiu: se uma pessoa jur’dica pode ser formada
por outras pessoas jur’dicas (ou seja, os s—cios de uma PJ s‹o outras PJs, e n‹o
pessoas naturais), pode tambŽm a EIRELI ter como empres‡rio uma pessoa
jur’dica? O art. 980-A Ž omisso a respeito, mencionando apenas ÒpessoaÓ, ainda
que seu ¤2¼ use o termo Òpessoa naturalÓ.
O enunciado 486 adota o entendimento doutrin‡rio majorit‡rio de que apenas
pessoas naturais podem constituir uma EIRELI, vedando-se ˆs pessoas
jur’dicas sua constitui‹o:
Enunciado 468
A empresa individual de responsabilidade limitada s— poder‡ ser constitu’da por pessoa
natural.
Bateria de exerc’cios
AlŽm das quest›es vistas ao longo da aula, agora voc agora ter‡ uma longa
lista de quest›es para treino. Eu as apresento assim: a. quest›es sem
coment‡rios; b. gabaritos das quest›es; c. quest›es com coment‡rios. Mesmo as
quest›es vistas na aula estar‹o nessa bateria, para que voc faa o m‡ximo de
Aula 02
exerc’cios que puder. Lembre-se que as quest›es comentadas s‹o parte
fundamental do seu aprendizado com nosso material eletr™nico!
Se voc quer testar seus conhecimentos, faa as quest›es sem os coment‡rios,
anote os gabaritos e confira com o gabarito apresentado; nas que voc n‹o sabia
responder, chutou, ou ficou com dœvida, v‡ aos coment‡rios. Se preferir, passe
diretamente ˆs quest›es comentadas!
Quest›es sem coment‡rios
1. 2018 Ð VUNESP Ð TJ/MT Ð Juiz Estadual Substituto
Suponha as seguintes situa›es hipotŽticas
i) o marido, tendo em vista seu desejo de futuramente se divorciar da
esposa, pretendendo excluir alguns bens adquiridos durante o casamento
(sob o regime da comunh‹o parcial) da mea‹o, integraliza-os, utilizando-
se de procura‹o outorgada por sua esposa e sem cincia desta, de parte de
seu patrim™nio em pessoa jur’dica da qual Ž detentor de 99% do capital
social (o 1% restante Ž detido por seu pai);
ii) sociedade limitada que, sem fraudes e em raz‹o de dificuldades
financeiras decorrentes de alta do d—lar, deixa de pagar todos os seus
fornecedores, apesar de terem os s—cios vultoso patrim™nio;
iii) pessoa jur’dica encerra irregularmente suas atividades.
Considerando a teoria da desconsidera‹o da personalidade jur’dica,
assinale a alternativa correta.
(A) Somente na hip—tese ÒiiiÓ Ž poss’vel a desconsidera‹o, tendo em vista
que o encerramento irregular, por ser um ato que ofende a lei, gera a
presun‹o de fraude, independentemente da inten‹o de causar preju’zos
aos credores.
(B) Na hip—tese ÒiiÓ, n‹o existe possibilidade de desconsidera‹o da
personalidade jur’dica, em raz‹o do acolhimento da Teoria Maior pelo C—digo
Civil, sendo poss’vel a desconsidera‹o da personalidade jur’dica na situa‹o
ÒiÓ, bem como na ÒiiiÓ; nesta œltima, apenas se verificada a existncia de
confus‹o patrimonial ou desvio de finalidade.
(C) O inadimplemento, por si, Ž causa para a desconsidera‹o da
personalidade jur’dica, independentemente da existncia de fraude, atos que
configurem confus‹o patrimonial ou desvio de finalidade, raz‹o pela qual
somente seria poss’vel a desconsidera‹o da personalidade jur’dica na
situa‹o ÒiiÓ.
Aula 02
(D) ƒ poss’vel a desconsidera‹o da personalidade jur’dica, em todas as
situa›es relatadas, tendo em vista o acolhimento da Teoria Menor pelo
C—digo Civil.
(E) Em nenhuma das hip—teses Ž poss’vel a desconsidera‹o da
personalidade jur’dica, conforme decorre da Teoria Maior, expressamente
acolhida pelo C—digo Civil, tendo em vista que n‹o se vislumbra preju’zos
aos credores na hip—tese ÒiÓ e nas demais n‹o existe inten‹o fraudulenta.
2. 2018 Ð CESPE Ð DPE/PE Ð Defensor Pœblico Estadual
A respeito da desconsidera‹o da personalidade jur’dica, assinale a op‹o
correta:
(A) O C—digo de Defesa do Consumidor (CDC) exige a comprova‹o de

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