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1 É muito comum a ideia de que crianças, adolescentes e jovens sejam o futuro de uma nação. Parte-se do pressuposto de que eles estejam sendo formados para ser, em um tempo por vir, pessoas capacitadas a prover as transformações que tanto almejamos no mundo. Essa concepção carrega certa beleza, por manifestar esperança em um mundo melhor, depositada na ação de pessoas em processo de formação. Contudo, possui também uma dose de fantasia e passividade, por colocar no futuro a transformação necessária para hoje. Mais do que isso, coloca nas crianças, adolescentes e jovens a condição de “por vir”. Ou seja, está desconsiderada, em sua condição atual, qualquer possibilidade desses sujeitos se expressarem ou agirem de forma significativa no mundo. É como se eles fossem uma “tábua rasa”, prontos para terem suas personalidades e atitudes formatadas nos moldes da sociedade hegemônica. Assim, acabado o processo de formatação, esses sujeitos se tornam, por fim, pessoas aptas a construir um mundo idealizado, que os adultos de hoje não são capazes de construir e, pasmem, com o mesmo tipo de educação. Essa é uma atitude “adultocêntrica”, que coloca toda a validade de expressão e intervenção no mundo em uma faixa etária que se considera madura o suficiente. Além disso, o adulto possui condição privilegiada para decidir o que é melhor e mais relevante para a vida dos mais novos, ainda que não os conheça. Nesse processo, é retirado das crianças, adolescentes e jovens, a capacidade de fazer escolhas e refletir sobre a sua própria condição. O sujeito, nessa perspectiva, ao invés de ocupar lugar central no seu processo educativo, fica subjugado a uma condição de inferioridade, de carência. O estudante é aquele que não sabe. Não sabe se comportar, não sabe se posicionar, não sabe fazer escolhas, não sabe história, matemática, geografia... Assim, no lugar de reconhecer e promover O ESTUDANTE É PROTAGONISTA DO SEU PROCESSO EDUCATIVO Módulo III - Estratégias metodológicas 2 potencialidades, estimulam-se características e habilidades que sejam mais aceitáveis e úteis aos olhos adultos. Na contramão disso, a perspectiva da Educação Integral coloca o sujeito na condição de potencialidade e não de carência. O estudante não é um espaço vazio, que precisa ser preenchido com aquilo que consideramos o melhor para ele. Ele possui uma manifestação própria. Toda sua experiência de vida, desde o período de sua gestação, contribui para a construção de sua identidade e para o desenvolvimento de saberes, habilidades e recursos. Isso não significa que os estudantes estejam prontos a se colocar, manifestando seu saber e compartilhando com destreza suas experiências. Também não significa, absolutamente, que não se possa contribuir em seu desenvolvimento. Muito pelo contrário, na medida em que se cria espaço para manifestação e para a construção conjunta dos processos educativos e das normas de convivência, é instaurado um ambiente propício para o desenvolvimento de sujeitos capazes de dialogar, negociar, argumentar, escolher, ceder e conviver. Assim, torna-se possível promover o desenvolvimento dos estudantes, a partir daquilo que lhe é próprio e que, aos poucos, pode também se transformar, ganhando outros sentidos e expressões. Para isso, propõe-se um processo educativo que envolva os estudantes na sua construção, de forma que eles sejam sujeitos ativos no seu desenvolvimento. É importante ter a ciência de que a participação de crianças, adolescentes e jovens é um direito, tanto na escola, quanto nos outros espaços de sua convivência. Direito este, garantido por meio das leis Constituição Federal de 1988, Lei Nº 7.395, de 31 de outubro de 1985; Lei Nº 12.084 de 12 de janeiro de 1996 que assegura a livre organização 3 estudantil e dá outras providências; Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Nº 8.069 de 13 de julho de 1990; Estatuto da Juventude, Lei Nº 12.852, de 05 de agosto de 2013. (MINAS GERAIS, 2017) Portanto, faz-se fundamental a instituição de práticas participativas nos espaços escolares, como forma de garantia de direitos. Mas, muito mais do que isso, por ser uma maneira de tornar o processo educativo mais coerente com as reais necessidades dos estudantes e por ser uma aposta na qualificação do processo de aprendizagem. No vídeo, uma educadora explica que, na escola democrática, as decisões são tomadas em conjunto. Veja que não se trata de uma participação vazia, traduzida em uma simples votação. Antes de qualquer definição, é lançado um debate, em que todos podem se posicionar, argumentar e defender seu ponto de vista. Dessa forma, mais importante do que a própria definição, é o processo coletivo de debate, em que todas as vozes são ouvidas e valorizadas e todas as pessoas envolvidas estão em processo de aprendizagem conjunta. Como disse uma das estudantes, ela é estimulada a pensar e não a decorar. No final, todos são corresponsáveis pelas decisões. E, se entenderem posteriormente que não foi a melhor alternativa, podem se reposicionar e chegar a outra definição. É um processo inesgotável de diálogo e reconstruções, em que se requer firmeza no Vamos conhecer um pouco da experiência das Escolas Democráticas, que trazem essa proposta de uma forma clara e consistente. Reprodução de parte do Vídeo “Fora da Caixa: Como a educação democrática forma alunos e cidadãos”: https://www.youtube.com/watch?v=vnZq5vcSEVo&t=2s Sugerimos que você assista até o minuto 4:15, pois esse trecho dialoga com os temas tratados, bem como retomaremos o vídeo ao longo do curso. 4 propósito de construção democrática do espaço escolar e flexibilidade nos planejamentos. Ao ser envolvido nesse tipo de construção, o estudante desenvolve sua autonomia, senso crítico e a habilidade de: conviver com a diferença; ver uma situação sob diferentes óticas; se mobilizar para a resolução de problemas coletivos; compreender seus direitos e arcar com seus deveres; se sentir pertencente a um espaço e ser corresponsável por ele. Essa é, sobremaneira, uma experiência que estimula o pleno exercício da cidadania. Não estamos propondo que esse seja o único modelo possível na construção de escolas de Educação Integral. Mas, independentemente, do formato que a comunidade escolar eleja, se torna essencial a elaboração de mecanismos de participação dos estudantes na construção da proposta pedagógica. Além de garantir que suas experiências e suas singularidades sejam validadas, isso permite que os processos educativos ganhem novos sentidos e outros valores para os estudantes, aumentando seu interesse e sua corresponsabilidade pelos processos e respeito pelas pessoas e espaços envolvidos. Mais do que partícipe, o estudante se torna protagonista do seu processo de aprendizagem, já que, a partir dos estímulos que recebe na escola e em outros espaços de sua convivência, ele se torna potente e responsável pelo seu processo de desenvolvimento. O estudante, com o apoio e a orientação dos educadores, se torna capaz de fazer pontes entre sua realidade e o saber construído na escola, de forma que seja sujeito ativo na transformação positiva de sua vida e de seu território. Se experimentamos esse tipo de proposta pedagógica, em que o estudante protagoniza seu processo educativo, estamos colaborando para colocar em prática os pilares da “educação ao longo da vida”, propostos pelo Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI. Quais sejam: • Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientementeampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um número reduzido de assuntos, ou seja: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida. 5 • Aprender a fazer, a fim de adquirir não só uma qualificação profissional, mas, de uma maneira mais abrangente, a competência que torna a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Além disso, aprender a fazer no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho, oferecidas aos jovens e adolescentes, seja espontaneamente na sequência do contexto local ou nacional, seja formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. • Aprender a conviver, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerenciar conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. • Aprender a ser, para desenvolver, o melhor possível, a personalidade e estar em condições de agir com uma capacidade cada vez maior de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Com essa finalidade, a educação deve levar em consideração todas as potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. (UNESCO. Learning: the treasure within; report to UNESCO of the International Commission on Education for the Twentyfirst Century (highlights). Paris, 1996. Sabemos que nem sempre é fácil colocar tudo isso em prática. Por isso, trouxemos para esse material algumas possibilidades de estratégias para envolver os estudantes no processo educativo, de forma que, gradualmente, a participação seja uma prática comum no espaço escolar. Reiteramos que a participação é um processo construído. Não se pode esperar que, nas primeiras experiências participativas, todos coloquem sua voz e respeitem o lugar de fala dos outros. Por isso, é preciso considerar esse exercício como uma longa caminhada, em que há aprendizagens em todas as partes do percurso. ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS: COMO ENVOLVER OS ESTUDANTES NO PROCESSO EDUCATIVO? 6 Nós educadores, na maioria dos casos, nunca fomos ensinados a fazer isso. E da mesma forma, os estudantes. Portanto, é uma aprendizagem conjunta, em que os educadores estimulam, motivam e mediam os caminhos. Não existe certo e errado neste percurso. Existe, sim, o amadurecimento gradual e conjunto do exercício da democracia. É importante chamar a atenção para o fato de que existem diferenças na forma como os estudantes se comportam nos espaços participativos. Se, por um lado, muitos deles nunca foram incentivados a se colocar, outros já recebem estímulos desde cedo para se manifestar e argumentar. Por isso, um importante cuidado é a criação de condições para que todos exercitem seu direito de participação de forma igualitária. Do contrário, corremos o risco de estimular apenas a participação daqueles que já tem facilidade para se manifestar. (MINAS GERAIS, 2017) Isso, muitas vezes, é o que acontece nos processos participativos de representação. Uma pequena minoria é selecionada para representar os demais e, muitas vezes, nem todas as vozes são ouvidas e representadas. Mais do que isso, nem todos têm oportunidade para desenvolver a habilidade de participação. Isso não significa que a eleição de representantes de estudantes (como representante de turmas) não seja um caminho legítimo. Contudo, precisa acontecer de forma cuidadosa e aliada a outras estratégias participativas. Um bom exemplo para lidar com a representação de forma diferenciada é propor um debate entre todos os estudantes, Dica: esses estímulos e mediações podem ser encontrados em Metodologias Ativas de Aprendizagem. Tema que tem riqueza suficiente para um outro curso, mas vale conhecer ou se aprofundar. Veja a reportagem da Nova Escola: https://novaescola.org.br/conteudo/11897/como-as- metodologias-ativas-favorecem-o-aprendizado 7 para se chegar em um consenso do que será levado pelo representante, no espaço definido para a representação, como por exemplo, os colegiados. Os processos de participação, no contexto escolar, muitas vezes são pensados a partir de práticas que já são conhecidas por nós. Exemplo disso são as práticas de eleição de representante de turma, criação de grêmios estudantis e instituição de colegiados escolares. Reiteramos, aqui, a nossa tendência de olhar para os estudantes sob a ótica “adultocêntrica”. Será que essas formas de participação contemplam toda a diversidade dos estudantes e seus interesses? Será que esses formatos realmente estimulam a participação de todos os estudantes, de forma igualitária? Mais uma vez, não se pode negar a importância desses formatos na perspectiva da ampliação e fortalecimento da gestão democrática nas escolas. (MINAS GERAIS, 2017). Muito já se conquistou, em termos de participação estudantil, a partir desses espaços. Contudo, há que se pensar se a forma como eles funcionam estão, de fato, indo ao encontro do interesse dos estudantes, como transformá-los em espaços mais efetivos e democráticos e, ainda, se há outros métodos que possam ser explorados. Abaixo, seguem algumas sugestões de Alves e Hermont (2014). Embora seja um material voltado para as juventudes, propomos uma leitura que possa adaptar o conteúdo para cada faixa etária e contexto com o qual se trabalha: 8 Que tipos de atividades são mais envolventes para os jovens? São elas: - As que dialoguem com suas linguagens. Com isso, não estamos sugerindo que o professor adote a linguagem dos jovens, mas que seja capaz de transitar entre as linguagens próprias da cultura escolar e das culturas juvenis, dosando formalidade e informalidade; - As que sejam negociadas e não impostas, evidenciando autoridade sem autoritarismo por parte do professor. A negociação implica respeito, e o respeito, para os jovens, é pautado na conquista e não na imposição. Não é raro ouvirmos dos jovens: “eu respeito quem eu admiro”; - As que exijam autonomia, responsabilidade e confiança; - As que os façam sentir parte integrante e não apenas cumpridores de tarefas delegadas pelos adultos, demandando participação efetiva no desempenho de tarefas importantes; - As que permitam ao aluno dar sua opinião e apresentar suas dúvidas; - As que sejam dinâmicas, não rotineiras, pautadas em experiências. Nesse aspecto, a maior reclamação é ter que ficar sentado, sem conversar, apenas ouvindo o professor e copiando do quadro; - As que valorizem suas capacidades e seus saberes. Aqui, a questão do estímulo, do elogio e do incentivo é muito importante; - As que apostem no seu potencial. É importante que o professor demonstre confiança, pois sabemos que, se o jovem sente que o adulto espera pouco ou nada dele, é provável que ele corresponda a essa expectativa; - Atividades em grupo: eles são muito mais propensos a desenvolver atividades em pares do que individualmente; - As que considerem o seu ritmo. O jovem tem uma tendência a lidar com o tempo de forma diferente do adulto e, por isso, alguns acabam deixando as coisas para fazer aos “45 minutos do segundo tempo”; - As que lidem com a ansiedade de querer tudo “pronto”, envolvendo-os desde o planejamento ao produto final e não os deixando desistir durante o processo; - As que utilizem tecnologias, como internet, aparelhos de celular, músicas, imagens, vídeos, filmes, programas de rádio etc.; - As que retomem técnicas e saberes utilizados por seus familiares e por sua comunidade, dandovalor à cultura local e relacionando-a com as questões globais; - As que tenham, ao final, um produto. É muito importante que eles entendam por que estão fazendo determinada atividade, onde e como a utilizarão e que resultados terão a partir dela. (Cadernos temáticos: juventude brasileira e Ensino Médio / Licinia Maria Correa, Maria Zenaide Alves, Carla Linhares Maia, organizadoras. – Belo Horizonte : Editora UFMG, 2014.) 9 Muitas vezes, são pequenos detalhes que, se tivermos atentos e dispostos a arriscar, podem fazer muita diferença! Outro ótimo exemplo é o formato da sala de aula. Você considera que o formato usual, com carteiras enfileiradas, promove a valorização de cada estudante e estimula a participação nas aulas? Que tal experimentar organizar as aulas em círculos e notar a diferença? Os círculos são um formato em que todos conseguem se ver e estão em posição de igualdade com seus pares e com o educador. Além disso, é muito mais fácil que todos se escutem e ganhem encorajamento para falar. É uma forma, para além da verbal, de demonstrar que todos têm o mesmo direito à fala e à voz. O educador abre mão do “palco” para favorecer que o processo se dê entre todos os sujeitos envolvidos e que o aprendizado seja compartilhado. Outro exemplo simples que favorece a participação é associar os conteúdos escolares à história de vida dos estudantes e da comunidade. Além de favorecer aprendizagens que estejam a favor da vida, essa é uma forma de fazer com o que o estudante se envolva com o seu processo de aprendizagem e exercite a habilidade de se posicionar. Essa também é uma maneira de todos se conhecerem um pouco mais, de forma que se dissolva possíveis pré-conceitos e resistências nas interações. Também como forma de participação nas próprias aulas, é importante que o planejamento das atividades seja feito junto com estudantes, de forma que eles compreendam e visualizem todo o seu processo de aprendizagem, de forma apropriada e responsável. É possível negociar a flexibilidade do currículo e, mais do que isso, a forma como ele será abordado, para que faça mais sentido para os estudantes. No decorrer do tempo, é preciso que haja momentos de avaliação conjunta entre educador e estudantes, para compreender se o caminho escolhido pode ser seguido da forma como foi planejada ou se é necessário fazer adaptações para qualificar a aprendizagem e a motivação de todos os sujeitos. É interessante, também, promover Na matéria “O círculo em sala de aula impede que os alunos fiquem invisíveis”, uma professora de história conta um pouco sobre sua experiência e a reação da turma ao mudar o formato das carteiras. Acesse a matéria no link: http://www.cartaeducacao.com.br/artigo/o-circulo-em-sala-de-aula-impede-que-os- alunos-fiquem-invisiveis/ 10 espaço para auto avaliação do educador e dos estudantes, de forma que os mesmos revejam a sua atitude no processo educativo. Assim, é possível que todos se corresponsabilizem pelo espaço de aprendizagem. Também é possível encontrar dicas simples sobre como organizar assembleias no “Guia de Participação para Educadores”. O material, na íntegra, é disponibilizado no linkhttp://viracao.org/wpcontent/uploads/2017/05/GuiadeParticipa%C3%A7%C3%A3o Cidad%C3%A3paraEducadores.pdf?utm_campaign=primeiro_nome_acesse_o_seu_gui a_de_participacao_cidada_para_educadores&utm_medium=email&utm_source=RD+S tation Aliás, ao se cadastrar no site http://conteudo.viracao.org/guia-de-participacao-cidada- para-educadores, você recebe, em sua caixa de e-mail, esse e outros materiais sobre o As assembleias também são potentes formas de promover participação de estudantes em espaços de decisão. Existem muitas formas de organizá-las nos ambientes escolares. Assista ao fragmento do vídeo “Fora da Caixa”, em que se mostra de forma mais detalhada sobre a organização de assembleias: https://www.youtube.com/watch?v=vnZq5vcSEVo&t=2s Nesse momento, sugerimos que você assista do minuto 9:53 ao 13:15. 11 assunto, de forma gratuita. São disponibilizados acessos a debates online, materiais gráficos e outros. O material aborda, também, a importância de se promover a participação para além dos espaços escolares, como forma de exercício da cidadania. Conhecendo melhor o seu território, a partir das Cartografias propostas no Módulo anterior, é possível compreender em quais espaços as crianças, adolescentes e jovens podem requerer a sua participação, como forma de garantir seus direitos através de sua ação direta. Aqui, cabe ao educador conhecer, junto com os estudantes, que território é esse e, além disso, apoiá-los na ocupação segura, criativa e efetiva desses espaços. Mais uma vez, sempre é possível agregar os conteúdos planejados previamente, de preferência de forma conjunta com outros professores, fazendo uso da interdisciplinaridade. Outro material que aborda outras possibilidades de participação política na sociedade, para além do voto, é a cartilha “Depois do voto: usando e abusando dos canais de participação da ALMG”, disponibilizada em https://depoisdovoto.files.wordpress.com/2012/02/cartilha-depois-do-voto.pdf Por fim, existem outras formas que, talvez, sejam as que mais atraiam a participação de crianças, adolescentes e jovens: a promoção de manifestações culturais nas escolas, de forma que os estudantes possam intervir, com arte e cultura, nos diferentes espaços escolares. Assim, criam-se condições favoráveis para que os estudantes utilizem a linguagem que lhe for mais familiar e prazerosa para colocar a sua voz, em relação às temáticas que lhe chamarem mais atenção. Nesse caso, também é possível aliar os conteúdos da parte comum do currículo com a parte flexível, em que estão presentes, de forma mais marcante as manifestações artístico-culturais. Veja, abaixo, um quadro que condensa todas as possibilidades mencionadas até agora. Além delas, existem inúmeras outras formas de promover a participação e o protagonismo dos estudantes nos espaços escolares e nos territórios onde vivem. Não será possível, por aqui, esgotar todas elas. Mas esperamos que esse material seja útil para que você possa se inspirar e, junto com toda a comunidade escolar, realizar o que for mais compatível com as particularidades de sua escola e de todos os sujeitos que participam dela! Boa viagem! 12 FORMAS SUGERIDAS DE PROMOVER A PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES Escolha democrática de representantes de estudantes, como em eleições ou outras formas definidas por elas (es); Assembleias para definir assuntos de interesse da comunidade escolar; Construção conjunta do plano de aula de cada oficina, levando em consideração a vivência dos estudantes; Escolha e construção de projetos, passeios e atividades diferenciadas; Construção de acordos e normas comuns de convivência e utilização dos espaços do Polo; Diálogo aberto para mediação de conflitos; Criação conjunta de uma identidade visual para a escola, bem como placas de identificação para os espaços comuns; Rodas de conversa temáticas, de acordo com interesse das (os) estudantes; Realização conjunta da cartografia dos espaços da comunidade, considerando os espaços que sejam significativos para os estudantes; Distribuição das carteiras em círculo, favorecendo que todas se vejam e se sintam em pé de igualdade com os pares e com a (o) educador (a); Criação conjunta de intervenções artísticas/gráficas nos espaços da escola e da comunidade (ex.: peça ou sketch teatral, cartazes, lambe- lambe,fotografias, grafite, etc.) Criação de rádio escola na escola, sendo protagonizada pelas (os) estudantes, com orientação de professores; Identificação e formação de estudantes multiplicadores, que possam mediar oficinas pontuais ou rodas de conversa com a comunidade ou entre as (os) próprias (os) estudantes; Apresentação dos trabalhos feitos nas diversas oficinas à família e à comunidade; Avaliação conjunta do projeto educativo de cada aula e da escola como um todo, envolvendo estudantes; Criação de coletivos de estudantes com temas de seu interesse, (ex.: coletivos de estudantes negras/os, esportistas, artistas, cientistas, poetas, feministas, defesa de direitos ambientalistas, etc. 13 Projetos interdisciplinares para que estudantes possam intervir em uma situação real da escola ou da comunidade Eventos culturais promovidos conjuntamente com estudantes (slam, teatro, cineclube, música, skate, etc); Grêmio estudantil, colegiado, conselhos, representantes de turma e de escolas; Dentre outras formas, que possam ser sugeridas pela comunidade escolar, com a participação de estudantes. Quais dessas você já experimentou? Que tal tentar mais uma vez, com a colaboração de toda a comunidade escolar? Recomendamos que assistam, na íntegra, o vídeo “Fora da Caixa: Como a educação democrática forma alunos e cidadãos”. O vídeo está disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=vnZq5vcSEVo&t=2s E, para quem ainda não assistiu, reiteramos a recomendação que fizemos no primeiro Módulo: O vídeo “Quando sinto que já sei”, disponibilizado no link: https://www.youtube.com/watch?v=HX6P6P3x1Qg Muito falamos, até aqui, da importância de um processo educativo que esteja a serviço da vida. Quando compreendemos a profundidade e a potência dessa perspectiva, cada atitude realizada dentro de uma instituição educacional é imbuída desse espírito. A PESQUISA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INTEGRAL Vamos assistir a experiência de um modelo escolar que foi exemplo vivo do que estamos falando. Trata-se dos Ginásios Vocacionais, que foram implementados em escolas públicas de São Paula na década de 60 e que foram extintos na época da ditadura: https://www.youtube.com/watch?v=ircyREuDr9Y Sugerimos que vocês assistam do minuto 29:17 ao 36:00, pois dialoga com os temas aqui tratados. 14 Essa e outras experiências são muito inspiradoras por nos revelar que, há algumas décadas, já existiam práticas muito coerentes com a perspectiva de Educação Integral. Se, por um lado, temos um grande desafio em nos refazer para encontrar práticas que sejam mais significativas para os estudantes e que tragam qualificação para o processo de ensino e aprendizagem, por outro lado, temos provas consistentes de que outros modelos são possíveis e eficazes. Uma das coisas que mais chamam a atenção, nesse trecho do documentário, é a forma como os estudantes dos Ginásios Vocacionais são inseridos em todas as fazes do processo educativo: o planejamento, o desdobramento e a avaliação do processo. E, se vocês bem repararam, perceberam que em todos esses momentos há um diálogo dos conteúdos escolares com a vida dos estudantes, em diferentes escalas: a própria escola, o bairro, a cidade, o país e o mundo. A partir da inspiração do documentário, propomos agora um olhar diferenciado para as formas de se fazer pesquisa, como metodologia que integre os conteúdos escolares à realidade dos estudantes. Na maioria das vezes, as pesquisas escolares são utilizadas para que os próprios estudantes procurem, por meio de livros e internet, informações já existentes sobre um determinado assunto, eleito pelo próprio professor a partir de seu planejamento de aulas. Esse formato já é uma forma de incluir os estudantes no desenvolvimento de sua aprendizagem. Contudo, é possível ir além. A partir do momento que enxergamos nos estudantes as suas potencialidades, podemos considerá-lo como um sujeito que constrói conhecimento. Ou seja, além de procurar por respostas prontas para uma determinada pergunta, ele pode formular perguntas e, a partir daí, buscar por pistas para desenvolver suas próprias hipóteses. Integrar conhecimento com a realidade, nesse caso, significa estimular os estudantes a identificar, em seu próprio meio, inquietações que os levem a formular perguntas geradoras para uma pesquisa. Por exemplo: o território onde está localizada a escola possui um lixão a céu aberto, que traz insalubridade para a vida daqueles que residem mais próximo do local. Identificada essa inquietação, é possível estimular os estudantes a fazer perguntas. O que eles sabem sobre a história desse lixão? Como isso afeta a vida 15 da comunidade? Ele é fonte de renda para alguma família? Essa situação implica em violação de direitos? O que os mais velhos têm a dizer sobre isso? Como o lixão impacta o solo? Se o lixão parasse de ser alimentado com resíduos, quantos anos seriam necessários para degradação de todos os materiais existentes ali? Um outro bom exemplo: Existe uma horta comunitária no território, que contribui para subsidiar a alimentação da escola com verduras sem agrotóxico. A inquietação não é necessariamente negativa, mas algo que desperta curiosidade, como: O que motiva alguém a doar um tempo de sua vida para a manutenção voluntária de uma horta comunitária? De quem foi a iniciativa? O que é necessário, em termos de recursos humanos e materiais, para manter a horta? Quantos metros quadrados de horta seriam necessários para subsidiar a alimentação completa da escola? E de toda a comunidade? A prática mais aprofundada de pesquisa, contudo, requer que cada professor saia do seu quadrado e, reflita, junto com os demais, como cada área do conhecimento pode contribuir com a compreensão de uma determinada situação. Na própria experiência dos Ginásios Vocacionais é possível identificar isso. Na viagem relacionada com o barroco, os estudantes integram os saberes de várias áreas do conhecimento, de forma que se monte um mosaico, em que cada peça revela o seu valor e seu significado. Portanto, os diferentes saberes comunicam entre si, de forma que cada um deles “empresta” o seu olhar para o mesmo objeto de estudo. Quando acreditamos no potencial do estudante de gerar conhecimento, deixamos de ser meros transmissores de conteúdo para, junto com eles, gerar conhecimento vivo, que pode ser fonte de transformações de uma realidade. Para isso, é preciso ter um olhar atento para a realidade que se mostra fora dos muros escolares. Por isso, o exercício de conhecer o território considerando-o como um espaço educativo, é tão importante para a perspectiva da educação integral. A partir desse Existem vários exemplos de situações que podem chamar a atenção dos estudantes e, por isso, podem motivar muito mais o seu interesse pelo aprendizado. Vamos refletir um pouco: que outras situações, no entorno da sua própria casa, contêm perguntas que podem se relacionar com sua área de conhecimento? 16 movimento, com a prática da cartografia, é possível realizar um planejamento que inclua os estudantes e que considere o seu contexto de vida, de forma muito concreta. Chegamos ao fim desse módulo! Proponha e organize, em parceria com seus colegas e estudantes, uma assembleia em sua escola ou outra atividade participativa que gere algum impacto para a Educação Integral,tire uma foto do momento e faça um pequeno relato textual! Para maiores informações, acesse ORIENTAÇÕES - ATIVIDADE – MÓDULO III.
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