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24 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Unidade II Como enfatizado no início da Unidade I, esse material foi elaborado para mostrar a você casos vividos em sala de aula, além de comentários de professores, corriqueiros no contexto educacional. Você resgatará conceitos e utilizará esses para entender o pensamento infantil, além de compreender o processo para ensinar uma criança a ler e escrever com função social. Na unidade anterior, foram apresentados um pouco sobre a teoria que fundamentou o conceito de construtivismo, com seus aspectos metodológicos e as habilidades requeridas para o processo de aprendizagem do código escrito, as descobertas da psicogênese da língua escrita efetuadas por Emilia Ferreiro e os diferentes enfoques no estudo da alfabetização. Esta unidade abordará as conquistas das crianças de seis anos e o trabalho com a área do conhecimento. O conceito de letramento e sua relação com o conceito de alfabetização. Vale a pena ler o livro Letramento: um tema em três gêneros, de Magda Soares, da Editora Autêntica, 1998. É um convite à leitura por sua beleza, por sua impressão cuidadosa, mas, sobretudo, pela atualidade do tema abordado. O material serve de oportunidade de reflexão, para quando você estiver estudando a Unidade II. Objetivos específicos O objetivo específico desta unidade é que o aluno adquira conhecimento sobre como: 25 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 • articular resultados de investigações com a prática, visando a ressignificá-la; • analisar as recentes contribuições das teorias educacionais, para a aquisição da língua escrita. Resumindo Na Unidade I, você aprendeu um pouco sobre a alfabetização, o construtivismo e a maneira como as crianças veem a escrita. Agora, na Unidade II, você terá alguns conceitos que se aplicam às ações do alfabetizador. Unidade I Unidade II Contribuições ao educador- alfabetizador Ações do professor alfabetizador • O conhecimento não está no sujeito (racionalismo). • O conhecimento não está no objeto (empirismo). • Adquirir conhecimentos depende das estruturas cognitivas do sujeito e de sua relação com o ambiente. • O construtivismo não é um método de ensino porque não diz o que e como o professor deve dar aula/ ensinar. É uma teoria psicológica de aprendizagem cujo objeto é a psicogênese da inteligência e dos conhecimentos de como o sujeito aprende. • Saber como a criança pensa: a escrita, os símbolos do mundo. • Estabelecer um ambiente estimulador na sala de aula, no qual o ler e o escrever tenham significado e sejam usados no interior de nossa atual cultura. • Planejar práticas educativas com jogos e atividades que permitam à criança pensar e dialogar sobre a linguagem. • Trabalhar considerando a leitura de mundo que a criança apresenta. O percurso que a criança faz quando é alfabetizada é o mesmo do homem ao longo da história da humanidade: • pictórico: desenho; • simbólico: reconstrução do código linguístico. 26 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 2 LER E ESCREVER É MUITO MAIS DO QUE SIMPLESMENTE CODIFICAR E DECODIFICAR TEXTOS 2.1 O fim das cartilhas em sala de aula Os primeiros trabalhos escolares de alfabetização, na época do Brasil colônia, foram realizados com cartilha, quando ainda se aprendia latim na escola (influência religiosa). No século XIX, as cartilhas vinham de Portugal, porque no Brasil não havia permissão para publicação. Já nessa época os professores tinham o hábito de produzir seus próprios materiais para suas aulas de alfabetização (surgimento dos testes ABC) com o método alfabético: utilizado o processo de soletração para decifrar a palavra – bola: be-o-bo, l-a-la. O método fônico enfatizava a menor unidade da fala, o fonema, e sua representação na escrita, ensinando as formas e os sons das vogais, depois as consoantes e vogais, estabelecendo relação entre consoantes e vogais. Aumentando o nível de complexidade conforme o tempo de escolaridade (durante um ano letivo). A letra aprendida tem um som, que mais outro som forma sílabas e palavras. Provavelmente uma das imagens abaixo relembre sua alfabetização, seu tempo de “escola”, pois, as mesmas estiveram (em algumas cidades ainda estão) nas salas de aulas brasileiras e muitas vezes eram os primeiros ou únicos materiais impressos que as crianças tinham acesso no processo inicial de aprendizagem da leitura e da escrita. 27 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Antonio Feliciano de Castilho. 2.e. Lisboa: Imprensa Nacional, 1853. [A 1ª edição é, provavelmente, de 1850. Em 1855, Antonio de Castilho veio ao Brasil divulgar seu “Método” de alfabetização.] João de Deus. (Ilustrações de José Rui) Lisboa: Convergência, 1977. Provavelmente, a 1ª edição é de 1890, pois a 2ª edição é de 1891, publicada em São Paulo por Teixeira & Irmão Editores. Veja o quadro e pense um pouco no assunto! 28 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1945. Livraria Francisco Alves, 1938. A Cartilha das mães só começou a ser editado pela Livraria Francisco Alves a partir da 12ª edição, em 1911. ABC da infância: primeira coleção de cartas para aprender a ler. De autoria anônima, a 1ª edição dessas “cartas de ABC” é de 1905. 29 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Cartilha analítica. Arnaldo de Oliveira Barreto. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1955. Cartilha ensino rápido de leitura. Mariano de Oliveira. Ilustração de Gioconda Uliana Campo. São Paulo: Melhoramentos, 1955. Cartilha infantil pelo método analítico. Prof. Carlos Alberto Gomes Cardim 1ª edição 1908. 30 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Cartilha proença. Antonio Firmino Proença. Ilustrações de Oswaldo Storni. São Paulo: Melhoramentos,1923. Cartilha do povo: para ensinar a ler rapidamente. Lourenço Filho. São Paulo: Melhoramentos, 1939. Cartilha fácil. Claudina de Barros, São Paulo: 1932, data provável da 1ª edição. 31 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Na roça. Cartilha rural para alfabetização rápida. Renato Sêneca Fleury São Paulo: Melhoramentos, 1936. Brincar de ler. Renato Sêneca Fleury. Ilustrações de Rita Blume. São Paulo: Melhoramentos, 1939. Cartilha Sodré. Benedicta Stahl Sodré 219.e. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1951. 32 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Caminho suave: 1º livro (Leitura intermediária). Branca Alves de Lima. Ilustrações executadas por Flavius. Cartilha de Bitu. Aracy Hildebrand. 48 ed. Companhia Editora Nacional, 1960. Onde está o patinho? Cecília Bueno dos Reis Amoroso. Ilustrações de Rosa Monzel e Oswaldo Storni. São Paulo: Melhoramentos, 1955. 33 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/11 /2 01 0 Upa, cavalinho! Lourenço Filho, ilustrações de Oswaldo Storni. São Paulo: Melhoramentos, 1970. No reino da alegria. Doracy de Almeida. São Paulo: IBEP (Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas), 1974. Ela tem formato bem maior que suas antecessoras.1 Assim, o Brasil caminhou com a escolaridade infantil. A partir da década de 1980, a discussão sobre como ensinar foi substituída pela discussão sobre como se aprende a ler e a escrever, o que refletiu em novas edições de materiais didáticos. Os autores passaram a se preocupar com textos diversificados nos diferentes suportes sociais de leitura e escrita: livros, jornais, revistas, embalagens, bulas, entre outros. No final da década de 1990, houve um discurso no contexto educacional que enfatizava a necessidade de livros diferenciados para alfabetizar. 1 Fonte: <http://espacoeducar-liza.blogspot.com/2009/02/historia- das-cartilhas-de-alfabetizacao.html>. Acesso em 20/10/2010. 34 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 As cartilhas assumiram aspecto de livros de leitura, porém não continham mais excessivas atividades, que exploravam a relação fonema/grafema. Pensava-se agora no letramento. O Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) mostra que os professores ainda escolhem os livros tradicionais para uso em sala (são encaminhados por editoras e, depois de votados, são adquiridos pelo governo para entregar às crianças). Fato explicado pela realidade de que muitos professores esperam encontrar nos livros de alfabetização a permanência de procedimentos sistemáticos (sílabas) para ensinar a ler e escrever. O mais importante é considerar o pensamento da criança nos dias de hoje e a concepção de dois séculos, no que se refere à alfabetização. Em outras palavras, é importante a reflexão de que, se a criança não pensava a escrita no período anterior à alfabetização, as atividades eram de treino de habilidades, pois acreditava-se na necessidade de prepará-la para a escrita. Como já foi visto, a criança pensa a escrita e percebe os símbolos que se apresentam no mundo, cabe ao educador estimular, preparando na sala de aula um ambiente onde ler e escrever tenham significado e função. As práticas escolares devem ter enfoque no desenvolvimento e na construção da linguagem, do gesto, de sons, da imagem, da fala e da escrita. Por meio de jogos e atividades que permitam à criança pensar e dialogar sobre essa linguagem. A sociedade está redescobrindo a importância que a escola tem na vida humana. Para isso, as ações pedagógicas precisam ser conectadas, na elaboração do plano pedagógico, Pergunte a si mesmo: A cartilha é o ideal para ensinar uma criança nos dias de hoje? Quais práticas são possíveis? Qual é a verdadeira finalidade da escola hoje? Quais formas de acesso as crianças têm ao mundo letrado em nossa cultura? 35 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 no acompanhamento da rotina, no incentivo ao estudo e na orientação para o avanço e a autonomia da criança. Essa criança precisa ser entendida como ser humano, que tem direito a um espaço para aprender e entender este ambiente, para ampliar seu universo de descobertas, despertar seus interesses, conhecer o mundo e os caminhos a fim de buscar informações na construção do seu conhecimento. Nessa perspectiva, você já percebeu que Piaget elucidou duas situações: a do desenvolvimento e a da aprendizagem. O desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo, diz respeito ao desenvolvimento do corpo, ao desenvolvimento do sistema nervoso e das funções mentais. A aprendizagem apresenta o caso oposto. Em geral, a aprendizagem é provocada por situações, ou seja, por um experimentador psicológico, um educador, aliado a uma situação externa. Ela é provocada, em geral, como oposta ao que é espontâneo. Além disso, é um processo limitado a um problema simples ou uma estrutura simples. Portanto, o desenvolvimento explica a aprendizagem (Piaget apud Slomp, 1964). É necessário, assim, que seja entendida quem é a criança e como ela pensa a escrita. A seguir, serão abordados a concepção piagetiana de criança e aquilo que servir como guia para que se entenda a organização de um trabalho pedagógico, já que o Ministério da Educação instituiu “Diretrizes”, ou seja, um documento que visa traçar uma direção para as escolas refletirem sobre suas propostas pedagógicas. 36 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 A criança inicia seu processo de alfabetização no nascimento, pois desde então pode-se dizer que tem vida e, portanto, história, nome e significado social. Nas etapas iniciais do seu desenvolvimento, desenvolve sua coordenação da visão, movimento de mãos, agarra seus brinquedos e os mantêm presos entre os dedos por algum tempo. Os progressos nas coordenações intersensoriais vão lhe permitir balançar brinquedos dependurados no berço, levar a chupeta até a boca. Essas coordenações demonstram um aspecto interno ligado à organização intelectual e a um aspecto externo, que se observa no plano das condutas, enquanto possibilidade de ela combinar sistemas. No segundo ano de vida, a criança é capaz de executar uma série de ações que evidenciam seu progresso ao controlar movimentos; com uma organização interna mais ampla, é capaz agora de empilhar objetos, encaixá-los, deslocar-se para pegar brinquedos, fingir realizar ações do mundo adulto, como, por exemplo, pentear cabelo, embalar a boneca como um bebê, “dar comidinha”. Porém, esse desenvolvimento motor ainda não lhe permite o domínio das relações entre lápis e papel. Essas relações evoluem no decorrer do terceiro ano. No início da atividade de escrita, seu prazer se dá no ato puro e simples de rabiscar, de exercitar motoramente marcas no papel. Pouco a pouco, o controle dos movimentos do braço e mãos aumenta. A criança agora já desenha formas que envolvem curvas em direções contrárias, mas combinadas, ou seja, o traço se difere 37 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 quanto ao sentido. E, ao mesmo tempo em que isso acontece, a criança passa a atribuir significado ao que produz e começa antecipar o que irá registrar. Assim, percebe-se o desenvolvimento de sua capacidade de representar coisas ausentes. Aos quatro anos, a criança atribui significado a tudo que registra no papel, e o controle motor se aperfeiçoa independentemente do modo como ainda segura um lápis. Sua pressão sobre um papel deixa marcas, com traçados diferentes e em todas as direções. Essa conquista se dá porque seu pensamento está evoluindo, de modo que suas primeiras figuras apareçam. O desenho e a escrita evolvem a capacidade de representação, assim também é com a oralidade, o faz de conta, a modelagem, o movimento etc. No início, porém, as figuras não são semelhantes com aquilo que ela afirma ter feito. A criança precisa da intervenção do adulto para buscar semelhanças entre o que produz e o objeto representado e de ser estimulada a desenvolver de maneira criativa formas distintas para registrar o que deseja. Os avanços na capacidade representativa são grandes quando ela chega aos seis anos. O objeto internamente representado tem certa correspondência com o real, o que facilita ao adulto identificar a intenção da criança, que neste momento de sua vida apresenta maior capacidade de manter a interpretação, em vez de variá-la em poucossegundos como no momento anterior. 38 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 O que é colocado no papel constitui na infância uma manifestação externa do que acontece no plano do pensamento, reflete as construções mentais. Quando a escrita não está contextualizada, a criança de seis anos modifica com tranquilidade a interpretação quando questionada, assim como fazia com o desenho. Caso suas tentativas sejam ilustradas, ela usa a figura como apoio para adivinhar o que as letras significam. No tocante à alfabetização, ensinar significa transmitir o máximo de informações a respeito de como as letras se combinam na composição das palavras. O educador deve incitar as crianças com questões formuladas a partir de suas respostas para que a criança aprenda a refletir sobre o que faz e diz, sobre suas próprias ações. À medida que suas reflexões avançam, as respostas infantis se modificam. Como consequência, a abordagem do educador se transforma, e este propõe desafios maiores, o que faz com que desenvolvimento da criança avance. Um dos caminhos para a intervenção se faz pelo acompanhamento do processo de conquista da escrita do próprio nome. A importância do nome para a criança no contexto evolutivo da escrita é acentuada no momento em que a palavra ganha estabilidade. É quando a criança verifica suas hipóteses, compreende as composições silábicas, justificando alguns conflitos. Nesse ato, descobre a impossibilidade de ajustamento de hipóteses e inventa uma maneira de escrever, interpretando a escrita de maneira global. Cabe ao educador aproveitar essas situações de conflitos e interpretações para ajudar a criança a elaborar conceitos sobre a escrita. Sem corrigir ou fazer pela criança o que ela 39 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 própria pode fazer, ele deve conduzi-la a entender o que faz e deixar a escrita tomar significado na infância. A criança precisa de tempo na escola para descobrir e inventar formas de lidar com as informações fornecidas pelo educador, sem que seja uma aprendizagem mecânica, pois a escola não pode ser um espaço de “adestramento”, isso porque, em geral, não muda o modo de ensinar. As crianças, chamadas na escola de alunos, são obrigadas a repetir várias vezes atividades impostas, assumindo a culpa de não escrever com todas as regras convencionais, e ainda são classificadas como pré-silábicas, silábicas etc. Mais importante do que figura que o educador observa representada na escrita infantil é a explicação da criança sobre sua produção. Sem leitura e justificativa, fica difícil ajudá-la a refletir sobre o que produziu. As ações infantis demonstram o limite do desenvolvimento da criança. Independentemente das condições vividas, o contato com o material gráfico é realidade na vida da criança brasileira de hoje. Há placas, jornais, revistas, rótulos, tudo o que, aos poucos, transforma a escrita em objeto de reflexão e questionamentos para a criança. É preciso pensar sobre o modo como a criança raciocina. As palavras escritas apresentam contrastes que vão desde o formato de letras, combinações entre letras e sílabas, o modo como as sílabas se ordenam, significados distintos, formas e sons. Conforme a visão construtivista, a criança alcança um determinado nível de raciocínio à medida que sua capacidade de criação for respeitada. Escrevendo, lendo, comentando suas ações, o jeito de fazer, são o que estabelece relações entre as informações recebidas e suas hipóteses. 40 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Os conhecimentos evoluem porque a criança internaliza o que lhe falam e passa a agir com o que observou e entendeu. Aprender a compreender o mundo é um processo lento e gradual, no qual a criança tenta integrar novas observações àquilo que já sabe ou àquilo que pensa compreender sobre a realidade. Chega, assim, a conclusões que, do ponto de vista do adulto, podem ser vistas como erros. O adulto precisa conhecer esse tipo de pensamento e aceitar o raciocínio da criança. Com o tempo, esse raciocínio irá se tornar semelhante ao do adulto. Basicamente, a escola precisa apoiar a criança por meio dos seguintes mecanismos: • Organização do ambiente e de rotinas destinadas à aprendizagem pela ação. • Estabelecimento de um clima de interação social positivo. • Encorajamento de ações intencionais, de resolução de problemas e da reflexão verbal por parte das crianças. • Observação e interpretação das ações da criança em termos de desenvolvimento e de suas incorporações nas experiências do currículo escolar. • Planejamento de experiências que tenham alicerce nas ações e interesses da criança. • Assegurar o primeiro contato com a escola, que deve se constituir em uma combinação de atividades prazerosas e estimulantes. Enfim, a escola precisa instituir circunstâncias que ampare a criança a conhecer e a adaptar-se às especificidades do ambiente escolar, tornando-se hábil para ressignificá-lo e até modificá-lo. 41 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 2.2 Comunicação e linguagem Para iniciar esse tema, primeiro é necessário que se conheça um pouco da autora Magda Soares. Uma pesquisadora da linguagem que contribui com a alfabetização, leitura e escrita, ensino de português, na organização de livros didáticos, na formação de professores, nas políticas e práticas docentes. Aborda a questão do letramento, conceito introduzido há pouco tempo no campo da educação e que se refere ao resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita, ao estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo, como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais. Para que se conheça melhor essa autora, será mostrado um acróstico bastante ilustrativo e interessante. Acróstico-biográfico M-Mineira de Belo Horizonte, Doutora, Criadora: A-A fundadora do CEALE-Centro de Alfabetização G-Garantida ação na qualidade da Leitura e Escrita D-Da Faculdade Federal. Professora merecedora: A-A detentora da digna Comenda Lúcia Casasanta. B-Benfeitora Emérita da Universidade Federal E-Excelentes obras didáticas vêm publicando C-Como instrumentos de transformação social, K-Km, “quilômetros” de linhas vem divulgando E-Especialmente em defesa da Língua Portuguesa, R-Referente Comunicação de Massa, com certeza. 42 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 S-Sua pesquisa transcende a Alfabetização, O-Orienta planos educacionais internacionais, A-A filha do Médico-Professor Caio Líbano Soares. R-Referência para Consultoria e Conferências. E-E Membro de várias Comissões Nacionais S-Serviços de Avaliação: MG, SP, MEC e AMAE. Belo Horizonte, 24 de outubro de 2001 Fonte: Silvia Araujo Motta. Publicado no Recanto das Letras em 01/12/2005. Código do texto: T79708.2 A autora não considera a língua como instrumento de transmissão de mensagens, como veículo de comunicação por meio do qual alguém diz algo para alguém, que simplesmente ouve. Considera-a sim como processo de “inter-ação”, momento de “inter-agir” (sujeito + sujeito), construção de significados, trocas linguísticas segundo as relações que cada um mantém com a língua. A atividade sugerida para o letramento infantil é a que se materializa na forma de discurso, de práticasdiscursivas, desenvolvidas desde o início da alfabetização. Os textos orais (fala) e escritos (escrita) são usados dependendo das produções e sempre estabelecendo a construção de respostas para: Quem escreve? O que escreve? Para quem escreve? Quando e onde escreve (situação temporal, espacial, social e cultural)? Você já viu isso nesse material, mas é importante que reflita! 2 Disponível em <http://recantodasletras.uol.com.br/biografias/ 79708>. Acesso em 20/10/2010. 43 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Após a fundamentação do termo letramento, é necessário pensar que a escola precisa considerar as seguintes situações pedagógicas: • promover práticas de oralidade e de escrita, integradas, favorecendo a identificação das relações estabelecidas entre a fala e a escrita; • desenvolver habilidades de uso da língua escrita em situações discursivas, estimulando a leitura de textos de diferentes tipos e funções; • produzir textos para diferentes interlocutores, em diferentes situações e condições de produção; • desenvolver habilidades de ouvir textos orais e de diferentes gêneros, com diferentes funções. Além disso, a escola deve criar condições em que os alunos possam refletir sobre os textos que leem, escrevem, falam ou ouvem, abordando a gramática, características de cada gênero, o efeito e as condições de produção do discurso na construção e no sentido do texto. Assim, serão desenvolvidas as habilidades de interação oral e escrita a partir do grau de letramento que a criança traz de seu grupo familiar e cultural. Lembre-se de que há uma grande diversidade nas práticas de oralidade e no grau de letramento entre os grupos sociais das crianças, diversidade de natureza social, maior ou menor prática de leitura e escrita em seu cotidiano familiar. 2.3 Sondagem da escrita infantil Sabe-se que há cerca de 5000 anos, na Suméria, uma região do Oriente Médio, onde hoje fica o Iraque, os pastores vendiam ovelhas e compravam cereais, mas, com o tempo, foi ficando difícil lembrar quantos sacos e quantas ovelhas eram vendidos 44 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 ou comprados. Assim, para poderem controlar essas situações, passaram a anotar tudo. No começo, com as “contas” (pedras de argila com variados formatos), depois, marcas nas próprias contas, mais tarde, nas caixas onde elas eram guardadas. As inscrições foram tomando formas impressas cada vez mais adaptadas, e chegaram a números que evoluíram para um sistema de escrita em tabuinhas de argila. Os primeiros sinais tinham forma de desenhos e foram chamados de signos pictográficos. Os signos evoluíram até darem origem aos sinais gráficos que representavam parte de palavras e sons (sistema hieroglífico). Os fenícios representavam um som por meio de um desenho (letra): a letra Aleph queria dizer “boi”, por exemplo. Com o passar dos tempos, estabeleceu-se ordem para as letras, isto é, um abecedário. Nosso abecedário começa pela letra a, o que tem origem nas letras do abecedário fenício, que eram Aleph, bêt, gimel. Surge, depois, o alfabeto latino, que usamos hoje.3 O percurso que a criança faz quando é alfabetizada é o mesmo do homem ao longo da história da humanidade: • Pictórico: desenho. Fonte: Novo viver e aprender, Língua Portuguesa, 1º ano: Saraiva, 2004, p. 14. 3 Adaptado do livro Aprendendo português, Coll C. e Teberosky. A. São Paulo: Ática, 2000, p. 60. 45 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 • Simbólico: reconstrução do código linguístico. Ao longo de muitos anos os sinais passaram a representar sons e, assim, foram sendo criados alfabetos. Alfabeto é um conjunto de letras usadas para escrever palavras. Escrita grega antiga Fonte: Novo Viver e Aprender, Língua Portuguesa 1º ano, Editora Saraiva, 2004, p. 15. 2.3.1 Ao desenhar, a criança escreve Ao desenvolver a linguagem da fala, a criança começa a usar o desenho como forma de expressão. Primeiramente, faz isso de memória: não desenha o que vê, mas o que conhece de sua realidade. Ela percebe que alguns traços podem até lembrar o objeto que desenhou, mas não o percebe como símbolo. Fonte: Cócco et al.,1996. 46 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Com o tempo, a criança desenha a sua realidade, representa as suas observações e expressões por meio de representações de sinais simbólicos abstratos. Toda essa vivência contribui para o desenvolvimento da escrita da criança. Segundo Cócco e Hailer (1996), o desenho acompanha a frase, e a fala permeia o desenho. Veja o retrato dessa possibilidade no exemplo a seguir, que apresenta uma conversa entre duas crianças de uma realidade socioeconômica média, em uma determinada situação escolar: “Fiz um gato” (Carol, 4 anos) “Fiz a chuva” (Julia, 3 anos) 47 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 “Cobri o gato” (Carol) A criança percorre o mesmo caminho que a humanidade ao desenvolver seu conhecimento da escrita. Inicialmente, desenha de memória, depois substitui traços que lembram o objeto desenhado por sinais indicativos ou figuras e, por último, utiliza os signos. Como a humanidade, parte do desenho (pictórico) para a simbologia (alfabeto). Atualmente, ainda se trabalha na escola com o método tradicional de alfabetização. Apesar da contribuição de muitos estudiosos, professores utilizam a cartilha (método global, silábico, fonético e outros) como forma de ensinar a criança a ler e a escrever. Todo o processo de alfabetização é organizado pelo adulto, o professor. O papel do aluno é receber as informações transmitidas pelo professor e incorporá-las como sinônimo de aprendizagem. A criança escreve frases distantes de sua realidade, sem significados e, por vezes, sem entendê-las; escreve frases padronizadas e iguais às registradas na cartilha; apresenta dificuldade na produção de um texto e não relaciona o que aprende na escola com o seu cotidiano. 48 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Como você observou até aqui, os pesquisadores abordados contribuíram para que o foco do trabalho pedagógico não fosse o professor, mas a criança e sua relação com o objeto de aprendizagem, que, nesse caso, é a língua. Piaget (já citado na Unidade I) possibilitou a compreensão de que a criança não é um cérebro vazio à espera do professor para colocar-lhe o conhecimento; pelo contrário, o aluno constrói seu conhecimento quando transforma o real, o mundo e a si mesmo por meio de suas relações com o meio e com o objeto de sua aprendizagem. Muitos professores se preocupam com conteúdos, estratégias, planos de aula e relegam a um segundo plano, quando se lembram, o que e como a criança aprende; pouco reflete sobre o que pode fazer para que seu aluno tenha condições de construir o próprio conhecimento. Antes de passar pela alfabetização propriamente dita, a criança apresenta hipóteses sobre a leitura, observa, pensa e adquire concepções individuais acerca dos símbolos linguísticos. Essas concepções são importantes para o entendimento da criança sobre o valor social da língua. 49 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D iagr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 2.3.2 Concepções que a criança adquire sobre os símbolos linguísticos antes da alfabetização Cócco e Hailer (1996) discriminam algumas concepções apresentadas pela criança antes do período escolar de alfabetização e que apontam para o valor social da língua. São elas: • tem consciência da diferença entre leitura silenciosa e a leitura em voz alta; • reconhece que a leitura de histórias é feita em livros e as notícias são lidas em jornais; • percebe que a leitura de uma bula tem a função de orientar o uso do remédio; • sabe que as receitas podem ser lidas, compreendidas e utilizadas em algo concreto; • compreende que os manuais de brinquedos e jogos servem para orientar o modo como os brinquedos e jogos devem ser montados e usados; • verifica que as palavras têm quantidade, que apresentam letras diferentes umas das outras e que a leitura pode ser feita de cima para baixo e da esquerda para a direita. 50 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Essas concepções a respeito da leitura são adquiridas na medida em que as crianças interagem com o meio em que vivem e têm experiências de leitura e escrita. Elas criam hipóteses sobre a escrita e seus usos porque participam de situações nas quais os textos e as leituras têm função social. Em uma sala de aula, existem crianças com experiências muito diferentes umas das outras. Crianças provenientes de famílias pobres, cujos pais ou responsáveis utilizam pouco a leitura e a escrita, tendem a refletir no espaço escolar seu pouco repertório com a leitura, porque tiveram poucas oportunidades de participar ou presenciar situações de leitura e não puderam criar muitas hipóteses. Para as crianças que vivem em famílias de classe média ou alta, que convivem com a leitura de vários tipos de textos, que ganham livros e gibis, que observam os adultos manusearem livros e jornais para buscar informações e que presenciam adultos receberem correspondências, o repertório de suas experiências e hipóteses de leitura é muito maior, porque seus contatos são frequentes e significativos, com diferentes tipos e utilização de textos, como, por exemplo, os textos nas marcas de produtos, títulos de histórias, escritos de placas etc. São nessas experiências iniciais que se encontram as crianças que acreditam que a palavra está ligada ao tamanho do objeto representado. A essa reação, chamamos de realismo nominal. Realismo nominal: quando a criança acredita que a palavra sapo não representa o sapo porque é uma palavra pequena. Se lhe entregamos uma palavra como formiga, é capaz de relacioná-la ao animal sapo devido ao tamanho da palavra. 51 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Veja uma situação didática em que você pode testar essa teoria. Pergunte primeiro: 1. Quem é maior? 2. E quem tem o maior nome? Apresente separadamente, para uma criança analfabeta, as duas palavras e questione onde está escrito sapo e onde está escrito formiga. Depois, mostre as duas figuras (a do sapo e da formiga juntas, lado a lado), só então, mostre como, no exemplo anterior, as figuras e as escritas embaixo. Discuta com a criança suas hipóteses. Você verá que ela tem uma lógica diferente da sua (adulto). O professor pode intervir nessa fase e criar oportunidades para que a criança atinja o conhecimento do sistema alfabético da escrita e rompa com o realismo nominal. Situações como brincadeiras de “faz de conta” em que um brinquedo representa determinado objeto. Atividades de adivinhação que utilizem mímica, desenhos para representar o que pensamos. Registros de atividades planejadas com o intuito de não esquecermos compromissos agendados. Anotações por representações da rotina da sala etc. 52 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Após esse período, a criança dá início à leitura por preditibilidade: a leitura de símbolos e sinais globais em diferentes contextos. A criança aponta para o símbolo do Danone e fala em voz alta que está escrito Danone; quando questionada, diz que sabe que é Danone. Atividades com rótulos de supermercado, em que a criança representa uma situação de vendas. Atividades de adivinhação pelos rótulos. Agora vamos ler estas palavras: Fonte: <http://crisblogmeumundo.blogspot.com/2009/07/fase-pre-silabica.html>. Lembre-se de que um professor deve conhecer seus alunos, saber o que eles trazem de conhecimentos. Ele pode utilizar-se da sondagem de seus alunos, a fim de refletir, planejar atividades e intervir na vida deles. 2.4 A linguagem escrita Frente às pesquisas científicas, como o professor pode intervir na reconstrução do código linguístico da criança? 53 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Cócco e Hailer (1996) propõem dois eixos no trabalho de alfabetização da criança: 1. O trabalho textual, porque permite à criança compreender como funciona a escrita e como pode ser empregada socialmente. 2. A análise linguística, porque embasa a aquisição do valor sonoro convencional à criança e a ajuda na reconstrução do código linguístico. 2.4.1 Textos A maioria das crianças chega à escola com pouca experiência em leitura de textos diversos, portanto podemos dizer, sem dúvida, que esse trabalho é ponto central de uma proposta alfabetizadora. A sala de aula deve conter grande quantidade e variedade de material escrito, como livros, jornais, gibis, revistas e cartazes que estimulem a leitura da criança. Pode, por exemplo, conter várias cestas, e cada uma delas com um tipo de leitura: uma com livros didáticos, outra com histórias, gibis etc. 54 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 O professor pode sugerir que, ao término das atividades, as crianças escolham um livro, para lerem e conversarem com os colegas sobre o livro escolhido e o que contém cada um deles. Cócco e Hailer (1996) sugerem atividades para três frentes de ação pedagógica. São elas: 1. Jogos para contato com a linguagem escrita: • caminhada da leitura; • leitura de obra de arte; • atividades com rótulos; • corre-cotia; • texto coletivo; • texto memorizado; • notícias; • jogos de rimas; • procura de palavras; • músicas; • bilhetes. 2. Acesso a textos diversificados: • textos práticos; • textos informativos; • textos literários; • textos extraverbais. 3. Atividades de interpretação de textos. 55 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 2.4.2 Jogos de análise linguística Cócco e Hailer (1996) ressaltam o papel do jogo no cotidiano infantil. Eles o indicam como um dos principais meios de construção do conhecimento pela criança, porque, além de a atividade lúdica em si ser prazerosa, o erro é encarado como algo normal. Portanto, pode ser trabalhado pelo professor para a mudança de atitudes da criança, e a interação com o outro colega contribui para a autonomia da aprendizagem do aluno. O trabalho com jogos de análise linguística possibilita à criança corresponder os sons com as letras e adquirir valores sonoros convencionais. A seguir, exemplificamos algumas atividades sugeridas pelos autores. Utilizar letras do alfabeto, pintadase recortadas, em uma caixa e sorteá-las para as diferentes crianças; mostrar e perguntar se conhecem aquela letra. Em seguida, solicitar sugestões de palavras que começam com aquela letra. O professor pode fazer cartazes com uma gravura que inicia com a respectiva letra e com a lista de palavras sugeridas pelas crianças. 56 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Alfabeto ilustrado: pedir para as crianças recortarem de revistas gravuras cujos nomes comecem com a letra de seu nome. Alfabeto concreto: solicitar às crianças que separem objetos ou figuras e classifiquem-nos de acordo com a letra com que começa cada objeto ou figura coletada. Listagens na sala: com os alunos, separar palavras, listando- as de acordo com suas características. Por exemplo: lista de roupas, animais, produtos de higiene, meios de comunicação, brinquedos. O professor pode registrar na lousa as indicações das crianças. Quebra-cabeça: a criança pode brincar com um quebra- cabeça, confeccionado pelo professor, de nomes dos alunos da sala, de lista de animais, de objetos da sala, de gravuras e seus respectivos nomes abaixo etc. 2.4.3 Letra cursiva e letra de fôrma A criança tem maior contato com a letra de fôrma devido ao seu uso frequente por jornais, revistas, letreiros, informes de supermercado etc. Seu traçado é fácil, e as letras são separadas uma das outras, o que possibilita a identificação da letra pela criança e a sua percepção das regras de combinação do código linguístico. 57 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Podemos falar que uma criança é alfabética quando vincula fonema e grafema. Ela entende que deve escrever como fala: por exemplo, ouve falar boneca e escreve buneca, casa e escreve caza. Quando a criança estiver na fase alfabética, o professor pode apresentar outros tipos de letra, por exemplo, a de fôrma minúscula e cursiva maiúscula e minúscula. Inicialmente, deve apresentá-la junto com a letra de fôrma, para depois deixar escrita apenas a cursiva. O professor não deve esquecer o trabalho com frases e textos, e, aos poucos, diminuir o trabalho com palavras apenas. O professor pode fazer cartazes com os tipos de letras, segundo o que sugerem Cócco e Hailer (1996). 2.4.4 Ortografia e gramática O ensino da ortografia possibilita à criança o desenvolvimento da fluência na leitura. Após entender que se escreve o que se fala, a criança alfabética começa a desestruturar suas hipóteses porque não entende algumas regras da escrita ortográfica. A ortografia, parte da gramática, apresenta regras como a utilização de “m” antes de “p” e “b” e outras com aspectos convencionais estipulados a partir do social-arbitrário. Nesse conhecimento, a criança precisa lembrar-se da palavra para escrevê-la corretamente. É um processo que envolve a imagem mental. A consciência do modo como a palavra é escrita está além do plano da memorização da palavra por meio de repetidas cópias, passíveis de esquecimento. 58 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 2.4.4.1 Correção das palavras do texto Infelizmente, muitos professores, equivocados com a concepção construtivista da alfabetização, simplesmente não corrigem os textos escritos de seus alunos e, consequentemente, não os ajudam na construção correta da imagem mental das palavras escritas no texto. 2.4.4.2 Autocorreção É um procedimento de comparação da palavra escrita incorretamente com a forma ortograficamente correta. O professor pode devolver o texto ao aluno com as palavras escritas incorretamente grifadas e com a palavra correta no final do texto, para que a própria criança possa reescrever o texto com as palavras escritas corretamente, após a comparação das palavras. O professor também pode grifar as palavras escritas incorretamente e solicitar que as crianças procurem as palavras corretas em um texto jornalístico da Internet, em revistas, livros ou dicionários. 2.4.4.3 Pontuação Não se fala mais em ensinar pontuação nessa ou naquela série ou ano em que a criança estuda, mas sim na fase em que se encontra na hipótese linguística. Ensina-se, portanto, pontuação quando o aluno é alfabético e escreve textos. O professor pode ler um texto produzido coletivamente em sala de aula, dramatizando-o como se o texto não tivesse pontuação e, junto com as crianças, num outro momento, colocar a pontuação necessária para entendimento do texto, do ponto final, dos parágrafos, das vírgulas etc. 59 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Trabalhar com as crianças a respeito das expressões faciais, a forma como o corpo se manifesta quando falamos uma história a outras pessoas e que, num texto, não temos as expressões ou linguagens corporais para que fique clara a compreensão. No texto, temos a pontuação para que possamos expressar nossos pensamentos. 2.4.4.4 Escrita ortográfica O conhecimento da escrita ortográfica é construído num processo de aprendizagem percorrido ao longo das experiências de leitura e escrita das pessoas. A autocorreção e a pontuação de um texto são formas de ampliar e consolidar os conhecimentos construídos ao longo do processo de alfabetização e letramento, e não um fim em si mesmo. Ou seja, é necessário que o aluno escreva corretamente para ser interpretado, expressar suas ideias e opiniões, e não aprendê-las simplesmente para repeti-las em provas e tirar boas notas, dizer que está alfabetizado porque copia ou escreve sem erros ortográficos; com certeza, não é repetir frases decoradas e “cartilhescas” sem significado e sem sentido para o aluno. 2.5 Avaliar o ensino e a aprendizagem do aluno A avaliação está relacionada à visão que o professor, os pais, os alunos e a equipe como um todo têm do mundo, de suas expectativas em relação ao processo de ensino e da aprendizagem. 2.5.1 Avaliação normativa A avaliação normativa é pautada em notas e menções realizadas a partir do número de acertos que 60 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 o aluno apresenta na prova, e não na verificação de sua aprendizagem. O professor tem papel de mero transmissor de conhecimento. Cabe ao aluno repetir os conhecimentos que lhe foram passados por meio de respostas escritas em sua prova. A prioridade do professor é trabalhar os conteúdos, e não o conhecimento que o aluno adquiriu. 2.5.2 Avaliação qualitativa A avaliação qualitativa é fundamentada em critérios. O professor observa os seus alunos, o aproveitamento de cada um e propõe atividades desafiadoras ou de fixação de conteúdos, proporcionando-lhes condições para que construam seus conhecimentos. Avaliar requer reflexão contínua da prática educativa e dos resultados alcançados pelos alunos. 2.5.3 O papel do “erro” no processo educativo e na avaliação Cócco e Hailer (1996) explicam que o erro costuma ser “desconfortante” para quem o comete, porque é visto como algo negativo, portanto ninguém deve cometê-lo. Porém, segundo Piaget, os conceitos são construídos num processo de autorregulação, quando as pessoas corrigem as ações consideradas erradas por não alcançarem os objetivos propostos e estabelecidos. O que deve ser ressaltado é a atitude que se toma a partir do erro: o reforço de hipóteses equivocadas, não adequadas,ou a construção e o aperfeiçoamento de novas hipóteses, 61 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 contribuindo-se para o desenvolvimento cognitivo do aluno. O professor, além de diagnosticar o erro do aluno, deve ajudá-lo a reformular suas hipóteses. Quem é a criança? • É um sujeito que faz parte de uma organização familiar, inserido em uma sociedade com determinada cultura, num tempo e espaço. Esses aspectos são referenciais para a criança. Em aula, é abordada a questão: Quem é a criança? Você deve pensar sempre quem é a criança de hoje e relacioná-la ao contexto, familiar, escolar e social. Esses aspectos permitirão que se identifiquem as estratégias adequadas ao momento em que estará ensinando. As crianças elaboram teorias provisórias, um processo semelhante ao dos cientistas. Portanto, compare os elementos do mundo real e os elementos do mundo criado pela escola. Imagens e Desenhos. Materiais concretos (tampinha, caixas, Xerox). 62 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Nunca se esqueça de que: A escrita representa a fala, que, por sua vez, representa o objeto! EscritaFala Objeto ou Ideia Não é possível dizer à criança que a escrita representa o objeto, pois ela não entenderá assim. Existe um objeto do mundo real ou uma ideia representada por nós através de um determinado som que emitimos (fala) e, quando não estamos presentes ou queremos lembrar, escrevemos, ou seja, transformamos esse som em escrita. 63 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Ler e escrever se aprende quando a prática de ler, escrever e pensar é possível. Saiba mais Se você quiser fazer uma pesquisa para aprender mais sobre a história das cartilhas e a realidade de hoje nas escolas, fica a sugestão de materiais: Letramento como eixos orientadores. In Brasil, Ministério da Educação. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: MEC/SEB, 2006. MORTATTI, M. R. L. Cartilha de alfabetização e cultura escolar: um pacto secular. Caderno CEDES, v. 20, n. 52. Campinas, nov. 2000. ______. História dos métodos de alfabetização no Brasil. Seminário Alfabetização e Letramento em Debate. Disponível em <www.mec.gov.br>, maio de 2006. Resumindo Finalizando o pensamento e comparando-o: Para aprender a ler e a escrever, é preciso: Para isso acontecer, a criança precisa: • pensar sobre a escrita; • pensar sobre o que a escrita representa; • pensar como a escrita representa graficamente a linguagem oral. • ler, embora ainda não saiba ler; • escrever, apesar de não saber escrever. Saber que a língua escrita é uma representação de segunda ordem. Apropriar-se desse complexo sistema por meio do qual os conhecimentos podem ser registrados, acumulados e legados à humanidade. Assista ao filme Vida de inseto e estabeleça uma análise com o assunto abordado nesse item! 64 Unidade II Re vi sã o: T at ia ne - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 8/ 11 /2 01 0 Exercícios 1. Entreviste um professor alfabetizador a respeito da concepção de alfabetização que ele tem. Anote a opinião dele e discuta conforme o que aprendeu nas Unidades I e II. Resposta: Sugestão da pauta da entrevista: É possível alfabetizar sem cartilha? Você conhece Magda Soares? Qual sua opinião sobre o método tradicional de alfabetizar? Você escolhe o livro para trabalhar em sala? Quais são os critérios adotados. As respostas não são fechadas, mas têm o intuito de fornecer subsídios para uma conversa que aborde os conteúdos vistos nesse material, e, assim, você estará melhor preparado para quando estiver frente a essa situação em sua profissão. 2. Faça uma pesquisa sobre os conteúdos abordados nos livros didáticos das editoras brasileiras. Se tiver condições, busque os livros de William Cereja, Magda Soares e os títulos que abordam “Projeto”, pois esses materiais de alfabetização trazem a concepção de letramento alinhado à concepção de alfabetização. Resposta: Você irá descobrir ao estudar a Unidade III.
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