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Letícia Nano - Medicina Unimes Insulinoterapia Insulina A insulina é um hormônio produzido pelas células β das ilhotas pancreáticas, cujo efeito principal é a captação de glicose perifericamente, através da estimulação da translocação e exteriorização de receptores de glicose nas células (GLUT). Além de promover a captação de glicose, atua também no metabolismo de outros compostos: Sua secreção ocorre de forma contínua (basal) e em picos (bolus). Em adultos não diabéticos, são produzidas diariamente cerca de 25 unidades de insulina, que chegam ao sistema porta de maneira gradual e lenta (50 a 60% de toda insulina) responsável pela normoglicemia durante os períodos de jejum e interprandiais, através da supressão da gliconeogênese hepática. Já após as refeições, a insulina é liberada de forma rápida, bolus, com o objetivo de estimular a captação hepática e muscular da glicose absorvida durante a digestão. Tratamento com insulina A insulinoterapia pode ser utilizada nos dois tipos de Diabetes Mellitus, no entanto, no tipo 1, seu uso é indispensável, constitui a base do tratamento, enquanto a dieta alimentar, atividade física e monitoramento glicêmico são procedimentos complementares na terapêutica. O objetivo do tratamento é manter a glicemia e a hemoglobina glicada (HbA1c) o mais próximo da faixa de normalidade, para tratar a sintomatologia e prevenir/diminuir as complicações agudas e crônicas decorrente dessa doença. * Alguns pacientes podem espontaneamente normalizar as glicemias, na chamada fase de lua de mel, após a introdução da insulinoterapia. Normalmente, esse período não dura mais que poucas semanas. Recomenda-se, entretanto, que a terapia insulínica não seja suspensa, mantendo-se doses baixas, com cuidado para evitar hipoglicemias. Obs.: no paciente diabético tipo 2, não somente a glicemia pós prandial é aumentada, como a glicemia basal também. Como o objetivo do tratamento é manter as variações e os níveis de glicemia semelhantes aos indivíduos não diabéticos, o controle glicêmico se faz crucial na terapia dessa doença. Tipos de insulinas As insulinas podem ser classificadas em insulina animal, humanas ou análogos de insulina. Antigamente era frequente o uso de insulinas animais, provenientes principalmente de suínos e bovinos. Foram desenvolvidas as insulinas humanas, e hoje compõem 100% das insulinas NPH e Regular, utilizadas no Brasil. Os análogos de insulina são substâncias que sofreram modificação genética através da engenharia genética. Essa modificação pode ser a adição ou remoção de alguns aminoácidos em sua estrutura, que conferem a particularidade da insulina. Análogos da insulina são compostos sintéticos obtidos por alterações na estrutura química da molécula de insulina, por meio da técnica de DNA recombinante. Essas mudanças mantêm o poder biológico da insulina, porém alteram suas características físico-químicas, com maior rapidez na absorção e maior ou menor tempo de ação. Metabolismo de carboidratos: Estimula a captação de glicose pelas células Aumenta a síntese de glicogênio Metabolismo de lipídios: Diminui a lipólise Aumenta a lipogênese Inibe a cetogênese Metabolismo de proteínas: Aumenta síntese proteica Diminui o catabolismo proteico Letícia Nano - Medicina Unimes Quanto à farmacocinética, as insulinas podem ser classificadas em: Ação rápida, ultrarrápida, intermediária e longa duração. Ação rápida O único representante das insulinas de ação rápida é a insulina Regular (R). Foi a primeira insulina a ser produzida, e antigamente era derivada de animais, hoje é humana, e sua forma é em solução. O tempo necessário para início do efeito terapêutico após a sua aplicação é de 30-40 minutos, com efeito máximo de 2 a 3 horas e duração efetiva de 8 a 10 horas. As indicações incluem o controle glicêmico pós prandial e correção de episódios hiperglicêmicos (bolus). É a insulina mais empregada no tratamento da cetoacidose diabética. É administrada cerca de 30 minutos antes das refeições (por causa do seu tempo de absorção e início efetivo). Ação ultrarrápida São representadas pelos análogos Lispro, Aspart e Glisulina. Têm início rápido, 15 minutos após a aplicação e duração mais curta que a Regular, no máximo 6 horas, com as mesmas indicações para uso. A administração é feita um pouco antes da refeição ou logo após a refeição. Essa classe de insulinas é a que melhor representa a ação fisiológica da insulina em reposta à ingestão de carboidratos, portanto, é a mais indicada para controle glicêmico pós prandial. O risco de hipoglicemia também é menor que comparado à Regular. Nomes comerciais: Lispro- Humalog® Aspart- Novorapid® Glisulina - Apidra® Ação intermediária São representadas pelo NPH e Lenta (L). A insulina NPH (Neutral Protamine Hagedorn) é a insulina mais utilizada no mundo, criada a partir da adição de uma protamina (proteína alcalina) à solução de insulina Regular, para obter uma suspensão de insulina (necessário agitar antes de aplicar), menos solúvel ao pH neutro, e consequentemente com maior duração. Após 2 a 4 horas da aplicação, inicia sua ação e seu pico ocorre entre 4 e 10 horas, com duração efetiva de 12 a 18 horas. Em geral, requer aplicação de 2 vezes ao dia (é uma insulina humana). A insulina L era composta pela Regular e adição de zinco e/ou protamina, também chamada de ultralenta, mas hoje não é mais comercializada. Nomes comerciais: NPH- Humulin N®/ Novolin N® De longa duração (basais) Se comparado às demais insulinas sua duração é lenta, mas não leve ser chamada de Lenta, pois os representantes dessa não são mais comercializados. As insulinas basais não possuem pico de ação e possuem grande duração. O principal representante é a Glargina, com início de ação em 2 a 4 horas após a injeção e duração máxima de até 24 horas. A Detemir, outra insulina de ação lenta, possui duração máxima de 20 horas e é menos potente que a Glargina, Letícia Nano - Medicina Unimes mas que em altas concentrações possui alta eficácia. Já a Degludeca (Tresiba fora do Brasil), é a que tem maior duração, de até 42 horas. Nomes comerciais: Glargin- Lantus®U-100 / Tonjeo® U-300 (mais lenta) Detemir- Levemir ® Degludeca- Tresiba ® (A prefeitura de Santos disponibiliza a Detemir) Obs.: as siglas N, R ou L fazem parte de uma convenção internacional (as 3 são insulinas humanas). Os subtipos de insulina citados possuem o mesmo início de ação, quando administrados via endovenosa. Pré misturas Podem ser misturadas análogos de insulina com protaminas e outras substâncias, para que a duração da insulina aumente, com características próximas ao NPH. Um exemplo é a insulina Humalog Mix 25%, o número refere à porcentagem de Humalog pura, enquanto o restante (75%) é referente à insulina misturada com protamina. São frequentemente utilizadas no tratamento da Diabetes Mellitus tipo 2. Uma desvantagem das insulinas pré misturadas, é que a proporção entre as duas insulinas é fixa, não sendo adaptável a todos pacientes. • Lispro : Humalog Mix 25 (refil ) 25% Humalog Mix 50 (refil) 50% - mais utilizada nos EUA, devido ao conteúdo hipercalórico do café da manhã • Aspart : NovoMix 30 (penfill, flexpen) • Humana N/R : Humulin 90/10 ; 80/20 ; 70/30 Novolin 90/10 ; 80/20 ; 70/30 A insulina identificada com U-100 possui 100 unidades de insulina por mililitro de líquido no frasco. A U- 300 possui 300, é mais concentrada e não possui na forma de seringa, só emcaneta Letícia Nano - Medicina Unimes Esquemas de insulinoterapia O esquema de insulina basal-bolus é o esquema mais utilizado em pacientes com Diabetes Mellitus tipo 1.A insulina basal de longa duração é associada à insulina prandial (bolus). A dose total diária (DTD) de insulina é calculada de acordo com o peso do paciente e doses de insulinas a serem utilizadas, compreendendo tanto a insulina basal, quanto a prandial (bolus). Em pacientes sem uso prévio da insulina, se inicia o tratamento calculando a DTD com: 0,4 a 0,5 U/kg/dia. A dose total diária é então dividida na dose basal e prandial igualmente, ou seja, em média na metade do valor para cada. A dose para a insulina prandial deve ser dividida nas 3 refeições realizadas durante o dia. Em idosos e pacientes com função renal reduzida, a DTD iniciais devem ser reduzidas para evitar hipoglicemia. Insulina basal: impede a hiperglicemia durante o estado de jejum. Pode ser utilizada uma insulina de longa duração, como a Glargina, 1 vez ao dia. A dose de insulina basal é, portanto, a dose compreendida como metade do DTD mais a dose de correção da glicemia de jejum, utilizando- se o valor referencial da glicemia de jejum de 110 mg/dL. A dose de correção é o aumento de 2 U a cada 3 dias, até atingir o valor referencial. Caso isso não ocorra, a dose de correção pode ser aumentada de acordo com a resistência apresentada pelo paciente (se alterou pouco a glicemia, aumenta de 4 em 4U, por exemplo). Obs.: na ausência de insulinas basais, ou em baixas condições socioeconômicas, utiliza-se a insulina NPH (o SUS fornece o NPH gratuitamente), 3x ao dia, com dose maior durante o período da manhã. Insulina prandial : chamada também de insulina nutricional, é administrada antes das refeições e evita a hiperglicemia pós-prandial. Os análogos de ação ultrarrápida são preferíveis à insulina Regular, devido a sua duração mais curta e a seu início de ação mais rápido, o que reduz o risco de hipoglicemia. Normalmente, os 50% restante da dose diária total de insulina é dividida entre as refeições principais de acordo com a ingestão de carboidratos(variável). A dose ideal da prandial é aquela ajustada à quantidade de carboidrato a ser ingerida na refeição, estimando-se que 1U de insulina de ação rápida ou ultrarrápida seja capaz de cobrir até 15g de carboidrato ingerido. A glicemia pós prandial deve ser mantida no máximo até 160mg/dL. Insulina de correção ou suplementar: é administrada para corrigir a hiperglicemia quando a glicemia está acima da meta, em conjunto com a insulina prandial e com a mesma formulação. O bolo suplementar deve ser calculado individualmente, de acordo com a sensibilidade à insulina e os objetivos glicêmicos de cada paciente. A correção é normalmente em relação à glicemia de 100mg/dL. Estima-se que 1U de insulina de ação rápida ou ultrarrápida tenha capacidade de diminuir 50mg/dL da glicemia. Caso a glicemia tenha aumentado, ou se mantida, sabe- se que o paciente tem grande resistência, e que provavelmente 1U só possui a capacidade de diminuir 40 mg/dL da glicemia, isto é, deve-se aumentar a dose de insulina de correção. ** U= unidade de insulina Letícia Nano - Medicina Unimes Cálculos para insulinoterapia Exemplo prático: Adulto de 60 kg, sem uso prévio de insulina, possui glicemia de jejum de 150 mg/dL. Sua meta de glicemia de jejum é 110mg/dL e glicemia pós prandial(2h após) de 140 mg/dL. DTD: 60 X 0,5 U/kg/ dia = 30 U de insulina (15 U para insulina basal e 15 bolus). Café da manha -Glicemia de jejum: 150mg/dL e ingestão 30g de carboidrato • Insulina basal = 15 U (DTD) + 2 U (correção insulina de jejum) 17U • Insulina rápida ou ultrarrápida = 2 U (insulina prandial) + 1U (correção) 3U 1U ---- 15 g carboidrato X ---- 30 g de carboidrato x= 2U 1U ---- 50mg/dL glicemia X ---- 50 mg/dL glicemia(150-100) x= 1U Almoço -Glicemia: 200 mg/dL e 60g de carboidrato • Insulina rápida ou ultrarrápida= 4 U (insulina prandial) + 2U (correção) 6U 1U ----15 g carboidrato X ---- 60 g de carboidrato x= 4U 1U ---- 50mg/dL glicemia X ---- 100 mg/dL glicemia (200 -100) x= 2U Jantar -Glicemia: 160 mg/dL e 40g de carboidrato • Insulina rápida ou ultrarrápida = 2,5 U (insulina prandial) + 1,2U (correção) 3,7U 1U --- 15 g carboidrato X ----- 40 g de carboidrato x= 2,5U 1U --- 50mg/dL glicemia X ---- 60 mg/dL glicemia (160 -100) x= 1,2U Outra forma de tratamento intensivo é a aplicação da insulina NPH em duas doses diária, aplicando-se em torno de 70% pela manhã e 30% ao deitar, associada a três aplicações diárias de insulina de ação rápida ou ultrarrápida. Letícia Nano - Medicina Unimes Efeito Somogyi A hiperglicemia matinal persistente pode ser consequência de hipoglicemia noturna, o então efeito Somogyi. O efeito Somogyi, também chamado de efeito rebote, consiste na hiperglicemia matinal devido a ativação dos contrarreguladores de insulina após hipoglicemia vivenciada durante a madrugada. A identificação do efeito Somogyi é importante, pois com medição da glicemia de jejum aumentada, a tendência terapêutica é aumentar ainda mais a dose de insulina basal, ou a de antes de dormir (NPH), no entanto isso só agrava o efeito. É importante o diagnóstico diferencial com o efeito do alvorecer, caracterizado pela hiperglicemia matinal por deficiência de insulina, como na baixa dose de insulina basal, e que é agravada pela secreção de hormônios contrarreguladores durante a madrugada. Para diferenciá-los pode se observar alguns sinais de que houve hipoglicemia durante a madrugada, como o paciente apresentar umidificação de sua roupa ao acordar, pós sudorese fria. Atualmente, estão sendo desenvolvidos monitores de punho/relógios capazes de sentir alterações de temperatura e umidade durante a madrugada, para notificar o paciente. O efeito Somogyi, portanto, requer a redução da dose de insulina basal ou a revisão do horário de aplicação da insulina noturna. Para prevenção da hipoglicemia noturna, pode-se orientar um lanche antes de dormir que contenha carboidratos, ou o consumo imediato de açúcar quando na sensação de hipoglicemia. Aplicação Locais de aplicação O local de aplicação mais comum é o abdome, a parte posterior superior dos braços, as nádegas e a lateral exterior das coxas também são áreas utilizadas com frequência. Os lugares preferenciais são aqueles com maior volume de tecido adiposo, subcutâneo. Seringas As seringas para aplicação de insulina são graduadas em unidades, adequadas à concentração U- 100, o que significa que em 1 ml, há 100 unidades (UI) de insulina, concentração disponível no mercado brasileiro. As seringas com agulha fixa são as mais indicadas para a aplicação de insulina, pois não possuem espaço residual (espaço morto) e permitem associar dois tipos de insulina, quando necessário. Existem 3 tipos: seringa de 30 unidades, 50 e 100 unidades.A escolha a seringa de acordo com a dose prescrita, a de 30 unidades é normalmente utilizada quando a dose é de 30 unidades de insulina por aplicação. Já a de 50 unidades é indicada para prescrições entre 30 e 50 unidades de insulina por aplicação e a seringa de 100 para 50 e 100 unidades de insulina. pelo médico. Comprimento da agulha: hoje é possível escolher entre a agulha de 12,7 mm ou uma agulha curta com 8 mm de comprimento. A agulha deve ser escolhida de acordo com o físico e características de cada região do corpo recomendada para auto aplicação. Letícia Nano - Medicina Unimes Canetas Existem vários tipos de canetas de insulina, normalmente com agulhas descartáveis, e com refil da insulina. As agulhas podem ser ainda menores com de 5 mm e 4 mm de comprimento. É um sistema de aplicação preenchido com seletor de dose. O fármaco é aplicado em regime de unidades, e o contador de doses mostra o número de unidades a serem aplicadas. Bombas de infusão A bomba de infusão de insulina é um aparelho eletrônico ligado ao corpo por um cateter com uma agulha flexível na ponta. A agulha é inserida na região subcutânea do abdome, braço ou coxa, e deve ser substituída a cada dois ou três dias. Não é uma bomba inteligente, isto é, não mede a glicemia ou mostra quantidade a ser utilizada. A bomba libera uma quantidade de insulina basal (pré programada) durante 24 horas por dia. No entanto a cada refeição é preciso fazer a contagem de carboidratos (cálculo) e programar o aparelho para liberar uma quantidade de insulina rápida ou ultrarrápida. Os modelos atuais de bomba de insulina possuem uma calculadora de bolus, em que o paciente apenas insere o volume de carboidratos que irá ingerir e o valor da glicemia daquele momento (ou possui o sensor da glicemia também). Referências bibliográficas Endocrinologia Clínica 6ª edição , 2016 Vilar, Lúcio https://www.diabetes.org.br/publico/ultimas/474-bombas-de-infusao-de-insulina http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cuidado_pessoa_diabetes_mellitus_cab36.pdf https://www.diabetes.org.br/ebook/component/k2/item/57-esquemas-de-insulinizacao-no-diabetes-tipo-1
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