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alegações finais peça 5

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EXECELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO... DA VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO...
Processo n°...
TÍCIO, já qualificado nos autos do processo número em epígrafe, que lhe move o Ministério Público, vem a Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado, devidamente constituído, conforme procuração em anexo, apresentar:
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS
Com base nos artigos 411, §4º combinados com art. 403, § 3º do Código de Processo Penal vigente, diante os fatos e fundamentos que passa a expor.
DOS FATOS E DOS FUNDAMENTOS
Após um dia de serviço, o acusado ofereceu carona a sua amiga, ora vítima, que estava grávida, já que os mesmos trabalhavam no mesmo local. Todavia, ao querer chegar em casa a tempo de assistir o início do jogo de futebol do seu time do coração, o denunciado de forma inconsciente, não assumindo o risco, e acreditando que poderia imprimir uma maior velocidade no veículo, e chegarem ao destino sem quaisquer eventuais transtornos, ao fazer uma curva fechada, este perdeu o controle do veículo, que acabou capotando.
O corpo de bombeiros prestou socorro a ambos no local, e encaminharam a vítima para o hospital mais próximo, onde além de se verificar que a mesma não sofrera qualquer lesão, observaram ainda que a sua gestação fora interrompida em decorrência do acidente ocorrido.
Diante dos fatos apresentados, verifica-se que o acusado agiu de maneira solidária e companheira para com sua amiga de trabalho, e também, do feto, preocupando-se com a saúde, o bem estar e a segurança de ambos – gestante e nascituro, uma vez que ofereceu uma carona por entender assim, estar mais segura em sua companhia e condução na volta para casa, depois de mais um dia de serviço.
Podemos concluir que o acusado não teve qualquer “animus deliberandi”, vontade direta ou indireta de causar o acidente, e por consequência lesionar ou se quer imaginar, acabar que por retirar a vida de seus passageiros, bem como pôr em perigo a sua própria vida e saúde.
Evidente é a configuração do elemento motivador da conduta deliberada, qual seja, a culpa consciente, e não o dolo eventual ao qual poderia ensejar a confirmação da tipicidade penal do fato descrito no art.125 do CP. Sendo certo que esse não possuía nenhum motivo ou sentimento ao qual poderia ensejar a prática do aborto provocado por terceiro.
Importante é elencar a inexistência do dolo, a vontade direta da conduta do denunciado, objetivando o resultado e a sua consumação. O fato revela-se ATÍPICO, em virtude da inexistência do elemento dolo, seja na modalidade direta ou eventual, ao qual o crime imputado ao acusado não admite tipicidade culposa.
Nesse sentido, válido é elencar, o entendimento do precedente aberto e sumulado pela Corte Suprema, TJ-CE – HC: 06265918320158060000 CE 0626591-83.2015.8.06.0000 pela Relatora Ligia Andrade de Alencar Magalhães, na 1ª Câmara Criminal, publicado em 16/12/2015:
“HABEAS CORPUS. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA POR AUSÊNCIA DE DOLO. INVESTIGAÇÃO FÁTICO-PROBATÓRIA INVIÁVEL NA VIA ESTREITA DO HABEAS CORPUS. ANÁLISE A SER REALIZADA PELO JUIZ DO CASO, APÓS O SUMÁRIO DA CULPA. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. CORRETA ADOÇÃO DO RITO PROCEDIMENTAL DO TRIBUNAL DO JÚRI. NULIDADE, POR CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO, DA DECISÃO QUE REJEITOU A TESE DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. WRIT DEFERIDO EM PARTE. 1.Embora insistam os impetrantes na atipicidade da conduta imputada à paciente, por inexistência de dolo, elemento subjetivo necessário à caracterização do crime de aborto provocado por terceiro (art. 125, CP), desrecomenda-se o trancamento de ação penal regularmente instaurada em desfavor da paciente, no decorrer da qual será apurado se o aborto fora, ou não, provocado por ato da acusada, bem como, em caso positivo, se esta agiu com culpa ou dolo – direto ou eventual – este último quando o agente assume o risco de produzir o resultado danoso. 2. Embora o Órgão acusador, com base nos elementos colhidos no inquérito policial, tenha afirmado na denúncia que a acusada causou o aborto em referência por negligência (modalidade de culpa), tal enquadramento não vincula o Magistrado do caso, que poderá, ao final do sumário da culpa, impronunciar a acusada, absolvê-la sumariamente, caso esteja convencido da atipicidade conduta, ou pronunciá-la, caso entenda que esta se houve com dolo. 3. Some-se a tais argumentos o fato de que a açodada intervenção deste Tribunal, fulminando de plano a ação penal em curso, ainda na fase em que prepondera o princípio in dubio pro societate, inviabilizaria a apuração de possível ato criminoso, e, por tabela, a responsabilização da suposta responsável pela lastimável interrupção da gravidez em referência. 4. Em tal contexto, descarta-se a prematura intervenção desta Corte no sentido de trancar a aludida ação penal, pois, como visto, a averiguação acerca da alegada atipicidade da conduta imputada à paciente entrelaça-se com a perquirição sobre o elemento subjetivo que teria norteado a conduta da acusada, investigação esta que demanda profunda análise do matérial fático-probatório, algo incabível neste momento (antes da conclusão do sumário da culpa) e na estreita via cognitiva do habeas corpus. 5. Ao proceder à classificação do crime, o Ministério Público enquadrou a conduta da paciente no tipo penal previsto no art. 125 do CP, daí porque não se desvenda injuridicidade alguma na atuação do Magistrado do caso, que, com base no art. 5º, XXXVIII, d, da CF c/c art. 74, § 1º, do CPP, imprime ao feito o rito atinente ao Tribunal do Júri, foro constitucional dos crimes dolosos contra a vida, ainda que o Órgão acusador, por equívoco, tenha indicado, na denúncia, o procedimento comum ordinário para reger o curso do processo em referência. 6. Toda decisão judicial deve ser suficientemente motivada, ainda que de forma sucinta. Enfático, nestes termos, o teor do art. 93, IX, CF/88. Ao prolatar a decisão que rejeitou a alegação de atipicidade da conduta veiculada na resposta à acusação, contudo, o Impetrado extrapolou os lindes da concisão. Assim, despida das razões pelas quais o Judicante entendeu pela improcedência da argumentação defensiva, a decisão em referência não possui validade jurídica, revelando-se nula de pleno direito. 7. Ordem concedida em parte. 8. Unanimidade. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade e em dissonância com o parecer da PGJ, em deferir parcialmente a ordem de habeas corpus, apenas para reconhecer a nulidade da decisão reproduzida à fl. 238, permitindo-se, contudo, o curso regular da ação instaurada contra a paciente. Fortaleza, 15 de dezembro de 2015. LUIZ GERARDO DE PONTES BRÍGIDO Presidente do Órgão Julgador DESA. LÍGIA ANDRADE DE ALENCAR MAGALHÃES Relatora”.
Em vistas da atipicidade do fato, com o disposto no art. 215, que trata do aborto provocado por terceiro, não resta alternativa diversa da absolvição sumária do denunciado, como preconizado no art. 415, III, do Código de Processo Penal.
DOS PEDIDOS
Ante o exposto requer à Vossa Excelência que seja decretada absolvição sumária do acusado de acordo com art. 415, III, do CPP, em razão da atipicidade da conduta do réu.
Nestes termos, 
Pede deferimento.
Cidade, 10 de Setembro de 2018.
Advogado/OAB

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