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Sociologia e Antropologia Jurídica (GSER881000) Uninassau Natal Profa. Dra. Margarida Maria Knobbe 2019 Reprodução autorizada apenas para estudo dos alunos da disciplina. É vedado o uso para outros fins, publicação em sites da internet, etc. sem prévia autorização por escrito da autora. Atividades 1) Com base no filme Janela da alma e no conteúdo estudado na aula, escreva uma frase de, no máximo, 3 linhas, sobre o que é o humano. 2) Diversas teorias buscam explicar a relação homem/natureza. “A mais recente teoria sobre a difícil tarefa e investigação entre o natural e o cultural firma a seguinte posição: os fatores que formam o cenário natural serão explorados deste ou daquele modo, conforme a história da configuração cultural” (Eduardo Iamundo, em Sociologia e Antropologia do Direito, 2013, p. 192). Tendo esse pressuposto, podemos dizer que o homem é 100% natureza e 100% cultura? Por que? Exemplifique. 3) O professor Luís Alberto Warat aponta para uma tendência de uma especificidade do ‘senso comum’, que ele chama de “senso comum teórico dos juristas”. Ao contrário de um pensamento crítico, Warat afirma existir um contexto de vulgarização e simplificação da doutrina, propício à ocorrência de falhas na (re)construção e compreensão das teorias jurídicas, que, por sua vez, contribuem para o enrijecimento teórico no ato de (re)produção dessas teorias. Concordando com o mestre Warat, Lenio Streck acredita que resumir o direito é criar juristas despreparados e desvinculados com a realidade social. Esses juristas desempenham papel de meros repetidores das verdades postas. Ou seja, é a doutrina Homer Simpson recrutando (reproduzindo) juristas com capacidades críticas e interpretativas semelhantes àquelas apresentadas pelo personagem fictício Homer Simpson (STRECK, 2012). Há o “o caso do homem sem dinheiro que “sonhava” em deixar seu rosto com aparência de um lagarto. Trata-se de um amante da prática de modificação extrema do corpo - body modification extreme – o qual decidiu se submeter a cirurgias modificadoras, a fim de deixar seu rosto com a aparência de um lagarto. Para tanto seria necessário tratamentos cirúrgicos, bem como seções de tatuagem. Ocorre que o homem lagarto teve seu pedido negado nos hospitais públicos. Assim, por lógico, o indivíduo decidiu procurar a Defensoria Pública para assisti-lo em sua pretensão de ingressar na justiça a fim de ter seus direitos garantidos e concretizados. Eis um exemplo nítido dos efeitos causados por verbetes e plastificações de saberes jurídicos. Se esse indivíduo fosse dotado de capacidade de revisão crítica, com certeza jamais imaginaria a hipótese de ingressar com ação judicial” (José Paulo Schneider dos Santos; Fausto Santos de Morais, em O senso comum teórico dos juristas e o ensino jurídico em terrae brasilis, artigo disponível em: <https://www.imed.edu.br/Uploads/faustosantosdemorais4(%C3%A1rea3).pdf>). A partir do texto, explique o que é senso comum e o que é conhecimento científico- crítico. Aula 2 Significado, objeto, âmbito e desenvolvimento teórico da Sociologia. Montesquieu e o espírito das leis. Augusto Comte e o positivismo. “ ” Tradição, usos e costumes são modificados. Outros valores inserem-se nas dinâmicas que movimentam não só as estruturas das organizações, mas, também, o cotidiano dos indivíduos. A monarquia esfacela-se e as discussões políticas concentram-se nos parlamentos juntamente com a voracidade da corrida burguesa. Eduardo Iamundo, Sociologia e Antropologia do Direito, p. 27-28 “Concomitantemente a tais acontecimentos, as ciências adquirem um novo estatuto. O desenvolvimento industrial propiciou a interação entre as pesquisas científicas e a tecnologia, ocasionando a consolidação do conhecimento iniciado na revolução científica do século XVII.” (Idem) Iluminismo Surge no século XVIII, tendo como referência o racionalismo e como pressupostos: A razão é o instrumento para alcançar qualquer tipo de conhecimento. As leis naturais são instrumentos que regulam todas as transformações que ocorrem no comportamento humano, nas sociedades e na natureza. Todos os indivíduos têm os direitos naturais à vida, à liberdade, à posse de bens materiais. Crítica ao absolutismo, ao mercantilismo e aos privilégios de classe. Defesa da liberdade política, econômica e de expressão. Defesa da igualdade jurídica. Crítica à igreja católica. Alguns pensadores iluministas Influenciados por René de Descartes e Isaac Newton (cientistas racionalistas) e John Locke (pensador político liberal, criador da doutrina filosófica do empirismo): Montesquieu (1689-1755). O espírito das leis (tripartição do poder). Voltaire (1694-1778). Defensor das liberdades individuais; crítico do clero, mas desprezava as camadas populares e a pobreza. Rousseau (1712-1778). Da origem da desigualdade entre os homens (crítica à propriedade privada); Contrato Social (o Estado é resultado de um acordo entre os homens). O que é a burguesia? Durante o período feudal, os donos de terras eram os nobres e a Igreja. Com o incremento do comércio, os mercadores buscavam lugares seguros para exercerem suas atividades, os chamados ‘burgos’, uma zona fortificada que assegurava proteção em caso de ataque. Assim nasce uma nova classe social: os burgueses. Do comércio, passaram também a investimentos na produção industrial. Foram se formando cidades e “as populações das cidades desejavam algo mais que a liberdade: desejavam a liberdade da terra”. "Um pacto tácito foi concluído entre ela [a realeza] e a burguesia industrial de empreendedores e empregadores. Colocavam a serviço do Estado monárquico sua influência política e social, os recursos de sua inteligência e sua riqueza. Em troca, o Estado multiplicava seus privilégios econômicos e sociais. Subordinava a ela os trabalhadores comuns, mantidos nessa posição e obrigados a uma obediência rigorosa.” Para saber mais sobre o surgimento da burguesia e a passagem do modo de produção feudal para o capitalista, ver: História da riqueza do homem, de Leo Huberman. Revoluções burguesas Foi nesse contexto que a Europa viu acontecer muitas e importantes mudanças no cenário político, econômico e social, como as revoluções Francesa e Industrial. Essas revoluções formaram, assim, a base do Estado moderno. Por isso, o que se chama normalmente de revolução burguesa é o processo pelo qual o sistema capitalista passou a dominar a vida humana. Burguesia é a classe social surgida no mundo feudal da Idade Média europeia. Originalmente, são os artesãos de diversos ofícios e os comerciantes que se concentram em locais que virão a serem as cidades medievais. A palavra burguês significa homem do burgo, isto é, da cidade medieval. Era, pois, uma classe citadina que se formava e que trazia um modo de produção diferente, baseado na exploração do trabalho como fonte de riqueza. É interessante observar que a palavra alemã Bürger, homem do burgo, da cidade, pode significar burguês ou cidadão. O Código Civil alemão, tão importante para os estudos jurídicos, chama-se, em alemão, Bürgergeseztbuch, livro de leis do cidadão. A revolução burguesa é um processo europeu que se estendeu pelo mundo inteiro. Embora países como a Holanda e Portugal tenham vivenciado o capitalismo mercantil antes, Inglaterra e, depois, França mergulharam nessa sucessão de transformações sociais que marcaram a transformação radical da vida social humana. A Liberdade Guiando o Povo, por Eugène Delacroix, 1890, Museu do Louvre, Paris. A Revolução é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou osprincípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau. Revolução Francesa é o nome dado ao conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de 1789 e 9 de novembro de 1799, alteraram o quadro político e social da França. Em causa estavam o Antigo Regime (Ancien Régime) e a autoridade do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana (1776). Está entre as maiores revoluções da história da humanidade. Revolução francesa Movimento revolucionário adotado como uma referência histórica da revolução burguesa, que se processava pelo mundo ocidental. A França do final do século XVII vivia sob o regime da Monarquia Absolutista. Em 5 de maio de 1789, o rei Luís XVI inaugura os Estados Gerais, em Versailles (símbolo do poder real). Os três estados eram as representações dos estratos que compunham a sociedade, o primeiro deles o clero; o segundo, a nobreza; e o terceiro o povo. Nesse último estavam incluídos a burguesia urbana, os artesãos, os camponeses, todos, enfim, que não cabiam entre os outros dois estados. A burguesia era a classe social hegemônica no terceiro estado. O povo pobre de Paris era conhecido como os sans-culottes. Tinham esse nome porque não usavam os culotes, calças até pouco abaixo dos joelhos, vestimenta característica dos pertencentes aos estratos mais abastados. Eram, antes de tudo, igualitários, mas não eram hostis à propriedade. Seu ideal era uma sociedade de pequenos produtores e de pequenos proprietários livres. Em maio de 1789, o rei Luís XVI, pressionado pelas reivindicações da classe burguesa emergente e pelos sans-cullotes, convocou a Assembleia dos Estados Gerais, o Parlamento Francês, dominado pelo monarca absoluto, para discutir a grave crise econômica que se instalara. Nessa assembleia, a burguesia e os sans-cullotes decidiram romper com o rei. Em episódio conhecido, invadiram a prisão política da Bastilha, que simbolizava o poder do Estado. O rei foi preso e condenado à morte, pondo fim ao Antigo Regime. A Revolução Francesa e os processos sociais ligados a ela permitiram que a humanidade olhasse a sociedade como objeto da ciência. Mais revolução: a industrial No plano político e econômico, o termo revolução é usado para expressar um movimento que, na visão dos seus protagonistas, traz transformações significativas, positivas e benéficas para a sociedade. A Revolução industrial foi um conjunto de mudanças que aconteceram na Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas. O desenvolvimento industrial se fez acompanhar pelo desenvolvimento científico que, por sua vez, impulsionou ainda mais a indústria em função de descobertas e invenções. Nos centros urbanos europeus, respirava-se desenvolvimento e acreditava-se que a tecnologia e a máquina resolveriam todos os problemas do homem. A indústria cresceu e vieram as crises de produção porque a superprodução não era acompanhada pelo consumo. A solução para a crise de consumo foi encontrada no neocolonialismo, ou imperialismo do século XIX. Ilustração da paisagem inglesa durante a Revolução Industrial. As grandes chaminés expelindo fumaça representava m desenvolvimento Trade Unions foram as organizações que deram origem movimento sindical. O Ludismo surgiu na Inglaterra, entre 1811 e 1812. O nome do movimento deriva de um dos seus líderes, Ned Ludd. Contrários aos avanços tecnológicos ocorridos na Revolução Industrial, os ludistas protestavam contra a substituição da mão de obra humana por máquinas. Exploração do trabalhador A Inglaterra foi precursora na Revolução Industrial devido a diversos fatores, entre eles: possuir uma rica burguesia, o fato de o país possuir a mais importante zona de livre comércio da Europa, o êxodo rural e a localização privilegiada junto ao mar o que facilitava a exploração dos mercados ultramarinos. Como muitos empresários ambicionavam lucrar mais, o operário era explorado sendo forçado a trabalhar até 18 horas por dia em troca de um salário baixo. Além disso, mulheres e crianças também eram obrigadas a trabalhar para sustentarem suas famílias. as condições de vida dos trabalhadores eram precárias: eles viviam em bairros afastados das regiões centrais das cidades, suas casas eram insalubres, construídas em ruas escuras e sem pavimentação, eram mal ventiladas, não tinham água e apresentavam péssimas condições sanitárias. Com o incremento das máquinas industriais nas fábricas, rapidamente a mão de obra operária foi sendo substituída, gerando milhares de desempregados. Logo em seguida, os trabalhadores reagiram com o movimento de quebra de máquinas: no ano de 1811, muitos trabalhadores invadiram as fábricas à noite e quebraram as máquinas com golpes de martelos. Os trabalhadores quebradores de máquinas ficaram conhecidos como ludistas, nome que deriva de Ned Ludd. Neocolonialismo Diferente do colonialismo dos séculos XV e XVI, o neocolonialismo representou nova etapa do capitalismo, do momento em que as nações europeias saíram em busca de matérias-primas para sustentar as indústrias, de mercados consumidores para os produtos europeus e de mão de obra barata. Esse colonialismo se direcionou para a África e a Ásia, partilhadas entre as nações europeias. A América escapou desse colonialismo porque se tornara independente pouco antes. Porém, se não foi dominada politicamente pela Europa e pelos EUA, o foi economicamente, pois dependia dos banqueiros e do capital industrial europeu. Naquela época, por exemplo, grupos franceses e ingleses iniciaram a exploração da borracha na região amazônica porque era mais barato produzir aqui e exportar para a Europa e para os EUA: afinal, aqui se encontrava a matéria-prima, a mão de obra barata e o favorecimento governamental. A África e a Ásia foram o cenário onde atuou uma infinidade de cientistas e religiosos que assumiram o fardo do ‘homem branco’. Na Índia, por exemplo, qualquer membro da raça branca era tido como membro da classe dos amos e senhores, respeitado e reverenciado. Situações semelhantes fizeram o fundador da República do Quênia, na segunda metade do século XX, referir-se assim à dominação imperialista: "Quando os brancos chegaram, nós tínhamos as terras e eles a Bíblia; depois eles nos ensinaram a rezar; quando abrimos os olhos, nós tínhamos a Bíblia e eles as terras". Todas as tentativas de reação por parte das nações dominadas pelos impérios europeus foram enfrentadas com o uso das armas por parte das nações europeias. Nem a China ficou de fora da corrida imperialista: foi dominada economicamente e teve territórios ocupados pelos japoneses. A ciência como álibi Nesse cenário de expansão imperialista, surgem inéditas tentativas de explicação da realidade social. Uma delas foi o chamado darwinismo social, que justificava a ‘inferioridade’ de outros povos em relação aos europeus. O darwinismo social apropriou-se da teoria de Charles Darwin sobre a evolução e adaptação das espécies, no âmbito das ciências naturais, e ‘adaptou-a’ indevidamente para explicar as sociedades, de forma conveniente para o movimento neocolonialista. Charles Darwin (1809-1882) Darwin foi um naturalista britânico que alcançou destaque no meio acadêmico ao desenvolver a teoria da evolução da vida na Terra. Em seu livro publicado em 1859, A Origem das Espécies, ele introduziu a ideia de evolução a partir de um processo aleatório de seleção natural. Esse princípio se tornaria a explicação científica dominante para a diversidade das espécies no mundo natural. Nessa obra, em consonânciacom o espírito da época, Darwin defendeu a noção de variação gradual dos seres vivos graças ao acúmulo de modificações pequenas, sucessivas e favoráveis, e não por modificações extraordinárias, surgidas repentinamente. Darwin apresentou o núcleo da sua concepção evolutiva: a seleção natural, ou a persistência do mais capaz; com o passar dos séculos, a seleção natural eliminaria as espécies antigas e produziria novas espécies. Liberalismo e darwinismo social As teses de Darwin foram discutidas em todo o meio científico e o próprio liberalismo econômico adotou o pressuposto da competição. Ao defender a propriedade privada, o liberalismo postula que todo homem compete em igualdade no acesso à propriedade privada. Aquele que não a conquista, não o faz porque é vicioso ou preguiçoso. É claro que essa tese, presente em nossas mentes até hoje, interessava e interessa à manutenção do domínio da classe burguesa. Logo surgiu o darwinismo social. O filósofo inglês Herbert Spencer foi o principal representante dessa corrente nas ciências humanas. É dele a expressão "sobrevivência do mais apto", muitas vezes atribuída a Darwin. Os princípios do darwinismo social foram construídos a partir da obra de Spencer. Segundo o darwinismo social, as sociedades se modificam e se desenvolvem como os seres vivos. As transformações nas sociedades representam a passagem de um estágio inferior para outro superior, onde o organismo social se mostra mais evoluído, adaptado e complexo. Se na natureza a competição gera a sobrevivência do mais forte, também na sociedade favorece a sobrevivência de sociedades e indivíduos mais fortes e evoluídos. As expressões: “luta pela existência” e “sobrevivência do mais capaz”, tomadas de Darwin, apoiaram o individualismo liberal e justificaram o lugar ocupado pelos bem-sucedidos nos negócios. Por outro lado, as sociedades foram divididas em raças superiores e inferiores, cabendo aos mais fortes dominar os mais fracos e, consequentemente, aos mais desenvolvidos levar o desenvolvimento aos não desenvolvidos. A civilização deveria ser levada a todos os homens. É claro que o darwinismo social serviu para justificar a ação imperialista das nações europeias. Foi nesse cenário de constantes conflitos sociais, políticos, econômicos e religiosos, cenário marcado pela industrialização e pelo cientificismo, que nasceu a Sociologia Um novo mundo A sociedade passou por inúmeras transformações no campo social, político, religioso, cultural, econômico, etc. entre os séculos finais do feudalismo e a era moderna, ou seja, mais ou menos do século XIV ao XIX. Essas trasnformações romperam com a longa estabilidade social presente na Idade Média e trouxeram um rápido rompimento com as formas de vida tradicionais. Surgiram cidades, fábricas, máquinas a vapor, novas religiões, novas formas de governo, etc. Também surgiram problemas sociais em larga escala, como prostituição, violência, suicídio, criminalidade, alcoolismo, destruição da família, entre outros. “ ” A Sociologia surge, de um lado, como imposição para a explicação, compreensão, ou mesmo como apreensão para sistematizar teoricamente as novas demandas do século XIX, provenientes das novas formações sociais, políticas e econômicas. De outro, para interferir de modo direto e indireto na prática da Política efetiva, pois a desigualdade social, cada vez mais crescente, exigia muito mais do que uma apreensão teórica como, até então, fazia a filosofia política. Eduardo Iamundo, Sociologia e Antropologia do Direito, p. 29 Algumas vertentes teóricas Charles Montesquieu (1689-1755), Auguste Comte (1798-1857) Charles Montesquieu “ ” Em O Espírito das leis, Montesquieu revela a profunda influência que tanto os estudos da História como também as reflexões da Filosofia exerceram não só na origem da Sociologia como, e principalmente, ao longo da história dessa ciência social. Eduardo Iamundo, Sociologia e Antropologia do Direito, p. 35 “Acrescenta-se, ainda, que a sociologia geral de Montesquieu deriva do seu objeto inicial de investigação: o Estado, mais especificamente os regimes políticos. A procura das causas que influenciam ou estabelecem as relações das pessoas com o Estado é que conduz o pensamento de Montesquieu para a investigação do contexto social.” (Idem, p. 36) Positivismo O pensador francês Auguste Comte fundou a corrente filosófica chamada de Positivismo. Um de seus fundamentos é a ideia de que tudo o que se refere ao saber humano pode ser sistematizado segundo os princípios adotados como critério de verdade para as ciências exatas e biológicas. Isso se aplicaria também aos fenômenos sociais, que deveriam ser reduzidos a leis gerais como as da física. Dessa forma, nasce a Física Social ou Sociologia, para realizar a análise científica aplicada à sociedade, cujo objetivo seria o planejamento da organização social e política. Ordem e Progresso Ordem: garantir o bom funcionamento da sociedade, a harmonia social, inibir conflitos sociais, greves, manifestações. Progresso: sociedade industrial, exaltação da ciência e da tecnologia. A família e a propriedade eram núcleos permanentes que deveriam promover o progresso, todos dependentes uns dos outros. Não haveria lugar para o individualismo. Organização da sociedade O positivismo se refere à aplicação de princípios científicos para organizar toda a sociedade. Por exemplo: o Estado, a educação, os hospitais, as fábricas, as cidades, etc. Acreditava Comte que aplicando esses princípios à sociedade, se poderia atingir a ordem social. O positivismo foi a primeira corrente teórica a pensar questões sociais, dando origem ao que conhecemos hoje por Sociologia. Tal corrente teórica procurava resolver os conflitos sociais por meio da exaltação à coesão, à harmonia natural entre os indivíduos, ao bem-estar do todo social. Essa corrente teórica foi a primeira a definir precisamente o objeto, a estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação. Além disso, o positivismo, ao definir a especificidade do estudo científico da sociedade, conseguiu distinguir-se de outras ciências estabelecendo um espaço próprio à ciência da sociedade. A ciência poderia desempenhar a mesma função de conservação social que a religião tivera no sistema feudal. Ideal de neutralidade O positivismo pregava a cientifização do pensamento e do estudo humano, visando a obtenção de resultados claros, objetivos e completamente corretos. Refletiu o entusiasmo burguês pela consolidação capitalista, por meio do desenvolvimento industrial e científico. Os seguidores desse movimento acreditavam num ideal de neutralidade, isto é, na separação entre o pesquisador/autor e sua obra: esta, em vez de mostrar as opiniões e julgamentos de seu criador, retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus fatos, mas sem os analisar. Os positivistas creem que o conhecimento se explica por si mesmo, necessitando apenas seu estudioso recuperá-lo e colocá-lo à mostra. Ciências ‘positivas’ As ciências, no decurso da história, não se tornaram "positivas" na mesma data, mas numa certa ordem de sucessão que corresponde à célebre classificação: matemáticas, astronomia, física, química, biologia, sociologia. Das matemáticas à sociologia, a ordem é a do mais simples ao mais complexo, do mais abstrato ao mais concreto e de uma proximidade crescente em relação ao homem. Essa ordem corresponde à ordem histórica da aparição das ciências positivas. As matemáticas (que com os pitagóricos eram ainda, em parte, uma metafísica e uma mística do número), constituem-se, entretanto,desde a antiguidade, numa disciplina positiva (elas são, aliás, para Comte, antes um instrumento de todas as ciências do que uma ciência particular). A astronomia descobre bem cedo suas primeiras leis positivas, a física espera o século XVII para, com Galileu e Newton, tornar-se positiva. A oportunidade da química vem no século XVIII (Lavoisier). A biologia se torna uma disciplina positiva no século XIX. O próprio Comte acredita coroar o edifício científico criando a sociologia. Distinção Positivo: do ponto de vista filosófico, é o oposto a natural. Aquilo que é estabelecido ou é reconhecido como um fato. Positivismo jurídico: concepções do Direito em oposição ao direito natural. Não confunda Direito Positivo com Positivismo Jurídico O Direito Positivo é assim denominado porque é o que provém diretamente do Estado. Do latim jus positum: imposto, que se impõe, vem a ser também, a base da unidade dos sistemas jurídicos nacionais. A ciência da sociedade Comte usa os modelos da biologia para explicar a sociedade como um organismo coletivo – organicismo. Organicismo: a sociedade sendo percebida como um organismo composto de partes interdependentes, cujas partes são responsáveis pelo bom funcionamento do todo. Também se insere entre os evolucionistas ou darwinistas sociais, com a ideia que de que as sociedades, tal qual os seres vivos, se modificam e se desenvolvem num mesmo sentido, simboliza a passagem de um estágio inferior para um estágio superior. Essa passagem de estágios significaria a evolução do organismo e sua adaptação, isto é, somente os mais fortes sobreviveriam. Portanto, o capitalismo simbolizaria o progresso da humanidade e os países que a ele aderissem seriam os mais evoluídos. Inteligência é para poucos Comte afirma que apenas uma elite teria capacidade de desenvolver a parte frontal do cérebro, sede da faculdade superior, e conclui que a maioria dos seres humanos devem ser moldados e dirigidos a fim de garantir “o progresso dentro da ordem”. A sociologia de Comte gira em torno de núcleos constantes: a família, o trabalho, a pátria, a religião. Apesar da visão conservadora, Comte não desejava voltar ao passado nem eliminar o progresso. Para pensar... Pode uma ciência exata e neutra entender e explicar a sociedade e os homens nas relações sociais? Lei dos 3 Estados Comte acreditava que sua principal contribuição foi a teoria de que a humanidade passou por três estágios de evolução histórica e cultural e de desenvolvimento intelectual (concepção evolucionista ou darwinista social): i) teológico ou “religioso”: explica os fatos por meio de vontades análogas à nossa vontade (a tempestade. p.e., será explicada por um capricho do Deus dos ventos, Êolo): Este estado evolui ao fetichismo, politeísmo e ao monoteísmo. ii) metafísico: substitui os deuses por princípios abstratos como “o horror do vazio” por longo tempo atribuído à natureza. A tempestade, p.e., será explicada pela virtude dinâmica do ar. São igualmente metafísicas as tentativas de explicação dos fatos biológicos que partem do “princípio vital”, assim como as explicações das condutas humanas que partem da noção de “alma”. O homem projeta espontaneamente sua própria psicologia sobre a natureza. iii) positivo: é aquele em que o espírito renuncia a procurar os fins últimos e procura responder aos últimos “porquês” Contentar-no-emos em descrever como os fatos se passam, em descobrir as leis (exprimíveis em linguagem matemática), segundo as quais os fenômenos se encadeiam uns aos outros. Estática e dinâmica social Os traços mais marcantes do positivismo são certamente a excessiva valorização das ciências e dos métodos científicos, a exaltação do homem e suas capacidades e o otimismo em relação ao desenvolvimento e progresso da humanidade. É importante ressaltar o estudo das mudanças sociais. Para Comte, era necessário resolver a crise social que se apresentava não apenas na França, mas também em toda Europa. Ele preconizava uma nova ordem social, combinando ordem e progresso. Para Comte, a sociedade apresenta duas leis fundamentais: a estática social e a dinâmica social. De acordo com a lei da estática social, o desenvolvimento só pode ocorrer se a sociedade se organizar de modo a evitar o caos, a confusão. Uma vez organizada, porém, ela pode dar saltos qualitativos, e nisso consiste a dinâmica social. Essas duas leis são resumidas no lema ‘ordem e progresso’. Ciência-guia O positivismo exaltava a sociedade europeia do século XIX (industrialização) e procurava colocar “ordem na desordem” pós 1789. Cabe à Sociologia o papel de propor um novo conjunto de ideias para reorganizar a sociedade pós-revolucionária, superando as contradições capazes de levar à anarquia e à destruição. Seria uma espécie de “Física Social”. Formulação de uma teoria que vai abrir portas para novas explicações: será com Émile Durkheim que virá o aprofundamento de um método sociológico. “ ” “Estou convencido de que a sociedade cairá em dissolução se daqui a duas ou três gerações não se conseguir formar um código de opiniões políticas e morais admitido sem contestação por todas a classes; e, em segundo lugar, estou também firmemente persuadido de que se não conseguir formar uma doutrina que preencha todas as condições necessárias, tratando a política como ciência física, não se alcançará por outro meio aquele objetivo”. Auguste Comte Comte entendia que a desordem e a anarquia eram devidas à vigência de dogmas teológicos e metafísicos na educação e na moral. A ciência social deveria, então, “conhecer para agir; compreender para organizar”, conduzindo a sociedade para uma nova organização. Influências no Brasil Essa corrente filosófica foi muito influente (e ainda é) no pensamento brasileiro. O símbolo maior e mais visível dessa influência é o lema da bandeira brasileira: “Ordem e progresso”. A entrada e expansão da doutrina positivista, no período republicano, deu-se na imprensa, no parlamento, nas escolas, na literatura e na academia, em suas diferentes formas de adesão, produzindo um clima de grande entusiasmo pelo seu conteúdo de modernização das ideias. Sua disseminação no campo educacional deu-se, de maneira mais genérica, nos documentos oficiais, por decorrência das reformas educacionais de Benjamin Constant (1836-1891), defensor entusiasta do ideário comteano, ao lado de seus contemporâneos Sílvio Romero , Clóvis Bevilaqua, Teixeira Mendes, Miguel Lemos, Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa, Euclides da Cunha , que buscavam nos ideais comteanos elementos para formularem o projeto republicano. Também com a criação de ‘escolas positivistas’. No âmbito da política, pode ser notada na laicização do Estado, na Abolição da Escravatura e até mesmo na Proclamação da República. o positivismo foi inspiração para movimentos políticos importantes, como: 1889- Proclamação da República - influência das ideias positivistas. Lema comteano presente na Bandeira Nacional: A ordem para aperfeiçoar e levar ao progresso. 1930 - Vargas toma posse liderando um golpe das forças armadas; Pai Patrão. Controle sobre o operariado; Golpe Militar de 1964 - Goulart é deposto por uma revolta das Forças Armadas. Religião da humanidade O funcionamento da sociedade, para Comte, obedeceria a diretrizes predeterminadas para promover o bem-estar do maior número possível de indivíduos. Além de uma reformulação geral das ciências e da organização sociopolítica, o filósofo planejou uma nova ordem espiritual, a nova doutrina, porém, se dissociava totalmente da teologia cristã, que Comte rejeitava por se basear no sobrenatural, e não no materialismocientífico. No fim da vida, ele chegou a preconizar a construção de templos positivistas, onde a humanidade, e não a divindade, seria venerada. O filósofo via a humanidade como uma entidade una, que chamou de Grande Ser. Igreja positivista “A Igreja Positivista do Brasil, fundada em 19 de César de 93 - 11 de maio de 1881 - por Miguel de Lemos, está localizada à Rua Benjamin Constant, 74 - Glória, Rio de Janeiro. Sua sede, também é conhecida como Templo da Humanidade. Foi o primeiro edifício construído, no mundo, para difundir a Religião da Humanidade, em 08 de Abril de 1876, dia 08 de Arquimedes do ano 88, de acordo com o calendário Positivista. Por iniciativa do Sr. Oliveira Guimarães, Professor de Matemática, simpatizante do grupo Laffittista, propõe uma fusão entre os dois grupos, aceita pela totalidade dos positivistas. Surgia a sociedade estabelecida nos padrões da filosofia positivista, passando a denominar-se em 1878, Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, filiada à Igreja Positivista da França, sob a direção de Pierre Laffitte, passando a imprimir um ritmo de ampla divulgação do positivismo. Teve como primeiros sócio-fundadores, Oliveira Guimarães, Benjamin Constant, Álvaro de Oliveira, Joaquim Ribeiro de Mendonça, Oscar Araújo, Miguel Lemos e R. Teixeira Mendes. Entre as teses do Apostolado Positivista estavam a instalação e manutenção da ditadura republicana, a elaboração de um projeto constitucional, a separação da Igreja do Estado, uma ampla reforma no ensino e a liberdade como princípio universal, fundamentado na ideia de Ordem e do Progresso.” Fonte: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_igreja_positivista.htm> Sugestão de vídeo O Positivismo de Auguste Comte, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HfLpQ16WauM Atividades 1. O conhecimento científico opõe-se ao senso comum e o seu ideal está baseado na concepção segundo a qual a ciência é uma representação da realidade tal como ela é em si mesma. Acredita-se, portanto, em uma objetividade, isto é, um conhecimento que procura as estruturas universais e necessárias das coisas investigadas. Nesse sentido, a corrente positivista comtiana buscou relacionar as ciências naturais com a Sociologia emergente do século XIX, com o propósito de legitimar definitivamente a Sociologia como ciência. Tendo como norte essa perspectiva, (i) Explique como Comte concebeu a ciência da sociedade. (ii) Descreva as fases e suas características principais por que podem passar as sociedades humanas, de acordo com a Lei dos Três Estados. 2. De acordo com Auguste Comte existem dois movimentos sociais responsáveis pela evolução da sociedade. Um deles é responsável pela conservação e preservação da organização social e o outro pelas transformações e mudança da estrutura social. Esses dois movimentos correspondem, respectivamente à: A) Dinâmica social e igualdade social B) Ordem social e estática social C) Estática social e dinâmica social D) Dinâmica social e revolução social E) Dinâmica social e estática social 3. Considerando-se as grandes mudanças que ocorreram na história da humanidade, aquelas que aconteceram no século XVIII e que se estenderam no século XIX só foram superadas pelas grandes transformações do final do século XX. As mudanças provocadas pela revolução científico-tecnológica, que denominamos Revolução Industrial, marcaram profundamente a organização social, alterando-a por completo, criando novas formas de organização e causando modificações culturais duradouras, que perduram até os dias atuais. (DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. São Paulo: Persons Prentice Hall, 2004). Sobre o surgimento da Sociologia e as mudanças ocorridas na modernidade, é correto afirmar: A) A intensificação da economia agrária em larga escala nas metrópoles gerou o êxodo para o campo. B) O aparecimento das fábricas e o seu desenvolvimento levaram ao crescimento das cidades rurais. C) O aumento do trabalho humano nas fábricas ocasionou a diminuição da divisão do trabalho. D) A agricultura familiar desse período foi o objeto de estudo que fez surgir as ciências sociais. E) A antiga forma de ver o mundo não podia mais solucionar os novos problemas sociais
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