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Cuidados Nutricionais no Tratamento Cirúrgico da Obesidade Patologia da Nutrição e Dietoterapia I Profa. Alessandra Frasnelli Cirurgia Bariátrica • ferramenta mais eficaz no controle e no tratamento da obesidade severa. • Benefícios: – resolução ou melhora acentuada de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e hiperlipidemia1. • IMPORTANTE: o tratamento cirúrgico da obesidade não se resume ao ato cirúrgico. Indicações para Cirurgia 1. Pacientes com índice de massa corporal (IMC) ≥ 40 kg/m2 : – sem comorbidades – com falha documentada de tratamentos conservadores prévios realizados durante pelo menos dois anos. 2. Pacientes com índice de massa corporal (IMC) entre 35 e 39,9 kg/m2 – com comorbidades desencadeadas ou agravadas pela obesidade – com falha documentada de tratamentos conservadores prévios realizados durante pelo menos dois anos. 3. Pacientes com IMC ≥ 35 kg/m2 – com comorbidades que ameaçam a vida e que são melhoradas pela perda de peso, mesmo sem tratamento clínico prévio para perda de peso . Características adicionais obrigatórias a todos pacientes: • Ausência de causas secundárias da obesidade • Idade entre 16 e 65 anos • Capacidade intelectual para compreender todos os aspectos do tratamento • Compromisso com o seguimento pré e pós-operatório • Ausência de dependência química a álcool e/ou drogas ilícitas • Ausência de distúrbio psicótico grave (consulta com psiquiatra se necessário) ou história de tentativa de suicídio nos últimos 12 meses Contra-indicações para Cirurgia • Transtornos de comportamento alimentar • Transtornos psicóticos graves • Dependência química • Tentativa de suicídio nos últimos dois anos • Insuficiência orgânica grave • Doença neoplásica, infecciosa e inflamatória em atividade Procedimentos para Tratamento da Obesidade Gástricos Restritivos Técnica Cirúgica Mista Disabsortivos Procedimentos gástricos restritivos Balão Intra- gástrico (BIG) Banda Gástrica Ajustável Gastroplastia Vertical com Banda Gastrectomia Vertical – “Sleeve” Técnica Endoscópica Técnicas Cirúrgicas Balão Intra-Gástrico Mecanismos de Ação: • estimula receptores do fundo gástrico que sinalizam para o sistema nervoso central (cérebro) provocando saciedade precoce. • o espaço ocupado pelo balão também age diminuindo a capacidade do reservatório gástrico. • Levam a redução do volume de alimentos ingeridos e a conseqüente diminuição do aporte calórico e perda de peso. Dietoterapia no BIG • Consistência da Dieta: – 1º ao 3º dia: líquida de prova. – A partir 4º dia: seguida de dieta líquida sem lactose. – Evoluir gradativamente para pastosa conforme aceitação do paciente. • Volume e fracionamento: – Inicial (3 dias): 50ml a cada 1h – 100ml a cada 2horas – Evolução gradativa • Recomenda-se: – Polivitamínico – Suplemento hiperprotéico no 1º mês. Banda Gástrica: Ajustável e Cirúrgica Banda Gástrica Ajustável • Consiste na colocação de um pequeno anel (banda gástrica) ao redor da porção superior do estômago; • A capacidade máxima da banda é de 9,0 ml e o volume é ajustado de acordo com a tolerância individual,. Dietoterapia na Banda Gástrica Ajustável • 1º DPO: líquida de prova • 2º ao 15º DPO: dieta líquida sem lactose, CHO simples e hipolipídica • 15º ao 30º DPO: dieta semi-líquida evoluindo para pastosa • >30º DPO: dieta normal, hipocalórica, fracionada em 6 refeições. • Recomenda-se: – Polivitamínico – Suplemento hiperprotéico no 1º mês Gastroplastia Vertical com Banda Gastrectomia Vertical – Cirurgia Sleeve TÉCNICA CIRÚRGICA MISTA “Bypass Gástrico em Y-Roux” - CAPELA • principal tipo de cirurgia bariátrica realizado atualmente • Técnica cirúrgica mista por: 1. restringir o tamanho da cavidade gástrica e, consequentemente, a quantidade de alimentos ingerida 2. reduzir a superfície intestinal em contato com o alimento (disabsorção). • Deficiências predominantes de B12, ácido fólico e ferro PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS DISABSORTIVOS Derivação Biliopancreática Switch Duodenal Cirurgia de Scopinaro DITEN, 2011 Derivação Biliopancreática: Cirurgia de Scopinaro • Promove-se um encurtamento do intestino delgado, reduzindo o tempo de contato dos nutrientes com as células intestinais dificultando sua absorção. • grande desvio no intestino juntamente com a retirada de uma parte do estômago. • Esse desvio faz com que o alimento percorra a maior parte do intestino sem entrar em contato com as enzimas digestivas e, portanto sem absorver boa parte dos açúcares e gordura ingeridos. • Após esse desvio o alimento se encontra com as enzimas digestivas no final do intestino delgado tendo apenas 50 cm de intestino com capacidade de absorção Técnica do Switch Duodenal “Derivação Biliopancreática/duodenal” • má absorção de nutrientes é umas das explicações para a perda de peso. • Má absorção: – 25% de proteína – 72% de gordura deixam de ser absorvidos. Apenas 28% dos lipídeos são absorvidos (deficiência de vitaminas lipossolúveis. – Nutrientes que dependem da gordura dietética para serem absorvidos, como as vitaminas lipossolúveis e o zinco. Dietoterapia nas Derivações Biliopancreáticas • 3º ao 5º DPO: – Dieta líquida de prova – Iniciar com 50ml • 6º a 15º DPO: – Dieta líquida isenta de lactose e sacarose – Volume= 100ml • 8º ao 30º DPO: – Dieta pastosa constipante, • Proteína: – Mínimo de 100g/dia com suplemento protéico (módulo) – Glutamina 20 a 30g/dia (7 a 30 dias) • Vitaminas e minerais = 2x DRI • Dieta hipocalórica, Hipolipídica, hipoglicídica, hiperprotéica, rica em líquidos. Avaliação e Eficácia da Cirurgia Bariátrica • Metanálise 1990 – 2003 (Buchwald et al, 2004): – 136 estudos – 22.094 pacientes – Mortalidade cirúrgica (30 dias de pós- op.): • 0,1% procedimentos restritivos • 0,5% no bypass gástrico • 1,1,% na derivação biliopancreática /switch duodenal • Resolução ou melhora de comorbidades: – Diabetes 86% – Dislipidemia: 70% – HAS: 78,5% – Apneia do Sono: 83,6% • Melhora do Diabetes após 2 e 10 anos da cirurgia: – 1703 pacientes em 10 anos = 75,4% – 4047 pacientes em 2 anos = 86,5% • Melhora do Controle do Peso após 2 e 10 anos da cirurgia: – 2 anos: 23,4% – 10 anos: 16,1% Avaliação e Eficácia da Cirurgia Bariátrica • Bypass Gástrico: – Procedimento cirúrgico sendo evidente: • maior perda ponderal • Menor morbidade • Preferido na atualidade • Boa evolução pós-operatória em relação à melhora do Diabetes Tipos de Cirurgia Redução do IMC Kg/altura 2 Redução do excesso de peso Banda Gástrica - 10,8% - 49,6% Bypass Gástrico - 17,1% - 68,1% Gastroplastia Vertical - 14,5% - 69,1% Derivação Biliopancreática - 16,7% -72,1% Swedish Obese Subjects Study Scientific Group.Lifestyle, diabetes, and cardiovascular risk factors 10 years after bariatric surgery.N Engl J Med. 2004 Dec 23;351(26):2683-93 Nutricionista – Membro da Equipe • Integrante obrigatório na equipe multidisciplinar desde o 1º Consenso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica. • Função: – Equilíbrio do estado nutricional do paciente – Indicação dietética adequada nos casos deperda ponderal rápida pós-cirúrgica • Exigências: – Atualização constante – Manter-se apto no exercício de suas funções – Diante do(s): • Aprimoramento das técnicas cirúrgicas • Preparos pré e pós-operatórios • Tratamento das complicações cliniconutricionais em curto, médio e longo prazos. Protocolos de Atendimento Nutricional • Reuniões de pré-operatório com toda equipe: – Enfoque Nutricional: • Importância da abordagem nutriciona • Impacto nutricional da cirurgia • Importância do estilo de vida saudável • Rotina de atendimento nutricional comum de alguns serviços: – 1ª consulta INDIVIDUALIZADA no pré-operatório – 2ª consulta INDIVIDUALIZADA no 15º de pós-op. – 3ª consulta entre 28º ao 40º dia de pós-op – Consultas períodicas no pós-op TARDIO – monitoração permanente. Sugestões para Avaliação Nutricional no Pré-operatório 1. História Clínica 2. Antropometria 3. História de peso 4. História Psicológica 5. Ingestão Alimentar 6. Atividade física 7. Apoio psicossocial para intervenção cirúrgica Rotina do Nutricionista 1. Avaliação pré-operatória: OBJETIVOS: – Realizar o diagnóstico nutricional – Emitir parecer de acordo com o diagnóstico nutricional – Identificar e tratar possíveis deficiências nutricionais – Minimizar o risco cirúrgico mediante a redução do peso pré- operatório – Orientar a dieta para o período PÓS-OPERATÓRIO imdediato. • Consultas PRÉ-OPERATÓRIAS: – Informar aos familiares e paciente sobre: • riscos, benefícios e opções das técnicas cirúrgicas • Necessidade do cuidado nutricional • Adesão à dieta e toda suplementação necessária Rotina do Nutricionista 2. Avaliação Dietética: • QFA • Recordatório 24h (3 dias) • Cálculo estimado de macro e micronutrientes • Comedores de doces; • Glutões (comedores de volume) • Binge-eaters (compulsivos por alimentos em qualquer horário do dia) • Night-eaters (compulsivos noturnos – anorexia matutina) Rotina do Nutricionista 3. Parecer Nutricional: • Formulário próprio, devendo constar: – Avaliação antropométrica – Avaliação bioquímica: – Hemograma; eletrólitos; glicemia; lipídeos séricos; uréia, creatinina, ác. úrico, proteínas totais e albumina; vitaminas (ac. Fólico, B12, B6; 25-OH D); minerais (ferro, cálcio urinário 24h, zinco, magnésio e cobre); ferritina IMPORTANTE: • Antropometria: – Peso atual – IMC – Circ. cintura e outras medidas • Exame físico • História de peso: – Tentativas de perda sem sucesso – Tentativas de perda de peso exigido para a cirurgia – Identificar fatores/eventos da vida causais para a mudança do peso corporal – Objetivos pessoais com e para a perda de peso. Implicações Nutricionais das Cirurgias Bariátricas CAUSAS: • alterações anatômicas e fisiológicas que prejudicam as vias de absorção e/ou ingestão alimentar. EXIGÊNCIA PARA O NUTRICIONISTA: • Boa compreensão da fisiologia de absorção do trato gastrointestinal • compreender as potenciais deficiências nutricionais após a cirurgia Principais alterações metabólicas Rev Assoc Med Bras 2011; 57(1):113-120 Fatores que justificam a Suplementação Rev Assoc Med Bras 2011; 57(1):113-120 Suplementação Nutricional Recomendação de PROTEÍNA: • Alguns especialistas recomendam 70 g/dia de proteína durante restrições calóricas para a perda de peso. • Porém, muitos programas de cirurgia bariátrica recomendam 60 a 80 g/dia de proteína ou 1,0 a 1,5 g/kg de peso ideal, embora as necessidades exatas ainda não estejam definidas. Suplementação Preventiva Rev Assoc Med Bras 2011; 57(1):113-120 Rev Assoc Med Bras 2011; 57(1):113-120 Suplementação de Tiamina • Deficiência de tiamina após cirurgia bariátrica tem sido tratada juntamente a outras vitaminas do complexo-B e magnésio, para obter uma máxima absorção de tiamina e adequada função neurológica. • Os primeiros sintomas de neuropatia muitas vezes podem ser resolvidos pela suplementação oral de 20-30 mg de tiamina/dia até que os sintomas desapareçam. • Para sinais mais avançados de neuropatia ou na presença de vômitos persistentes, 50-100 mg/dia na forma intravenosa ou intramuscular pode ser necessário. Suplementação de Ferro • É importante considerar as características de absorção do diversos tipos de suplementação de ferro disponíveis no mercado: – Fumarato ferroso: 33% de ferro elementar, geralmente bem tolerado pelos pacientes, e apresenta boa absorção do mineral. – Sulfato ferroso: apenas 20% de ferro elementar e apresenta maiores efeitos gastrointestinais. – Ferronil: 98% de ferro elementar, ferro elementar, com partículas bem reduzidas. • Ideal: – suplemento de ferro acompanhado de vitamina C e de frutooligossacarídeos – prevenir a constipação, melhorar a flora intestinal e proporcionar melhor absorção do mineral – Recomendação: • 40 a 65mg de Ferro elementar/dia • 200 a 400mg de Sulfato ferroso • Mulheres reprodutivas: – + 100mg – 400 a 800mg/dia Suplementação de Ácido Fólico e B12 • Ácido Fólico: – Deficiência: 1000mcg/dia por 2 meses – Prevenção: 200% DRI (400mcg/dia) CUIDADO: • Suplementação > 1000mcg mascara deficiência de B12! Deficiência de B12: • definida em níveis inferiores a 200 pg/mL. • dosagem de 350 μg/dia na forma oral foi capaz de prevenir sua deficiência em 95% dos pacientes, • Dose oral de 500 a 1000 μg/dia tem sido utilizada para o tratamento desta deficiência. • Deficiência ocorre após alguns meses. Tem sido usado na prática clínica, suplementação parenteral de 1000mcg de B12 no pré- operatório. Suplementação de Vitamina A • A recomendação de 50.000 UI a cada duas semanas para corrigir a maioria dos casos de deficiência. • Recomendações específicas: – Na ausência de alterações na córnea, recomenda-se 10.000 a 25.000UI/d até que haja melhora clínica dos sintomas (normalmente entre 1- 2 semanas); – Na presença de alterações na córnea, 50.000 a 100.000 UI/dia (intramuscular) durante duas semanas é necessário. • É importante também avaliar a deficiência de ferro e cobre, pois podem prejudicar a resolução da deficiência de vitamina A. Efeito ANTIOXIDANTE (beta- caroteno): • podem ser alcançados com suplementos de 25.000 a 50.000 UI de caroteno. Suplementação de Cálcio e Vitamina D • Citrato de cálcio (500 mg/dia associado com 125 UI de vitamina D3- colecalciferol) demonstrou maior aumento dos níveis séricos de cálcio e maior redução do hormônio paratireoidino (PTH) que as mesmas quantidades de carbonato de cálcio suplementadas. • Deficiência de vitamina D após cirurgia bariátrica tem sido relatada entre 50%-80% dos casos. • Aumento nas dosagens de citrato de cálcio de 1000 mg para 1700 mg/dia (incluindo 400 UI de vitamina D) foi capaz de reduzir a perda óssea mesmo na presença de perda de peso.
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