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28/08/2015 Estabilidade de tratores agrícolas de pneus http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/varella/Downloads/IT154_motores_e_tratores/Aulas/estabilidade%20de%20tratores%20agricolas.htm 1/6 IT Departamento de Engenharia SEROPÉDICARIO DE JANEIRO MAIO2008 IT 154 Motores e Tratores Estabilidade de Tratores Agrícolas de Pneus Carlos Alberto Alves Varella varella@ufrrj.br Joseph Kalil Khoury Junior kalil@ufrrj.br INTRODUÇÃO A estimativa mundial da frota de tratores agrícolas de pneus é de 27,6 milhões de unidades, correspondendo à frota brasileira 336.589 unidades (ANFAVEA, 2008). A crescente utilização do trator agrícola tem trazido como conseqüência o aumento de acidentes de trabalho, mesmo com as diversas melhorias realizadas no seu projeto, para aumentar a eficiência, conforto e segurança nas operações. A maioria dos acidentes envolvendo tratores é fatal. Estimase que de 85% desses acidentes, 70% são devidos ao tombamento lateral e 15% ao tombamento longitudinal para trás (FUNDACENTRO, 1979). Conforme apresentado por DELGADO (1991), 60% dos acidentes com tratores agrícolas são causados por tombamentos. Estudos desenvolvidos nos últimos anos indicaram que entre 40 a 66% dos acidentes fatais tem sido devido a tombamento (SANDERSON et al., 2006). DEBIASI et al. (2004), estudando as causas dos acidentes de trabalho envolvendo conjuntos tratorizados, concluíram que os acidentes foram causados por atitudes e condições inseguras, representando 82 e 18%, respectivamente. Destacandose entre as principais causas a operação do trator em condições para as quais não foi projetado e a perda de controle em aclives/declives. A estabilidade do trator é um parâmetro que devido a sua significativa influência no tombamento do trator tem sido há muitos anos, motivo de estudo de diferentes autores. Por meio de simulações tem sido estudado o comportamento dos tratores em acidentes com tombamento lateral, além da estabilidade lateral quando o trator se movimentando em curva e sob alta velocidade. Estudos concluíram que os efeitos dos parâmetros que caracterizam a relação pneusolo têm grande influência no estudo da estabilidade de tratores, e que o conhecimento das forças laterais que atuam nos pneus, assim como as forças laterais e de tração que atuam no sistema em estudo, é de grande importância para realizar uma simulação correta da dinâmica do trator (REHKUGLER et al., 1976; REHKUGLER, 1982; KIM & REHKUGLER, 1987). Estudos mais recentes simularam o comportamento da estabilidade de um trator, tracionando uma carreta durante a subida e descida de uma ladeira. Foi definido o limite da carga e o ângulo de inclinação em que pode trabalhar o conjunto para não tornarse instável (ABUHAMDEH & ALJALIL, 2004). KHOURY JUNIOR et al. (2004), desenvolveram um modelo matemático capaz de prever a perda da estabilidade de tratores 4x2, sem implemento acoplado, com satisfatória precisão. Os autores concluíram que a energia adquirida pelo chassi do trator no início do estágio de tombamento é capaz de dar continuidade a este, quando o chassi colide com o eixo frontal. Os estudos da dinâmica de tratores agrícolas utilizando modelos matemáticos têm sido muito úteis para o desenvolvimento de projetos de tratores otimizados e mais seguros. EQUILÍBRIO ESTÁTICO LATERAL DO TRATOR Segundo MIALHE (1980), a análise do equilíbrio estático lateral de tratores agrícolas é importante para o estabelecimento de declividades limites dos terrenos para uso de máquinas agrícolas. Declividade do terreno Na Figura 1 a superfície do terreno é representada pela hipotenusa do triângulo retângulo. A declividade do terreno é normalmente expressa em porcentagem e é calculada pela Equação 1. em que, dt = declividade do terreno; x = distância horizontal; z = distância vertical. 28/08/2015 Estabilidade de tratores agrícolas de pneus http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/varella/Downloads/IT154_motores_e_tratores/Aulas/estabilidade%20de%20tratores%20agricolas.htm 2/6 Figura 1. A superfície do terreno é representada pela hipotenusa do triângulo retângulo. Condições de equilíbrio estático lateral A Figura 2 ilustra a vista de trás de um trator apoiado sobre um plano de apoio inclinado de ângulo α. Neste modelo, considerase que o centro de gravidade do trator (CG) está localizado no plano médio do trator. Segundo MIALHE (1980) a declividade máxima do plano de apoio para equilíbrio estático lateral de tratores pode ser calculada pela Equação 2. B = bitola do trator; y = cota vertical do centro de gravidade do trator. Figura 2. Vista de trás de um trator apoiado sobre um plano inclinado de ângulo α. Declividade limite operacional Consideremos a situação de um trator fazendo aração de um terreno inclinado caminhando com a roda no interior do sulco, como mostra esquematicamente a Fig. 2.6. Como se observa, existem dois planos a considerar : a) plano da superfície do terreno e b) plano de apoio do trator, cada um com sua declividade própria. Como norma de segurança recomendase que o valor de dO seja multiplicado por um coeficiente de segurança igual a 0,5 (Equação 4). B = bitola do trator; y = cota vertical do centro de gravidade do trator; p = profundidade do sulco; 0,5 = coeficiente de segurança. Figura 3. Considerando a roda direita do trator posicionada dentro de um sulco de profundidade 'p'. 28/08/2015 Estabilidade de tratores agrícolas de pneus http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/varella/Downloads/IT154_motores_e_tratores/Aulas/estabilidade%20de%20tratores%20agricolas.htm 3/6 EQUILÍBRIO ESTÁTICO LONGITUDINAL DO TRATOR A Figura 4 ilustra um trator sem carga apoiado sobre uma rampa de ângulo Nestas condições as forças consideradas na análise são: resistência do solo à tração (Fs), resistência do solo ao rolamento (Rr), peso do trator (P) e reações no eixo dianteiro (R1) e traseiro (R2). Estando o trator em equilíbrio o somatório das forças que atuam no plano paralelo ao deslocamento do trator (Fx deve ser igual a zero: o somatório das forças no plano vertical ao deslocamento do trator é: P= peso do trator; R2 = reação no eixo traseiro. Figura 4. Condições da estabilidade longitudinal sem carga. A Figura 4 ilustra um trator em uma rampa com ângulo de inclinação (α). A força de tração apresenta ângulo b em relação ao plano de deslocamento do trator. As forças que apresentam efeito na estabilidade longitudinal do trator são: as componentes horizontais do peso e da força de tração (P.sena e Ft.conb) e a força de resistência do solo à tração. do trator (Fs). A Equação 1 e 2 definem o equilíbrio das forças na direção paralela e perpendicular ao plano de deslocamento do trator. 28/08/2015 Estabilidade de tratores agrícolas de pneus http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/varella/Downloads/IT154_motores_e_tratores/Aulas/estabilidade%20de%20tratores%20agricolas.htm 4/6 Figura 4. Trator em uma rampa com ângulo de inclinação α e força de tração Ft. Considerandose o ponto O como centro de rotação das forças que atuam no trator, podemos estimar a quantidade de peso sobre o eixo dianteiro e traseiro. As Equações 3 e 4 definem a quantidade de peso sobre os eixos dianteiros e traseiros. Ft= força de tração; ângulo da força de tração em relação ao plano de deslocamento do trator; P= peso do trator; = ângulo de inclinação da rampa; Fs= força de resistência do solo à tração. R1= peso sobre o eixo dianteiro; R2= peso sobre o eixo traseiro. CENTRO DE GRAVIDADE A Figura 5 ilustra o triedro de referência para localização do centro de gravidade de tratores agrícolas. A origem 'o' está localizada na base da interseção entre os planos transversal,longitudinal e vertical. O trator está apoiado sobre o plano transversal (I). O plano longitudinal (II) passa pela linha central do trator e o plano vertical passa pela linha central do eixo traseiro. O centro de gravidade possui três dimensões: cota longitudinal, cota vertical e cota transversal (x,y,z). Todas as cotas são expressas em milímetros e representam as distâncias do centro de gravidade do trator aos respectivos planos do triedro de referência. 28/08/2015 Estabilidade de tratores agrícolas de pneus http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/varella/Downloads/IT154_motores_e_tratores/Aulas/estabilidade%20de%20tratores%20agricolas.htm 5/6 Trator Valmet 1184 Álcool x y z Sem lastro 1053 911 0 Com lastro 1036 793 4 Figura 5. Triedro de referência para localização do centro de gravidade de tratores agrícolas. O centro de gravidade em tratores de rodas nem sempre está localizado na linha central do trator, isto é, podendo estar deslocado para a direita (cota transversal negativa) ou para a esquerda (cota vertical positiva). A Figura 6 ilustra a localização do centro de gravidade de um trator agrícola que apresenta cota transversal negativa, isto é, o centro de gravidade do trator está deslocado para a direita. Nesta figura as cotas longitudinal (x) e vertical (y) são positivas e a cota transversal (z) é negativa. Figura 6. Localização do centro de gravidade de tratores agrícolas. O centro de gravidade varia de posição quando adicionamos lastros ao trator. No Quadro 1 são apresentados cotas do CG de um trator agrícola com lastro e sem lastro. Observase que com adição de lastros houve variação de todas as cotas do CG. A cota transversal (z) que apresentava valor zero sem lastro mudou para 4 mm com lastro. Quadro 1. Cotas do centro de gravidade de um trator com lastro e sem lastro Fonte: Boletim técnico CENEA, ano IV, n.10, 1985. 28/08/2015 Estabilidade de tratores agrícolas de pneus http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/varella/Downloads/IT154_motores_e_tratores/Aulas/estabilidade%20de%20tratores%20agricolas.htm 6/6 CONCLUSÕES A bitola e a localização do centro de gravidade na coordenada vertical são os fatores que mais afetam a estabilidade para tombamento lateral de tratores agrícolas. A localização do centro de gravidade na coordenada longitudinal e a distância entre eixos afetam a estabilidade de tratores agrícolas em tombamentos para trás. O trator desliza os rodados do lado do tombamento ou perde a dirigibilidade dos pneus frontais antes de ocorrer o tombamento lateral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABUHAMDEH, N.H.; ALJALIL, H.F. Computer simulation of stability and control of tractortrailed implement combinations under different operating conditions. Bragantia. Campinas, v.63, n.1, p.149162, 2004. ANFAVEA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. Anuário Estatístico da Indústria Automobilística Brasileira. 2007. Disponível em: http://www.anfavea.com.br/anuario2007/Cap1_15_2007.pdf. Acesso em 08 mai. 2008. DEBIASI, H.; SCHLOSSER, J.F.; WILLES, J.A. Acidentes de trabalho envolvendo conjuntos tratorizados em propriedades rurais do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência Rural, Santa Maria. v.34, n.3, p.779784, 2004. DELGADO, L.M. El tractor agrícola características y utilización. Madrid: Ministério de Agricultura, Pesca y Alimentación, 1991. 235p. FUNDACENTRO FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA E MEDICINA . Manual de segurança, higiene e medicina do trabalhador rural. São Paulo: 1979. 84p. KHOURY JUNIOR, J.K., DIAS, G.P., CORDEIRO, R.R., SOUZA, C.M.A. Modelagem da estabilidade de tratores agrícolas de pneus. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.39, n.5, p.459468, 2004. KIM, K.U., REHKUGLER, G. E. A rewiew of tractor dynamics and stability. Transactions of the ASAE, v.30, n.3, p.615623, 1987. REHKUGLER, G.E. Tractor steering dynamics – simulated and measured. Transactions of the ASAE, v.25, n.2, p.15151519, 1982. REHKUGLER, G.E., KUMAR, V., DAVIS, D.C. simulation of tractor accidents and overturns. Transactions of the ASAE, v30, n.3, p.601604, 1976. 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