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1 Aplicação da Lei Penal no Tempo IV DIREITO PENAL www.grancursosonline.com.br AN O TAÇ Õ ES Produção: Equipe Pedagógica Gran Cursos Online APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO IV Novatio legis in mellius (nova lei benéfica ou lex mitior) Ocorre quando uma nova lei mais benéfica é editada, revogando a lei anterior que tratava sobre o mesmo assunto. Exemplo: uma lei “A” prevê pena de 4 a 6 anos para determinado crime. O agente pratica a conduta. Surge no ordenamento jurídico brasileiro uma lei “B”, que prevê uma pena de 2 a 4 anos para o mesmo crime. Então, é óbvio que a nova lei é benéfica, visto que tanto a pena máxima quanto a mínima diminuíram. Esse fenômeno é chamado de retroatividade. Nova lei benéfica e vacatio legis A doutrina discute sobre a possibilidade de aplicação da lei penal mais bené- fica durante o seu período de vacatio legis (lapso temporal entre a publicação da norma e o início de sua vigência). Existem duas correntes sobre o assunto: 1ª corrente: é possível a aplicação já que, mais cedo ou mais tarde, a lei deverá ser aplicada em razão da retroatividade da lei penal mais benéfica; 2ª corrente: não é possível a aplicação, porque, durante o período de vacatio legis, a lei penal não possui eficácia jurídica. Na doutrina, prevalece a 2ª corrente. Atenção! Recentemente, esse assunto foi cobrado em prova. Observe as questões a seguir. Direto do concurso 1. (FGV/ESCRIVÃO DE POLÍCIA/PC-MA/2012) Julgue certo ou errado: A lei mais favorável é de aplicação imediata, inclusive no período de vacatio. 2 Aplicação da Lei Penal no Tempo IV DIREITO PENAL www.grancursosonline.com.br AN O TA Ç Õ ES Produção: Equipe Pedagógica Gran Cursos Online Comentário As provas da banca Fundação Getúlio Vargas defendem a 1ª corrente, vista anteriormente, mesmo sendo considerada minoritária. 2. (IBFC/ANALISTA DE PROMOTORIA/MPE-SP/2013) Julgue certo ou errado: A lei penal, durante o período de vacatio legis, não pode ser aplicada, ainda que mais benéfica ao agente. Comentário Já nessa questão, segue a 2ª corrente, que prevalece na doutrina. 3. (MS CONCURSOS/DELEGADO DE POLÍCIA/PC-PA/2012) Julgue certo ou errado: Não se aplica a lei nova, durante a vacatio legis, mesmo se mais benéfica, posto que esta ainda não está em vigor. A abolitio criminis elimina todos os efeitos penais, subsistindo, tão somente, os efeitos civis afetos ao fato crimi- noso. Assim, mesmo que a lei nova não considere crime a conduta do agente que era prevista como ilícita em lei anterior, a vítima, ou sua família, poderá interpor ação de reparação de danos morais e/ou materiais na esfera civil. Comentário Essa banca também defendeu a 2ª corrente. O pulo do gato Esse assunto nunca foi pedido pelo Cespe e, se for, é preferível não responder a questão, por conta da controvérsia de pensamentos a respeito. 3 Aplicação da Lei Penal no Tempo IV DIREITO PENAL www.grancursosonline.com.br AN O TAÇ Õ ES Produção: Equipe Pedagógica Gran Cursos Online Norma penal em branco e retroatividade do complemento benéfico A lei penal em branco é uma lei incompleta, cujo complemento é normativo, encontrado em lei (sentido amplo). A lei benéfica ao réu, por mandamento constitucional (art. 5º, XL, da CF/88), deve retroagir e alcançar os fatos praticados antes do início de sua vigência. Na norma penal em branco não é diferente, ou seja, em regra, a alteração de um complemento da NPB que for benéfica ao réu deverá retroagir, excepcio- nando-se os casos de complementos dados por leis temporárias ou excepcio- nais (conforme será visto durante o estudo dessas leis). Exemplo: o delito de tráfico de entorpecentes, previsto no art. 33 da Lei n. 11.343/2006, é uma norma penal em branco heterogênea complementada pela Portaria n. 344/1998 da Anvisa, que enumera as substâncias entorpecentes no Brasil. Competência para aplicação da nova lei benéfica No ordenamento jurídico, existe uma lei “A” com pena de 4 a 6 anos. João praticou a conduta proibida. Em razão disso, João foi a julgamento e acabou sendo condenado. Por conta da condenação, iniciou-se a execução da pena. Surge, então, no ordenamento jurídico, uma Lei “B”, que altera a pena do crime cometido por João, diminuída de 2 a 4 anos. Essa nova lei benéfica será apli- cada? Sim. Lei benéfica ao agente sempre volta no tempo. Mas há um detalhe: a condenação estava transitada em julgado (definitiva). Mesmo com o trânsito em julgado, a lei volta no tempo. Quem aplica a nova lei benéfica? O juiz da Vara Criminal ou o juiz da execução? O Juiz da execução. A Súmula n. 611 trata desse assunto: Súmula Vinculante n. 611 Competência do juízo da execução penal para aplicar a lei mais favorável “Com o advento da Lei nº 12.015/2009, como exposto, unificadas as condutas de estupro e de atentado violento ao pudor passaram a configurar crime único ou cri- me continuado, conforme as circunstâncias concretas do caso. No feito presente, o paciente foi condenado, em primeiro e segundo graus de jurisdição sob a égide da 4 Aplicação da Lei Penal no Tempo IV DIREITO PENAL www.grancursosonline.com.br AN O TA Ç Õ ES Produção: Equipe Pedagógica Gran Cursos Online legislação anterior à Lei n.º 12.015/2009. Apesar da elevada censurabilidade das condutas por ele praticadas, há em tese a possibilidade de considerar os abusos sexuais direcionados contra uma só vítima e em único contexto de tempo, lugar e maneira de execução, como crime único ou crime continuado, consideradas as circunstâncias concretas da hipótese. Estabelecidas essas premissas, vislumbro a necessidade da aplicação retroativa da Lei nº 12.015/2009. Compete ao Juízo da Execução Penal unificar as penas, nos termos da Súmula nº 611/STF ('Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna'). A ele caberá, ao exame das condutas criminosas, unificá-las considerando o crime como único ou como continuado. Não pode o Supremo Tri- bunal Federal interferir na escolha sob pena de supressão de instância, já que esse ponto específico da questão não foi submetido às instâncias ordinárias. Impõe-se, portanto, a concessão da ordem de ofício, para que o juízo da execução criminal competente proceda à aplicação retroativa da Lei n. 12.015/2009, afastando o con- curso material entre os delitos sexuais, para redimensionar a pena.” (HC 106454, Relatora Ministra Rosa Weber, Primeira Turma, julgamento em 2.4.2013, DJe de 17.4.2013). “A tese da absorção do atentado violento ao pudor pelo de estupro (previstos, respectivamente, nos arts. 213 e 214 do Código Penal, na redação anterior à Lei 12.015/2009) - sob o argumento de que o primeiro teria sido praticado como um meio para a consecução do segundo - está relacionada à conduta do paciente no momento dos delitos pelos quais ele foi condenado e demanda, por esse motivo, o reexame de fatos e provas, inviável no âmbito da via eleita. Embora o acórdão atacado esteja em harmonia com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, cujo Plenário, em 18.06.2009, no julgamento do HC 86.238 (rel. min. Cezar Peluso e rel. p/ o acórdão min. Ricardo Lewandowski), assentou a inadmissibilidade da continuidade delitiva entre o estupro e o atentado violento ao pudor, por tratar-se de espécies diversas de crimes, destaco que, após esse julgado, sobreveio a Lei 12.015/2009, que, dentre outras inovações, deu nova redação ao art. 213 do Código Penal, unindo os dois ilícitos acima. Com isso, desapareceu o óbice que impedia o reconhecimento da regra do crime continuado no caso. Em atenção ao direito cons- titucional à retroatividade da lei penal mais benéfica (CF, art. 5º, XL), seria o caso de admitir-se a continuidade delitiva pleiteada, porque presentes os seus requisitos (CP, art. 71), já que tanto a sentença, quantoo acórdão do Tribunal de Justiça que a manteve evidenciam que os fatos atribuídos ao paciente foram praticados nas mes- mas condições de tempo, lugar e maneira de execução. Ocorre que tal matéria, até então, não foi apreciada, razão por que o seu exame, diretamente pelo Supremo 5 Aplicação da Lei Penal no Tempo IV DIREITO PENAL www.grancursosonline.com.br AN O TAÇ Õ ES Produção: Equipe Pedagógica Gran Cursos Online Tribunal Federal, constituiria supressão de instância. Por outro lado, nada impede a concessão de habeas corpus de ofício, para conferir ao juízo da execução o enqua- dramento do caso ao novo cenário jurídico trazido pela Lei 12.015/2009, devendo, para tanto, proceder à nova dosimetria da pena, afastando o concurso material e aplicando a regra do crime continuado (CP, art. 71), o que, aliás, encontra respaldo tanto na Súmula 611 do STF, quanto no precedente firmado no julgamento do HC 102.355 (rel. min. Ayres Britto, DJe de 28.05.2010)”. (HC 96818, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Segunda Turma, julgamento em 10.8.2010, DJe de 17.9.2010) Questões complementares Combinação de leis penais no tempo Imagine a situação em que houvesse, em uma lei anterior, dispositivos mais benéficos e, simultaneamente, dispositivos prejudiciais ao réu em relação à lei posterior que a houvesse revogado. Diante disso, a doutrina discute se seria possível, ao juiz, combinar os dispo- sitivos da lei anterior e posterior com o objetivo de beneficiar o réu, extraindo os dispositivos mais benéficos de cada uma das leis. Essa situação já ocorreu no ordenamento jurídico brasileiro com a entrada em vigor da nova Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006). GABARITO 1. C 2. C 3. C �Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula preparada e ministrada pelo professor Paulo Igor. 6 Aplicação da Lei Penal no Tempo IV DIREITO PENAL www.grancursosonline.com.br AN O TA Ç Õ ES Produção: Equipe Pedagógica Gran Cursos Online
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