Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB O objetivo dessa aula é aprender um dos temas mais importantes da obstetrícia: a doença hipertensiva específica da gestação. Uma das maiores causas de morte materna e neonatal. Ao final da aula você vai descobrir as causas, quando tratar com medicação anti-hipertensiva, a prevenção, indicações do parto cesariano, como proteger o feto e como a equipe deve atuar. DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO - DHEG A DHEG compreende o conjunto das alterações pressóricas observadas na gestação, incluindo a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia. Ela é caracterizada pela presença de hipertensão arterial, edema e/ou proteinúria a partir de 20 semanas de gestação, em pacientes previamente normotensas. Epidemiologia ▪ Acontece em 5 a 10% das gestações ▪ As formas graves (com eclâmpsia e síndrome HELLP) constituem importante causa de morbidade materna e perinatal ▪ No Brasil, é a principal causa de morte materna. Classificação Existem várias classificações para as síndromes hipertensivas na gestação. A que a professora vai usar como referência é a classificação do HC-USP. CLASSIFICAÇÃO DAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS NA GESTAÇÃO SEGUNDO A CLÍNICA OBSTÉTRICA DO HC-FMUSP 1- DHEG Pré-eclâmpsia leve – PAS ≥ 140 e/ou PAD ≥ 90 mmHg após 20 sem de gestação – Proteinúria ≥ 300 mg/24 horas – Edema generalizado Pré-eclâmpsia grave – PAS ≥ 160 e/ou PAD ≥ 110 mmHg, confirmada em duas medidas – com intervalo mínimo de 1 a 2 horas – Proteinúria ≥ 5000 mg/24 horas – Edema generalizado – Oligúria (diurese < 400 mL/24 horas) – Cianose e/ou edema pulmonar – Iminência de eclampsia (cefaleia, dor epigástrica e alterações visuais) Eclâmpsia – Convulsões tonicoclônicas 2- Hipertensão Arterial Crônica Não complicada – Funções renal e cardíaca normais – Ausência de lesão em órgãos-alvo, instalada antes da gravidez Complicada – DHEG sobreposta (aumento de PA + proteinúria + elevação de ácido úrico) – Insuficiência Renal – Insuficiência Cardíaca Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Fatores de risco Os principais fatores de risco para DHEG são: ▪ Idade materna avançada ▪ História familiar de DHEG ▪ Obesidade ▪ Gestação múltipla ▪ Doença trofoblástica gestacional ▪ DHEG em gestação pregressa ▪ Diabetes mellitus ▪ Doença renal ▪ Colagenoses ▪ Trombofilias (ex. síndrome antifosfolipide) Etiologia A etiologia da DHEG permanece desconhecida, mas existem teorias que afirmam estar associada à: ▪ Deficiência da invasão trofoblástica: durante o desenvolvimento da placenta, no 1º trimestre, ocorre a primeira onda de invasão trofoblástica (invasão das arteríolas espiraladas do endométrio → diminuição da resistência vascular → aumento do fluxo sanguíneo placentário). Essa onda atinge os vasos da decídua e até o final de 20 semanas ocorre a placentação. Na implantação normal, os vasos tem um calibre maior e o sangue circula melhor. Quando a onda de invasão é inadequada, o calibre do vaso fica menor, isso aumenta os valores pressóricos e o fluxo uteroplacentário diminui, o que leva à diminuição da oxigenação fetal. ▪ Fatores imunológicos: resposta inflamatória exacerbada que impede a placentação adequada. ▪ Disfunção endotelial e alterações inflamatórias: com o processo desencadeado pelo aumento da resistência placentária, com liberação de citocinas e prostaglandinas pró- inflamatórias pela placenta, o endotélio entraria em estresse oxidativo (com produção de ânion superóxido). Essa reação seria a responsável pelo aumento na permeabilidade capilar. ▪ Predisposição genética: filhas de mães com pré-eclâmpsia têm maior incidência da doença. ▪ Fatores nutricionais: deficiência ou o excesso de alguns nutrientes (cálcio, vit. C, vit. E) ▪ Estresse: o risco relativo de DHEG é maior em situações de estresse. É de conhecimento antigo que o estresse é importante fator no aumento isolado da pressão arterial. [ ! ] PONTOS IMPORTANTES: – A nulípara tem maior risco de apresentar DHEG do que a multípara – A doença trofoblástica gestacional é a única situação em que a DHEG pode se manifestar em idades gestacionais inferiores a 20 semanas Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Fisiopatologia Apesar de a hipertensão arterial ser a manifestação mais frequente da DHEG, os achados patológicos indicam que o fator de importância primária não é o aumento da pressão arterial, mas a redução da perfusão tecidual. Assim, na DHEG ocorrem alterações em todos os órgãos. Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Esse fluxograma do Zugaib tá bem resumido e traz todas as alterações: ALTERAÇÕES FISIOPATOLÓGICAS DA DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO DHL: desidrogenase láctica PGl2: prostaciclina; TGO: aspartato aminotransferase; TGP: alanina aminotransferase; TXA2: tromboxano A2. Avaliação Clínica A maioria das gestantes na fase inicial da pré-eclâmpsia é assintomática. A rotina propedêutica cuidadosa, com ênfase na anamnese e no exame físico, é fundamental para o diagnóstico precoce. Os principais pontos da avaliação clínica são: ▪ Anamnese: histórico familiar, gestações anteriores ▪ Exame físico: edema, pressão arterial ▪ Laboratóriais: função renal (ureia e creatinina), função hepática (transaminases), proteinúria Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB [ ! ] Alguns pontos importantes sobre a avaliação clínica dessas pacientes: – Em paciente primigesta com história familiar de pré-eclâmpsia ou eclampsia, a probabilidade de acerto no diagnóstico clínico é maior. – As manifestações da DHEG são tardias e geralmente ocorrem no último trimestre da gravidez. A única exceção é a doença trofoblástica gestacional, que pode estar associada à DHEG no início da gestação. – Quando as manifestações da DHEG são precoces, guardam relação direta com os piores resultados maternos e perinatais → alerta para a presença de hipertensão arterial prévia à gestação, trombofilias ou doença renal preexistente. – Gestantes com risco para o desenvolvimento de DHEG devem ser submetidas a consultas mais frequentes de pré-natal → controle mais apurado do ganho ponderai, medida da PA, pesquisa de proteinúria e dosagem sérica de ácido úrico e ureia/ creatinina. Diagnóstico O diagnóstico de DHEGdeve ser presumido nas gestantes com hipertensão arterial, edema e/ ou proteinúria significativa após 20 semanas de gestação. 1- Hipertensão arterial PAS ≥ 140 mmHg PAD ≥ 90 mmHg Recomendações: – Paciente deve permanecer sentada por pelo menos 5 min antes da medida da PA – Braço direito na altura do coração – Devem ser realizadas pelo menos 02 aferições, com intervalo não superior a 01 semana 2- Edema O edema é comum na gravidez normal, principalmente um edema leve de mãos, face e membros inferiores, sobretudo no final da gestação. Por ser um dado considerado subjetivo, as diretrizes internacionais mais recentes não têm dado maior importância a esse aspecto. Zugaib considera patológico: Edema depressível e generalizado + HAS + ganho de peso > 1kg/semana – Com o tratamento (controle pressórico) esse edema irá regredir – Nos casos de edema de vulva, geralmente é feito compressa com bicarbonato gelado, sondar a paciente e orientar a paciente a deambular e ter paciência, que vai melhorar Edema de vulva Sinal do cacifo Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB 3- Proteinúria A proteinúria é considerada significativa quando: ≥300 mg em urina coletada durante 24h ou Presença em fita indicadora (>1+) ▪ Proteinúria grave: > 3g em urina coletada durante 24h Exames laboratoriais Ácido úrico: A dosagem do ácido úrico sérico é importante para o clínico, pois sua elevação ocorre precocemente na DHEG e pode estar relacionada à queda da filtração glomerular ou a alterações de reabsorção e excreção tubular. Essa hiperuricemia se relaciona com: – Maior lesão da endoteliose glomerular – Maior gravidade da DHEG – Baixo peso fetal Ácido úrico > 6 mg/dL (em gestante com valores anteriormente normais e sem uso de diuréticos) é altamente sugestiva da presença de DHEG. Avaliação laboratorial e sua justificativa para gestantes que desenvolvem hipertensão após a segunda metade da gravidez ou que apresentam agravamento de hipertensão prévia Em mulheres com pré-eclâmpsia, uma ou mais anormalidades podem estar presentes mesmo quando a elevação da pressão arterial for mínima. Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Além desses, outros exames podem ser solicitados em função da gravidade: – Pesquisa de colagenoses (suspeita de LES) – Pesquisa de trombofilias (síndrome antifosfolípide – SAF → pesquisa dos anticorpos anticardiolipina, anticoagulante lúpico e anticorpos antibeta-2-glicoprotefna 1) – Coagulograma completo – Eletroforese de proteínas – Eletrocardiograma, Ecocardiograma, Fundo de olho (complicações de doença hipertensiva sobreposta) – USG renal (avaliar lesão renal) – TC ou RM de crânio (casos de eclâmpsia em que as convulsões são reincidentes ou na presença de sinais localizatórios de lesão neurológica) – USG de abdome total e hepático (suspeita de lesão hepática) Predição Métodos clínicos, bioquímicos ou biofísicos, com intuito de separar aquelas mulheres que estão aparentemente bem (assintomáticas), mas desenvolvendo DHEG, daquelas que são normais: 1. Roll-over test: a professora não sabia dizer o que é esse teste, mas eu fui pesquisar. Basicamente você coloca a paciente em decúbito lateral esquerdo e afere a PA. Depois coloca a paciente em posição supina, espera 02 minutos, e afere novamente a PA. Se a PA aumentar pelo menos 20mmHg na posição supina, é um forte indicativo de DHEG → isso em pacientes nulíparas, normotensas, entre 28 e 32 semanas de gestação. Foi um cara (GANT, N. F.) que inventou essa bagaça em 1974. Ele fez esse teste e 93% das pacientes em que o teste deu positivo realmente tiveram DHEG lá na frente. 2. Dosagem de ácido úrico, fibronectina, alterações da coagulação 3. Marcadores de estresse oxidativo, citocinas, peptldios placentários e DNA fetal 4. Fatores antiangiogênicos ou a relação entre os fatores antiangiogênicos e pró-angiogênicos 5. Doppler das artérias uterinas: índice de pulsatilidade > 95 + presença de incisura protodiastólica bilateral a partir de 25 sem → sinais de invasão trofoblástica deficiente, podendo esta aumentar o risco de DHEG. Prevenção Em virtude do desconhecimento da etiologia da DHEG, não é possível impedir que a doença se instale por meio da prevenção primária. Entretanto, na prática se utilizam duas medicações: 1- Cálcio: 2g/dia, indicado para: – Pacientes de risco – Baixa ingesta de cálcio na alimentação 2- AAS: 100mg/dia, indicado para: – História prévia de HAS e/ou pré-eclampsia (eclampsia, HELLP, DPP) – História familiar de pré-eclampsia – Crescimento intrauterino restrito sem causa definida – Prematuridade anterior Além desses, é indicado Vit. C e Vit. E. Estudos demonstraram que o uso disso tudo aí em cima não conseguiu diminuir a incidência de DHEG na população geral, por isso nem todo obstetra prescreve isso, geralmente só os pré-natalistas de alto risco. Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Tratamento PRÉ-ECLÂMPSIA Características – Hipertensão + proteinúria – após 20 semanas de gestação – (exceto em gravidez molar e hidrópsia fetal) – Aumento rápido de peso, edema em mãos e face – Desaparece em até 12 sem após o parto – Proteinúria: >300mg em urina de 24h ou >++ em amostra isolada Medidas não farmacológicas – Repouso: o repouso em decúbito lateral esquerdo promove o aumento do fluxo plasmático renal, intensifica a natriurese e, consequentemente, diminui os níveis pressóricos. Somado a isso, melhora ainda o fluxo uteroplacentário. – Dieta hipossódica: restrição de 2 a 3 g de sal/dia Tratamento farmacológico Sedação (para controle emocional) – Diazepam 5-10 mg, VO, a cada 12 horas – Levomepromazina 3 gotas, VO, a cada 8 horas Hipotensores (quando as outras medidas forem insuficientes e a PAD≥100) – Pindolol 10-30 mg/dia, em duas a três tomadas (1ª escolha) Outras opções: – Metildopa 500 mg a 2 g/dia, em duas a quatro tomadas (SUS) – Anlodipino 5 - 10 mg/dia, em duas tomadas – Nifedipino (de liberação lenta) 20-60 mg/dia em duas a três tomadas Zugaib x Ministério da Saúde ▪ Diuréticos: podem ser utilizados, mas podem complicar o diagnostico de DHEG e podem diminuir o fluxo uteroplacentário e causar sofrimento fetal. O uso é restrito. ▪ IECA e Antagonistas dos receptores da Angiotensina II: são contraindicados na gravidez devido à sua associação com restrição do crescimento fetal, oligohidrâmnio, insuficiência renal neonatal e morte neonatal. Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB EMERGÊNCIA HIPERTENSIVACaracterísticas – PAD > 110 mmHg – Cefaleia – Epigastralgia – Distúrbios visuais – Edema agudo de pulmões – Cianose – Insuficiência coronariana – Dissecção de aorta Tratamento farmacológico – Hidralazina IV, 5 mg a cada 15 minutos (1ª escolha) Alternativas: – Nitroprusseto de sódio (0,25 a 10 μg/kg/min) diluído em 200mL de SG 5% – Nitroglicerina (5 a 100 μg/min) em infusão intravenosa contínua (indicado em casos de edema agudo de pulmão) – Sulfato de magnésio (profilaxia das convulsões na iminência de eclâmpsia ou eclâmpsia) ▪ Nifedipino sublingual: está proscrito em razão da ocorrência de hipotensões arteriais graves com repercussões maternas e perinatais. Então, de acordo com Zugaib, a conduta nas emergências hipertensivas: – Manter a paciente em decúbito lateral esquerdo e dorso elevado – Manter acesso venoso com SG 5% – Hidralazina 5 mg, IV, a cada 15 minutos – Reduzir PA em 20-30% – Monitorização cuidadosa da PA – Cardiotocografia fetal (para avaliar a vitalidade fetal) – Outra opção medicamentosa: nitroprusseto de sódio 0,25-10 μg/kg/min CONDUTA NA PRÉ-ECLÂMPSIA LEVE ▪ Acompanhamento ambulatorial semanal ▪ Crescimento fetal: AFU + USG mensal (quinzenal em casos de RCF) ▪ Função placentária: avaliada pela Dopplervelocimetria de artérias umbilicais (na 20ª e na 26ª semanas) e artérias uterinas, a partir de 26 semanas ▪ Resposta hemodinâmica fetal: avaliação da artéria cerebral média e do ducto venoso. Nessas situações, recomenda-se a internação para melhor vigilância fetal. ▪ Atividades biofísicas fetais: cardiotocografia, movimentos respiratórios, movimentos corporais e tônus muscular fetais. Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB E aí. Interromper ou não a gestação? Ex.: as ondas da A. Umbilical estão para baixo, e deveriam estar voltadas para cima. O corticoide serve para amadurecimento pulmonar fetal. É usado o Celestone Soluspan (betametasona) 12 mg, a cada 24h. Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB CONDUTA NA PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ▪ Paciente deve ser internada ▪ Exames de rotina ▪ Avaliar condições maternas e fetais IG - 24 a 37 sem: ficar avaliando a paciente internada a cada 24h IG ≥ 37 sem: preparar para interromper a gestação Características da Pré-eclâmpsia Grave – PAD ≥ 110 mmHg – Proteinúria > 3g em urina de 24h ou 3+ em fita urinária – Oligúria (≤500 mL/dia ou 35 mL/h) – Creatinina ≥ 1,2 mg/dL – Encefalopatia Hipertensiva (cefaleia + distúrbios visuais) – Dor epigástrica ou no hipocôndrio direito – Evidência clínica ou laboratorial de coagulopatia – Plaquetopenia (<100.000 mm³) – TGO e TGP ≥ 70 U/L – Bb ≥1,2 mg – LDH ≥ 600 U/L (anemia hemolítica microangiopática) – Presença de esquizócitos em esfregaço de sangue periférico Outros sinais: – AVC – Sinais de IC ou Cianose – Presença de RCF ou Oligohidrâmnio Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Tratamento obstétrico da pré-eclâmpsia grave: Manejo da pré-eclâmpsia grave: – Sulfato de magnésio 50% – Betametasona 12 mg, 24/24h, 2 doses (para IG < 34 semanas) – Hidralazina – SRL 100-125 mL/h – Hemograma, ureia, creatinina, ácido úrico, TGO, TGP, LDH, Bilirrubinas, Proteinúria de 24h – Dieta suspensa (líquidos claros e medicação oral) – Realizar CTB diário e PBF 2x/semana – Crescimento fetal: USG a cada 2 semanas – Doppler fetal semanal (para avaliar centralização ou diástole reversa) E aí? Interromper a gestação? Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Pré-eclâmpsia sobreposta à hipertensão crônica É o surgimento de pré-eclâmpsia em mulheres com hipertensão crônica ou doença renal. Nessas gestantes, essa condição agrava-se e a proteinúria surge ou piora após a 20ª semana de gravidez. Pode surgir trombocitopenia (plaquetas <100.000/mm3) e ocorrer aumento nas enzimas hepáticas. ECLÂMPSIA A eclâmpsia caracteriza-se pela presença de convulsões tônico-clônicas generalizadas ou coma em mulher com qualquer quadro hipertensivo, não causadas por epilepsia ou qualquer outra doença convulsiva. Pode ocorrer na gravidez, no parto e no puerpério imediato. Classificação prognóstica: Eclâmpsia não complicada Só a convulsão Eclâmpsia complicada Convulsão + 01 ou mais dos abaixo: – Coagulopatia – Insuficiência respiratória – Insuficiência cardíaca – Icterícia – Insuficiência renal aguda – Pressão arterial diastólica > 120 mmHg – Temperatura corporal> 38ºC Eclâmpsia descompensada Convulsão + : – Choque – Coma – Hemorragia cerebral – Necessidade de assistência ventilatória Quadro clínico da eclâmpsia: Contrações faciais → contração rígida e generalizada com leve parada respiratória, chamados de movimentos tônico-clônicos. A paciente também pode apresentar: – Amnesia: antes, durante e após as convulsões – Coma persistente: provável AVCh – Oligúria ou anúria – Insuficiência Respiratória – Cianose, icterícia e sangramentos – Alteração da frequência cardíaca fetal e tônus uterino Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Diagnóstico diferencial de eclampsia 12 passos para o tratamento da eclampsia 1. Antecipe e faça o diagnóstico: queixa de náuseas, vômitos e dor abdominal 2. Avaliar as condições maternas: avaliação global, com ênfase no sistema circulatório, respiratório, hepático, renal e hematológico. 3. Avaliar as condições fetais: decidir sobre interromper ou não a gestação e sobre o uso de corticoide 4. Controle da PA (se > 100mmHg): Hidralazina, que é um hipotensor de ação imediata. 5. Previna as convulsões: sulfato de magnésio 6. Controle de líquidos e eletrólitos: balanço hídrico (2-3L/24h) 7. Realizar hemoterapia criteriosa: deixe reservado plasma fresco, plaquetas e concentrado de hemácias 8. Gerenciar o trabalho de parto e o parto: a via de parto é de indicação obstétrica 9. Cuidado perinatal: alta taxa de prematuridade 10. Tratar a paciente intensivamente: sulfato de magnésio/24h, o nadir plaquetário pode ocorrer até o 5º dia de puerpério e a normalização das enzimas hepáticas ocorre em 48h 11. Permanecer alerta: falência de múltiplos órgãos e sistemas (principalmente o renal) 12. Aconselhar: para gestações futuras ObstetríciaThomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Medidas gerais na eclampsia Tratamento: O tratamento visa prevenir convulsões recorrentes e evitar o aparecimento de convulsões na pré-eclampsia. Sulfato de Magnésio: é a droga de eleição. Mecanismo de ação: antagonismo do Ca++ intracelular, aumento da PGI2 com alívio do vasoespasmo, é neuroprotetor para o feto. ESQUEMAS DE TRATAMENTO COM SULFATO DE MAGNÉSIO Dose de ataque Dose de manutenção Esquema de Zuspan É o usado no HO 4g EV lento = 8 mL de sulfato a 50% diluído em 12 mL de água destilada em 15 min 1 a 2g /h, EV = 10 mL de sulfato a 50% diluído em 490 mL de SG 5% a 100mL/h → em bomba de infusão – Se houver recorrência de colvusão, fazer 2g EV (4mL) – Manter por 24h após o parto Esquema de Pritchard Usado onde não tem Bomba de Infusão 4g EV lento = 8 mL de sulfato a 50% diluído em 12 mL de água destilada em 15 min 5g IM = 10 mL de sulfato 50% a cada 4h, alternando os glúteos Esquema de Sibai Indicado em casos de Síndrome de HELLP com CIVD, plaquetas abaixo de 50 mil, com iminência de eclampsia. 6g EV em bolus 2 a 3 g /h, EV = 20 mL de sulfato 50% diluído em SG 5% → em bomba de infusão – Manter por 24h após o parto NÃO USAR DIAZEPAM OU HIDANTAL! Esses fármacos facilitam a depressão respiratória e neurológica e causam diminuição dos reflexos laríngeos com aspiração de conteúdos gástricos. Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB O sulfato de magnésio é tóxico! Tem ação periférica de bloquear a junção neuromuscular. ▪ 7-9 mEq/L: diminuição dos reflexos profundos ▪ 9-10 mEq/L: abolição dos reflexos ▪ 10-13 mEq/L: depressão respiratória ▪ 13-15 mEq/L: parada respiratória ▪ 25 mEq/L: parada cardíaca Sinais de intoxicação por magnésio: ▪ Abolição do reflexo patelar ▪ FR < 14 irpm ▪ Diurese < 25 mL/h E se o sulfato de magnésio ão resolver? FENITOÍNA! Depois de interromper a gestação ▪ Dose de ataque: 1 amp (250mg) + SF 0,9% 250mL por 10 min. Repetir o esquema a cada 30 min até 750 mg. ▪ Dose de manutenção: 100 mg, EV, 8/8h ou 100 mg, VO, 8/8h até alta hospitalar. Manejo das complicações da eclâmpsia: ▪ Coagulopatia: repor fatores de coagulação ▪ Edema cerebral: desaparece após o parto ▪ Amaurose: melhora com o tratamento da Hipertensão e uso do sulfato. Se tiver déficit neurológico, realizar avaliação oftalmológica e TC de crânio. SÍNDROME DE HELLP H = hemolysis EL = elevated liver function tests Hemólise + Elevação de enzimas hepáticas + Plaquetopenia LP = low platelets count ▪ É um agravamento do quadro de pré-eclâmpsia ▪ O diagnóstico é predominantemente laboratorial Suspende-se o sulfato de magnésio O antídoto é o Gluconato de Cálcio 10% = 10mL EV em 03 min Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Quadro clínico: É inespecífico, parecido com uma iminência de eclampsia: – Cefaleia, mal-estar geral, epigastralgia, inapetência, náuseas, vômitos, escotomas cintilantes, e aumento da PA – Convulsão, alteração do estado de consciência – Hemorragia vítrea – Hipoglicemia – Hiponatremia – IRA: oligúria e aumento de ureia e creatinina Diagnóstico diferencial da Síndrome de HELLP Tratamento clínico: O tratamento inicial é o mesmo utilizado para as formas graves de hipertensão arterial: ▪ Estabilização das condições maternas ▪ Profilaxia da convulsão ▪ Controle da PA ▪ Avaliação da vitalidade fetal ▪ Exames repetidos em intervalo máximo de 6 a 12h para avaliar a evolução da doença ▪ Suspeitar de rotura hepática se houver dor epigástrica e no hipocôndrio direito ▪ Avaliar IRA ▪ Avaliar CIVD, em pacientes que após cesariana evoluem com sangramento múltiplo ▪ Uso de corticosteroide (para pacientes <34 sem) DEXAMETASONA: 10mg, EV, de 12/12h → está sempre indicada caso as plaquetas < 50 mil Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB Tratamento obstétrico: É controverso, e pode ser: 1. Conservador: estabilizar a doença e reduzir a mortalidade perinatal e as complicações maternas 2. Postergar a gestação: para gestações com menos de 34 sem, para fazer o corticoide. 3. Interromper a gestação: sempre indicada, independente da IG. E qual a melhor via de parto para gestantes HELLP? VAGINAL! A melhor via de parto para essas gestantes é a vaginal, visto que determina menor sangramento intraoperatório. Assim, se o colo uterino revelar boas condições, induz-se ou conduz-se o trabalho de parto, com vigilância contínua da vitalidade fetal. Se não houver como fazer parto vaginal: – Paciente deve ser cuidadosamente monitorizada e é necessário solicitar reserva de plaquetas ao banco de sangue – Deve ser administrada transfusão de plaquetas (se < 50.000 plaquetas/mm3 ) na indução anestésica – A anestesia do tipo bloqueio pode ser realizada com mais de 70.000 plaquetas/mm3 e na ausência de CIVD. – A anestesia geral está indicada para casos com CIVD ou plaquetopenia abaixo de 70.000 plaquetas/mm3 – Laparotomia mediana infraumbilical nos casos com CIVD, podendo ser indicada a colocação de drenos subaponeuróticos – No pós-parto, deve haver vigilância rigorosa em UTI para identificar e tratar possível falência de múltiplos órgãos (controle de PA; balanço hidroeletrolítico; controle de diurese; avaliação pulmonar; reavaliação dos exames laboratoriais a cada 12 h até sua normalização) – Manter sulfato de magnésio 24h após o parto Prognóstico: ▪ Depende se você conseguir estabilizar as condições maternas e fetais. ▪ Os danos placentários são irreversíveis Riscos maternos/fetais: – DPP – CIVD – Edema agudo de pulmão – SARA – Hematoma hepático – IRA – Morte Obstetrícia Thomás Rocha Campos Doença Hipertensiva na Gestação Medicina - UFOB E o que fazer depois do parto? – Retirar medicamento após 3-4 sem do parto – Reavaliar a cada 02 sem, durante 01 mês, depois 3-6 meses por 01 ano. – Se no aleitamento a pressão ainda estiver alta, pode usar captopril, Alfametildopa, Nifedipina
Compartilhar