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13/04/2016 Imprima
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PERÍODOS EM FOCO As pesquisas de
Piaget (na foto em uma escola nos anos
1970) deram relevo à primeira infância
Esquemas de ação de Piaget
Com o conceito de esquemas de ação, Jean Piaget mostrou como
as ações dos indivíduos sobre o meio são o motor da aquisição de
conhecimento
Elisângela Fernandes
|< < Página de > >|
O bebê explora, põe tudo na boca, descobre novos
objetos. A menina brinca de casinha, o menino representa
uma corrida com seus carrinhos de brinquedo. Um pouco
mais tarde, ambos voltam a atenção às regras de conduta e
moralidade. Já o adolescente, mais reflexivo, é capaz de
construir argumentos para rebater os dos pais e planejar o
próprio futuro. São formas diferentes de interagir com o
mundo, que vão se tornando mais complexas à medida
que o indivíduo cresce. Na obra de Jean Piaget (1896­
1980), esses mecanismos recebem o nome de esquemas de
ação e são considerados o motor do conhecimento. 
Há inúmeras possibilidades de esquemas de ação (leia um
resumo do conceito na última página). Mamar, sugar,
puxar e prender são esquemas comuns no
desenvolvimento da inteligência sensório­motora (em
média, até 2 anos de idade). Imitar, representar e classificar é típico da inteligência pré­
operatória (aproximadamente de 3 a 7 anos), assim como ordenar, relacionar e abstrair
caracteriza o período operatório­concreto (de 8 a 11 anos). Já argumentar, deduzir e inferir
aparece na estruturação da inteligência operatória formal (a partir dos 12 anos). É com base
nesses esquemas que as pessoas constroem as estruturas mentais que possibilitam o
aprendizado (leia um trecho de livro sobre o assunto no quadro da próxima página).
"Inicialmente, isso se dá com a experiência empírica, concreta. Em seguida, conforme a
criança vai se desenvolvendo, ela caminha em direção ao pensamento formal, abstrato",
explica Agnela da Silva Giusta, professora de Ensino de Ciências e Matemática da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC­MG). 
As pesquisas científicas de Piaget sobre as características do pensamento infantil receberam
a contribuição de importantes acontecimentos em sua trajetória pessoal. Entre 1925 e 1931,
nasceram seus três filhos, ponto de partida para uma etapa de observação de seus
comportamentos. Após uma criteriosa análise dos dois primeiros anos de vida dos bebês,
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Piaget chegou à conclusão de que a inteligência se desenvolve desde o nascimento ­ e não
com o surgimento da fala, como era comum pensar até o início do século 20. 
 
No livro A Epistemologia Genética, o pensador suíço divide o processo "dinâmico e
infinito" do desenvolvimento da capacidade de conhecer em quatro períodos. No sensório­
motor, que vai desde o nascimento até os 2 anos, a criança conhece o mundo por meio dos
esquemas de ações que trabalham sensações e movimentos. Ao nascer, o bebê percebe o
mundo como uma extensão do seu corpo. Ao desenvolver o esquema de sucção, por
exemplo, o bebê começa a diferenciar o que é seio da mãe, o bico da mamadeira, a chupeta
ou mesmo o dedo. Com o tempo, consegue identificar objetos que são sugáveis ou não. Um
dos principais resultados desse período é a criança tomar consciência de si mesma e dos
objetos que a cercam. "Esse processo é chamado por Piaget de construção do objeto
permanente, ou descentração", explica Cilene Charkur, professora aposentada da
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), campus de Araraquara. 
 
Nessa fase, mesmo antes de falar e pensar, a criança consegue realizar condutas
consideradas lógicas, ligadas à ação sobre objetos concretos. Um bebê de 8 meses, por
exemplo, pode afastar um brinquedo para pegar outro de seu interesse. "Nesse caso, ele
coordena dois esquemas: um esquema meio (afastar) e outro esquema fim (pegar). Trata­se
de uma integração recíproca entre duas ações e não só uma associação mecânica", afirma
Adrian Oscar Dongo Montoya, professor da Unesp, campus de Marília.
A capacidade de simbolizar marca a passagem de período
Uma conquista mais significativa, porém, aparece quando a criança desenvolve a
capacidade semiótica ­ ou seja, a habilidade de atribuir valor simbólico às coisas. Por
exemplo, ouvir a palavra "cadeira" e ser capaz de imaginar um modelo sem precisar tê­lo
diante dos olhos naquele momento. Essa capacidade ­ a de representação ­ indica, para
Piaget, a entrada no período pré­operatório (de 3 a 7 anos), com o aparecimento dos
primeiros esquemas de ação mentais ­ como a fala. "A linguagem é uma ação sofisticada.
Com ela, é possível transformar o mundo sem recorrer aos objetos", afirma Agnela. 
No terceiro período, chamado de operatório­concreto (de 8 a 11 anos), a criança amplia a
capacidade de agir (ou seja, operar) sobre o real (os objetos concretos). Já é capaz de
relacionar, classificar, comparar objetos seguindo critérios lógicos e realizar as primeiras
operações aritméticas e geométricas. "É possível trabalhar com grandes números,
superando os limites impostos pela contagem com suporte físico", diz Agnela. 
O que marca a entrada no quarto período, o operatório formal, a partir dos 12 anos, é a
capacidade de pensar por hipótese. O indivíduo pode agir não só sobre o real mas também
sobre o possível, criando teorias. Por exemplo, pode imaginar que, se não houvesse a
Revolução Francesa, a monarquia seria o sistema de governo predominante até hoje. Essa
hipótese não é real, mas é possível.
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TUDO EM FAMÍLIA O nascimento dos
três filhos, retratados nesta foto de 1936,
forneceu elementos à teoria
Trecho de livro
"Conhecer um objeto implica a sua incorporação a esquemas de ação, e isto é verdade
desde os comportamentos sensórios­motores elementares até as operações lógico­
matemáticas superiores."
Jean Piaget no livro Biologia e Conhecimento. 
Comentário 
Na citação, Piaget aponta para o processo pelo qual as pessoas passam de um
conhecimento mais simples a outro mais complexo. Nessa trajetória, os esquemas de ação
se ampliam, expandem e incorporam novas informações com base na interação com o meio
e de acordo com o período de desenvolvimento do indivíduo. É o que ocorre no esquema de
reunião. No período sensório­motor, o bebê é capaz de brincar reunindo cubos. Uma criança
um pouco mais velha irá classificar esses cubos segundo suas qualidades, como cor,
tamanho, formas, peso etc. Finalmente, ao atingir o patamar formal, conseguirá reunir
formas incontáveis, como aspectos comuns a diferentes teorias.
Entre os legados do conceito, a importância da infância
Um dos grandes legados da noção de esquemas de ação
foi a compreensão da importância da primeira infância no
desenvolvimento da inteligência. "O resultado disso é que
há hoje em todo o mundo uma grande demanda por uma
Educação Infantil de qualidade, que possibilite aos
pequenos vivenciar, interagir, experimentar e, com isso,
ampliar o desenvolvimento de suas possibilidades
cognitivas", lembra Adrian. 
Isso não impediu que algumas nuances da ideia fossem
mal interpretadas. O apego excessivo à faixa etária de
cada período é um deles. "Muitos professores
compreendem os estágios como uma forma congelada de
classificação dos alunos, sem perceber que a indicação de
idade é apenas uma aproximação e que as passagens de
uma fase para outra dependem da qualidade das interações
de cada um com o meio", explica Agnela. 
Essa postura pode gerar dois problemas. O primeiro é considerarapenas o ensino do
conteúdo sem notar os conhecimentos e as habilidades de que o aluno dispõe para
compreendê­lo. No outro extremo, está o comportamento de ficar apenas focado no que o
aluno consegue fazer e não atentar para ensinar outros conteúdos mais complexos. "Um
bom trabalho deve congregar os dois pontos de vista: enxergar as potencialidades das
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crianças e também aonde se quer chegar, tendo claros os conteúdos que não devem ser
deixados de ensinar", explica Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo (USP). O próprio Piaget refutava a ideia de que é necessário
esperar passivamente que as estruturas mentais se formem. Ao contrário, a ação educativa
favorece fortemente essa construção. 
 
Para cumprir esse objetivo, vale sempre favorecer uma atitude inquiridora, com a
utilização, por exemplo, de situações­problema (leia a última página). "Em qualquer idade,
a criança precisa ser provocada", afirma Cilene. Para ela, um dos grandes desafios do
professor é gerar interesse pelo que deve ser ensinado. "Não existe uma criança que não
tenha vontade de aprender. O problema é que muitas vezes as condições ofertadas nas aulas
não são favoráveis."
 
Questão de concurso 
Prefeitura Municipal de Parauapebas, PA, 2006 
Processo seletivo para professor do Ensino Fundamental 
Organizar a prática pedagógica baseado no modelo metodológico de resolução de
problemas requer por parte do professor o planejamento de situações de ensino e
aprendizagem que sejam atividades e intervenções pedagógicas adequadas às necessidades
e possibilidades de aprendizagem dos alunos. Considerando essa perspectiva, assinale
"certo" ou "errado" para as seguintes práticas pedagógicas: 
1) Rejeitar diferenças no nível de aprendizado entre os alunos. 
2) Analisar o conhecimento prévio dos alunos. 
3) Favorecer a segregação de alunos na sala de aula. 
4) Sobrepor os objetivos de ensino aos objetivos de realização dos alunos. 
5) Favorecer a construção da autonomia intelectual dos alunos. 
Respostas: 1 errado; 2 certo; 3 errado; 4 errado; 5 certo 
Comentário 
Para responder à questão, é preciso saber que a metodologia de resolução de problemas
compartilha muitos preceitos da perspectiva construtivista. Entre eles, a necessidade de considerar
o que os alunos sabem e como cada um evolui para criar as condições de avanço. O objetivo deve
ser associar (e não sobrepor) os conteúdos às expectativas dos alunos, de forma que eles se
sintam motivados a aprender o que precisam. Além disso, a interação (e não a segregação) entre
estudantes auxilia o aprendizado por favorecer o intercâmbio de conhecimentos para resolver
desafios.
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Resumo do conceito
Esquemas de ação
Elaborador : Jean Piaget (1896­1980) 
Esquemas de ação são as formas como o ser humano interage com o mundo. Nesse
processo, ele organiza mentalmente a realidade para entendê­la, desenvolvendo a
inteligência. As formas de interação evoluem progressivamente conforme a faixa
etária e as experiências individuais. Segundo Piaget, o desenvolvimento se dá em
quatro períodos: sensório­motor (até 2 anos), pré­operatório (de 3 a 7 anos),
operatório concreto (de 8 a 11 anos) e operatório formal (a partir de 12 anos).
Quer saber mais?
CONTATOS 
Adrian Oscar Dongo Montoya 
Agnela da Silva Giusta 
Cilene Charkur 
Lino de Macedo 
BIBLIOGRAFIA 
A Construção do Real na Criança, Jean Piaget, 392 págs., Ed. Ática, tel. 0800­115­152, esgotado 
A Epistemologia Genética, Jean Piaget, 136 págs. Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3293­8150, 30,10
reais 
Biologia e Conhecimento, Jean Piaget, 423 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2233­9000, 65,90 reais 
O Construtivismo na Pesquisa Vol. 2 ­ Alternativas Metodológicas, Cilene Ribeiro de Sá Leite
Charkur, Ed. CRV, 191 págs., tel. (41) 3039­6418, 32,13 reais 
O Nascimento da Inteligência na Criança, Jean Piaget, 382 págs, Ed. LTC, tel. (11) 5080­0780, 98
reais
 A inteligência em três tempos
 A capacidade de simbolizar marca a passagem de período
 Entre os legados do conceito, a importância da infância
 Questão de concurso e resumo do conceito
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Publicado em NOVA ESCOLA Edição 239, Janeiro/Fevereiro 2011. Título original: A
inteligência em três tempos

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